Caso ainda não tenha assistido ao filme, evite a leitura do comentário abaixo.
Ao consumir um produto, imaginar por um mero instante sua concepção, passando por toda logística, culminando em seu destino final, parece uma tarefa desnecessária e nada instigante. Pessoalmente, acredito que tal pratica, além de fascinante, seja de grande valia ao analisarmos um objeto. Seja uma obra cinematografia, literária, musical ou gastronômica, por exemplo. E quando efetuamos tal exercício com a película assinada por Mankiewicz, torna-se minimamente compreensível seu resultado.
Principalmente quando trata-se de personagens históricos. Pessoalmente, costumo ficar na defensiva. Liberdade é essência artística. Mas quando trata-se de história, costumo não ser um grande adepto. Cleópatra é uma figura quase mística. Carrega um fascínio inominável. Descrever sua história ou mesmo parte dela é uma tarefa quase impossível. Desconhecimento, inverdades ou rótulos costumam estar sempre a prejudicar. Em uma obra cinematografia, onde o tempo de exibição é um fator quase que crucial, torna-se uma tarefa caso planejada incorretamente, fadada ao insucesso.
Cleópatra foi projetada (pela hoje conhecida como FOX) como uma espécie de resposta imediata. Sua concorrente (MGM) estava colhendo os frutos proporcionados pelo estrondoso sucesso comercial de Ben Hur (1959). Idealizada como uma produção rentável (ainda em 1959), foi finalizada em meio ao caos, em 1962. Não escreverei sobre os devaneios de sua produção, pois são de conhecimento de todos, mas gostaria de pontuar alguns:
- A produção teve início na Inglaterra. Sendo brevemente interrompida em decorrência do clima pesado que afetara fortemente os cenários. Assim como a estrela da companhia, Elizabeth Taylor. Que ficara afastada por uma grave pneumonia. Rouben Mamoulian reescreveu o roteiro para que as filmagens seguissem até sua plena recuperação. O novo script não agradou ao ator Peter Finch. Fator para um ´´novo incêndio``. Resultando em uma nova paralisação na produção.
- Mamoulian descontente com esta situação, pediu demissão. Fora substituído por Joseph L. Mankiewicz. Os atores Peter Finch e Stephen Boyd, que viveriam César e Marco Antônio respectivamente, também estavam fora do projeto (por outros compromissos profissionais). Sendo substituídos por Rex Harrison e Richard Burton. Com um prejuízo estimulado de 100 mil dólares por dia, e em busca de um clima mais ameno, a produção mudou-se para Roma. Já em solo italiano, Mankiewicz assume a direção da produção somente com meros vinte minutos de filmagens. Com todos os cenários construídos, roteiro reescrito (pela terceira vez) e com Elizabeth completamente recuperada, foram iniciadas as gravações, um ano depois. Mankiewicz fora demitido durante a edição. Posteriormente sendo recontratado para sua finalização.
- Entregou um bruto de seis horas. Sugerindo dividi-los em dois filmes. Acompanhou todo o processo cirúrgico da obra sendo reduzida para quatro horas. Projetando uma maior abrangência de lugares nas exibições, decidiram realizar um novo processo cirúrgico. Desta vez, sem a presença do diretor. Resultando na versão definitiva de cento e noventa e dois minutos.
Ao final da experiência, não creio que o bruto mudaria minha opinião. Seriam apenas mais algumas exuberâncias em frasco de perfume. Não condeno o interesse e avinco no envolvimento de Cleópatra com os dois generais romanos, mas sim, todo o foco e exploração acerca apenas da temática. Parece que sua vida fora sintetizada em três momentos: seu nascimento, o envolvimento com os dois generais romanos e sua mitológica morte, oriunda da picada de uma serpente.
Mesmo diante daquilo em que se propõe, em grande parte ela falha. Digamos que em sua primeira parte, a retratação da relação entre a egípcia e Júlio Cesar é bem interessante. Proporcionando bons momentos. Um fator que considero crucial, passa pela química entre Taylor e Harrison. Embora o roteiro quase nunca colabore, Taylor conduz a personagem com uma serenidade ímpar. Detentora de postura imponente, carrega consigo um olhar intimidador/hipnótico. Aliado ao seu tom de voz suave, que ao mesmo tempo que dita firmeza, exala conformidade. Já na segunda parte, acredito que em função do argumento rasteiro, juntamente com uma somatória de cenas que, embora verídicas em sua maioria, peca pelo tratamento demasiadamente longo que receberam, tornando a experiência em determinados momentos uma atividade maçante. Citando um simples exemplo, o banquete oferecido pela egípcia a Marco Antônio. Cena bela e grandiosa, mas demasiadamente extensa.
A cena da chegada de Cleópatra em Roma, indica todo o contraste que fora perpetuada durante toda a produção. Se por um lado, sua beleza artística é inquestionável, não posso aqui, esquivar-me em apontá-la como mera perfumaria. Além de ser um fato inverídico, pois sua chegada em solo italiano aconteceu de forma bem discreta. Toda energia gasta neste trecho da drama poderia muito bem ter sido aplicada em diversos momentos de sua vida.
Pegamos como exemplo, sua relação com seu pai, que fora superficialmente tratado em tela. Poderíamos também, acompanhar sua imersão em várias culturas. Ação que lhe proporcionou uma vasta absolvição de conhecimento. Assim como suas primeiras aparições e vereditos no sórdido jogo político. Passando pela relação com seus irmãos, principalmente Ptolomeu XII. Com qual casaria-se visando o trono egípcio. Entre relações dúbias e atritos, até a trama de sua morte enquanto ainda encontrava-se em solo italiano. Fora ignorado também, os filhos de sua relação com Marco Antônio.
A FOX perdera com Cleópatra uma grande oportunidade de aprofundar-se na vida de uma das figuras mais enigmáticas da história. Com sua obsessão em desbancar sua concorrente a todo custo, produziu uma obra inviável que constituiu contornos astronômicos dignos da era retratada. Aliás, o adjetivo megalomaníaca caminha junto com os dois lados: com a figura real, pois ficara marcada no imaginário popular (erroneamente) apenas como a rainha dos excessos- devoradora de homens. E com a película, pois com razão, ficara mais conhecida por sua produção permeada por excessos do que pela obra todo um todo. Pois de fato não agrega muita coisa. Uma pena.
``Quando partiu, prometeu à mãe que se manteria aquecida. Todos prometeram. Todas as mães são iguais.``
Em minha concepção, Kanal encontra-se na galeria dos mais garbosos panfletos pacifistas já realizados. Por mais que as intenções do realizador passassem longe dessa vertente. A segunda película da intitulada ´´trilogia da guerra``, realizada por Andrzej Wajda. Podemos dizer que Wajda também enfrentou a ´´trilogia do reconhecimento``. Deste a epopeia que seria todo o processo até sua realização e as inaugurais rejeições. Até a exibição em Cannes e sua aclamação imediata. Posteriormente sendo tragada com mais facilidade em sua pátria.
Enquanto visualizamos uma cidade que mais parece ser composta por peças de lego, pela tamanha facilidade que é desintegrada, surgem os créditos iniciais. Após as devidas apresentações, em meio aos destroços, surge uma voz em off. Enquanto ouvimos o seu relato descritivo acerca da situação, acompanhamos em meio a escombros e poeira o que mais parece formigas enfileiradas, caminhando para um destino incerto. São humanos que são descritos com breves adjetivos. Quando ao final do informe ouvimos a seguinte alegação: Observe nossos heróis em suas últimas horas de vida.
Tal afirmação é uma grande sacada utilizada por Jerzy Stefan Stawinski. Roteirista da drama que cede a ela algumas de suas experiências pessoais. Stawinski participou efetivamente da Revolta (em 1944). Quando nos deparamos com uma obra que aborda um campo tão cruel, remoto de expectativa de sobrevida como é a guerra, sempre aguardamos por possibilidades diferentes do que meramente a morte. Seja um contorno heroico ou um simples alento de superação. Stawinski nos posiciona como meros cúmplices logo no primeiro instante. Daquele momento em diante somos conhecedores de seus destinos. Enxergamos suas ações com um sentimento de penar. Começamos a deslumbrar a morte, como uma recompensa, para aqueles que percorreram em sentido a vida, das mais variadas e ultrajantes formas imagináveis.
Kanal não é uma obra de fácil digestão. Equivocado está, aquele que imagina ser apenas mais um mero pedaço acerca de um evento que modificou o mundo. Descreve mais que um simples pedaço da história. Mesmo que as intenções primárias de Wajda fosse projetar um manifesto anti-soviético. Ele expõe em meio as mazelas da barbárie, realizada por mentes despromovidas da racionalidade, a luta dos chamados heróis sem medalhas em uma busca infrutífera pela sobrevivência.
Infelizmente, não obtive acesso por completo ao conteúdo extra da película lançada em dvd. Contendo entrevistas de bastidores. Uma delas é com o próprio diretor Andrzej Wajda. Ela nos auxilia para melhores concepções, acerca de tudo que engloba sua obra. Uma delas seria de uma crítica a omissão russa perante os acontecimentos. O Exército Vermelho, seguindo ordens de Stalin, aguardaram o mínimo de sobreviventes do conflito, antes de adentrarem tal campo. Já deslumbrando seus interesses pós-guerra. Cita também um poema que ganhou grande notoriedade durante a revolta:
``Nós estamos esperando Estamos esperando por você, praga vermelha, Para nos libertar da morte negra. Nossa salvação reuniu-se com horror ... Você não pode nos prejudicar! A escolha é sua, Você pode nos ajudar, você pode nos entregar Ou ainda atrasar e deixar-nos morrer ... A morte não é terrível; sabemos como morrer. Mas saiba disso: a partir de nossas lápides Uma nova Polônia vitoriosa nascerá E você não vai andar nesta terra Você governante vermelho de força bestial!``
Kanal é sobre uma pátria e seus heróis. Que submeteram-se à humilhações inimagináveis em busca da mera sobrevivência. É um imponente grito de revolta de uma nação devastada pela barbárie. Provocada por mentes inescrupulosas que utilizaram vidas como meras peças de um jogo sórdido de tabuleiro.
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Eleita como uma das melhores do gênero já realizadas em Holywood, essa obra quase sexagenária certamente é merecedora de toda notoriedade. Apesar de achar essa prática de apontar, definir, ou muitas vezes tentar determinar o que é bom ou ruim; melhor ou pior, completamente descabível. Não sei qual a opinião de Wilder perante esse tema, mas sabemos que o mesmo a considerava sua maior realização.
Um carro funerário segue seu trajeto. Dentro dele, um caixão e quatro homens. De repente, escuta-se o barulho de uma sirene - é a polícia. Os quatro ocupantes do carro funerário - incomodados; aceleram. Inicia-se uma perseguição. Os policiais começam a atirar. Dois ocupantes do carro funerário retiram duas metralhadoras e revidam. A viatura policial perde o controle e colide contra uma mureta. Terminada a perseguição, os ocupantes do carro funerário observam um ´´vazamento`` no caixão, consequência de alguns tiros. Ao abrirem, nos é revelado o conteúdo de seu interior: nada de cadáveres, e sim, repleto de bebidas.
Chicago, mil novecentos e vinte nove. Um período marcado pela Lei Seca (que serviu mais como uma fonte de renda para a máfia), que controlavam as cidades. Movida pela música popular. Cultuada pelos heróis-sociais e pela desigualdade social. Não apenas no campo social, mas também entre os sexos. As diferenças impostas entre ambos; seja socialmente ou culturalmente.
Foi nesse terreno hostil, impróprio para o plantio que Wilder - mais uma vez - destilou seu cinismo mordaz; a audácia que lhe era peculiar. Retratando de forma cômica, mas verídica, a ambiguidade social da época. Dos conceitos, estereótipos e preconceitos mascarados sempre pelo imaginário. Descrito com maestria pelo ácido roteiro, fruto de uma parceria bem sucedida entre Wilder e o escritor I.A.L. Diamond. Colocando dois músicos desempregados como testemunhas involuntárias de um massacre. E, ao tentarem escapar de um grande problema, optam por ´´ ingressar no universo oposto``.
Como ressalta o comentário de ´´Daphne``, enquanto conversava com ´´Josephine``, próximos ao embarque. Quando ambos olham para trás, observam uma linda mulher caminhando em direção ao trem. Ela passa por eles e, através de seus olhos hipnotizados, também passamos a acompanhá-la. A princípio, através de um ângulo bem sugestivo. A medida em que ela vai se distanciando (a metáfora envolvendo o vapor do trem é sutil), a câmera vai afastando-se lentamente até o final de sua caminhada. E atônito ´´Daphne`` pronuncia:
´´Daphne``- Velho gabiru! ´´Josephine``- O que houve? ´´Daphne`` - Fui beliscado no elevador. ´´Josephine``- Vê como vive a outra metade? ´´Daphne`` -Nem bonita eu sou. ´´Josephine``- Eles não ligam, basta usar saia. É como bandeira vermelha para o touro.
A escolha dos atores também foi fundamental. A escolha inicial de Wilder, para interpretar a doce e meiga Sugar, não era Monroe. Sua experiência com a atriz em O Pecado Mora ao Lado, não foi das melhores. Mas ele tinha a consciência que a obra com Monroe possui um valor inestimável. Seu martírio teria início ao ter que convencê-la que a película teria mais originalidade caso filmada em PeB. Esse foi o primeiro de outros empecilhos que Wilder conseguiu contornar.
"Quase enlouqueci com esse filme. Marilyn me deixava horas e horas esperando por ela nos estúdios. Todos a postos, equipe e atores, tudo pronto mas nada dela aparecer. Algumas vezes, Marilyn aparecia com até seis horas de atraso e quando aparecia parecia uma morta viva - mal conseguia falar e não sabia nenhuma de suas falas! Sabe, eu tenho uma tia que decora todas as falas, chega nos estúdios na hora certa. É extremamente pontual e profissional. Na bilheteria ela deve valer uns cinco centavos! Entende o que digo? Tivemos que engolir muitos sapos para ter Marilyn Monroe nesse filme!" Billy Wilder
Confesso que não sou um grande admirador de Monroe como atriz, mas um fato é inegável: sua presença em cena era devastadora. Possuía uma áurea que chegava a encandear. Era de conhecimento que sua vida pessoal estava em frangalhos. Esse fator, formou uma imensa barreira entre ela, Wilder, elenco e o restante da produção. Sua falta de concentração resultou em dezenas de tomadas de uma única cena.
A cena por exemplo, em que Sugar procura bourbon nas gavetas, Monroe precisava dizer "Where's the bourbon?". Mas ela sempre trocava e dizia: "Where's the whiskey? ou "Where's the bonbon?". Na quadragésima tomada, Wilder perdeu a paciência e escreveu "Where's the bourbon?" em todas as gavetas. Tanto que Tony Curtis brincou dizendo: beijar Monroe era como beijar Hitler. Levando em consideração o clima de tensão que pairava nos bastidores, é possível imaginar a proporção que essa frase alcançou.
Mas todo esforço seria recompensado. O trio principal exala uma química cativante. Monroe encaixa-se perfeitamente no papel da ingênua/meiga Sugar, e convenhamos: ela nutria muito de sua personagem. Tony Curtis mostra-se muito seguro em uma veia, até então, pouco explorada em sua carreira. Mas quem rouba a cena sem dúvida alguma é Jack Lemmon. Leve, descontraído - completamente a vontade no papel. Seu personagem proporciona os melhores momentos da trama.
Por exemplo, quando ´´Daphne`` está comemorando seu noivado cantarolando e balançando os chocalhos no quarto, e posteriormente diz à´´Josephine`` essa novidade. É uma cena impagável.
Mesmo com a discrepância no modo em que a sociedade ainda julga os valores de cada sexo. Mesmo com ambos, muitas vezes buscarem relações visando apenas seus interesses. Não sejamos tão exigentes com os outros ou consigo mesmo. Afinal, quem somos nós para julgar alguém? Porque como bem ressalta o experiente e sábio Osgood Fielding III: Nobody's Perfect!
