Uma obra prima. Torço para que um dia tenhamos longas de terror brasileiros com essa qualidade e com roteiros que explorem o nosso imaginário sobre o medo. Tudo impecável.
He Took His Skin Off For Me - Ele tirou sua pele por mim. A produção foi o trabalho de conclusão de curso do diretor londrino Ben Aston para a faculdade London Film School e levou dois anos para ficar pronto. __________ Li uma série de críticas a esse curta onde a maioria delas falava que o curta criticava o fato de alguém tentar se encaixar no padrão de amor de outra pessoa. Bem, eu não entendo assim. Não que não possa ser entendido assim, mas na minha visão a coisa é bem mais complexa. A primeira coisa de tudo é perceber que o curta começa com um diálogo onde o amado decide tira sua própria pele (é claro, ao que parece, a pedido dela). O que se segue, parece ser um acontecimento casual, durante um jantar entre olhares apaixonados. Onde, após ela o ver totalmente desnudo de pele, diz: "Eu conseguia ver tudo dele. Era lindo". Isso primeiro revela algo e cabe uma interpretação, se ela agora consegue ver tudo, então significa que ela não conseguia ver antes. Então, encaro a pele com uma metáfora dentro do curta, uma máscara, aquilo que você é quando não é você mesmo. Ou seja, apenas uma relação de completa intimidade e aceitação poderia revelar aquilo que está interno, e que nem sempre é bonito. Primeiro lembrando que a pele é o maior órgão do corpo humano e dentre suas funções está o de proteger, o de ser uma barreira entre o interno e o externo. Vamos combinar que ele sem pele não ficou nada bonitinho: Afinal, o que somos nem sempre é bonito, e só um olhar sensível de quem nos ama muito, pode nos ver com calma é ser capaz de enxergar a beleza em cada um como algo maior que aquelas coisas não tão belas, que também é parte de nós. Cabe lembrar que eles já eram um casal, já tinha passado da parte da conquista, onde as pessoas costumam fazer para si personagens, como medo do que se é não agradar o parceiro. Já tinha uma casa e não me parece estarem vivendo uma crise no relacionamento: ele tirar a própria pele (a máscara) entendo como uma prova de um relacionamento verdadeiramente forte e íntimo. Lembro-me de uma frase que vi aqui pelo facebook: "Intimidade é não ter vergonha de se mostrar emocionalmente nu". Cabe lembrar que ela hora nenhuma reclamou das coisas que mudaram, dos lençóis terem que ser lavados todos os dias, e casa ser limpa mais de uma vez ao dia, para que quando ele chegasse do trabalho sujasse tudo de novo. Pelo contrário, ela parece consciente e em certa parte ela diz: "é o mínimo que eu podia fazer". Outra fala que pra mim resume um pouco do que penso da mensagem do curta, é uma que ela ressalta: "Algumas coisas não eram diferentes. Fazer amor, por exemplo, continua igual. Apenas duas pessoas a mostrar uma à outro o que realmente são". No entanto, ao passar dos dias a falta da pele (das máscaras) começa a causar problemas a ele, ao casal. Ele sentia mais frio que ela, por causa da falta da pele, e mesmo sentindo calor ela aumentava o gás: "Eu tentava compreender, mas eu estava a ferver". E não era única coisa que ela estava disposta a abrir mão pra ele ser o que ele é. Ele perdera clientes, mas ela responde: "Eu disse-lhe que eles eram os clientes errados. Os clientes certos não se importam, disse eu. Ele disse que ficaríamos sem dinheiro se esperássemos o certo. Eu disse que íamos dar um jeito". O legal é perceber no jantar, com "os amigos de longa data", como apesar da quantidade de tempo considerável que eram amigos eles não entenderam a atitude dele. Enquanto ela estava a sujar de sangue o seu corpo a cada afeto dele, os "amigos de longa data" estavam tentando desviar do toque em sua pele, e dessa forma, quebrando taças (mostrando quão frágeis eram aquelas amizades). Por motivos óbvios ele foi ficando triste. Em determinando momento ela narra: "Ele era diferente de mim. Ele gostava muito das palavras. Usavam muitas, quando poucas eram suficientes. Mas, ou ele tinha menos para dizer agora, ou sentiu que já as estava a dizer." E de fato, quando se é você mesmo, as palavras já não são tão