"De Olhos Bem Fechados" é um filme igualmente fascinante e intrigante, que explora as complexidades e nuances do relacionamento humano, trazendo à tona questões como desejo e atração.
Embora o filme possa parecer arrastado e confuso para alguns, sua narrativa meticulosamente construída é na verdade uma obra-prima de simbolismo e metáfora, que convida o espectador a mergulhar em um mundo obscuro e misterioso.
O genial Stanley Kubrick cria uma atmosfera única e envolvente com sua direção habilidosa, e a trilha sonora arrebatadora de Jocelyn Pook adiciona uma dimensão ainda mais profunda ao enredo.
Tom Cruise e Nicole Kidman entregam performances sutis, mas intensas, e que se complementam perfeitamente para retratar a tensão e a ambiguidade em suas personagens.
O filme é uma reflexão instigante sobre a natureza humana e os limites da lealdade e do compromisso, que permanece relevante e provocativo até os dias de hoje. Kubrick mostrou-se mais uma vez como um mestre da Sétima Arte, construindo habilidosamente uma narrativa complexa e cheia de significados que ressoa muito além da superfície e pode combinar um sem-número de interpretações.
Em resumo, "De Olhos Bem Fechados" é uma obra-prima do Cinema, que convida o espectador a mergulhar em um mundo de mistério e ambiguidade. Oferece uma reflexão fascinante sobre o que é a natureza humana e suas complexidades. É um filme que deve ser visto, revisto e apreciado por todos aqueles que valorizam o Cinema, suas dimensões e a profundidade da experiência humana.
Mitch Wayne (Rock Hudson) é um geólogo que trabalha para os Hadleys, uma família rica em petróleo do Texas.
Enquanto o patriarca, Jared (Robert Keith), trabalha duro para estabelecer os negócios da família, seu filho irresponsável, Kyle (Robert Stack), é um playboy alcoólatra, e sua filha, Marylee (Dorothy Malone), é uma excêntrica socialite.
Mitch nutre um amor secreto pela esposa insatisfeita de Kyle, Lucy (Lauren Bacall).
Não sou profundo conhecedor da obra de Douglas Sirk. Gostei bastante desse filme, que, mesmo em 1956, abordava temas delicados e difíceis para a sociedade daquela época, como alcoolismo, depressão e aborto.
Bacall e Malone são as estrelas que mais brilham no elenco, apesar de Hudson não ficar muito atrás. Ambas estão um arraso em cena. Inclusive, Malone venceu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por esse papel. Ela está, de fato, excepcional.
A narrativa carece de um tratamento melhor em algumas partes dela. No entanto, isso não depõe contra a obra como um todo. É interessante ver como o diretor encontrou algumas saídas e conseguiu surpreender o espectador, de certa maneira.
Um filme perspicaz no roteiro e cheio de sutilezas na direção. Que encanta ora por sua direção de arte ora por sua cinematografia reluzente. Vale a pena conferir.
O sargento da polícia Neil Howie (Edward Woodward) é chamado a uma vila em uma ilha em busca de uma garota desaparecida que os moradores afirmam nunca ter existido.
O filme possui uma atmosfera muito peculiar dos filmes dos anos 70, sobretudo os de terror B que conferiam um misticismo ainda maior para as obras. Eis aqui um caso clássico.
Hardy conduz o filme tal qual um dos líderes da seita desta estrambólica ilha, cheia de mistérios e coberta por uma lúgubre nuvem de horrores.
Interessante notar que o protagonista vivido por Edward Woodward tenha envelhecido tão mal, quer dizer, de uma forma tão curiosamente conectada com os "valores" que vemos atrelados à esfera conservadora da sociedade em que vivemos HOJE (sim, mais de 50 anos depois).
Ou seja, o "mocinho", para mim, muitas vezes soou como vilão nesse filme. Muito do que ele diz, faz e como age me remete, inevitavelmente, a um bolsominion que caiu de paraquedas num terreiro de candomblé.
Nesse sentido, aquele final, para nós, brasileiros sensatos, é esvaziado de seu sentido original e passa a ser um tanto redentor. 🔥 rs
Quando um filhote de raposa chamado Dodó é adotado por uma senhora, rapidamente, ele se torna amigo de um cachorrinho chamado Toby, que pertencia a um caçador casca-grossa. A vida dos filhotes, a princípio, é cheia de aventuras divertidas, mas não vai demorar muito até eles perceberem que um nasceu para caçar o outro. Será que a amizade sobreviverá a esse terrível destino?
Uma história de dois amigos que não sabiam que estavam fadados a serem inimigos. Há algo mais triste do que isso? E pensar que essa premissa está numa animação deliberadamente infantil é de fazer a gente refletir por alguns segundos em que momento a Walt Disney ficou tão careta nos últimos anos. O que aconteceu com os finais infelizes que o estúdio, vez ou outra, flertava nos idos anos 70, 80 e 90?
A animação tem um estilo que muito me agrada. É aquele desenho feito com lápis que borra o papel e deixa o traçado sujo. Um estilo remanescente que a Disney adotou nos anos 60/70 e se manteve durante um bom tempo em suas animações (até o início da chamada "Era do Renascimento" do estúdio marcado com o lançamento de "A Pequena Sereia", em 1989, que ainda apresentava um pouco desse estilo).
No entanto, se artística e tecnicamente o longa me agrada nesse sentido, o roteiro, por outro lado, desagrada por não se arriscar e ousar muito. Ele fica na superfície de temas interessantes e acaba pecando ao fazer isso. Não se atreve em ir muito além do que estabelece na premissa.
O fim do segundo ato se perde um pouco na história também. E, na minha opinião, houve um equívoco ao se distanciar do plot principal, deixando de desenvolver aspectos importantes ao trazer elementos novos para a narrativa da metade para o fim.
Precisamos dar um desconto, afinal, estamos falando de uma animação destinada ao público infantil. Não podemos esperar muita ousadia nesse sentido, sobretudo, tratando-se de um tema tão pesado (um amigo precisa m4t4r o outro).
Vale a pena ser visto. Tem umas das premissas mais interessantes já suscitadas pela Disney e, certamente, algumas das cenas e sequências mais bonitas e fofas já produzidas por ela.
Redmond Barry (Ryan O'Neal) é um irlandês que usa a sua astúcia e inteligência para ascender nas estratificações aristocráticas da Inglaterra do século XVIII, transformando-se no nobre Barry Lyndon, após se casar com Lady Honoria Lyndon (Marisa Berenson).
"Finalmente Redmond Barry se tornou um cavalheiro - e essa foi a sua tragédia."
É curioso como algumas frases conseguem resumir e sintetizar muito bem algumas histórias. A frase citada acima, por exemplo, faz uma bela síntese de toda a ópera envolta à figura multifacetada de Redmond Barry (ou Barry Lyndon).
Este é um daqueles filmes que faz nossa consciência despertar para aquilo que realmente nos fascina na Sétima Arte. Que nos coloca em estado de plena admiração. Que intensifica nossa experiência por coerção. Ou seja, não temos alternativa a não ser nos entregar ao belo. Aos sentimentos mais idílicos e às sensações mais bucólicas do ser.
Mas, ao mesmo tempo, é o tipo de filme que também suscita algo de inédito em nosso inconsciente. Uma coisa meio perversa de se imaginar como alguém moralmente reprovável, eticamente questionável. Inescrupulosamente humano. Desnudado de todo pudor ao passo em que está coberto de toda vergonha. Algo relativamente próprio e inerente de seu realizador, o brilhante Stanley Kubrick, que, infelizmente, partiu cedo demais deste plano.
Barry Lyndon (seja o filme ou a personagem) sobrevive ao tempo e às noções e convenções sociais, sejam elas quais forem. É uma história sobre uma época da qual já não resta qualquer vestígio de semelhança com a nossa realidade (a não ser os abismos socioeconômicos que se intensificam a cada dia), mas, paradoxalmente, é totalmente à frente de seu tempo.
Barry Lyndon existiu, existe e existirá. Barry Lyndon vive. Ele resiste, de certa maneira, em nossas vivências e experiências, das mais triviais às mais privadas e insólitas. Todos nós temos algo de Barry Lyndon para se identificar, para se simpatizar, para se condenar e julgar. Barry Lyndon é uma crítica a um modelo de sociedade, mas, antes de qualquer coisa, é uma crítica ao ser humano como ele se apresenta.
É um lembrete contundente de que nossa maior tragédia pode estar em conseguir o que queremos.
O mundo é um lugar misterioso quando visto pelos olhos de um animal. EO, um burro cinza com olhos melancólicos, conhece pessoas boas e más no caminho de sua vida, experimenta alegria e dor, transforma sua sorte em desastre e seu desespero em felicidade inesperada. Mas nem por um momento ele perde a sua inocência.
Se a primeira meia hora do filme muito me cativou pela interessante premissa a qual a obra se propusera, o restante do filme me deixou cansado, entediado e, às vezes, aflito. O longa-metragem é bonitinho e transmite uma mensagem importante, não me entenda mal, mas acho que não é para mim.
Toda a fofura que se vê no início do filme vai escalonando para algo verdadeiramente perturbador e angustiante à medida que ele avança. Isso me causou um incômodo terrível. Fiquei mal. Algumas sequências eu nem quis ver direito. Tampei meus olhos, tamanha preocupação e aflição que algumas cenas finais me despertaram.
Vi que alguns amigos curtiram e souberam apreciar "EO" como um todo, então, acho de verdade que o problema esteja mais comigo do que com a obra em si. Não faz o meu tipo nem minha cabeça. Simplesmente, não gosto tanto de filmes nesse estilo. No entanto, se você é sensível com enredos e histórias que tratam de animais, não aconselho que veja esse filme. Ok?
Lynsey (Jennifer Lawrence) é uma soldado estadunidense que sofreu uma lesão cerebral traumática enquanto lutava no Afeganistão e tenta se reajustar à vida normal em Nova Orleans. Um dia, ela conhece o mecânico James (Brian Tyree Henry) e, a partir daí, a dupla começa a desenvolver uma amizade inesperada.
"Causeway", da diretora Lila Neugebauer, tem aqueles momentos em que parece ser uma história que já vimos muitas vezes. Mas engana-se quem o vê assim, dessa forma. O filme vai além. Passa por momentos em que mostra como o passado pode nos atingir em cheio, como um tiro que faz sangrar nossas vulnerabilidades mais íntimas.
Um exemplo de como o filme expõe essas fragilidades é demonstrando para o espectador como Lynsey, a protagonista, enxerga o risco de ser morta por uma bomba na guerra como um destino menos cruel do que ter que voltar para a casa de sua mãe.
À medida que o longa avança e se afasta dessa dedicação ao retorno à guerra, melhor ele se torna. Isso se deve, em grande parte, a um interessante relacionamento que surge entre Lynsey e James, um mecânico que perdeu uma das pernas num terrível acidente de carro e que começa a ajudar a protagonista em seu dia a dia.
O roteiro de Elizabeth Sanders, Luke Goebel e Ottessa Moshfegh se afasta de uma história de "volta para a casa" e se aproxima de uma história sobre "traumas compartilhados que um lugar pode trazer para a vida de uma pessoa"; e o que, a partir disso, pode sair de bom.
