Me parece que os funcionários do Hospital estavam se desumanizando também, se é que eram humanos, considerando que os pacientes só viviam sob aquelas condições porque quem os tutelavam (não apenas o Estado mas todos os funcionários incluindo os médicos que tinham o respaldo técnico de "saber o que estavam fazendo") os mantinham assim sem se importar. O caso da moça que foi separada do filho por anos e levou eletrochoque por ter se desentendido com uma mulher de lá, mostra um lado asqueroso da sociedade, de quem está em condições de decidir, poder descartar o mais vulnerável. Enfim,é estranho que alguém só perceba a situação, como ela de fato era, após um grupo de repórteres publicarem uma matéria denunciando, gerando um escândalo que envergonhou a psiquiatria nacional que era conivente com tudo o que acontecia (o caso do Juquery na grande São Paulo é parecidíssimo, embora, talvez numa escala menor) e um médico estrangeiro precisar vir pra dizer o óbvio, que todo mundo podia perfeitamente enxergar, como sendo algo errado para que as pessoas se convencessem. Lembrando que as denúncias sobre as condições do Hospital foram feitas no fim dos anos 1970, o pesquisador que aparece nas filmagens, afirma que no início do século XX, quando a instituição foi fundada, seguia o padrão francês que era mais "humanizado". Já existiam naquela época trabalhos de profissionais como Jung, Nise da Silveira e etc sobre o tema, então tratar a situação como se fosse algo de séculos atrás é reducionista. O documentário deixa claro que a instituição se descaracterizou ao longo dos anos, passando de um Hospital psiquiátrico normal para se tornar um depósito de pessoas rejeitadas pela sociedade.
Por fim, acredito que a medicina deve ser sim criticada como qualquer outro campo de conhecimento humano quando comete exageros e passa a se tornar um desserviço para sociedade.
Esteticamente o filme é bem feito, mas fica somente nisso. A estória em si é a romantização da violência contra uma mulher com deficiência numa sociedade onde mulheres não tinham condições de se manter com o próprio trabalho, no caso dela como pianista. A personagem que é mãe solteira, é praticamente vendida (dote), pelo pai que a obriga a ir morar com um homem em outro continente que está disposto a se casar com ela e aceitar sua filha, pois quer se parecer um sujeito "respeitável" e para isso precisa ser casado. O marido que não liga pra nada além dos próprios negócios (exploração da terra dos nativos da Oceania que são praticamente escravizados em seu próprio território e aculturados), quer afastá-la de sua quase única felicidade- o piano. Nisso ela passa a ser chantageada por um sujeito - o mocinho do romance- que quer obter favores sexuais em troca do piano. Basicamente é isso. A indústria espetacularizando a exploração do outro, dando ares de beleza e emotividade, desviando quem assite da real causa do problema, enquanto mostra uma estetica bem construida para parecer romantico e belo e não despertar a solidariedade a quem é explorado pelo sistema.
Esteticamente o filme é muito bom. Apresenta diálogos bem construídos, há profundidade nas personagens que ora demonstram vicissitudes ora impotência, ainda humanidade. Por um lado, o filme tem lá seu romance no enredo, embora não romantize o cangaço. A trilha sonora resgata músicas folclóricas e é muito agradável. Um belo filme.
O filme em si é bom. Tem boa fotografia, utilizou a cidade como um grande palco, explorando alguns pontos importantes como o Ibirapuera - não sei se estou enganada mas teve uma cena que me pareceu o Rio Tietê limpo! -, incluiu modestamente o subúrbio operário, retratou o início do desenvolvimento industrial e de forma velada deu visibilidade a exploração do trabalho. Quanto ao drama, me pareceu um mix de futilidade e crise existencial de um chernoboy do fim da década de 1950. Há alguns momentos reflexivos nos quase monólogos de Hilda que a fazem parecer a personagem de maior profundidade do filme.
Holocausto Brasileiro
4.4 144Me parece que os funcionários do Hospital estavam se desumanizando também, se é que eram humanos, considerando que os pacientes só viviam sob aquelas condições porque quem os tutelavam (não apenas o Estado mas todos os funcionários incluindo os médicos que tinham o respaldo técnico de "saber o que estavam fazendo") os mantinham assim sem se importar.
