Um filme baseado em uma peça de teatro acaba sendo uma peça de teatro filmada. Claro que uma peça com as brilhantes atuaçōes de Tommy Lee Jones e Samuel L. Jackson, mas ainda assim uma peça. Levando-se em conta que tudo que poderia "distrair" foi tirado (o filme inteiro se passa num apartamento e os unicos objetos dignos de nota são a chalrira de café e a biblía), a estrela do filme é o diálogo. E é aí que a coisa complica, muitos adorarão o debate entre a religião representada por Jackson, interpretando um ex-preso convertido, e o materialismo representado por Jones, como um professor cético suicida. Outros acharão que é o retrato do nosso tempo. Outros que só fala mais do mesmo, um aglomerado confuso de conceitos filosóficos. E outros acharão que é pura besteira. Meu conselho é: sefor ver, não veja com sono. E preste atenção no debate, não tome nada como verdade, participe dele, questione o que é válido e o que é apenas jogo de luzes e espelhos pra lhe distrair. Isso é arte. Algo que faz você se questionar e questionar o mundo. É uma viagem. E como toda viagem, cada viajante vai ter uma opinião diferente.
Tempo é dinheiro. Literalmente. Uma premissa espetacular, com tantas possibilidades dramáticas, filosóficas, que poderiam trazer questionamentos ao nosso mundo de vida... Tudo jogado pelo ralo. Pense: tudo que fazemos já é utilizando o tempo como moeda nos mais diversos contextos. Você trabalha vendendo seu tempo para a empresa. Você deixa de fumar para conseguir mais uns anos. Você come aquela picanha mesmo sabendo que daqui a alguns anos ela pode entupir suas artérias. Você está sempre jogando com o tempo, tudo é uma troca entre o prazer imediato hoje e a possibilidade do amanhã. Isso já daria um filme espetacular. De fato, o filme começa bem e as melhores cenas ocorrem logo no início: a discussão sobre a vida e o tempo, e a cena do poquer.
Quando ele aposta tudo, está apostando sua própria vida. É tudo ou nada literalmente.
Infelizmente a partir daí o filme desce a ladeira como um caminhão desgovernado. Os furos no roteiro são tantos que é raro uma cena que não tenha um erro. Erros de continuidade, erros de lógica, erros na trama, todos os tipos de erro imagináveis. Há uma cena de acidente de carro que é simplesmente impossível acreditar que o estúdio deixou ir pra versão final. É tão mal feita que você fica pensando que quiseram dar uma oportunidade pro estagiário fazer uma cena sozinho. Você chega a se enganar em determinado momento que o filme vai virar uma crítica ao capitalismo, algo como um Robin Hood cronológico, ou que os dois começarão a discutir o "sistema" como em uma Revolução dos Bichos em que os bichos fossem preocupados com a data de seu abate, mas o filme nunca se aprofunda em absolutamente NENHUM dilema. Eu nem esperava que tivessem a sensibilidade de abordar a questão de você ter seu "saldo bancáro" brilhando no seu braço e as implicações: seria deselegante ficar mostrando-o? As pessoas sempre teriam que andar com camisas de mangas compridas ou serem taxadas de exibidas? Mas nem nas questões básicas como motivação dos personagens (por que o policial encara a coisa todo como uma questão pessoal? por que o protagonista não segue os passos do pai?), nem há aprofundamento dos personagens, o que acaba impedindo a identificação dos espectadores. Com uma história tão mal conduzida, fica difícil uma atuação a contento dos atores, e realmente Justin Timberlake não consegue passar nenhuma emoção, algo bem longe da presença que ele passou em "Rede Social". Resumindo, uma perda de tempo. E tempo é dinheiro.
Ah, PS: A parte "clássica" tocada por Eugene é claramente inspirada (pra dizer o mínimo) no Caprice número 5 de Paganini. Em minha opinião seria muito mais condizente com a trama o Capriccio Diabolico, embora não seja tão violento quanto o n. 5 de Paganini.
Como bem falou a moça aí embaixo, a maioria das sinopses desse filme (e a daqui inclusa) é muito fraca e tenta vender o filme como uma roadtrip de aprendizado e libertação, quando o negócio é bem mais embaixo literalmente. Willie Brown (ou "Blind Dog"), que seria parceiro de Robert Johnson (um dos maiores do blues, influência de trocentos músicos, entre eles Eric Clapton e Led Zeppelin), vendeu sua alma ao diabo em uma encruzilhada em troca do talento musical (história baseada no boato que Johnson teria feito isso realmente), e agora quer se safar. Para isso, acaba contando com a ajuda de Daniel-san, ops, Eugene Martono (Ralph Macchio, com a mesma cara de garoto de Karate Kid, dois anos antes, e das sequencias depois. Aliás, o cara vai fazer 50 anos e não parece). O roteiro, e consequentemente o filme em si, é fraco, não traz nada de novo. Mas vale a pena para quem gosta de guitarra e blues ver Daniel-san solando como um louco no duelo contra Steve Vai solando como um insano. Ralph Macchio aprendeu as notas e as executou muito bem, até o momento em que o bicho pega de verdade. Claro que o som na verdade é de Steve, então na verdade o duelo é de Vai vs. Vai :) Meu conselho: assista só o duelo final no youtube (http://www.youtube.com/watch?v=7Qgc_PNpdx8)
Rick Blaine (Humphrey Bogart) segue exatamente a mesma filosofia de vida que Rhett Butler (E o Vento Levou), a tal ponto que várias vezes me peguei esperando quando é que ele ia falar "Frankly, my dear, I don't give a damn" para Ilsa Lund (Ingrid Bergman). São dele as falas mais memoráveis: "Well, if I gave you any thought, I probably would." (ao responder a pergunta "You despise me, don't you?") ou "We'll always have Paris." ou ainda "Here's looking at you, kid.". Aliás, provavelmente é o filme com mais falas memoráveis da história, a exemplo de "Play it, Sam. Play 'As Time Goes By'." (Bergman), "Round up the usual suspects." (Claude Rains) e "Of all the gin joints in all the towns in all the world, she walks into mine." (Bogart), o que atesta a qualidade do roteiro. Obviamente não deixa de ser clichê e usar todas as armas para cooptar a platéia, como um protagonista que é um misantropo inescrupuloso e rejeita o mundo e suas questões como a guerra porque foi abandonando pela mulher amada. A cena do reencontro, com a belíssima Ingrid Bergman com os olhos marejados é o ápice do lugar comum, mas não menos bela por isso. Afinal quem não gosta e se identifica com um coração partido? E ainda assim, sutilmente, durante o filme percebe-se a clássica luta entre fazer o que o coração manda e o que é certo. Interessante que mesmo em um filme conciso, sem grandes explicações para o amor entre os dois, conseguimos nos identificar rapidamente e torcer por eles, mesmo prevendo o destino inevitável. E quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E claro, uma das músicas mais famosas, As Time Goes By, "You must remember this, a kiss is just a kiss, a sigh is just a sigh". E que encerra o mote do filme: "It's still the same old story, a fight for love and glory, a case of do or die."
