enquanto assistia esse filme, intempestivamente fui tomada por uma sensação de ''quero botar fogo nesse apartamento, quero ir embora, quero dar o fora ..."! haha É um filme que realmente nos envolve e consegue transmitir a decomposição da sanidade da personagem de Catherine Deneuve ... Quero assistir mais filmes do Polanski!! E curiosamente, já havia visto "La belle de jour'' com a Catherine e, ambos os filmes tematizam a sexualidade, os desejos sexuais e conflitos das personagens, mas de formas bem distintas. Enquanto em "La belle de jour" ela busca por sentir novos prazeres, realizar fantasias com outras pessoas; aqui em "Repulsa ao sexo" é justamente o oposto disso ... Carol possui extrema dificuldade de olhar nos olhos, manter uma conversa com as pessoas de forma geral e principalmente com os homens. Além disso, suas atitudes por vezes transmitem uma certa frieza e indiferença em relação aos homens. Outro ponto interessante é o fato de que, percebi que nesse filme, ocorre uma denúncia ao machismo, que pode ser nitidamente percebido em várias cenas do filme, como a cena em que Carol anda na rua e recebe uma "cantada". De certa forma, é como se Carol tivesse mais do que uma repulsa ao sexo; como se ela tivesse repulsa por tudo que faz referência à opressão contra as mulheres, por todos os valores que a nossa cultura sustenta. Carol não possui muitas falas no filme ... será que não foi a sociedade e o machismo que a silenciaram? Outro ponto que o filme toca é em relação aos medos que nos perseguem, que nos fazem recuar, que nos fazem deixar de gritar, que nos fazem imaginar coisas inenarráveis, que às vezes podem nos levar à beira da loucura ...
é um filme bacana, mas achei fraco, em comparação com outros filmes que abordam a temática da Saúde mental. Talvez eu tenha esperado demais do filme e por isso a decepção foi certeira. Mas como disse, é um filme bonitinho, engraçadinho, com uma história até interessante, mas com um final tristemente previsível. Uma coisa para qual o filme chama a atenção é o fato de que, de perto, todos tem um pouco de loucura, de descontrole e insegurança; mas as formas como cada pessoa lida com isso são diversas, resultando em diversos modos de ser e estar no mundo.
Mindfuck! Não consigo pensar em outra palavra pra falar desse filme do Scorsese e da atuação do DiCaprio, que mais uma vez prova que não é apenas um rostinho bonito nas telas. O filme mostra muito bem, em alguns momentos de forma bem crua, como o nosso sistema consegue corromper uma pessoa e o que esta, é capaz de fazer pelo dinheiro. Mostra claramente o quanto as pessoas se tornaram também mercadorias e que nos bastidores, por trás das aparências enganosas, todos possuem seus vícios, seus momentos de extrema fraqueza e desespero. Sem palavras ...
o Lars sempre me desafiando a defrontar um turbilhão de emoções: raiva, ódio, desgosto, até a sensação de uma doçura indescritível, passando pela empatia em relação ao sofrimento dos seus personagens. Pasme, como ele consegue fazer isso comigo! Assistir esse filme, foi como sentir um soco no estômago e ao mesmo tempo, uma sutil carícia, mas bem, bem de leve! haha E como não sentir simpatia pela Bjork? Achei genial as cenas em que ela canta, como se estivesse sonhando acordada ... Bjork sendo Bjork; muito bacana o Lars ter evidenciado o potencial artístico dela! A voz dela é absurdamente reconhecível e única. E quando ela canta sobre tudo o que ela já viu e das coisas que não importam mais, consegui sentir, através do seu canto, a angústia vivida pela Selma ... sem palavras. Uma parceria que deu muito certo! E o Lars, sempre evidenciando em seus personagens as características que remetem à condição de seres humanos, explorando o quanto podem possuir desejos destrutivos, chegando aos extremos, custe o que custar, a fim de conseguir realizá-los. Preciso dizer que uma das cenas que mais me sensibilizou foi a de quando Selma e Kathy (para a minha surpresa não é ninguém menos que Catherine Deneuve, que protagonizou anos antes ''Belle de Jour'') vão ao cinema! Entendedores entenderão, haha
um filme de uma expressiva sensibilidade e beleza particular. Uma das coisas que achei interessante é que o filme mostra o quanto os pais de Lara necessitam dela para que consigam se comunicar com os outros, se contrapondo, em certa medida, àquela ideia de que ''os filhos necessitam mais dos pais do que o inverso''. rs A relação que eles constroem baseia-se em trocas de sentidos e afetos, de um com o outro. São indescritíveis e lindas as cenas que mostram as tentativas de Lara em fazer com seus pais compreendam os sons das coisas, como o pôr do sol e a neve caindo. A trilha sonora entra em contraste com o silêncio vivenciado dia a pós dia pelos pais de Lara ... mas qual seria o sentido e significado do silêncio para aqueles que não podem ouvir? Um dos filmes mais belos que eu já vi! Sem palavras. Que o silêncio seguinte seja suficientemente bom para exprimir as reverberações que senti e estou sentindo ... rsrs
é um filme de história simples, sem grandes pretensões. Talvez seja essa simplicidade que tenha me tocado de um modo ''tão suave mé, que suavemente'', como na música! haha Re-assisti hoje e me maravilhou tanto quanto na primeira vez que o vi. As cenas em que Jeremy e Weldon conversam sobre o ato de escrever, sobre o pôr do sol, sobre a beleza feminina, sobre o modo como cada um enfrenta, ou não, os seus medos e o que fica depois disso ... me veio a vontade de me teletransportar para aquele pequeno vilarejo no interior da Itália, criar vacas, cuidar de uma casa no campo, onde eu possa ter inspiração e tranquilidade para transpor meus versos, sentir o vento serelepe, sussurrando histórias em meus ouvidos e compor meus rock rurais, ou quase isso. rs
''Há dias que eu sonho beijos ao luar, em ilhas de fantasia'' Adoreei ver a Débora Bloch cantando! rs É um filme gostoso de assistir à tarde, com os amigos, pra descontrair!