Lawrence não teve um papel tão bom em anos e Henry, mais uma vez, prova que é um dos atores mais interessantes em ascensão. Temos aqui um exemplo de filme que cresce lentamente, mas que celebra o poder que há em decidirmos sobre nossas próprias vidas.
Leslie (Andrea Riseborough) tem um filho e é uma mulher alcoólatra. Por um acaso do destino, ela vence na loteria, o que a faz ficar muito rica do dia para noite, mas sua dependência química e outros problemas pessoais e familiares a levarão à sua ruína financeira, física, emocional e psicológica.
Minha conexão com este filme foi instantânea. Eu consegui me ver em Leslie, no filho de Leslie, na família de Leslie… Enfim, o filme me proporcionou tantos ângulos e pontos de vista diferentes que a criação de empatia foi inevitável.
Andrea Riseborough está excelente. O papel-título é dificílimo, triste mesmo, na acepção mais genuína da palavra. E ela consegue tirar de letra, com uma naturalidade espantosa. Em vários momentos, peguei-me esquecendo da atriz e enxergando uma pessoa real, com problemas e dilemas reais. Eis a mágica da boa interpretação.
O elenco de apoio também está muito bom. A sempre ótima Allison Janney (como eu amo essa atriz, viu) em mais um papel camaleônico. Já é o terceiro filme com ela em que só me dou conta que é ela lá pela metade. Grande e subestimada atriz. Marc Maron e Owen Teague também foram gratas surpresas reservadas pelo longa.
Estamos diante de um filme indigesto, dramático, mas, sobretudo, comovente. Em que os silêncios dizem muitas coisas. E os olhares e gestos também. Que, mesmo tratando de um tema tão árido e inóspito, faz germinar a semente da esperança nos corações dos mais otimistas (culpado!).
Ah, e vale dizer: eu não sou muito de chorar, não, mas esse aqui me desidratou ao final.
Ambientado no mundo da música clássica, este filme nos convida a conhecer Lydia Tár, considerada uma das maiores compositoras e maestrinas vivas e a primeira mulher a reger uma grande orquestra alemã.
Uau.
O que Cate Blanchett faz e entrega aqui é algo sobre-humano. Sobrenatural, eu diria. E olha que eu já fui tocado por interpretações de diferentes atrizes e de diversas formas ao longo da minha vida, mas ouso dizer que Blanchett atinge um nível nunca antes acessado por mim. Uma atriz em estado de graça. Ela não é a protagonista do filme. Ela é o filme.
Começo o texto sobre "Tár" com uma interjeição não à toa. Um dos melhores textos, uma das melhores direções e, definitivamente, A melhor atuação feminina que eu vi em 2023. E acho difícil algum outro filme bater esses 3 quesitos; somados. Talvez, "Os Banshees de Inisherin" consiga ser melhor nos dois primeiros, mas não há possibilidade dele ser superior no terceiro ponto.
Não tem para ninguém… simples assim. Em "Tár", Blanchett assume o seu posto de melhor atriz da geração, indubitavelmente. Isso, para mim, ficou muito claro. Nenhuma outra contemporânea já conseguiu entregar de si o que a australiana entregou aqui. E você pode até não gostar do filme (afinal, ele não é para todos os gostos), mas não há como deixar de reconhecer o feito alcançado por ela.
E, como se não bastasse toda a carga de sentimentos empregados por nossa alteza, Field (diretor e roteirista da obra) assina, com elegância e sofisticação, uma história que traz muitas possibilidades de interpretação, o que só pode enriquecer a experiência do espectador.
Há uma atmosfera meio lúgubre, meio áspera, meio etérea, meio asseada que envolve e embala a narrativa. Isso me deixou verdadeiramente fascinado e preso ao que via na tela.
Foram 158 minutos de pura beleza, puro caos e, claro, Cinema de altíssimo nível.
Um homem (Ron Silver) casado trai a sua esposa (Małgorzata Zajączkowska) com uma mulher casada (Lena Olin) e, repentinamente, descobre que sua primeira esposa (Anjelica Huston), dada como morta há anos, na verdade, está viva.
A narrativa de Paul Mazursky e Roger L. Simon começa de forma promissora e consegue prender a atenção até certa medida. O problema é que, no terceiro ato, o longa-metragem acaba dando alguns deslizes, optando por soluções fáceis ou bobas para resolver questões complexas e, inicialmente, importantes.
Existem qualidades inquestionáveis no filme, como algumas atuações. Destaco especialmente as interpretações de Anjelica Huston e Lena Olin. Ambas estão magnéticas em cena e captam o espectador apenas com o olhar em vários momentos. O restante do elenco, incluindo o protagonista, está ok: algo entre bom e mediano.
Para um filme que levanta questionamentos e reflexões interessantes, inerentes aos afetos provenientes das relações humanas, acho que ele deixa a desejar um pouco em sua conclusão. Contudo, o início e o meio do filme valem a pena serem vistos, pois trazem algo verdadeiramente substancial para o espectador.
E, poxa, eu pensei que conhecia histórias de homem cafajeste, viu, mas essa aqui…
Os modelos Carl e Yaya são convidados para um cruzeiro de luxo (ou iate de luxo, se preferir) juntamente com outros passageiros super-ricos. A princípio, tudo corria bem e a viagem estava rendendo bons cliques para as redes sociais do jovem casal, mas a embarcação sofre um ataque e o que parecia ser um sonho termina catastroficamente com o grupo abandonado e esquecido em uma ilha deserta.
Curioso como o filme nos explica seu título logo na primeira sequência, numa cena interessante e, aparentemente, desprovida de intencionalidades (mas, ao mesmo tempo, cheia delas). Aliás, a meu ver, este é o grande propósito do filme: ele parece mostrar menos do que, de fato, está mostrando em suas cenas. Isso pode ser entendido como algo ruim para alguns, mas bom para outros.
Do elenco, o único rosto familiar para mim foi o de Woody Harrelson, que está ótimo no papel, por sinal, mas, infelizmente, faz apenas uma breve participação. O casal de protagonistas também está muito bom no filme. Os atores Harris Dickinson e Charlbi Dean, que dão vida a Carl e à Yaya, conseguiram atingir seus objetivos em todas as cenas, na minha opinião. Em tempo: não lembro de ter visto uma atuação ruim no filme. Todos estão bem, de certa forma, apesar dos pesares.
A primeira metade do filme me agradou bastante. Toda aquela crítica tecida sobre a frivolidade, vulgaridade e futilidade de pessoas bilionárias me pareceu um aceno sarcástico e irônico do roteiro para uma realidade cruel que nos cerca. Porém, contudo, todavia, no entanto…
…O que, para mim, foi indigesto neste longa-metragem do diretor sueco Ruben Östlund, além daquela sequência escatológica e desesperadora em que as personagens passam mal no jantar (da qual, apesar de aflitiva ao extremo, eu gostei), é o que se vê a partir do ataque pirata à embarcação e o que se desenrola dali em diante.
Resumidamente, se a primeira metade do filme muito me agradou, com todas as suas sutilezas nada sutis, a segunda metade foi uma experiência desagradável. Quase péssima, eu diria. Todo aquele enredo que se passa na ilha foi exaustivo de conferir. Sem falar que tudo aquilo ficou bem descolado da verossimilhança do resto, como se o autor estivesse quebrando contratos com os espectadores. Acho isso chato quando acontece.
Para finalizar, a tristeza sem fim foi o que nos reservou a realidade: o falecimento repentino da protagonista Charlbi Dean, em agosto de 2022, aos 32 anos. Ela parecia ter uma carreira brilhante pela frente. Que descanse em paz.
Os excêntricos pais de Annie (Nicole Kidman) e Buster (Jason Bateman) são artistas famosos que usavam seus filhos em seus números quando eles eram crianças. Já adultos, os irmãos Fang são unidos pelo destino novamente quando os pais (Maryann Plunkett e Christopher Walken) desaparecem misteriosamente durante uma viagem de carro.
O filme traz discussões interessantes sobre o exercício da Arte. À medida em que fui assistindo, várias reflexões e vários pensamentos sobre esse tema foram surgindo em minha cabeça. Todos eles de alguma maneira orbitando a questão central da obra: "existem limites para a Arte?". O longa tenta responder essa pergunta no final e a resposta, para o bem ou para o mal, é polêmica, mas, de certa maneira, covarde.
Jason Bateman (diretor e protagonista) nos conduz em sua jornada de reflexão sobre a relação complexa e complicada que há entre pais e filhos que viveram suas vidas numa espécie bizarra de dependência artística, afetiva e profissional, sem que nunca essas tumultuadas relações fossem colocadas em xeque.
Kidman e Bateman até que defendem minimamente bem seus papéis. Conseguem trazer alguma profundidade aos irmãos afundados em dúvidas, paranóias e questionamentos sobre os seus pais. Walken, que interpreta o pai, faz uma espécie de participação especial, pois passa mais da metade do filme desaparecido. Já Maryann Plunkett, a mãe, não está lá essas coisas e me convenceu pouco sobre a mulher fatalmente influenciada pelos anseios megalomaníacos de seu marido.
Apesar de bem intencionado, o filme possui suas falhas e equívocos. É arrastado no início e tem uma barriga enorme no meio para se apressar no final. O desfecho, além de pouco convincente, traz uma resposta chata, infantil e fácil para os dilemas abarcados pela obra. Questões familiares complexas como as que se vê aqui podem até se resolver de uma maneira fácil, mas não as que envolvem a Arte. E, nesse sentido, a resolução proposta pelo filme é falha, insossa e nada agregadora.
A Rainha Ramonda, a princesa Shuri, M'Baku, Okoye e Dora Milaje lutam para proteger Wakanda das potências mundiais após a morte do Rei T'Challa. Enquanto os wakandanos se esforçam para prosseguir em meio ao luto, os heróis devem se unir para combater a ameaça que vem das profundezas dos oceanos liderada por Namor.
Já dizia Martin Scorsese: "isso não é Cinema, é um parque de diversões". E não tem nenhum problema nisso. O problema é que nem como parque de diversão os filmes da Marvel têm funcionado mais. Eles não divertem. É um entretenimento tão básico e que só repete uma fórmula esgotada; que, raramente, traz alguma coisa que valha a pena.
Nesta continuação de "Black Panther", alguns aspectos são legais, como a atuação de alguns componentes do elenco (não todos, claro). Angela Bassett talvez seja a que melhor traduz o que o filme possui de mais autêntico, bonito e potente. A atriz está muito bem em cena e - SPOILER - é realmente uma pena que os roteiristas tenham decidido matar a sua personagem. O universo "Pantera Negra" perde muito com isso.
Outra boa atuação que merece destaque é a de Tenoch Huerta, que dá vida ao "vilão". O ator traz textura para o seu personagem, tornando-o bidimensional, o que é interessante para personagens assim. Danai Gurira e Lupita Nyong'o também estão ótimas.
