o fim da família é o fim do mundo, porque sem família não há origem, não há mundo conhecido, não há mais a possibilidade de recuo, de retorno. um mundo sem princípio se difere de um mundo sem-fim, um mundo eterno e estático, de um tempo em que nada muda ou é modificado. este é o círculo de desterro, como é dito na cena da banheira: uma serpente que morde o próprio rabo. eterno retorno do mesmo. onde está o diferimento na repetição? como ser outro dentre os irmãos? como destacar-se? é possível libertar-se da família, deste jugo, desta voz de ordem? por isso, é claro, trata-se de uma grande história de violência (vide a fortíssima cena do casamento). o estrangeiro na família, este kafka sem pai presente que reaparece nos trabalhos de lírio ferreira, é quem busca quebrar com o passado e firmar uma nova história. o corte quebra com este tempo, como que a destruí-lo. falar em fim do mundo é perseguir o futuro como se já o vivesse. é estar longe da experiência, porque tudo é antecipado ou calculado. a superação do conhecido ou seu esquecimento? a disputa diária, familiar, geracional e a que muitos se referem apenas como amor. outros são mais cautelosos, atentos à guerra. os personagens aqui parecem encarar abismos diferentes. como se uns estivessem de ponta-cabeça, e o abismo destes fosse o céu (celan). uns voltados à imobilidade eterna do sempre-foi. outros à ahistoricidade do devir. o tempo é violento. o tempo é quem inventa a morte. as imagens são lindas e poderosas, como aquele corte do gozo dos meninos para o pescoço pingando sangue da galinha. o começo e o fim reunidos. a violência presente em ambos. urano diz: "o presente como futuro"! sem imitação mas com renovação, um novo começo que recria as palavras, recomeça o verbo, refaz a ação. a mudança é a revolução. onde a base da tradição deve ser inquestionada e obedecida, o diálogo deixou de existir. assim deve ser, ou ela não se sustenta. a consciência é a doença que não é bem-vinda: é o sem senso, o olhar crítico, o novo sentido, a virada ao avesso. olhar mais uma vez o mesmo. há algo de novo, algum novo fim do mundo aqui, alguma nova maldição. fazer do presente um novo futuro e não repeti-lo eternamente e sem-fim. sonhar com o fim, ter visões da idade da terra.
que bizarra a capacidade de criar episódios tão diferentes entre si, em tom, em ritmo, em temas. tem as melhores escadas-rolantes do cinema. a misato é muito maravilhosa.
incrivel como shinji é salvo da sua metamorfose com o eva sendo chamado pelo nome. incrivel esse poder que dão à palavra, ao ato de nomear. saudar/salvar alguém pelo nome.
e este mundo angustiante em que cada novo dia parece ser um novo apocalipse. o mundo quase acaba muitas vezes. era para sobrar ninguém. ninguém. ninguém. mas a vida resiste. é possível sobreviver ao trauma? bizarra a imagem do robô-animal! a máquina devora.
Fim do Mundo
3.8 8o fim da família é o fim do mundo, porque sem família não há origem, não há mundo conhecido, não há mais a possibilidade de recuo, de retorno. um mundo sem princípio se difere de um mundo sem-fim, um mundo eterno e estático, de um tempo em que nada muda ou é modificado. este é o círculo de desterro, como é dito na cena da banheira: uma serpente que morde o próprio rabo. eterno retorno do mesmo. onde está o diferimento na repetição? como ser outro dentre os irmãos? como destacar-se? é possível libertar-se da família, deste jugo, desta voz de ordem? por isso, é claro, trata-se de uma grande história de violência (vide a fortíssima cena do casamento). o estrangeiro na família, este kafka sem pai presente que reaparece nos trabalhos de lírio ferreira, é quem busca quebrar com o passado e firmar uma nova história. o corte quebra com este tempo, como que a destruí-lo. falar em fim do mundo é perseguir o futuro como se já o vivesse. é estar longe da experiência, porque tudo é antecipado ou calculado. a superação do conhecido ou seu esquecimento? a disputa diária, familiar, geracional e a que muitos se referem apenas como amor. outros são mais cautelosos, atentos à guerra. os personagens aqui parecem encarar abismos diferentes. como se uns estivessem de ponta-cabeça, e o abismo destes fosse o céu (celan). uns voltados à imobilidade eterna do sempre-foi. outros à ahistoricidade do devir. o tempo é violento. o tempo é quem inventa a morte. as imagens são lindas e poderosas, como aquele corte do gozo dos meninos para o pescoço pingando sangue da galinha. o começo e o fim reunidos. a violência presente em ambos. urano diz: "o presente como futuro"! sem imitação mas com renovação, um novo começo que recria as palavras, recomeça o verbo, refaz a ação. a mudança é a revolução. onde a base da tradição deve ser inquestionada e obedecida, o diálogo deixou de existir. assim deve ser, ou ela não se sustenta. a consciência é a doença que não é bem-vinda: é o sem senso, o olhar crítico, o novo sentido, a virada ao avesso. olhar mais uma vez o mesmo. há algo de novo, algum novo fim do mundo aqui, alguma nova maldição. fazer do presente um novo futuro e não repeti-lo eternamente e sem-fim. sonhar com o fim, ter visões da idade da terra.
Neon Genesis Evangelion
4.5 328 Assista Agoraque bizarra a capacidade de criar episódios tão diferentes entre si, em tom, em ritmo, em temas. tem as melhores escadas-rolantes do cinema. a misato é muito maravilhosa.
incrivel como shinji é salvo da sua metamorfose com o eva sendo chamado pelo nome. incrivel esse poder que dão à palavra, ao ato de nomear. saudar/salvar alguém pelo nome.
e este mundo angustiante em que cada novo dia parece ser um novo apocalipse. o mundo quase acaba muitas vezes. era para sobrar ninguém. ninguém. ninguém. mas a vida resiste. é possível sobreviver ao trauma? bizarra a imagem do robô-animal! a máquina devora.
História(s) do Cinema
4.2 19muito forte quando ele aproxima as imagens de duas violências: o pornô e as imagens documentais das vítimas de guerra