"Apesar dos problemas pontuais, Pedro Almodóvar mostra maturidade em Dor e Glória, assim como a conclusão do arco de Salvador. Esteticamente, o diretor constrói uma obra costumeiramente cativante, mas o destaque aqui está no roteiro tematicamente rico, trabalhando aspectos pessoais e gerais com igual profundidade, abordando a velhice com respeito e otimismo. Definitivamente, o tempo fez bem para Almodóvar."
"o diretor Joel Schumacher constrói uma bem estruturada armadilha para o espectador. Superficialmente, William é um típico cidadão comum, trabalhador e pai de família. Aliás, é brilhante a escolha do roteiro de adiar o máximo possível a apresentação do nome do personagem. O texto está interessado naquele tipo de cidadão e não tanto no homem em si. Com o decorrer da narrativa, as camadas do personagem são descascadas e surge um ser violento, preconceituoso e intolerante. O cidadão de bem se revela um extremista. Aquele que melhor dialoga com o público é, na verdade, o vilão da história, sendo uma estupenda crítica social realizada através da construção do protagonista."
"Marca registrada em sua carreira, Schrader utiliza a narração em off aqui não como elemento expositivo dentro da narrativa, mas sim para apresentar comentários de Toller sobre o universo que o rodeia. Conhecer as reflexões do protagonista não torna a experiência do público mais fácil, pelo contrário, desafia o espectador para compreender o nível de sanidade do pastor e se seus pensamentos extremistas podem ter algum sentido. Apesar do claro enlouquecimento do personagem, somos constantemente provocados a concordar com ele, como se fosse inevitável não enlouquecer em um mundo tão decadente. Portanto, Schrader promove desenvolve um personagem complexo e coloca o público dentro da história com precisão."
"é interessante que o realizador permita que o público ouça suas perguntas e não apenas as respostas dos entrevistados. A estratégia justifica-se porque, aos poucos, Liu revela como Minding the Gap trata-se de uma obra extremamente pessoal. Ele confronta seu passado por intermédio das entrevistas com a mãe, ambos vítimas de um homem cruel, o padrasto dele. Inclusive, vale ressaltar como, apesar do envolvimento pessoal com a película, Liu conduz essas sequências de maneira brilhante, se colocando em tela (um dos únicos momentos que isso acontece) e mantendo ele e a mãe fora do mesmo quadro, ressaltando a distância sentimental que há entre os dois, visto que ela permitiu todas as agressões do ex-marido."
Vice é um longa claramente perdido com relação ao seu tom, oscilando entre uma paródia escrachada e um docudrama político sem nenhuma coesão. Já o roteiro incomoda pelos excessivos diálogos expositivos, impedindo que o público tenha a própria interpretação sobre algumas cenas. Contudo, se Adam McKay falha ao conceber um longa harmonioso, o diretor ainda é eficiente ao criar sequências memoráveis. A cena do jantar, por exemplo, é espetacular. Além disso, tematicamente, Vice é um longa corajoso, importante e explícito em suas críticas aos EUA. Ademais, a obra acerta na abordagem sobre oportunidade, destacando como Cheney é um oportunista e explorando sua habilidade em ver vantagens até mesmo na tragédia. Mesmo sendo bagunçado, Vice ainda proporciona bons momentos, ótimas interpretações e mensagens convincentes.
Ao mesmo tempo em que RBG constrói uma eficiente linha do tempo sobre vida da juíza Ruth Bader Ginsburg, indo da infância à velhice da protagonista, o documentário investe pouco em detalhes. A luta de Ruth pelos direitos das mulheres, o amor pelo marido e seu apreço pela ópera estão devidamente pontuados na obra, contudo, os casos que participou no início da carreira, a atuação na Suprema Corte dos EUA e sua divergência com Donald Trump não são aprofundadas. Apesar de apresentar sua temática com clareza, RBG não explora a relevância da juíza em um ambiente tão masculino como a Suprema Corte e sua influência dentro dele.
Através um visual que contrapõe com inteligência a frieza de Londres com o calor do Bosque dos 100 Acres, o filme promove o apreço pelos pequenos prazeres e uma vida menos "adulta" e mais imaginativa. O enredo é bem óbvio e não surpreende, mas os personagens e a mensagem são tão adoráveis que é impossível não se encantar com Christopher Robin em algum momento.
É bem verdade que Clint Eastwood se entrega para refletir sobre o heroísmo de uma maneira quase que documental, apresentando a rotina dos personagens desde sua infância. No entanto, o roteiro traz tantas cenas rotineiras que, desde o início, parecem que não levar a lugar algum. Ainda há bons diálogos em momentos pontuais, como o do guia que ressalta a ansiedade americana em assumir o heroísmo de todas as situações, porém, são falas que não trazem profundidade ao tema. O término funciona, toda a sequência dentro do trem é bem dirigida, mas o longa, em nenhum momento, parece ter algo a dizer além do que já ficou claro nos minutos iniciais, que o heroísmo está em pessoas comuns. Como resultado: um filme igualmente comum.
"Ao elaborar sua história, a roteirista Nora Ephron sabe que tem em mãos um gênero saturado. Porém, inteligentemente, a escritora usa desse conhecimento para quebrar clichês da comédia romântica. Portanto, Harry e Sally surpreende não apenas na construção de sua narrativa, mas também tematicamente, mostrando como a base para uma ótima relação está em uma grande amizade. Os protagonistas não são almas gêmeas que o destino atraiu ou pessoas que combinam, pelo contrário, o longa os apresenta como dois seres absolutamente diferentes. Perceba como, na sequência inicial, Harry e Sally destoam. Ele se mostra jogado aos instintos, um homem que pensa no prazer momentâneo, já ela possui características de uma pessoa metódica, apegada em detalhes e em continuidade. Ou seja, a estratégia aqui é compará-los constantemente para evocar suas diferenças, a cena em que conversam ao telefone, com a tela dividida, é o maior exemplo disso."
