Não sei se o fato de eu ter visto recentemente o excelente " O Marinheiro das montanhas" do grande diretor cearense Karim Aïnouz me fez comparar as duas obras. Ambas encontram acolhida em memórias afetivas passadas, com um narrador, mesclando fotos, narrativas pessoais familiares e afetividades do passado que ecoam nos diretores. Mas enquanto a obra do Karim tem uma montagem deslumbrante, sendo uma narrativa complexa, mas coesa na construçao e desenvolvimento das ideias, não consegui ver essa mesma perspectiva na obra Retratos Fantasmas do Kleber. A parte 1 parece totalmente desconectada da parte 2, ligando ambas apenas sob o aspecto do saudosismo. A parte 1, soa mais pessoal e afetiva e, assim como na obra de Karim, o protagonismo também recaiu sobre a falecida mãe do diretor. Entretanto, a parte que retratou os cinemas antigos teve um ou outro momento interessante, mas ao todo ressoou insossa, pálida e sem alma. Se o Kleber tivesse estendido a parte 1, na mesma linha de desenvolvimento de ideias, acho que seria um filme muito mais interessante.
em certo momento do filme consegui perceber que ela é imaginária. No momento em que ela vai no banheiro masculino, tem outro homem dentro e ele não percebe a presença dela, algo que qualquer homem iria fixar olhar por achar estranho. A partir dali entendi tudo
O filme, desde o início, insinuou quem era o personagem Daniel. Os poucos diálogos com a irmã deixam claro que os filhos foram "quem o pai queria", atingindo uma conotação tanto na profissão, como na vida particular. O diálogo ocorre quando a irmã pensa em mudar de atividade profissional, deixando claro que o pai havia escolhido e ela estava insatisfeita, demonstrando como a figura paterna decidia a vida dos filhos. E o filho Daniel, por ser homem, segue ainda mais forte os desejos e imposições do pai, ao seguir os passos profissionais. E pelo visto, a educação foi rígida, conforme se depreende em alguns diálogos entre Daniel e o amigo de Sara, pois Daniel, conforme ele mesmo se define, não foi criado para contestar, mas sim, para seguir ordens. Nesse sentido, percebemos, atraves de um amigo policial de Daniel, que o pai de Daniel é muito conhecido e que ele tem orgulho de suas medalhas e trajetória profissional, como no momento em que ele vestiu seu traje de eventos de gala, demonstrando que, com certeza, ele queria que o filho fosse o reflexo desse "sucesso".Eu concordo que, desde o início, o pouco que foi mostrado da interação virtual entre Daniel e Sara, ficou claro que Sara não era uma mulher cis. Isso também diminuiu o impacto e surpresa da descoberta, mas refletindo bem, acredito que o diretor não estava almejando surpreender o público, mas sim demonstrar que, na verdade, Sara pouco escondeu quem era de fato, mas era Daniel que se recusava e enxergar o lógico e que este fugiu da realidade a todo momento, até ter o contato físico com Sara. Esse contato conectou ele com a realidade que ele inconscientemente tentava fugir. A partir desse ponto, Daniel trava uma luta interna, ao ponto de acreditar que precisa dar alguma explicação para o pai, que não tem mais discernimento, pois Daniel foi um "fracasso profissional" e este não queria mais uma vez "fracassar" e decepcionar o seu pai, sendo que essa "decepção" foi algo que foi criado no psicológico de Daniel, pois sequer seu pai tinha mais consciência da realidade. Esse ponto da ligação para o pai, mais uma vez, ratifica como essa figura paterna foi e continuava sendo determinante para as ações de Daniel. Um ponto negativo do filme é que achei que Daniel, apesar de todas as travas psicológicas, desenvolveu uma relação íntima muito rápida com Sara, ao ponto de beijar esta em público, mesmo não estando travestida de mulher e fazer sexo no estereotipado banheiro de rodoviária. Enfim... achei que o final foi apressado e merecia uma cadência melhor, para ficar mais crível. No mais, um filme com belas paisagens, atuações sensíveis e competentes e um roteiro consistente.
O filme é uma coleção de infelizes desacertos, que inicia desde as interpretações carregadas até o desperdício nas fotografias, que poderia ser algo compensador e o ponto forte do filme. Pura decepção
Eu nunca gostei muito dos filmes do Leos Carax, apesar das críticas positivas dos filmes dele. Mas realmente insistir vale a pena. Annette é um musical mais cru, ou nas palavras do seus idealizadores "mais naturalista", motivo pelo qual não existe também essa perfeição na forma de cantar, pois o importante era transmitir a emoção. Sim.. e emoção não faltou. Adam Driver excelente!! Realmente o filme merece todas as críticas positivas que teve.
Depois do cultuado "História de um casamento", Noah Baumbach ousou ao não repetir a fórmula do sucesso e se reinventou, de forma corajosa e deliciosamente nostálgica, ao nos brindar com esse filme gracioso, cheias de referências dos anos 80/90, com personagens interessantes, situações non senses, sem retirar a autenticidade. Para mim, o filme funcionou, divertiu e emocionou. Quem dera se tivesse uma continuação...