´´A solidão é mais do que o sentimento de querer uma companhia, ou querer realizar alguma atividade com outra pessoa. Não por que simplesmente se isolar, mas por que os seus sentimentos precisam de algo novo que as transforme. `` Wikipédia
O cinema para Nicholas Ray é imensamente algo pessoal. Assim como François Truffaut, seus conflitos pessoais são catalisados como inspiração. Um prato abundante de possiblidades. Um mix de sentimentos. Nicholas passava por um período conturbado em sua vida. Carregou consigo em On Dangerous Ground, temáticas recorrentes em sua filmografia, como a desilusão e o pessimismo.
Somos apresentados aos créditos iniciais na compania de uma viatura. Conduzidos pelas ruas afagadas pela noite. Cenário inospito. Aspecto frio. Ela chega enfim ao seu destino: a casa de um detetive. Onde o mesmo recebe o afago de sua esposa antes de rumar para o trabalho. O mesmo ritual acontece. Dessa vez, em uma segunda casa. Logo, somos conduzidos a um pequeno cômodo, onde observamos um homem comendo apressadamente. Ao mesmo tempo que observa algumas fotografias. Encerrada tais ações, sem afagos, cumprimentos ou expressões, parte rumo ao seu destino.
Esses poucos mais de quatro minutos evidenciam a intenção do diretor: partilhar a solidão em vários estágios. Elvidencia-se tal propósito na pele de Jim Wilson. Um profissional experiente que , convivendo diariamente com o mundo do qual seu ofício lhe proporciona, acaba por enquadrar-se a ele. Tornando-se uma espécie de anti-herói. Carregado pela descrença sempre alheio aos demais. Consequentemente sendo abraçado pela mesma.
A estrutura escolhida pelo diretor, no primeiro ato, para explorar essa atmosfera foi bem executada. Utilizando-se do ambiente propício e, aliando-se a bela execução, evidenciou de forma massiva o imbróglio que Jim se encontrava. Ao final do segundo ato, o detetive é colocado em um novo panorama. Agora, onde Mary está inserida. Mary, deficiente visual, abrange os mesmos sentimentos literalmente e, ironicamente , acaba tornando-se a claridade de uma nova abertura que há tempos não pairava sobre Jim (e vice-versa). É nesse jogo de redescoberta que ambos buscam entre si a liberdade do ostracismo que tanto os enclausuravam.
Muitos decepcionaram-se com o curso que a obra seguiu. Aguardavam um maior esmiúçamento da personalidade de Jim. As causas e sequelas que isso ocasionaria. Iniciou-se com a áurea de um noir destrutivo e cético que culminou-se como um drama de solução conveniente ou quiçá passiva. Sua transição fora imediata. De um homem alheio a qualquer manifestação de afeto. Que encontrava-se exaurido de tudo e todos, há descobridor da felicidade. Proporcionada pela influência de uma pessoa avessa ao seu mundo. Onde juntos, buscam escrever uma nova história. Sabe-se que o diretor não compactua com as chamadas soluções fáceis. Enfim, mesmo sendo contestado pela mudança repentina e cômoda em sua direção, Nicholas Ray realizou um grande trabalho. Mesmo com as ações externas tentando dizer o contrário.
Considerado um dos precursores do estilo que predominaria na década de quarenta. Embora não possua uma fotografia marcante, traz consigo outra característica que se tornaria marca registrada do movimento: a ambiguidade moral. Simbolizada principalmente por Alan Ladd, na pele de Philip Raven. Um assassino profissional metódico que aprendeu com a vida que socialização não existe, embora carregue consigo uma conduta ética.
Resquícios morais era o máximo do padrão social naquela época. Em meio à Segunda Guerra, o pessimismo, a descrença, e o desconhecimento pairavam por todo o globo. Portanto, Hollywood fora mais uma máquina usada como um canhão de propaganda. Infelizmente, This Gun for Fire estava dentro do pacote e hasteou tal bandeira. Ao desenrolar da trama, entram em cena diálogos em forma discursos patriotas. Enaltecendo o martírio em prol da nação. Da redenção, perante um bem maior. Da divisão entre o bem e o mal. De uma distribuição geográfica entre heróis e vilões.
Ainda que contendo algumas imperfeições que diminuem seu brilho, This Gun for Hire tem sua importância e seus méritos. Além de ser um dos precursores, de um magnífico movimento, foi a obra que projetou definitivamente Alan Ladd para o estrelato, aos vinte e oito anos. Também marcaria o início de uma frutífera parceria entre Alan Rudd e Verônica Lake. Parceria que rendeu ao total seis filmes. Sendo três deles policiais. Os demais foram The Glass Key e The Blue Dahlia.
Sintonia nas telas, semelhanças (além da altura) fora dela. Introvertido, Rudd obteve uma carreira mais aclamada e consistente que Verônica, mas ambos à encerraram de forma melancólica. Enfrentaram problemas como a depressão e alcoolismo. Ambos falecerem ao cinquenta e um anos. Sem configurar em listas de melhores do gênero, This Gun for Hire não somente alavancou a carreira de dois grandes atores da era de ouro, como caracterizou e simbolizou uma era. Que usufruiu do auge em um passado distante, mas que jamais perderá sua magnitude.
O Metallica é a maior síntese da polarização dentro da música. Uma mera menção ao seu nome em uma roda de conversa é capaz de provocar sentimentos inexplicáveis. Essa seleuma deu-se início no ano de 1991 (precisamente no dia 12 de agosto), com o lançamento do quinto álbum de estúdio da banda, intitulado The Black Album. Ele fora o responsável por catapultar o Metallica para o estrelato e estremecer o mundo da música.
Todo artista possui seu ápice criativo. And Justice for All foi o do Metallica. A evolução e a complexidade exposta no álbum é brilhante. Imaginar o que viria após isso era impossível. Qual caminho a banda seguiria após AJFA? Pergunta respondida após o lançamento do Black Album. Um ouvinte desavisado certamente pensaria tratar-se de um nova banda: o contraste era abismal. Uma forte ducha fria nos fãs mais puristas. Muitos deixaram de seguir a banda. Outros passaram a execrá-la. Tudo isso apenas atesta o quanto Black Album carrega sentimentos. E, acompanhar o making-off do álbum torna-se uma atividade obrigatória.
Acompanhar o exílio e martílio da banda para a produção do novo álbum, juntamente com a introdução do produtor canadense Bob Rock em seu ambiente é muito interessante. Bob Rock inaugurou um novo modo de gravação: trazendo todos para o mesmo ambiente. O choque de personalidades, o conflito de ideias e a incansável busca de Bob Rock pelo timbre ideal para a bateria de Lars é fascinante. Bob Rock conseguiu captar novos horizontes. Trazendo uma simplicidade singular para o quarteto inimaginável até então.
Trata-se de um documentário muito interessante. Acerca da produção do álbum que modificaria a história de uma banda. Comercialmente um acerto absoluto. Para muitos o início de uma derrocada. Uma coisa é certa: The Black Álbum fez e faz história. Nela estará sempre cravada. Colocou gêneros e centenas de bandas em evidência. Kirk Hamett diz ser o The Dark Side of the Moon, do Metallica. Pra mim é uma bela obra de uma banda que nunca teve o receio de vislumbrar novos processos. E isso é um grande mérito.
Nunca saberei quais eram as intenções de Tod Browning quando arquitetou a execução de Freaks. Sendo pessimista, poderia debruçar-me na ideia de um oportunista. Quem sabe, sendo meramente prudente, e encarar isto como apenas mais um trabalho na carreira de um diretor. Mas prefiro a terceira opção: um otimista. Um ser humano que visualizou nos anseios de uma produtora uma oportunidade para projetar em tela a realidade em que nela vivemos.
Sinto muito por sua precoce carreira Tod, mas como você sabe ou ao menos deveria - que grande parte dos visionários foram execrados pela maioria. E este ao meu ver é o grande triunfo de Freaks: colocar como protagonista aquilo que sempre fez a humanidade progredir: a diferença. E é exatamente ela a causadora de todo assombro. De todo esse abalo. Não fomos doutrinados para idealizá-las em sua tonalidade natural.
Não deslumbrando aqui ser o advogado da nação, mas exercendo precariamente esse papel pergunto-lhes: que culpa temos por carregar pensamentos tão arcaicos? Somos apresentados a tais conceitos desde nossos primórdios e o conduzimos adiante. Em consequência, tudo aquilo que não se encaixa neste circuito é observado de cima para baixo. Muitas vezes, sendo representado pelo penar.
Pegando como exemplos Cleópatra e Hércules (antagonistas da película). Figuras mitológicas que estão associadas à beleza, perfeição e seus abrangentes. O contraste da perfeição com a bizarrice. Um embate desleal. Exuberantes; destacam-se na câmera de Tod, sob os seres rastejantes (as cenas dos festejos de casamento são sublimes e dolorosas). Agora digamos que, de fato, Cleópatra nutrisse um sentimento real por Hans (esqueçamos esta história de herança), certamente buscaríamos por uma nova argumentação. Para justificar esta ´´anomalia``.
Por isso não encontro aqui espaços para heróis e vilões. Ou alguém que necessite tomar um tapa na cara. Não fomos conduzidos e orientados para observar a diferença em sua tonalidade natural. Mas sim como um problema. Uma associação direta com o descômodo. Quem sabe em um novo horizonte, ainda que distante, onde estaremos em um âmbito com menos influências e, por consequência, nossas viseiras exauridas dando espaço assim, para começarmos a contemplar diversidades não como forma de entretenimento, espanto ou agonia, mas de vida.
Browning pode orgulhar-se pela sua contribuição. Não apenas pela produção de uma película autodestrutiva, mas pelo alcance provocado pela mesma. Freaks é um manifesto de alerta contra a auto piedade. Um espelho refletindo uma representação difícil de encarar. Ainda estamos engatinhando perante preceito. Durante sua exibição, pessoas deixavam aos montes sua sessão de exibição. Hoje, permanecem e recebem o recorrente ´´tapa`` diante a tela. Amanhã, estarão balançando suas faces. Não por resultado de uma agressão, mas como gesto de reprovação, diante os pensamentos obsoletos de seus antepassados. Um brinde a evolução! E um salve para os Freaks de cada dia!
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A câmera desliza pela rua. Carruagens e pessoas, desfilam pela mesma. Ela nos conduz para dentro do Village Hotel. Onde um recepcionista, caminha de forma imponente, ajeitando sua gravata, até chegar ao encontro de duas crianças, que estão tentando assistir entre as cortinas, o filme que ali, está sendo exibido. Ele os espanta parcialmente, pois na verdade, estavam ocupando seu posto privilegiado. Pela brecha na cortina, que agora é ostentada também pelo recepcionista, adentramos na exibição de The Sands of Dee (D. W. Griffith). Uma pianista da som ao filme. Aos desfilarmos pela platéia hipnotizada, acompanhamos em especial, as expressões que as cenas provocam em uma bela jovem. A câmera afasta-se lentamente, e inclina-se, filmando o lustre. Indicando o andar seguinte.
Onde acompanhamos uma mulher, caminhando em direção a janela. Ela parece estar um pouco aflita, mesmo desfrutando da bela paisagem. Ela fecha a janela, e caminha em direção a uma porta. Ao abri-la, e retirar uma camisola, a jovem segue seu curso, mas a câmera não. Ela segue de encontro aos vestidos que ali estão. Ao aproximar-se dos mesmos, depara-se com um olhar masculino. Passamos observar por ele, a jovem trocando de roupa. Ela ergue os braços, o vestido desliza por eles. Suas mãos movimentam-se de forma abrupta. Momento descontinuado. Voltamos para o filme, onde acompanhamos a cena de um homem, correndo com uma mulher em seus braços, que acabará de resgatar imóvel das águas.
Descrever novamente a cena inicial, é um exercício gratificante. Contém uma sutileza que o cinema, não exerce mais. Quando o exercício da interpretação, ocupava o primeiro posto. Aqui Robert Siodmak sintetiza isso. Diretor alemão, pertecente a academia do expressionismo, oriundo de seu país. Sempre usufruindo o máximo das imagens, assim como dos cenários da trama. Uma das marcas desse movimento. Um serial killer está a solta. Suas vítimas são mulheres, que possuem algum tipo de deficiência. A bela jovem, que observamos suas reações no cinema, é um alvo em potencial. Seu nome é Helen. Uma jovem que após submeter-se a uma tragédia familiar, perde o poder da fala. Ela reside e trabalha, na casa dos Warren.
Uma charmosa e intiminadora mansão vitoriana. Que abriga uma família respeitável, acima de qualquer suspeita. Mas quando encontram-se no mesmo ambiente, convivendo com a eminência do perigo, é que as máscaras começam a cair. A até então, inabalável estrutura familiar, começa a deteriorar-se. É nessa atmosfera de intrigas e mistérios, tipica de uma obra de Agatha Christie, que Helen está inclusa.
O grito é um impulso, perante uma ameaça. Em um casarão permeado pela dúvida. Onde nada é, o que aparenta ser, seria uma arma mais que natural. E no caso de Helen? Estupenda performace de Dorothy McGuire. Clássico absoluto assinado por Robert Siodmak. O italiano Dario Argento, utilizaria em sua obra prima Prelúdio para Matar, trinta anos mais tarde, alguns dos simbolismos aqui implementados. O cinema aqui, foi representado em sua essência.
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`´´Adoro a televisão. Antes dela, sempre dizia que o cinema era a arte mais vagabunda que existia. Agora já estamos em segundo lugar.`` Billy Wilder
Inegável a potência que esse instrumento possui. Ainda que ao longo do tempo, tenha perdido o alcance de outrora. Talvez perdido não seja a melhor expressão. Compartilhado espaços com outras mídias - encaixa-se melhor. A mais recente delas (internet), serve perfeitamente para analisarmos a influência (da dita caixa preta) em nossa sociedade. Vide o tamanho do desconhecimento - munido de pensamentos irracionais - que circulam na dita rede.
Utilizada ao longos dos anos como uma espécie de marionete. Que transmite, dita o que sera informação ou tendência. Sucesso-fracasso. O que é certo-errado. Servindo com honraria as necessidades-expectativas do seu titereiro momentâneo. Sempre apresentando (leia-se vendendo) ilusões, soluções, crenças, felicidade. Mas afinal, quem seria o seu titereiro?
´´ Você é um homem velho... que pensa em termos de nações e pessoas. Não existem nações. Não existem pessoas. Não existem russos. Não existem árabes. (...) Só há um sistema holístico de sistemas! Um vasto e imanente, interligado, interagente... multivariante, multinacional domínio de dólares!Dólares petrolíferos, eletrodólares, multidólares. É o sistema internacional da moeda corrente... que determina a totalidade de vida neste planeta. Não há América. Não há democracia. Só há IBM e ITT... e AT&T... e Du Pont, Dow, Union Carbide... e Exxon. Essas são as nações do mundo de hoje. (...) Nós não estamos mais vivendo num mundo de nações e ideologias, Sr.Beale. O mundo... é um colegiado de corporações... inexoravelmente determinado... pelas leis imutáveis dos negócios. Um mundo perfeito... não haverá guerra ou fome... opressão ou brutalidade. Uma vasta e ecumênica "companhia-mãe" pela qual todos homens irão trabalhar para servir a um lucro comum que proverá todas as necessidades e tranqüilizará todas as ansiedades... E eu escolhi você, Sr.Beale... para pregar esse evangelho...``
As marionetes (emissoras) como toda empresa, visam apenas o lucro e seus interesses. Mas a que preço? Qual o resultado final de tal ação? Basta observarmos sua programação precária, miserável. Programas carregados de um assistencialismo medíocre em forma de conteúdo. Sempre baseado na desgraça-descrença alheia. Entubada de anúncios dos mais variados segmentos. Sem o mínimo de gerência ou responsabilidade. Tendo um jornalismo como carro-chefe. Deveras exaltado como insento, mas exibidor apenas de suas verdades.
Mas, até que ponto, a platéia dos fantoches são isentas de responsabilidade nesse ciclo vicioso? O conhecimento nasce perante questionamentos. Plateia não exerce tal atividade. Apenas aplaude. Esse é justamente um dos vários (entre outros) méritos da obra dirigida por Sidney Lumet. Satirizar quem aplaude sem justificativa. Aquele que mastiga, engole, tudo aquilo que lhe é oferecido. Dimensionar de modo sarcástico o tamanho da nossa passividade (ignorância).