A transição do ensino fundamental para o médio acarreta em diversas dúvidas na mente de um jovem. Nesse período, qualquer conflito e dúvida parece um verdadeiro terror, devido a instabilidade emocional. Eighth Grade pega essa fase da vida e realiza um retrato de uma geração, apresentando seus hábitos, dilemas e pressões sociais. A introdução da personagem e de seu universo é brilhante, utilizando um vídeo gravado por ela para entendermos que se trata de uma garota tímida, ansiosa para se abrir, mas tembém para descobrirmos os anseios dessa faixa etária, como popularidade.
Pode parecer que Eighth Grade se trata de um coming of age qualquer, contudo, o diferencial da obra está em seu impressionante nível de realismo. Kayla mexendo no celular, as situações que vive na escola, a empolgação ao sair com amigos novos, tudo é construído com uma verossimilhança impressionante. Além disso, a direção transmite com precisão os sentimentos da protagonista. Algumas sequências utilizam estratégias que remetem a dramas mais pesados, por exemplo, quando está solitária em seu quarto, com uso de sombras e composições claustrofóbicas, visto que, para a garota, não fazer parte de um grupo é um verdadeiro terror pessoal para ela.
O roteiro peca apenas ao descartar alguns personagens sem maiores explicações e ao promover uma virada na vida da personagem sem um desenvolvimento melhor; eu esperava algo além do discurso motivador do pai. No entanto, o longa promove um impecável retrato de uma geração repleta de inseguranças e que possui em mãos ferramentas que pioram ainda mais essa sensação, as redes sociais. Nessa época, a tristeza pode parecer interminável, porém, como Kayla diz: “mesmo que o ensino médio seja uma merda, nada dura para sempre”.
"Enquanto O Salário do Medo, objeto do remake de Friedkin, possui uma abordagem antiimperialista e até mesmo anti-sistema, Comboio do Medo apresenta uma história intimista, explorando como o desespero pode levar um homem a desafiar seus próprios limites. Portanto, a obra apresenta um embate entre homem e natureza. As belas tomadas aéreas do filme servem não apenas para situar a ação, mas também para destacar como aqueles pilotos são nada diante da selva. Isso resulta em um acertado tom niilista, o mesmo do livro de Georges Arnaud, abordando como o homem que se sujeita a profissões de tamanho risco já é um homem morto, convivendo sempre com o medo."
Crítica para o Plano Crítico: https://www.planocritico.com/critica-o-comboio-do-medo-1977/
Dogman possui um subtexto excelente, comparando homem com cachorro e problematizando até que ponto a fidelidade é benéfica ou louvável. O filme questiona: ser o melhor amigo do homem é algo bom? Além disso, com uma fotografia de cores apagadas, o diretor Matteo Garrone prioriza planos abertos, para ressaltar a miséria dos ambientes, e câmera na mão para criar tensão, sendo uma estratégia inteligente. No entanto, a transformação do protagonista carece de um desenvolvimento melhor. Algumas mudanças de comportamento em Marcello não são preparadas pelo roteiro e o relacionamento do personagem com a filha, apresentado como fundamental dentro da narrativa, é mal resolvido. Apesar da ideia interessante, Dogman peca na construção.
"O Salário do Medo abraça temas políticos para desenvolver um excelente exercício de suspense. A jornada dos protagonistas é tensa e árdua como a vida de qualquer trabalhador explorado. Por isso, não há final feliz diante de um sistema tão abusivo, que faz os cidadãos praticamente venderem suas vidas por valores insignificantes. Uma vida não vale 2 mil dólares, como os protagonistas, erroneamente, pensavam. O Salário do Medo nos mostra que só haverá um final feliz quando esse abuso terminar."
A viagem do homem até a lua também é uma jornada pessoal.
O Primeiro Homem não busca destacar o heroísmo de Neil Armstrong, mas sim os motivos que o levaram a cumprir tamanha responsabilidade. O novo longa de Damien Chazelle, responsável por Whiplash e La La Land, mostra-se surpreendentemente intimista, algo que pode ser reparado na fotografia, priorizando close-ups, planos subjetivos e sequências com câmera na mão. Outra surpresa está no tom fúnebre e pesado da obra, exemplificado pela iluminação escura de diversas cenas. Na sequência inicial, por exemplo, Armstrong é apresentado em meio a uma turbulência, servindo também como uma representação de sua mente. Mais do que chegar até a lua, Armstrong precisa superar a própria frieza e enterrar seus traumas, sendo essa a missão mais difícil de sua vida. Ryan Gosling destaca com precisão a introspecção do personagem, dizendo muito pelo olhar, ao passo que Claire Foy insere mais personalidade em sua personagem que o próprio roteiro. Falando nisso, faltou ao roteiro uma maior atenção com os coadjuvantes, recebendo destaque quase nulo. Além disso, na transição do segundo para o terceiro ato, o longa torna-se cansativo, adiando demais a missão até a lua.
Apesar de ser o primeiro filme de Chazelle sem trazer a música como elemento importante, O Primeiro Homem se assemelha a Whiplash na abordagem sobre superar limites. Para Damien Chazelle, a redenção de seus personagens está em seus sacrifícios.
