Djárcia

O filme “Las horas contigo” é uma produção mexicana, contudo contra o que se pensa de produções mexicanas, principalmente ao se tomar referência às novelas presentes em nossa televisão aberta, devo confessar que não derramei nenhuma lágrima por causa da história em si. A propósito, não há uma história, há sentimentos em torno de situações humanas inevitáveis: o nascer, o amadurecer, o envelhecer e o morrer.
Tudo se passa ao se retratar a relações amorosas ou conflituosas entre mulheres de uma mesma família. Então, temos uma jovem grávida que não sabe que quer assumir a maternidade, temos uma mulher madura que procura se responsabilizar pelas suas escolhas, temos uma avó em seus últimos dias de vida, uma empregada que carrega a culpa de ser mãe solteira, temos o capricho das comidas de uma cozinheira dedicada e temos uma mãe que procura educar filhos adolescentes.
Há muitas cenas reveladoras de reflexões sobre a existência humana. A primeira é a relação neta e avó, construída na infância em meio a muitas brincadeiras e horas de prazer. A impressão é de que a menina fora criada pela avó. No entanto, quando esta menina, já adulta em conversa com sua mãe, mostra desenvoltura na casa da vó, a mãe assevera: coabitou comigo, mas foi aqui que foi mais feliz. Ou seja, nossa maior intimidade fica com quem ou onde somos felizes.
E como construir esta intimidade, nos dias atuais, em meio a tantas superficialidades e intensidades? O filme mostra como construímos medos veementes, ao longo de nossa existência, com base em uma única leitura da realidade. Só a intimidade permite que nos aproximemos, a ponto de trocar o medo pelo amor. Se formos intensos com uns, superficiais com outros, não há tempo para amores.
Outra cena marcante, é a do banho da avó. Aquela mulher tão senhora de si na educação da neta, nas suas opiniões e na administração de suas vaidades, agora se vê em uma banheira auxiliada pela filha e pela neta, partilhando odores de suas fezes. E como dói esta partilha! Penso que, apesar de tudo que dizem de conquistas da terceira idade, o mundo é feito para jovens e não somos ensinados a cuidar do próximo, todavia se a condição de invalidez chega, abaixo estão quaisquer individualismos.
A mensagem que fica é a existência de diferentes formas de amor, algo pronunciado pela própria idosa. Conforme o nosso tempo, temos nossos amores, nossas prioridades, ainda que algo se sobressaia, para esta a maternidade, última palavra antes da sua morte.