Um belo filme, mas não deixa de ser frustrante, pois poderia ser uma obra-prima. As atuações são excepcionais, principalmente de Song Kang-ho, um verdadeiro MONSTRO que engole qualquer papel tamanho suas virtudes interpretativas. A direção é inteligente e competente nas nuances exigidas e frequentes alterações de tom do longa, que se divide harmonicamente entre o drama e a comédia. Uma parte técnica igualmente fantástica, da trilha sonora ao design de produção.
Porém, o roteiro - sempre ele - derrapa justamente quanto mais exigido, no clímax, ao apelar tanto para o sentimentalismo barato e ao tradicional melodrama da escola do leste asiático, o que diminui o impacto e alcance das cenas. Os atores conseguem contornar levemente os exageros com seu talento, mas o efeito prejudicial é indelével.
Enquanto a ganância, a ambição e o egoísmo formarem o mote do caráter daqueles em busca do poder, de nada valem os avanços tecnológicos e a primazia da natureza, pois estas prioridades deturpadas só podem levar à destruição.
Somos todos "pequenas crianças": dependentes de alguém ou algo, suscetíveis a nossos desejos, precipitados e egoístas. Moralmente incapazes de julgar, mas ainda assim o fazemos.
O quão efêmera é a vida? É difícil nós, quando crianças, no brilho de nossa ingenuidade, não almejarmos um futuro esperançoso e utópico para si mesmos.
Entretanto, conforme crescemos, a vida vai, aos poucos, dando as caras, e no acúmulo de frustrações, decepções e afins, muitas vezes, a criança interior morre.
Durante o tempo presente, é difícil percebermos isso, quanto mais pequenas decisões e as consequências destas. Nós apenas vivemos e vamos aceitando o que surge a frente, mas em um pensamento futuro - ou passado -, ao revisitarmos pequenos momentos muitas vezes um ou outro desses atos que tomamos, podem ter levado a algo maior, talvez algo que ainda estejamos presenciando. Pode ser insignificante, mas pode definir uma vida, e quando nos damos conta, passaram-se 30, 40, 50 anos.
A criança interior, entretanto, ainda está lá, mas a ingenuidade que outrora fora o cerne de nossa existência, oa faísca no nosso olhar, uma virtude que deveria ser abençoada e glorificada, não é bem-vinda em um mundo competitivo, cruel e injusto como este, e mesmo aqueles que mantêm esta qualidade, podem, afinal, acabar mortos por ela.
Este foi o fim de Matsuko, morta por crianças, morta por sua eterna ingenuidade, presente mesmo em improváveis situações, como a que se encontrava.
É esta a mensagem do filme? Também, mas não como um todo, pois seu sobrinho, que encontrava-se perdido e sem propósito, encontra, justamente na história de Matsuko, uma razão para viver.
Em uma conversa entre Rumi e o outro agente de Mima, este, buscando convencer Rumi dos motivos para Mima investir na carreira de atriz, diz o seguinte: "Os Tempos Mudaram Desde que Rumi Hidaka era uma Estrela Pop". No que ela responde: "Me Desculpe por não sobreviver".
Isso já explica muito dos delírios de Rumi, mas também não acho que sirvam como álibi par a verdadeira Mima. O filme, apesar de se chamar "Perfect Blue", manifesta, ao longo de toda sua duração, a utilização de um vermelho que antecede tragédias e nos momentos em que Mima está perturbada. É só reparar.
Já no final, ao deixar a clinica onde estava Rumi, Mima embarca em seu carro. A cor do automóvel? Vermelho. E o sorriso da garota com certeza não exala "normalidade".
Gostei demais desse filme. Reconheço seus erros, mas me divertiu bastante, possui uma atmosfera agradável, apesar do enredo, e ainda o bônus da linda presença de Kim So-eun. Aceito recomendações de semelhantes.
Hirokazu Kore-eda, um dos diretores japoneses mais - justamente - laureados da atualidade, é um mestre em expor para tela, de forma muito orgânica e sensorial, situações que se encaixam não apenas no cotidiano nipônico, como universalmente. O cineasta, discípulo da arte de Yasujiro Ozu, lida frequentemente com temas familiares, como o abandono infantil(Ninguém Pode Saber/2004, Pais e Filhos/ 2013 e O Que eu Mais Desejo/2011) e a discrepância entre gerações, ainda que em uma mesma linhagem(Andando/2008). E agora, com "Nossa Irmã Mais Nova", o Kor-eda comprova mais uma vez seu talento ao mesclar os dois assuntos em um filme sensível, relevante e facilmente acessível.
Baseado na série de mangás homônimos de Akimi Yoshida, a trama fala de Sachi (Haruka Ayase), Yoshino (Masami Nagasawa), e Chika (Kaho), três irmãs com, respectivamente, 29, 22 e 19 anos que vivem sozinhas em uma antiga casa em Kamakura. Um dia, recebem a notícia de que seu pai faleceu na cidade de Yamagata. Mesmo com o fato deste ter abandonado a família para fugir e casar com outra mulher, as irmãs vão a seu enterro, e lá conhecem sua meia-irmã Suzu(Suzu Hirose), e a convidam para ir morar com elas em Kamakura, pedido que a pequena aceita prontamente.
Apesar da forma como o convite foi feito parecer abrupta, já que Suzu ainda era uma desconhecida para as três, além da facilidade com que a mãe da garota parecer ter liberado a filha, isso serviu para retratar, de forma rápida a personalidade de cada uma das Koda's(sobrenome da família), assim como expor o passado de Suzu sem jamais mostrá-lo.