"Mesmo com suas falhas narrativas, As Grandes Aventuras de Pee-wee entrega aquilo que promete: um filme divertido tanto para adultos quanto para crianças. Além disso, com o projeto, Paul Reubens pôde notabilizar o personagem que o tornou conhecido pelo público. Mais importante que isso, o filme foi uma estreia com o pé direito para Tim Burton, produzindo um sucesso de bilheteria logo em seu primeiro trabalho, sem abrir mão de mostrar, mesmo que seja em cenas pontuais, o estilo que o consagraria."
"Nos minutos iniciais de Munique, o nome de diversas cidades surge em uma tela escura e, logo após, Munique aparece em vermelho, diferente das demais palavras, que são brancas. O momento é simples, mas revela precisamente as intenções de Steven Spielberg na obra. O atentado durante as Olimpíadas de Munique de 1972, que vitimou dez atletas israelenses e cinco terroristas palestinos, é apenas mais um caso entre tantos outros ocasionados pela guerra da Palestina, que parece jamais ter fim. Ou, como o personagem Steve diz em determinado momento, 'essa guerra sempre existiu, sempre pelo mesmo deserto, a diferença é que agora a levamos para Copenhague'."
"Quando vemos as condições de Juárez em meio ao tráfico, Villeneuve nos faz refletir como Kate: vale a pena ultrapassar barreiras legais para tentar acabar com tamanho terror? Felizmente, o roteirista Taylor Sheridan escapa do completo ufanismo que a obra poderia ter ao colocar os Estados Unidos no papel de polícia do planeta. Pelo contrário, Sicario escancara como o objetivo dos estadunidenses nunca foi erradicar a droga, afinal de contas, essa já é uma batalha perdida; o real objetivo dos americanos é ter o controle sobre o tráfico de drogas. Se é necessária a existência de um narcotraficante, que ele seja colaborador dos Estados Unidos e mate apenas pessoas do outro lado da fronteira, deixando os americanos em paz."
"O Dilema é uma tentativa de fazer comédia com situações absurdas, mas que cansa pela repetição. Desta maneira, quando Ronny tenta contar o que viu para o amigo pela primeira vez, o momento até sensibiliza, porém, quando ocorre pela terceira vez, parece apenas mais do mesmo. Outro momento repetitivo é o de Ronny pedindo para Geneva ser sincera com o marido, dando espaço para ela dar discursos sobre problemas matrimoniais. Há tantos momentos desnecessários aqui que o longa poderia ter, tranquilamente, vinte minutos a menos, demonstrando a preguiça do roteiro, que ainda traz infelizes piadas homofóbicas."
"Spielberg transforma sua história em uma representação de todo o sofrimento que os judeus tiveram naquele período. Não à toa, a primeira cena do longa, ainda colorida, traz um pequeno grupo de judeus, que não fazem parte da trama, orando. Ali, o diretor deixa claro como não pretende apenas abordar arcos de personagens, mas de todo um povo.
Portanto, é necessário destacar o excelente roteiro escrito por Steven Zaillian, pontuando com precisão todas as fases passadas por judeus na guerra. No início, o grupo sofre apenas com as humilhações e obrigatoriedade de identificação; depois, são saqueados e expulsos de seus lares; no fim, agonizam com o trabalho escravo e holocausto. Tudo isso é apresentado com detalhes pelo roteiro, com direito a longas sequências, como a dos soldados da SS invadindo o gueto judeu, fazendo-nos presenciar as calamidades ocorridas com aquelas pessoas."
Assumir falhas não as elimina. Deadpool 2 tem noção dos clichês que tem, mas, mesmo assim, os adota. Ou seja, por zombar tanto de filmes do gênero, as partes que a obra se leva a sério soam desnecessárias. Não há coesão entre a paródia e a parte sentimental, portanto, temos aqui um longa de tons desconexos. Aliás, a relação entre Deadpool e Russel, que sustenta toda a trama, é desenvolvida da maneira mais preguiçosa possível. Isso significa que Deadpool 2 é ruim? Claro que não, uma vez que o humor e a ação do filme funcionam. Até mesmo o estranho poder da “sorte” de Dominó é explorado com eficiência pelo diretor David Leitch, em uma belíssima cena em câmera lenta. Além disso, o filme diverte pelas referências a vários filmes de ação, como o fato de Cable ter o mesmo papel de O Exterminador do Futuro. Quando se preocupa apenas em divertir, seja pela ação ou risos, Deadpool 2 mostra-se extremamente eficaz, só não precisava ter se levado tão a sério em alguns momentos.
Ah, nenhuma cena pós-créditos, seja de filmes futuros ou passados, vai superar o efeito que as de Deadpool 2 causam.
Detroit chama a atenção pela maneira impecável que a diretora Kathryn Bigelow transfere a trama do macro para o micro, utilizando um tom documental para dar realismo aos fatos. Com isso, o longa não só é extremamente eficiente em mostrar a dimensão do problema ocorrido na cidade em 1967, como também desenvolve com eficiência a situação dos personagens centrais diante daquilo. Aliás, toda a seqüência que se passa no Algiers Motel é o auge dramático do longa, proporcionando um clímax bem no meio da narrativa, mostrando suas consequências no desfecho. Ou seja, o roteiro, escrito por Mark Boal, é explícito em destacar como o racismo impactava a vida daqueles cidadãos e como o resultado disso era a revolta e os protestos, fazendo a parte macro e micro conversarem de maneira orgânica. Apesar de ser um pouco mais longo que o necessário, perdendo a potência no fim, Detroit é impactante e revoltante por mostrar com tanta clareza o nível do racismo nos EUA naquele tempo; algo que, infelizmente, se perpetua até hoje.