E é engraçado que num filme sem um final feliz, todos os personagens se redimam no final. Durante, o filme alguns mentem, outras matam, outros se vendem por dinheiro, mas no fim, mesmo o cínico Rick, todos se salvam.
"It doesn't take much to see that the problems of three little people don't amount to a hill of beans in this crazy world".
Dos créditos iniciais até o fim o pensamento recorrente em minha cabeça era: não pe possível que Woody Allen não participou desse filme em nada. O filme é o que seria um filme de Allen, se Allen não fosse tão ácido, sarcástico e pessimista. Não sou fã de Billy Cristal nem Meg Ryan, sempre interpretando os mesmos papéis bobinhos, mas é incrível como os dois encaixaram nesse filme. Apesar de todos os ingredientes para ser uma comédia besta, inclusive a trilha sonora recheada de Louis Armstrong e Ella Fitzgerald (com a ocasional pitada de Sinatra e Ray Charles), foge do lugar comum, e acaba sendo uma das poucas "comédias românticas" com verossimilhança. Ironicamente, a cena pelo qual o filme é lembrado, é a menos real de todas, nenhuma mulher (tá, eu sei, há exceções) fingiria um orgasmo aos berros em um restaurante lotado, principalmente a personagem em questão. O que não torna a cena menos hilária, principalmente com o punch line da senhora da outra mesa: "I'll have what she is having". As discussões sobre a possibilidade de amizade entre homens e mulheres, sobre o que os homens querem, o que as mulheres querem (a parte onde discutem sobre porque Ingrid Bergman abandonou Humphrey Bogart em Casablanca é ótima), e as teorias em torno do assunto proporcionam um dialógo em geral inteligente, conciso e controverso.
Um filme conhecido de todos graças a uma das cenas mais icônicas e copiadas do cinema (até por Shrek!) a ponto de virar clichê: Deborah Kerr e Burt Lancaster rolando na areia enquanto uma onda os acerta. Apesar disso e da trama girar em torno de dois romances proibidos, não é um filme sobre amor (não só, pelo menos), é sobre a vida e como não se curvar e sim lutar pelo que se acredita, apesar do alto preço que fatalmente será pago. A atuação de Sinatra caindo de bêbado e depois completamente louco é soberba, e isso sem precisar cantar nada. Oscar de ator coadjuvante merecido. Bom roteiro, com algumas frases dignas de nota. Prêmio de melhor frase de amor em um filme sobre o exército: "You're crazy! I wish I didn't love you, maybe I can enjoy life again." Prêmio resumo da sabedoria humana: "I just hate to see a good guy get it in the gut."; "You better get used to it, kid. You'll probably see a lot of it before you die." Prêmio resumo da filosofia humana: "I wouldn't drink with you if it was the last beer in the world."; "I'm buying."; "That's different."
Um bom ilme, com alguns furos no roteiro, algumas pontas soltas, mas com uma direção correta, e boa atuação de Deborah Secco. Trilha sonora muito boa (tá, é apelativa, mas não deixa de ser boa), com várias músicas do Radiohead. Fake Plastic Trees encaixa como uma luva no clima e tema do filme, assim como a belíssima Time of the Season do The Zombies.
Épico, no sentido literal da coisa. A abertura (overture) e o entreato (entr'act), características de outras artes, dão a dica que isso só foi um filme por acaso, era para ser uma ópera ou no mínimo uma grande peça. As idas e vindas de Judah Ben-Hur (Charlton Heston excelente, orgulhoso, agressivo, pio e emotivo, tudo ao mesmo tempo) dão margem a várias tramas e transformam o filme em vários: é um filme de ação, religioso, histórico e drama, a depender do momento. A corrida de carruagens é primorosa. Panorâmicas absurdas, closes dramáticos (com direito a vários atropelamentos), efeitos sonoros muito bons. As cenas com a mãe e irmã leprosas também são muito bem feitas. Recorde de 11 Oscars, só igualado por outra super produção, Titanic. Mas não há comparação entre Heston e DiCaprio.