A menina, que inicialmente apresentava uma postura recatada e curvada, um olhar taciturno e era descrita como "madura", era justamente o contrário, um broto inibido de florescer. Ao receber o convite para se mudar, seu rosto assume uma expressão eufórica e surpresa, ansiando para deixar o local onde residia(pensamento confirmado durante sonhos embriagados de Suzu). Sutilezas da atriz - e do roteiro - que justificam sua decisão espontânea. Já morando com as irmãs, ela vai, lentamente, se soltando, trocando o aspecto rígido por um sorriso contagiante e uma personalidade enérgica, afável e carismática. Em uma linda cena, ao passear de bicicleta com um amigo por entre Sakuras(cerejeiras) recém florescidas, Kore-eda fecha o quadro no rosto alegre da menina, como se esta, assim como as árvores, estivesse finalmente a florear.
A personagem de Suzu funciona ainda melhor devido a imensa química que apresenta com Ayase, Nagasawa e Kaho, como se fossem realmente irmãs na vida real, o que contribui para a verossimilhança da história, como visto no recente "As 5 Graças", indicado ao Oscar de filme estrangeiro. Ambas são igualmente bem desenvolvidas e compostas, cada uma com suas próprias características. Chika se mostra um contraponto entre as irmãs, nem tão madura e séria quanto Sachi, nem tão desleixada e irreverente quanto Yoshino, que demonstra-se alguém incauta e sem compromissos, mas generosa e receptível.
Sachi, entre as três, é quem recebe o maior destaque e serve como base de diálogo e reflexão de Kore-eda para abordar o abandono infantil e as consequências que os atos de nossos genitores podem ter em nossa personalidade. Ela desempenha o papel de guardiã das mais novas, inclusive assumindo a guarda da Suzu, em um claro esforço para evitar igualar a personalidade dos pais. Porém, assim como o diretor mostrou nos supracitados longas anteriores, mesmo com as questionáveis ações que os anciões podem ter feito, existe uma afeição natural e inerente que os conecta.
"Esse relacionamento não pode ser desfeito tão facilmente quanto o casamento" é uma frase que Sachi ouve enquanto comenta sobre os ressentimentos que possui para com sua mãe, e é verdade. As cenas entre as duas deixam isso bem claro, pois em meio as desavenças, há também o amor, ainda que fragmentado pelo tempo. É também o sentimento que leva Sachi e a irmã do meio, Yoshino, a se desentenderem para logo depois, estarem se abraçando como se nada tivesse acontecido. É como se houvesse um acordo tácito entre pais, filhos e irmãos, ao menos na visão de Hirokazu.
Kore-eda é minucioso e calmo para executar sua obra, o que é corriqueiro em sua filmografia. É através desse procedimento que suas películas sempre soam tão naturais e sensíveis. Porém, em alguns momentos, o ritmo lento pode enfastiar aqueles pouco acostumados com o cinema autoral japonês, mesmo a história sendo acessível e identificável.
Complementando o trabalho do diretor, tem-se a trilha sonora de Yoko Kanno e a fotografia de Mikiya Takimoto, em perfeita sintonia para construir, com o uso de notas e cores suaves, um clima bucólico em meio a cidade, para ressaltar e assemelhar a relação das irmãs com belas paisagens e o encanto do dia-a-dia, seja em uma simples conversa, um jogo de futebol ou ao colher ameixas.
Our Little Sister não é tão complexo quanto Boneca Inflável, reflexivo quanto Andando ou crítico quanto Ninguém Pode Saber, mas ainda assim, é um resultado notável e sutil que encanta pela simplicidade com que trata temas tão comuns, e por isso mesmo, difíceis de se discutir.
- A religião islâmica permite que "mulheres" casem a partir dos 9 anos.
- Mulheres não devem ser atrasadas, devendo receber educação. Porém, APENAS entre 7 e 15 anos.
Surreal que exista uma religião que doutrine mais de um BILHÃO de pessoas com tais ensinamentos em pleno 2016. Se não existissem evidências, eu acharia tão absurdo quanto um filme distópico de fantasia. Desolador.
Para não cair na mesmice, vou comentar algo que não vi ainda por aqui:
Reparem que existe a repetição constante de duas cores no longa: verde e amarelo. Quando sozinha ou em um estado melancólico, Therese muitas vezes é filmado com um fundo verde opaco e fosco ao fundo. Vazio e sem brilho. Triste. Já com Carol, várias vezes as duas são mostradas com um background amarelo/dourado e forte, ressaltando os fortes sentimentos, a luz e alegria que proporcionam uma à outra.
Um filme regular, mas que nas mãos de diretor e roteirista mais competentes, seria muito melhor, até por sua relevância universal e principalmente, atemporal.
Tom Hooper aqui bate o seu recorde de Hooperismos. Ano após ano, o diretor, indiferente ao que todo mundo já cansou de apontar, insiste nos mesmo erros e maneirismos, parecendo negar-se a aceitar como estes prejudicam suas obras. O roteiro de Lucinda Coxon é aquilo que o diretor esta acostumado a adaptar, inclusive. Com seu apelo sentimentalista e romantizado. "Romantizar" uma história, quando bem contada, não é errado, uma prova disto é o recente "Brooklyn", mas aqui, ele é expositivo e irritante, principalmente no 3º ato, onde se assume definitivamente um filme "por favor, chore".
Ao menos, durante todos esses excessos, somos conduzidos por boas atuações. Eddie Redmayne convence enquanto Einar, com todas suas duvidas e o alvoroço interno quando redescobre sua natureza. Já como Lili, infelizmente, falta complexidade em sua composição, que não me pareceu natural ou verossímil quando já encontrava-se habituada e realizada com sua escolha. Já Alicia Vikander, favorita ao Oscar, brilha como a compreensiva Gerda, uma mulher forte e altruísta, mas que exibe no olhar a tristeza de perder aquele com a qual casou-se, ao mesmo tempo em que jamais deixa de amá-lo, servindo de pilar em sua jornada.