é um filme muito interessante, o primeiro que vi até agora do diretor Luiz Buñuel. As cenas que, particularmente, me despertaram bastante curiosidade são as dos sonhos da personagem Séverine. O desfecho do filme me deixou um tanto intrigada, acho que nutri expectativas que talvez, não sejam tão "compatíveis" com a forma como Buñuel direciona seus filmes. Fiquei pensando sobre isso. Os elementos oníricos revelam fantasias sexuais da personagem, que dão margem para várias interpretações, por vezes, proporcionando um cenário surreal. Além disso, o filme propõe rupturas com os valores e a ideologia dominante nos anos de 1960. Séverine revela-se como uma dona de casa francesa que vive infeliz em seu casamento, desejando obter prazeres de um modo "nada convencional", para os parâmetros da época, digamos assim. Uma pergunta que permeia meus pensamentos é "o que será que dava mais prazer para Séverine: se envolver com vários homens, conhecer suas respectivas fantasias, ser tratada como uma prostituta ou agir como tal enquanto uma mulher casada (mantendo segredos de seu marido)?''. É um filme com muuitos elementos interessantes e passíveis/possíveis de discussão ... acredito que Buñuel teve a intenção de explorar os desejos reprimidos e recalcados de uma mulher da classe burguesa, a fim de denunciar a repressão sexual à qual homens e mulheres são submetidos, devido às normas e crenças vigentes (inclusive religiosas), de uma sociedade que condena as várias formas de subjetivação existentes (e legítimas). Uma sociedade que prega que as pessoas devem ir em busca da felicidade e só irão obtê-la se caso se adequem aos padrões de "normalidade" e às demandas do mercado.
Na minha opinião, um dos melhores que já vi até agora do Hitchcock! Achei muito interessante pq neste filme, me deu a impressão de que a intenção dele era fazer um jogo de diálogos, de insinuações, já que o crime havia sido realizado e mostrado desde o início do filme. Assisti por indicação de um amigo e gostei muito; aprecio o gênero de suspense. Curiosamente, não se fazem mais filmes assim (do gênero), na base da construção de diálogos, permeados por indiretas, do desenvolvimento do raciocínio dos protagonistas e aquela sensação de ''será que eles vão ser descobertos ou não?'', sem a previsibilidade que já se tem com os filmes mais atuais; o que é uma pena.
que atuação da Jodie Foster! Será que realmente a civilização tem sido um ganho para nós que vivemos em sociedade? Que tipo de valores permeiam a lógica do sistema, que rotula à todos, que condena os que agem diferente, os que pensam diferente, que oprime os que desejam ser diferentes? É saudável ajustar-se à uma sociedade doente? Me sinto como uma criança, numa busca por várias respostas para os infindáveis indagamentos ...
Tão diferente assistir a um filme mexicano! Diferentemente gostoso! Tem um conto, do livro ''Mulheres'' do Galeano, em que ele diz mais ou menos assim, que as pessoas são como os vulcões, elas crescem de pouco a pouco com os soluços, com as contrações. De pouco a pouco as ideias vão efervecendo e saltam pra fora! Assim como o amor ...
''e quem foi que disse que poesia não embala? Quem foi que disse que poesia não embriaga?'' As pessoas se esqueceram de se importar com as questões que são realmente importantes, se esqueceram de viver conforme o coração, aprenderam o desprezo pela pessoas marginalizadas, aprenderam a aceitar a opressão mascarada ... as pessoas se esqueceram de que sem poesia, a gente não aguenta. Aprenderam a não viver, apenas sobreviver. ''Tome poesia, tome poesia! Precisamos do 'não', do 'não' que seja um 'sim'!'' Algo visceral, sem mais palavras! Preciso ver mais filmes do Cláudio de Assis! rs
nooossa! O Lars sabe mesmo como construir personagens interessantes, de intensos sentimentos, não é? Na verdade esse é o 3º filme dele que assisto, inclusive, uma indicação de um amigo. rs Mas pude perceber que os seus personagens costumam vivenciar situações limites, em que impera-se o desespero, o ódio, a vingança, o ciúmes, o delírio ... o amor infindável, como no caso de Bess, beirando a loucura. Há algo provocante em suas obras, que revela as possibilidades de se reagir diante de situações em que se perde o controle, em que se perde a razão usual, em que as máscaras caem. Talvez seus personagens representem os variados modos de ser e estar no mundo, os diversos modos de subjetivação que podemos experienciar, pelo fato da nossa condição de humanos. O que na verdade significa sermos humanos? Existe algo de bom na humanidade? Me parece que durante a construção de seus personagens e dos conflitos existenciais que os cercam, somos levados a nos olhar no espelho, a perceber o quanto podemos ferir o outro e a nós mesmos, o quanto podemos ser egoístas ... o quanto podemos ser humanos, demasiado humanos. A possibilidade de enlouquecer está aí, nesse mundo em que temos que ser como os outros desejam, em que é preciso viver para trabalhar, em que é preciso ser alguém produtivo para conseguir respeito, em que a lógica do sistema é excludente e oprime os mais sensíveis, os mais amorosos, aqueles que são vistos como mais fracos, como loucos. Aqueles que se assemelham à personagem de Bess, que em seus delírios e atitudes, havia algo de transgressor, para as pessoas daquela comunidade conservadora e machista.