Alejandro González Iñárritu tinha pleno conhecimento que seria uma obra difícil de ser digerida pela crítica e pelo público, mas mesmo assim, como artista e claro com o todo o apoio da Netflix, encabeçou esse corajoso projeto, talvez mais necessário para ele próprio do que para o público, pois tem aspectos biográficos narrados de forma fantástica, abandonando a literalidade biográfica escolhida por outro famoso diretor mexicano Alfonso Cuaron no aclamado Roma, também da Netflix. A possível consciência crítica da escolha do novo projeto fica clara quando o alter ego fictício dele conversa com um algoz amigo jornalista, que descreve o projeto como ambicioso, onírico, mas nada poético. Eu achei a primeira hora sofrível e desnecessariamente longa, mas depois as peças iniciais mostradas vão se encaixando organicamente na trama. Depois dessa primeira hora de filme, Alejandro González Iñárritu mostrou toda a sua genialidade, em um puro deleite cinematográfico, com diálogos inspirados e corajosos abordando de forma sucinta, mas voraz e ácida, sobre vários aspectos da história como colonização pela Espanha, ditadura, migração, discriminação e ainda problemas familiares, misturados com belas paisagens e composições. Na minha opinião, Alejandro González Iñárritu mais acertou do que errou a destilar sua verborragia e sim, entregou poesia em forma de imagens.
A partir de uma história simples, os diretores conseguiram desenvolver uma narrativa instigante, com muitas nuances e interpretações, em um enredo dramático que vai envolvendo e disseminando em nossas capilaridades. E percebendo bem, a trama não é tão inteligível quanto aparenta ser, pois esconde histórias familiares de um passado/presente obscuro.
Nesse sentido, o achado do suposto filho perdido é apenas um dos aspectos utilizados para revolver o passado. Quem era o pai? Como ele morreu? Como o filho desapareceu? O filme não lança mão de respostas textuais e prontas, mas sim lança pequenas migalhas que devem ser interpretadas e nos lançam um desafio mental. De um lado, temos o relacionamento do irmão da vítima com a cunhada, que mais parece um relacionamento abusivo, pois ele se aproveita das dores e fragilidades emocionais de sua cunhada. Nesse aspecto, com a chegada do filho perdido, esse personagem se revela ciumento, ficando sempre a espreita e é sexualmente rejeitado com o retorno da prole perdida. Do outro lado, temos o filho perdido, que não sabemos se é um impostor. Ele tem cicatrizes no corpo, mas não sabemos o passado dele para sabermos se existe mesmo esse nexo de causalidade entre as cicatrizes e atos violentos do pai. Essas cicatrizes, mesmo parecidas com a da mãe, podem ter sido decorrentes de outros abusos. O suposto filho também tem algumas memórias como ouriço do mar que lesionou o pé, criação de animais, etc. Mas essas informações podem ter sido obtidas na Internet e nos vídeos caseiros de praia que ele sempre visualizava. Ao ser confrontado com o seu "padrinho" que disse que o suposto filho era um impostor, ele não negou e argumentou que o padrinho o queria inserido em uma família. O suposto filho também questionou o primo como este tinha certeza que ele era o desaparecido. As pessoas acreditam naquilo que elas querem acreditar. Quem renega é o tio, que efetivamente pode ter matado o sobrinho e por isso tinha tanta certeza que o jovem não poderia ser ele. Também nos questionamos como uma criança poderia sobreviver a neve e ter saído caminhando sem rumo, indo parar em um local distante
Um filme contemplativo, com um roteiro primoroso, que conseguiu agregar passado e presente, em um fluxo crescente de drama, onde o passado está sempre onipresente. Os personagens são interligados nesse passado, que aos poucos é revelado de forma brilhante pelo diretor, através de pequenas e inteligentes inserções. Sem dúvidas, um dos melhores filmes do catálogo recente da Netflix juntamente com Athena.
Eu não achei o filme misógino, ao contrário, o filme, partindo da premissa de reproduzir alguns fatos fictícios, tentou expor os sentimentos internalizados da Marilyn Monroe, ou melhor, da Norma, fazendo uma ruptura da personagem com a persona. A personagem Marilyn era sedutora, sexy, destemida. E Norma? Quem era a Norma?