Após o deslize de Hannibal, dirigido por Ridley Scott, Dragão Vermelho encerra de maneira ótima a trilogia do Dr. Hannibal Lecter. O diretor Brett Ratner, inteligentemente, resgata a atmosfera de O Silêncio dos Inocentes (a reconstrução da prisão é perfeita), fugindo da bobagem de querer realizar algo extremamente autoral, como Scott tentou. Ratner se apóia na obra-prima de 1991 e, com isso, acerta no suspense (a sequência de Freddy Lounds conversando com o Fada do Dente é inquietante). Mas, mesmo inspirando-se no filme de Jonathan Demme, o roteiro de Dragão Vermelho acrescenta conteúdo à história de Hannibal. Além de vermos como uma pessoa tão inteligente quanto ele foi pega, inclusive, mostrando que o psicopata também falha, o texto explora brilhantemente o impacto de certos eventos na vida de cada um, resultando na excelente frase de Lecter: “as cicatrizes nos ajudam a lembrar que o passado foi real”. Para completar, Anthony Hopkins mostra-se brilhante mais uma vez no papel de Hannibal Lecter e Ralph Fiennes impressiona com sua composição, apresentando um antagonista repulsivo, mas com momentos levemente sensíveis, permitindo ao público não esquecer que aquele ser também é vítima de seu passado cruel. O maior psicopata da história do cinema recebeu uma conclusão à altura.
"Uma das críticas habituais proferidas ao diretor é sua necessidade de criar momentos sentimentais, otimistas ou doces, algo que não incomoda tanto em longas como A.I. Inteligência Artificial, mas em A Cor Púrpura soam até mesmo ofensivos. Há uma cena, por exemplo, em que Harpo pergunta para seu pai, Albert, um homem violento e cruel, como lidar com o desrespeito de sua esposa; a resposta do pai é direta: “bata nela”. Veja bem, um pai violento está transmitindo para seu filho o que há de pior em sua personalidade; um momento pesado, certo? Contudo, Spielberg roda a sequência com uma incômoda leveza. A fotografia é calorosa, destacando o belo céu que cobre os personagens, e a trilha de Quincy Jones mostra-se pateticamente alegre, parecendo que o realizador não tinha noção da dramaticidade do momento."
Beleza Americana tem uma crítica óbvia ao american way of life e à futilidade da sociedade estadunidense, vendo na posição social o caminho para a felicidade. Porém, ao meu ver, o mais interessante na obra de Sam Mendes é a maneira que aborda as imagens construídas pelas pessoas de si mesmas.
Até a metade da projeção, o roteiro, escrito por Alan Ball, constrói os personagens e aquele universo valendo-se de estereótipos. Soa, inclusive, como algo raso em alguns momentos. Temos a patricinha metida, a gótica adolescente estranha, o homem preconceituoso e violento, o stalker, a mãe frustrada e o pai fracassado. Nada ali é apresentado como algo complexo. Aliás, o absurdo de algumas situações nos leva a rir dos personagens, principalmente por suas motivações patéticas.
Porém, a partir da metade final, quando o roteiro passar a desconstruir estes estereótipos, vemos como as imagens criadas pelos personagens não passam de escudos para esconder suas fraquezas, defeitos e medos. Por trás do homem violento, há desejos reprimidos; a patricinha orgulhosa morre de medo de ser uma pessoa comum; e o pai sente-se fracassado por também ter falhado no comando de sua casa, perdendo o respeito da filha e da esposa. No entanto, o mais brilhante da obra é a maneira como conversa com o público, algo que pode ser visto na narração em off, mostrando como todos criam esses escudos. No fim, sentimo-nos também estereótipos de algo.
Beleza Americana é um filme brilhante sobre o que as imagens escondem, algo destacado pela direção precisa de Sam Mendes, uma vez que, em meio àqueles belos cenários e enquadramentos simétricos, há infelicidade e frustração. Assim são os personagens, tentando criar seres perfeitos para esconder suas falhas. Aliás, assim também é os Estados Unidos, vendendo um estilo de vida supostamente ideal, mas que esconde uma população frustrada e que, erroneamente, acredita que a posse guarda a felicidade. Pobres coitados.
Dor e Glória
4.2 619 Assista Agora"Apesar dos problemas pontuais, Pedro Almodóvar mostra maturidade em Dor e Glória, assim como a conclusão do arco de Salvador. Esteticamente, o diretor constrói uma obra costumeiramente cativante, mas o destaque aqui está no roteiro tematicamente rico, trabalhando aspectos pessoais e gerais com igual profundidade, abordando a velhice com respeito e otimismo. Definitivamente, o tempo fez bem para Almodóvar."
Crítica: https://www.planocritico.com/critica-dor-e-gloria/
Um Dia de Fúria
3.9 895 Assista Agora"o diretor Joel Schumacher constrói uma bem estruturada armadilha para o espectador. Superficialmente, William é um típico cidadão comum, trabalhador e pai de família. Aliás, é brilhante a escolha do roteiro de adiar o máximo possível a apresentação do nome do personagem. O texto está interessado naquele tipo de cidadão e não tanto no homem em si. Com o decorrer da narrativa, as camadas do personagem são descascadas e surge um ser violento, preconceituoso e intolerante. O cidadão de bem se revela um extremista. Aquele que melhor dialoga com o público é, na verdade, o vilão da história, sendo uma estupenda crítica social realizada através da construção do protagonista."