Já outros integrantes do elenco oscilam de mal a pior, como Dominique Thorne, Julia Louis-Dreyfus e Martin Freeman (esses dois últimos estão ruins mais pelas personagens em si do que pelo desempenho). A própria Letitia Wright (que deveria ser a protagonista) entrega uma interpretação inconsistente, apagada e fora do tom em alguns momentos. A mim, não convenceu nadinha como a nova Pantera Negra.
O roteiro é fraco. É insosso. Entre outras coisas, o filme parece querer executar algo que ainda não estava maduro o suficiente. É como querer dar à luz um filho que ainda não foi completamente gestado. É claro que ele vai nascer com problemas. Mais uma vez, o ritmo do mercado tolhe e faz padecer a liberdade artística e de criação.
Pelo menos, o resultado que se vê aqui não é necessariamente um desastre como outros filmes da casa, mas é absolutamente mediano.
Uma comédia de erros espanhola centrada em oito homens (que, aparentemente, não se conhecem) na faixa dos 40 anos, todos eles com crises de identidade, nos relacionamentos e na vida, de alguma maneira.
Mais um daqueles filmes episódicos em que as personagens desenvolvem suas histórias paralelamente e você tenta costura-las enquanto assiste. Eu, particularmente, gosto deste tipo de filme, mas há quem não curta tanto.
O elenco está muito bom. Temos Ricardo Darín, Javier Cámara, Leonardo Sbaraglia, Luis Tosar, Candela Peña, Eduardo Noriega, Eduard Fernández e muitos outros. Cada sequência traz uma crônica sobre as personagens tratadas, algumas mais engraçadas, outras mais puxadas ao drama.
De maneira geral, o filme me agradou bastante e foi uma grata surpresa. Confesso que dei o play apenas porque vi que Leonardo Sbaraglia estava no elenco e eu havia me encantado por ele há algum tempo em "Coração Errante". Infelizmente, a crônica de seu personagem é a menos interessante, a mais rápida e menos conectada ao filme como um todo. Nem isso foi capaz de me fazer perder o interesse pela obra, o que é um bom sinal.
O longa se revelou um passatempo divertido, inteligente e que esboça uma análise interessante sobre algumas das masculinidades que existem por aí aos montes e que carecem, às vezes, de um olhar mais atencioso sobre o porquê delas serem como são.
Um acidente num acampamento cria um racha entre os participantes de um campo de treinamento para sobrevivência em situações extremas. Agora, é preciso lutar para continuar vivo diante de pessoas armadas e com pensamentos extremistas.
A sinopse parece tratar de uma segunda-feira aqui no Brasil. Mas não estamos na Terra do Samba, e sim em alguma parte congelante do Canadá, onde um grupo de pessoas com dinheiro e tempo livre se dedicam a aprender a sobreviver num mundo apocalíptico tendo como guru uma espécie de Olavo de Carvalho canadense
Sim, isso mesmo. Está tudo bem no mundo ao redor. São as personagens mesmo que sentem uma necessidade de, apenas por precaução (vai que), aprender a sobreviver. Afinal, nunca se sabe quando você vai precisar fazer armadilhas para ursos e estocar pasta de amendoim na despensa.
A premissa soa interessante num primeiro momento, com todo aquele thriller crescendo em torno do "homem é o lobo do próprio homem", mas sabe quando você assiste a um filme e várias perguntas vão surgindo na sua cabeça? Aí, no final, você fica meio sem entender se era só aquilo mesmo ou você não foi inteligente o suficiente para capturar a crítica?
O filme é muito literal. E eu tenho uma preguiça de filmes muito literais (sobretudo os que possuem atuações fraquinhas como as que se vê aqui). Pouquíssimos me agradam. Eu gosto mais da dubiedade, do não-dito, das incertezas. Aqui é tudo preto no branco. Sem graça. Chato. E o resultado, a meu ver, é esse: fraco.
O taxista Max se vê diante da possibilidade de ganhar uma grande quantia de dinheiro fazendo uma simples corrida, mas tudo vira um pesadelo quando ele descobre que o passageiro é Vincent, um assassino profissional.
Apesar do ritmo legal, o que é uma obrigatoriedade para filmes de ação, "Callateral" peca em algumas passagens e no desenvolvimento dramático de alguns pontos-chaves.
Tanto Tom Cruise quanto Jamie Foxx estão ótimos em seus papéis e são vitais para que o filme funcione minimamente bem. Cruise, de quem não sou muito fã, consegue estabelecer uma surpreendente interpretação (talvez uma das melhores de sua carreira).
Michael Mann entregou aqui um filme que possui erros e acertos. A mim, os acertos falaram um pouquinho mais alto (apesar do terceiro ato escorregar legal em alguns momentos). No fim, temos uma "Tela Quente" mais sofisticada que o habitual e que consegue dar boas doses de entretenimento ao espectador.
Charlie (Brendan Fraser) é um professor de inglês que vive recluso em seu apartamento por sofrer de obesidade mórbida. De dentro da sua casa e com uma série de limitações, ele dá suas aulas e recebe visitas regulares de Liz (Hong Chau), uma enfermeira que o ajuda a viver minimamente bem e com dignidade.
Após um reencontro inesperado com sua filha adolescente problemática, Ellie (Sadie Sink), Charlie tenta se reconectar com ela a fim de obter sua redenção como pai. Entre os seus encontros com Liz e Ellie, Charlie também tem alguns momentos com Thomas (Ty Simpkins), um garoto evangélico que tenta fazê-lo se arrepender de sua vida como homossexual para, então, encontrar a paz e o descanso eternos com o perdão de Deus.
Sabe aquele filme que tinha potencial para ser muito bom, quase excelente? Pois é. Acho que esse é o caso aqui. Com erros e acertos em sua filmografia, Darren Aronofsky é um diretor competente e, querendo ou não, sempre chama a atenção do público e da crítica.
O cineasta tinha em mãos alguns pontos a seu favor com os quais poderia ter trabalhado de uma forma melhor a fim de tornar o filme algo, realmente, relevante para o tema tratado. No entanto, acredito que ele preferiu se concentrar em produzir algo superficial, reducionista e excessivamente sensacionalista (em alguns momentos).
Para além disso, na minha opinião, o filme ganharia muito se a lupa estivesse em cima apenas de Brendan Fraser e Hong Chau. Deixa eu melhorar o que disse. Acho que o longa seria infinitamente melhor se houvesse apenas esses dois artistas com suas respectivas personagens durante todo o jogo cênico.
Quando são os dois que preenchem a tela tudo fica tão bom, tão interessante de se ver, tão profundo. Mas aí… tem o resto. E o resto é tão dispensável para a narrativa. Deixa tudo cansativo e enfadonho, principalmente, a dinâmica entre Sink-Fraser, Simpkins-Fraser e Sink-Simpkins. Essa última dupla é terrível. Os dois atores estão péssimos (mal dirigidos mesmo porque eles têm talento) e não contribuem em absolutamente NADA para o arcabouço da história.
Se fosse um filme com a mesma duração apenas com diálogos entre Fraser e Chau, poderia ter sido perfeito. Mas assim não quis o destino. Ou melhor, Aronofsky.
Com uma roupagem de comédia romântica sobre rodas, "Calender Girl" é, na verdade, um conto monótono sobre a moralidade masculina e a terrível capacidade que os homens têm de fetichizar seus objetos de desejo, o que acaba soando um tanto hipócrita quando se olha o contexto geral do filme que tenta esboçar o real significado da amizade.
A estranha narração apresenta os três "protagonistas" do filme (que não protagonizam nada), que estão destinados a adorar Marilyn Monroe para sempre. Eles se conheceram aos 6 anos e, aos 12, puderam experimentar seus impulsos sexuais quando se depararam com o famoso calendário que trazia a atriz platinada nua.
Desde então, os 3 amigos cresceram absolutamente fascinados pela artista (mais no sentido do fetiche e da sexualização do que, necessariamente, da admiração por seu talento como atriz) e, na primeira oportunidade de conhecê-la de perto, eles irão aproveitá-la para não deixar de ver e conhecer Marilyn para além da tela grande do cinema.
Lamentavelmente, uma vez que o trio chega em Hollywood e começa uma vigília do lado de fora da casa de Monroe, o filme fica estático. O principal problema é o roteiro esquemático e sem graça de Paul W. Shapiro, que consiste nas intermináveis maquinações dos meninos para encontrar Monroe. Um desses esforços é colocar uma vaca no quintal da estrela por causa de seu suposto amor pelos animais (tipo ???????).
Enquanto Monroe é sempre vista de longe e apenas sua voz é ouvida pelo espectador, sua mística carismática consegue ser mantida. No entanto, o longa comete o equívoco de deixar um dos rapazes realizar o seu sonho: enfim, ele se “encontra” com Monroe e o que era para ser o grande clímax da obra, revela-se uma sequência particularmente fraca e tediosa.
Priestley parece bonito, mas de uma maneira insípida. Não é exatamente interessante assisti-lo em cena. Seus colegas Olds e O'Connell se registram melhor nas sequências, mas todos são prejudicados por uma escrita nada inspirada e uma direção terrivelmente enfadonha.
Mais de uma década após os eventos do primeiro filme, a história de "Avatar: The Way of Water" acompanha a jornada da família Sully (Jake, Neytiri e seus filhos), juntamente com os problemas que os seguem, o quanto eles precisam fazer para manter um ao outro seguros, as batalhas que precisam travar para permanecerem vivos e as tragédias que eles devem suportar e superar.
Assim como o primeiro, esta continuação não é para todos e divide bastante as opiniões. Há quem ame, há quem odeie. A mim, o filme desagradou em partes, mas conseguiu agradar em sua maioria. Vê-lo no cinema foi uma boa escolha. Acredito que esse tipo de filme precisa ser visto no cinema e não na TV em casa, pois isso compromete e interfere demais a experiência. No entanto, cada um com as suas escolhas e tá tudo certo.
Não sou o tipo de pessoa que cai de amores por essa história e pela mitologia de "Pandora". Acho que muitas coisas são legais, criativas e inventivas. Contudo, outros aspectos são "mais do mesmo" do que se vê nos grandes blockbusters hollywoodianos, o que pode enfraquecer o ritmo em alguns momentos e enfadar em certa medida. Também não me considero um detrator de "Avatar". Ou seja, encontro-me num limbo existencial que gosta com ressalvas e critica com afeto.
A verdade sobre essa história é que ela, de alguma maneira, mexe com os sentidos e emoções do grande público e, de alguma forma, mesmo tendo seres extraterrestres no centro de sua narrativa, trata de sentimentos muito humanos. Este é um mérito irrevogável de James Cameron e inescapável quando olhamos para a sua filmografia.
Talvez esteja aí o grande segredo do sucesso do homem que possui 3 filmes no top 5 das maiores bilheterias de toda a História do Cinema. Não é para qualquer um. Vamos reconhecer. Há algum mérito aí.
Se há exagero por parte de quem fala mal, também há por parte de quem só elogia. O filme, definitivamente, não é impecável. Muitas coisas ali estão mal colocadas ou mal resolvidas na história. Alguns pontos-chaves de "The Way of Water" conversam pessimamente com o que foi estabelecido 13 anos atrás.