Uma super-produção em todos os sentidos. O deserto é quase um personagem, é o palco de um homem louco. Lawrence é o anti-herói perfeito, camuflado, enquanto aparenta estar a serviço dos ingleses, está negando tudo o que a Inglaterra significa. E Peter O'Toole transmite magnificamente a trajetória da loucura, a epítome do louco simpático, do qual você gostaria de ser amigo. Como? Você não gostaria de ser amigo de um maluco? Nenhum amigo seu é louco? Então, lamento dizer, você está fazendo amizade com as pessoas erradas. Mas digresso. Voltando ao filme, Anthony Quinn e Omar Sharif muito bem, Alex Guinness nem tanto. Creio que na tela do cinema seja um filme espetacular de se assistir, transmitindo toda a vastidão, aridez e solidão do deserto. E nos 70 mm em que foi originalmente filmado deve ser estonteante. Apesar da duração, não é um filme denso, é leve e simples, embora com muitas sutilezas escondidas sob a trama (como as pitadas homossexuais aqui e ali, pra não falar do masoquismo). Pode-se dizer sim que é longo demais para transmitir a mensagem, que a história poderia ser contada em metade do tempo ou menos. Porém, há que se entender que o objetivo de um filme não é (ou não deveria ser) transmitir uma mensagem. Pelo menos não somente. É nos transportar para um mundo, uma época, um universo. É nos fazer viver aquela vida. Do contrário, Ulisses de James Joyce, que narra um dia do personagem em quase mil páginas (toma essa, Jack Bauer), seria um conto. O Velho e o Mar seria só uma frase: "foi pescar e voltou sem peixe". Moby Dick, "foi atrás da baleia e se lascou". O Senhor dos Anéis, "o baixinho deu fim no anel". Não, não aquele anel, o outro, que mente poluída. Se quer mensagem, é só ir ler Minutos de Sabedoria. Ou assistir o horário político, que, afinal, tem mais ficção do que os devaneios mais loucos de Spielberg.
Perturbador como poucos filmes de horror são capazes, porque mais próximo da realidade. E, apesar de não haver nenhuma sutileza no filme, que, ao contrário, é de uma brutalidade e crueza ímpares, a loucura da protagonista é o elefante na sala de estar, nunca mencionada diretamente mas impossível de se ignorar. E retratar o filme do ponto de vista de Nina é uma sacada genial, assim nunca se sabe o que é real ou não, o que acaba com a previsibilidade, inclusive no fim, do qual só se tem certeza no último minuto (embora seja óbvio pela analogia). Nesse sentido, a câmera na mão, trêmula, nervosa e rápida (inclusive na edição) foi outro grande insight do diretor. A disputa entre Natalie Portman e Annette Bening (Minhas Mães e Meu Pai), vai ser dura, principalmente porque enquanto a atuação de Bening foi primorosa, a personagem de Portman é extremamente performática, tanto física quando emocionalmente. Mila Kunis também muito bem, embora ainda se veja resquícios de That 70s Show aqui e ali.
Ah, sim, PS: Uma ótima trilha sonora também, Aerosmith, Red Hot Chilli Peppers, Rolling Stones, Led Zeppelin (o clássico Good Times, Bad Times) etc. A cena em que Christian Bale e Melissa Leo cantam outro clássico, I Started a Joke dos Bee Gees, entre lágrimas, é uma obra de arte.
Acho que depois dos filmes de comédia romântica e "suspense", não há outro gênero mais propenso a clichês do que filmes de boxe. Muitas lutas, mas, diferente de Touro Indomável e Rocky, mais voltadas para envolver na atmosfera do boxe e não gerar empatia com o protagonista. O que é um problema, pois o personagem principal é completamente perdido, confuso e vazio. Assim, o irmão, complexo, megalômano, cheio de problemas e trejeitos que só uma boa quantidade de pancadas na cabeça com a ajuda considerável do crack podem provocar, rouba a cena. Os farrapos de um ser humano, em que eventualmente se vê (como na cena da luta com os policiais) um lampejo do que ele era, e do que so restou uma pálida sombra. Atuação estupenda de Christian Bale, merecedora do Oscar. Some-se a isso a mãe (também ótima atuação de Melissa Leo) e a namorada, e o protagonista passa o filme inteiro como marionete de praticamente todos os outros personagens. Mas isso também traz certa poesia ao filme, com um belo paradoxo: um lutador que fora do ringue não luta por sua vida, assiste a tudo passivamente.
Um ótimo filme do ponto de vista histórico da início da participação do Japão na 2ª Guerra. Mostra as disputas entre a marinha e exército japonês, a influência e opinião do imperador, a aliança que fazem com os alemães enquanto enrolam lindamenteos americanos, a revolta dos americanos em relação a atuação japonesa na China e consequente ameaça de embargo, a ameaça que a frota em Pearl Harbor significava pros japoneses, as lambanças que os americanos fazem, a máquina Enigma etc. Ou seja, uma aula de história e uma superprodução para os padrões da época (interessante ver as inúmeras quedas de aviões e explosões de navios reais, já que não havia efeitos especiais). Porém, atuação na maior parte pífia. E também longo a não poder mais, como eram os filmes da época. Duas horas e vinte de filme é um tanto demais.
O filme parte de uma premissa clichê, mas que não deixa de ser interessante (e narcisística): se alguém não me ama é porque não me conhece, se tiver oportunidade de me conhecer, com certeza vai me amar. Esse é o mote do filme, misturado com um pouco de Síndrome de Estocolmo. As idiossincrasias do protagonista estão satisfatoriamente representadas por Antonio Banderas. Infelizmente é um filme previsível e simples. A analogia dos laços do amor começarem com laços de verdade (da corda) é rasteira. Mas, por isso mesmo, é um dos filmes mais leves de Almodóvar, típico filme do espanhol, onde as relações são o foco. O que acaba cansando, o espectador já sabe onde ele quer chegar, mas ele demora muito em chegar lá. Poderia ter aprofundado mais a questão e seus paradoxos.