´´A nossa indignação É uma mosca sem asas Não ultrapassa as janelas De nossas casas`` Skank
Quem nos proporciona tais questionamentos é Paddy Chayefsky. Munido com um dos mais imponentes roteiros que o cinema americano já exibiu. Chayefsky, roteirista perfeccionista sem igual. Beira ao extremo. Defendeu arduamente suas convicções transcritas no papel. Convicções que o levaram a discordâncias com Lumet, acerca do próprio elenco. Vetaria a britânica Vanessa Redgrave, por não concordar com as posições políticas da mesma. Há quase quarenta anos, Chayefsky descrevia de forma visceral o jogo de conveniências. Os conchavos, os mandamentos promíscuos que conglomerados ditam perante a sociedade. Sempre suavizando quando necessário. Chayefsky aponta com um brilhantismo ímpar, como a caixa preta é, entre tantas outras, apenas mais uma forma cômica de manipulação.
“É que a televisão Me deixou burro Muito burro demais E agora eu vivo Dentro dessa jaula Junto dos animais” Titãs
Algumas observações acerca dessa obra: é inevitável uma associação (mesmo que supérflua) com Janela Indiscreta. Interessante que ambas foram lançadas em 1954. No entanto, Testemunha do Crime fora exibida um mês antes. Uma das consequências desse fato, entre outros, fora acabar em desmemoria com o êxito da obra assinada por Hitchcock.
Como fora mencionado na página anteriormente, um dos méritos dessa película deve-se muito a John Alton. Com sua belíssima reprodução, construiu esplendorosamente a áurea desse movimento: um ambiente melancólico envolto pelas sombras. Também gostaria de ressaltar alguns pontos que, ao meu ver, contribuíram negativamente com a trama. O primeiro ponto é: quando a polícia recebe uma denúncia, ela jamais expõe quem a realizou. Tudo bem que essa negligência era justamente o alicerce da trama, mas convenhamos… Já o segundo e mais contrassenso: as pretensões de Albert. Um nazista com objetivo de reedificar a doutrina e reger o mundo. Aquela antiga ladainha: bem versus mal. Obviamente, não precisamos deduzir o papel que fora representado pelos americanos.
Mesmo contendo latentes equívocos, Witness to Murder é um bom entretenimento. Sempre será um deleite assistir George Sanders e Barbara Stanwyck em tela. Principalmente Stanwyck: que atriz-mulher esplendorosa. Mesmo a produção tentando contradizer isso a todo momento.
Depois do êxito obtido com Laura (Otto Preminger) nas bilheterias, a 20th Century Fox apostou em Envolto nas Sombras, para tentar repetir a dose. O resultado foi satisfatório. Aqui, Henry Hathaway (O Beijo da Morte, Sublime Devoção, Bravura Indômita), mais uma vez, realiza uma direção segura. Contemplado pela magnífica fotografia de Joseph MacDonald. Em minha singela opinião, o maior triunfo do filme.
O quarteto central da trama é eficiente. Lucille Ball, Mark Stevens, o sempre competente e, muitas vezes, subestimado William Bendix. E o ponto positivo, mas também negativo, é Clifton Webb. Calma, eu explico. (…) Webb é soberbo, magnífico. Sua atuação irrepreensível. Mas, as semelhanças entre Hardy Cathcart e Waldo Lydecker (nome do personagem interpretado por Webb, na película Laura) são inúmeras para serem ignoradas: um abastado presunçoso. Obcecado por uma mulher mais jovem. E, mesmo que não haja relevância alguma na trama, há uma pintura envolvida.
Envolto nas Sombras não conseguiu alcançar o patamar do seu antecessor. Talvez a falta de uma identidade própria tenha contribuido muito para isso. Porém, é uma bela pérola desse movimento fantástico que merece ser descoberta e apreciada.
´´Aos domingos, há uma batalha de programas na televisão brasileira. Na Globo, não há novelas, nem noticiários. Seu programa da tarde, é o Domingão do Faustão. Uma mistura de músicas, olimpíadas bobocas e catástrofes domésticas. ``
Acreditar nas boas intenções da emissora inglesa ao produzir esse documentário, seria, no mínimo, muita ingenuidade. Mas não há como contestar o valor do mesmo. Observei muitos questionamentos, acerca das informações defasadas contidas na obra. Bem, presicamos lembrar o período de sua realização e exibição. Tempos em que o caixote negro refletia um aurea latante. Onde tal emissora retratada decidia o futuro do país.
Muito do conteúdo exibido há mais de vinte anos prevalece intacto em nosso cenário. Documentando a influência do ´´império Globo`` perante a sociedade. Muitos insistem em dizer que, devido ao acesso da população a outros meios de entretenimento e informação, sua força fora domesticada. Bem, precisamos considerar que, assim como outros meios, ela adentrou-se em outras plataformas acompanhando a tecnologia. Sua amplitude está além do estabelecido pelo controle remoto.
Por mais que o foco do documentário, seja acerca do império construído por Roberto Marinho, podemos; e devemos também, ampliar nossa visão para as demais emissoras. Por mais que o alcance das mesmas, seja inferior, todas possuem seus interesses e seus conchavos. A verdadeira balbúrdia das concessões, das generosas verbas publicitárias governamentais. Suas promíscuas inter-relações. O jogo fétido da mão-dupla. A mão que afaga é a mesma que apedreja. Collor que o diga.
Aliás ele também dá o ar da graça. O ex-presidente da república (atual Senador por Alagoas). Quando presidente, nomeou o excelentíssimo Eduardo Cunha, presidente da extinta Telerj. Exonerado da presidência em 1993, após um caso de corrupção. Atualmente, encontra-se encarcerado. Mas que em outrora, fora o homem mais influente do país. (…) Quando vejo figuras como sr. Brizola e sr. Luís Inácio da Silva nesse documentário... “Lutar contra a corrupção e melhorar a vida do povo”. Engraçado como os ideais mudam, conforme a posição alcançada. Pois é necessário sucimbir-se à mórbidas alianças. ´´Se quiser conhecer verdadeiramente um homem, dê-lhe poder."
Aguardar a democratização da mídia, em nosso país, é uma tarefa árdua. É como crer em papai noel ou coelho da Páscoa. Levando-se em consideração que os únicos interessados nela de fato (nós) também não cultivamos o mínimo interesse. Pelo simples fato de não sabermos o que é democracia (ou pelo menos fingimos). Tentamos a todo custo impor nosso ponto de vista, nossa verdade. Cultivar adjetivos contra aqueles que pensam diferente. Até quando iremos nos digladiar? Enquanto isso, o som do plim-pilm e de outras esferas que decidem por esse país, ecoam cada vez mais alto e forte. Em um país dividido, dominado e habituado, pela irracionalidade e ignorância. Eles agradecem.
Tenho certeza que muitos já escutaram, leram, ou quem sabe até pronunciaram para alguém, esse ´´ditado motivacional``: ´´Se a vida lhe der limões, faça deles uma limonada", e foi exatamente isso, que Edgar G. Ulmer fez. Com um orçamento baixíssimo, filmado em apenas duas semanas, se não me engano. Ulmer conseguiu nos brindar com uma bela limonada.
Ulmer consegue ilustrar com maestria, como algumas decisões/escolhas (equivocadas ou não), elaboradas pelo ´´destino``, podem influenciar no rumo de nossas vidas. Com um roteiro ágil, inventivo e eficaz. Conta com uma narrativa muito interessante, conduzida pelo anti-herói fracassado; apático frente sua própria vida; sempre a espera da boa vontade do ´´destino``.
O pianista fracassado, que resolve ir atrás da única coisa que lhe faz sentido: sua noiva. Para poupar dinheiro, resolve tentar a ´´sorte``, pedindo carona até Los Angeles. Aliás, com uma visão interessante sobre dinheiro, e o ato de pedir carona:
-Dinheiro. Sabe o que é? É aquilo que nunca tem que chegue. Uns papéis com o retrato do presidente, que faz dos homens escravos, criminosos ou cadaveres. É ó que tras mais problemas ao mundo, que qualquer outra coisa já inventada.
-Andar de carona poupa-te dinheiro, mas é perigoso. Nunca se sabe o que te espera, quando ouve os freios chiarem.
A ´´curva no destino´´ de Neal, começaria à se acentuar, no momento em que
o homem, que lhe deu carona morre inesperadamente. Desnorteado, e com receio de ir a polícia, Neal tomaria uma decisão que mudaria o rumo de sua vida. Essa decisão, colocaria mais à frente, Neal em contato com a inanidade; avareza, por intermédio de Vera. A consequência desse encontro, proporcionado por decisões equivocadas, que o fizera anteriormente, foi a transformação de um mero pianista fracassado; cuja única intenção era chegar até Los Angeles; por intermédio de caronas, para encontrar-se com sua noiva, em um assassino involuntário.
Interessante, podemos até questionar suas decisões, em especial a primeira. Mas sejamos francos; em seu lugar, será que fariamos diferente? Ou melhor, se estivessemos no lugar da policia, acreditariamos caso Neal, contasse o que de fato aconteceu naquele fatídica noite?
´´ O mundo está cheio de céticos. Eu sei, eu mesmo sou um deles. E esse negócio de Haskell: Quantos de vocês acreditariam que ele caiu para fora do carro? Agora, depois que eu matei Vera sem a real intenção de fazê-lo, quantos de vocês acreditariam que não foi premeditado? Vera estava morta. E eu era o assassino. Assassino!``
Por mais que você se esforce, para apagar certas recordações indesejadas, tentando apenas seguir em frente, esqueça: infelizmente é inexequível. Porque de uma forma ou de outra, elas voltarão ao teu encontro. É o resultado da causa e efeito; ação e consequência, ou melhor; é o peso do destino.
´´Você já quis se esquecer alguma coisa? Já quis cortar fora ou apagar um pedaço da sua memória? Não é possível, você sabe, por mais que se esforce. Você pode mudar de cenário, mas mais cedo ou mais tarde vai sentir a lufada de um perfume, ou alguém vai dizer uma certa frase, ou talvez cantarolar alguma coisa. E então você está perdido de novo.``
´´ Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.``
CASO AINDA NÃO TENHA ASSISTIDO AO FILME, POR FAVOR: NÃO LEIA!
Incrível como as obras realizadas por Scorsese, na década de oitenta são subestimadas. De O Rei da Comédia, ao polêmico A Última Tentação de Cristo. Uma pena, enfim, em Depois de Horas, Scorsese nos brinda com mais uma crônica nova-iorquina. Solidão; acodomação; o medo latente do sexo masculino perante o feminino (esse ilustrado através de metáforas sensacionais). Abordados com um humor negro engenhoso, proporcionado pelo roteiro ágil de Joseph Minion.
Bem, era para ser apenas mais um dia, como outro qualquer, na vida de Hackett. No trabalho, encontra-se treinando um novo funcionário. Esse, assimilando rapidamente os processos da função, faz Hackett soltar aquela máxima ´´mais uma semana e você estará craque``. Mas logo após essa afirmação, é surpreendido com um comentário do jovem: -Mas é temporário. - Oque? -Disse que é temporário. Não quero fazer isso a vida inteira. Não diga ao sr Digman, que lhe falei isso, por favor.
Enquanto o jovem otimista, explicava o motivo da rápida passagem pela empresa, e o rumo que almejava para sua vida. Hackett visualizava a sua volta, além de máquinas e papéis, quantas ambições parecidas foram fareladas pela vida com o tempo (porque não dizer incluindo a sua?). Sim, o sonho é a arma de todos, mas a sorte não (que na maioria das vezes, é mais imporante que o próprio talento). Mas isso não serve como desculpa, para um dos piores sintomas do ser humano: a acomadação.
Sobrevivente a isso, Hackett chega em casa após mais um dia de trabalho, depois de ser recepcionado por sua companheira; a solidão, liga a tv, entediado, decidi ir a uma cafeteria com seu fiel escudeiro: o desgastado livro Trópico de Câncer. Lá conhece Marcy, uma bela garota, que lhe desperta o que sua vida não consegue, a muito tempo: interesse.
O desejo de Hackett em se sentir vivo, é tão improrrogável, que o mesmo liga para Marcy, na mesma noite que à conhece (com a desculpa de estar interessado no produto vendido por sua amiga). Ela então, o convida para ir até a casa, ele olha com certo temor para o relógio, afinal já são são onze horas e trinta e dois minutos. Hackett jamais sairia esse horário, sua zona de conforto não lhe permite. Mas impulsionado pela expectaviva de fazer algo que realmente tem interesse, ele topa.
A partir daquele instante, quando sai da sua zona de conforto, Hackett se depara com a insanidade de uma noite não planejada. Em uma Nova Iorque sem glamour; esse ofuscado pelas ruas escuras e sujas, bares e cafeterias vinte e quatro horas, festas temáticas. Habituadas por pessoas comuns, que assim como Hackett, mas cada um a sua maneira; tem os mesmos objetivos: apenas sobreviver a mais uma noite (seja ela como for).
Os apreciadores do gênero noir tem muito a agradecer James M. Cain. Seus romances policiais proporcionaram adaptações memoráveis. Exemplo disso, são obras como: Pacto de Sangue (Billy Wilder), Alma em Suplício (Michael Curtiz), Fuga do Passado (Jacques Tourneur), Ligeiramente Scarlet (Allan Dwan).
Dirigido por Tay Garnett, O Destino Bate à Sua Porta também é baseado em um romance de Cain. E carrega consigo toda a áurea que ilumina esse gênero fascinante: narração em off, atmosfera pessimista, personagens ambíguos e, como não poderia faltar - a presença arrebatadora da femme fatale. Figura interpretada magistralmente por Lana Turner, no auge de sua venustidade. E, sendo franco, não poderia culpar o quase ´´andarilho desorientado`` sem perceptivas com o futuro Frank (John Garfield) por apaixonar-se por aquela mulher. A entrada de Cora em cena é visceral; deslumbrante; hipnótica. Tentar adjetivá-la é uma tarefa impossível. É deleite cinematográfico! A figura feminina, de olhar elevado penetrante, ambiciosa e belas vestimentas - já naquele momento - sem um mínimo de esforço e sequer uma palavra dita, já possuía em mãos, mesmo que a princípio sem a devida intenção, a vida daquele homem. Sempre elegante com figurino onde a cor branca era predominante. Não apenas para ressaltar ainda mais seu brilho naquele ambiente que lhe rodeava: melancólico; turvo; escuro. Mas também tudo o que faltava na vida do inquietante solitário Frank e a todos a sua volta.
Nick tinha conhecimento ou pelo menos a suspeita que alguma coisa acontecia entre sua esposa e Frank? Porque em determinados momentos, o próprio lançava olhares em direção aos dois que me despertaram essa dúvida.
Queria realçar também alguns pontos que em minha concepção, acabaram prejudicando o andamento da trama. Como as cenas demasiadamente longas no tribunal, acabaram tornando-se cansativas.
E quando sr. Kennedy, ex sócio de Keats resolve chantagear os dois. Quando o mesmo é desarmado e obrigado a ligar para o comparsa,seu amigo Willie. E o mesmo não satisfeito em levar apenas o documento que ´´fora acordado``, resolve levar também as fotocópias que usaria em um futuro próximo para chantagear novamente o casal. É no mínimo, muita ingenuidade.
Enfim, são apenas meros detalhes que em momento algum retira o brilho desta obra realizada no período de ouro do cinema. Ainda não tive a oportunidade de assistir as outras três adaptações, mas acho improvável serem superiores a essa. Merece todo o prestígio e a alcunha de clássico que possui.
É incrível como algumas obras cultuadas atualmente, na época de seus respectivos lançamentos, foram um fracasso comercial. E Doze Homens e uma Sentença, não fugiu a regra. Criada originalmente para a tv, era exibida ao vivo pela CBS, quatro anos antes de ganhar as telonas. Teve um espectador ilustre Harry Fonda, que encantado com o que viu, bancou toda a produção, e entregou a Lumet; sendo assim, o veterano diretor de teatro, fazia sua estréia nas telonas.
Lumet nos proporcina um espetáculo teatral sublime. Onde doze pessoas, em uma sala fechada, tem a árdua tarefa de selar o destino de um jovem de dezoito anos, que está sendo julgado pelo assassinato do pai. Nessa sala (onde se passa 98% do filme), e isso exige; além de grandes atuações, um primoroso roteiro. E através dele, essas doze pessoas, expõem além de suas teses pró ou contra o réu; suas razões, crenças e preconceitos.