Crítica: https://www.planocritico.com/critica-um-dia-de-furia/
Fé Corrompida
3.7 376 Assista Agora"Marca registrada em sua carreira, Schrader utiliza a narração em off aqui não como elemento expositivo dentro da narrativa, mas sim para apresentar comentários de Toller sobre o universo que o rodeia. Conhecer as reflexões do protagonista não torna a experiência do público mais fácil, pelo contrário, desafia o espectador para compreender o nível de sanidade do pastor e se seus pensamentos extremistas podem ter algum sentido. Apesar do claro enlouquecimento do personagem, somos constantemente provocados a concordar com ele, como se fosse inevitável não enlouquecer em um mundo tão decadente. Portanto, Schrader promove desenvolve um personagem complexo e coloca o público dentro da história com precisão."
Crítica: https://www.planocritico.com/critica-fe-corrompida/
Minding the Gap
4.1 73"é interessante que o realizador permita que o público ouça suas perguntas e não apenas as respostas dos entrevistados. A estratégia justifica-se porque, aos poucos, Liu revela como Minding the Gap trata-se de uma obra extremamente pessoal. Ele confronta seu passado por intermédio das entrevistas com a mãe, ambos vítimas de um homem cruel, o padrasto dele. Inclusive, vale ressaltar como, apesar do envolvimento pessoal com a película, Liu conduz essas sequências de maneira brilhante, se colocando em tela (um dos únicos momentos que isso acontece) e mantendo ele e a mãe fora do mesmo quadro, ressaltando a distância sentimental que há entre os dois, visto que ela permitiu todas as agressões do ex-marido."
Crítica: https://www.planocritico.com/critica-minding-the-gap/
Vice
3.5 488 Assista AgoraVice é um longa claramente perdido com relação ao seu tom, oscilando entre uma paródia escrachada e um docudrama político sem nenhuma coesão. Já o roteiro incomoda pelos excessivos diálogos expositivos, impedindo que o público tenha a própria interpretação sobre algumas cenas. Contudo, se Adam McKay falha ao conceber um longa harmonioso, o diretor ainda é eficiente ao criar sequências memoráveis. A cena do jantar, por exemplo, é espetacular. Além disso, tematicamente, Vice é um longa corajoso, importante e explícito em suas críticas aos EUA. Ademais, a obra acerta na abordagem sobre oportunidade, destacando como Cheney é um oportunista e explorando sua habilidade em ver vantagens até mesmo na tragédia. Mesmo sendo bagunçado, Vice ainda proporciona bons momentos, ótimas interpretações e mensagens convincentes.
A Juíza
4.0 42 Assista AgoraAo mesmo tempo em que RBG constrói uma eficiente linha do tempo sobre vida da juíza Ruth Bader Ginsburg, indo da infância à velhice da protagonista, o documentário investe pouco em detalhes. A luta de Ruth pelos direitos das mulheres, o amor pelo marido e seu apreço pela ópera estão devidamente pontuados na obra, contudo, os casos que participou no início da carreira, a atuação na Suprema Corte dos EUA e sua divergência com Donald Trump não são aprofundadas. Apesar de apresentar sua temática com clareza, RBG não explora a relevância da juíza em um ambiente tão masculino como a Suprema Corte e sua influência dentro dele.
Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível
3.9 457 Assista AgoraAtravés um visual que contrapõe com inteligência a frieza de Londres com o calor do Bosque dos 100 Acres, o filme promove o apreço pelos pequenos prazeres e uma vida menos "adulta" e mais imaginativa. O enredo é bem óbvio e não surpreende, mas os personagens e a mensagem são tão adoráveis que é impossível não se encantar com Christopher Robin em algum momento.
15h17: Trem Para Paris
2.6 139 Assista AgoraÉ bem verdade que Clint Eastwood se entrega para refletir sobre o heroísmo de uma maneira quase que documental, apresentando a rotina dos personagens desde sua infância. No entanto, o roteiro traz tantas cenas rotineiras que, desde o início, parecem que não levar a lugar algum. Ainda há bons diálogos em momentos pontuais, como o do guia que ressalta a ansiedade americana em assumir o heroísmo de todas as situações, porém, são falas que não trazem profundidade ao tema. O término funciona, toda a sequência dentro do trem é bem dirigida, mas o longa, em nenhum momento, parece ter algo a dizer além do que já ficou claro nos minutos iniciais, que o heroísmo está em pessoas comuns. Como resultado: um filme igualmente comum.
Harry & Sally: Feitos um Para o Outro
3.9 504 Assista Agora"Ao elaborar sua história, a roteirista Nora Ephron sabe que tem em mãos um gênero saturado. Porém, inteligentemente, a escritora usa desse conhecimento para quebrar clichês da comédia romântica. Portanto, Harry e Sally surpreende não apenas na construção de sua narrativa, mas também tematicamente, mostrando como a base para uma ótima relação está em uma grande amizade. Os protagonistas não são almas gêmeas que o destino atraiu ou pessoas que combinam, pelo contrário, o longa os apresenta como dois seres absolutamente diferentes. Perceba como, na sequência inicial, Harry e Sally destoam. Ele se mostra jogado aos instintos, um homem que pensa no prazer momentâneo, já ela possui características de uma pessoa metódica, apegada em detalhes e em continuidade. Ou seja, a estratégia aqui é compará-los constantemente para evocar suas diferenças, a cena em que conversam ao telefone, com a tela dividida, é o maior exemplo disso."