o diretor toda hora mostra, mesmo com fatos ficcionais, a sequência de abusos de que Norma foi vítima, desde o abuso psicológico na infância, com a mãe esquizofrênica, até o abuso de diretores, marido e de seus agentes, que faziam de tudo para que ela atuasse e se submetesse a papéis que a envergonhavam, mesmo ela não estando bem psicologicamente. A vida dela foi uma sucessão de abusos e o diretor deixou isso claro ao mostrar que até o presidente queridinho dos USA, John F. Kennedy, também se aproveitou da fragilidade emocional dela, sendo importante destacar que o diretor, em poucos minutos, desmitificou a figura do presidente, que era acusado de outros abusos. E até os amigos de Norma se aproveitaram da questão da ausência do pai para brincar psicologicamente com ela, demonstrando que, afinal, ela não tinha sequer amigos verdadeiros e estava abandonada a própria sorte. O filme teve várias cenas inteligentes, como aquela do espelho em que a Norma quer que a personagem Marilyn apareça e ela aparece no espelho, glamurosa, rindo de uma forma sexy, mostrando, dessa forma, o completo abismo entre a personagem e a persona, deixando claro que Marilyn é uma ficção, assim como o nome indica. Sobre as cenas de nudez, não achei pesadas e ela deu entrevistas afirmando que só dormia usando o perfume da Chanel e mais nada, sendo também um contraponto como se o diretor quisesse mostrar uma mulher real desnuda do seu personagem. O filme tem uma fotografia esplendorosa, porém, terminou ficando longo demais e um tanto cansativo, com cenas desconexas de tempo e lugar, que terminam deixando o filme um retalho narrativo
Que bela surpresa esse filme da Netflix. Os conflitos e violência vão gradativamente crescendo, assim como o caos e o clima claustrofóbico, envolvendo cada vez mais o espectador, em filme onde tudo pode acontecer. Mas o clima caótico é perfeitamente controlado pela excelente direção, que aos poucos vai mostrando os personagens, sendo totalmente verossímil nessa construção, assim como na sucessão de eventos.
O filme é uma colcha de retalhos e terminamos sem saber qual foi o objetivo do diretor. A história é entrecortada várias vezes, padecendo de um maior aprofundamento e desenvolvimento do roteiro e dos personagens. Para quem deseja assistir como revival da década de 80, também encontra outra grande decepção.
Esse documentário me surpreendeu de forma positiva. É um documentário cujo enfoque é sobretudo mostrar quem é a Jennifer Lopez, o que ela pensa. O documentário mostra todo o preconceito por ela ser mulher e Latina nos USA. Ela faz críticas muito pertinentes como o fato de ninguem comentar os grammys e outras premiações que ela ganhou, mas sim fazerem memes e piadas sobre a bunda dela ser grande e que ela sempre faz o melhor e é criticada e subjugada como profissional e como isso afeta ela. Achei um documentário muito reflexivo sobre as posições que nós mulheres ocupamos dentro de uma sociedade e como isso é algo universal. Como nós sempre temos que cada dia sermos melhores e isso não é reconhecido. O documentário é crítico e se posiciona, assim como Jlo. PS. Fiquei impressionada porque diante de todas as reflexões mostradas, o que reverberou foi o fato da JLo mencionar que a organização do superbowl não deveria ter colocado duas cantoras latinas para dividirem tempo de apresentação. A imprensa quis lançar isso como se JLo se julgasse melhor do que a Shakira e claramente não foi essa a mensagem dela. E ela tem toda razão. As duas são grandes artistas com vários hits e mereciam ter uma apresentação completa. Por que dividiram? Pq são mulheres e latinas? Preconceito? São esses os questionamentos.
A arte de Barbora se inspira em aspectos mórbidos, repulsivos no contexto social, mas é nesse mundo feio e caótico que a artista retira sua força inspiradora, produzindo uma arte de acordo esses sentimentos, mesmo sem o despertar comercial. O diálogo com o namorado é esclarecedor para compreendermos essa aproximação e verdadeira fascinação pelo "ladrão". Barbora não pensa e não age como a maioria, pois ela se sente atraída artisticamente pelo "ladrão", que tem feridas emocionais e físicas e esses dois lados inspiram Barbora a reproduzir Karl em sua arte. Aos poucos, a amizade surge e vemos o que Bárbara percebeu há muito tempo com sua sagacidade. Dentro daquele corpo ferido, havia um apreciador de arte e um homem disposto a lidar com os seus demônios que nasceram na infância. Muito simbólica a cena dele ajudando Barbora a moldurar o quadro roubado, que disputa atenção com o quadro que retrata o próprio Karl e, para a nossa surpresa, é Barbora quem esta com ele na pintura, representando a união e amizade de duas almas sofridas que se compreendem
Me pergunto se o fato de eu ter visto no streaming (Mubi) influenciou a minha forma de perceber e absorver o filme, pois na sala de cinema, o processo de imersão parece ser mais completo, conectando e evitando dispersões. Já no streaming, eu me senti confortável em parar o filme por diversas vezes, assistindo em blocos. Bem, da forma como eu assisti, pareceu ser maçante e desnecessário tanto tempo de filme. As sutilezas filosóficas acabaram se perdendo e se dispersando nas longas horas de filme, causando bem menos impacto em mim.
Pablo Larraín novamente repetiu um grande feito... captar a essência de uma grande personalidade feminina, através da análise ficcional, tendo como premissa um ponto específico, verídico e traumático na vida dessas pessoas. Incrível como ele consegue, mesmo reinterpretando de forma ficcional, captar a personalidade verdadeira, fazendo com que essas personagens se tornem críveis e humanas, pois muitas vezes são retratadas pela imprensa de forma ficcional. E toda essa análise é centrada em um enfoque específico, sem uma história longa e linear acerca de todos os fatos sobre essas pessoas. É a reinvenção e, ao mesmo tempo, o próprio afastamento do conceito de biografia. Assim como aconteceu em Jackie, mais uma vez a atriz principal é o foco de todo o filme. Kristen Stewart é a Diana humana, despida de caricaturas, que atua de forma apaixonada e avassaladora.