Mesmo assim, apesar dos pesares, vale a pena ser visto, mesmo que seja apenas para conferir a História do Cinema ser escrita diante dos seus olhos.
"Punch-Drunk Love" é um filme que se aproxima de maneira furtiva do espectador - o que eu gosto bastante - e para salvar as surpresas e não dar nenhum spoiler, vou apenas dizer que: Sandler interpreta Barry Egan, um vendedor extremamente tímido de San Fernando Valley (e que eu acho que possui algum grau de autismo - confirma, produção?). Barry tem sete irmãs que o afetam psicológica e emocionalmente. Uma delas o apresenta a Lena Leonard (Emily Watson) e isso logo mudará as coisas para Barry.
Muita gente acredita na falácia de que Adam Sandler é um péssimo ator. Eu acredito que ele pode ser um péssimo "escolhedor" de projetos, mas, quando bem aproveitado, o homem surpreende, viu? Tenho certeza que este filme passou batido e despercebido por muitas pessoas só porque traz Sandler como protagonista.
Bom, essas pessoas não sabem o que estão perdendo. Essa é a verdade.
Além de Adam chocar muita gente com a ferocidade e o sentimento de sua atuação em "Punch-Drunk Love", Paul Thomas Anderson incendeia a sua narrativa com uma direção precisa, poderosa e especial. PTA consegue manter a essência de Sandler em cena (com o seu coração e o seu humor tão reconhecidos pelo grande público), e faz isso com um propósito, a fim de moldá-lo em um filme com peso cômico - sem que se perda o drama - e dramático - sem que se perda o humor.
O filme dura apenas oitenta e nove minutos, o que faz dele um dos mais curtos do diretor ("Magnolia", meu preferido do PTA, dura 3 horas), mas não há como não notar as marcas registradas de Anderson: a emoção, o estilo e a inovação surpreendente: estão todos lá. Sequências com coreografias de câmera que dão inveja em qualquer um.
O filme é muito bom e não envelheceu um dia sequer. Se você ainda não viu, por favor, ASSISTA!
Todos os dias, Pádraic Súilleabháin (Colin Farrell) caminhava pela estrada de terra que corre ao longo da borda de sua aldeia na ilha de Inisherin, passando pelas paredes de pedra e pela estátua da Virgem Maria, até chegar à casa de Colm Doherty (Brendan Gleeson). Em seguida, os dois iam juntos até o pub local e passavam as suas tardes conversando, à base de muitas músicas e muito álcool.
Tem sido assim desde que Pádraic se lembra. E seria assim que as coisas poderiam seguir até o fim dos tempos. Pelo menos, na cabeça de Pádraic. Só que um fato surpreendente e incompreensível o faz recalcular a rota: Colm decide, de forma absolutamente inesperada, que não quer mais ser amigo de Pádraic. Assim, do dia para a noite. O motivo? Bem, você precisará ver o filme se quiser descobrir.
Quando assisti a esta pequena e recém-nascida obra-prima, na sala de cinema, passei por um daqueles momentos em que somos tocados pela arte em seu estado mais puro. Estamos diante de um filme que possui uma beleza colossal e cujo texto, apesar de simples, é igualmente penetrante e belo.
Fiquei em estado de graça por tudo o que vi, contemplei e senti ao longo dos 114 minutos em que a película brilhou na tela grande. E a cada instante que passou e que passa, desde então, o filme só cresceu dentro de mim.
Existe uma concretude nele, é verdade, mas existe também o abstrato, o metafórico, o que não está expresso tão obviamente nas linhas gerais do roteiro, que não se vê na superfície. E as interpretações podem ser tantas quanto possíveis forem.
Não há apenas um filme aqui. Há vários. E eles se desenrolam e percorrem o interior do espectador, que procura um sentido para tudo o que vê. Alguns têm a felicidade de encontrar esse sentido. Outros, uma felicidade maior ainda por não conseguirem e terem algo totalmente aberto e alegórico diante de seus olhos.
McDonagh desembaralha sua história de homens que se comportam mal de uma maneira sutil e delicada (o que é uma contradição a ser notada). Não querendo ignorar ou desmerecer, é claro, o grande trabalho que Barry Keoghan ou Kerry Condon fazem e entregam ali (os dois formam o melhor par de coadjuvantes que já se viu em muito tempo), mas é a dupla de protagonistas Farrell-Gleeson que traz combustão e alimenta o fogo que precisa queimar e arder no enredo.
É difícil pensar em uma composição que esbarre em tantas nuances emocionais e níveis de profundidade sobre a incompreensão do ser. Pádraic não consegue entender a lógica por trás da atitude de seu amigo, ou melhor, ex-amigo, assim como não consegue controlar suas reações, sua carência emocional ou sua vergonha por ter feito algo que não compreende.
Um trabalho primoroso que reúne em si talentos múltiplos de direção, atuação, roteirização, produção, cinematografia, edição e muitos outros. Um longa-metragem inteligente e perspicaz, com um sem-número de nuances no roteiro e, claro, uma história atemporal sobre amizades que nascem, crescem, morrem… e renascem?
Dois estudantes universitários, Keith e AJ (Chris Makepeace e Robert Rusler), querem contratar uma stripper para conseguirem entrar numa fraternidade do campus onde estudam. Para isso, eles pegam emprestado um Cadillac do estudante rico e solitário Duncan (Gedde Watanabe) e seguem, os três, rumo à cidade mais próxima.
Ao chegarem num misterioso clube de strip-tease, os três garotos ficam impressionados com a stripper Katrina (Grace Jones). AJ visita seu camarim, logo depois do show, para tentar convencê-la a vir se despir para a festa da faculdade, mas Katrina guarda segredos terríveis que farão as vidas dos 3 amigos mudarem para sempre.
O filme começa e você acha que está diante de mais um "besteirol americano", uma comédia pastelão convencional dos anos 1980, mas quando o filme acaba, você se dá conta de que ele não era isso (ou, pelo menos, não era apenas isso).
Um terrir bem divertido se apresenta para nós, com tudo o que se tem direito e se espera de um filme dessa categoria (e que tenha sido produzido nos anos 80). Piadas de cunho sexual, muita tensão sexual, jovens com muita vontade de molhar o biscoito, peitos, muitos deles e… hum… eu já falei de sexo, certo?
A primeira metade do filme é mais arrastada e enfadonha. Deixa a gente numa expectativa que parece não ter fim e não levar a lugar algum (como se um enredo desse pudesse rs). Já a segunda metade nos reserva um bocado de surpresas boas e interessantes, apesar de nenhuma delas estar no elenco e fazer, necessariamente, o filme se sobressair.
Nenhuma atuação chama a atenção, infelizmente. Todos estão apenas "ok". Até mesmo a grande estrela e cereja do bolo, Grace Jones, que, certamente, foi o chamariz nas peças publicitárias do filme e em sua campanha de marketing (segue sendo, inclusive), não está lá essas coisas. O que não deixa de ser uma decepção.
Já adianto que se você for ver o filme por causa dela (assim como eu), sinto informar que ela entra muda e sai calada. Contudo, sua presença é magnética e prende a atenção em todas as suas aparições, mesmo sem uma fala no roteiro. O que não deixa de impressionar.
No fim, temos um thriller bem mediano no melhor estilo "Scooby-Doo". Que encanta pelas qualidades que um filme dos anos 80 pode encantar, mas que chateia pelos defeitos que um filme dos anos 80 também pode ter.
Nesta história dentro de uma história, Anna (Meryl Streep) é uma atriz que contracena com Mike (Jeremy Irons) em um filme de época sobre o amor proibido entre seus respectivos personagens, Sarah e Charles.
Ambos os atores possuem relacionamentos sérios em suas vidas pessoais, mas a natureza apaixonada do roteiro também leva a um caso tórrido de amor atrás das câmeras. Enquanto tentam manter a compostura e o profissionalismo, Anna e Mike lutam para aceitar suas infidelidades.
The French Lieutenant's Woman (1981) é baseado no romance "infilmável" - segundo alguns críticos literários - de John Fowles sobre um caso de amor vitoriano entre a pária social Sarah Woodruff e o cavalheiro Charles Smithson.
Ele foi considerado "infilmável" porque conteria um narrador onisciente, autoconsciente, além de múltiplos finais. A única maneira de tornar a prosa pós-moderna de Fowles "filmável" era o roteirista Harold Pinter se afastar significativamente da fonte.
Na adaptação de Pinter, os atores Anna e Mike interpretam Sarah e Charles em uma produção cinematográfica de "The French Lieutenant's Woman". Enquanto Reisz alterna entre as duas histórias paralelas, observamos dois casos de amor proibidos. O primeiro, entre Sarah e Charles, será familiar para os fãs do romance de Fowles, e o segundo, entre Anna e Mike, que pretende substituir o narrador onisciente no romance de Fowles e contribuir para a pós-modernidade geral.
Streep e Irons são atores reais que interpretam atores fictícios em uma adaptação cinematográfica de um romance; e a adaptação cinematográfica em que Anna e Mike aparecem é a mesma adaptação cinematográfica que vemos se desenrolar na tela. Sim, é muita metalinguagem num filme só. Você tem que se preparar.
A performance de Meryl Streep - indicada ao Oscar por esse papel duplo - é tipicamente poderosa, mas nem ela é capaz de salvar o filme de suas pretensões e inconsistências. Já Irons… bem, Irons encarna mais um papel de homem infiel de sua carreira de homens infiéis.
O filme é bom, não me entenda mal. Possui passagens interessantíssimas e algumas sequências muito bonitas, potencializadas pela cinematografia de Freddie Francis. Contudo, acho que ele se arrasta em seu miolo e acaba de maneira apressada quando, na realidade, precisava de um tratamento melhor para o seu desfecho.
Se julgarmos o filme por atingir ou não seus objetivos, talvez encontraremos um saldo positivo, mas, se julgarmos o filme por ele envolver ou não o espectador de maneira emocional, o saldo é negativo.
Contudo, no entanto, todavia… vale a pena ser conferido.
De Olhos Bem Fechados
3.9 1,5K Assista AgoraEyes Wide Shut (1999)
"De Olhos Bem Fechados" é um filme igualmente fascinante e intrigante, que explora as complexidades e nuances do relacionamento humano, trazendo à tona questões como desejo e atração.
Embora o filme possa parecer arrastado e confuso para alguns, sua narrativa meticulosamente construída é na verdade uma obra-prima de simbolismo e metáfora, que convida o espectador a mergulhar em um mundo obscuro e misterioso.
O genial Stanley Kubrick cria uma atmosfera única e envolvente com sua direção habilidosa, e a trilha sonora arrebatadora de Jocelyn Pook adiciona uma dimensão ainda mais profunda ao enredo.
Tom Cruise e Nicole Kidman entregam performances sutis, mas intensas, e que se complementam perfeitamente para retratar a tensão e a ambiguidade em suas personagens.
O filme é uma reflexão instigante sobre a natureza humana e os limites da lealdade e do compromisso, que permanece relevante e provocativo até os dias de hoje. Kubrick mostrou-se mais uma vez como um mestre da Sétima Arte, construindo habilidosamente uma narrativa complexa e cheia de significados que ressoa muito além da superfície e pode combinar um sem-número de interpretações.