´´É sempre difícil manter os preconceitos pessoais fora de uma coisa dessas. E em qualquer parte, o preconceito sempre esconde a verdade. Realmente não sei qual é a verdade. Não creio que alguém possa saber. Nove de nós parecem pensar que o réu é inocente, mas estamos jogando com probabilidades – podemos estar errados. Podemos estar libertando um homem culpado, não sei. Ninguém pode saber. Mas temos uma dúvida razoável, e isso é algo muito valioso em nosso sistema. Nenhum júri pode declarar um homem culpado a menos que tenha certeza. Nós nove não podemos entender como vocês três têm tanta certeza. Talvez vocês possam nos dizer.`` Jurado número oito
Traçar o destino de alguém, baseando-se apenas em argumentos apresentados por ambos os lados, sem deixar que nosso pré-julgamento, personalidade, emoções ou influências, interfiram em nessa decisão, é quase inexequível.
Isso sintetiza bem a ingenuidade de pensarmos na existência de um sistema judiciário perfeito e totalmente justo. Abre espaço também para algumas reflexões pessoais, em relação a pena de morte, por exemplo. Uma questão que sempre dividirá opiniões.
Wilder já era um dos grandes, quando lançou Farrapo Humano (por mais incrível que possa parecer, esse titulo de melodrama escolhido para o português, também pode ser considerado uma escolha válida. Apesar de se passar apenas em um final de semana, da vida de Don, por isso o título original: O final de Semana Perdido, Don diante suas ações, acabou se transformando sim, em um mero Farrapo Humano). Era 1945, um filme que retrataria de forma realista e não cômica o alcoolismo. Da para imaginar, a pressão que Wilder sofreu da indústria de bebidas, e de todos os lobos conservadores? A indústria de bebidas chegou a oferecer 5 milhões de doláres a Paramont para que ela não destribuisse o filme. Wilder disse ironicamente que fizeram a proposta a pessoa errada, se tivessem feito a ele, era bem capaz de aceitar.
Logo após os créditos iniciais, somos brindados com uma vista panorâmica de Nova Iorque, a câmera desliza pela parede de um edificio, nela visualizamos três janelas, e em uma delas visualizamos uma garrafa pendurada na janela. Atráves desse travelling, nos tornariamos aos poucos, meros espectadores de uma tragetória de autodestruição. De um singelo sonho em ser escritor, ao nível de humilhação extrema ao ser pego tentando furtar dinheiro, da bolsa de uma jovem.
...Ela estraga meu fígado, não é? E meus rins, sim. Mas o que ela faz para a mente? Ela libera os sacos de areia para que o balão possa voar. De repente eu estou acima do normal. Confiante, altamente confiante. Eu estou caminhando sobre uma corda bamba nas cataratas do Niagara. Sou um dos grandes queridos. Sou Michaelangelo, moldando a barba de Moisés. Sou Van Gogh pintando a pura luz solar. Sou Horowitz, tocando o Concerto Imperador. Eu sou John Barrymore antes do cinema pega-lo pelo pescoço. Eu sou Jesse James e seus dois irmãos, todos os três deles. Sou W. Shakespeare. E lá fora não é Third Avenue qualquer tempo, é o Nilo. Nat, é o Nilo e se move para baixo da barcaça de Cleópatra...
Escrito por Wilder e Charles Brackett (a partir do romance homônimo de Charles R. Jackson), repleta de diálogos ágeis, com duplos sentidos, exalando irônias e sarcasmos, marca registrada de Wilder. Ressaltando obviamente a trilha sonora, Miklos Rozsa ultilizando sempre tons graves e impactantes, inserindo o teremin, usado principalmente nas cenas em que é realçada a situação de dependência de Don. Também a fotografia marcante de John F. Seitz, observem como a câmera enfatiza os efeitos do álcool em Don, sempre se aproximando lentamente.
Será que é preciso dissertar sobre Ray Milland? Sim, até porque a Paramont alertou a Milland, que esse filme seria o final de sua carreira, naquela época um dos queridinhos de holywood. Posso até estar exagerando, mas considero uma das mais belas interpretações do cinema. Extremamente detalhista e intenso: desde as mãos sempre trêmulas, cabelo sempre despenteado, com o olhar totalmente perdido, hora deslumbrado, o cigarro sempre levado a boca de forma contrária. A cada copo erguido em direção a boca, a expressão de prazer instânteneo, logo transformada em melancolia.
As seqüências do "delirium tremens" são soberbas, desde sua breve estada na enfermaria, ao ápice ao imaginar um morcego atacando um rato em um buraco da parede.
Observei que muitas pessoas acharam o final ´´happyend``em virtude dos acontecimentos, e com isso destoou de todo clima do filme. Bem, lembrando que o final recebeu uma censura do estúdio, então fizeram o possível para tentar não perder todo o clima, construido durante o filme. Mas independente disso, ressalto que:
Don jamais ingeriu um copo seguer perante Helen, e quando Don conta o primeiro capítulo de sua trágica história, intitulada: A garrafa para Nat, em um certo ponto, Nat conhecedor desse triste enredo, diz com certo deboche:
- Então eles vão a festa, ele fica bêbado e caiu de rosto no chão. Don, segurando um copo, responde ironicamente: - Não. Nessa hora, ele está louco pela garota. Ele bebe suco de tomate. Não toca em bebida a noite toda. Por duas ou seis semanas...
Na minha opinião, na cena final, ele apenas diz o que Helen precisava ouvir naquele momento, uma palavra de alento, um sinal de mudança, afinal ele devia isso à aquela pessoa que sempre acreditou perante todas as circunstâncias, que isso um dia aconteceria: a sua recuperação. Não se esqueçam: se trata de uma obra de Wilder, tenho certeza que esse final, não passa de mais uma provocação do mestre.
...E lá fora, na grande, grande selva de pedras Fico pensando quantos há como eu Pobres homens amaldiçoados, queimando de sede figuras cômicas para o resto do mundo enquanto rastejam cegamente para outro copo outra noitada, outra farra....
Sem discriminar ou condenar quem quer que seja, Farrapo Humano trouxe a tona um assunto até então negligenciado, ou apenas tratado de forma cômica, com a seriedade necessária. Servindo até os dias de hoje, para reflexões e estudos, de um assunto tão presente em nossa sociedade, e ao mesmo tempo muitas vezes distante do nosso conhecimento.
Filme noir, confesso que a tempos perdi a conta de quantas vezes escutei essa expressão. E tenho certeza, que uma das primeiras obras que surgem a mente de muitos, chama-se Pacto de Sangue. Influenciado pelo expressionismo alemão, esse termo tem como principais caracteristicas: atmosfera pessimista, visão cética do mundo, nada de herois e mocinhas indefesas ou o bem contra o mal; apenas pessoas comuns, com suas virtudes e defeitos; a vida nua e crua, como ela é. As pessoas já anseavam por isso, um cinema próximo a realidade, afinal a arte não imita a vida?
Escrito por Wilder conjunto com Raymond Chandler, Pacto de Sangue inicia revelando quem é o assassino, até porque, o foco do roteiro não é em desvendar quem cometeu o assassinato, e sim, revelar como e o que o levou a praticar tal barbárie, e por ventura o que foi capaz de fazer para encobrir seus atos.
´´Comunicado interno Walter Neff para Barton Keyes Los Angeles, 16 de julho de 1938 Isto...parecerá uma confissão. Eu não gosto dessa palavra. Falarei de algo que não viu por estar muito perto. O fiz muito discreto para encobrir as falsas requisições. Possivelmente seja assim. Me refiro ao assunto Dietrison. De indenização dobrada. Procurava algo na pista Keyes. Disse que não era acidente. -Certo! Que não era suicidio. -Certo! Que era assassinato. -Certo! Acreditava o ter tudo muito controlado. Perfeito. Não era assim porque cometeu um engano. Um pequeno engano. Se enganou de assassinato. Sabe quem matou Dietrison? Se segure bem cadeira Keyes. Fui eu quem o matou. Eu Walter Neff. Agente de seguros. Trinta e cinco anos. Solteiro, e sem cicatrizes aparentes. Até recentemente, claro. Sim o matei. Matei por dinheiro e por uma mulher. Fiquei sem o dinheiro e também sem a mulher. Estupendo!``
Álias, o filme é todo calcado em assassinato e adultério, e não é mostrado nenhum dos dois na tela. E a sutileza como o sexo é abordado na trama:
eles se beijam no sofá, já na cena seguinte, estão sentados um em cada canto: ela retocando a maquiagem, e ele, acende um cigarro.
John F. Seitz (voltaria a trabalhar com Wilder em Farrapo Humano e Crepúsculo dos Deuses) e sua fotografia obscura, mergulhada no constraste entre o preto e branco, detalhe sempre para o destaque dos pontos negros na tela. Nas ´´prisões`` reflexos das persianas nas paredes pouco iluminadas, onde os personagens se encontram cada vez mais encurralados. Reparem como a casa dos Dietrichson, tem um apelo enorme na trama, o retraimento anguistiante na qual vive mergulhada aquela casa. As imagens por si contam uma história. Uma amostra disso é na cena em que:
Phyllis atira em Neff e o mesmo diz: Tem que melhorar a pontaria, baby. Tente outra vez...
Edward Robinson dá o tom perfeito do humor irônico, marca das obras de Wilder. Fred MacMurray dando vida a figura máxima do anti heroi, o tipo esperto, cínico, atraído por uma mulher fatal para um terreno buliçoso. E Barbara Stanwyck, (com sua peruca falsa, como sua personagem, sacada genial de Wilder), no papel de Phyllis Dietrichson: sedutora, fria, calculista, ardilosa, de caráter dúbio, podemos classifica-la como primeira ´´femme fatale`` de holywood? Creio que sim.
Com um desfecho magnífico, onde nele é ressaltada através de um diálogo entre Keyes e Neff a relação de amizade, porque não dizer paternal entre eles:
“ Sabe por que você não adivinhou, Keyes? Eu te digo. Porque o homem que você estava procurando estava muito próximo. Bem do outro lado da sua mesa.
- Estava mais perto do que isso, Walter.
- Eu te amo também.”
Várias doses acavaladas de boa vontade ingeri, tentando entender o que se passava na cabeça dos associados da AACC, quando escolheram O Bom Pastor como melhor filme.
Uma curiosidade: Wilder sabia que a Paramont fez toda uma campanha para O Bom Pastor, mas ainda tinha esperença de arrebatar a estatueta de melhor diretor. Mas quando o nome de McCarey foi anunciado, e o mesmo se encaminhava em direção ao palco, Wilder não se conteve e esticou o pé, resultando no encontro entre McCarey com o chão.
Quando você se dispõe a assistir um filme do polêmico e brilhante Roman Polanski, você precisa ter em mente que : nada é o que parece ser. Nosso fascínio pelo desconhecido (às vezes) é algo perigoso e Polanski sabe aproveitar muito bem disso. Nesta trama, acompanhamos o tímido Trelkovsky. Um polonês corretor de seguros que consegue um emprego na França e aluga um apartamento que fora de uma moça chamada Simone Choule. Uma jovem que havia tentado o suicídio atirando-se da janela de seu prédio.
Ao ficar ciente do falecimento da garota (em decorrência dos ferimentos causados pela queda) uma obsessão pela jovem toma conta do rapaz. Uma descrição minuciosa, detalhada e profundamente apavorante do processo que leva uma pessoa à completa loucura. Trelkovsky lentamente vai perdendo a noção da realidade e sua sanidade é confrontada a todo instante. Embarca em um mundo que apenas ele enxerga. Iniciando-se aqui, uma batalha contra o adversário mais desleal que poderia enfrentar: sua própria mente.
Mas obviamente isso não é explícito. Pelo contrário, jamais conseguimos saber se o que estamos vendo é a realidade ou uma alucinação do protagonista. Polanski vai nos fornecendo algumas pistas, de qual estado emocional Trelkovsky encontra-se, por exemplo: na pergunta em que faz a Stella:
´´....Diz-me, em que preciso momento é que um indivíduo deixa de ser o que pensa que é? Cortas-me o braço. Digo ‘Eu e o meu braço’. Cortas-me o outro braço. Eu digo ‘Eu e os meus dois braços’. Tu tiras-me o estômago, os rins, presumindo que isso era possível e eu digo, ‘Eu e os meus intestinos’. E, agora, se me cortares a cabeça, eu diria ‘Eu e a minha cabeça’ ou ‘Eu e o meu corpo’? Que direito tem a cabeça de se apelidar eu mesmo?...``
Ou quando passamos a acompanhar Trelkovsky, no ponto de vista dos vizinhos. Enfim somos empurrados em um universo incoerente e incompreensível. Onde não existe respostas ou explicações. Polanski utiliza de toda sua maestria na direção, e se não bastante com uma notável atuação (ele da vida ao personagem principal), um roteiro fascinante, e a genial fotografia de Sven Nykvist. Sim, o eterno parceiro de Ingmar Bergman. Que com suas sombras constroi uma atmosfera pesada. Suja. Inóspita. Sem luz. Sem vida. Encontrando-se com a angustia na qual o personagem mergulhava.
Com O Inquilino, chegaria ao fim a brilhante ´´Trilogia do Apartamento``. Onde o cenário principal é um apartamento, onde teoricamente estamos protegidos de praticamente tudo. Menos de nós mesmos.
Porque tudo abordado no filme, por incrível que pareça caminha lado a lado conosco. O preconceito e a intolerância religiosa, a fé cega de muitas pessoas, o autoritarismo do poder público e da policía, o sensionalismo barato e a distorção de notícias por uma ´´capa de jornal``, a mulher desiludida com sua vida, se iludindo com o conquistador barato e etc...
A técnica do plano- sequência: grandiosidade na simplicidade.
´´ Esse negócio de milagre é preciso ser honesto, se a gente embrulha o santo perde o crédito. Na outra vez o santo olha, consulta lá seus assentamento e diz: Ah, você é aquele que já me passou a perna? Pois vá fazer promessa pro diabo que o carregue, seu caloteiro de uma figa! `` Zé do Burro
Esse filme é bem mais do que bulliyng ou machismo. Assisti minha vida sendo retratada em alguns momentos no filme. Tinha a mesma idade de Alê quando perdi minha mãe, e a relação da família pós tragédia é de vital importância. Porque é nesse momento que pode ser criado aquele certo distanciamento entre os dois, ainda mais no caso deles, que para ´´ tentar fugir `` e recomeçar mudam completamente de vida. Somando a falta de cumplicidade entre pai e filho ( a ), aquela fase crítica ( adolescência ), pode ter resultado na passividade da protagonista. Apesar de achar que foi exagerado.
Também relata também a burocracia/impunidade que assola alguns países quando o assunto é menores de idade.
´´ Você pensa que você é louco ou coisa parecida? Bem, você não é! Você não é mais louco que a maldita grande maioria que anda pelas ruas por aí!”
Um Estranho no Ninho, não serve apenas para Mac, mas sim para todos que se encontram ali.Eles representam todos os estranhos no ninho que existem pelo mundo. Os estranhos de uma sociedade que dita regras e padrões e que não aceita o ser diferente, aquele que se recusa a seguir normas. Tratando-os como loucos.
Leve, engraçado, triste, feliz e real. Principalmente nos dias de hoje, onde a falta de tempo, stress, do dia a dia, nos faz perder os momentos mais felizes, que são as coisas mais simples da vida, como a familía.
Cleópatra
4.0 307 Assista AgoraCaso ainda não tenha assistido ao filme, evite a leitura do comentário abaixo.
Ao consumir um produto, imaginar por um mero instante sua concepção, passando por toda logística, culminando em seu destino final, parece uma tarefa desnecessária e nada instigante. Pessoalmente, acredito que tal pratica, além de fascinante, seja de grande valia ao analisarmos um objeto. Seja uma obra cinematografia, literária, musical ou gastronômica, por exemplo. E quando efetuamos tal exercício com a película assinada por Mankiewicz, torna-se minimamente compreensível seu resultado.
Principalmente quando trata-se de personagens históricos. Pessoalmente, costumo ficar na defensiva. Liberdade é essência artística. Mas quando trata-se de história, costumo não ser um grande adepto. Cleópatra é uma figura quase mística. Carrega um fascínio inominável. Descrever sua história ou mesmo parte dela é uma tarefa quase impossível. Desconhecimento, inverdades ou rótulos costumam estar sempre a prejudicar. Em uma obra cinematografia, onde o tempo de exibição é um fator quase que crucial, torna-se uma tarefa caso planejada incorretamente, fadada ao insucesso.