E Danish Girl é, então, uma obra de extremos, um diamante que não foi lapidado, irregular e frustrante. Ao mesmo tempo em que temos nele qualidades conspícuas, a limitação de seus realizadores impedem que se torne uma experiência memorável. Uma pena.
Um filme apenas regular, mas como uma carga emocional que vai derrubar qualquer um que acompanha a série há tantos anos. No meu caso, são 9 anos, tendo a jornada iniciado em 2007, no Sbt. Foi um encanto instantâneo, que me levou a procurar o mangá, jogos e até o salgadinho que vinha com shurikens.
Naruto possui uma importância enorme em minha vida, mesmo agora, quase uma década depois, guardo um carinho enorme pela obra, e o filme é uma clara homenagem a obra de Kishimoto. E como tal, apesar de todos seus problemas, vai deixar a garganta dos fãs apertada.
Um dos - se não O - melhor exercício metalinguístico do cinema. Fui ver o filme sem saber a história toda, e estou pasmo após ler que o livro "O Ladrão de Orquídeas", Susan e Laroche são todos reais, e ainda mais que a incumbência original de Kaufman era adaptá-lo. Esse conhecimento engrandece ainda mais a qualidade do longa.
O filme é, teoricamente, escrito por dois profissionais diferentes. E apesar de ambos serem Charlie, a narrativa distinta de suas metades fornece a real impressão de mentes desiguais responsáveis pelo texto. A primeira é lenta, irônica e mais elegante, quase monótona, é Charlie. Mas após ir a palestra e ouvir os conselhos do especialista em roteiros, com suas dicas de inserir "emoção para não matar o público de tédio", temos uma nova mente encarregada do script. E no filme, este é Donald, com seus twists e perseguições incessantes. Tudo que ocorre após certo ponta do filme, já tinha sido, inclusive, detalhado por Donald durante a 1ª metade. Uma forma sarcástica e inacreditavelmente inteligente de Kaufman brincar e conversar conosco.
Note como a película conversa muito com o filme anterior de Charlie, "Quero ser John Malkovich". Charlie e Susan enxergam Donald e Laroche como espíritos livres e os invejam. Ele, demonstrando essa inveja com desprezo, e idealizando a vida de outras pessoas, não assumindo que gostaria de ter a mesma estima do irmão. Ela, assim como em John M., tenta substituir seu vazio agarrando o desejo de outro homem. Mas isso não é possível, e ao final, resta a decepção e um vazio ainda maior. Já Charlie encontra reconforto pela mensagem final do irmão de "não importe-se com a opinião dos outros, e sim com o que você é" e ao ver desconstruída a vida da escritora. A situação que presenciou o permitiu desprender-se da pedância narrativa sem plot do livro, e assim, adaptá-la. Adaptar-se. Adaptação.
Vários autores já foram considerados "inadaptáveis", como Tolkien, Thomas Pynchon e Shakespeare. A dificuldade em suas obras é que leva diretores mais audaciosos, buscando alavancar suas carreiras, encarar o desafio de levá-las para as telas. Às vezes dá certo, e às vezes não. O poeta britânico, dono de um catálogo denso e rico, é alvo constante de profissionais da sétima arte. Entre catástrofes e primazias, Kurosawa, Laurence Olivier, Kenneth Branagh, Orson Welles e agora, Justin Kurzel, são alguns dos poucos cineastas que conseguiram levar seus textos com um real conteúdo para as grandes salas.
Em certa parte do longa, Macbeth, completamente deturpado, fala "As coisas que começam mal, fortalecem-se pelo mal". Mas não foi assim que começou sua trágica história. Após bravamente vencer uma batalha, garantindo a vitória e o território para o Rei Duncan(Thewlis), Macbeth é congratulado e beneficiado pelo justo soberano com o título de duque, além de afirmar que seu maior pagamento é servir o rei. Um homem poderoso e leal, alguém ideal para se ter ao seu lado. O revés tem início ao ouvir a profecia de três bruxas de que seria, em algum ponto, rei. A simples sugestão de tal poder abala sua então inexorável fidelidade, tendo sua corrupção catapultada com o plano ardiloso da maquiavélica Lady Macbeth(Cotillard) para tomar o trono.
A partir daí, temos o começo do "mal". Em uma simples cena que se passa na manhã pós a morte de Rei Duncan, Macbeth é filmado tomando um banho em uma lagoa, o que simboliza um renascimento. Porém, quem surge agora é outro ser, um homem perturbado, pernicioso e desumano, capaz de cometer um infanticídio bárbaro e covarde. Cego por ambição e cobiça desmedida, a degradação moral de Macbeth é estarrecedora e completa, tornando-o praticamente um demônio, o que assusta sua própria esposa, quem o incentivou primariamente. Sua transformação é desenvolvida e ressaltada por todos os aspectos do filme.
