Me encontro deveras bastante atordoado por essa ígnea experiência cinematográfica, promovida pelo genial diretor ucraniano Miroslav Slaboshpitsky; a cada perfilhar cênico, ficamos com uma sensação plutônica e ao mesmo tempo imersos num rompante vulcânico de tamanha audácia e engenhosidade que permeia toda essa obra fílmica. Já começa pela perspectiva singular de ser todo filmado sem diálogos - se trata de uma película composta por jovens surdos - e é nesse aspecto que o reluzente diretor nos faz ter o ensejo de refletir sobre os problemas da juventude em uma nova linguagem - dos silêncios eloquentes - ; à qual devo invocar um dos meus escritores prediletos de sempre, o Maurice Blanchot (1907-2003). Nesse aspecto, acredito que devemos ponderar sobre esse filme na ótica blanchotiana, ou seja, considerar o silêncio não como ausência, mas repleto de tenaz loquacidade no que concerne aos nossos problemas de ordem mais íntima e que delineiam a nossa personalidade. É um falar imagético silencioso que permite o alastramento prolífico de circunspeções do diretor. O silêncio que diz, mas não remete a algo dizível de forma simplista. Como algo que escarpela o sentido, o silêncio é uma vertigem que-faz-nascer um ruído de vazio. Enquanto fendimento da palavra falada, o silêncio delineia a palavra para que o significado do que (não) é dito se eleve. O fazer cinema, aqui entre silêncios, conforme o diretor ucraniano e num segmento Blanchotiano, é colocar essa reflexão em jogo, é expor a linguagem para logo depois repeli-la, pois, ao devolvê-la em estilhaços, as fissuras permitem uma constelação de sentidos e colocam o Cinema em um degrau superior no que tange ao fazer artístico-social.
Me fez lembrar cineastas/fotógrafos que são dos meus prediletos, Gus Van Sant, Larry Clark, Harmony Korine, Gregg Araki, Nan Goldin, dentre outros... A estética belamente arredia aqui nos embevece e nos faz enxergar que a Sétima Arte sempre vai ser uma viagem estonteante que nos deixa sem palavras, mas nem por isso é silenciosa... esse é daqueles que vai reverberar um tempão na minha humilde mente cinéfila; para os que amam Cinema e as problemáticas juvenis, mais que obrigatório - um final que aturde - e não é esse o objetivo cinematográfico?!
"Leve-me até o ponto de ônibus e esqueça que me conheceu....."
Daqueles clássicos que a gente não cansa de ver e rever.... Uma obra-prima no sentido maiúsculo da palavra; o renomado diretor R. Aldrich nos destila com pitadas de poesia cenas estilísticas e inesquecíveis de aspereza inexprimível, linguajar desatinado das ruas... sem contar o perfilhar dos insólitos protagonistas, permeados pelas ambiências caracterizadas por elementos limítrofes formidáveis. O elenco bacântico só faz abrilhantar mais essa prodigiosa pérola fílmica, que nos mimoseia com um final, no mínimo, apocalíptico.... O enigmático aqui, é trespassado por um prestigioso imbróglio de tramas/sub-tramas; do qual, sem dúvida nenhuma, o ratifica como um alumiante exemplar do gênero noir.... Não sei o que é mais rememorável: a memorosa cena inicial e/ou o epílogo cênico que marca o ápice vituperioso do filme.... Aldrich é fabuloso ao fazer com que nessa obra, haja o encontro entre a ficção científica e o noir... trazendo vívidas metáforas a respeito da atmosfera de ignávia e delírio paranoico que se abrolhou nos EUA nos anos 1950... Para nós, espectadores, um filme realmente inolvidável!
'' Mesmo se você for severo consigo mesmo, seja misericordioso com os outros [...] Um homem não é um ser humano, se não tiver piedade em seu coração. "
O cinema de Mizoguchi é algo definitivamente soberbo; agora pude reconhecer por quê era um dos cineastas preferidos do Tarkovski.... Nessa obra-prima, ele nos brinda com cenas memoráveis e com seu jeito esplâncnico de filmar, nos faz perceber o quão inolvidável é conferir 'O Intendente Sansho'; são sensações enternecedoras que se desembocam com o desenrolar do filme que nos traz uma emocionante lição a respeito da saga sobre o compadecimento humanitário, resistência e família.... O enquadramento é algo belíssimo, a fotografia é deslumbrante e primorosa; consegue nos transparecer a aridez que desola a noção de identidade humana e suas temerosas agruras; porém, a expectação do diretor é euforicamente esperançosa de que tudo volte a ser como antes... As pitadas de neorrealismo italiano e mesclas de expressionismo alemão, só dão uma incrementada a mais nessa baita obra fílmica que combina como ninguém, a beleza cavalar que converge na apolínea interação entre imagem (e que imagens!) e sons. Mizoguchi, Ozu e Kurosawa me fazem compreender a venustidade que caracteriza o verdadeiro paroxismo grandioso do Cinema de Arte.... Obrigado Mestres!
Obra mais atual do que nunca, para repensar, por exemplo, a reforma previdencial e suas iníquas consequências .....