Uma sátira do puritanismo dos anos 50. Alguns momentos engraçados, mas do tipo de graça ingênua com situações caricatas e exageradas. Marilyn Monroe fazendo o típico papel de loira. A icônica cena do vestido pode decepcionar, já que é muito rápida, ingênua e simples. As fotos desta cena a que nos acostumamos a ver, em que ela está mais solta e "apimentada", na verdade não são do filme e sim de uma sessão de fotos promocionais para o filme. E mais uma título estragado pelos tradutores brasileiros, já que o original remete à ideia central do filme, a teoria de que se cansam do casamento e acabam traindo após sete anos.
Os irmãos Cohen subvertem seu próprio "estilo". Nada de excentricidade, nada de plot twists, (quase) nada de humor negro. Como li numa crítica por aí, é como Iggy Pop cantando "My Funny Valentine", meio fora de lugar e estranho, mas bem feito. Hailee Steinfeld excepcional, uma personagem que ajuda, claro, mas estar na tela quase o filme inteiro, dando show o tempo todo com aquela idade é pra poucos. Seria interessante vê-la ganhando o Oscar.
O único concorrente com chances de tirar o Oscar de A Rede Social. Entretanto a Academia tem evitado os filmes "épicos" e certinhos, preferindo outros como Guerra ao Terror e Quem Quer Ser Um Milionário. Junto com o "bloody marvellous" humor inglês, absurdamente sarcástico, transmite, como só os ingleses sabem também, um pathos um tanto intangível. E, irônica e inteligentemente, flerta com uma das mais famosas passagens da Genealogia da Moral de Nietzsche: "O pathos da nobreza e da distância [...] eis a origem da oposição 'bom' e 'ruim'."
É uma sucessão tão grande de personagens numa profusão tão grande que não há como empatizar com nenhum, às vezes nem mesmo acompanhar. "Peraí, Sharon Stone é casada com William Macy e Heather Graham é a amante ou é o contrário?", "Aquele não é Martin Sheen? E a esposa dele é Helen Hunt?", "Ei, olha Anthony Hopkins como porteiro aposentado", "Laurence Fishburne é o chef!". Quando Ashton Kutcher apareceu como um hippie traficante, eu já tinha desistido de acompanhar a história. Se você vai jogar mais de 20 personagens (sério) em um filme, tem que haver um roteiro muito bem amarrado, o que não é o caso. Mostrar pessoas que só estão ligadas pelo fato de estarem no mesmo lugar ao mesmo tempo não é conectar histórias. E é claro que não poderiam faltar as cenas antigas acompanhadas por... "The Sound of Silence". Sério? Eu não esperava... Cena do povo correndo ao redor do carro dele no momento exato em que Simon e Garfunkel cantam "Ten thousand people, maybe more"? Sério mesmo?
Elenco principal muito bom, especialmente Annette Bening. O relacionamento das duas deixa entrever muito bem os segredos, sutilezas e subterfúgios típicos de uma casamento duradouro. É um filme sobre família, inesperadamente não apelando para os maneirismos e arquétipos normais de Hollywood quando se trata de homossexuais.
Mas é claro que não escapam de fazer uma delas ter um caso com um homem. E não tem como dizer que "aconteceu" de ser homem, a escolha é uma decisão consciente do diretor.
O título brasileiro, como sempre, deturpando o filme numa tentativa rasteira de conseguir mais público.
, o professor arrastado para a guerra a contragosto, o conflito e tensão na hora H, os coadjuvantes morrendo pelo caminho e a própria trama em si, um grupo "de elite" que vai numa missão impossível tentar salvar o dia (inspirando vários filmes, sendo um dos mais recentes O Resgate do Soldado Ryan). Mas são justamente os personagens que são o ponto alto do filme, pois ao contrário da tendência da época de retratar os aliados como os heróis incorruptíveis, mostra todas as falhas e conflitos (inspirando Os Guerreiros Pilantras, que por sua vez inspiraram Três Reis etc). Esse enfoque fica claro logo no início, quando é dito que apesar de se passar na Grécia, cenário de mitos, a história retratada não é sobre semi-deuses e sim sobre pessoas.
Quem poderia imaginar um protagonista que iria matar uma mulher a sangue frio? Ou que deixa o companheiro para ser torturado, na esperança que os traia, depois de ter contado a ele um plano totalmente diferente do real?
É fácil ir à guerra quando você acredita que é sua missão e a vontade de Deus (como em Patton). É fácil combater um inimigo quando você vê nele a encarnação pura do mal (como Bastardos Inglórios). O difícil é quando se está cercado de traição e desconfiança, e quando não se vê propósito na loucura da guerra. "Houve mil guerras, e haverá mais mil até todos nos matarmos."
Filme aquém de Doutor Jivago, do mesmo diretor, mas ainda assim um grande filme, com uma atuação muito boa de todos os atores, especialmente Alec Guinness. E merecia uma edição melhor. Mostra de forma interessante os conflitos causados pela guerra, mas não abstratamente e sim de forma muito real, individualmente. Os personagens lidam com dissonância cognitiva o tempo inteiro, tentando conciliar a guerra com seus valores, e se agarram à disciplina militar como a um salva-vidas, tentando manter a sanidade.
The Sunset Limited
3.9 157 Assista AgoraUm filme baseado em uma peça de teatro acaba sendo uma peça de teatro filmada.
Claro que uma peça com as brilhantes atuaçōes de Tommy Lee Jones e Samuel L. Jackson, mas ainda assim uma peça. Levando-se em conta que tudo que poderia "distrair" foi tirado (o filme inteiro se passa num apartamento e os unicos objetos dignos de nota são a chalrira de café e a biblía), a estrela do filme é o diálogo. E é aí que a coisa complica, muitos adorarão o debate entre a religião representada por Jackson, interpretando um ex-preso convertido, e o materialismo representado por Jones, como um professor cético suicida. Outros acharão que é o retrato do nosso tempo. Outros que só fala mais do mesmo, um aglomerado confuso de conceitos filosóficos. E outros acharão que é pura besteira.