O figurino acompanha todas suas transições, inicialmente dourada, o que exibe sua cobiça e desejo por domínio, passando por um branco vazio que expõe sua demência, para então o forrar de preto, quando nenhum resquício do velho Macbeth parece remanescer. A atuação visceral de Fassbender é essencial e eficiente em todas as facetas apresentadas pelo personagem, desde a hesitação inicial, passando pela deterioração mental, com os olhos sem vida e o cabelo desgrenhado, à aceitação de quem transformara-se, em um solilóquio onde afirma que todos os atos hediondos que provocará não mais teriam volta. Porém, Macbeth, apesar de ostentar uma coroa e um trono, jamais foi rei, e sim um escravo de si mesmo. As mesmas bruxas que previram que chegaria ao poder, também trouxeram a mensagem de que sua dinastia não teria continuidade, e sim que os filhos deBanquo(Paddie Considine), seu parceiro no campo de batalha, tornariam-se futuros reis. Com esse pensamento sempre impregnado em sua mente, o personagem de Fassbender jamais usufrui dos privilégios de um monarca, não demonstrando sentir regozijo nenhum de sua posição. A coroa apenas o levou a um estado de alienação, medo e devaneios constantes, o levando a ser odiado por todos. Macbeth é absurdamente complexo, e transpô-lo para os cinemas de forma competente era de uma dificuldade tremenda, mas bem executada por diretor e ator.
A presença de Fassbender - assim como o óbvio foco no protagonista - é tão estrondosa, que acaba por eclipsar o restante do elenco. Marion Cottilard mostra suas virtudes nos curtos monólogos que apresenta, mas a própria atriz já deu provas maiores de seu talento inúmeras vezes. Entre os coadjuvantes, é do desconhecido Sean Harris(o geólogo punk de Prometheus) que vem a maior surpresa. O ator, nêmesis do protagonista, fornece credibilidade para seu personagem através dos olhares e expressões de fúria e indignação.
ustin Kurzel se sai bem na direção, compondo boas cenas de ação, mas por vezes abusando do slow motion sem um motivo aparente que não seja o estético. Seu maior mérito vai na construção deMacbeth, já que conforme sua personalidade definha, o personagem-título é filmado cada vez mais em locais escuros, assim como os súditos, o temendo, encarando-o de cabeça baixa e temerosos, em contraste com a idolatria apresentada quando é este coroado rei. E como supracitado, se Macbeth se assemelha ao demônio, com sua tirania insana, a fotografia de Adam Arkapaw(da temporada boa deTrue Detective) faz de tudo para transformar a Escócia num inferno(pelo menos a concepção ocidental deste). O clímax da fita é fotografada com um sufocante vermelho vivo que permeia por todo o quadro, servindo de plano de fundo para uma violenta batalha. Pode ser que falte aquele jorro de sangue que sempre agrega em lutas esteja faltando, mas a cor, originada por fogo, transmite a essência do sentimento que motiva a disputa entre os homens.
Com todas essas qualidades, é frustrante notar o quão perto a película passou de se tornar uma obra-prima, e sua fraqueza encontra-se no roteiro. Muitos relataram ser um filme para poucos, já que utiliza parágrafos completos da obra de Shakespeare em várias partes de seu todo, mas esse é um fator que em nada prejudica seu entendimento ou qualidade, apenas acrescenta um certo charme e elegância. O problema maior está em sua duração. E pela primeira vez em muitos anos me pego dizendo que um filme de quase duas horas poderia facilmente se estender por mais tempo sem afetar o ritmo, mas sim engrandecendo seu esmero. Com alguns minutos a mais, poderia-se esmiuçar melhor o repentino abandono de Macduff, e principalmente, dar mais tempo de tela para Marion, que foi tristemente desperdiçada, tanto que mesmo tendo seu carisma, o destino que a personagem toma pouco nos afeta, já que não conseguimos nos importar com ela, e isso se deve a fala de profundidade do texto, pois mesmo cometendo atos pútridos, um vilão bem escrito - e interpretado - torna-se magnético. As razões dos personagens são compreensíveis com a boa vontade do telespectador, mas explorar melhor sua psicologia incrementaria a veracidade dos acontecimentos, que são de suma relevância para o decorrer da trama.
Notável também é ver o final não traindo a plenitude da obra, como fez o último Jogos Vorazes. Seria fácil imaginar um encerramento melodramático que tentasse passar uma mensagem barata de autoajuda sobre o bem vencer o mal. Felizmente, Macbeth, assim como mostrou em seus 113 minutos, segue por outro lado, o da natureza perversa humana. Afinal, a morte de um opressor não significa o fim da opressão.
O vermelho permeia todo o longa, desde seu início até seu fim. A cor que simboliza a paixão, mas também sangue e dor. E o que formam, juntos, dor e paixão, se não o amor?!
Dolls, de Takeshi Kitano, Azul é a Cor Mais Quente e este A Frozen Flower, todos únicos em seu próprio gênero e ponto de vista, mas semelhantes no tema. A realidade e crueza do amor.
Top Spin
3.8 1Curiosidade aos que, assim como eu, estão assistindo pouco antes das Olimpíadas do Rio:
Ariel não se classificou (e nem achei informações se participou das seletivas), mas Lily sim.
The Face Reader
3.8 7Um belo filme, mas não deixa de ser frustrante, pois poderia ser uma obra-prima. As atuações são excepcionais, principalmente de Song Kang-ho, um verdadeiro MONSTRO que engole qualquer papel tamanho suas virtudes interpretativas. A direção é inteligente e competente nas nuances exigidas e frequentes alterações de tom do longa, que se divide harmonicamente entre o drama e a comédia. Uma parte técnica igualmente fantástica, da trilha sonora ao design de produção.
Porém, o roteiro - sempre ele - derrapa justamente quanto mais exigido, no clímax, ao apelar tanto para o sentimentalismo barato e ao tradicional melodrama da escola do leste asiático, o que diminui o impacto e alcance das cenas. Os atores conseguem contornar levemente os exageros com seu talento, mas o efeito prejudicial é indelével.
De qualquer forma, vale a conferida.
O Castelo no Céu
4.2 326 Assista AgoraEnquanto a ganância, a ambição e o egoísmo formarem o mote do caráter daqueles em busca do poder, de nada valem os avanços tecnológicos e a primazia da natureza, pois estas prioridades deturpadas só podem levar à destruição.