Um dos filmes mais tocantes de Vittorio De Sica, que com certeza fica na memória de quem o assiste; veio logo após o lançamento do clássico enternecedor, Ladrões de bicicleta de 1948; a história pessoal encantadora do protagonista (um senhor já aposentado, e seu notável cachorrinho Flike); permeada por aguda emoção que acaba nos descortinando, ao longo do filme, as condições sociais injustas que justamente lhe servem de panorama.... Os atores não-profissionais dão um detalhe a mais, no indicativo que concerne a uma maior autenticidade; o que confere ao perfilhar fímico, uma instigação de reflexão a respeito das antinomias sociais que constantemente nos circundam.... O cinema utilizado com primor, ao ser volvido como exímia crítica sócio-política... O que ratifica ainda mais de quando se trata de um magnânimo exemplar do Neorrealismo italiano; enfim, De Sica não decepciona.... mais um filme impecável e arrebatador, um verdadeiro Clássico; viva o Cinema Italiano!!
"Neste mundo, a bondade é tida como sinônimo de idiotice [...] Sabem, eu não compreendo como se pode passar ao lado de uma árvore e não ficar feliz por vê-la! Conversar com uma pessoa e não se sentir feliz por amá-la! Oh, eu apenas não sei exprimir... Olhem para uma criança, olhem para a alvorada de Deus, olhem para a relva do jeito que cresce, olhem para os olhos que os olham e os amam..." (O Idiota, Dostoiévski)
Assim como Kurosawa, também sou um arrebatado admirador da obra Dostoiévskiana; e compartilho da sua visão quando fala: "Existe algo de sobre-humano nessa bondade que impregna o olhar de Dostoiévski quando ele perscruta os sofrimentos humanos mais terríveis. Nenhum outro romancista descreveu o homem com tanta honestidade, profundidade e empatia. Ele analisa o comportamento do homem em estado puro, às voltas com uma situação que chega ao auge; por isso é que seus personagens são tão extraordinários." (Kurosawa em entrevista, 1951).
Depois dessas duas citações, não tem como não ficar embevecido com a tamanha precisão de Kurosawa ao adaptar essa obra-prima de Dostoiévski para o cinema.... Destaco as longas sequências de cenas que nos encantam com os planos curtos em que se desenrolam as cirurgias feitas à bisturi por Kurosawa, no que tange à analítica da complexidade humana; a esplêndida fotografia em preto-e-branco; bem como a paisagem de neve revelam ser aspectos fulgurantes na criação de um clima belamente álgido, que representa justamente a realização com maestria de uma sequência fílmica que nos descortina o reflexo do layout metafórico da frugalidade espiritual e do retraimento do emblemático protagonista... O que nos atesta que no nosso mundo parece ser inaceitável ser tão bondoso; e é aí que Kurosawa nos borrifa a reflexão no que concerne à falência da humanidade... Uma obra lacrimejante, e que ratifica alguns motivos de como Kurosawa veio a se tornar um dos cineastas mais importantes e influentes da história do Cinema.
"Tudo muda. Nada muda. A mesa gira... E a vida continua."
Sofia Coppola e sua tão singular abordagem minuciosa que bosqueja os recônditos mais intrínsecos da feminilidade.... Nesse primeiro curta-metragem dela, já se reluzem alguns dos seus principais pontos interpelados por toda sua obra cinematográfica; a fotografia aqui em preto-e-branco assume um sumo papel de abalroar as personagens num ígneo misto de emoções e reações comuns na adolescência e toda a sua dissonante e apaixonante complexidade.... A trilha sonora sempre impecável e nostálgica em seus filmes, não faz diferente aqui em seu debut; nesse quesito, podemos apalpar em cada cena, rememorações posteriores que vão fagulhar de forma resplandecente em seu outro excelente filme, e um dos meus favoritos, na sua primorosa filmografia.... que é 'As Virgens Suicidas', lançado em 1999. As questões que fagulham em seus filmes, giram em torno, ao meu ponto de vista, numa auréola mais estética do que narrativa... não que essa não se sobressaia, mas o paroxismo estético é sempre algo sui generis em cada exemplar fílmico que ela divulga... Isso me faz adorar cada obra sua, pois cada plano e cada cor exulta venustidade e graça magistral.... Enfim, Sofia merece nosso olhar atinado de cinéfilos, pois assim como seu pai, também engrandece o Cinema com seu conspícuo olhar, ao mesmo tempo, singelo e eufônico que tanto nos encanta.
" A vida é feita de pequenas idas e vindas. E para cada coisa que levamos, há outra coisa que deixamos para trás..."
Assim que soube ontem da morte do emblemático compositor francês, Michel Legrand.... Ele que já ganhou Oscar por suas feéricas trilhas sonoras, bem como marcou o período da Nouvelle Vague; gravando mais de 100 álbuns de gêneros como jazz e música clássica.... Não tenho como não rememorar essa Obra-Prima incontestável, que é o filme "Houve uma Vez um Verão" de 1971. Certamente quem o assiste ou quem já assistiu, fica com ele na memória implantado de maneira permanente; pois, cada cena nos leva a uma nectária nostalgia que todos nós já vivenciamos um dia... É uma pérola fílmica belíssima, cada perfilhar de cenas nos desvela uma visceral sensibilidade; onde tem-se a evidenciação das reminiscências e descobertas envoltas tanto na esfera do sentimento e do pensamento, que são decantadas pelo diretor, numa espécie de precípua delicadeza que nos deixa, no mínimo, enlevados por tal encantamento e emotividade. Não canso de assistir.... sem contar, a trilha sonora conduzida magistralmente pelo ganhador do Oscar, o agora eterno e sempre genial - Michel Legrand.