Em resumo, "De Olhos Bem Fechados" é uma obra-prima do Cinema, que convida o espectador a mergulhar em um mundo de mistério e ambiguidade. Oferece uma reflexão fascinante sobre o que é a natureza humana e suas complexidades. É um filme que deve ser visto, revisto e apreciado por todos aqueles que valorizam o Cinema, suas dimensões e a profundidade da experiência humana.
Palavras ao Vento
3.9 53 Assista AgoraWritten on the Wind (1956)
Mitch Wayne (Rock Hudson) é um geólogo que trabalha para os Hadleys, uma família rica em petróleo do Texas.
Enquanto o patriarca, Jared (Robert Keith), trabalha duro para estabelecer os negócios da família, seu filho irresponsável, Kyle (Robert Stack), é um playboy alcoólatra, e sua filha, Marylee (Dorothy Malone), é uma excêntrica socialite.
Mitch nutre um amor secreto pela esposa insatisfeita de Kyle, Lucy (Lauren Bacall).
Não sou profundo conhecedor da obra de Douglas Sirk. Gostei bastante desse filme, que, mesmo em 1956, abordava temas delicados e difíceis para a sociedade daquela época, como alcoolismo, depressão e aborto.
Bacall e Malone são as estrelas que mais brilham no elenco, apesar de Hudson não ficar muito atrás. Ambas estão um arraso em cena. Inclusive, Malone venceu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por esse papel. Ela está, de fato, excepcional.
A narrativa carece de um tratamento melhor em algumas partes dela. No entanto, isso não depõe contra a obra como um todo. É interessante ver como o diretor encontrou algumas saídas e conseguiu surpreender o espectador, de certa maneira.
Um filme perspicaz no roteiro e cheio de sutilezas na direção. Que encanta ora por sua direção de arte ora por sua cinematografia reluzente. Vale a pena conferir.
O Homem de Palha
4.0 482 Assista AgoraThe Wicker Man (1973)
O sargento da polícia Neil Howie (Edward Woodward) é chamado a uma vila em uma ilha em busca de uma garota desaparecida que os moradores afirmam nunca ter existido.
O filme possui uma atmosfera muito peculiar dos filmes dos anos 70, sobretudo os de terror B que conferiam um misticismo ainda maior para as obras. Eis aqui um caso clássico.
Hardy conduz o filme tal qual um dos líderes da seita desta estrambólica ilha, cheia de mistérios e coberta por uma lúgubre nuvem de horrores.
Interessante notar que o protagonista vivido por Edward Woodward tenha envelhecido tão mal, quer dizer, de uma forma tão curiosamente conectada com os "valores" que vemos atrelados à esfera conservadora da sociedade em que vivemos HOJE (sim, mais de 50 anos depois).
Ou seja, o "mocinho", para mim, muitas vezes soou como vilão nesse filme. Muito do que ele diz, faz e como age me remete, inevitavelmente, a um bolsominion que caiu de paraquedas num terreiro de candomblé.
Nesse sentido, aquele final, para nós, brasileiros sensatos, é esvaziado de seu sentido original e passa a ser um tanto redentor. 🔥 rs
Vivendo na Eternidade
3.6 223 Assista AgoraTuck Everlasting (2002)
Ruim, ruim, ruim, ruim, ruim. Nossa, gente, isso aqui é muito ruim. Credo.
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P.S.: Coitada da Sissy Spacek que tinha boletos para pagar.
O Cão e a Raposa
4.1 395 Assista AgoraThe Fox and the Hound (1981)
Quando um filhote de raposa chamado Dodó é adotado por uma senhora, rapidamente, ele se torna amigo de um cachorrinho chamado Toby, que pertencia a um caçador casca-grossa. A vida dos filhotes, a princípio, é cheia de aventuras divertidas, mas não vai demorar muito até eles perceberem que um nasceu para caçar o outro. Será que a amizade sobreviverá a esse terrível destino?
Uma história de dois amigos que não sabiam que estavam fadados a serem inimigos. Há algo mais triste do que isso? E pensar que essa premissa está numa animação deliberadamente infantil é de fazer a gente refletir por alguns segundos em que momento a Walt Disney ficou tão careta nos últimos anos. O que aconteceu com os finais infelizes que o estúdio, vez ou outra, flertava nos idos anos 70, 80 e 90?
A animação tem um estilo que muito me agrada. É aquele desenho feito com lápis que borra o papel e deixa o traçado sujo. Um estilo remanescente que a Disney adotou nos anos 60/70 e se manteve durante um bom tempo em suas animações (até o início da chamada "Era do Renascimento" do estúdio marcado com o lançamento de "A Pequena Sereia", em 1989, que ainda apresentava um pouco desse estilo).
No entanto, se artística e tecnicamente o longa me agrada nesse sentido, o roteiro, por outro lado, desagrada por não se arriscar e ousar muito. Ele fica na superfície de temas interessantes e acaba pecando ao fazer isso. Não se atreve em ir muito além do que estabelece na premissa.
O fim do segundo ato se perde um pouco na história também. E, na minha opinião, houve um equívoco ao se distanciar do plot principal, deixando de desenvolver aspectos importantes ao trazer elementos novos para a narrativa da metade para o fim.
Precisamos dar um desconto, afinal, estamos falando de uma animação destinada ao público infantil. Não podemos esperar muita ousadia nesse sentido, sobretudo, tratando-se de um tema tão pesado (um amigo precisa m4t4r o outro).
Vale a pena ser visto. Tem umas das premissas mais interessantes já suscitadas pela Disney e, certamente, algumas das cenas e sequências mais bonitas e fofas já produzidas por ela.
Barry Lyndon
4.2 400 Assista AgoraBarry Lyndon (1975)
Redmond Barry (Ryan O'Neal) é um irlandês que usa a sua astúcia e inteligência para ascender nas estratificações aristocráticas da Inglaterra do século XVIII, transformando-se no nobre Barry Lyndon, após se casar com Lady Honoria Lyndon (Marisa Berenson).
"Finalmente Redmond Barry se tornou um cavalheiro - e essa foi a sua tragédia."
É curioso como algumas frases conseguem resumir e sintetizar muito bem algumas histórias. A frase citada acima, por exemplo, faz uma bela síntese de toda a ópera envolta à figura multifacetada de Redmond Barry (ou Barry Lyndon).
Este é um daqueles filmes que faz nossa consciência despertar para aquilo que realmente nos fascina na Sétima Arte. Que nos coloca em estado de plena admiração. Que intensifica nossa experiência por coerção. Ou seja, não temos alternativa a não ser nos entregar ao belo. Aos sentimentos mais idílicos e às sensações mais bucólicas do ser.
Mas, ao mesmo tempo, é o tipo de filme que também suscita algo de inédito em nosso inconsciente. Uma coisa meio perversa de se imaginar como alguém moralmente reprovável, eticamente questionável. Inescrupulosamente humano. Desnudado de todo pudor ao passo em que está coberto de toda vergonha. Algo relativamente próprio e inerente de seu realizador, o brilhante Stanley Kubrick, que, infelizmente, partiu cedo demais deste plano.
Barry Lyndon (seja o filme ou a personagem) sobrevive ao tempo e às noções e convenções sociais, sejam elas quais forem. É uma história sobre uma época da qual já não resta qualquer vestígio de semelhança com a nossa realidade (a não ser os abismos socioeconômicos que se intensificam a cada dia), mas, paradoxalmente, é totalmente à frente de seu tempo.
Barry Lyndon existiu, existe e existirá. Barry Lyndon vive. Ele resiste, de certa maneira, em nossas vivências e experiências, das mais triviais às mais privadas e insólitas. Todos nós temos algo de Barry Lyndon para se identificar, para se simpatizar, para se condenar e julgar. Barry Lyndon é uma crítica a um modelo de sociedade, mas, antes de qualquer coisa, é uma crítica ao ser humano como ele se apresenta.
É um lembrete contundente de que nossa maior tragédia pode estar em conseguir o que queremos.
Eo
3.3 96 Assista AgoraEO (2022)
O mundo é um lugar misterioso quando visto pelos olhos de um animal. EO, um burro cinza com olhos melancólicos, conhece pessoas boas e más no caminho de sua vida, experimenta alegria e dor, transforma sua sorte em desastre e seu desespero em felicidade inesperada. Mas nem por um momento ele perde a sua inocência.
Se a primeira meia hora do filme muito me cativou pela interessante premissa a qual a obra se propusera, o restante do filme me deixou cansado, entediado e, às vezes, aflito. O longa-metragem é bonitinho e transmite uma mensagem importante, não me entenda mal, mas acho que não é para mim.
Toda a fofura que se vê no início do filme vai escalonando para algo verdadeiramente perturbador e angustiante à medida que ele avança. Isso me causou um incômodo terrível. Fiquei mal. Algumas sequências eu nem quis ver direito. Tampei meus olhos, tamanha preocupação e aflição que algumas cenas finais me despertaram.
Vi que alguns amigos curtiram e souberam apreciar "EO" como um todo, então, acho de verdade que o problema esteja mais comigo do que com a obra em si. Não faz o meu tipo nem minha cabeça. Simplesmente, não gosto tanto de filmes nesse estilo. No entanto, se você é sensível com enredos e histórias que tratam de animais, não aconselho que veja esse filme. Ok?
Passagem
3.3 113 Assista AgoraCauseway (2022)
Lynsey (Jennifer Lawrence) é uma soldado estadunidense que sofreu uma lesão cerebral traumática enquanto lutava no Afeganistão e tenta se reajustar à vida normal em Nova Orleans. Um dia, ela conhece o mecânico James (Brian Tyree Henry) e, a partir daí, a dupla começa a desenvolver uma amizade inesperada.
"Causeway", da diretora Lila Neugebauer, tem aqueles momentos em que parece ser uma história que já vimos muitas vezes. Mas engana-se quem o vê assim, dessa forma. O filme vai além. Passa por momentos em que mostra como o passado pode nos atingir em cheio, como um tiro que faz sangrar nossas vulnerabilidades mais íntimas.
Um exemplo de como o filme expõe essas fragilidades é demonstrando para o espectador como Lynsey, a protagonista, enxerga o risco de ser morta por uma bomba na guerra como um destino menos cruel do que ter que voltar para a casa de sua mãe.
À medida que o longa avança e se afasta dessa dedicação ao retorno à guerra, melhor ele se torna. Isso se deve, em grande parte, a um interessante relacionamento que surge entre Lynsey e James, um mecânico que perdeu uma das pernas num terrível acidente de carro e que começa a ajudar a protagonista em seu dia a dia.
O roteiro de Elizabeth Sanders, Luke Goebel e Ottessa Moshfegh se afasta de uma história de "volta para a casa" e se aproxima de uma história sobre "traumas compartilhados que um lugar pode trazer para a vida de uma pessoa"; e o que, a partir disso, pode sair de bom.
Lawrence não teve um papel tão bom em anos e Henry, mais uma vez, prova que é um dos atores mais interessantes em ascensão. Temos aqui um exemplo de filme que cresce lentamente, mas que celebra o poder que há em decidirmos sobre nossas próprias vidas.