é o primeiro filme do Antonioni que eu assisto e me deixou muito intrigada. Sim, talvez seja essa a palavra que possa, em parte, descrever uma das tantas reverberações que senti após assisti-lo. Fiquei instigada a ver outros filmes dele, justamente pela questão da fotografia e dos temas. Conseguiu prender a minha atenção até o fim, criando um ar de suspense, uma vontade de querer saber o que se passa, quem é aquela mulher que ficou tão atormentada, os motivos de sua aflição, os motivos da morte daquele homem ... mas ao final do filme me questionei: será que foi tudo um sonho, uma ilusão, ou não? Confesso que não correspondeu a todas as minhas expectativas; esperava mais ação! E vejam só a influência do cinema hollywoodiano, com sua grande produção de filmes de ação já tão previsíveis, repetitivos e por vezes, brochantes. Esperava por um protagonista mais simpático; meio aquele tipo de mocinho bem ajustado, educado ao modelo clássico de ''herói do cinema''! Engraçado que a atuação do David Hemmings merece destaque, na minha opinião, pela capacidade que teve de proporcionar ao espectador aquela sensação de desprezo, diante da antipatia e pose esnobe de seu personagem ... é como se ele transbordasse tédio, como se dia após dia sua vida fosse cercada por uma tediosa rotina, ao lado de pessoas tediosas que se entediam com a rotina, com o trabalho. Pessoas que se entediam por estarem entediadas, cujo o modo como constroem suas relações pessoais é superficial. O filme trabalha muito a questão de como lidamos com a nossa percepção da existência ou não das coisas e das pessoas. Algo só existe quando eu consigo percebê-la e nomeá-la, então ela se torna real para mim ... porém, nossa visão é limitada e não nos permite apreender toda a realidade; mas isso não quer dizer que o que está fora do nosso campo de percepção, não exista. Então, o que é real? E o que não é? Será um tipo de jogo atrevido de luz e sombra? As cenas em que ele se debruça por horas e horas na tentativa de solucionar o mistério é uma sequência legal; compartilhei de sua curiosidade! rs realmente é um filme que traz aspectos interessantes, mas que nem por isso, deixa de ser difícil de compreender e em alguns casos, de provocar encantamento. Ele abre espaço para questionamentos sobre aquilo que concebemos como sendo verdade ou não, nos instiga a questionar a percepção de nós mesmos no mundo ... produz indagações mas não oferece respostas, diferentemente dos filmes aos quais estamos mais familiarizados - os hollywoodianos de plantão. Confesso mais uma vez: senti vontade de que houvesse mais investigações sobre o caso e quiçá, uma solução! rs A trilha sonora e os cenários tbm merecem prestígio! A cena de início se interligando com a cena final, dando a sugestão de que talvez, tudo dependa do ponto de vista de cada um. Talvez, em grande parte das vezes, nos relacionemos uns com o outros por meio das ''imagens'' que sustentamos de nós mesmos e dos outros ... ilusões alimentando ilusões. Como disse o Chico uma vez: ''Sei lá, a vida é uma grande ilusão'', rs.
Um filme difícil de se assistir, realmente não é para ser passado na sessão da tarde. Ao começar pelo título, que reflete um tom irônico do diretor Fellini, em relação a uma vida cercada por conflitos existenciais, em que a pessoa vê pouco sentido naquilo que está fazendo, decepções amorosas e um trabalho (no caso, o jornalismo) que se sustenta pela divulgação da vida particular das pessoas. A temática do filme é tão delicada e no entanto, é retratada sem muitos ''rodeios'', sem enfeites, mas sim, de forma realista, mostrando como as pessoas que viviam na Itália, nos anos 60, estavam sujeitas às várias transformações ocorridas naquela época, da mesma forma que os valores/costumes de uma nação sofreram considerável impacto da influência estadunidense. Detalhe: tudo filmado em preto e branco! Qual a importância disso? Creio que novamente aqui encontra-se mais um pouco da ironia do diretor, pois retrata a vida sem cores, envolta pelo sentimento do vazio existencial, no meio de tantas mudanças de caráter político, cultural, dentre outros. Mas também, o jogo de preto-e-branco realçou a influência do cinema ''noir'' e do chamado ''expressionismo alemão'', que foram estilos da história do cinema que possuíam dentre várias características, o fato de retratarem as histórias por meio de cenários antipáticos, medonhos, com vários jogos de luz e sombra. Uma das coisas que fiquei pensando durante e depois do filme foi em como o personagem Marcello era infeliz com a vida que tinha, se relacionando com pessoas fúteis e superficiais (da aristocracia), que se deixavam levar pelas aparências e ''status''. Nesse sentido, a infelicidade de Marcello reflete um grito de descontentamento com o seu modo de agir com os outros, tanto no trabalho quanto na vida pessoal: se beneficiando de reportagens sobre desgraças da vida alheia (inclusive no caso de seu amigo Steiner, que se mata), ao mesmo tempo em que trai a namorada (por sinal bem ciumenta e carente de afeto, que ele pouco lhe dá), que sofre de amores por ele. O fato dele voltar com ela depois, interpretei como sendo um conformismo por parte dele, em deixar as coisas como estavam, em detrimento dos sentimentos alheios, mas também pelo fato de que ele no fundo, necessitava do amor devoto daquela mulher (que talvez fosse a única que o aceitava como ele era), como forma de reconforto para suas angústias, para todos os seus erros; não é a toa que ele compara o amor dela com o de uma mãe (que é incondicional e ''irracional'', contrapondo-se com um mundo onde as relações se dão por interesses pessoais, pautadas pela racionalização, em detrimento da preocupação com os demais). A cena com a atriz Sylvia (considerada clássica) é linda pois, naquele momento é possível notar que Marcello se encanta pela ingenuidade daquela mulher, que faz com que ele pense em quantas vezes ele deixou de aproveitar vários momentos por imposições morais ou pela ''imagem'' que tinha a zelar. Qualquer passo em falso poderia ser noticiado e mais ainda, julgado. Crítica fervorosa do diretor a uma sociedade do espetáculo, contrapondo-se com os vários momentos do filme em que nota-se a falha ou a falta de comunicação/compreensão entre as personagens, em meio a uma sufocante esfera -- constituída pela mídia e religião (por exemplo), que reproduzem o conjunto de valores e crenças compartilhados pelas pessoas -- repressora de desejos. Mais de uma cena faz menção à forte influência da religião na vida das pessoas, como na primeira cena do filme, em que também pode-se verificar o aspecto da falha na comunicação entre o repórter e a moça que está encima do prédio tomando sol, quando ele pede o número dela para entrar em contato com a mesma. É um filme que me emocionou muito, recomendo para aqueles que também estiverem dispostos a se emocionarem e a discutir sobre os aspectos interessantes que o filme traz! Me fez querer assistir mais obras do diretor, devido ao seu amplo senso crítico. Poderia comentar mais um monte, mas vou parar por aqui.