Pecados Íntimos
3.8 569 Assista AgoraSomos todos "pequenas crianças": dependentes de alguém ou algo, suscetíveis a nossos desejos, precipitados e egoístas. Moralmente incapazes de julgar, mas ainda assim o fazemos.
X-Men: Apocalipse
3.5 2,1K Assista Agora"Em uma coisa podemos concordar, o terceiro é sempre o mais fraco". GREY, Jean.
Sinédoque, Nova York
4.0 477Tornar-se coadjuvante de sua própria vida. Um absurdo, quase irreal. Mas tão comum e sutil que nem percebemos quando ocorre.
Tazza: Uma Cartada Mortal
4.0 24Filme com tanta traição que faz o plenário parecer honesto.
A 5ª Onda
2.6 1,4K Assista AgoraPra não dizer que é uma bosta completa, nos créditos toca Alive, da Sia.
The Propaganda Game
3.9 76Ainda em dúvida em relação à história do Unicórnio
Capitão América: Guerra Civil
3.9 2,4K Assista AgoraZack Snyder could never
Endemoniada
4.0 316Estou com dor de cabeça de tanta raiva. Revoltante ver tanto machismo exposto.
Podemos julgar o passivismo da protagonista, mas não seria hipócrita? Claro que não em tais situações, mas em pequenos atos do dia-a-dia.
Memórias de Matsuko
4.3 49O quão efêmera é a vida? É difícil nós, quando crianças, no brilho de nossa ingenuidade, não almejarmos um futuro esperançoso e utópico para si mesmos.
Entretanto, conforme crescemos, a vida vai, aos poucos, dando as caras, e no acúmulo de frustrações, decepções e afins, muitas vezes, a criança interior morre.
Durante o tempo presente, é difícil percebermos isso, quanto mais pequenas decisões e as consequências destas. Nós apenas vivemos e vamos aceitando o que surge a frente, mas em um pensamento futuro - ou passado -, ao revisitarmos pequenos momentos muitas vezes um ou outro desses atos que tomamos, podem ter levado a algo maior, talvez algo que ainda estejamos presenciando. Pode ser insignificante, mas pode definir uma vida, e quando nos damos conta, passaram-se 30, 40, 50 anos.
A criança interior, entretanto, ainda está lá, mas a ingenuidade que outrora fora o cerne de nossa existência, oa faísca no nosso olhar, uma virtude que deveria ser abençoada e glorificada, não é bem-vinda em um mundo competitivo, cruel e injusto como este, e mesmo aqueles que mantêm esta qualidade, podem, afinal, acabar mortos por ela.
Este foi o fim de Matsuko, morta por crianças, morta por sua eterna ingenuidade, presente mesmo em improváveis situações, como a que se encontrava.
É esta a mensagem do filme? Também, mas não como um todo, pois seu sobrinho, que encontrava-se perdido e sem propósito, encontra, justamente na história de Matsuko, uma razão para viver.
É difícil, mas no final, sempre há esperança.
Perfect Blue
4.3 815Em uma conversa entre Rumi e o outro agente de Mima, este, buscando convencer Rumi dos motivos para Mima investir na carreira de atriz, diz o seguinte: "Os Tempos Mudaram Desde que Rumi Hidaka era uma Estrela Pop". No que ela responde: "Me Desculpe por não sobreviver".
Isso já explica muito dos delírios de Rumi, mas também não acho que sirvam como álibi par a verdadeira Mima. O filme, apesar de se chamar "Perfect Blue", manifesta, ao longo de toda sua duração, a utilização de um vermelho que antecede tragédias e nos momentos em que Mima está perturbada. É só reparar.
Já no final, ao deixar a clinica onde estava Rumi, Mima embarca em seu carro. A cor do automóvel? Vermelho. E o sorriso da garota com certeza não exala "normalidade".
Isso é cinema, meus amigos.
Mourning Grave
3.3 23Gostei demais desse filme. Reconheço seus erros, mas me divertiu bastante, possui uma atmosfera agradável, apesar do enredo, e ainda o bônus da linda presença de Kim So-eun. Aceito recomendações de semelhantes.
Nossa Irmã Mais Nova
4.0 74 Assista AgoraHirokazu Kore-eda, um dos diretores japoneses mais - justamente - laureados da atualidade, é um mestre em expor para tela, de forma muito orgânica e sensorial, situações que se encaixam não apenas no cotidiano nipônico, como universalmente. O cineasta, discípulo da arte de Yasujiro Ozu, lida frequentemente com temas familiares, como o abandono infantil(Ninguém Pode Saber/2004, Pais e Filhos/ 2013 e O Que eu Mais Desejo/2011) e a discrepância entre gerações, ainda que em uma mesma linhagem(Andando/2008). E agora, com "Nossa Irmã Mais Nova", o Kor-eda comprova mais uma vez seu talento ao mesclar os dois assuntos em um filme sensível, relevante e facilmente acessível.
Baseado na série de mangás homônimos de Akimi Yoshida, a trama fala de Sachi (Haruka Ayase), Yoshino (Masami Nagasawa), e Chika (Kaho), três irmãs com, respectivamente, 29, 22 e 19 anos que vivem sozinhas em uma antiga casa em Kamakura. Um dia, recebem a notícia de que seu pai faleceu na cidade de Yamagata. Mesmo com o fato deste ter abandonado a família para fugir e casar com outra mulher, as irmãs vão a seu enterro, e lá conhecem sua meia-irmã Suzu(Suzu Hirose), e a convidam para ir morar com elas em Kamakura, pedido que a pequena aceita prontamente.