Cleópatra foi projetada (pela hoje conhecida como FOX) como uma espécie de resposta imediata. Sua concorrente (MGM) estava colhendo os frutos proporcionados pelo estrondoso sucesso comercial de Ben Hur (1959). Idealizada como uma produção rentável (ainda em 1959), foi finalizada em meio ao caos, em 1962. Não escreverei sobre os devaneios de sua produção, pois são de conhecimento de todos, mas gostaria de pontuar alguns:
- A produção teve início na Inglaterra. Sendo brevemente interrompida em decorrência do clima pesado que afetara fortemente os cenários. Assim como a estrela da companhia, Elizabeth Taylor. Que ficara afastada por uma grave pneumonia. Rouben Mamoulian reescreveu o roteiro para que as filmagens seguissem até sua plena recuperação. O novo script não agradou ao ator Peter Finch. Fator para um ´´novo incêndio``. Resultando em uma nova paralisação na produção.
- Mamoulian descontente com esta situação, pediu demissão. Fora substituído por Joseph L. Mankiewicz. Os atores Peter Finch e Stephen Boyd, que viveriam César e Marco Antônio respectivamente, também estavam fora do projeto (por outros compromissos profissionais). Sendo substituídos por Rex Harrison e Richard Burton. Com um prejuízo estimulado de 100 mil dólares por dia, e em busca de um clima mais ameno, a produção mudou-se para Roma. Já em solo italiano, Mankiewicz assume a direção da produção somente com meros vinte minutos de filmagens. Com todos os cenários construídos, roteiro reescrito (pela terceira vez) e com Elizabeth completamente recuperada, foram iniciadas as gravações, um ano depois. Mankiewicz fora demitido durante a edição. Posteriormente sendo recontratado para sua finalização.
- Entregou um bruto de seis horas. Sugerindo dividi-los em dois filmes. Acompanhou todo o processo cirúrgico da obra sendo reduzida para quatro horas. Projetando uma maior abrangência de lugares nas exibições, decidiram realizar um novo processo cirúrgico. Desta vez, sem a presença do diretor. Resultando na versão definitiva de cento e noventa e dois minutos.
Ao final da experiência, não creio que o bruto mudaria minha opinião. Seriam apenas mais algumas exuberâncias em frasco de perfume. Não condeno o interesse e avinco no envolvimento de Cleópatra com os dois generais romanos, mas sim, todo o foco e exploração acerca apenas da temática. Parece que sua vida fora sintetizada em três momentos: seu nascimento, o envolvimento com os dois generais romanos e sua mitológica morte, oriunda da picada de uma serpente.
Mesmo diante daquilo em que se propõe, em grande parte ela falha. Digamos que em sua primeira parte, a retratação da relação entre a egípcia e Júlio Cesar é bem interessante. Proporcionando bons momentos. Um fator que considero crucial, passa pela química entre Taylor e Harrison. Embora o roteiro quase nunca colabore, Taylor conduz a personagem com uma serenidade ímpar. Detentora de postura imponente, carrega consigo um olhar intimidador/hipnótico. Aliado ao seu tom de voz suave, que ao mesmo tempo que dita firmeza, exala conformidade. Já na segunda parte, acredito que em função do argumento rasteiro, juntamente com uma somatória de cenas que, embora verídicas em sua maioria, peca pelo tratamento demasiadamente longo que receberam, tornando a experiência em determinados momentos uma atividade maçante. Citando um simples exemplo, o banquete oferecido pela egípcia a Marco Antônio. Cena bela e grandiosa, mas demasiadamente extensa.
A cena da chegada de Cleópatra em Roma, indica todo o contraste que fora perpetuada durante toda a produção. Se por um lado, sua beleza artística é inquestionável, não posso aqui, esquivar-me em apontá-la como mera perfumaria. Além de ser um fato inverídico, pois sua chegada em solo italiano aconteceu de forma bem discreta. Toda energia gasta neste trecho da drama poderia muito bem ter sido aplicada em diversos momentos de sua vida.
Pegamos como exemplo, sua relação com seu pai, que fora superficialmente tratado em tela. Poderíamos também, acompanhar sua imersão em várias culturas. Ação que lhe proporcionou uma vasta absolvição de conhecimento. Assim como suas primeiras aparições e vereditos no sórdido jogo político. Passando pela relação com seus irmãos, principalmente Ptolomeu XII. Com qual casaria-se visando o trono egípcio. Entre relações dúbias e atritos, até a trama de sua morte enquanto ainda encontrava-se em solo italiano. Fora ignorado também, os filhos de sua relação com Marco Antônio.
A FOX perdera com Cleópatra uma grande oportunidade de aprofundar-se na vida de uma das figuras mais enigmáticas da história. Com sua obsessão em desbancar sua concorrente a todo custo, produziu uma obra inviável que constituiu contornos astronômicos dignos da era retratada. Aliás, o adjetivo megalomaníaca caminha junto com os dois lados: com a figura real, pois ficara marcada no imaginário popular (erroneamente) apenas como a rainha dos excessos- devoradora de homens. E com a película, pois com razão, ficara mais conhecida por sua produção permeada por excessos do que pela obra todo um todo. Pois de fato não agrega muita coisa. Uma pena.
Kanal
4.1 16 Assista Agora``Quando partiu, prometeu à mãe que se manteria aquecida. Todos prometeram. Todas as mães são iguais.``
Em minha concepção, Kanal encontra-se na galeria dos mais garbosos panfletos pacifistas já realizados. Por mais que as intenções do realizador passassem longe dessa vertente. A segunda película da intitulada ´´trilogia da guerra``, realizada por Andrzej Wajda. Podemos dizer que Wajda também enfrentou a ´´trilogia do reconhecimento``. Deste a epopeia que seria todo o processo até sua realização e as inaugurais rejeições. Até a exibição em Cannes e sua aclamação imediata. Posteriormente sendo tragada com mais facilidade em sua pátria.
Enquanto visualizamos uma cidade que mais parece ser composta por peças de lego, pela tamanha facilidade que é desintegrada, surgem os créditos iniciais. Após as devidas apresentações, em meio aos destroços, surge uma voz em off. Enquanto ouvimos o seu relato descritivo acerca da situação, acompanhamos em meio a escombros e poeira o que mais parece formigas enfileiradas, caminhando para um destino incerto. São humanos que são descritos com breves adjetivos. Quando ao final do informe ouvimos a seguinte alegação: Observe nossos heróis em suas últimas horas de vida.
Tal afirmação é uma grande sacada utilizada por Jerzy Stefan Stawinski. Roteirista da drama que cede a ela algumas de suas experiências pessoais. Stawinski participou efetivamente da Revolta (em 1944). Quando nos deparamos com uma obra que aborda um campo tão cruel, remoto de expectativa de sobrevida como é a guerra, sempre aguardamos por possibilidades diferentes do que meramente a morte. Seja um contorno heroico ou um simples alento de superação. Stawinski nos posiciona como meros cúmplices logo no primeiro instante. Daquele momento em diante somos conhecedores de seus destinos. Enxergamos suas ações com um sentimento de penar. Começamos a deslumbrar a morte, como uma recompensa, para aqueles que percorreram em sentido a vida, das mais variadas e ultrajantes formas imagináveis.
Kanal não é uma obra de fácil digestão. Equivocado está, aquele que imagina ser apenas mais um mero pedaço acerca de um evento que modificou o mundo. Descreve mais que um simples pedaço da história. Mesmo que as intenções primárias de Wajda fosse projetar um manifesto anti-soviético. Ele expõe em meio as mazelas da barbárie, realizada por mentes despromovidas da racionalidade, a luta dos chamados heróis sem medalhas em uma busca infrutífera pela sobrevivência.
Infelizmente, não obtive acesso por completo ao conteúdo extra da película lançada em dvd. Contendo entrevistas de bastidores. Uma delas é com o próprio diretor Andrzej Wajda. Ela nos auxilia para melhores concepções, acerca de tudo que engloba sua obra. Uma delas seria de uma crítica a omissão russa perante os acontecimentos. O Exército Vermelho, seguindo ordens de Stalin, aguardaram o mínimo de sobreviventes do conflito, antes de adentrarem tal campo. Já deslumbrando seus interesses pós-guerra. Cita também um poema que ganhou grande notoriedade durante a revolta:
``Nós estamos esperando
Estamos esperando por você, praga vermelha,
Para nos libertar da morte negra.
Nossa salvação reuniu-se com horror ...
Você não pode nos prejudicar! A escolha é sua,
Você pode nos ajudar, você pode nos entregar
Ou ainda atrasar e deixar-nos morrer ...
A morte não é terrível; sabemos como morrer.
Mas saiba disso: a partir de nossas lápides
Uma nova Polônia vitoriosa nascerá
E você não vai andar nesta terra
Você governante vermelho de força bestial!``
Kanal é sobre uma pátria e seus heróis. Que submeteram-se à humilhações inimagináveis em busca da mera sobrevivência. É um imponente grito de revolta de uma nação devastada pela barbárie. Provocada por mentes inescrupulosas que utilizaram vidas como meras peças de um jogo sórdido de tabuleiro.
Quanto Mais Quente Melhor
4.3 853 Assista AgoraCaso ainda não tenha assistido ao filme, evite a leitura do comentário abaixo.
Eleita como uma das melhores do gênero já realizadas em Holywood, essa obra quase sexagenária certamente é merecedora de toda notoriedade. Apesar de achar essa prática de apontar, definir, ou muitas vezes tentar determinar o que é bom ou ruim; melhor ou pior, completamente descabível. Não sei qual a opinião de Wilder perante esse tema, mas sabemos que o mesmo a considerava sua maior realização.
Um carro funerário segue seu trajeto. Dentro dele, um caixão e quatro homens. De repente, escuta-se o barulho de uma sirene - é a polícia. Os quatro ocupantes do carro funerário - incomodados; aceleram. Inicia-se uma perseguição. Os policiais começam a atirar. Dois ocupantes do carro funerário retiram duas metralhadoras e revidam. A viatura policial perde o controle e colide contra uma mureta. Terminada a perseguição, os ocupantes do carro funerário observam um ´´vazamento`` no caixão, consequência de alguns tiros. Ao abrirem, nos é revelado o conteúdo de seu interior: nada de cadáveres, e sim, repleto de bebidas.
Chicago, mil novecentos e vinte nove. Um período marcado pela Lei Seca (que serviu mais como uma fonte de renda para a máfia), que controlavam as cidades. Movida pela música popular. Cultuada pelos heróis-sociais e pela desigualdade social. Não apenas no campo social, mas também entre os sexos. As diferenças impostas entre ambos; seja socialmente ou culturalmente.
Foi nesse terreno hostil, impróprio para o plantio que Wilder - mais uma vez - destilou seu cinismo mordaz; a audácia que lhe era peculiar. Retratando de forma cômica, mas verídica, a ambiguidade social da época. Dos conceitos, estereótipos e preconceitos mascarados sempre pelo imaginário. Descrito com maestria pelo ácido roteiro, fruto de uma parceria bem sucedida entre Wilder e o escritor I.A.L. Diamond. Colocando dois músicos desempregados como testemunhas involuntárias de um massacre. E, ao tentarem escapar de um grande problema, optam por ´´ ingressar no universo oposto``.
Como ressalta o comentário de ´´Daphne``, enquanto conversava com ´´Josephine``, próximos ao embarque. Quando ambos olham para trás, observam uma linda mulher caminhando em direção ao trem. Ela passa por eles e, através de seus olhos hipnotizados, também passamos a acompanhá-la. A princípio, através de um ângulo bem sugestivo. A medida em que ela vai se distanciando (a metáfora envolvendo o vapor do trem é sutil), a câmera vai afastando-se lentamente até o final de sua caminhada. E atônito ´´Daphne`` pronuncia:
- Veja só isso. Veja como se move! Parece gelatina com molas. Deve ter algum tipo de motor interno. É UM SEXO COMPLETAMENTE DIFERENTE!
Outro momento que retrata bem essa diferença é quanto Daphne chega esbravejando em seu quarto:
´´Daphne``- Velho gabiru!
´´Josephine``- O que houve?
´´Daphne`` - Fui beliscado no elevador.
´´Josephine``- Vê como vive a outra metade?
´´Daphne`` -Nem bonita eu sou.
´´Josephine``- Eles não ligam, basta usar saia. É como bandeira vermelha para o touro.
A escolha dos atores também foi fundamental. A escolha inicial de Wilder, para interpretar a doce e meiga Sugar, não era Monroe. Sua experiência com a atriz em O Pecado Mora ao Lado, não foi das melhores. Mas ele tinha a consciência que a obra com Monroe possui um valor inestimável. Seu martírio teria início ao ter que convencê-la que a película teria mais originalidade caso filmada em PeB. Esse foi o primeiro de outros empecilhos que Wilder conseguiu contornar.
"Quase enlouqueci com esse filme. Marilyn me deixava horas e horas esperando por ela nos estúdios. Todos a postos, equipe e atores, tudo pronto mas nada dela aparecer. Algumas vezes, Marilyn aparecia com até seis horas de atraso e quando aparecia parecia uma morta viva - mal conseguia falar e não sabia nenhuma de suas falas! Sabe, eu tenho uma tia que decora todas as falas, chega nos estúdios na hora certa. É extremamente pontual e profissional. Na bilheteria ela deve valer uns cinco centavos! Entende o que digo? Tivemos que engolir muitos sapos para ter Marilyn Monroe nesse filme!" Billy Wilder
Confesso que não sou um grande admirador de Monroe como atriz, mas um fato é inegável: sua presença em cena era devastadora. Possuía uma áurea que chegava a encandear. Era de conhecimento que sua vida pessoal estava em frangalhos. Esse fator, formou uma imensa barreira entre ela, Wilder, elenco e o restante da produção. Sua falta de concentração resultou em dezenas de tomadas de uma única cena.
A cena por exemplo, em que Sugar procura bourbon nas gavetas, Monroe precisava dizer "Where's the bourbon?". Mas ela sempre trocava e dizia: "Where's the whiskey? ou "Where's the bonbon?". Na quadragésima tomada, Wilder perdeu a paciência e escreveu "Where's the bourbon?" em todas as gavetas. Tanto que Tony Curtis brincou dizendo: beijar Monroe era como beijar Hitler. Levando em consideração o clima de tensão que pairava nos bastidores, é possível imaginar a proporção que essa frase alcançou.
Mas todo esforço seria recompensado. O trio principal exala uma química cativante. Monroe encaixa-se perfeitamente no papel da ingênua/meiga Sugar, e convenhamos: ela nutria muito de sua personagem. Tony Curtis mostra-se muito seguro em uma veia, até então, pouco explorada em sua carreira. Mas quem rouba a cena sem dúvida alguma é Jack Lemmon. Leve, descontraído - completamente a vontade no papel. Seu personagem proporciona os melhores momentos da trama.
Por exemplo, quando ´´Daphne`` está comemorando seu noivado cantarolando e balançando os chocalhos no quarto, e posteriormente diz à´´Josephine`` essa novidade. É uma cena impagável.
Mesmo com a discrepância no modo em que a sociedade ainda julga os valores de cada sexo. Mesmo com ambos, muitas vezes buscarem relações visando apenas seus interesses. Não sejamos tão exigentes com os outros ou consigo mesmo. Afinal, quem somos nós para julgar alguém? Porque como bem ressalta o experiente e sábio Osgood Fielding III: Nobody's Perfect!
Cinzas que Queimam
3.9 18´´A solidão é mais do que o sentimento de querer uma companhia, ou querer realizar alguma atividade com outra pessoa. Não por que simplesmente se isolar, mas por que os seus sentimentos precisam de algo novo que as transforme. `` Wikipédia
O cinema para Nicholas Ray é imensamente algo pessoal. Assim como François Truffaut, seus conflitos pessoais são catalisados como inspiração. Um prato abundante de possiblidades. Um mix de sentimentos. Nicholas passava por um período conturbado em sua vida. Carregou consigo em On Dangerous Ground, temáticas recorrentes em sua filmografia, como a desilusão e o pessimismo.