Esse é um dos filmes que ainda nos prova que pode e deve haver sentimentalidade no imaginário e nas vivências juvenis no que se refere ao desadormecer para o amor... Um filme não menos que, marcante e inesquecível; esse é daqueles para gente com certeza presentear quem ama Cinema!!
" [...] Dinheiro e posição pareciam tudo o que importava... "
É de ficar maravilhado, poder conferir esse grande clássico pertencente à luzidia tradição literária anglo-saxônica; cujo título 'Jane Eyre' nos faz rememorar as produções de conspícuo prestígio que caracterizaram os clássicos do cinema hollywoodiano, principalmente os produzidos pela FOX; que destila refino e elegância em cada produção fílmica.... Me marcou nesse filme, a sua singela estilística e as magistrais atuações; no que concerne ao enlevado preto-e-branco, que aparece-nos visceralmente dissonante e belamente contrastado... bem como as névoas e as sombras incomensuráveis que fornecem o contorno tão bem lapidado dos cenários espessos e agoniantes; o romance gótico também desponta aqui como um luminoso pano de fundo, que atesta as interpretações ao estilo expressionista dos atores.... cuja direção reforça o aspecto sedutor e intimidativo das situações. A fotografia é belíssima; são daqueles filmes, que sem dúvida, captam de maneira eficaz a essência da obra pela qual são inspirados; neste caso, o romance de Charlotte Brontë. Outro destaque, é ver a Elizabeth Taylor em tenra idade, já despertando o seu talento de atriz luzidia que sempre foi... Enfim, vale muito a pena conferir essa obra que encapsula de maneira brilhante, a formulação de filme-literário... Lindíssima versão.
"Não vai lhe acontecer nada, senhorita. Aqui somos todos gente de bem...."
É um filme que incomoda por tocar em questões que dizem respeito a todo e qualquer ser humano. Buñuel é, indubitavelmente, um dos meus cineastas favoritos... Verdadeiro ínsito desconstrutor, um Jacques Derrida da sétima arte. Me faz lembrar William Blake, que tão bem expôs questionamentos a respeito do 'sagrado' e do 'profano'; na marcante e indelével obra "O Casamento entre o Céu e o Inferno".
Uma das obras-primas do Mestre Buñuel; são daqueles filmes que valem apreciar cada frame; este, que foi inicialmente proibido na Espanha e completamente execrado pelo Vaticano, demonstra um Buñuel ainda mais cirúrgico em suas geniais críticas com relação à hipocrisia santuária e fulgurante tartufismo que regem as relações sociais.... Esta obra que foi premiada com a Palma de Ouro em Cannes, descortina e nos presenteia com um roteiro impecável, no que concerne à luzidia habilidade de Buñuel em nos conduzir por essas obscuras e sinuosas ambiências que delineiam os desvarios insânios da natureza humana, retratada através da sua perspectiva surrealista, amplificada por um primoroso prisma neo-realista do dissimulado cotidiano social. Ele nos expõe à bisturi a mais lapidada exposição da comédia que costuma reger a vida que não presume a estremadura da coibição punitiva... Vale destacar uma das mais marcantes e antológicas cenas do cinema, a "Santa Ceia" representada aqui, por mendigos; e perfilhada por irretocável senso de enquadramento e ângulos que só Buñuel era capaz de nos evidenciar... Filmaço que nos faz refletir sobre o medular existencialismo e os desvarios do incongruente maniqueísmo moral; imperdível para qualquer cinéfilo e aficionado por Cinema, com C maiúsculo .
Ministério da Cinefilia adverte: Quem morrer sem assistir as obras do Lars Von Trier, morrerá duas vezes.....
" [...] Você quer acordar para se libertar da imagem de Europa. Mas isso não é possível. "
Que filme mais estupendo, a fotografia em que se destila cada frame é algo inefável; Trier, mais uma vez genial, nesse que é um dos meus filmes prediletos dele; denominado 'Europa' traz uma sacada inédita e esplendorosa, ao fazer alternâncias das cenas com cor e em preto&branco para borrifar uma fulgurante metáfora cênico-sinestésica com relação à enlevação de sentimentos e emoções que afloram e circundam cada vez mais os personagens principais e a angustiante ambiência em que se desenrola essa obra fílmica; mais precisamente, a Alemanha do pós-guerra e a questão da sua política coibitiva; o enredo é brilhantemente original, isso devido também à narrativa hipnótica em off, bastante engenhosa, que se constitui como consciência do protagonista.... Trier nos leva a fazer uma incursão para dentro de nós mesmos, onde se sincretizam as amofinações provocadas pela guerra, bem como acentua-se o intermúndio experienciado de se notar aferrolhado num mundo que não é o nosso.... Nos fazendo refletir até que ponto uma sociedade edificada na coerção sentenciadora, pode levar à insensatez de indivíduos idealistas; Lars sempre primoroso e faz enxergar que àqueles que possuem refinada predileção pelo Cinema, não podem deixar de conferir sua filmografia.... em especial, esse que conferi, 'Europa' de 1991; que com certeza nos brinda com uma experiência cinematográfica singular.
"Ela parece ter asas; ele, raízes [...] Eles se amaram, mas cada um amou em um tempo diferente."
"Dominique está aqui para negar toda essa hipocrisia....."