Meu conselho é: sefor ver, não veja com sono. E preste atenção no debate, não tome nada como verdade, participe dele, questione o que é válido e o que é apenas jogo de luzes e espelhos pra lhe distrair. Isso é arte. Algo que faz você se questionar e questionar o mundo.
É uma viagem. E como toda viagem, cada viajante vai ter uma opinião diferente.
O Preço do Amanhã
3.6 2,9K Assista AgoraTempo é dinheiro. Literalmente. Uma premissa espetacular, com tantas possibilidades dramáticas, filosóficas, que poderiam trazer questionamentos ao nosso mundo de vida... Tudo jogado pelo ralo.
Pense: tudo que fazemos já é utilizando o tempo como moeda nos mais diversos contextos. Você trabalha vendendo seu tempo para a empresa. Você deixa de fumar para conseguir mais uns anos. Você come aquela picanha mesmo sabendo que daqui a alguns anos ela pode entupir suas artérias. Você está sempre jogando com o tempo, tudo é uma troca entre o prazer imediato hoje e a possibilidade do amanhã. Isso já daria um filme espetacular. De fato, o filme começa bem e as melhores cenas ocorrem logo no início: a discussão sobre a vida e o tempo, e a cena do poquer.
Quando ele aposta tudo, está apostando sua própria vida. É tudo ou nada literalmente.
Infelizmente a partir daí o filme desce a ladeira como um caminhão desgovernado. Os furos no roteiro são tantos que é raro uma cena que não tenha um erro. Erros de continuidade, erros de lógica, erros na trama, todos os tipos de erro imagináveis. Há uma cena de acidente de carro que é simplesmente impossível acreditar que o estúdio deixou ir pra versão final. É tão mal feita que você fica pensando que quiseram dar uma oportunidade pro estagiário fazer uma cena sozinho.
Você chega a se enganar em determinado momento que o filme vai virar uma crítica ao capitalismo, algo como um Robin Hood cronológico, ou que os dois começarão a discutir o "sistema" como em uma Revolução dos Bichos em que os bichos fossem preocupados com a data de seu abate, mas o filme nunca se aprofunda em absolutamente NENHUM dilema. Eu nem esperava que tivessem a sensibilidade de abordar a questão de você ter seu "saldo bancáro" brilhando no seu braço e as implicações: seria deselegante ficar mostrando-o? As pessoas sempre teriam que andar com camisas de mangas compridas ou serem taxadas de exibidas? Mas nem nas questões básicas como motivação dos personagens (por que o policial encara a coisa todo como uma questão pessoal? por que o protagonista não segue os passos do pai?), nem há aprofundamento dos personagens, o que acaba impedindo a identificação dos espectadores.
Com uma história tão mal conduzida, fica difícil uma atuação a contento dos atores, e realmente Justin Timberlake não consegue passar nenhuma emoção, algo bem longe da presença que ele passou em "Rede Social".
Resumindo, uma perda de tempo. E tempo é dinheiro.
A Encruzilhada
4.0 273 Assista AgoraAh, PS: A parte "clássica" tocada por Eugene é claramente inspirada (pra dizer o mínimo) no Caprice número 5 de Paganini.
Em minha opinião seria muito mais condizente com a trama o Capriccio Diabolico, embora não seja tão violento quanto o n. 5 de Paganini.
A Encruzilhada
4.0 273 Assista AgoraComo bem falou a moça aí embaixo, a maioria das sinopses desse filme (e a daqui inclusa) é muito fraca e tenta vender o filme como uma roadtrip de aprendizado e libertação, quando o negócio é bem mais embaixo literalmente.
Willie Brown (ou "Blind Dog"), que seria parceiro de Robert Johnson (um dos maiores do blues, influência de trocentos músicos, entre eles Eric Clapton e Led Zeppelin), vendeu sua alma ao diabo em uma encruzilhada em troca do talento musical (história baseada no boato que Johnson teria feito isso realmente), e agora quer se safar. Para isso, acaba contando com a ajuda de Daniel-san, ops, Eugene Martono (Ralph Macchio, com a mesma cara de garoto de Karate Kid, dois anos antes, e das sequencias depois. Aliás, o cara vai fazer 50 anos e não parece).
O roteiro, e consequentemente o filme em si, é fraco, não traz nada de novo.
Mas vale a pena para quem gosta de guitarra e blues ver Daniel-san solando como um louco no duelo contra Steve Vai solando como um insano. Ralph Macchio aprendeu as notas e as executou muito bem, até o momento em que o bicho pega de verdade. Claro que o som na verdade é de Steve, então na verdade o duelo é de Vai vs. Vai :)
Meu conselho: assista só o duelo final no youtube (http://www.youtube.com/watch?v=7Qgc_PNpdx8)
Casablanca
4.3 1,0K Assista AgoraRick Blaine (Humphrey Bogart) segue exatamente a mesma filosofia de vida que Rhett Butler (E o Vento Levou), a tal ponto que várias vezes me peguei esperando quando é que ele ia falar "Frankly, my dear, I don't give a damn" para Ilsa Lund (Ingrid Bergman).
São dele as falas mais memoráveis: "Well, if I gave you any thought, I probably would." (ao responder a pergunta "You despise me, don't you?") ou "We'll always have Paris." ou ainda "Here's looking at you, kid.".
Aliás, provavelmente é o filme com mais falas memoráveis da história, a exemplo de "Play it, Sam. Play 'As Time Goes By'." (Bergman), "Round up the usual suspects." (Claude Rains) e "Of all the gin joints in all the towns in all the world, she walks into mine." (Bogart), o que atesta a qualidade do roteiro.