O filme une várias histórias, vários gêneros, resultando em uma tentativa bem ousada dos diretores (os mesmos que dirigiram ''Matrix''). É preciso ter muita sensibilidade para captar a peculiaridade do filme. Claro que possui defeitos visuais, erros de filmagem, mas ainda sim, é possível extrair boas coisas dele! Uma das mensagens mais belas do filme, que por sinal me deixou muito intrigada, foi o fato de que nós (presente) estamos ligados, de certa forma, tanto aos nossos ancestrais (passado), como também aos nossos descendentes (futuro). A parte da japonesa para mim, foi uma das mais fortes do filme ... crítica fortíssima à um modo de produção que visa apenas obtenção de lucro, em detrimento da morte, miséria e sacrifício de outras pessoas (analogia ao sistema capitalista, será?) - percebi claramente isso na cena em que aparecem os corpos das pessoas pendurados! Outro indagamento que tive tbm nessa cena foi o seguinte: as máquinas (aparato tecnológico) estão se tornando ''mais humanas'', enquanto que os homens estão se tornando mais máquinas (aliás, tema que faz ponte com ''Blade Runner'' ein!), no sentido de que priorizou-se na nossa sociedade, onde a ideologia individualista é predominante (diferente das sociedades em que a ideologia holística predomina) o culto ao indivíduo, que consiste no fato do mesmo defender os seus direitos de liberdade, igualdade e visar apenas o próprio umbigo e interesses pessoais, não concebendo que faz parte de um todo, de uma somatória de outros sujeitos; não compreendendo que as suas ações/ pensamentos/crenças possuem uma estreita relação com as gerações passadas e que conseguentemente, afetarão as gerações futuras.
as partes do músico gostei muito tbm, uma das cenas mais lindas é aquela em que ele e o seu namorado jogam todos os pratos pra cima e a cena toda é filmada em câmera lenta, captando os detalhes dos objetos se espatifando, juntando-se às partículas do ar, ao mesmo tempo em que tudo aquilo tinha relação com as angústias que ele estava sofrendo (a sabotagem, o preconceito , a falta de reconhecimento). A sinfonia daquilo que ele estava vivendo naquele momento, foi expressada através daquela cena ~ em que tudo era vencido pela força da gravidade, algo que ele não podia controlar, da mesma forma que não pôde fazê-lo com o triste destino que suas composições levaram ... e quantas outras composições, de outrem tbm não foram abafadas, ridicularizadas, rejeitadas? A parte dos velhinhos achei supeer engraçada! Eles foram deixados/ abandonados lá pelos parentes e perceberam que não tinham muito mais tempo de vida e que por isso, deveriam sair de lá o quanto antes, para aproveitarem ao máximo todas as possibilidades restantes para serem felizes, para realizarem alguns de seus sonhos ~ trazendo a mensagem de que enquanto respiramos, podemos continuar agindo, podemos continuar sendo protagonistas das nossas vidas, pois para promover mudanças significativas no mundo, devemos iniciá-las em nós mesmos. E a mensagem final foi a mais simples e bela de todas: o oceano é composto por várias gostas e será difícil atingir todas elas... mas ao atingir algumas gostas do oceano, em volta dessa ação se formará uma onda, que irá se propagar e alcançar outras gotas e nesse processo, em que tudo vai e volta, ocorrerão as pequenas transformações. Isso fará toda a diferença.
Repulsa ao Sexo
4.0 462 Assista Agoraenquanto assistia esse filme, intempestivamente fui tomada por uma sensação de ''quero botar fogo nesse apartamento, quero ir embora, quero dar o fora ..."! haha
É um filme que realmente nos envolve e consegue transmitir a decomposição da sanidade da personagem de Catherine Deneuve ... Quero assistir mais filmes do Polanski!! E curiosamente, já havia visto "La belle de jour'' com a Catherine e, ambos os filmes tematizam a sexualidade, os desejos sexuais e conflitos das personagens, mas de formas bem distintas. Enquanto em "La belle de jour" ela busca por sentir novos prazeres, realizar fantasias com outras pessoas; aqui em "Repulsa ao sexo" é justamente o oposto disso ... Carol possui extrema dificuldade de olhar nos olhos, manter uma conversa com as pessoas de forma geral e principalmente com os homens. Além disso, suas atitudes por vezes transmitem uma certa frieza e indiferença em relação aos homens.