Eu realmente não entendo porque esse filme ganhou algumas premiações e vem forte para o Oscar. É um filme fofinho, bonitinho, mas nada demais . Um filme bem sessão da tarde. Daqui a pouco ninguém lembrará mais. Continuo na torcida pelo Ataque dos Cães.
Um dos filmes mais interessantes e intrigantes de M. Night Shyamalan. Esse filme é uma simbiose perfeita de suspense, terror psicológico com drama. Levanta questões sobre o passar do tempo, o que realmente é importante na vida, como lidamos com os efeitos do tempo (memória, problemas de saúde, percepção física, amor). Um filme que faz pensar no sentido da vida e como queremos gastar nosso tempo de vida. Nos faz refletir que também estamos nessa praia e, ao contrário dos personagens, ainda não sabemos.
Trata-se de um filme denso, intenso, repleto de camadas. Aos poucos, a personagem enigmática de Leda vai sendo desnudada por meio de flashbacks, que misturam a tensão do presente com a do passado. Mas a obra se permite a mostrar até certo ponto, desvendando uma parte do mistério e o resto é sutilmente alçado para ser descortinado no plano subjetivo de cada um. Assim, cada um tem uma concepção de Leda, de suas ações e reações, do presente e do passado. Interessante a analogia que o filme faz com o poema de W.B. Yeats de nome "Leda e o Cisne", que é apenas comentado em alguns rápidos diálogos, mas essa, na minha opinião, é a chave para compreender de onde veio a inspiração para Leda, que advém da controvérsia, que foge do que a sociedade espera de um padrão. Um padrão de esposa, de mulher e de mãe.
Leda defende o trabalho de Yeats que é muito criticado devido o poema Leda e o Cisne, que se trata de um estupro. Como mulher, Leda causou muita admiração, principalmente por parte dos homens, por ter feito esse trabalho, fato que gerou notoriedade para ela. Leda demonstra que pouco se importa com o que a sociedade pensa e acha correta
Ao dividir a obra em dois momentos bem distantes, o diretor criou, de forma abrupta, um abismo temporal que refletiu na completa mudança da personagem. Parecia ser outra personagem simplesmente porque o diretor optou por mostrar o antes e o depois, sem mostrar a evolução necessária entre as duas fases. Esse salto abrupto, gerou estranheza ao mesmo tempo que ficou bem difícil assimilar. Parecia mais dois filmes distintos que se conectaram por um elo bem fraco.
Emicida. Esse nome poderia ser estranho ao grande público, mas com certeza esse documentário foi um divisor de águas, pois percebemos um artista que vai muito além do hip hop. Emicida tem a total ciência de que a sua história é indissociável da própria história do negro do brasil, da luta incansável do passado e do presente para que a cultura negra fosse reconhecida e principalmente, não fosse banida e esquecida. Ele tem a consciência de poucas artistas de que a sua história é uma história que começou no passado, da cultura emergente e renegada, do samba, da semana de artes modernas, do Mario de Andrade, do Wilson das Neves. O passado está presente em sua alma e em sua arte, reveberbarando em parcerias musicais que resgatam a nossa própria mémoria cultural, como foi o caso da parceria com o Wilson das Neves. Realmente não precisamos recorrer aos gringos para ouvir música de qualidade.
A melancolia do filme atravessa e incorpora os nossos poros, sem ser imediatamente sentida. Mas o tempo passa e a áurea magneticamente melancólica se manifesta, fazendo o nosso inconsciente repassar todos aqueles personagens solitários, que ainda encontram um apoio e sentido quando se juntam a outros personagens igualmente sozinhos. É a solidão dos tempos e a forma como lidamos com ela. A sensaçao de solidão pode ser um sentimento temporário, síndrome moderna da "caverna de platão" e mais atual e recorrente do que nunca. Gosto do aspecto propositalmente tosco do filme, que utiliza isso para fazer e mostrar arte, sabendo transformar e readaptar o tosco. Essa necessidade de transmutação do que é tosco e brega em arte submerge também da trilha sonora, que redesenhou músicas clássicas de forró transformando-as em belas e melancólicas músicas italianas, fornecendo nova dimensão musical ao readaptar o ritmo e instrumentos das canções. Portanto, o brega e o tosco podem sim ser arte, só precisam ser trabalhados de uma forma inventiva e criativa, fornecendo outro dimensionamento e abrangência da extração da arte.
Retratos Fantasmas
4.2 229 Assista AgoraNão sei se o fato de eu ter visto recentemente o excelente " O Marinheiro das montanhas" do grande diretor cearense Karim Aïnouz me fez comparar as duas obras. Ambas encontram acolhida em memórias afetivas passadas, com um narrador, mesclando fotos, narrativas pessoais familiares e afetividades do passado que ecoam nos diretores. Mas enquanto a obra do Karim tem uma montagem deslumbrante, sendo uma narrativa complexa, mas coesa na construçao e desenvolvimento das ideias, não consegui ver essa mesma perspectiva na obra Retratos Fantasmas do Kleber. A parte 1 parece totalmente desconectada da parte 2, ligando ambas apenas sob o aspecto do saudosismo. A parte 1, soa mais pessoal e afetiva e, assim como na obra de Karim, o protagonismo também recaiu sobre a falecida mãe do diretor. Entretanto, a parte que retratou os cinemas antigos teve um ou outro momento interessante, mas ao todo ressoou insossa, pálida e sem alma. Se o Kleber tivesse estendido a parte 1, na mesma linha de desenvolvimento de ideias, acho que seria um filme muito mais interessante.