A Sorte Grande
3.4 89 Assista AgoraTo Leslie (2022)
Leslie (Andrea Riseborough) tem um filho e é uma mulher alcoólatra. Por um acaso do destino, ela vence na loteria, o que a faz ficar muito rica do dia para noite, mas sua dependência química e outros problemas pessoais e familiares a levarão à sua ruína financeira, física, emocional e psicológica.
Minha conexão com este filme foi instantânea. Eu consegui me ver em Leslie, no filho de Leslie, na família de Leslie… Enfim, o filme me proporcionou tantos ângulos e pontos de vista diferentes que a criação de empatia foi inevitável.
Andrea Riseborough está excelente. O papel-título é dificílimo, triste mesmo, na acepção mais genuína da palavra. E ela consegue tirar de letra, com uma naturalidade espantosa. Em vários momentos, peguei-me esquecendo da atriz e enxergando uma pessoa real, com problemas e dilemas reais. Eis a mágica da boa interpretação.
O elenco de apoio também está muito bom. A sempre ótima Allison Janney (como eu amo essa atriz, viu) em mais um papel camaleônico. Já é o terceiro filme com ela em que só me dou conta que é ela lá pela metade. Grande e subestimada atriz. Marc Maron e Owen Teague também foram gratas surpresas reservadas pelo longa.
Estamos diante de um filme indigesto, dramático, mas, sobretudo, comovente. Em que os silêncios dizem muitas coisas. E os olhares e gestos também. Que, mesmo tratando de um tema tão árido e inóspito, faz germinar a semente da esperança nos corações dos mais otimistas (culpado!).
Ah, e vale dizer: eu não sou muito de chorar, não, mas esse aqui me desidratou ao final.
Tár
3.7 395 Assista AgoraTár (2022)
Ambientado no mundo da música clássica, este filme nos convida a conhecer Lydia Tár, considerada uma das maiores compositoras e maestrinas vivas e a primeira mulher a reger uma grande orquestra alemã.
Uau.
O que Cate Blanchett faz e entrega aqui é algo sobre-humano. Sobrenatural, eu diria. E olha que eu já fui tocado por interpretações de diferentes atrizes e de diversas formas ao longo da minha vida, mas ouso dizer que Blanchett atinge um nível nunca antes acessado por mim. Uma atriz em estado de graça. Ela não é a protagonista do filme. Ela é o filme.
Começo o texto sobre "Tár" com uma interjeição não à toa. Um dos melhores textos, uma das melhores direções e, definitivamente, A melhor atuação feminina que eu vi em 2023. E acho difícil algum outro filme bater esses 3 quesitos; somados. Talvez, "Os Banshees de Inisherin" consiga ser melhor nos dois primeiros, mas não há possibilidade dele ser superior no terceiro ponto.
Não tem para ninguém… simples assim. Em "Tár", Blanchett assume o seu posto de melhor atriz da geração, indubitavelmente. Isso, para mim, ficou muito claro. Nenhuma outra contemporânea já conseguiu entregar de si o que a australiana entregou aqui. E você pode até não gostar do filme (afinal, ele não é para todos os gostos), mas não há como deixar de reconhecer o feito alcançado por ela.
E, como se não bastasse toda a carga de sentimentos empregados por nossa alteza, Field (diretor e roteirista da obra) assina, com elegância e sofisticação, uma história que traz muitas possibilidades de interpretação, o que só pode enriquecer a experiência do espectador.
Há uma atmosfera meio lúgubre, meio áspera, meio etérea, meio asseada que envolve e embala a narrativa. Isso me deixou verdadeiramente fascinado e preso ao que via na tela.
Foram 158 minutos de pura beleza, puro caos e, claro, Cinema de altíssimo nível.
Inimigos, Uma História de Amor
3.1 7Enemies: A Love Story (1989)
Um homem (Ron Silver) casado trai a sua esposa (Małgorzata Zajączkowska) com uma mulher casada (Lena Olin) e, repentinamente, descobre que sua primeira esposa (Anjelica Huston), dada como morta há anos, na verdade, está viva.
A narrativa de Paul Mazursky e Roger L. Simon começa de forma promissora e consegue prender a atenção até certa medida. O problema é que, no terceiro ato, o longa-metragem acaba dando alguns deslizes, optando por soluções fáceis ou bobas para resolver questões complexas e, inicialmente, importantes.
Existem qualidades inquestionáveis no filme, como algumas atuações. Destaco especialmente as interpretações de Anjelica Huston e Lena Olin. Ambas estão magnéticas em cena e captam o espectador apenas com o olhar em vários momentos. O restante do elenco, incluindo o protagonista, está ok: algo entre bom e mediano.
Para um filme que levanta questionamentos e reflexões interessantes, inerentes aos afetos provenientes das relações humanas, acho que ele deixa a desejar um pouco em sua conclusão. Contudo, o início e o meio do filme valem a pena serem vistos, pois trazem algo verdadeiramente substancial para o espectador.
E, poxa, eu pensei que conhecia histórias de homem cafajeste, viu, mas essa aqui…
Triângulo da Tristeza
3.6 730 Assista AgoraTriangle of Sadness (2022)
O texto abaixo pode conter spoilers.
Os modelos Carl e Yaya são convidados para um cruzeiro de luxo (ou iate de luxo, se preferir) juntamente com outros passageiros super-ricos. A princípio, tudo corria bem e a viagem estava rendendo bons cliques para as redes sociais do jovem casal, mas a embarcação sofre um ataque e o que parecia ser um sonho termina catastroficamente com o grupo abandonado e esquecido em uma ilha deserta.
Curioso como o filme nos explica seu título logo na primeira sequência, numa cena interessante e, aparentemente, desprovida de intencionalidades (mas, ao mesmo tempo, cheia delas). Aliás, a meu ver, este é o grande propósito do filme: ele parece mostrar menos do que, de fato, está mostrando em suas cenas. Isso pode ser entendido como algo ruim para alguns, mas bom para outros.
Do elenco, o único rosto familiar para mim foi o de Woody Harrelson, que está ótimo no papel, por sinal, mas, infelizmente, faz apenas uma breve participação. O casal de protagonistas também está muito bom no filme. Os atores Harris Dickinson e Charlbi Dean, que dão vida a Carl e à Yaya, conseguiram atingir seus objetivos em todas as cenas, na minha opinião. Em tempo: não lembro de ter visto uma atuação ruim no filme. Todos estão bem, de certa forma, apesar dos pesares.
A primeira metade do filme me agradou bastante. Toda aquela crítica tecida sobre a frivolidade, vulgaridade e futilidade de pessoas bilionárias me pareceu um aceno sarcástico e irônico do roteiro para uma realidade cruel que nos cerca. Porém, contudo, todavia, no entanto…
…O que, para mim, foi indigesto neste longa-metragem do diretor sueco Ruben Östlund, além daquela sequência escatológica e desesperadora em que as personagens passam mal no jantar (da qual, apesar de aflitiva ao extremo, eu gostei), é o que se vê a partir do ataque pirata à embarcação e o que se desenrola dali em diante.
Resumidamente, se a primeira metade do filme muito me agradou, com todas as suas sutilezas nada sutis, a segunda metade foi uma experiência desagradável. Quase péssima, eu diria. Todo aquele enredo que se passa na ilha foi exaustivo de conferir. Sem falar que tudo aquilo ficou bem descolado da verossimilhança do resto, como se o autor estivesse quebrando contratos com os espectadores. Acho isso chato quando acontece.
Para finalizar, a tristeza sem fim foi o que nos reservou a realidade: o falecimento repentino da protagonista Charlbi Dean, em agosto de 2022, aos 32 anos. Ela parecia ter uma carreira brilhante pela frente. Que descanse em paz.
Desafiando a Arte
3.1 38 Assista AgoraThe Family Fang (2015)
Os excêntricos pais de Annie (Nicole Kidman) e Buster (Jason Bateman) são artistas famosos que usavam seus filhos em seus números quando eles eram crianças. Já adultos, os irmãos Fang são unidos pelo destino novamente quando os pais (Maryann Plunkett e Christopher Walken) desaparecem misteriosamente durante uma viagem de carro.
O filme traz discussões interessantes sobre o exercício da Arte. À medida em que fui assistindo, várias reflexões e vários pensamentos sobre esse tema foram surgindo em minha cabeça. Todos eles de alguma maneira orbitando a questão central da obra: "existem limites para a Arte?". O longa tenta responder essa pergunta no final e a resposta, para o bem ou para o mal, é polêmica, mas, de certa maneira, covarde.
Jason Bateman (diretor e protagonista) nos conduz em sua jornada de reflexão sobre a relação complexa e complicada que há entre pais e filhos que viveram suas vidas numa espécie bizarra de dependência artística, afetiva e profissional, sem que nunca essas tumultuadas relações fossem colocadas em xeque.
Kidman e Bateman até que defendem minimamente bem seus papéis. Conseguem trazer alguma profundidade aos irmãos afundados em dúvidas, paranóias e questionamentos sobre os seus pais. Walken, que interpreta o pai, faz uma espécie de participação especial, pois passa mais da metade do filme desaparecido. Já Maryann Plunkett, a mãe, não está lá essas coisas e me convenceu pouco sobre a mulher fatalmente influenciada pelos anseios megalomaníacos de seu marido.
Apesar de bem intencionado, o filme possui suas falhas e equívocos. É arrastado no início e tem uma barriga enorme no meio para se apressar no final. O desfecho, além de pouco convincente, traz uma resposta chata, infantil e fácil para os dilemas abarcados pela obra. Questões familiares complexas como as que se vê aqui podem até se resolver de uma maneira fácil, mas não as que envolvem a Arte. E, nesse sentido, a resolução proposta pelo filme é falha, insossa e nada agregadora.
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
3.5 799 Assista AgoraBlack Panther: Wakanda Forever (2022)
A Rainha Ramonda, a princesa Shuri, M'Baku, Okoye e Dora Milaje lutam para proteger Wakanda das potências mundiais após a morte do Rei T'Challa. Enquanto os wakandanos se esforçam para prosseguir em meio ao luto, os heróis devem se unir para combater a ameaça que vem das profundezas dos oceanos liderada por Namor.
Já dizia Martin Scorsese: "isso não é Cinema, é um parque de diversões". E não tem nenhum problema nisso. O problema é que nem como parque de diversão os filmes da Marvel têm funcionado mais. Eles não divertem. É um entretenimento tão básico e que só repete uma fórmula esgotada; que, raramente, traz alguma coisa que valha a pena.
Nesta continuação de "Black Panther", alguns aspectos são legais, como a atuação de alguns componentes do elenco (não todos, claro). Angela Bassett talvez seja a que melhor traduz o que o filme possui de mais autêntico, bonito e potente. A atriz está muito bem em cena e - SPOILER - é realmente uma pena que os roteiristas tenham decidido matar a sua personagem. O universo "Pantera Negra" perde muito com isso.
Outra boa atuação que merece destaque é a de Tenoch Huerta, que dá vida ao "vilão". O ator traz textura para o seu personagem, tornando-o bidimensional, o que é interessante para personagens assim. Danai Gurira e Lupita Nyong'o também estão ótimas.