O caso da moça que foi separada do filho por anos e levou eletrochoque por ter se desentendido com uma mulher de lá, mostra um lado asqueroso da sociedade, de quem está em condições de decidir, poder descartar o mais vulnerável.
Enfim,é estranho que alguém só perceba a situação, como ela de fato era, após um grupo de repórteres publicarem uma matéria denunciando, gerando um escândalo que envergonhou a psiquiatria nacional que era conivente com tudo o que acontecia (o caso do Juquery na grande São Paulo é parecidíssimo, embora, talvez numa escala menor) e um médico estrangeiro precisar vir pra dizer o óbvio, que todo mundo podia perfeitamente enxergar, como sendo algo errado para que as pessoas se convencessem.
Lembrando que as denúncias sobre as condições do Hospital foram feitas no fim dos anos 1970, o pesquisador que aparece nas filmagens, afirma que no início do século XX, quando a instituição foi fundada, seguia o padrão francês que era mais "humanizado". Já existiam naquela época trabalhos de profissionais como Jung, Nise da Silveira e etc sobre o tema, então tratar a situação como se fosse algo de séculos atrás é reducionista.
O documentário deixa claro que a instituição se descaracterizou ao longo dos anos, passando de um Hospital psiquiátrico normal para se tornar um depósito de pessoas rejeitadas pela sociedade.
Por fim, acredito que a medicina deve ser sim criticada como qualquer outro campo de conhecimento humano quando comete exageros e passa a se tornar um desserviço para sociedade.
Ainda estou digerindo tudo isso.
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista AgoraPoliciais são detestáveis até na ficção!
Amo a Björk.
O Piano
4.0 442Esteticamente o filme é bem feito, mas fica somente nisso. A estória em si é a romantização da violência contra uma mulher com deficiência numa sociedade onde mulheres não tinham condições de se manter com o próprio trabalho, no caso dela como pianista.
A personagem que é mãe solteira, é praticamente vendida (dote), pelo pai que a obriga a ir morar com um homem em outro continente que está disposto a se casar com ela e aceitar sua filha, pois quer se parecer um sujeito "respeitável" e para isso precisa ser casado.
O marido que não liga pra nada além dos próprios negócios (exploração da terra dos nativos da Oceania que são praticamente escravizados em seu próprio território e aculturados), quer afastá-la de sua quase única felicidade- o piano. Nisso ela passa a ser chantageada por um sujeito - o mocinho do romance- que quer obter favores sexuais em troca do piano.
Basicamente é isso.
A indústria espetacularizando a exploração do outro, dando ares de beleza e emotividade, desviando quem assite da real causa do problema, enquanto mostra uma estetica bem construida para parecer romantico e belo e não despertar a solidariedade a quem é explorado pelo sistema.
Nordeste: Cordel, Repente, Canção
4.5 3Seria muito bom poder ver esse documentário restaurado. Um registro maravilhoso da cultura popular do nordeste, dos costumes e da poesia.
O Cangaceiro
3.8 77Esteticamente o filme é muito bom. Apresenta diálogos bem construídos, há profundidade nas personagens que ora demonstram vicissitudes ora impotência, ainda humanidade. Por um lado, o filme tem lá seu romance no enredo, embora não romantize o cangaço. A trilha sonora resgata músicas folclóricas e é muito agradável. Um belo filme.
Morte e Vida Severina
4.0 46Um belo filme, musical e poético como a cultura nordestina costuma ser. Ótima atuação de José Dumont num retrato da condição humana.
São Paulo Sociedade Anônima
4.2 172O filme em si é bom. Tem boa fotografia, utilizou a cidade como um grande palco, explorando alguns pontos importantes como o Ibirapuera - não sei se estou enganada mas teve uma cena que me pareceu o Rio Tietê limpo! -, incluiu modestamente o subúrbio operário, retratou o início do desenvolvimento industrial e de forma velada deu visibilidade a exploração do trabalho. Quanto ao drama, me pareceu um mix de futilidade e crise existencial de um chernoboy do fim da década de 1950. Há alguns momentos reflexivos nos quase monólogos de Hilda que a fazem parecer a personagem de maior profundidade do filme.