Apesar da forma como o convite foi feito parecer abrupta, já que Suzu ainda era uma desconhecida para as três, além da facilidade com que a mãe da garota parecer ter liberado a filha, isso serviu para retratar, de forma rápida a personalidade de cada uma das Koda's(sobrenome da família), assim como expor o passado de Suzu sem jamais mostrá-lo.
A menina, que inicialmente apresentava uma postura recatada e curvada, um olhar taciturno e era descrita como "madura", era justamente o contrário, um broto inibido de florescer. Ao receber o convite para se mudar, seu rosto assume uma expressão eufórica e surpresa, ansiando para deixar o local onde residia(pensamento confirmado durante sonhos embriagados de Suzu). Sutilezas da atriz - e do roteiro - que justificam sua decisão espontânea. Já morando com as irmãs, ela vai, lentamente, se soltando, trocando o aspecto rígido por um sorriso contagiante e uma personalidade enérgica, afável e carismática. Em uma linda cena, ao passear de bicicleta com um amigo por entre Sakuras(cerejeiras) recém florescidas, Kore-eda fecha o quadro no rosto alegre da menina, como se esta, assim como as árvores, estivesse finalmente a florear.
A personagem de Suzu funciona ainda melhor devido a imensa química que apresenta com Ayase, Nagasawa e Kaho, como se fossem realmente irmãs na vida real, o que contribui para a verossimilhança da história, como visto no recente "As 5 Graças", indicado ao Oscar de filme estrangeiro. Ambas são igualmente bem desenvolvidas e compostas, cada uma com suas próprias características. Chika se mostra um contraponto entre as irmãs, nem tão madura e séria quanto Sachi, nem tão desleixada e irreverente quanto Yoshino, que demonstra-se alguém incauta e sem compromissos, mas generosa e receptível.
Sachi, entre as três, é quem recebe o maior destaque e serve como base de diálogo e reflexão de Kore-eda para abordar o abandono infantil e as consequências que os atos de nossos genitores podem ter em nossa personalidade. Ela desempenha o papel de guardiã das mais novas, inclusive assumindo a guarda da Suzu, em um claro esforço para evitar igualar a personalidade dos pais. Porém, assim como o diretor mostrou nos supracitados longas anteriores, mesmo com as questionáveis ações que os anciões podem ter feito, existe uma afeição natural e inerente que os conecta.
"Esse relacionamento não pode ser desfeito tão facilmente quanto o casamento" é uma frase que Sachi ouve enquanto comenta sobre os ressentimentos que possui para com sua mãe, e é verdade. As cenas entre as duas deixam isso bem claro, pois em meio as desavenças, há também o amor, ainda que fragmentado pelo tempo. É também o sentimento que leva Sachi e a irmã do meio, Yoshino, a se desentenderem para logo depois, estarem se abraçando como se nada tivesse acontecido. É como se houvesse um acordo tácito entre pais, filhos e irmãos, ao menos na visão de Hirokazu.
Kore-eda é minucioso e calmo para executar sua obra, o que é corriqueiro em sua filmografia. É através desse procedimento que suas películas sempre soam tão naturais e sensíveis. Porém, em alguns momentos, o ritmo lento pode enfastiar aqueles pouco acostumados com o cinema autoral japonês, mesmo a história sendo acessível e identificável.
Complementando o trabalho do diretor, tem-se a trilha sonora de Yoko Kanno e a fotografia de Mikiya Takimoto, em perfeita sintonia para construir, com o uso de notas e cores suaves, um clima bucólico em meio a cidade, para ressaltar e assemelhar a relação das irmãs com belas paisagens e o encanto do dia-a-dia, seja em uma simples conversa, um jogo de futebol ou ao colher ameixas.
Our Little Sister não é tão complexo quanto Boneca Inflável, reflexivo quanto Andando ou crítico quanto Ninguém Pode Saber, mas ainda assim, é um resultado notável e sutil que encanta pela simplicidade com que trata temas tão comuns, e por isso mesmo, difíceis de se discutir.
Homens Brancos não Sabem Enterrar
3.4 144Um dos poucos filmes que podem ser resumidos perfeitamente com um: bacana demais.
Cinco Graças
4.3 329 Assista Agora2 Dados Estarrecedores Sobre o Islamismo:
- A religião islâmica permite que "mulheres" casem a partir dos 9 anos.
- Mulheres não devem ser atrasadas, devendo receber educação. Porém, APENAS entre 7 e 15 anos.
Surreal que exista uma religião que doutrine mais de um BILHÃO de pessoas com tais ensinamentos em pleno 2016. Se não existissem evidências, eu acharia tão absurdo quanto um filme distópico de fantasia. Desolador.
Floresta Maldita
2.4 489 Assista AgoraAquele negócio: um filme clichê, barato, com sustos previsíveis e atuações irritantes.
Mas vai assistir sozinho, no escuro, de madrugada para ver se não dá uns arrepios.
Carol
3.9 1,5K Assista AgoraDesculpe, Carol, mas eu me apaixonei por Therese.
Para não cair na mesmice, vou comentar algo que não vi ainda por aqui:
Reparem que existe a repetição constante de duas cores no longa: verde e amarelo. Quando sozinha ou em um estado melancólico, Therese muitas vezes é filmado com um fundo verde opaco e fosco ao fundo. Vazio e sem brilho. Triste. Já com Carol, várias vezes as duas são mostradas com um background amarelo/dourado e forte, ressaltando os fortes sentimentos, a luz e alegria que proporcionam uma à outra.
A Garota Dinamarquesa
4.0 2,2K Assista AgoraUm filme regular, mas que nas mãos de diretor e roteirista mais competentes, seria muito melhor, até por sua relevância universal e principalmente, atemporal.