Outro ponto interessante é o fato de que, percebi que nesse filme, ocorre uma denúncia ao machismo, que pode ser nitidamente percebido em várias cenas do filme, como a cena em que Carol anda na rua e recebe uma "cantada". De certa forma, é como se Carol tivesse mais do que uma repulsa ao sexo; como se ela tivesse repulsa por tudo que faz referência à opressão contra as mulheres, por todos os valores que a nossa cultura sustenta. Carol não possui muitas falas no filme ... será que não foi a sociedade e o machismo que a silenciaram? Outro ponto que o filme toca é em relação aos medos que nos perseguem, que nos fazem recuar, que nos fazem deixar de gritar, que nos fazem imaginar coisas inenarráveis, que às vezes podem nos levar à beira da loucura ...
Pina
4.4 408Dancemos, pois, se não, morreremos! Impressionada com tanta maravilha de uma
vez só ... preciso dançaaaaaaaaar! haha Pina <3
Quero Ser John Malkovich
4.0 1,4K Assista AgoraQuero ser Leonardo DiCaprio, nem que seja por 15 minutos! hahaha
O Lado Bom da Vida
3.7 4,7K Assista Agoraé um filme bacana, mas achei fraco, em comparação com outros filmes que abordam a temática da Saúde mental. Talvez eu tenha esperado demais do filme e por isso a decepção foi certeira. Mas como disse, é um filme bonitinho, engraçadinho, com uma história até interessante, mas com um final tristemente previsível. Uma coisa para qual o filme chama a atenção é o fato de que, de perto, todos tem um pouco de loucura, de descontrole e insegurança; mas as formas como cada pessoa lida com isso são diversas, resultando em diversos modos de ser e estar no mundo.
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista AgoraMindfuck! Não consigo pensar em outra palavra pra falar desse filme do Scorsese e da atuação do DiCaprio, que mais uma vez prova que não é apenas um rostinho bonito nas telas. O filme mostra muito bem, em alguns momentos de forma bem crua, como o nosso sistema consegue corromper uma pessoa e o que esta, é capaz de fazer pelo dinheiro. Mostra claramente o quanto as pessoas se tornaram também mercadorias e que nos bastidores, por trás das aparências enganosas, todos possuem seus vícios, seus momentos de extrema fraqueza e desespero. Sem palavras ...
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista Agorao Lars sempre me desafiando a defrontar um turbilhão de emoções: raiva, ódio, desgosto, até a sensação de uma doçura indescritível, passando pela empatia em relação ao sofrimento dos seus personagens. Pasme, como ele consegue fazer isso comigo! Assistir esse filme, foi como sentir um soco no estômago e ao mesmo tempo, uma sutil carícia, mas bem, bem de leve! haha E como não sentir simpatia pela Bjork? Achei genial as cenas em que ela canta, como se estivesse sonhando acordada ... Bjork sendo Bjork; muito bacana o Lars ter evidenciado o potencial artístico dela! A voz dela é absurdamente reconhecível e única. E quando ela canta sobre tudo o que ela já viu e das coisas que não importam mais, consegui sentir, através do seu canto, a angústia vivida pela Selma ... sem palavras. Uma parceria que deu muito certo!
E o Lars, sempre evidenciando em seus personagens as características que remetem à condição de seres humanos, explorando o quanto podem possuir desejos destrutivos, chegando aos extremos, custe o que custar, a fim de conseguir realizá-los. Preciso dizer que uma das cenas que mais me sensibilizou foi a de quando Selma e Kathy (para a minha surpresa não é ninguém menos que Catherine Deneuve, que protagonizou anos antes ''Belle de Jour'') vão ao cinema! Entendedores entenderão, haha
A Música e o Silêncio
3.8 18um filme de uma expressiva sensibilidade e beleza particular. Uma das coisas que achei interessante é que o filme mostra o quanto os pais de Lara necessitam dela para que consigam se comunicar com os outros, se contrapondo, em certa medida, àquela ideia de que ''os filhos necessitam mais dos pais do que o inverso''. rs A relação que eles constroem baseia-se em trocas de sentidos e afetos, de um com o outro. São indescritíveis e lindas as cenas que mostram as tentativas de Lara em fazer com seus pais compreendam os sons das coisas, como o pôr do sol e a neve caindo. A trilha sonora entra em contraste com o silêncio vivenciado dia a pós dia pelos pais de Lara ... mas qual seria o sentido e significado do silêncio para aqueles que não podem ouvir? Um dos filmes mais belos que eu já vi! Sem palavras. Que o silêncio seguinte seja suficientemente bom para exprimir as reverberações que senti e estou sentindo ... rsrs
De Encontro com o Amor
3.5 83 Assista Agoraé um filme de história simples, sem grandes pretensões. Talvez seja essa simplicidade que tenha me tocado de um modo ''tão suave mé, que suavemente'', como na música! haha Re-assisti hoje e me maravilhou tanto quanto na primeira vez que o vi. As cenas em que Jeremy e Weldon conversam sobre o ato de escrever, sobre o pôr do sol, sobre a beleza feminina, sobre o modo como cada um enfrenta, ou não, os seus medos e o que fica depois disso ... me veio a vontade de me teletransportar para aquele pequeno vilarejo no interior da Itália, criar vacas, cuidar de uma casa no campo, onde eu possa ter inspiração e tranquilidade para transpor meus versos, sentir o vento serelepe, sussurrando histórias em meus ouvidos e compor meus rock rurais, ou quase isso. rs
Bete Balanço
3.1 114 Assista Agora''Há dias que eu sonho beijos ao luar, em ilhas de fantasia''
Adoreei ver a Débora Bloch cantando! rs É um filme gostoso de assistir à tarde, com os amigos, pra descontrair!