Somos apresentados aos créditos iniciais na compania de uma viatura. Conduzidos pelas ruas afagadas pela noite. Cenário inospito. Aspecto frio. Ela chega enfim ao seu destino: a casa de um detetive. Onde o mesmo recebe o afago de sua esposa antes de rumar para o trabalho. O mesmo ritual acontece. Dessa vez, em uma segunda casa. Logo, somos conduzidos a um pequeno cômodo, onde observamos um homem comendo apressadamente. Ao mesmo tempo que observa algumas fotografias. Encerrada tais ações, sem afagos, cumprimentos ou expressões, parte rumo ao seu destino.
Esses poucos mais de quatro minutos evidenciam a intenção do diretor: partilhar a solidão em vários estágios. Elvidencia-se tal propósito na pele de Jim Wilson. Um profissional experiente que , convivendo diariamente com o mundo do qual seu ofício lhe proporciona, acaba por enquadrar-se a ele. Tornando-se uma espécie de anti-herói. Carregado pela descrença sempre alheio aos demais. Consequentemente sendo abraçado pela mesma.
A estrutura escolhida pelo diretor, no primeiro ato, para explorar essa atmosfera foi bem executada. Utilizando-se do ambiente propício e, aliando-se a bela execução, evidenciou de forma massiva o imbróglio que Jim se encontrava. Ao final do segundo ato, o detetive é colocado em um novo panorama. Agora, onde Mary está inserida. Mary, deficiente visual, abrange os mesmos sentimentos literalmente e, ironicamente , acaba tornando-se a claridade de uma nova abertura que há tempos não pairava sobre Jim (e vice-versa). É nesse jogo de redescoberta que ambos buscam entre si a liberdade do ostracismo que tanto os enclausuravam.
Muitos decepcionaram-se com o curso que a obra seguiu. Aguardavam um maior esmiúçamento da personalidade de Jim. As causas e sequelas que isso ocasionaria. Iniciou-se com a áurea de um noir destrutivo e cético que culminou-se como um drama de solução conveniente ou quiçá passiva. Sua transição fora imediata. De um homem alheio a qualquer manifestação de afeto. Que encontrava-se exaurido de tudo e todos, há descobridor da felicidade. Proporcionada pela influência de uma pessoa avessa ao seu mundo. Onde juntos, buscam escrever uma nova história. Sabe-se que o diretor não compactua com as chamadas soluções fáceis. Enfim, mesmo sendo contestado pela mudança repentina e cômoda em sua direção, Nicholas Ray realizou um grande trabalho. Mesmo com as ações externas tentando dizer o contrário.
Alma Torturada
3.7 28Considerado um dos precursores do estilo que predominaria na década de quarenta. Embora não possua uma fotografia marcante, traz consigo outra característica que se tornaria marca registrada do movimento: a ambiguidade moral. Simbolizada principalmente por Alan Ladd, na pele de Philip Raven. Um assassino profissional metódico que aprendeu com a vida que socialização não existe, embora carregue consigo uma conduta ética.
Resquícios morais era o máximo do padrão social naquela época. Em meio à Segunda Guerra, o pessimismo, a descrença, e o desconhecimento pairavam por todo o globo. Portanto, Hollywood fora mais uma máquina usada como um canhão de propaganda. Infelizmente, This Gun for Fire estava dentro do pacote e hasteou tal bandeira. Ao desenrolar da trama, entram em cena diálogos em forma discursos patriotas. Enaltecendo o martírio em prol da nação. Da redenção, perante um bem maior. Da divisão entre o bem e o mal. De uma distribuição geográfica entre heróis e vilões.
Ainda que contendo algumas imperfeições que diminuem seu brilho, This Gun for Hire tem sua importância e seus méritos. Além de ser um dos precursores, de um magnífico movimento, foi a obra que projetou definitivamente Alan Ladd para o estrelato, aos vinte e oito anos. Também marcaria o início de uma frutífera parceria entre Alan Rudd e Verônica Lake. Parceria que rendeu ao total seis filmes. Sendo três deles policiais. Os demais foram The Glass Key e The Blue Dahlia.
Sintonia nas telas, semelhanças (além da altura) fora dela. Introvertido, Rudd obteve uma carreira mais aclamada e consistente que Verônica, mas ambos à encerraram de forma melancólica. Enfrentaram problemas como a depressão e alcoolismo. Ambos falecerem ao cinquenta e um anos. Sem configurar em listas de melhores do gênero, This Gun for Hire não somente alavancou a carreira de dois grandes atores da era de ouro, como caracterizou e simbolizou uma era. Que usufruiu do auge em um passado distante, mas que jamais perderá sua magnitude.
A Year and a Half in the Life of Metallica
4.4 2 Assista AgoraO Metallica é a maior síntese da polarização dentro da música. Uma mera menção ao seu nome em uma roda de conversa é capaz de provocar sentimentos inexplicáveis. Essa seleuma deu-se início no ano de 1991 (precisamente no dia 12 de agosto), com o lançamento do quinto álbum de estúdio da banda, intitulado The Black Album. Ele fora o responsável por catapultar o Metallica para o estrelato e estremecer o mundo da música.
Todo artista possui seu ápice criativo. And Justice for All foi o do Metallica. A evolução e a complexidade exposta no álbum é brilhante. Imaginar o que viria após isso era impossível. Qual caminho a banda seguiria após AJFA? Pergunta respondida após o lançamento do Black Album. Um ouvinte desavisado certamente pensaria tratar-se de um nova banda: o contraste era abismal. Uma forte ducha fria nos fãs mais puristas. Muitos deixaram de seguir a banda. Outros passaram a execrá-la. Tudo isso apenas atesta o quanto Black Album carrega sentimentos. E, acompanhar o making-off do álbum torna-se uma atividade obrigatória.
Acompanhar o exílio e martílio da banda para a produção do novo álbum, juntamente com a introdução do produtor canadense Bob Rock em seu ambiente é muito interessante. Bob Rock inaugurou um novo modo de gravação: trazendo todos para o mesmo ambiente. O choque de personalidades, o conflito de ideias e a incansável busca de Bob Rock pelo timbre ideal para a bateria de Lars é fascinante. Bob Rock conseguiu captar novos horizontes. Trazendo uma simplicidade singular para o quarteto inimaginável até então.
Trata-se de um documentário muito interessante. Acerca da produção do álbum que modificaria a história de uma banda. Comercialmente um acerto absoluto. Para muitos o início de uma derrocada. Uma coisa é certa: The Black Álbum fez e faz história. Nela estará sempre cravada. Colocou gêneros e centenas de bandas em evidência. Kirk Hamett diz ser o The Dark Side of the Moon, do Metallica. Pra mim é uma bela obra de uma banda que nunca teve o receio de vislumbrar novos processos. E isso é um grande mérito.
Monstros
4.3 509 Assista AgoraNunca saberei quais eram as intenções de Tod Browning quando arquitetou a execução de Freaks. Sendo pessimista, poderia debruçar-me na ideia de um oportunista. Quem sabe, sendo meramente prudente, e encarar isto como apenas mais um trabalho na carreira de um diretor. Mas prefiro a terceira opção: um otimista. Um ser humano que visualizou nos anseios de uma produtora uma oportunidade para projetar em tela a realidade em que nela vivemos.
Sinto muito por sua precoce carreira Tod, mas como você sabe ou ao menos deveria - que grande parte dos visionários foram execrados pela maioria. E este ao meu ver é o grande triunfo de Freaks: colocar como protagonista aquilo que sempre fez a humanidade progredir: a diferença. E é exatamente ela a causadora de todo assombro. De todo esse abalo. Não fomos doutrinados para idealizá-las em sua tonalidade natural.
Não deslumbrando aqui ser o advogado da nação, mas exercendo precariamente esse papel pergunto-lhes: que culpa temos por carregar pensamentos tão arcaicos? Somos apresentados a tais conceitos desde nossos primórdios e o conduzimos adiante. Em consequência, tudo aquilo que não se encaixa neste circuito é observado de cima para baixo. Muitas vezes, sendo representado pelo penar.
Pegando como exemplos Cleópatra e Hércules (antagonistas da película). Figuras mitológicas que estão associadas à beleza, perfeição e seus abrangentes. O contraste da perfeição com a bizarrice. Um embate desleal. Exuberantes; destacam-se na câmera de Tod, sob os seres rastejantes (as cenas dos festejos de casamento são sublimes e dolorosas). Agora digamos que, de fato, Cleópatra nutrisse um sentimento real por Hans (esqueçamos esta história de herança), certamente buscaríamos por uma nova argumentação. Para justificar esta ´´anomalia``.
Por isso não encontro aqui espaços para heróis e vilões. Ou alguém que necessite tomar um tapa na cara. Não fomos conduzidos e orientados para observar a diferença em sua tonalidade natural. Mas sim como um problema. Uma associação direta com o descômodo. Quem sabe em um novo horizonte, ainda que distante, onde estaremos em um âmbito com menos influências e, por consequência, nossas viseiras exauridas dando espaço assim, para começarmos a contemplar diversidades não como forma de entretenimento, espanto ou agonia, mas de vida.
Browning pode orgulhar-se pela sua contribuição. Não apenas pela produção de uma película autodestrutiva, mas pelo alcance provocado pela mesma. Freaks é um manifesto de alerta contra a auto piedade. Um espelho refletindo uma representação difícil de encarar. Ainda estamos engatinhando perante preceito. Durante sua exibição, pessoas deixavam aos montes sua sessão de exibição. Hoje, permanecem e recebem o recorrente ´´tapa`` diante a tela. Amanhã, estarão balançando suas faces. Não por resultado de uma agressão, mas como gesto de reprovação, diante os pensamentos obsoletos de seus antepassados. Um brinde a evolução! E um salve para os Freaks de cada dia!
Silêncio nas Trevas
3.8 48 Assista AgoraCaso ainda não tenha assistido ao filme, evite a leitura do comentário abaixo.
A câmera desliza pela rua. Carruagens e pessoas, desfilam pela mesma. Ela nos conduz para dentro do Village Hotel. Onde um recepcionista, caminha de forma imponente, ajeitando sua gravata, até chegar ao encontro de duas crianças, que estão tentando assistir entre as cortinas, o filme que ali, está sendo exibido. Ele os espanta parcialmente, pois na verdade, estavam ocupando seu posto privilegiado. Pela brecha na cortina, que agora é ostentada também pelo recepcionista, adentramos na exibição de The Sands of Dee (D. W. Griffith). Uma pianista da som ao filme. Aos desfilarmos pela platéia hipnotizada, acompanhamos em especial, as expressões que as cenas provocam em uma bela jovem. A câmera afasta-se lentamente, e inclina-se, filmando o lustre. Indicando o andar seguinte.
Onde acompanhamos uma mulher, caminhando em direção a janela. Ela parece estar um pouco aflita, mesmo desfrutando da bela paisagem. Ela fecha a janela, e caminha em direção a uma porta. Ao abri-la, e retirar uma camisola, a jovem segue seu curso, mas a câmera não. Ela segue de encontro aos vestidos que ali estão. Ao aproximar-se dos mesmos, depara-se com um olhar masculino. Passamos observar por ele, a jovem trocando de roupa. Ela ergue os braços, o vestido desliza por eles. Suas mãos movimentam-se de forma abrupta. Momento descontinuado. Voltamos para o filme, onde acompanhamos a cena de um homem, correndo com uma mulher em seus braços, que acabará de resgatar imóvel das águas.
Descrever novamente a cena inicial, é um exercício gratificante. Contém uma sutileza que o cinema, não exerce mais. Quando o exercício da interpretação, ocupava o primeiro posto. Aqui Robert Siodmak sintetiza isso. Diretor alemão, pertecente a academia do expressionismo, oriundo de seu país. Sempre usufruindo o máximo das imagens, assim como dos cenários da trama. Uma das marcas desse movimento.
Um serial killer está a solta. Suas vítimas são mulheres, que possuem algum tipo de deficiência. A bela jovem, que observamos suas reações no cinema, é um alvo em potencial. Seu nome é Helen. Uma jovem que após submeter-se a uma tragédia familiar, perde o poder da fala. Ela reside e trabalha, na casa dos Warren.
Uma charmosa e intiminadora mansão vitoriana. Que abriga uma família respeitável, acima de qualquer suspeita. Mas quando encontram-se no mesmo ambiente, convivendo com a eminência do perigo, é que as máscaras começam a cair. A até então, inabalável estrutura familiar, começa a deteriorar-se. É nessa atmosfera de intrigas e mistérios, tipica de uma obra de Agatha Christie, que Helen está inclusa.
O grito é um impulso, perante uma ameaça. Em um casarão permeado pela dúvida. Onde nada é, o que aparenta ser, seria uma arma mais que natural. E no caso de Helen? Estupenda performace de Dorothy McGuire. Clássico absoluto assinado por Robert Siodmak. O italiano Dario Argento, utilizaria em sua obra prima Prelúdio para Matar, trinta anos mais tarde, alguns dos simbolismos aqui implementados. O cinema aqui, foi representado em sua essência.
Rede de Intrigas
4.2 359 Assista AgoraCaso ainda não tenha assistido ao filme, evite a leitura do comentário abaixo.
`´´Adoro a televisão. Antes dela, sempre dizia que o cinema era a arte mais vagabunda que existia. Agora já estamos em segundo lugar.`` Billy Wilder
Inegável a potência que esse instrumento possui. Ainda que ao longo do tempo, tenha perdido o alcance de outrora. Talvez perdido não seja a melhor expressão. Compartilhado espaços com outras mídias - encaixa-se melhor. A mais recente delas (internet), serve perfeitamente para analisarmos a influência (da dita caixa preta) em nossa sociedade. Vide o tamanho do desconhecimento - munido de pensamentos irracionais - que circulam na dita rede.
Utilizada ao longos dos anos como uma espécie de marionete. Que transmite, dita o que sera informação ou tendência. Sucesso-fracasso. O que é certo-errado. Servindo com honraria as necessidades-expectativas do seu titereiro momentâneo. Sempre apresentando (leia-se vendendo) ilusões, soluções, crenças, felicidade. Mas afinal, quem seria o seu titereiro?
´´ Você é um homem velho... que pensa em termos de nações e pessoas. Não existem nações. Não existem pessoas. Não existem russos. Não existem árabes. (...) Só há um sistema holístico de sistemas! Um vasto e imanente, interligado, interagente... multivariante, multinacional domínio de dólares!Dólares petrolíferos, eletrodólares, multidólares. É o sistema internacional da moeda corrente... que determina a totalidade de vida neste planeta. Não há América. Não há democracia. Só há IBM e ITT... e AT&T... e Du Pont, Dow, Union Carbide... e Exxon. Essas são as nações do mundo de hoje. (...) Nós não estamos mais vivendo num mundo de nações e ideologias, Sr.Beale. O mundo... é um colegiado de corporações... inexoravelmente determinado... pelas leis imutáveis dos negócios. Um mundo perfeito... não haverá guerra ou fome... opressão ou brutalidade. Uma vasta e ecumênica "companhia-mãe" pela qual todos homens irão trabalhar para servir a um lucro comum que proverá todas as necessidades e tranqüilizará todas as ansiedades... E eu escolhi você, Sr.Beale... para pregar esse evangelho...``
As marionetes (emissoras) como toda empresa, visam apenas o lucro e seus interesses. Mas a que preço? Qual o resultado final de tal ação? Basta observarmos sua programação precária, miserável. Programas carregados de um assistencialismo medíocre em forma de conteúdo. Sempre baseado na desgraça-descrença alheia. Entubada de anúncios dos mais variados segmentos. Sem o mínimo de gerência ou responsabilidade. Tendo um jornalismo como carro-chefe. Deveras exaltado como insento, mas exibidor apenas de suas verdades.
Mas, até que ponto, a platéia dos fantoches são isentas de responsabilidade nesse ciclo vicioso? O conhecimento nasce perante questionamentos. Plateia não exerce tal atividade. Apenas aplaude. Esse é justamente um dos vários (entre outros) méritos da obra dirigida por Sidney Lumet. Satirizar quem aplaude sem justificativa. Aquele que mastiga, engole, tudo aquilo que lhe é oferecido. Dimensionar de modo sarcástico o tamanho da nossa passividade (ignorância).