Que filme mais estupendo, o cineasta francês Clouzot não nos desaponta; entre tantos dos seus clássicos, dentre eles: 'As Diabólicas' [1955], 'O Salário do Medo' [1953].... me deparo de forma bastante radiante, com essa obra irretocável: 'A Verdade' de 1960. Aqui, atesta-se e quem o assiste com a devida atenção cinéfila, percebe o quão esta é a melhor, senão uma das melhores performances da esplendorosa Brigitte Bardot com sua portentosa beleza e luzidio talento dramático.... A emancipação feminina aqui, é discutida exemplarmente; desgarrada de toda hipocrisia que delineia a instituição moralista e os denominados 'bons costumes'. A consistência do roteiro, demonstrando à procura por uma Verdade estilhaçada em fabulosos flashbacks, ao longo de todo o filme nos brinda com cenas e atuações inolvidáveis. A fotografia nos deixa embevecidos com suas tonalidades cinzentas, principalmente nas cenas do tribunal; onde se edifica toda desconstrução a respeito de um preconceito totalmente conservador e retrógrado... Isso se torna tão atual, já que ainda, infelizmente enxergamos a 'crucificação' de certas mulheres que são vistas fora desses moldes anacrônicos da mendaz sociedade; indiscutivelmente, um verdadeiro clássico do cinema francês, e sobretudo, locupleta a sublimidade do Cinema mundial.... Clouzot, você é o Cara!!
" [....] Que seja claro o seu céu, que seja luminoso e sereno o seu lindo sorriso; abençoada seja você pelo momento de júbilo e felicidade que concedeu a um coração solitário e agradecido! Meu Deus! Um momento inteiro de júbilo! Não será isto o bastante para uma vida inteira? " (p. 82) DOSTOIÉVSKI, F. in "Noites Brancas" - Ed. 34
Adaptação Viscontiana de surpreendente beleza; com certeza Dostoiévski ficaria bestificado por tamanha venustidade.... O livro, que é um dos meus favoritos, é aqui apresentado e ambientado numa belíssima atmosfera onírica, com astuciosos borrifos devaneantes e cenas que contém uma poesia inenarrável. A maestria do alumiante diretor italiano Visconti, cineasta que está no meu rol de prediletos, é algo surreal nesse, que é uma das suas obras-primas em sua vasta e preciosa filmografia.... Os protagonistas nos brindam com atuações bem luminosas, assim como a transmissão das emoções são fulguradas por um destacável perfilhar de cintilante arrebatamento; mais uma vez, o aspecto da fotografia se sobressai, justamente pela encolerização de um dissonante preto-e-branco memorável.... Venero a obra escrita, e adorei essa insigne adaptação desse gênio italiano; sem dúvidas, uma grande obra fílmica; afinal, não é tarefa nada fácil transpor as reflexões cirúrgicas do Dostô para a imagética da Sétima Arte; viva o Cinema Italiano, e viva mais ainda ao Cinema mundial que nos faz com seus ótimos filmes, ter uma vida melhor e mais suportável!!
" [...] Paris est tout petit pour ceux qui s'aiment d'un aussi grand amour [...] " Você estava certo Garance, é tão simples o amor ..."
Agora pude constatar o porque que 'O Boulevard do Crime' se mantém como sendo um dos maiores filmes franceses de todos os tempos.... A manifestação belíssima e conspícua, do que se denomina 'realismo poético' ou 'romantismo pessimista', é retratada por uma magia cinematográfica inenarrável; é importante destacar que o filme foi realizado e lançado numa França assombrada pela vil ambiência bélica, sob ocupação nazista.... nesse sentido, já pode-se fulgurar o valor dessa Obra-Prima para a história da Sétima Arte... constitui-se praticamente num louvável ato homérico e heroico. Cada exsudação cênica, faz alambicar na tela os detalhes vívidos e cenários talhados à bisturi, envoltos por momentos de inolvidável emoção; tudo isso, devido ao roteiro impecável de Jacques Prévert e a direção circunspecta do perfeccionista Marcel Carné. Uma brilhante reflexão nos é destilada, entre às quais, podemos destacar: as ponderações acerca das diversas camadas que se debruçam sobre a natureza da pantomima, inventividade e da própria representação. Cada diálogo se sobressai, bem como cada ação é exibida de maneira primorosa.... As três horas de filme transcorrem de maneira tão fluída e envolvente, que nem notamos o seu esvoaçamento; ao contrário, cada minuto aqui é uma verdadeira reverência ao teatro, como sendo a maior arte popular do século XIX; bem como o próprio Cinema foi no século XX.... tudo isso brindado com memoráveis atuações, cuja graciosidade e fervor nos descortina com uma prestigiosa sensação disseminante de brevidade, a apolínea profusão da melancolia; à qual se localiza por trás de todo o requinte poético!!
" [...] What's the meaning of life? Bravo! Very nice, very nice! [ /// Qual é o sentido da vida? Bravo! Muito legal, muito legal... "
Já estava há algum tempo querendo conferir esse tão aclamado curta-metragem e fiquei bem aturdido com a formidável genialidade do diretor Lipsett; uma rebuscada fusão de aspectos imagético-sonoros, nos fazem ficar maravilhados pelo deslinde de fotografias contingenciais, bem como multíscios estilhaços de discursos oniscientes.... e o constante vozear que nos exclama: "Very nice, very nice"; é importante fazer uma ressalva de que esse belíssimo filme experimental, ganhou um Oscar e logrou reconhecimento internacional; agora assimilo, o porque de ser um dos prediletos de Stanley Kubrick, diretor que cultuo tenazmente. Esse filme, desnuda de maneira inclemente, os arquejos e as incongruências da vida.... Justamente pela refulgente aposição de efígies, sonância e temas musicais.