A Bela da Tarde
4.1 342 Assista Agoraé um filme muito interessante, o primeiro que vi até agora do diretor Luiz Buñuel. As cenas que, particularmente, me despertaram bastante curiosidade são as dos sonhos da personagem Séverine. O desfecho do filme me deixou um tanto intrigada, acho que nutri expectativas que talvez, não sejam tão "compatíveis" com a forma como Buñuel direciona seus filmes. Fiquei pensando sobre isso. Os elementos oníricos revelam fantasias sexuais da personagem, que dão margem para várias interpretações, por vezes, proporcionando um cenário surreal. Além disso, o filme propõe rupturas com os valores e a ideologia dominante nos anos de 1960. Séverine revela-se como uma dona de casa francesa que vive infeliz em seu casamento, desejando obter prazeres de um modo "nada convencional", para os parâmetros da época, digamos assim. Uma pergunta que permeia meus pensamentos é "o que será que dava mais prazer para Séverine: se envolver com vários homens, conhecer suas respectivas fantasias, ser tratada como uma prostituta ou agir como tal enquanto uma mulher casada (mantendo segredos de seu marido)?''.
É um filme com muuitos elementos interessantes e passíveis/possíveis de discussão ... acredito que Buñuel teve a intenção de explorar os desejos reprimidos e recalcados de uma mulher da classe burguesa, a fim de denunciar a repressão sexual à qual homens e mulheres são submetidos, devido às normas e crenças vigentes (inclusive religiosas), de uma sociedade que condena as várias formas de subjetivação existentes (e legítimas). Uma sociedade que prega que as pessoas devem ir em busca da felicidade e só irão obtê-la se caso se adequem aos padrões de "normalidade" e às demandas do mercado.
Festim Diabólico
4.3 885 Assista AgoraNa minha opinião, um dos melhores que já vi até agora do Hitchcock! Achei muito interessante pq neste filme, me deu a impressão de que a intenção dele era fazer um jogo de diálogos, de insinuações, já que o crime havia sido realizado e mostrado desde o início do filme. Assisti por indicação de um amigo e gostei muito; aprecio o gênero de suspense. Curiosamente, não se fazem mais filmes assim (do gênero), na base da construção de diálogos, permeados por indiretas, do desenvolvimento do raciocínio dos protagonistas e aquela sensação de ''será que eles vão ser descobertos ou não?'', sem a previsibilidade que já se tem com os filmes mais atuais; o que é uma pena.
Kiriku e a Feiticeira
3.9 188muito amorzinho esse filme!! haha
Nell
3.7 221 Assista Agoraque atuação da Jodie Foster! Será que realmente a civilização tem sido um ganho para nós que vivemos em sociedade? Que tipo de valores permeiam a lógica do sistema, que rotula à todos, que condena os que agem diferente, os que pensam diferente, que oprime os que desejam ser diferentes? É saudável ajustar-se à uma sociedade doente?
Me sinto como uma criança, numa busca por várias respostas para os infindáveis indagamentos ...
Como Água para Chocolate
3.6 218Tão diferente assistir a um filme mexicano! Diferentemente gostoso! Tem um conto, do livro ''Mulheres'' do Galeano, em que ele diz mais ou menos assim, que as pessoas são como os vulcões, elas crescem de pouco a pouco com os soluços, com as contrações. De pouco a pouco as ideias vão efervecendo e saltam pra fora! Assim como o amor ...
Febre do Rato
4.0 657''e quem foi que disse que poesia não embala? Quem foi que disse que poesia não embriaga?'' As pessoas se esqueceram de se importar com as questões que são realmente importantes, se esqueceram de viver conforme o coração, aprenderam o desprezo pela pessoas marginalizadas, aprenderam a aceitar a opressão mascarada ... as pessoas se esqueceram de que sem poesia, a gente não aguenta. Aprenderam a não viver, apenas sobreviver. ''Tome poesia, tome poesia! Precisamos do 'não', do 'não' que seja um 'sim'!'' Algo visceral, sem mais palavras! Preciso ver mais filmes do Cláudio de Assis! rs
Ondas do Destino
4.2 335 Assista Agoranooossa! O Lars sabe mesmo como construir personagens interessantes, de intensos sentimentos, não é? Na verdade esse é o 3º filme dele que assisto, inclusive, uma indicação de um amigo. rs Mas pude perceber que os seus personagens costumam vivenciar situações limites, em que impera-se o desespero, o ódio, a vingança, o ciúmes, o delírio ... o amor infindável, como no caso de Bess, beirando a loucura. Há algo provocante em suas obras, que revela as possibilidades de se reagir diante de situações em que se perde o controle, em que se perde a razão usual, em que as máscaras caem. Talvez seus personagens representem os variados modos de ser e estar no mundo, os diversos modos de subjetivação que podemos experienciar, pelo fato da nossa condição de humanos. O que na verdade significa sermos humanos? Existe algo de bom na humanidade?