´´A nossa indignação
É uma mosca sem asas
Não ultrapassa as janelas
De nossas casas`` Skank
Quem nos proporciona tais questionamentos é Paddy Chayefsky. Munido com um dos mais imponentes roteiros que o cinema americano já exibiu. Chayefsky, roteirista perfeccionista sem igual. Beira ao extremo. Defendeu arduamente suas convicções transcritas no papel. Convicções que o levaram a discordâncias com Lumet, acerca do próprio elenco. Vetaria a britânica Vanessa Redgrave, por não concordar com as posições políticas da mesma. Há quase quarenta anos, Chayefsky descrevia de forma visceral o jogo de conveniências. Os conchavos, os mandamentos promíscuos que conglomerados ditam perante a sociedade. Sempre suavizando quando necessário. Chayefsky aponta com um brilhantismo ímpar, como a caixa preta é, entre tantas outras, apenas mais uma forma cômica de manipulação.
“É que a televisão
Me deixou burro
Muito burro demais
E agora eu vivo
Dentro dessa jaula
Junto dos animais” Titãs
Testemunha do Crime
3.5 22Algumas observações acerca dessa obra: é inevitável uma associação (mesmo que supérflua) com Janela Indiscreta. Interessante que ambas foram lançadas em 1954. No entanto, Testemunha do Crime fora exibida um mês antes. Uma das consequências desse fato, entre outros, fora acabar em desmemoria com o êxito da obra assinada por Hitchcock.
Como fora mencionado na página anteriormente, um dos méritos dessa película deve-se muito a John Alton. Com sua belíssima reprodução, construiu esplendorosamente a áurea desse movimento: um ambiente melancólico envolto pelas sombras. Também gostaria de ressaltar alguns pontos que, ao meu ver, contribuíram negativamente com a trama. O primeiro ponto é: quando a polícia recebe uma denúncia, ela jamais expõe quem a realizou. Tudo bem que essa negligência era justamente o alicerce da trama, mas convenhamos… Já o segundo e mais contrassenso: as pretensões de Albert. Um nazista com objetivo de reedificar a doutrina e reger o mundo. Aquela antiga ladainha: bem versus mal. Obviamente, não precisamos deduzir o papel que fora representado pelos americanos.
Mesmo contendo latentes equívocos, Witness to Murder é um bom entretenimento. Sempre será um deleite assistir George Sanders e Barbara Stanwyck em tela. Principalmente Stanwyck: que atriz-mulher esplendorosa. Mesmo a produção tentando contradizer isso a todo momento.
Envolto nas Sombras
3.7 14Depois do êxito obtido com Laura (Otto Preminger) nas bilheterias, a 20th Century Fox apostou em Envolto nas Sombras, para tentar repetir a dose. O resultado foi satisfatório. Aqui, Henry Hathaway (O Beijo da Morte, Sublime Devoção, Bravura Indômita), mais uma vez, realiza uma direção segura. Contemplado pela magnífica fotografia de Joseph MacDonald. Em minha singela opinião, o maior triunfo do filme.
O quarteto central da trama é eficiente. Lucille Ball, Mark Stevens, o sempre competente e, muitas vezes, subestimado William Bendix. E o ponto positivo, mas também negativo, é Clifton Webb. Calma, eu explico. (…) Webb é soberbo, magnífico. Sua atuação irrepreensível. Mas, as semelhanças entre Hardy Cathcart e Waldo Lydecker (nome do personagem interpretado por Webb, na película Laura) são inúmeras para serem ignoradas: um abastado presunçoso. Obcecado por uma mulher mais jovem. E, mesmo que não haja relevância alguma na trama, há uma pintura envolvida.
Envolto nas Sombras não conseguiu alcançar o patamar do seu antecessor. Talvez a falta de uma identidade própria tenha contribuido muito para isso. Porém, é uma bela pérola desse movimento fantástico que merece ser descoberta e apreciada.
Muito Além do Cidadão Kane
4.1 344 Assista Agora´´Aos domingos, há uma batalha de programas na televisão brasileira. Na Globo, não há novelas, nem noticiários. Seu programa da tarde, é o Domingão do Faustão. Uma mistura de músicas, olimpíadas bobocas e catástrofes domésticas. ``
Acreditar nas boas intenções da emissora inglesa ao produzir esse documentário, seria, no mínimo, muita ingenuidade. Mas não há como contestar o valor do mesmo. Observei muitos questionamentos, acerca das informações defasadas contidas na obra. Bem, presicamos lembrar o período de sua realização e exibição. Tempos em que o caixote negro refletia um aurea latante. Onde tal emissora retratada decidia o futuro do país.
Muito do conteúdo exibido há mais de vinte anos prevalece intacto em nosso cenário. Documentando a influência do ´´império Globo`` perante a sociedade. Muitos insistem em dizer que, devido ao acesso da população a outros meios de entretenimento e informação, sua força fora domesticada. Bem, precisamos considerar que, assim como outros meios, ela adentrou-se em outras plataformas acompanhando a tecnologia. Sua amplitude está além do estabelecido pelo controle remoto.
Por mais que o foco do documentário, seja acerca do império construído por Roberto Marinho, podemos; e devemos também, ampliar nossa visão para as demais emissoras. Por mais que o alcance das mesmas, seja inferior, todas possuem seus interesses e seus conchavos. A verdadeira balbúrdia das concessões, das generosas verbas publicitárias governamentais. Suas promíscuas inter-relações. O jogo fétido da mão-dupla. A mão que afaga é a mesma que apedreja. Collor que o diga.
Aliás ele também dá o ar da graça. O ex-presidente da república (atual Senador por Alagoas). Quando presidente, nomeou o excelentíssimo Eduardo Cunha, presidente da extinta Telerj. Exonerado da presidência em 1993, após um caso de corrupção. Atualmente, encontra-se encarcerado. Mas que em outrora, fora o homem mais influente do país. (…) Quando vejo figuras como sr. Brizola e sr. Luís Inácio da Silva nesse documentário... “Lutar contra a corrupção e melhorar a vida do povo”. Engraçado como os ideais mudam, conforme a posição alcançada. Pois é necessário sucimbir-se à mórbidas alianças. ´´Se quiser conhecer verdadeiramente um homem, dê-lhe poder."
Aguardar a democratização da mídia, em nosso país, é uma tarefa árdua. É como crer em papai noel ou coelho da Páscoa. Levando-se em consideração que os únicos interessados nela de fato (nós) também não cultivamos o mínimo interesse. Pelo simples fato de não sabermos o que é democracia (ou pelo menos fingimos). Tentamos a todo custo impor nosso ponto de vista, nossa verdade. Cultivar adjetivos contra aqueles que pensam diferente. Até quando iremos nos digladiar? Enquanto isso, o som do plim-pilm e de outras esferas que decidem por esse país, ecoam cada vez mais alto e forte. Em um país dividido, dominado e habituado, pela irracionalidade e ignorância. Eles agradecem.
A Curva do Destino
3.8 49 Assista AgoraTenho certeza que muitos já escutaram, leram, ou quem sabe até pronunciaram para alguém, esse ´´ditado motivacional``: ´´Se a vida lhe der limões, faça deles uma limonada", e foi exatamente isso, que Edgar G. Ulmer fez. Com um orçamento baixíssimo, filmado em apenas duas semanas, se não me engano. Ulmer conseguiu nos brindar com uma bela limonada.
Ulmer consegue ilustrar com maestria, como algumas decisões/escolhas (equivocadas ou não), elaboradas pelo ´´destino``, podem influenciar no rumo de nossas vidas. Com um roteiro ágil, inventivo e eficaz. Conta com uma narrativa muito interessante, conduzida pelo anti-herói fracassado; apático frente sua própria vida; sempre a espera da boa vontade do ´´destino``.
O pianista fracassado, que resolve ir atrás da única coisa que lhe faz sentido: sua noiva. Para poupar dinheiro, resolve tentar a ´´sorte``, pedindo carona até Los Angeles. Aliás, com uma visão interessante sobre dinheiro, e o ato de pedir carona:
-Dinheiro. Sabe o que é? É aquilo que nunca tem que chegue. Uns papéis com o retrato do presidente, que faz dos homens escravos, criminosos ou cadaveres. É ó que tras mais problemas ao mundo, que qualquer outra coisa já inventada.
-Andar de carona poupa-te dinheiro, mas é perigoso. Nunca se sabe o que te espera, quando ouve os freios chiarem.
A ´´curva no destino´´ de Neal, começaria à se acentuar, no momento em que
o homem, que lhe deu carona morre inesperadamente. Desnorteado, e com receio de ir a polícia, Neal tomaria uma decisão que mudaria o rumo de sua vida. Essa decisão, colocaria mais à frente, Neal em contato com a inanidade; avareza, por intermédio de Vera. A consequência desse encontro, proporcionado por decisões equivocadas, que o fizera anteriormente, foi a transformação de um mero pianista fracassado; cuja única intenção era chegar até Los Angeles; por intermédio de caronas, para encontrar-se com sua noiva, em um assassino involuntário.
Interessante, podemos até questionar suas decisões, em especial a primeira. Mas sejamos francos; em seu lugar, será que fariamos diferente? Ou melhor, se estivessemos no lugar da policia, acreditariamos caso Neal, contasse o que de fato aconteceu naquele fatídica noite?
´´ O mundo está cheio de céticos. Eu sei, eu mesmo sou um deles. E esse negócio de Haskell: Quantos de vocês acreditariam que ele caiu para fora do carro? Agora, depois que eu matei Vera sem a real intenção de fazê-lo, quantos de vocês acreditariam que não foi premeditado? Vera estava morta. E eu era o assassino. Assassino!``
Por mais que você se esforce, para apagar certas recordações indesejadas, tentando apenas seguir em frente, esqueça: infelizmente é inexequível. Porque de uma forma ou de outra, elas voltarão ao teu encontro. É o resultado da causa e efeito; ação e consequência, ou melhor; é o peso do destino.
´´Você já quis se esquecer alguma coisa? Já quis cortar fora ou apagar um pedaço da sua memória? Não é possível, você sabe, por mais que se esforce. Você pode mudar de cenário, mas mais cedo ou mais tarde vai sentir a lufada de um perfume, ou alguém vai dizer uma certa frase, ou talvez cantarolar alguma coisa. E então você está perdido de novo.``
Depois de Horas
4.0 452 Assista Agora´´ Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.``
CASO AINDA NÃO TENHA ASSISTIDO AO FILME, POR FAVOR: NÃO LEIA!
Incrível como as obras realizadas por Scorsese, na década de oitenta são subestimadas. De O Rei da Comédia, ao polêmico A Última Tentação de Cristo. Uma pena, enfim, em Depois de Horas, Scorsese nos brinda com mais uma crônica nova-iorquina. Solidão; acodomação; o medo latente do sexo masculino perante o feminino (esse ilustrado através de metáforas sensacionais). Abordados com um humor negro engenhoso, proporcionado pelo roteiro ágil de Joseph Minion.
Bem, era para ser apenas mais um dia, como outro qualquer, na vida de Hackett. No trabalho, encontra-se treinando um novo funcionário. Esse, assimilando rapidamente os processos da função, faz Hackett soltar aquela máxima ´´mais uma semana e você estará craque``. Mas logo após essa afirmação, é surpreendido com um comentário do jovem:
-Mas é temporário.
- Oque?
-Disse que é temporário. Não quero fazer isso a vida inteira. Não diga ao sr Digman, que lhe falei isso, por favor.
Enquanto o jovem otimista, explicava o motivo da rápida passagem pela empresa, e o rumo que almejava para sua vida. Hackett visualizava a sua volta, além de máquinas e papéis, quantas ambições parecidas foram fareladas pela vida com o tempo (porque não dizer incluindo a sua?). Sim, o sonho é a arma de todos, mas a sorte não (que na maioria das vezes, é mais imporante que o próprio talento). Mas isso não serve como desculpa, para um dos piores sintomas do ser humano: a acomadação.
Sobrevivente a isso, Hackett chega em casa após mais um dia de trabalho, depois de ser recepcionado por sua companheira; a solidão, liga a tv, entediado, decidi ir a uma cafeteria com seu fiel escudeiro: o desgastado livro Trópico de Câncer. Lá conhece Marcy, uma bela garota, que lhe desperta o que sua vida não consegue, a muito tempo: interesse.
O desejo de Hackett em se sentir vivo, é tão improrrogável, que o mesmo liga para Marcy, na mesma noite que à conhece (com a desculpa de estar interessado no produto vendido por sua amiga). Ela então, o convida para ir até a casa, ele olha com certo temor para o relógio, afinal já são são onze horas e trinta e dois minutos. Hackett jamais sairia esse horário, sua zona de conforto não lhe permite. Mas impulsionado pela expectaviva de fazer algo que realmente tem interesse, ele topa.
A partir daquele instante, quando sai da sua zona de conforto, Hackett se depara com a insanidade de uma noite não planejada. Em uma Nova Iorque sem glamour; esse ofuscado pelas ruas escuras e sujas, bares e cafeterias vinte e quatro horas, festas temáticas. Habituadas por pessoas comuns, que assim como Hackett, mas cada um a sua maneira; tem os mesmos objetivos: apenas sobreviver a mais uma noite (seja ela como for).
O Destino Bate à sua Porta
3.9 50 Assista AgoraOs apreciadores do gênero noir tem muito a agradecer James M. Cain. Seus romances policiais proporcionaram adaptações memoráveis. Exemplo disso, são obras como: Pacto de Sangue (Billy Wilder), Alma em Suplício (Michael Curtiz), Fuga do Passado (Jacques Tourneur), Ligeiramente Scarlet (Allan Dwan).
Dirigido por Tay Garnett, O Destino Bate à Sua Porta também é baseado em um romance de Cain. E carrega consigo toda a áurea que ilumina esse gênero fascinante: narração em off, atmosfera pessimista, personagens ambíguos e, como não poderia faltar - a presença arrebatadora da femme fatale. Figura interpretada magistralmente por Lana Turner, no auge de sua venustidade. E, sendo franco, não poderia culpar o quase ´´andarilho desorientado`` sem perceptivas com o futuro Frank (John Garfield) por apaixonar-se por aquela mulher. A entrada de Cora em cena é visceral; deslumbrante; hipnótica. Tentar adjetivá-la é uma tarefa impossível. É deleite cinematográfico! A figura feminina, de olhar elevado penetrante, ambiciosa e belas vestimentas - já naquele momento - sem um mínimo de esforço e sequer uma palavra dita, já possuía em mãos, mesmo que a princípio sem a devida intenção, a vida daquele homem. Sempre elegante com figurino onde a cor branca era predominante. Não apenas para ressaltar ainda mais seu brilho naquele ambiente que lhe rodeava: melancólico; turvo; escuro. Mas também tudo o que faltava na vida do inquietante solitário Frank e a todos a sua volta.
Confesso que uma dúvida foi criada.
Nick tinha conhecimento ou pelo menos a suspeita que alguma coisa acontecia entre sua esposa e Frank? Porque em determinados momentos, o próprio lançava olhares em direção aos dois que me despertaram essa dúvida.
Queria realçar também alguns pontos que em minha concepção, acabaram prejudicando o andamento da trama. Como as cenas demasiadamente longas no tribunal, acabaram tornando-se cansativas.
E quando sr. Kennedy, ex sócio de Keats resolve chantagear os dois. Quando o mesmo é desarmado e obrigado a ligar para o comparsa,seu amigo Willie. E o mesmo não satisfeito em levar apenas o documento que ´´fora acordado``, resolve levar também as fotocópias que usaria em um futuro próximo para chantagear novamente o casal. É no mínimo, muita ingenuidade.
Enfim, são apenas meros detalhes que em momento algum retira o brilho desta obra realizada no período de ouro do cinema. Ainda não tive a oportunidade de assistir as outras três adaptações, mas acho improvável serem superiores a essa. Merece todo o prestígio e a alcunha de clássico que possui.
12 Homens e Uma Sentença
4.6 1,2K Assista AgoraÉ incrível como algumas obras cultuadas atualmente, na época de seus respectivos lançamentos, foram um fracasso comercial. E Doze Homens e uma Sentença, não fugiu a regra. Criada originalmente para a tv, era exibida ao vivo pela CBS, quatro anos antes de ganhar as telonas. Teve um espectador ilustre Harry Fonda, que encantado com o que viu, bancou toda a produção, e entregou a Lumet; sendo assim, o veterano diretor de teatro, fazia sua estréia nas telonas.