" Uma obra prima fantástica que inspirou Legrand, Jean-Luc Godard e Anna Karina....."
" [...] "Você sempre tem uma resposta. É engraçado, sempre tenho perguntas."
Que obra fílmica mais fantástica, verdadeira ode pulquérrima a respeito da contemplação imagético-poética que envolvem as ambiências e os pequenos grandes detalhes anfêmeros do cotidiano.... A magnífica diretora francesa Agnès Varda, apreende como ninguém, a envolvente atmosfera de Paris no contexto dos anos 60. A trilha sonora de Michel Legrand mais uma vez deixa qualquer um embevecido pela sinfonia etérea das imagens feéricas que são destiladas à bisturi por Varda, esta que foi uma verdadeira e excepcional precursora da 'new wave' francesa no Cinema.... O movimento sinuoso da câmera nos faz mergulhar por entre as belezas singelas que geralmente nos fogem ao olhar do dia-a-dia; um dos motivos que atestam que esse é, definitivamente, um dos filmes mais 'cool' de todos os tempos e merece abrolhar sempre com louvor nas listas de melhores obras da história do Cinema... A encantadora transição que faz com que Cléo passe a "ver", ao invés de somente "olhar" é algo, no mínimo, lancinante para quem compreende a melíflua perspectiva metafórica que ambienta as situações que a envolvem em sua jornada na cruciante efervescência urbana.... Filme estupendo que nos faz ter uma marcante experiência imersiva, fator este, devido muito pela fotografia arrebatadora e convidativa; bem como nos faz enxergar o porque de ser considerado um dos mais importantes da 'Nouvelle Vague'; é Edificante e Inspirador, no veraz sentido polissêmico dessas palavras. Certa vez escutei que o primeiro Varda a gente nunca esquece.....
Só acho que deveria ter um versão estendida para todos àqueles que apreciam Cinema, com letra Maiúscula!!!
''[...] Deus, deixe que minha alma amadureça antes de recolhê-la [...] Não tenho poder algum sobre os vivos.''
Esse é Clássico com 'c' maiúsculo mesmo; verdadeira experiência cinematográfica singular.... imperdível para qualquer Cinéfilo; tem-se aqui a gênese veraz da Sétima Arte com a sua conspícua altivez, ratificando já no começo do século da sua criação, a sua predisposição ontológica. Obra fílmica belíssima, super emocionante e ainda nos lega uma mensagem sublime a respeito do cerne que consuma as relações humanas.... O poder do cinema aqui evoca aos píncaros a magia cinemática; sobretudo, destacam-se o perfilhar de sequências locupletadas por uma lapidar trilha sonora; o pináculo enternecedor confere a essa película, o seu status de atemporal e que depois de 100 anos após o seu lançamento, ainda nos marca de maneira indelével e imperecível... destaque para essa versão restaurada, ficou um fidedigno deleite para os amantes do Cinema.
Senso de direção audaz do sueco Sjöström, enquadramentos dentro de diretrizes formidáveis, famanaz em cada detalhe; dos quais em seu conjunto nos lega uma verdadeira obra acrônica - isto é - M O D E L A R!!!
" [...] Reservo o direito de ser ignorante. Esse é o estilo de vida ocidental... O que acha que são os espiões? Filósofos moralistas que medem o que fazem contra a palavra de Deus ou de Karl Marx? Não, não são isso. São apenas um punhado de sórdidos e miseráveis bastardos como eu. Homenzinhos, bêbados, maricas, maridos molengas, funcionários jogando vaqueiros e índios para iluminar suas pequenas vidas. Acha que se sentem como monges pensando no bem e no mal? [...] O que é o seu partido? Tem milhões de cadáveres no seu caminho".
Que obra fílmica mais estonteante; uma das coisas que mais se sobressaem é a questão da montagem e da fotografia vertiginosa auscultadas por tamanha frugalidade; ao destilar de cada cena, tem-se a edição límpida e ao mesmo tempo pungentemente sóbria.... a trama entrançada nos faz imergir numa prestigiosa estilística envolta por magnético voyeurismo, na qual a formosa direção de arte ressaltada pelo aspecto imagético em preto&branco não faz destoar do clima peremptório que caracteriza a maioria dos filmes desse gênero de espionagem; sendo este filme ratificado como um dos mais, senão, o mais significativo representante já realizado. Vale destacar que Richard Burton afigura impecavelmente como protagonista da conjuração numa atuação soberba... O realismo inclemente é o argumento tônico que rege essa obra-prima, que sim, merece e muitíssimo ser mais conhecida pelos cinéfilos em vigília!!
"[...] A arte não reproduz o visível; ela torna visível [...] porque o teatro e o cinema tem um preço enquanto que o exército é gratuito. Deveria ser o oposto. Os espetáculos deveriam ser gratuitos e aqueles que quisessem guerrear deveriam ter de pagar caro por isso [...] Não é o silêncio que me incomoda, mas sim, o som e a fúria."