Tom Hooper aqui bate o seu recorde de Hooperismos. Ano após ano, o diretor, indiferente ao que todo mundo já cansou de apontar, insiste nos mesmo erros e maneirismos, parecendo negar-se a aceitar como estes prejudicam suas obras. O roteiro de Lucinda Coxon é aquilo que o diretor esta acostumado a adaptar, inclusive. Com seu apelo sentimentalista e romantizado. "Romantizar" uma história, quando bem contada, não é errado, uma prova disto é o recente "Brooklyn", mas aqui, ele é expositivo e irritante, principalmente no 3º ato, onde se assume definitivamente um filme "por favor, chore".
Ao menos, durante todos esses excessos, somos conduzidos por boas atuações. Eddie Redmayne convence enquanto Einar, com todas suas duvidas e o alvoroço interno quando redescobre sua natureza. Já como Lili, infelizmente, falta complexidade em sua composição, que não me pareceu natural ou verossímil quando já encontrava-se habituada e realizada com sua escolha. Já Alicia Vikander, favorita ao Oscar, brilha como a compreensiva Gerda, uma mulher forte e altruísta, mas que exibe no olhar a tristeza de perder aquele com a qual casou-se, ao mesmo tempo em que jamais deixa de amá-lo, servindo de pilar em sua jornada.
E Danish Girl é, então, uma obra de extremos, um diamante que não foi lapidado, irregular e frustrante. Ao mesmo tempo em que temos nele qualidades conspícuas, a limitação de seus realizadores impedem que se torne uma experiência memorável. Uma pena.
Boruto: Naruto the Movie
3.8 84Um filme apenas regular, mas como uma carga emocional que vai derrubar qualquer um que acompanha a série há tantos anos. No meu caso, são 9 anos, tendo a jornada iniciado em 2007, no Sbt. Foi um encanto instantâneo, que me levou a procurar o mangá, jogos e até o salgadinho que vinha com shurikens.
Naruto possui uma importância enorme em minha vida, mesmo agora, quase uma década depois, guardo um carinho enorme pela obra, e o filme é uma clara homenagem a obra de Kishimoto. E como tal, apesar de todos seus problemas, vai deixar a garganta dos fãs apertada.
Adaptação.
3.9 707 Assista AgoraUm dos - se não O - melhor exercício metalinguístico do cinema. Fui ver o filme sem saber a história toda, e estou pasmo após ler que o livro "O Ladrão de Orquídeas", Susan e Laroche são todos reais, e ainda mais que a incumbência original de Kaufman era adaptá-lo. Esse conhecimento engrandece ainda mais a qualidade do longa.
O filme é, teoricamente, escrito por dois profissionais diferentes. E apesar de ambos serem Charlie, a narrativa distinta de suas metades fornece a real impressão de mentes desiguais responsáveis pelo texto. A primeira é lenta, irônica e mais elegante, quase monótona, é Charlie. Mas após ir a palestra e ouvir os conselhos do especialista em roteiros, com suas dicas de inserir "emoção para não matar o público de tédio", temos uma nova mente encarregada do script. E no filme, este é Donald, com seus twists e perseguições incessantes. Tudo que ocorre após certo ponta do filme, já tinha sido, inclusive, detalhado por Donald durante a 1ª metade. Uma forma sarcástica e inacreditavelmente inteligente de Kaufman brincar e conversar conosco.
Note como a película conversa muito com o filme anterior de Charlie, "Quero ser John Malkovich". Charlie e Susan enxergam Donald e Laroche como espíritos livres e os invejam. Ele, demonstrando essa inveja com desprezo, e idealizando a vida de outras pessoas, não assumindo que gostaria de ter a mesma estima do irmão. Ela, assim como em John M., tenta substituir seu vazio agarrando o desejo de outro homem. Mas isso não é possível, e ao final, resta a decepção e um vazio ainda maior. Já Charlie encontra reconforto pela mensagem final do irmão de "não importe-se com a opinião dos outros, e sim com o que você é" e ao ver desconstruída a vida da escritora. A situação que presenciou o permitiu desprender-se da pedância narrativa sem plot do livro, e assim, adaptá-la. Adaptar-se. Adaptação.
Macbeth: Ambição e Guerra
3.5 382 Assista AgoraVários autores já foram considerados "inadaptáveis", como Tolkien, Thomas Pynchon e Shakespeare. A dificuldade em suas obras é que leva diretores mais audaciosos, buscando alavancar suas carreiras, encarar o desafio de levá-las para as telas. Às vezes dá certo, e às vezes não. O poeta britânico, dono de um catálogo denso e rico, é alvo constante de profissionais da sétima arte. Entre catástrofes e primazias, Kurosawa, Laurence Olivier, Kenneth Branagh, Orson Welles e agora, Justin Kurzel, são alguns dos poucos cineastas que conseguiram levar seus textos com um real conteúdo para as grandes salas.
Em certa parte do longa, Macbeth, completamente deturpado, fala "As coisas que começam mal, fortalecem-se pelo mal". Mas não foi assim que começou sua trágica história. Após bravamente vencer uma batalha, garantindo a vitória e o território para o Rei Duncan(Thewlis), Macbeth é congratulado e beneficiado pelo justo soberano com o título de duque, além de afirmar que seu maior pagamento é servir o rei. Um homem poderoso e leal, alguém ideal para se ter ao seu lado. O revés tem início ao ouvir a profecia de três bruxas de que seria, em algum ponto, rei. A simples sugestão de tal poder abala sua então inexorável fidelidade, tendo sua corrupção catapultada com o plano ardiloso da maquiavélica Lady Macbeth(Cotillard) para tomar o trono.