Lumet nos proporcina um espetáculo teatral sublime. Onde doze pessoas, em uma sala fechada, tem a árdua tarefa de selar o destino de um jovem de dezoito anos, que está sendo julgado pelo assassinato do pai. Nessa sala (onde se passa 98% do filme), e isso exige; além de grandes atuações, um primoroso roteiro. E através dele, essas doze pessoas, expõem além de suas teses pró ou contra o réu; suas razões, crenças e preconceitos.
´´É sempre difícil manter os preconceitos pessoais fora de uma coisa dessas. E em qualquer parte, o preconceito sempre esconde a verdade. Realmente não sei qual é a verdade. Não creio que alguém possa saber. Nove de nós parecem pensar que o réu é inocente, mas estamos jogando com probabilidades – podemos estar errados. Podemos estar libertando um homem culpado, não sei. Ninguém pode saber. Mas temos uma dúvida razoável, e isso é algo muito valioso em nosso sistema. Nenhum júri pode declarar um homem culpado a menos que tenha certeza. Nós nove não podemos entender como vocês três têm tanta certeza. Talvez vocês possam nos dizer.`` Jurado número oito
Traçar o destino de alguém, baseando-se apenas em argumentos apresentados por ambos os lados, sem deixar que nosso pré-julgamento, personalidade, emoções ou influências, interfiram em nessa decisão, é quase inexequível.
Isso sintetiza bem a ingenuidade de pensarmos na existência de um sistema judiciário perfeito e totalmente justo. Abre espaço também para algumas reflexões pessoais, em relação a pena de morte, por exemplo. Uma questão que sempre dividirá opiniões.
Farrapo Humano
4.2 225 Assista AgoraWilder já era um dos grandes, quando lançou Farrapo Humano (por mais incrível que possa parecer, esse titulo de melodrama escolhido para o português, também pode ser considerado uma escolha válida. Apesar de se passar apenas em um final de semana, da vida de Don, por isso o título original: O final de Semana Perdido, Don diante suas ações, acabou se transformando sim, em um mero Farrapo Humano). Era 1945, um filme que retrataria de forma realista e não cômica o alcoolismo. Da para imaginar, a pressão que Wilder sofreu da indústria de bebidas, e de todos os lobos conservadores? A indústria de bebidas chegou a oferecer 5 milhões de doláres a Paramont para que ela não destribuisse o filme. Wilder disse ironicamente que fizeram a proposta a pessoa errada, se tivessem feito a ele, era bem capaz de aceitar.
Logo após os créditos iniciais, somos brindados com uma vista panorâmica de Nova Iorque, a câmera desliza pela parede de um edificio, nela visualizamos três janelas, e em uma delas visualizamos uma garrafa pendurada na janela. Atráves desse travelling, nos tornariamos aos poucos, meros espectadores de uma tragetória de autodestruição. De um singelo sonho em ser escritor, ao nível de humilhação extrema ao ser pego tentando furtar dinheiro, da bolsa de uma jovem.
...Ela estraga meu fígado, não é? E meus rins, sim.
Mas o que ela faz para a mente?
Ela libera os sacos de areia para que o balão possa voar.
De repente eu estou acima do normal. Confiante, altamente confiante.
Eu estou caminhando sobre uma corda bamba nas cataratas do Niagara.
Sou um dos grandes queridos.
Sou Michaelangelo, moldando a barba de Moisés.
Sou Van Gogh pintando a pura luz solar.
Sou Horowitz, tocando o Concerto Imperador.
Eu sou John Barrymore antes do cinema pega-lo pelo pescoço.
Eu sou Jesse James e seus dois irmãos, todos os três deles.
Sou W. Shakespeare.
E lá fora não é Third Avenue qualquer tempo, é o Nilo.
Nat, é o Nilo e se move para baixo da barcaça de Cleópatra...
Escrito por Wilder e Charles Brackett (a partir do romance homônimo de Charles R. Jackson), repleta de diálogos ágeis, com duplos sentidos, exalando irônias e sarcasmos, marca registrada de Wilder. Ressaltando obviamente a trilha sonora, Miklos Rozsa ultilizando sempre tons graves e impactantes, inserindo o teremin, usado principalmente nas cenas em que é realçada a situação de dependência de Don. Também a fotografia marcante de John F. Seitz, observem como a câmera enfatiza os efeitos do álcool em Don, sempre se aproximando lentamente.
Será que é preciso dissertar sobre Ray Milland? Sim, até porque a Paramont alertou a Milland, que esse filme seria o final de sua carreira, naquela época um dos queridinhos de holywood. Posso até estar exagerando, mas considero uma das mais belas interpretações do cinema. Extremamente detalhista e intenso: desde as mãos sempre trêmulas, cabelo sempre despenteado, com o olhar totalmente perdido, hora deslumbrado, o cigarro sempre levado a boca de forma contrária. A cada copo erguido em direção a boca, a expressão de prazer instânteneo, logo transformada em melancolia.
As seqüências do "delirium tremens" são soberbas, desde sua breve estada na enfermaria, ao ápice ao imaginar um morcego atacando um rato em um buraco da parede.
Observei que muitas pessoas acharam o final ´´happyend``em virtude dos acontecimentos, e com isso destoou de todo clima do filme. Bem, lembrando que o final recebeu uma censura do estúdio, então fizeram o possível para tentar não perder todo o clima, construido durante o filme. Mas independente disso, ressalto que:
Don jamais ingeriu um copo seguer perante Helen, e quando Don conta o primeiro capítulo de sua trágica história, intitulada: A garrafa para Nat, em um certo ponto, Nat conhecedor desse triste enredo, diz com certo deboche:
- Então eles vão a festa, ele fica bêbado e caiu de rosto no chão.
Don, segurando um copo, responde ironicamente:
- Não. Nessa hora, ele está louco pela garota. Ele bebe suco de tomate. Não toca em bebida a noite toda. Por duas ou seis semanas...
Na minha opinião, na cena final, ele apenas diz o que Helen precisava ouvir naquele momento, uma palavra de alento, um sinal de mudança, afinal ele devia isso à aquela pessoa que sempre acreditou perante todas as circunstâncias, que isso um dia aconteceria: a sua recuperação. Não se esqueçam: se trata de uma obra de Wilder, tenho certeza que esse final, não passa de mais uma provocação do mestre.
...E lá fora, na grande, grande selva de pedras
Fico pensando quantos há como eu
Pobres homens amaldiçoados, queimando de sede
figuras cômicas para o resto do mundo
enquanto rastejam cegamente para outro copo
outra noitada, outra farra....
Sem discriminar ou condenar quem quer que seja, Farrapo Humano trouxe a tona um assunto até então negligenciado, ou apenas tratado de forma cômica, com a seriedade necessária. Servindo até os dias de hoje, para reflexões e estudos, de um assunto tão presente em nossa sociedade, e ao mesmo tempo muitas vezes distante do nosso conhecimento.
Pacto de Sangue
4.3 247 Assista AgoraFilme noir, confesso que a tempos perdi a conta de quantas vezes escutei essa expressão. E tenho certeza, que uma das primeiras obras que surgem a mente de muitos, chama-se Pacto de Sangue. Influenciado pelo expressionismo alemão, esse termo tem como principais caracteristicas: atmosfera pessimista, visão cética do mundo, nada de herois e mocinhas indefesas ou o bem contra o mal; apenas pessoas comuns, com suas virtudes e defeitos; a vida nua e crua, como ela é. As pessoas já anseavam por isso, um cinema próximo a realidade, afinal a arte não imita a vida?
Escrito por Wilder conjunto com Raymond Chandler, Pacto de Sangue inicia revelando quem é o assassino, até porque, o foco do roteiro não é em desvendar quem cometeu o assassinato, e sim, revelar como e o que o levou a praticar tal barbárie, e por ventura o que foi capaz de fazer para encobrir seus atos.
´´Comunicado interno
Walter Neff para Barton Keyes
Los Angeles, 16 de julho de 1938
Isto...parecerá uma confissão. Eu não gosto dessa palavra. Falarei de algo que não viu por estar muito perto. O fiz muito discreto para encobrir as falsas requisições. Possivelmente seja assim. Me refiro ao assunto Dietrison. De indenização dobrada. Procurava algo na pista Keyes.
Disse que não era acidente. -Certo!
Que não era suicidio. -Certo!
Que era assassinato. -Certo!
Acreditava o ter tudo muito controlado. Perfeito. Não era assim porque cometeu um engano. Um pequeno engano. Se enganou de assassinato. Sabe quem matou Dietrison?
Se segure bem cadeira Keyes. Fui eu quem o matou. Eu Walter Neff. Agente de seguros. Trinta e cinco anos. Solteiro, e sem cicatrizes aparentes. Até recentemente, claro. Sim o matei.
Matei por dinheiro e por uma mulher. Fiquei sem o dinheiro e também sem a mulher. Estupendo!``
Álias, o filme é todo calcado em assassinato e adultério, e não é mostrado nenhum dos dois na tela. E a sutileza como o sexo é abordado na trama:
eles se beijam no sofá, já na cena seguinte, estão sentados um em cada canto: ela retocando a maquiagem, e ele, acende um cigarro.
John F. Seitz (voltaria a trabalhar com Wilder em Farrapo Humano e Crepúsculo dos Deuses) e sua fotografia obscura, mergulhada no constraste entre o preto e branco, detalhe sempre para o destaque dos pontos negros na tela. Nas ´´prisões`` reflexos das persianas nas paredes pouco iluminadas, onde os personagens se encontram cada vez mais encurralados. Reparem como a casa dos Dietrichson, tem um apelo enorme na trama, o retraimento anguistiante na qual vive mergulhada aquela casa. As imagens por si contam uma história. Uma amostra disso é na cena em que:
Phyllis atira em Neff e o mesmo diz:
Tem que melhorar a pontaria, baby. Tente outra vez...
Edward Robinson dá o tom perfeito do humor irônico, marca das obras de Wilder. Fred MacMurray dando vida a figura máxima do anti heroi, o tipo esperto, cínico, atraído por uma mulher fatal para um terreno buliçoso. E Barbara Stanwyck, (com sua peruca falsa, como sua personagem, sacada genial de Wilder), no papel de Phyllis Dietrichson: sedutora, fria, calculista, ardilosa, de caráter dúbio, podemos classifica-la como primeira ´´femme fatale`` de holywood? Creio que sim.
Com um desfecho magnífico, onde nele é ressaltada através de um diálogo entre Keyes e Neff a relação de amizade, porque não dizer paternal entre eles:
“ Sabe por que você não adivinhou, Keyes? Eu te digo. Porque o homem que você estava procurando estava muito próximo. Bem do outro lado da sua mesa.
- Estava mais perto do que isso, Walter.
- Eu te amo também.”
Várias doses acavaladas de boa vontade ingeri, tentando entender o que se passava na cabeça dos associados da AACC, quando escolheram O Bom Pastor como melhor filme.
Uma curiosidade: Wilder sabia que a Paramont fez toda uma campanha para O Bom Pastor, mas ainda tinha esperença de arrebatar a estatueta de melhor diretor. Mas quando o nome de McCarey foi anunciado, e o mesmo se encaminhava em direção ao palco, Wilder não se conteve e esticou o pé, resultando no encontro entre McCarey com o chão.
O Inquilino
4.0 292Quando você se dispõe a assistir um filme do polêmico e brilhante Roman Polanski, você precisa ter em mente que : nada é o que parece ser. Nosso fascínio pelo desconhecido (às vezes) é algo perigoso e Polanski sabe aproveitar muito bem disso. Nesta trama, acompanhamos o tímido Trelkovsky. Um polonês corretor de seguros que consegue um emprego na França e aluga um apartamento que fora de uma moça chamada Simone Choule. Uma jovem que havia tentado o suicídio atirando-se da janela de seu prédio.
Ao ficar ciente do falecimento da garota (em decorrência dos ferimentos causados pela queda) uma obsessão pela jovem toma conta do rapaz. Uma descrição minuciosa, detalhada e profundamente apavorante do processo que leva uma pessoa à completa loucura. Trelkovsky lentamente vai perdendo a noção da realidade e sua sanidade é confrontada a todo instante. Embarca em um mundo que apenas ele enxerga. Iniciando-se aqui, uma batalha contra o adversário mais desleal que poderia enfrentar: sua própria mente.
Mas obviamente isso não é explícito. Pelo contrário, jamais conseguimos saber se o que estamos vendo é a realidade ou uma alucinação do protagonista. Polanski vai nos fornecendo algumas pistas, de qual estado emocional Trelkovsky encontra-se, por exemplo: na pergunta em que faz a Stella:
´´....Diz-me, em que preciso momento é que um indivíduo deixa de ser o que pensa que é? Cortas-me o braço. Digo ‘Eu e o meu braço’. Cortas-me o outro braço. Eu digo ‘Eu e os meus dois braços’. Tu tiras-me o estômago, os rins, presumindo que isso era possível e eu digo, ‘Eu e os meus intestinos’. E, agora, se me cortares a cabeça, eu diria ‘Eu e a minha cabeça’ ou ‘Eu e o meu corpo’? Que direito tem a cabeça de se apelidar eu mesmo?...``
Ou quando passamos a acompanhar Trelkovsky, no ponto de vista dos vizinhos. Enfim somos empurrados em um universo incoerente e incompreensível. Onde não existe respostas ou explicações. Polanski utiliza de toda sua maestria na direção, e se não bastante com uma notável atuação (ele da vida ao personagem principal), um roteiro fascinante, e a genial fotografia de Sven Nykvist. Sim, o eterno parceiro de Ingmar Bergman. Que com suas sombras constroi uma atmosfera pesada. Suja. Inóspita. Sem luz. Sem vida. Encontrando-se com a angustia na qual o personagem mergulhava.
Com O Inquilino, chegaria ao fim a brilhante ´´Trilogia do Apartamento``. Onde o cenário principal é um apartamento, onde teoricamente estamos protegidos de praticamente tudo. Menos de nós mesmos.
O Pagador de Promessas
4.3 363 Assista AgoraEsse filme é de 1962 ou 2014?
Porque tudo abordado no filme, por incrível que pareça caminha lado a lado conosco. O preconceito e a intolerância religiosa, a fé cega de muitas pessoas, o autoritarismo do poder público e da policía, o sensionalismo barato e a distorção de notícias por uma ´´capa de jornal``, a mulher desiludida com sua vida, se iludindo com o conquistador barato e etc...
A técnica do plano- sequência: grandiosidade na simplicidade.
´´ Esse negócio de milagre é preciso ser honesto, se a gente embrulha o santo perde o crédito. Na outra vez o santo olha, consulta lá seus assentamento e diz: Ah, você é aquele que já me passou a perna? Pois vá fazer promessa pro diabo que o carregue, seu caloteiro de uma figa! `` Zé do Burro
Reflexões de um Liquidificador
3.8 583 Assista AgoraHumor negro ácido e Ana Lúcia Torres sublime como sempre.
Curti a originalidade.
Depois de Lúcia
3.8 1,1K Assista AgoraEsse filme é bem mais do que bulliyng ou machismo. Assisti minha vida sendo retratada em alguns momentos no filme. Tinha a mesma idade de Alê quando perdi minha mãe, e a relação da família pós tragédia é de vital importância. Porque é nesse momento que pode ser criado aquele certo distanciamento entre os dois, ainda mais no caso deles, que para ´´ tentar fugir `` e recomeçar mudam completamente de vida. Somando a falta de cumplicidade entre pai e filho ( a ), aquela fase crítica ( adolescência ), pode ter resultado na passividade da protagonista. Apesar de achar que foi exagerado.
Também relata também a burocracia/impunidade que assola alguns países quando o assunto é menores de idade.
Um Estranho no Ninho
4.4 1,8K Assista Agora´´ Você pensa que você é louco ou coisa parecida? Bem, você não é! Você não é mais louco que a maldita grande maioria que anda pelas ruas por aí!”
Um Estranho no Ninho, não serve apenas para Mac, mas sim para todos que se encontram ali.Eles representam todos os estranhos no ninho que existem pelo mundo. Os estranhos de uma sociedade que dita regras e padrões e que não aceita o ser diferente, aquele que se recusa a seguir normas. Tratando-os como loucos.
Filme fantástico!!!!
O Filho da Noiva
4.1 297Leve, engraçado, triste, feliz e real. Principalmente nos dias de hoje, onde a falta de tempo, stress, do dia a dia, nos faz perder os momentos mais felizes, que são as coisas mais simples da vida, como a familía.