Já outros integrantes do elenco oscilam de mal a pior, como Dominique Thorne, Julia Louis-Dreyfus e Martin Freeman (esses dois últimos estão ruins mais pelas personagens em si do que pelo desempenho). A própria Letitia Wright (que deveria ser a protagonista) entrega uma interpretação inconsistente, apagada e fora do tom em alguns momentos. A mim, não convenceu nadinha como a nova Pantera Negra.
O roteiro é fraco. É insosso. Entre outras coisas, o filme parece querer executar algo que ainda não estava maduro o suficiente. É como querer dar à luz um filho que ainda não foi completamente gestado. É claro que ele vai nascer com problemas. Mais uma vez, o ritmo do mercado tolhe e faz padecer a liberdade artística e de criação.
Pelo menos, o resultado que se vê aqui não é necessariamente um desastre como outros filmes da casa, mas é absolutamente mediano.
O Que os Homens Falam
3.3 78 Assista AgoraUna Pistola en Cada Mano (2012)
Uma comédia de erros espanhola centrada em oito homens (que, aparentemente, não se conhecem) na faixa dos 40 anos, todos eles com crises de identidade, nos relacionamentos e na vida, de alguma maneira.
Mais um daqueles filmes episódicos em que as personagens desenvolvem suas histórias paralelamente e você tenta costura-las enquanto assiste. Eu, particularmente, gosto deste tipo de filme, mas há quem não curta tanto.
O elenco está muito bom. Temos Ricardo Darín, Javier Cámara, Leonardo Sbaraglia, Luis Tosar, Candela Peña, Eduardo Noriega, Eduard Fernández e muitos outros. Cada sequência traz uma crônica sobre as personagens tratadas, algumas mais engraçadas, outras mais puxadas ao drama.
De maneira geral, o filme me agradou bastante e foi uma grata surpresa. Confesso que dei o play apenas porque vi que Leonardo Sbaraglia estava no elenco e eu havia me encantado por ele há algum tempo em "Coração Errante". Infelizmente, a crônica de seu personagem é a menos interessante, a mais rápida e menos conectada ao filme como um todo. Nem isso foi capaz de me fazer perder o interesse pela obra, o que é um bom sinal.
O longa se revelou um passatempo divertido, inteligente e que esboça uma análise interessante sobre algumas das masculinidades que existem por aí aos montes e que carecem, às vezes, de um olhar mais atencioso sobre o porquê delas serem como são.
O Declínio
2.7 139 Assista AgoraJusqu'au déclin (2020)
Um acidente num acampamento cria um racha entre os participantes de um campo de treinamento para sobrevivência em situações extremas. Agora, é preciso lutar para continuar vivo diante de pessoas armadas e com pensamentos extremistas.
A sinopse parece tratar de uma segunda-feira aqui no Brasil. Mas não estamos na Terra do Samba, e sim em alguma parte congelante do Canadá, onde um grupo de pessoas com dinheiro e tempo livre se dedicam a aprender a sobreviver num mundo apocalíptico tendo como guru uma espécie de Olavo de Carvalho canadense
Sim, isso mesmo. Está tudo bem no mundo ao redor. São as personagens mesmo que sentem uma necessidade de, apenas por precaução (vai que), aprender a sobreviver. Afinal, nunca se sabe quando você vai precisar fazer armadilhas para ursos e estocar pasta de amendoim na despensa.
A premissa soa interessante num primeiro momento, com todo aquele thriller crescendo em torno do "homem é o lobo do próprio homem", mas sabe quando você assiste a um filme e várias perguntas vão surgindo na sua cabeça? Aí, no final, você fica meio sem entender se era só aquilo mesmo ou você não foi inteligente o suficiente para capturar a crítica?
O filme é muito literal. E eu tenho uma preguiça de filmes muito literais (sobretudo os que possuem atuações fraquinhas como as que se vê aqui). Pouquíssimos me agradam. Eu gosto mais da dubiedade, do não-dito, das incertezas. Aqui é tudo preto no branco. Sem graça. Chato. E o resultado, a meu ver, é esse: fraco.
Colateral
3.6 613 Assista AgoraCollateral (2004)
O taxista Max se vê diante da possibilidade de ganhar uma grande quantia de dinheiro fazendo uma simples corrida, mas tudo vira um pesadelo quando ele descobre que o passageiro é Vincent, um assassino profissional.
Apesar do ritmo legal, o que é uma obrigatoriedade para filmes de ação, "Callateral" peca em algumas passagens e no desenvolvimento dramático de alguns pontos-chaves.
Tanto Tom Cruise quanto Jamie Foxx estão ótimos em seus papéis e são vitais para que o filme funcione minimamente bem. Cruise, de quem não sou muito fã, consegue estabelecer uma surpreendente interpretação (talvez uma das melhores de sua carreira).
Michael Mann entregou aqui um filme que possui erros e acertos. A mim, os acertos falaram um pouquinho mais alto (apesar do terceiro ato escorregar legal em alguns momentos). No fim, temos uma "Tela Quente" mais sofisticada que o habitual e que consegue dar boas doses de entretenimento ao espectador.
A Baleia
4.0 1,0K Assista AgoraThe Whale (2022)
Charlie (Brendan Fraser) é um professor de inglês que vive recluso em seu apartamento por sofrer de obesidade mórbida. De dentro da sua casa e com uma série de limitações, ele dá suas aulas e recebe visitas regulares de Liz (Hong Chau), uma enfermeira que o ajuda a viver minimamente bem e com dignidade.
Após um reencontro inesperado com sua filha adolescente problemática, Ellie (Sadie Sink), Charlie tenta se reconectar com ela a fim de obter sua redenção como pai. Entre os seus encontros com Liz e Ellie, Charlie também tem alguns momentos com Thomas (Ty Simpkins), um garoto evangélico que tenta fazê-lo se arrepender de sua vida como homossexual para, então, encontrar a paz e o descanso eternos com o perdão de Deus.
Sabe aquele filme que tinha potencial para ser muito bom, quase excelente? Pois é. Acho que esse é o caso aqui. Com erros e acertos em sua filmografia, Darren Aronofsky é um diretor competente e, querendo ou não, sempre chama a atenção do público e da crítica.
O cineasta tinha em mãos alguns pontos a seu favor com os quais poderia ter trabalhado de uma forma melhor a fim de tornar o filme algo, realmente, relevante para o tema tratado. No entanto, acredito que ele preferiu se concentrar em produzir algo superficial, reducionista e excessivamente sensacionalista (em alguns momentos).
Para além disso, na minha opinião, o filme ganharia muito se a lupa estivesse em cima apenas de Brendan Fraser e Hong Chau. Deixa eu melhorar o que disse. Acho que o longa seria infinitamente melhor se houvesse apenas esses dois artistas com suas respectivas personagens durante todo o jogo cênico.
Quando são os dois que preenchem a tela tudo fica tão bom, tão interessante de se ver, tão profundo. Mas aí… tem o resto. E o resto é tão dispensável para a narrativa. Deixa tudo cansativo e enfadonho, principalmente, a dinâmica entre Sink-Fraser, Simpkins-Fraser e Sink-Simpkins. Essa última dupla é terrível. Os dois atores estão péssimos (mal dirigidos mesmo porque eles têm talento) e não contribuem em absolutamente NADA para o arcabouço da história.
Se fosse um filme com a mesma duração apenas com diálogos entre Fraser e Chau, poderia ter sido perfeito. Mas assim não quis o destino. Ou melhor, Aronofsky.
A Garota do Calendário
2.8 24 Assista AgoraCalendar Girl (1993)
Com uma roupagem de comédia romântica sobre rodas, "Calender Girl" é, na verdade, um conto monótono sobre a moralidade masculina e a terrível capacidade que os homens têm de fetichizar seus objetos de desejo, o que acaba soando um tanto hipócrita quando se olha o contexto geral do filme que tenta esboçar o real significado da amizade.
A estranha narração apresenta os três "protagonistas" do filme (que não protagonizam nada), que estão destinados a adorar Marilyn Monroe para sempre. Eles se conheceram aos 6 anos e, aos 12, puderam experimentar seus impulsos sexuais quando se depararam com o famoso calendário que trazia a atriz platinada nua.
Desde então, os 3 amigos cresceram absolutamente fascinados pela artista (mais no sentido do fetiche e da sexualização do que, necessariamente, da admiração por seu talento como atriz) e, na primeira oportunidade de conhecê-la de perto, eles irão aproveitá-la para não deixar de ver e conhecer Marilyn para além da tela grande do cinema.
Lamentavelmente, uma vez que o trio chega em Hollywood e começa uma vigília do lado de fora da casa de Monroe, o filme fica estático. O principal problema é o roteiro esquemático e sem graça de Paul W. Shapiro, que consiste nas intermináveis maquinações dos meninos para encontrar Monroe. Um desses esforços é colocar uma vaca no quintal da estrela por causa de seu suposto amor pelos animais (tipo ???????).
Enquanto Monroe é sempre vista de longe e apenas sua voz é ouvida pelo espectador, sua mística carismática consegue ser mantida. No entanto, o longa comete o equívoco de deixar um dos rapazes realizar o seu sonho: enfim, ele se “encontra” com Monroe e o que era para ser o grande clímax da obra, revela-se uma sequência particularmente fraca e tediosa.
Priestley parece bonito, mas de uma maneira insípida. Não é exatamente interessante assisti-lo em cena. Seus colegas Olds e O'Connell se registram melhor nas sequências, mas todos são prejudicados por uma escrita nada inspirada e uma direção terrivelmente enfadonha.
Avatar: O Caminho da Água
3.9 1,3K Assista AgoraAvatar: The Way of Water (2022)
Mais de uma década após os eventos do primeiro filme, a história de "Avatar: The Way of Water" acompanha a jornada da família Sully (Jake, Neytiri e seus filhos), juntamente com os problemas que os seguem, o quanto eles precisam fazer para manter um ao outro seguros, as batalhas que precisam travar para permanecerem vivos e as tragédias que eles devem suportar e superar.
Assim como o primeiro, esta continuação não é para todos e divide bastante as opiniões. Há quem ame, há quem odeie. A mim, o filme desagradou em partes, mas conseguiu agradar em sua maioria. Vê-lo no cinema foi uma boa escolha. Acredito que esse tipo de filme precisa ser visto no cinema e não na TV em casa, pois isso compromete e interfere demais a experiência. No entanto, cada um com as suas escolhas e tá tudo certo.
Não sou o tipo de pessoa que cai de amores por essa história e pela mitologia de "Pandora". Acho que muitas coisas são legais, criativas e inventivas. Contudo, outros aspectos são "mais do mesmo" do que se vê nos grandes blockbusters hollywoodianos, o que pode enfraquecer o ritmo em alguns momentos e enfadar em certa medida. Também não me considero um detrator de "Avatar". Ou seja, encontro-me num limbo existencial que gosta com ressalvas e critica com afeto.