Obviamente não deixa de ser clichê e usar todas as armas para cooptar a platéia, como um protagonista que é um misantropo inescrupuloso e rejeita o mundo e suas questões como a guerra porque foi abandonando pela mulher amada. A cena do reencontro, com a belíssima Ingrid Bergman com os olhos marejados é o ápice do lugar comum, mas não menos bela por isso. Afinal quem não gosta e se identifica com um coração partido? E ainda assim, sutilmente, durante o filme percebe-se a clássica luta entre fazer o que o coração manda e o que é certo.
Interessante que mesmo em um filme conciso, sem grandes explicações para o amor entre os dois, conseguimos nos identificar rapidamente e torcer por eles, mesmo prevendo o destino inevitável. E quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?
E claro, uma das músicas mais famosas, As Time Goes By, "You must remember this, a kiss is just a kiss, a sigh is just a sigh". E que encerra o mote do filme: "It's still the same old story, a fight for love and glory, a case of do or die."
E é engraçado que num filme sem um final feliz, todos os personagens se redimam no final. Durante, o filme alguns mentem, outras matam, outros se vendem por dinheiro, mas no fim, mesmo o cínico Rick, todos se salvam.
Harry & Sally: Feitos um Para o Outro
3.9 504 Assista AgoraDos créditos iniciais até o fim o pensamento recorrente em minha cabeça era: não pe possível que Woody Allen não participou desse filme em nada. O filme é o que seria um filme de Allen, se Allen não fosse tão ácido, sarcástico e pessimista.
Não sou fã de Billy Cristal nem Meg Ryan, sempre interpretando os mesmos papéis bobinhos, mas é incrível como os dois encaixaram nesse filme.
Apesar de todos os ingredientes para ser uma comédia besta, inclusive a trilha sonora recheada de Louis Armstrong e Ella Fitzgerald (com a ocasional pitada de Sinatra e Ray Charles), foge do lugar comum, e acaba sendo uma das poucas "comédias românticas" com verossimilhança.
Ironicamente, a cena pelo qual o filme é lembrado, é a menos real de todas, nenhuma mulher (tá, eu sei, há exceções) fingiria um orgasmo aos berros em um restaurante lotado, principalmente a personagem em questão. O que não torna a cena menos hilária, principalmente com o punch line da senhora da outra mesa: "I'll have what she is having".
As discussões sobre a possibilidade de amizade entre homens e mulheres, sobre o que os homens querem, o que as mulheres querem (a parte onde discutem sobre porque Ingrid Bergman abandonou Humphrey Bogart em Casablanca é ótima), e as teorias em torno do assunto proporcionam um dialógo em geral inteligente, conciso e controverso.
A Um Passo da Eternidade
3.9 154 Assista AgoraUm filme conhecido de todos graças a uma das cenas mais icônicas e copiadas do cinema (até por Shrek!) a ponto de virar clichê: Deborah Kerr e Burt Lancaster rolando na areia enquanto uma onda os acerta.
Apesar disso e da trama girar em torno de dois romances proibidos, não é um filme sobre amor (não só, pelo menos), é sobre a vida e como não se curvar e sim lutar pelo que se acredita, apesar do alto preço que fatalmente será pago.
A atuação de Sinatra caindo de bêbado e depois completamente louco é soberba, e isso sem precisar cantar nada. Oscar de ator coadjuvante merecido.
Bom roteiro, com algumas frases dignas de nota.
Prêmio de melhor frase de amor em um filme sobre o exército: "You're crazy! I wish I didn't love you, maybe I can enjoy life again."
Prêmio resumo da sabedoria humana: "I just hate to see a good guy get it in the gut."; "You better get used to it, kid. You'll probably see a lot of it before you die."
Prêmio resumo da filosofia humana: "I wouldn't drink with you if it was the last beer in the world."; "I'm buying."; "That's different."
Federal
1.5 306 Assista AgoraNão consigo decidir quem é o pior, esse ou Segurança Nacional.
Bruna Surfistinha
2.9 3,0K Assista AgoraUm bom ilme, com alguns furos no roteiro, algumas pontas soltas, mas com uma direção correta, e boa atuação de Deborah Secco.
Trilha sonora muito boa (tá, é apelativa, mas não deixa de ser boa), com várias músicas do Radiohead. Fake Plastic Trees encaixa como uma luva no clima e tema do filme, assim como a belíssima Time of the Season do The Zombies.
Ben-Hur
4.3 548 Assista AgoraÉpico, no sentido literal da coisa.
A abertura (overture) e o entreato (entr'act), características de outras artes, dão a dica que isso só foi um filme por acaso, era para ser uma ópera ou no mínimo uma grande peça.
As idas e vindas de Judah Ben-Hur (Charlton Heston excelente, orgulhoso, agressivo, pio e emotivo, tudo ao mesmo tempo) dão margem a várias tramas e transformam o filme em vários: é um filme de ação, religioso, histórico e drama, a depender do momento.
A corrida de carruagens é primorosa. Panorâmicas absurdas, closes dramáticos (com direito a vários atropelamentos), efeitos sonoros muito bons. As cenas com a mãe e irmã leprosas também são muito bem feitas.
Recorde de 11 Oscars, só igualado por outra super produção, Titanic. Mas não há comparação entre Heston e DiCaprio.
Lawrence da Arábia
4.2 417 Assista AgoraUma super-produção em todos os sentidos.
O deserto é quase um personagem, é o palco de um homem louco. Lawrence é o anti-herói perfeito, camuflado, enquanto aparenta estar a serviço dos ingleses, está negando tudo o que a Inglaterra significa. E Peter O'Toole transmite magnificamente a trajetória da loucura, a epítome do louco simpático, do qual você gostaria de ser amigo. Como? Você não gostaria de ser amigo de um maluco? Nenhum amigo seu é louco? Então, lamento dizer, você está fazendo amizade com as pessoas erradas. Mas digresso.