A partir daí, temos o começo do "mal". Em uma simples cena que se passa na manhã pós a morte de Rei Duncan, Macbeth é filmado tomando um banho em uma lagoa, o que simboliza um renascimento. Porém, quem surge agora é outro ser, um homem perturbado, pernicioso e desumano, capaz de cometer um infanticídio bárbaro e covarde. Cego por ambição e cobiça desmedida, a degradação moral de Macbeth é estarrecedora e completa, tornando-o praticamente um demônio, o que assusta sua própria esposa, quem o incentivou primariamente. Sua transformação é desenvolvida e ressaltada por todos os aspectos do filme.
O figurino acompanha todas suas transições, inicialmente dourada, o que exibe sua cobiça e desejo por domínio, passando por um branco vazio que expõe sua demência, para então o forrar de preto, quando nenhum resquício do velho Macbeth parece remanescer. A atuação visceral de Fassbender é essencial e eficiente em todas as facetas apresentadas pelo personagem, desde a hesitação inicial, passando pela deterioração mental, com os olhos sem vida e o cabelo desgrenhado, à aceitação de quem transformara-se, em um solilóquio onde afirma que todos os atos hediondos que provocará não mais teriam volta. Porém, Macbeth, apesar de ostentar uma coroa e um trono, jamais foi rei, e sim um escravo de si mesmo. As mesmas bruxas que previram que chegaria ao poder, também trouxeram a mensagem de que sua dinastia não teria continuidade, e sim que os filhos deBanquo(Paddie Considine), seu parceiro no campo de batalha, tornariam-se futuros reis. Com esse pensamento sempre impregnado em sua mente, o personagem de Fassbender jamais usufrui dos privilégios de um monarca, não demonstrando sentir regozijo nenhum de sua posição. A coroa apenas o levou a um estado de alienação, medo e devaneios constantes, o levando a ser odiado por todos. Macbeth é absurdamente complexo, e transpô-lo para os cinemas de forma competente era de uma dificuldade tremenda, mas bem executada por diretor e ator.
A presença de Fassbender - assim como o óbvio foco no protagonista - é tão estrondosa, que acaba por eclipsar o restante do elenco. Marion Cottilard mostra suas virtudes nos curtos monólogos que apresenta, mas a própria atriz já deu provas maiores de seu talento inúmeras vezes. Entre os coadjuvantes, é do desconhecido Sean Harris(o geólogo punk de Prometheus) que vem a maior surpresa. O ator, nêmesis do protagonista, fornece credibilidade para seu personagem através dos olhares e expressões de fúria e indignação.
ustin Kurzel se sai bem na direção, compondo boas cenas de ação, mas por vezes abusando do slow motion sem um motivo aparente que não seja o estético. Seu maior mérito vai na construção deMacbeth, já que conforme sua personalidade definha, o personagem-título é filmado cada vez mais em locais escuros, assim como os súditos, o temendo, encarando-o de cabeça baixa e temerosos, em contraste com a idolatria apresentada quando é este coroado rei. E como supracitado, se Macbeth se assemelha ao demônio, com sua tirania insana, a fotografia de Adam Arkapaw(da temporada boa deTrue Detective) faz de tudo para transformar a Escócia num inferno(pelo menos a concepção ocidental deste). O clímax da fita é fotografada com um sufocante vermelho vivo que permeia por todo o quadro, servindo de plano de fundo para uma violenta batalha. Pode ser que falte aquele jorro de sangue que sempre agrega em lutas esteja faltando, mas a cor, originada por fogo, transmite a essência do sentimento que motiva a disputa entre os homens.
Com todas essas qualidades, é frustrante notar o quão perto a película passou de se tornar uma obra-prima, e sua fraqueza encontra-se no roteiro. Muitos relataram ser um filme para poucos, já que utiliza parágrafos completos da obra de Shakespeare em várias partes de seu todo, mas esse é um fator que em nada prejudica seu entendimento ou qualidade, apenas acrescenta um certo charme e elegância. O problema maior está em sua duração. E pela primeira vez em muitos anos me pego dizendo que um filme de quase duas horas poderia facilmente se estender por mais tempo sem afetar o ritmo, mas sim engrandecendo seu esmero. Com alguns minutos a mais, poderia-se esmiuçar melhor o repentino abandono de Macduff, e principalmente, dar mais tempo de tela para Marion, que foi tristemente desperdiçada, tanto que mesmo tendo seu carisma, o destino que a personagem toma pouco nos afeta, já que não conseguimos nos importar com ela, e isso se deve a fala de profundidade do texto, pois mesmo cometendo atos pútridos, um vilão bem escrito - e interpretado - torna-se magnético. As razões dos personagens são compreensíveis com a boa vontade do telespectador, mas explorar melhor sua psicologia incrementaria a veracidade dos acontecimentos, que são de suma relevância para o decorrer da trama.
Notável também é ver o final não traindo a plenitude da obra, como fez o último Jogos Vorazes. Seria fácil imaginar um encerramento melodramático que tentasse passar uma mensagem barata de autoajuda sobre o bem vencer o mal. Felizmente, Macbeth, assim como mostrou em seus 113 minutos, segue por outro lado, o da natureza perversa humana. Afinal, a morte de um opressor não significa o fim da opressão.
Flor Congelada
4.1 73 Assista AgoraO vermelho permeia todo o longa, desde seu início até seu fim. A cor que simboliza a paixão, mas também sangue e dor. E o que formam, juntos, dor e paixão, se não o amor?!
Dolls, de Takeshi Kitano, Azul é a Cor Mais Quente e este A Frozen Flower, todos únicos em seu próprio gênero e ponto de vista, mas semelhantes no tema. A realidade e crueza do amor.
Gigantesco, enorme, épico, obrigatório.