Me parece que durante a construção de seus personagens e dos conflitos existenciais que os cercam, somos levados a nos olhar no espelho, a perceber o quanto podemos ferir o outro e a nós mesmos, o quanto podemos ser egoístas ... o quanto podemos ser humanos, demasiado humanos. A possibilidade de enlouquecer está aí, nesse mundo em que temos que ser como os outros desejam, em que é preciso viver para trabalhar, em que é preciso ser alguém produtivo para conseguir respeito, em que a lógica do sistema é excludente e oprime os mais sensíveis, os mais amorosos, aqueles que são vistos como mais fracos, como loucos. Aqueles que se assemelham à personagem de Bess, que em seus delírios e atitudes, havia algo de transgressor, para as pessoas daquela comunidade conservadora e machista.
Blow-Up: Depois Daquele Beijo
3.9 370 Assista Agoraé o primeiro filme do Antonioni que eu assisto e me deixou muito intrigada. Sim, talvez seja essa a palavra que possa, em parte, descrever uma das tantas reverberações que senti após assisti-lo. Fiquei instigada a ver outros filmes dele, justamente pela questão da fotografia e dos temas. Conseguiu prender a minha atenção até o fim, criando um ar de suspense, uma vontade de querer saber o que se passa, quem é aquela mulher que ficou tão atormentada, os motivos de sua aflição, os motivos da morte daquele homem ... mas ao final do filme me questionei: será que foi tudo um sonho, uma ilusão, ou não?
Confesso que não correspondeu a todas as minhas expectativas; esperava mais ação! E vejam só a influência do cinema hollywoodiano, com sua grande produção de filmes de ação já tão previsíveis, repetitivos e por vezes, brochantes. Esperava por um protagonista mais simpático; meio aquele tipo de mocinho bem ajustado, educado ao modelo clássico de ''herói do cinema''! Engraçado que a atuação do David Hemmings merece destaque, na minha opinião, pela capacidade que teve de proporcionar ao espectador aquela sensação de desprezo, diante da antipatia e pose esnobe de seu personagem ... é como se ele transbordasse tédio, como se dia após dia sua vida fosse cercada por uma tediosa rotina, ao lado de pessoas tediosas que se entediam com a rotina, com o trabalho. Pessoas que se entediam por estarem entediadas, cujo o modo como constroem suas relações pessoais é superficial. O filme trabalha muito a questão de como lidamos com a nossa percepção da existência ou não das coisas e das pessoas. Algo só existe quando eu consigo percebê-la e nomeá-la, então ela se torna real para mim ... porém, nossa visão é limitada e não nos permite apreender toda a realidade; mas isso não quer dizer que o que está fora do nosso campo de percepção, não exista. Então, o que é real? E o que não é? Será um tipo de jogo atrevido de luz e sombra?
As cenas em que ele se debruça por horas e horas na tentativa de solucionar o mistério é uma sequência legal; compartilhei de sua curiosidade! rs realmente é um filme que traz aspectos interessantes, mas que nem por isso, deixa de ser difícil de compreender e em alguns casos, de provocar encantamento. Ele abre espaço para questionamentos sobre aquilo que concebemos como sendo verdade ou não, nos instiga a questionar a percepção de nós mesmos no mundo ... produz indagações mas não oferece respostas, diferentemente dos filmes aos quais estamos mais familiarizados - os hollywoodianos de plantão. Confesso mais uma vez: senti vontade de que houvesse mais investigações sobre o caso e quiçá, uma solução! rs A trilha sonora e os cenários tbm merecem prestígio! A cena de início se interligando com a cena final, dando a sugestão de que talvez, tudo dependa do ponto de vista de cada um. Talvez, em grande parte das vezes, nos relacionemos uns com o outros por meio das ''imagens'' que sustentamos de nós mesmos e dos outros ... ilusões alimentando ilusões.
Como disse o Chico uma vez: ''Sei lá, a vida é uma grande ilusão'', rs.
A Doce Vida
4.2 316 Assista AgoraUm filme difícil de se assistir, realmente não é para ser passado na sessão da tarde. Ao começar pelo título, que reflete um tom irônico do diretor Fellini, em relação a uma vida cercada por conflitos existenciais, em que a pessoa vê pouco sentido naquilo que está fazendo, decepções amorosas e um trabalho (no caso, o jornalismo) que se sustenta pela divulgação da vida particular das pessoas. A temática do filme é tão delicada e no entanto, é retratada sem muitos ''rodeios'', sem enfeites, mas sim, de forma realista, mostrando como as pessoas que viviam na Itália, nos anos 60, estavam sujeitas às várias transformações ocorridas naquela época, da mesma forma que os valores/costumes de uma nação sofreram considerável impacto da influência estadunidense. Detalhe: tudo filmado em preto e branco! Qual a importância disso? Creio que novamente aqui encontra-se mais um pouco da ironia do diretor, pois retrata a vida sem cores, envolta pelo sentimento do vazio existencial, no meio de tantas mudanças de caráter político, cultural, dentre outros. Mas também, o jogo de preto-e-branco realçou a influência do cinema ''noir'' e do chamado ''expressionismo alemão'', que foram estilos da história do cinema que possuíam dentre várias características, o fato de retratarem as histórias por meio de cenários antipáticos, medonhos, com vários jogos de luz e sombra.