Voltando ao filme, Anthony Quinn e Omar Sharif muito bem, Alex Guinness nem tanto.
Creio que na tela do cinema seja um filme espetacular de se assistir, transmitindo toda a vastidão, aridez e solidão do deserto. E nos 70 mm em que foi originalmente filmado deve ser estonteante.
Apesar da duração, não é um filme denso, é leve e simples, embora com muitas sutilezas escondidas sob a trama (como as pitadas homossexuais aqui e ali, pra não falar do masoquismo). Pode-se dizer sim que é longo demais para transmitir a mensagem, que a história poderia ser contada em metade do tempo ou menos. Porém, há que se entender que o objetivo de um filme não é (ou não deveria ser) transmitir uma mensagem. Pelo menos não somente. É nos transportar para um mundo, uma época, um universo. É nos fazer viver aquela vida. Do contrário, Ulisses de James Joyce, que narra um dia do personagem em quase mil páginas (toma essa, Jack Bauer), seria um conto. O Velho e o Mar seria só uma frase: "foi pescar e voltou sem peixe". Moby Dick, "foi atrás da baleia e se lascou". O Senhor dos Anéis, "o baixinho deu fim no anel". Não, não aquele anel, o outro, que mente poluída.
Se quer mensagem, é só ir ler Minutos de Sabedoria. Ou assistir o horário político, que, afinal, tem mais ficção do que os devaneios mais loucos de Spielberg.
Cisne Negro
4.2 7,9K Assista AgoraPerturbador como poucos filmes de horror são capazes, porque mais próximo da realidade.
E, apesar de não haver nenhuma sutileza no filme, que, ao contrário, é de uma brutalidade e crueza ímpares, a loucura da protagonista é o elefante na sala de estar, nunca mencionada diretamente mas impossível de se ignorar.
E retratar o filme do ponto de vista de Nina é uma sacada genial, assim nunca se sabe o que é real ou não, o que acaba com a previsibilidade, inclusive no fim, do qual só se tem certeza no último minuto (embora seja óbvio pela analogia). Nesse sentido, a câmera na mão, trêmula, nervosa e rápida (inclusive na edição) foi outro grande insight do diretor.
A disputa entre Natalie Portman e Annette Bening (Minhas Mães e Meu Pai), vai ser dura, principalmente porque enquanto a atuação de Bening foi primorosa, a personagem de Portman é extremamente performática, tanto física quando emocionalmente.
Mila Kunis também muito bem, embora ainda se veja resquícios de That 70s Show aqui e ali.
O Vencedor
4.0 1,3K Assista AgoraAh, sim, PS: Uma ótima trilha sonora também, Aerosmith, Red Hot Chilli Peppers, Rolling Stones, Led Zeppelin (o clássico Good Times, Bad Times) etc. A cena em que Christian Bale e Melissa Leo cantam outro clássico, I Started a Joke dos Bee Gees, entre lágrimas, é uma obra de arte.
O Vencedor
4.0 1,3K Assista AgoraAcho que depois dos filmes de comédia romântica e "suspense", não há outro gênero mais propenso a clichês do que filmes de boxe.
Muitas lutas, mas, diferente de Touro Indomável e Rocky, mais voltadas para envolver na atmosfera do boxe e não gerar empatia com o protagonista. O que é um problema, pois o personagem principal é completamente perdido, confuso e vazio.
Assim, o irmão, complexo, megalômano, cheio de problemas e trejeitos que só uma boa quantidade de pancadas na cabeça com a ajuda considerável do crack podem provocar, rouba a cena. Os farrapos de um ser humano, em que eventualmente se vê (como na cena da luta com os policiais) um lampejo do que ele era, e do que so restou uma pálida sombra. Atuação estupenda de Christian Bale, merecedora do Oscar.
Some-se a isso a mãe (também ótima atuação de Melissa Leo) e a namorada, e o protagonista passa o filme inteiro como marionete de praticamente todos os outros personagens.
Mas isso também traz certa poesia ao filme, com um belo paradoxo: um lutador que fora do ringue não luta por sua vida, assiste a tudo passivamente.
Tora! Tora! Tora!
3.8 53 Assista AgoraUm ótimo filme do ponto de vista histórico da início da participação do Japão na 2ª Guerra. Mostra as disputas entre a marinha e exército japonês, a influência e opinião do imperador, a aliança que fazem com os alemães enquanto enrolam lindamenteos americanos, a revolta dos americanos em relação a atuação japonesa na China e consequente ameaça de embargo, a ameaça que a frota em Pearl Harbor significava pros japoneses, as lambanças que os americanos fazem, a máquina Enigma etc.
Ou seja, uma aula de história e uma superprodução para os padrões da época (interessante ver as inúmeras quedas de aviões e explosões de navios reais, já que não havia efeitos especiais). Porém, atuação na maior parte pífia. E também longo a não poder mais, como eram os filmes da época. Duas horas e vinte de filme é um tanto demais.
Caça às Bruxas
2.7 1,8K Assista AgoraTecnicamente bem feito, boa fotografia etc
De resto, nada se salva, sem comentários.
Ata-me!
3.7 550O filme parte de uma premissa clichê, mas que não deixa de ser interessante (e narcisística): se alguém não me ama é porque não me conhece, se tiver oportunidade de me conhecer, com certeza vai me amar. Esse é o mote do filme, misturado com um pouco de Síndrome de Estocolmo. As idiossincrasias do protagonista estão satisfatoriamente representadas por Antonio Banderas.