Crítica completa: https://www.planocritico.com/critica-harry-e-sally-feitos-um-para-o-outro/
Oitava Série
3.8 336 Assista AgoraA transição do ensino fundamental para o médio acarreta em diversas dúvidas na mente de um jovem. Nesse período, qualquer conflito e dúvida parece um verdadeiro terror, devido a instabilidade emocional. Eighth Grade pega essa fase da vida e realiza um retrato de uma geração, apresentando seus hábitos, dilemas e pressões sociais. A introdução da personagem e de seu universo é brilhante, utilizando um vídeo gravado por ela para entendermos que se trata de uma garota tímida, ansiosa para se abrir, mas tembém para descobrirmos os anseios dessa faixa etária, como popularidade.
Pode parecer que Eighth Grade se trata de um coming of age qualquer, contudo, o diferencial da obra está em seu impressionante nível de realismo. Kayla mexendo no celular, as situações que vive na escola, a empolgação ao sair com amigos novos, tudo é construído com uma verossimilhança impressionante. Além disso, a direção transmite com precisão os sentimentos da protagonista. Algumas sequências utilizam estratégias que remetem a dramas mais pesados, por exemplo, quando está solitária em seu quarto, com uso de sombras e composições claustrofóbicas, visto que, para a garota, não fazer parte de um grupo é um verdadeiro terror pessoal para ela.
O roteiro peca apenas ao descartar alguns personagens sem maiores explicações e ao promover uma virada na vida da personagem sem um desenvolvimento melhor; eu esperava algo além do discurso motivador do pai. No entanto, o longa promove um impecável retrato de uma geração repleta de inseguranças e que possui em mãos ferramentas que pioram ainda mais essa sensação, as redes sociais. Nessa época, a tristeza pode parecer interminável, porém, como Kayla diz: “mesmo que o ensino médio seja uma merda, nada dura para sempre”.
O Comboio do Medo
4.1 135"Enquanto O Salário do Medo, objeto do remake de Friedkin, possui uma abordagem antiimperialista e até mesmo anti-sistema, Comboio do Medo apresenta uma história intimista, explorando como o desespero pode levar um homem a desafiar seus próprios limites. Portanto, a obra apresenta um embate entre homem e natureza. As belas tomadas aéreas do filme servem não apenas para situar a ação, mas também para destacar como aqueles pilotos são nada diante da selva. Isso resulta em um acertado tom niilista, o mesmo do livro de Georges Arnaud, abordando como o homem que se sujeita a profissões de tamanho risco já é um homem morto, convivendo sempre com o medo."
Crítica para o Plano Crítico: https://www.planocritico.com/critica-o-comboio-do-medo-1977/
Dogman
3.6 113 Assista AgoraDogman possui um subtexto excelente, comparando homem com cachorro e problematizando até que ponto a fidelidade é benéfica ou louvável. O filme questiona: ser o melhor amigo do homem é algo bom? Além disso, com uma fotografia de cores apagadas, o diretor Matteo Garrone prioriza planos abertos, para ressaltar a miséria dos ambientes, e câmera na mão para criar tensão, sendo uma estratégia inteligente. No entanto, a transformação do protagonista carece de um desenvolvimento melhor. Algumas mudanças de comportamento em Marcello não são preparadas pelo roteiro e o relacionamento do personagem com a filha, apresentado como fundamental dentro da narrativa, é mal resolvido. Apesar da ideia interessante, Dogman peca na construção.
O Salário do Medo
4.3 105 Assista Agora"O Salário do Medo abraça temas políticos para desenvolver um excelente exercício de suspense. A jornada dos protagonistas é tensa e árdua como a vida de qualquer trabalhador explorado. Por isso, não há final feliz diante de um sistema tão abusivo, que faz os cidadãos praticamente venderem suas vidas por valores insignificantes. Uma vida não vale 2 mil dólares, como os protagonistas, erroneamente, pensavam. O Salário do Medo nos mostra que só haverá um final feliz quando esse abuso terminar."
Crítica: http://www.planocritico.com/critica-o-salario-do-medo-1953/
O Primeiro Homem
3.6 649 Assista AgoraA viagem do homem até a lua também é uma jornada pessoal.
O Primeiro Homem não busca destacar o heroísmo de Neil Armstrong, mas sim os motivos que o levaram a cumprir tamanha responsabilidade. O novo longa de Damien Chazelle, responsável por Whiplash e La La Land, mostra-se surpreendentemente intimista, algo que pode ser reparado na fotografia, priorizando close-ups, planos subjetivos e sequências com câmera na mão. Outra surpresa está no tom fúnebre e pesado da obra, exemplificado pela iluminação escura de diversas cenas. Na sequência inicial, por exemplo, Armstrong é apresentado em meio a uma turbulência, servindo também como uma representação de sua mente. Mais do que chegar até a lua, Armstrong precisa superar a própria frieza e enterrar seus traumas, sendo essa a missão mais difícil de sua vida. Ryan Gosling destaca com precisão a introspecção do personagem, dizendo muito pelo olhar, ao passo que Claire Foy insere mais personalidade em sua personagem que o próprio roteiro. Falando nisso, faltou ao roteiro uma maior atenção com os coadjuvantes, recebendo destaque quase nulo. Além disso, na transição do segundo para o terceiro ato, o longa torna-se cansativo, adiando demais a missão até a lua.