Uma das coisas que fiquei pensando durante e depois do filme foi em como o personagem Marcello era infeliz com a vida que tinha, se relacionando com pessoas fúteis e superficiais (da aristocracia), que se deixavam levar pelas aparências e ''status''. Nesse sentido, a infelicidade de Marcello reflete um grito de descontentamento com o seu modo de agir com os outros, tanto no trabalho quanto na vida pessoal: se beneficiando de reportagens sobre desgraças da vida alheia (inclusive no caso de seu amigo Steiner, que se mata), ao mesmo tempo em que trai a namorada (por sinal bem ciumenta e carente de afeto, que ele pouco lhe dá), que sofre de amores por ele. O fato dele voltar com ela depois, interpretei como sendo um conformismo por parte dele, em deixar as coisas como estavam, em detrimento dos sentimentos alheios, mas também pelo fato de que ele no fundo, necessitava do amor devoto daquela mulher (que talvez fosse a única que o aceitava como ele era), como forma de reconforto para suas angústias, para todos os seus erros; não é a toa que ele compara o amor dela com o de uma mãe (que é incondicional e ''irracional'', contrapondo-se com um mundo onde as relações se dão por interesses pessoais, pautadas pela racionalização, em detrimento da preocupação com os demais).
A cena com a atriz Sylvia (considerada clássica) é linda pois, naquele momento é possível notar que Marcello se encanta pela ingenuidade daquela mulher, que faz com que ele pense em quantas vezes ele deixou de aproveitar vários momentos por imposições morais ou pela ''imagem'' que tinha a zelar. Qualquer passo em falso poderia ser noticiado e mais ainda, julgado.
Crítica fervorosa do diretor a uma sociedade do espetáculo, contrapondo-se com os vários momentos do filme em que nota-se a falha ou a falta de comunicação/compreensão entre as personagens, em meio a uma sufocante esfera -- constituída pela mídia e religião (por exemplo), que reproduzem o conjunto de valores e crenças compartilhados pelas pessoas -- repressora de desejos. Mais de uma cena faz menção à forte influência da religião na vida das pessoas, como na primeira cena do filme, em que também pode-se verificar o aspecto da falha na comunicação entre o repórter e a moça que está encima do prédio tomando sol, quando ele pede o número dela para entrar em contato com a mesma.
É um filme que me emocionou muito, recomendo para aqueles que também estiverem dispostos a se emocionarem e a discutir sobre os aspectos interessantes que o filme traz! Me fez querer assistir mais obras do diretor, devido ao seu amplo senso crítico. Poderia comentar mais um monte, mas vou parar por aqui.
A Viagem
3.7 2,5K Assista AgoraO filme une várias histórias, vários gêneros, resultando em uma tentativa bem ousada dos diretores (os mesmos que dirigiram ''Matrix''). É preciso ter muita sensibilidade para captar a peculiaridade do filme. Claro que possui defeitos visuais, erros de filmagem, mas ainda sim, é possível extrair boas coisas dele!
Uma das mensagens mais belas do filme, que por sinal me deixou muito intrigada, foi o fato de que nós (presente) estamos ligados, de certa forma, tanto aos nossos ancestrais (passado), como também aos nossos descendentes (futuro). A parte da japonesa para mim, foi uma das mais fortes do filme ... crítica fortíssima à um modo de produção que visa apenas obtenção de lucro, em detrimento da morte, miséria e sacrifício de outras pessoas (analogia ao sistema capitalista, será?) - percebi claramente isso na cena em que aparecem os corpos das pessoas pendurados! Outro indagamento que tive tbm nessa cena foi o seguinte: as máquinas (aparato tecnológico) estão se tornando ''mais humanas'', enquanto que os homens estão se tornando mais máquinas (aliás, tema que faz ponte com ''Blade Runner'' ein!), no sentido de que priorizou-se na nossa sociedade, onde a ideologia individualista é predominante (diferente das sociedades em que a ideologia holística predomina) o culto ao indivíduo, que consiste no fato do mesmo defender os seus direitos de liberdade, igualdade e visar apenas o próprio umbigo e interesses pessoais, não concebendo que faz parte de um todo, de uma somatória de outros sujeitos; não compreendendo que as suas ações/ pensamentos/crenças possuem uma estreita relação com as gerações passadas e que conseguentemente, afetarão as gerações futuras.
A Viagem
3.7 2,5K Assista Agoraas partes do músico gostei muito tbm, uma das cenas mais lindas é aquela em que ele e o seu namorado jogam todos os pratos pra cima e a cena toda é filmada em câmera lenta, captando os detalhes dos objetos se espatifando, juntando-se às partículas do ar, ao mesmo tempo em que tudo aquilo tinha relação com as angústias que ele estava sofrendo (a sabotagem, o preconceito , a falta de reconhecimento). A sinfonia daquilo que ele estava vivendo naquele momento, foi expressada através daquela cena ~ em que tudo era vencido pela força da gravidade, algo que ele não podia controlar, da mesma forma que não pôde fazê-lo com o triste destino que suas composições levaram ... e quantas outras composições, de outrem tbm não foram abafadas, ridicularizadas, rejeitadas?
A parte dos velhinhos achei supeer engraçada! Eles foram deixados/ abandonados lá pelos parentes e perceberam que não tinham muito mais tempo de vida e que por isso, deveriam sair de lá o quanto antes, para aproveitarem ao máximo todas as possibilidades restantes para serem felizes, para realizarem alguns de seus sonhos ~ trazendo a mensagem de que enquanto respiramos, podemos continuar agindo, podemos continuar sendo protagonistas das nossas vidas, pois para promover mudanças significativas no mundo, devemos iniciá-las em nós mesmos. E a mensagem final foi a mais simples e bela de todas: o oceano é composto por várias gostas e será difícil atingir todas elas... mas ao atingir algumas gostas do oceano, em volta dessa ação se formará uma onda, que irá se propagar e alcançar outras gotas e nesse processo, em que tudo vai e volta, ocorrerão as pequenas transformações. Isso fará toda a diferença.