Infelizmente é um filme previsível e simples. A analogia dos laços do amor começarem com laços de verdade (da corda) é rasteira. Mas, por isso mesmo, é um dos filmes mais leves de Almodóvar, típico filme do espanhol, onde as relações são o foco. O que acaba cansando, o espectador já sabe onde ele quer chegar, mas ele demora muito em chegar lá. Poderia ter aprofundado mais a questão e seus paradoxos.
O Pecado Mora ao Lado
3.7 423 Assista AgoraUma sátira do puritanismo dos anos 50. Alguns momentos engraçados, mas do tipo de graça ingênua com situações caricatas e exageradas.
Marilyn Monroe fazendo o típico papel de loira. A icônica cena do vestido pode decepcionar, já que é muito rápida, ingênua e simples. As fotos desta cena a que nos acostumamos a ver, em que ela está mais solta e "apimentada", na verdade não são do filme e sim de uma sessão de fotos promocionais para o filme.
E mais uma título estragado pelos tradutores brasileiros, já que o original remete à ideia central do filme, a teoria de que se cansam do casamento e acabam traindo após sete anos.
Bravura Indômita
3.9 1,4K Assista AgoraOs irmãos Cohen subvertem seu próprio "estilo". Nada de excentricidade, nada de plot twists, (quase) nada de humor negro. Como li numa crítica por aí, é como Iggy Pop cantando "My Funny Valentine", meio fora de lugar e estranho, mas bem feito.
Hailee Steinfeld excepcional, uma personagem que ajuda, claro, mas estar na tela quase o filme inteiro, dando show o tempo todo com aquela idade é pra poucos. Seria interessante vê-la ganhando o Oscar.
O Discurso do Rei
4.0 2,6K Assista AgoraO único concorrente com chances de tirar o Oscar de A Rede Social. Entretanto a Academia tem evitado os filmes "épicos" e certinhos, preferindo outros como Guerra ao Terror e Quem Quer Ser Um Milionário.
Junto com o "bloody marvellous" humor inglês, absurdamente sarcástico, transmite, como só os ingleses sabem também, um pathos um tanto intangível. E, irônica e inteligentemente, flerta com uma das mais famosas passagens da Genealogia da Moral de Nietzsche: "O pathos da nobreza e da distância [...] eis a origem da oposição 'bom' e 'ruim'."
Bobby
3.4 130É uma sucessão tão grande de personagens numa profusão tão grande que não há como empatizar com nenhum, às vezes nem mesmo acompanhar. "Peraí, Sharon Stone é casada com William Macy e Heather Graham é a amante ou é o contrário?", "Aquele não é Martin Sheen? E a esposa dele é Helen Hunt?", "Ei, olha Anthony Hopkins como porteiro aposentado", "Laurence Fishburne é o chef!". Quando Ashton Kutcher apareceu como um hippie traficante, eu já tinha desistido de acompanhar a história. Se você vai jogar mais de 20 personagens (sério) em um filme, tem que haver um roteiro muito bem amarrado, o que não é o caso. Mostrar pessoas que só estão ligadas pelo fato de estarem no mesmo lugar ao mesmo tempo não é conectar histórias.
E é claro que não poderiam faltar as cenas antigas acompanhadas por... "The Sound of Silence". Sério? Eu não esperava... Cena do povo correndo ao redor do carro dele no momento exato em que Simon e Garfunkel cantam "Ten thousand people, maybe more"? Sério mesmo?
Minhas Mães e Meu Pai
3.4 1,3K Assista grátisElenco principal muito bom, especialmente Annette Bening. O relacionamento das duas deixa entrever muito bem os segredos, sutilezas e subterfúgios típicos de uma casamento duradouro.
É um filme sobre família, inesperadamente não apelando para os maneirismos e arquétipos normais de Hollywood quando se trata de homossexuais.
Mas é claro que não escapam de fazer uma delas ter um caso com um homem. E não tem como dizer que "aconteceu" de ser homem, a escolha é uma decisão consciente do diretor.
O título brasileiro, como sempre, deturpando o filme numa tentativa rasteira de conseguir mais público.
Os Canhões de Navarone
4.0 66 Assista AgoraTodos os clichês a que tem direito um filme da 2ª Guerra : o inglês excêntrico, o malvado da SS, o alemão bomzinho, a linda garota da resistência,
a espiã sabotadora
Mas são justamente os personagens que são o ponto alto do filme, pois ao contrário da tendência da época de retratar os aliados como os heróis incorruptíveis, mostra todas as falhas e conflitos (inspirando Os Guerreiros Pilantras, que por sua vez inspiraram Três Reis etc). Esse enfoque fica claro logo no início, quando é dito que apesar de se passar na Grécia, cenário de mitos, a história retratada não é sobre semi-deuses e sim sobre pessoas.
Quem poderia imaginar um protagonista que iria matar uma mulher a sangue frio? Ou que deixa o companheiro para ser torturado, na esperança que os traia, depois de ter contado a ele um plano totalmente diferente do real?
É fácil ir à guerra quando você acredita que é sua missão e a vontade de Deus (como em Patton). É fácil combater um inimigo quando você vê nele a encarnação pura do mal (como Bastardos Inglórios). O difícil é quando se está cercado de traição e desconfiança, e quando não se vê propósito na loucura da guerra.
"Houve mil guerras, e haverá mais mil até todos nos matarmos."
A Ponte do Rio Kwai
4.1 198 Assista AgoraFilme aquém de Doutor Jivago, do mesmo diretor, mas ainda assim um grande filme, com uma atuação muito boa de todos os atores, especialmente Alec Guinness. E merecia uma edição melhor.
Mostra de forma interessante os conflitos causados pela guerra, mas não abstratamente e sim de forma muito real, individualmente. Os personagens lidam com dissonância cognitiva o tempo inteiro, tentando conciliar a guerra com seus valores, e se agarram à disciplina militar como a um salva-vidas, tentando manter a sanidade.