Inimiga Perfeita
3.0 130 Assista AgoraO filme é bonzinho, mas nada espetacular
em certo momento do filme consegui perceber que ela é imaginária. No momento em que ela vai no banheiro masculino, tem outro homem dentro e ele não percebe a presença dela, algo que qualquer homem iria fixar olhar por achar estranho. A partir dali entendi tudo
Deserto Particular
3.8 183 Assista AgoraO filme, desde o início, insinuou quem era o personagem Daniel. Os poucos diálogos com a irmã deixam claro que os filhos foram "quem o pai queria", atingindo uma conotação tanto na profissão, como na vida particular. O diálogo ocorre quando a irmã pensa em mudar de atividade profissional, deixando claro que o pai havia escolhido e ela estava insatisfeita, demonstrando como a figura paterna decidia a vida dos filhos. E o filho Daniel, por ser homem, segue ainda mais forte os desejos e imposições do pai, ao seguir os passos profissionais. E pelo visto, a educação foi rígida, conforme se depreende em alguns diálogos entre Daniel e o amigo de Sara, pois Daniel, conforme ele mesmo se define, não foi criado para contestar, mas sim, para seguir ordens. Nesse sentido, percebemos, atraves de um amigo policial de Daniel, que o pai de Daniel é muito conhecido e que ele tem orgulho de suas medalhas e trajetória profissional, como no momento em que ele vestiu seu traje de eventos de gala, demonstrando que, com certeza, ele queria que o filho fosse o reflexo desse "sucesso".Eu concordo que, desde o início, o pouco que foi mostrado da interação virtual entre Daniel e Sara, ficou claro que Sara não era uma mulher cis. Isso também diminuiu o impacto e surpresa da descoberta, mas refletindo bem, acredito que o diretor não estava almejando surpreender o público, mas sim demonstrar que, na verdade, Sara pouco escondeu quem era de fato, mas era Daniel que se recusava e enxergar o lógico e que este fugiu da realidade a todo momento, até ter o contato físico com Sara. Esse contato conectou ele com a realidade que ele inconscientemente tentava fugir. A partir desse ponto, Daniel trava uma luta interna, ao ponto de acreditar que precisa dar alguma explicação para o pai, que não tem mais discernimento, pois Daniel foi um "fracasso profissional" e este não queria mais uma vez "fracassar" e decepcionar o seu pai, sendo que essa "decepção" foi algo que foi criado no psicológico de Daniel, pois sequer seu pai tinha mais consciência da realidade. Esse ponto da ligação para o pai, mais uma vez, ratifica como essa figura paterna foi e continuava sendo determinante para as ações de Daniel. Um ponto negativo do filme é que achei que Daniel, apesar de todas as travas psicológicas, desenvolveu uma relação íntima muito rápida com Sara, ao ponto de beijar esta em público, mesmo não estando travestida de mulher e fazer sexo no estereotipado banheiro de rodoviária. Enfim... achei que o final foi apressado e merecia uma cadência melhor, para ficar mais crível. No mais, um filme com belas paisagens, atuações sensíveis e competentes e um roteiro consistente.
O Mistério do Farol
2.8 96 Assista AgoraO filme é uma coleção de infelizes desacertos, que inicia desde as interpretações carregadas até o desperdício nas fotografias, que poderia ser algo compensador e o ponto forte do filme. Pura decepção
Annette
3.5 118 Assista AgoraEu nunca gostei muito dos filmes do Leos Carax, apesar das críticas positivas dos filmes dele. Mas realmente insistir vale a pena. Annette é um musical mais cru, ou nas palavras do seus idealizadores "mais naturalista", motivo pelo qual não existe também essa perfeição na forma de cantar, pois o importante era transmitir a emoção. Sim.. e emoção não faltou. Adam Driver excelente!! Realmente o filme merece todas as críticas positivas que teve.
Ruído Branco
2.7 204Depois do cultuado "História de um casamento", Noah Baumbach ousou ao não repetir a fórmula do sucesso e se reinventou, de forma corajosa e deliciosamente nostálgica, ao nos brindar com esse filme gracioso, cheias de referências dos anos 80/90, com personagens interessantes, situações non senses, sem retirar a autenticidade. Para mim, o filme funcionou, divertiu e emocionou. Quem dera se tivesse uma continuação...
Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades
3.3 83Alejandro González Iñárritu tinha pleno conhecimento que seria uma obra difícil de ser digerida pela crítica e pelo público, mas mesmo assim, como artista e claro com o todo o apoio da Netflix, encabeçou esse corajoso projeto, talvez mais necessário para ele próprio do que para o público, pois tem aspectos biográficos narrados de forma fantástica, abandonando a literalidade biográfica escolhida por outro famoso diretor mexicano Alfonso Cuaron no aclamado Roma, também da Netflix. A possível consciência crítica da escolha do novo projeto fica clara quando o alter ego fictício dele conversa com um algoz amigo jornalista, que descreve o projeto como ambicioso, onírico, mas nada poético. Eu achei a primeira hora sofrível e desnecessariamente longa, mas depois as peças iniciais mostradas vão se encaixando organicamente na trama. Depois dessa primeira hora de filme, Alejandro González Iñárritu mostrou toda a sua genialidade, em um puro deleite cinematográfico, com diálogos inspirados e corajosos abordando de forma sucinta, mas voraz e ácida, sobre vários aspectos da história como colonização pela Espanha, ditadura, migração, discriminação e ainda problemas familiares, misturados com belas paisagens e composições. Na minha opinião, Alejandro González Iñárritu mais acertou do que errou a destilar sua verborragia e sim, entregou poesia em forma de imagens.
Tromperie
3.1 7 Assista AgoraIrritantemente verborrágico
A Próxima Pele
2.8 80 Assista AgoraA partir de uma história simples, os diretores conseguiram desenvolver uma narrativa instigante, com muitas nuances e interpretações, em um enredo dramático que vai envolvendo e disseminando em nossas capilaridades. E percebendo bem, a trama não é tão inteligível quanto aparenta ser, pois esconde histórias familiares de um passado/presente obscuro.
Nesse sentido, o achado do suposto filho perdido é apenas um dos aspectos utilizados para revolver o passado. Quem era o pai? Como ele morreu? Como o filho desapareceu? O filme não lança mão de respostas textuais e prontas, mas sim lança pequenas migalhas que devem ser interpretadas e nos lançam um desafio mental. De um lado, temos o relacionamento do irmão da vítima com a cunhada, que mais parece um relacionamento abusivo, pois ele se aproveita das dores e fragilidades emocionais de sua cunhada. Nesse aspecto, com a chegada do filho perdido, esse personagem se revela ciumento, ficando sempre a espreita e é sexualmente rejeitado com o retorno da prole perdida. Do outro lado, temos o filho perdido, que não sabemos se é um impostor. Ele tem cicatrizes no corpo, mas não sabemos o passado dele para sabermos se existe mesmo esse nexo de causalidade entre as cicatrizes e atos violentos do pai. Essas cicatrizes, mesmo parecidas com a da mãe, podem ter sido decorrentes de outros abusos. O suposto filho também tem algumas memórias como ouriço do mar que lesionou o pé, criação de animais, etc. Mas essas informações podem ter sido obtidas na Internet e nos vídeos caseiros de praia que ele sempre visualizava. Ao ser confrontado com o seu "padrinho" que disse que o suposto filho era um impostor, ele não negou e argumentou que o padrinho o queria inserido em uma família. O suposto filho também questionou o primo como este tinha certeza que ele era o desaparecido. As pessoas acreditam naquilo que elas querem acreditar. Quem renega é o tio, que efetivamente pode ter matado o sobrinho e por isso tinha tanta certeza que o jovem não poderia ser ele. Também nos questionamos como uma criança poderia sobreviver a neve e ter saído caminhando sem rumo, indo parar em um local distante
Quatro gerações
3.5 2Um filme contemplativo, com um roteiro primoroso, que conseguiu agregar passado e presente, em um fluxo crescente de drama, onde o passado está sempre onipresente. Os personagens são interligados nesse passado, que aos poucos é revelado de forma brilhante pelo diretor, através de pequenas e inteligentes inserções. Sem dúvidas, um dos melhores filmes do catálogo recente da Netflix juntamente com Athena.
Blonde
2.6 443 Assista AgoraEu não achei o filme misógino, ao contrário, o filme, partindo da premissa de reproduzir alguns fatos fictícios, tentou expor os sentimentos internalizados da Marilyn Monroe, ou melhor, da Norma, fazendo uma ruptura da personagem com a persona. A personagem Marilyn era sedutora, sexy, destemida. E Norma? Quem era a Norma?
o diretor toda hora mostra, mesmo com fatos ficcionais, a sequência de abusos de que Norma foi vítima, desde o abuso psicológico na infância, com a mãe esquizofrênica, até o abuso de diretores, marido e de seus agentes, que faziam de tudo para que ela atuasse e se submetesse a papéis que a envergonhavam, mesmo ela não estando bem psicologicamente. A vida dela foi uma sucessão de abusos e o diretor deixou isso claro ao mostrar que até o presidente queridinho dos USA, John F. Kennedy, também se aproveitou da fragilidade emocional dela, sendo importante destacar que o diretor, em poucos minutos, desmitificou a figura do presidente, que era acusado de outros abusos. E até os amigos de Norma se aproveitaram da questão da ausência do pai para brincar psicologicamente com ela, demonstrando que, afinal, ela não tinha sequer amigos verdadeiros e estava abandonada a própria sorte. O filme teve várias cenas inteligentes, como aquela do espelho em que a Norma quer que a personagem Marilyn apareça e ela aparece no espelho, glamurosa, rindo de uma forma sexy, mostrando, dessa forma, o completo abismo entre a personagem e a persona, deixando claro que Marilyn é uma ficção, assim como o nome indica. Sobre as cenas de nudez, não achei pesadas e ela deu entrevistas afirmando que só dormia usando o perfume da Chanel e mais nada, sendo também um contraponto como se o diretor quisesse mostrar uma mulher real desnuda do seu personagem.