Esse filme, decerto, é daqueles que entram em nosso rol de inolvidáveis; pautado por uma inigualável estética, onde Godard com a maestria costumeira que caracteriza as suas sui generis obras fílmicas, nos desvela um universo de angústia e reivindicações por parte da juventude que vai ser protagonista do Maio de 68; os altivos diálogos tracejados por distinta inteligência agem como um fator a mais nesse belo filme.... O uso das cores também foi outro aspecto que me saltou aos olhos, trazendo à luz uma metafórica ascendência dos sentimentos de inquietação juvenil. Vale mencionar que essa película não é menos atual, pois com essa era sombria que nos circunda, ele nos traz argumentos bastante engenhosos e provocativos. Mais uma vez, a Fotografia é um show à parte, a montagem não-convencional bem ao estilo idiossincrático godardiano também se apresenta como aspecto suntuoso em sua eminente filmografia. Sua ímpar estilística cênica/enredo, é uma das coisas que mais me fascinam; e com certeza locupleta a fascinante história da Sétima Arte... Godard sendo Godard, não é mesmo?!
Um primoroso filme para apreender o nosso lúgubre período histórico passado e o de nossa contemporaneidade não menos assombreada!!
" [...] Com efeito lhes permite, e permite a um governo estrangeiro, controlar todo o país, conhecer seus recursos, suas riquezas [...] Diz que defende a liberdade e a democracia, mas seus métodos são a guerra, o ódio, o fascismo e a tortura. [...] - Deus é americano e golpista?! "
Que obra fílmica mais intensa e, certamente, imprescindível para compreender nossos tempos sinuosos atuais..... Costa-Gavras é daqueles diretores que possuem uma filmografia pujante e veemente no que concerne ao Cinema de Reflexão/Denúncia Político-Social; a falta de promoção da verdade que anda circundando nosso Brasil, nos faz remeter com essa obra-prima do Cinema mundial, a seguinte assertiva atemporal de Brecht: "Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?!". A contundente denúncia que é feita por Gavras às forças conservadores corruptas se sobressai no enfático aspecto de thriller político e engajado.... O nascimento das estruturas de poder, bem como a gênese e conservação das ditaduras latino-americanas caracterizadas por seus métodos nefastos e cruéis para "manter a ordem e o progresso", são enfoques desvelados com maestria pelo insigne diretor grego; um verdadeiro retrato documental de incriminação aos crimes atrozes cometidos e que, infelizmente, ainda são praticados em despotismos velados não só no Brasil, como em todo o mundo hodierno.... Filme recomendadíssimo para àqueles que objetivam radiografar como se originam as autocracias na América Latina, bem como às ideologias daqueles que a combatiam e ainda combatem, hoje, as outras formas encobertas de tiranias cotidianas. I-M-P-E-C-Á-V-E-L, um dos melhores do Costa-Gavras junto com "Z" de 1969 que vale também muitíssimo a pena conferir.
"Engenhoso e divertido, um verdadeiro clássico do Cinema tcheco...."
Que obra fílmica mais estupenda; produção clássica advinda do Cinema agora da extinta Checoslováquia.... A Fotografia é algo repleto de singela airosidade, indispensável para àqueles cinéfilos que apreciam as análises cênicas acerca da levidão que permeia questões como, o amor, as inseguranças, o sexo e a própria perspectiva bélica que se faz ascendente como pano de fundo nessa belíssima película. A linguagem em que se destilam as cenas, são caracterizadas por sequencias, no mínimo, paulatinamente oníricas... O roteiro simples e direto, faz com que percebamos o frescor da vida em seus detalhes mais anfêmeros; um dos fatores que, com certeza, fazem com que esse filme não envelheça... ratifica-se aqui o seu lugar de altivo destaque no rol dos filmes que marcam o Cinema mundial.. Experiência cinematográfica mais que necessária para todos àqueles que apreciam, como eu, a quintessência da Sétima Arte; enfatizando que tudo isso, o pontilhismo da juventude e suas inquietações, bosquejam pela tela, como se estivesse justamente, como um trem seguindo os seus trilhos na estrada das nossas oblíquas existências....
" Ociosa juventude, De tudo pervertida. Por minha virtude Eu perdi a vida. Ah! Que venha a hora Que as almas enamora !" ///// . - Rimbaud -
Ainda sobre o Cinema Checoslováquo, não poderia deixar de mencionar o visionário diretor Miloš Forman; com esse que é uma das suas fulgurantes obras, intitulada: 'Os Amores de uma Loira'; agora, compreendo porque é considerado um dos grandes filmes dos anos 60.... já é primigênio, em seu escopo de pôr em vivacidade diálogos repletos de improvisações e técnicas cinematográficas num viés documental; tudo isso pautado por um ritmo cênico não menos fruitivo, caracterizado por um olhar singular bastante inteligente e delicado a respeito do desadormecer vivencial... Forman é cirúrgico ao retratar clinicamente o prestigioso descortinamento da passagem de uma fase adolescida existencial.... a contemplação de detalhes que para uns podem parecer banais, para Miloš se destacam altivamente e fazem desse filme único em seu quesito de arriscar em planos/passagens fílmicas que atestam a sua prolífica e sensível efetividade. Os nossos dramas e frustrações cotidianas se deslavam aqui como apanágios do seu resoluto trunfo.... Em síntese, uma obra para reverenciar com a singeleza e o deleite que merece!!!
Uma das obras-primas do Buñuel..... como sempre, cirúrgico em sua crítica cítrica à burguesia, às repressões sociais [franquismo] e claro, à perfídia da dissimulação episcopal.... Sem contar, a Deneuve, que está um deslumbre magnânimo em sua atuação marcante... Que diretor fantástico, isso é Cinema com 'C' hercúleo!!!
" As maiores vitórias das nossas vidas podem ser celebradas num brinde de Toddynho......"