A verdade sobre essa história é que ela, de alguma maneira, mexe com os sentidos e emoções do grande público e, de alguma forma, mesmo tendo seres extraterrestres no centro de sua narrativa, trata de sentimentos muito humanos. Este é um mérito irrevogável de James Cameron e inescapável quando olhamos para a sua filmografia.
Talvez esteja aí o grande segredo do sucesso do homem que possui 3 filmes no top 5 das maiores bilheterias de toda a História do Cinema. Não é para qualquer um. Vamos reconhecer. Há algum mérito aí.
Se há exagero por parte de quem fala mal, também há por parte de quem só elogia. O filme, definitivamente, não é impecável. Muitas coisas ali estão mal colocadas ou mal resolvidas na história. Alguns pontos-chaves de "The Way of Water" conversam pessimamente com o que foi estabelecido 13 anos atrás.
Mesmo assim, apesar dos pesares, vale a pena ser visto, mesmo que seja apenas para conferir a História do Cinema ser escrita diante dos seus olhos.
Embriagado de Amor
3.6 479 Assista AgoraPunch-Drunk Love (2002)
"Punch-Drunk Love" é um filme que se aproxima de maneira furtiva do espectador - o que eu gosto bastante - e para salvar as surpresas e não dar nenhum spoiler, vou apenas dizer que: Sandler interpreta Barry Egan, um vendedor extremamente tímido de San Fernando Valley (e que eu acho que possui algum grau de autismo - confirma, produção?). Barry tem sete irmãs que o afetam psicológica e emocionalmente. Uma delas o apresenta a Lena Leonard (Emily Watson) e isso logo mudará as coisas para Barry.
Muita gente acredita na falácia de que Adam Sandler é um péssimo ator. Eu acredito que ele pode ser um péssimo "escolhedor" de projetos, mas, quando bem aproveitado, o homem surpreende, viu? Tenho certeza que este filme passou batido e despercebido por muitas pessoas só porque traz Sandler como protagonista.
Bom, essas pessoas não sabem o que estão perdendo. Essa é a verdade.
Além de Adam chocar muita gente com a ferocidade e o sentimento de sua atuação em "Punch-Drunk Love", Paul Thomas Anderson incendeia a sua narrativa com uma direção precisa, poderosa e especial. PTA consegue manter a essência de Sandler em cena (com o seu coração e o seu humor tão reconhecidos pelo grande público), e faz isso com um propósito, a fim de moldá-lo em um filme com peso cômico - sem que se perda o drama - e dramático - sem que se perda o humor.
O filme dura apenas oitenta e nove minutos, o que faz dele um dos mais curtos do diretor ("Magnolia", meu preferido do PTA, dura 3 horas), mas não há como não notar as marcas registradas de Anderson: a emoção, o estilo e a inovação surpreendente: estão todos lá. Sequências com coreografias de câmera que dão inveja em qualquer um.
O filme é muito bom e não envelheceu um dia sequer. Se você ainda não viu, por favor, ASSISTA!
Os Banshees de Inisherin
3.9 570 Assista AgoraOs Banshees de Inisherin (2022)
Todos os dias, Pádraic Súilleabháin (Colin Farrell) caminhava pela estrada de terra que corre ao longo da borda de sua aldeia na ilha de Inisherin, passando pelas paredes de pedra e pela estátua da Virgem Maria, até chegar à casa de Colm Doherty (Brendan Gleeson). Em seguida, os dois iam juntos até o pub local e passavam as suas tardes conversando, à base de muitas músicas e muito álcool.
Tem sido assim desde que Pádraic se lembra. E seria assim que as coisas poderiam seguir até o fim dos tempos. Pelo menos, na cabeça de Pádraic. Só que um fato surpreendente e incompreensível o faz recalcular a rota: Colm decide, de forma absolutamente inesperada, que não quer mais ser amigo de Pádraic. Assim, do dia para a noite. O motivo? Bem, você precisará ver o filme se quiser descobrir.
Quando assisti a esta pequena e recém-nascida obra-prima, na sala de cinema, passei por um daqueles momentos em que somos tocados pela arte em seu estado mais puro. Estamos diante de um filme que possui uma beleza colossal e cujo texto, apesar de simples, é igualmente penetrante e belo.
Fiquei em estado de graça por tudo o que vi, contemplei e senti ao longo dos 114 minutos em que a película brilhou na tela grande. E a cada instante que passou e que passa, desde então, o filme só cresceu dentro de mim.
Existe uma concretude nele, é verdade, mas existe também o abstrato, o metafórico, o que não está expresso tão obviamente nas linhas gerais do roteiro, que não se vê na superfície. E as interpretações podem ser tantas quanto possíveis forem.
Não há apenas um filme aqui. Há vários. E eles se desenrolam e percorrem o interior do espectador, que procura um sentido para tudo o que vê. Alguns têm a felicidade de encontrar esse sentido. Outros, uma felicidade maior ainda por não conseguirem e terem algo totalmente aberto e alegórico diante de seus olhos.
McDonagh desembaralha sua história de homens que se comportam mal de uma maneira sutil e delicada (o que é uma contradição a ser notada). Não querendo ignorar ou desmerecer, é claro, o grande trabalho que Barry Keoghan ou Kerry Condon fazem e entregam ali (os dois formam o melhor par de coadjuvantes que já se viu em muito tempo), mas é a dupla de protagonistas Farrell-Gleeson que traz combustão e alimenta o fogo que precisa queimar e arder no enredo.
É difícil pensar em uma composição que esbarre em tantas nuances emocionais e níveis de profundidade sobre a incompreensão do ser. Pádraic não consegue entender a lógica por trás da atitude de seu amigo, ou melhor, ex-amigo, assim como não consegue controlar suas reações, sua carência emocional ou sua vergonha por ter feito algo que não compreende.
Um trabalho primoroso que reúne em si talentos múltiplos de direção, atuação, roteirização, produção, cinematografia, edição e muitos outros. Um longa-metragem inteligente e perspicaz, com um sem-número de nuances no roteiro e, claro, uma história atemporal sobre amizades que nascem, crescem, morrem… e renascem?
Vamp: A Noite dos Vampiros
3.1 63 Assista AgoraVamp (1986)
Dois estudantes universitários, Keith e AJ (Chris Makepeace e Robert Rusler), querem contratar uma stripper para conseguirem entrar numa fraternidade do campus onde estudam. Para isso, eles pegam emprestado um Cadillac do estudante rico e solitário Duncan (Gedde Watanabe) e seguem, os três, rumo à cidade mais próxima.
Ao chegarem num misterioso clube de strip-tease, os três garotos ficam impressionados com a stripper Katrina (Grace Jones). AJ visita seu camarim, logo depois do show, para tentar convencê-la a vir se despir para a festa da faculdade, mas Katrina guarda segredos terríveis que farão as vidas dos 3 amigos mudarem para sempre.
O filme começa e você acha que está diante de mais um "besteirol americano", uma comédia pastelão convencional dos anos 1980, mas quando o filme acaba, você se dá conta de que ele não era isso (ou, pelo menos, não era apenas isso).
Um terrir bem divertido se apresenta para nós, com tudo o que se tem direito e se espera de um filme dessa categoria (e que tenha sido produzido nos anos 80). Piadas de cunho sexual, muita tensão sexual, jovens com muita vontade de molhar o biscoito, peitos, muitos deles e… hum… eu já falei de sexo, certo?
A primeira metade do filme é mais arrastada e enfadonha. Deixa a gente numa expectativa que parece não ter fim e não levar a lugar algum (como se um enredo desse pudesse rs). Já a segunda metade nos reserva um bocado de surpresas boas e interessantes, apesar de nenhuma delas estar no elenco e fazer, necessariamente, o filme se sobressair.
Nenhuma atuação chama a atenção, infelizmente. Todos estão apenas "ok". Até mesmo a grande estrela e cereja do bolo, Grace Jones, que, certamente, foi o chamariz nas peças publicitárias do filme e em sua campanha de marketing (segue sendo, inclusive), não está lá essas coisas. O que não deixa de ser uma decepção.
Já adianto que se você for ver o filme por causa dela (assim como eu), sinto informar que ela entra muda e sai calada. Contudo, sua presença é magnética e prende a atenção em todas as suas aparições, mesmo sem uma fala no roteiro. O que não deixa de impressionar.
No fim, temos um thriller bem mediano no melhor estilo "Scooby-Doo". Que encanta pelas qualidades que um filme dos anos 80 pode encantar, mas que chateia pelos defeitos que um filme dos anos 80 também pode ter.
A Mulher do Tenente Francês
3.7 65 Assista AgoraThe French Lieutenant’s Woman (1981)
Nesta história dentro de uma história, Anna (Meryl Streep) é uma atriz que contracena com Mike (Jeremy Irons) em um filme de época sobre o amor proibido entre seus respectivos personagens, Sarah e Charles.
Ambos os atores possuem relacionamentos sérios em suas vidas pessoais, mas a natureza apaixonada do roteiro também leva a um caso tórrido de amor atrás das câmeras. Enquanto tentam manter a compostura e o profissionalismo, Anna e Mike lutam para aceitar suas infidelidades.
The French Lieutenant's Woman (1981) é baseado no romance "infilmável" - segundo alguns críticos literários - de John Fowles sobre um caso de amor vitoriano entre a pária social Sarah Woodruff e o cavalheiro Charles Smithson.
Ele foi considerado "infilmável" porque conteria um narrador onisciente, autoconsciente, além de múltiplos finais. A única maneira de tornar a prosa pós-moderna de Fowles "filmável" era o roteirista Harold Pinter se afastar significativamente da fonte.
Na adaptação de Pinter, os atores Anna e Mike interpretam Sarah e Charles em uma produção cinematográfica de "The French Lieutenant's Woman". Enquanto Reisz alterna entre as duas histórias paralelas, observamos dois casos de amor proibidos. O primeiro, entre Sarah e Charles, será familiar para os fãs do romance de Fowles, e o segundo, entre Anna e Mike, que pretende substituir o narrador onisciente no romance de Fowles e contribuir para a pós-modernidade geral.
Streep e Irons são atores reais que interpretam atores fictícios em uma adaptação cinematográfica de um romance; e a adaptação cinematográfica em que Anna e Mike aparecem é a mesma adaptação cinematográfica que vemos se desenrolar na tela. Sim, é muita metalinguagem num filme só. Você tem que se preparar.
A performance de Meryl Streep - indicada ao Oscar por esse papel duplo - é tipicamente poderosa, mas nem ela é capaz de salvar o filme de suas pretensões e inconsistências. Já Irons… bem, Irons encarna mais um papel de homem infiel de sua carreira de homens infiéis.
O filme é bom, não me entenda mal. Possui passagens interessantíssimas e algumas sequências muito bonitas, potencializadas pela cinematografia de Freddie Francis. Contudo, acho que ele se arrasta em seu miolo e acaba de maneira apressada quando, na realidade, precisava de um tratamento melhor para o seu desfecho.
Se julgarmos o filme por atingir ou não seus objetivos, talvez encontraremos um saldo positivo, mas, se julgarmos o filme por ele envolver ou não o espectador de maneira emocional, o saldo é negativo.
Contudo, no entanto, todavia… vale a pena ser conferido.