O filme tem uma fotografia esplendorosa,
porém, terminou ficando longo demais e um tanto cansativo, com cenas desconexas de tempo e lugar, que terminam deixando o filme um retalho narrativo
Athena
3.7 61 Assista AgoraQue bela surpresa esse filme da Netflix. Os conflitos e violência vão gradativamente crescendo, assim como o caos e o clima claustrofóbico, envolvendo cada vez mais o espectador, em filme onde tudo pode acontecer. Mas o clima caótico é perfeitamente controlado pela excelente direção, que aos poucos vai mostrando os personagens, sendo totalmente verossímil nessa construção, assim como na sucessão de eventos.
Beauty
2.5 9 Assista AgoraO filme é uma colcha de retalhos e terminamos sem saber qual foi o objetivo do diretor. A história é entrecortada várias vezes, padecendo de um maior aprofundamento e desenvolvimento do roteiro e dos personagens. Para quem deseja assistir como revival da década de 80, também encontra outra grande decepção.
Jennifer Lopez: Halftime
3.6 26 Assista AgoraEsse documentário me surpreendeu de forma positiva. É um documentário cujo enfoque é sobretudo mostrar quem é a Jennifer Lopez, o que ela pensa. O documentário mostra todo o preconceito por ela ser mulher e Latina nos USA. Ela faz críticas muito pertinentes como o fato de ninguem comentar os grammys e outras premiações que ela ganhou, mas sim fazerem memes e piadas sobre a bunda dela ser grande e que ela sempre faz o melhor e é criticada e subjugada como profissional e como isso afeta ela. Achei um documentário muito reflexivo sobre as posições que nós mulheres ocupamos dentro de uma sociedade e como isso é algo universal. Como nós sempre temos que cada dia sermos melhores e isso não é reconhecido. O documentário é crítico e se posiciona, assim como Jlo.
PS. Fiquei impressionada porque diante de todas as reflexões mostradas, o que reverberou foi o fato da JLo mencionar que a organização do superbowl não deveria ter colocado duas cantoras latinas para dividirem tempo de apresentação. A imprensa quis lançar isso como se JLo se julgasse melhor do que a Shakira e claramente não foi essa a mensagem dela. E ela tem toda razão. As duas são grandes artistas com vários hits e mereciam ter uma apresentação completa. Por que dividiram? Pq são mulheres e latinas? Preconceito? São esses os questionamentos.
A Artista e o Ladrão
4.1 22A arte de Barbora se inspira em aspectos mórbidos, repulsivos no contexto social, mas é nesse mundo feio e caótico que a artista retira sua força inspiradora, produzindo uma arte de acordo esses sentimentos, mesmo sem o despertar comercial. O diálogo com o namorado é esclarecedor para compreendermos essa aproximação e verdadeira fascinação pelo "ladrão". Barbora não pensa e não age como a maioria, pois ela se sente atraída artisticamente pelo "ladrão", que tem feridas emocionais e físicas e esses dois lados inspiram Barbora a reproduzir Karl em sua arte. Aos poucos, a amizade surge e vemos o que Bárbara percebeu há muito tempo com sua sagacidade. Dentro daquele corpo ferido, havia um apreciador de arte e um homem disposto a lidar com os seus demônios que nasceram na infância. Muito simbólica a cena dele ajudando Barbora a moldurar o quadro roubado, que disputa atenção com o quadro que retrata o próprio Karl e, para a nossa surpresa, é Barbora quem esta com ele na pintura, representando a união e amizade de duas almas sofridas que se compreendem
Drive My Car
3.8 384 Assista AgoraMe pergunto se o fato de eu ter visto no streaming (Mubi) influenciou a minha forma de perceber e absorver o filme, pois na sala de cinema, o processo de imersão parece ser mais completo, conectando e evitando dispersões. Já no streaming, eu me senti confortável em parar o filme por diversas vezes, assistindo em blocos. Bem, da forma como eu assisti, pareceu ser maçante e desnecessário tanto tempo de filme. As sutilezas filosóficas acabaram se perdendo e se dispersando nas longas horas de filme, causando bem menos impacto em mim.
Spencer
3.7 569 Assista AgoraPablo Larraín novamente repetiu um grande feito... captar a essência de uma grande personalidade feminina, através da análise ficcional, tendo como premissa um ponto específico, verídico e traumático na vida dessas pessoas. Incrível como ele consegue, mesmo reinterpretando de forma ficcional, captar a personalidade verdadeira, fazendo com que essas personagens se tornem críveis e humanas, pois muitas vezes são retratadas pela imprensa de forma ficcional. E toda essa análise é centrada em um enfoque específico, sem uma história longa e linear acerca de todos os fatos sobre essas pessoas. É a reinvenção e, ao mesmo tempo, o próprio afastamento do conceito de biografia. Assim como aconteceu em Jackie, mais uma vez a atriz principal é o foco de todo o filme. Kristen Stewart é a Diana humana, despida de caricaturas, que atua de forma apaixonada e avassaladora.