Filme marcante, suas cenas deslindam borrifadas de melíflua fluidez nesse enredo singelo e simultaneamente lindo.... Adorei a atmosfera que fora criada pelo diretor sueco nas ambiências que envolvem as cativantes protagonistas; a sinceridade com que é tratado tema tão envolvente e, ao mesmo tempo delicado, se demonstra na fulgurante mescla do Cinema de Arte com a própria estilística fílmica criada pelo singular movimento correspondente ao Dogma 95; para ir mais além, tem-se a alternativa estética naturalista, que nos faz rememorar os vídeo-clipes da MTV; pois nota-se a fotografia, que é outro aspecto que reluz no que concerne ao desprovimento de alumiação artificiosa....
A casualidade das interpretações é algo bem apreciativo de se conferir com mais parcimônia.... A originalidade está aí: no formidável amálgama que fez-se no destilar das cenas e em como se trabalhou na simplicidade o estilo Dogma 95 com o retrato da Geração Music Television com um desfecho memorável....
Um dos meus poemas favoritos, escrito em 1923... ainda nos revela seu augúrio hodierno e sintetiza de maneira etérea a beleza melancólica de uma das obras-primas do Coppola 'The Outsiders' ou 'Vidas sem Rumo' de 1983 :
O primeiro verde da natureza é dourado, Para ela, o tom mais difícil de fixar. Sua primeira folha é uma flor, Mas só durante uma hora. Depois folha se rende a folha. Assim o Paraíso afundou na dor, Assim a aurora se transforma em dia. Nada que é dourado fica.
A Gangue
3.8 134"O amor e o ódio não precisam de tradução......"
"Primeiro estranha-se,depois entranha-se."
/Fernando Pessoa
Me encontro deveras bastante atordoado por essa ígnea experiência cinematográfica, promovida pelo genial diretor ucraniano Miroslav Slaboshpitsky; a cada perfilhar cênico, ficamos com uma sensação plutônica e ao mesmo tempo imersos num rompante vulcânico de tamanha audácia e engenhosidade que permeia toda essa obra fílmica. Já começa pela perspectiva singular de ser todo filmado sem diálogos - se trata de uma película composta por jovens surdos - e é nesse aspecto que o reluzente diretor nos faz ter o ensejo de refletir sobre os problemas da juventude em uma nova linguagem - dos silêncios eloquentes - ; à qual devo invocar um dos meus escritores prediletos de sempre, o Maurice Blanchot (1907-2003). Nesse aspecto, acredito que devemos ponderar sobre esse filme na ótica blanchotiana, ou seja, considerar o silêncio não como ausência, mas repleto de tenaz loquacidade no que concerne aos nossos problemas de ordem mais íntima e que delineiam a nossa personalidade. É um falar imagético silencioso que permite o alastramento prolífico de circunspeções do diretor. O silêncio que diz, mas não remete a algo dizível de forma simplista. Como algo que escarpela o sentido, o silêncio é uma vertigem que-faz-nascer um ruído de vazio. Enquanto fendimento da palavra falada, o silêncio delineia a palavra para que o significado do que (não) é dito se eleve. O fazer cinema, aqui entre silêncios, conforme o diretor ucraniano e num segmento Blanchotiano, é colocar essa reflexão em jogo, é expor a linguagem para logo depois repeli-la, pois, ao devolvê-la em estilhaços, as fissuras permitem uma constelação de sentidos e colocam o Cinema em um degrau superior no que tange ao fazer artístico-social.
Me fez lembrar cineastas/fotógrafos que são dos meus prediletos, Gus Van Sant, Larry Clark, Harmony Korine, Gregg Araki, Nan Goldin, dentre outros... A estética belamente arredia aqui nos embevece e nos faz enxergar que a Sétima Arte sempre vai ser uma viagem estonteante que nos deixa sem palavras, mas nem por isso é silenciosa... esse é daqueles que vai reverberar um tempão na minha humilde mente cinéfila; para os que amam Cinema e as problemáticas juvenis, mais que obrigatório - um final que aturde - e não é esse o objetivo cinematográfico?!
A Morte num Beijo
3.8 60 Assista Agora"Leve-me até o ponto de ônibus e esqueça que me conheceu....."
Daqueles clássicos que a gente não cansa de ver e rever.... Uma obra-prima no sentido maiúsculo da palavra; o renomado diretor R. Aldrich nos destila com pitadas de poesia cenas estilísticas e inesquecíveis de aspereza inexprimível, linguajar desatinado das ruas... sem contar o perfilhar dos insólitos protagonistas, permeados pelas ambiências caracterizadas por elementos limítrofes formidáveis. O elenco bacântico só faz abrilhantar mais essa prodigiosa pérola fílmica, que nos mimoseia com um final, no mínimo, apocalíptico.... O enigmático aqui, é trespassado por um prestigioso imbróglio de tramas/sub-tramas; do qual, sem dúvida nenhuma, o ratifica como um alumiante exemplar do gênero noir.... Não sei o que é mais rememorável: a memorosa cena inicial e/ou o epílogo cênico que marca o ápice vituperioso do filme.... Aldrich é fabuloso ao fazer com que nessa obra, haja o encontro entre a ficção científica e o noir... trazendo vívidas metáforas a respeito da atmosfera de ignávia e delírio paranoico que se abrolhou nos EUA nos anos 1950... Para nós, espectadores, um filme realmente inolvidável!