Apesar de ser o primeiro filme de Chazelle sem trazer a música como elemento importante, O Primeiro Homem se assemelha a Whiplash na abordagem sobre superar limites. Para Damien Chazelle, a redenção de seus personagens está em seus sacrifícios.
As Grandes Aventuras de Pee-wee
2.8 112 Assista Agora"Mesmo com suas falhas narrativas, As Grandes Aventuras de Pee-wee entrega aquilo que promete: um filme divertido tanto para adultos quanto para crianças. Além disso, com o projeto, Paul Reubens pôde notabilizar o personagem que o tornou conhecido pelo público. Mais importante que isso, o filme foi uma estreia com o pé direito para Tim Burton, produzindo um sucesso de bilheteria logo em seu primeiro trabalho, sem abrir mão de mostrar, mesmo que seja em cenas pontuais, o estilo que o consagraria."
Crítica: http://www.planocritico.com/critica-as-grandes-aventuras-de-pee-wee/
Munique
3.8 253 Assista Agora"Nos minutos iniciais de Munique, o nome de diversas cidades surge em uma tela escura e, logo após, Munique aparece em vermelho, diferente das demais palavras, que são brancas. O momento é simples, mas revela precisamente as intenções de Steven Spielberg na obra. O atentado durante as Olimpíadas de Munique de 1972, que vitimou dez atletas israelenses e cinco terroristas palestinos, é apenas mais um caso entre tantos outros ocasionados pela guerra da Palestina, que parece jamais ter fim. Ou, como o personagem Steve diz em determinado momento, 'essa guerra sempre existiu, sempre pelo mesmo deserto, a diferença é que agora a levamos para Copenhague'."
Crítica: http://www.planocritico.com/critica-munique-2005/
Sicario: Terra de Ninguém
3.7 944 Assista Agora"Quando vemos as condições de Juárez em meio ao tráfico, Villeneuve nos faz refletir como Kate: vale a pena ultrapassar barreiras legais para tentar acabar com tamanho terror? Felizmente, o roteirista Taylor Sheridan escapa do completo ufanismo que a obra poderia ter ao colocar os Estados Unidos no papel de polícia do planeta. Pelo contrário, Sicario escancara como o objetivo dos estadunidenses nunca foi erradicar a droga, afinal de contas, essa já é uma batalha perdida; o real objetivo dos americanos é ter o controle sobre o tráfico de drogas. Se é necessária a existência de um narcotraficante, que ele seja colaborador dos Estados Unidos e mate apenas pessoas do outro lado da fronteira, deixando os americanos em paz."
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O Dilema
2.8 235 Assista Agora"O Dilema é uma tentativa de fazer comédia com situações absurdas, mas que cansa pela repetição. Desta maneira, quando Ronny tenta contar o que viu para o amigo pela primeira vez, o momento até sensibiliza, porém, quando ocorre pela terceira vez, parece apenas mais do mesmo. Outro momento repetitivo é o de Ronny pedindo para Geneva ser sincera com o marido, dando espaço para ela dar discursos sobre problemas matrimoniais. Há tantos momentos desnecessários aqui que o longa poderia ter, tranquilamente, vinte minutos a menos, demonstrando a preguiça do roteiro, que ainda traz infelizes piadas homofóbicas."
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A Lista de Schindler
4.6 2,3K Assista Agora"Spielberg transforma sua história em uma representação de todo o sofrimento que os judeus tiveram naquele período. Não à toa, a primeira cena do longa, ainda colorida, traz um pequeno grupo de judeus, que não fazem parte da trama, orando. Ali, o diretor deixa claro como não pretende apenas abordar arcos de personagens, mas de todo um povo.
Portanto, é necessário destacar o excelente roteiro escrito por Steven Zaillian, pontuando com precisão todas as fases passadas por judeus na guerra. No início, o grupo sofre apenas com as humilhações e obrigatoriedade de identificação; depois, são saqueados e expulsos de seus lares; no fim, agonizam com o trabalho escravo e holocausto. Tudo isso é apresentado com detalhes pelo roteiro, com direito a longas sequências, como a dos soldados da SS invadindo o gueto judeu, fazendo-nos presenciar as calamidades ocorridas com aquelas pessoas."
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Deadpool 2
3.8 1,3K Assista AgoraAssumir falhas não as elimina. Deadpool 2 tem noção dos clichês que tem, mas, mesmo assim, os adota. Ou seja, por zombar tanto de filmes do gênero, as partes que a obra se leva a sério soam desnecessárias. Não há coesão entre a paródia e a parte sentimental, portanto, temos aqui um longa de tons desconexos. Aliás, a relação entre Deadpool e Russel, que sustenta toda a trama, é desenvolvida da maneira mais preguiçosa possível. Isso significa que Deadpool 2 é ruim? Claro que não, uma vez que o humor e a ação do filme funcionam. Até mesmo o estranho poder da “sorte” de Dominó é explorado com eficiência pelo diretor David Leitch, em uma belíssima cena em câmera lenta. Além disso, o filme diverte pelas referências a vários filmes de ação, como o fato de Cable ter o mesmo papel de O Exterminador do Futuro. Quando se preocupa apenas em divertir, seja pela ação ou risos, Deadpool 2 mostra-se extremamente eficaz, só não precisava ter se levado tão a sério em alguns momentos.
Ah, nenhuma cena pós-créditos, seja de filmes futuros ou passados, vai superar o efeito que as de Deadpool 2 causam.