No Ritmo do Coração
4.1 754 Assista AgoraEu realmente não entendo porque esse filme ganhou algumas premiações e vem forte para o Oscar. É um filme fofinho, bonitinho, mas nada demais . Um filme bem sessão da tarde. Daqui a pouco ninguém lembrará mais.
Continuo na torcida pelo Ataque dos Cães.
Titane
3.5 390 Assista AgoraCronenberg é você?
Tempo
3.1 1,1K Assista AgoraUm dos filmes mais interessantes e intrigantes de M. Night Shyamalan. Esse filme é uma simbiose perfeita de suspense, terror psicológico com drama. Levanta questões sobre o passar do tempo, o que realmente é importante na vida, como lidamos com os efeitos do tempo (memória, problemas de saúde, percepção física, amor). Um filme que faz pensar no sentido da vida e como queremos gastar nosso tempo de vida. Nos faz refletir que também estamos nessa praia e, ao contrário dos personagens, ainda não sabemos.
A Filha Perdida
3.6 573Trata-se de um filme denso, intenso, repleto de camadas. Aos poucos, a personagem enigmática de Leda vai sendo desnudada por meio de flashbacks, que misturam a tensão do presente com a do passado. Mas a obra se permite a mostrar até certo ponto, desvendando uma parte do mistério e o resto é sutilmente alçado para ser descortinado no plano subjetivo de cada um. Assim, cada um tem uma concepção de Leda, de suas ações e reações, do presente e do passado. Interessante a analogia que o filme faz com o poema de W.B. Yeats de nome "Leda e o Cisne", que é apenas comentado em alguns rápidos diálogos, mas essa, na minha opinião, é a chave para compreender de onde veio a inspiração para Leda, que advém da controvérsia, que foge do que a sociedade espera de um padrão. Um padrão de esposa, de mulher e de mãe.
Leda defende o trabalho de Yeats que é muito criticado devido o poema Leda e o Cisne, que se trata de um estupro. Como mulher, Leda causou muita admiração, principalmente por parte dos homens, por ter feito esse trabalho, fato que gerou notoriedade para ela. Leda demonstra que pouco se importa com o que a sociedade pensa e acha correta
Vox Lux - O Preço da Fama
2.9 223Ao dividir a obra em dois momentos bem distantes, o diretor criou, de forma abrupta, um abismo temporal que refletiu na completa mudança da personagem. Parecia ser outra personagem simplesmente porque o diretor optou por mostrar o antes e o depois, sem mostrar a evolução necessária entre as duas fases. Esse salto abrupto, gerou estranheza ao mesmo tempo que ficou bem difícil assimilar. Parecia mais dois filmes distintos que se conectaram por um elo bem fraco.
AmarElo - É Tudo Pra Ontem
4.6 354 Assista AgoraEmicida. Esse nome poderia ser estranho ao grande público, mas com certeza esse documentário foi um divisor de águas, pois percebemos um artista que vai muito além do hip hop. Emicida tem a total ciência de que a sua história é indissociável da própria história do negro do brasil, da luta incansável do passado e do presente para que a cultura negra fosse reconhecida e principalmente, não fosse banida e esquecida. Ele tem a consciência de poucas artistas de que a sua história é uma história que começou no passado, da cultura emergente e renegada, do samba, da semana de artes modernas, do Mario de Andrade, do Wilson das Neves. O passado está presente em sua alma e em sua arte, reveberbarando em parcerias musicais que resgatam a nossa própria mémoria cultural, como foi o caso da parceria com o Wilson das Neves.
Realmente não precisamos recorrer aos gringos para ouvir música de qualidade.
Inferninho
3.7 83A melancolia do filme atravessa e incorpora os nossos poros, sem ser imediatamente sentida. Mas o tempo passa e a áurea magneticamente melancólica se manifesta, fazendo o nosso inconsciente repassar todos aqueles personagens solitários, que ainda encontram um apoio e sentido quando se juntam a outros personagens igualmente sozinhos. É a solidão dos tempos e a forma como lidamos com ela. A sensaçao de solidão pode ser um sentimento temporário, síndrome moderna da "caverna de platão" e mais atual e recorrente do que nunca. Gosto do aspecto propositalmente tosco do filme, que utiliza isso para fazer e mostrar arte, sabendo transformar e readaptar o tosco. Essa necessidade de transmutação do que é tosco e brega em arte submerge também da trilha sonora, que redesenhou músicas clássicas de forró transformando-as em belas e melancólicas músicas italianas, fornecendo nova dimensão musical ao readaptar o ritmo e instrumentos das canções. Portanto, o brega e o tosco podem sim ser arte, só precisam ser trabalhados de uma forma inventiva e criativa, fornecendo outro dimensionamento e abrangência da extração da arte.