necessárias, é preciso apenas percebê-las, ali em cada músculo, vaso sanguíneo, artéria... Por sua vez nem todo mundo estava preparado pra ver o que ele era, apenas ela. Mas isso não deixava de entristecê-lo, o fato de perder clientes, amigos... O que foi deixando cada vez mais apático e triste. Talvez ele esperasse que ela também tirasse sua pele por ele. Afinal, nada mais justo de se pensar. Em certo momento, enquanto banha ela até cogita a ideia, mas desiste... Talvez pela dor física, ou por que ela percebera que não era tão bom ser "emocionalmente nu". Talvez ela nem imaginasse o que estava a pedir, quando pediu pra ele tirar sua própria pele. Já no final do curta, antes de ir trabalhar, ele olha para o armário, acaricia sua pele, sua antiga capa, balança a cabeça em sinal negativo e pega a gravata. Ele não quis voltar pr'aquilo, não se sentia mais dentro daquela carapaça. No entanto, percebemos que sua tristeza continuava. A casa já não estava tão impecável como antes, na mesa um simples macarrão com água. No fim, os dois na cama, em lados opostos, ela resolve então acariciar sua pele, os dois se olham profundamente como antes, ele passa a mão pelo seu corpo até encontrar sua barriga e, agora, esticando-a para que a pele se solte. O olhar de assustada dela é o que fica e fecha o curta, mas ela não se esquiva. Talvez sua feição assustada esteja centrada no que ela o viu passar, na dor de ser ele mesmo. Lembro-me de uma frase de uma música do Caetano: "Cada um sabe a dor e a delícia / De ser o que é”. Não importa o quanto doa, e dói, ser o que é sempre a melhor escolha, tire as máscaras! Se vista de você todos os dias, que no final de tudo as pessoas certas entenderão. Esteja sempre do lado de pessoas que faça com que você seja melhor, que te encoraje ser você. Essa é a mensagem que o curta me passou. E que venha mais trabalhos maravilhosos do jovem diretor Ben Aston - ansioso por isso. *a música do Caetano a que me referir chama-se "Dom de iludir": https://www.youtube.com/watch?v=bTh8J6Yo-xM
Amor Só de Mãe
4.0 144Uma obra prima. Torço para que um dia tenhamos longas de terror brasileiros com essa qualidade e com roteiros que explorem o nosso imaginário sobre o medo. Tudo impecável.
Ele Tirou Sua Pele Por Mim
4.0 95He Took His Skin Off For Me - Ele tirou sua pele por mim.
A produção foi o trabalho de conclusão de curso do diretor londrino Ben Aston para a faculdade London Film School e levou dois anos para ficar pronto.
__________
Li uma série de críticas a esse curta onde a maioria delas falava que o curta criticava o fato de alguém tentar se encaixar no padrão de amor de outra pessoa. Bem, eu não entendo assim. Não que não possa ser entendido assim, mas na minha visão a coisa é bem mais complexa.
A primeira coisa de tudo é perceber que o curta começa com um diálogo onde o amado decide tira sua própria pele (é claro, ao que parece, a pedido dela). O que se segue, parece ser um acontecimento casual, durante um jantar entre olhares apaixonados. Onde, após ela o ver totalmente desnudo de pele, diz: "Eu conseguia ver tudo dele. Era lindo". Isso primeiro revela algo e cabe uma interpretação, se ela agora consegue ver tudo, então significa que ela não conseguia ver antes. Então, encaro a pele com uma metáfora dentro do curta, uma máscara, aquilo que você é quando não é você mesmo. Ou seja, apenas uma relação de completa intimidade e aceitação poderia revelar aquilo que está interno, e que nem sempre é bonito. Primeiro lembrando que a pele é o maior órgão do corpo humano e dentre suas funções está o de proteger, o de ser uma barreira entre o interno e o externo. Vamos combinar que ele sem pele não ficou nada bonitinho: Afinal, o que somos nem sempre é bonito, e só um olhar sensível de quem nos ama muito, pode nos ver com calma é ser capaz de enxergar a beleza em cada um como algo maior que aquelas coisas não tão belas, que também é parte de nós. Cabe lembrar que eles já eram um casal, já tinha passado da parte da conquista, onde as pessoas costumam fazer para si personagens, como medo do que se é não agradar o parceiro. Já tinha uma casa e não me parece estarem vivendo uma crise no