Detroit em Rebelião
4.0 193 Assista AgoraDetroit chama a atenção pela maneira impecável que a diretora Kathryn Bigelow transfere a trama do macro para o micro, utilizando um tom documental para dar realismo aos fatos. Com isso, o longa não só é extremamente eficiente em mostrar a dimensão do problema ocorrido na cidade em 1967, como também desenvolve com eficiência a situação dos personagens centrais diante daquilo. Aliás, toda a seqüência que se passa no Algiers Motel é o auge dramático do longa, proporcionando um clímax bem no meio da narrativa, mostrando suas consequências no desfecho. Ou seja, o roteiro, escrito por Mark Boal, é explícito em destacar como o racismo impactava a vida daqueles cidadãos e como o resultado disso era a revolta e os protestos, fazendo a parte macro e micro conversarem de maneira orgânica. Apesar de ser um pouco mais longo que o necessário, perdendo a potência no fim, Detroit é impactante e revoltante por mostrar com tanta clareza o nível do racismo nos EUA naquele tempo; algo que, infelizmente, se perpetua até hoje.
Dragão Vermelho
4.0 894 Assista AgoraApós o deslize de Hannibal, dirigido por Ridley Scott, Dragão Vermelho encerra de maneira ótima a trilogia do Dr. Hannibal Lecter. O diretor Brett Ratner, inteligentemente, resgata a atmosfera de O Silêncio dos Inocentes (a reconstrução da prisão é perfeita), fugindo da bobagem de querer realizar algo extremamente autoral, como Scott tentou. Ratner se apóia na obra-prima de 1991 e, com isso, acerta no suspense (a sequência de Freddy Lounds conversando com o Fada do Dente é inquietante). Mas, mesmo inspirando-se no filme de Jonathan Demme, o roteiro de Dragão Vermelho acrescenta conteúdo à história de Hannibal. Além de vermos como uma pessoa tão inteligente quanto ele foi pega, inclusive, mostrando que o psicopata também falha, o texto explora brilhantemente o impacto de certos eventos na vida de cada um, resultando na excelente frase de Lecter: “as cicatrizes nos ajudam a lembrar que o passado foi real”. Para completar, Anthony Hopkins mostra-se brilhante mais uma vez no papel de Hannibal Lecter e Ralph Fiennes impressiona com sua composição, apresentando um antagonista repulsivo, mas com momentos levemente sensíveis, permitindo ao público não esquecer que aquele ser também é vítima de seu passado cruel. O maior psicopata da história do cinema recebeu uma conclusão à altura.
A Cor Púrpura
4.4 1,4K Assista Agora"Uma das críticas habituais proferidas ao diretor é sua necessidade de criar momentos sentimentais, otimistas ou doces, algo que não incomoda tanto em longas como A.I. Inteligência Artificial, mas em A Cor Púrpura soam até mesmo ofensivos. Há uma cena, por exemplo, em que Harpo pergunta para seu pai, Albert, um homem violento e cruel, como lidar com o desrespeito de sua esposa; a resposta do pai é direta: “bata nela”. Veja bem, um pai violento está transmitindo para seu filho o que há de pior em sua personalidade; um momento pesado, certo? Contudo, Spielberg roda a sequência com uma incômoda leveza. A fotografia é calorosa, destacando o belo céu que cobre os personagens, e a trilha de Quincy Jones mostra-se pateticamente alegre, parecendo que o realizador não tinha noção da dramaticidade do momento."
Crítica completa: http://www.planocritico.com/critica-a-cor-purpura/
Beleza Americana
4.1 2,9K Assista AgoraBeleza Americana tem uma crítica óbvia ao american way of life e à futilidade da sociedade estadunidense, vendo na posição social o caminho para a felicidade. Porém, ao meu ver, o mais interessante na obra de Sam Mendes é a maneira que aborda as imagens construídas pelas pessoas de si mesmas.
Até a metade da projeção, o roteiro, escrito por Alan Ball, constrói os personagens e aquele universo valendo-se de estereótipos. Soa, inclusive, como algo raso em alguns momentos. Temos a patricinha metida, a gótica adolescente estranha, o homem preconceituoso e violento, o stalker, a mãe frustrada e o pai fracassado. Nada ali é apresentado como algo complexo. Aliás, o absurdo de algumas situações nos leva a rir dos personagens, principalmente por suas motivações patéticas.
Porém, a partir da metade final, quando o roteiro passar a desconstruir estes estereótipos, vemos como as imagens criadas pelos personagens não passam de escudos para esconder suas fraquezas, defeitos e medos. Por trás do homem violento, há desejos reprimidos; a patricinha orgulhosa morre de medo de ser uma pessoa comum; e o pai sente-se fracassado por também ter falhado no comando de sua casa, perdendo o respeito da filha e da esposa. No entanto, o mais brilhante da obra é a maneira como conversa com o público, algo que pode ser visto na narração em off, mostrando como todos criam esses escudos. No fim, sentimo-nos também estereótipos de algo.
Beleza Americana é um filme brilhante sobre o que as imagens escondem, algo destacado pela direção precisa de Sam Mendes, uma vez que, em meio àqueles belos cenários e enquadramentos simétricos, há infelicidade e frustração. Assim são os personagens, tentando criar seres perfeitos para esconder suas falhas. Aliás, assim também é os Estados Unidos, vendendo um estilo de vida supostamente ideal, mas que esconde uma população frustrada e que, erroneamente, acredita que a posse guarda a felicidade. Pobres coitados.