relacionamento: ele tirar a própria pele (a máscara) entendo como uma prova de um relacionamento verdadeiramente forte e íntimo. Lembro-me de uma frase que vi aqui pelo facebook: "Intimidade é não ter vergonha de se mostrar emocionalmente nu". Cabe lembrar que ela hora nenhuma reclamou das coisas que mudaram, dos lençóis terem que ser lavados todos os dias, e casa ser limpa mais de uma vez ao dia, para que quando ele chegasse do trabalho sujasse tudo de novo. Pelo contrário, ela parece consciente e em certa parte ela diz: "é o mínimo que eu podia fazer". Outra fala que pra mim resume um pouco do que penso da mensagem do curta, é uma que ela ressalta: "Algumas coisas não eram diferentes. Fazer amor, por exemplo, continua igual. Apenas duas pessoas a mostrar uma à outro o que realmente são". No entanto, ao passar dos dias a falta da pele (das máscaras) começa a causar problemas a ele, ao casal. Ele sentia mais frio que ela, por causa da falta da pele, e mesmo sentindo calor ela aumentava o gás: "Eu tentava compreender, mas eu estava a ferver". E não era única coisa que ela estava disposta a abrir mão pra ele ser o que ele é. Ele perdera clientes, mas ela responde: "Eu disse-lhe que eles eram os clientes errados. Os clientes certos não se importam, disse eu. Ele disse que ficaríamos sem dinheiro se esperássemos o certo. Eu disse que íamos dar um jeito". O legal é perceber no jantar, com "os amigos de longa data", como apesar da quantidade de tempo considerável que eram amigos eles não entenderam a atitude dele. Enquanto ela estava a sujar de sangue o seu corpo a cada afeto dele, os "amigos de longa data" estavam tentando desviar do toque em sua pele, e dessa forma, quebrando taças (mostrando quão frágeis eram aquelas amizades). Por motivos óbvios ele foi ficando triste. Em determinando momento ela narra: "Ele era diferente de mim. Ele gostava muito das palavras. Usavam muitas, quando poucas eram suficientes. Mas, ou ele tinha menos para dizer agora, ou sentiu que já as estava a dizer." E de fato, quando se é você mesmo, as palavras já não são tão necessárias, é preciso apenas percebê-las, ali em cada músculo, vaso sanguíneo, artéria... Por sua vez nem todo mundo estava preparado pra ver o que ele era, apenas ela. Mas isso não deixava de entristecê-lo, o fato de perder clientes, amigos... O que foi deixando cada vez mais apático e triste. Talvez ele esperasse que ela também tirasse sua pele por ele. Afinal, nada mais justo de se pensar. Em certo momento, enquanto banha ela até cogita a ideia, mas desiste... Talvez pela dor física, ou por que ela percebera que não era tão bom ser "emocionalmente nu". Talvez ela nem imaginasse o que estava a pedir, quando pediu pra ele tirar sua própria pele. Já no final do curta, antes de ir trabalhar, ele olha para o armário, acaricia sua pele, sua antiga capa, balança a cabeça em sinal negativo e pega a gravata. Ele não quis voltar pr'aquilo, não se sentia mais dentro daquela carapaça. No entanto, percebemos que sua tristeza continuava. A casa já não estava tão impecável como antes, na mesa um simples macarrão com água. No fim, os dois na cama, em lados opostos, ela resolve então acariciar sua pele, os dois se olham profundamente como antes, ele passa a mão pelo seu corpo até encontrar sua barriga e, agora, esticando-a para que a pele se solte. O olhar de assustada dela é o que fica e fecha o curta, mas ela não se esquiva. Talvez sua feição assustada esteja centrada no que ela o viu passar, na dor de ser ele mesmo. Lembro-me de uma frase de uma música do Caetano: "Cada um sabe a dor e a delícia / De ser o que é”.
Não importa o quanto doa, e dói, ser o que é sempre a melhor escolha, tire as máscaras! Se vista de você todos os dias, que no final de tudo as pessoas certas entenderão. Esteja sempre do lado de pessoas que faça com que você seja melhor, que te encoraje ser você. Essa é a mensagem que o curta me passou. E que venha mais trabalhos maravilhosos do jovem diretor Ben Aston - ansioso por isso.
*a música do Caetano a que me referir chama-se "Dom de iludir": https://www.youtube.com/watch?v=bTh8J6Yo-xM
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