O Intendente Sansho
4.5 65'' Mesmo se você for severo consigo mesmo, seja misericordioso com os outros [...] Um homem não é um ser humano, se não tiver piedade em seu coração. "
O cinema de Mizoguchi é algo definitivamente soberbo; agora pude reconhecer por quê era um dos cineastas preferidos do Tarkovski.... Nessa obra-prima, ele nos brinda com cenas memoráveis e com seu jeito esplâncnico de filmar, nos faz perceber o quão inolvidável é conferir 'O Intendente Sansho'; são sensações enternecedoras que se desembocam com o desenrolar do filme que nos traz uma emocionante lição a respeito da saga sobre o compadecimento humanitário, resistência e família.... O enquadramento é algo belíssimo, a fotografia é deslumbrante e primorosa; consegue nos transparecer a aridez que desola a noção de identidade humana e suas temerosas agruras; porém, a expectação do diretor é euforicamente esperançosa de que tudo volte a ser como antes... As pitadas de neorrealismo italiano e mesclas de expressionismo alemão, só dão uma incrementada a mais nessa baita obra fílmica que combina como ninguém, a beleza cavalar que converge na apolínea interação entre imagem (e que imagens!) e sons. Mizoguchi, Ozu e Kurosawa me fazem compreender a venustidade que caracteriza o verdadeiro paroxismo grandioso do Cinema de Arte.... Obrigado Mestres!
Umberto D.
4.4 124 Assista AgoraObra mais atual do que nunca, para repensar, por exemplo, a reforma previdencial e suas iníquas consequências .....
Um dos filmes mais tocantes de Vittorio De Sica, que com certeza fica na memória de quem o assiste; veio logo após o lançamento do clássico enternecedor, Ladrões de bicicleta de 1948; a história pessoal encantadora do protagonista (um senhor já aposentado, e seu notável cachorrinho Flike); permeada por aguda emoção que acaba nos descortinando, ao longo do filme, as condições sociais injustas que justamente lhe servem de panorama.... Os atores não-profissionais dão um detalhe a mais, no indicativo que concerne a uma maior autenticidade; o que confere ao perfilhar fímico, uma instigação de reflexão a respeito das antinomias sociais que constantemente nos circundam.... O cinema utilizado com primor, ao ser volvido como exímia crítica sócio-política... O que ratifica ainda mais de quando se trata de um magnânimo exemplar do Neorrealismo italiano; enfim, De Sica não decepciona.... mais um filme impecável e arrebatador, um verdadeiro Clássico; viva o Cinema Italiano!!
O Idiota
4.2 31 Assista Agora"Neste mundo, a bondade é tida como sinônimo de idiotice [...] Sabem, eu não compreendo como se pode passar ao lado de uma árvore e não ficar feliz por vê-la! Conversar com uma pessoa e não se sentir feliz por amá-la! Oh, eu apenas não sei exprimir... Olhem para uma criança, olhem para a alvorada de Deus, olhem para a relva do jeito que cresce, olhem para os olhos que os olham e os amam..." (O Idiota, Dostoiévski)
Assim como Kurosawa, também sou um arrebatado admirador da obra Dostoiévskiana; e compartilho da sua visão quando fala: "Existe algo de sobre-humano nessa bondade que impregna o olhar de Dostoiévski quando ele perscruta os sofrimentos humanos mais terríveis. Nenhum outro romancista descreveu o homem com tanta honestidade, profundidade e empatia. Ele analisa o comportamento do homem em estado puro, às voltas com uma situação que chega ao auge; por isso é que seus personagens são tão extraordinários." (Kurosawa em entrevista, 1951).
Depois dessas duas citações, não tem como não ficar embevecido com a tamanha precisão de Kurosawa ao adaptar essa obra-prima de Dostoiévski para o cinema.... Destaco as longas sequências de cenas que nos encantam com os planos curtos em que se desenrolam as cirurgias feitas à bisturi por Kurosawa, no que tange à analítica da complexidade humana; a esplêndida fotografia em preto-e-branco; bem como a paisagem de neve revelam ser aspectos fulgurantes na criação de um clima belamente álgido, que representa justamente a realização com maestria de uma sequência fílmica que nos descortina o reflexo do layout metafórico da frugalidade espiritual e do retraimento do emblemático protagonista... O que nos atesta que no nosso mundo parece ser inaceitável ser tão bondoso; e é aí que Kurosawa nos borrifa a reflexão no que concerne à falência da humanidade... Uma obra lacrimejante, e que ratifica alguns motivos de como Kurosawa veio a se tornar um dos cineastas mais importantes e influentes da história do Cinema.
Lick The Star
3.2 41 Assista Agora"Tudo muda. Nada muda. A mesa gira... E a vida continua."
Sofia Coppola e sua tão singular abordagem minuciosa que bosqueja os recônditos mais intrínsecos da feminilidade.... Nesse primeiro curta-metragem dela, já se reluzem alguns dos seus principais pontos interpelados por toda sua obra cinematográfica; a fotografia aqui em preto-e-branco assume um sumo papel de abalroar as personagens num ígneo misto de emoções e reações comuns na adolescência e toda a sua dissonante e apaixonante complexidade.... A trilha sonora sempre impecável e nostálgica em seus filmes, não faz diferente aqui em seu debut; nesse quesito, podemos apalpar em cada cena, rememorações posteriores que vão fagulhar de forma resplandecente em seu outro excelente filme, e um dos meus favoritos, na sua primorosa filmografia.... que é 'As Virgens Suicidas', lançado em 1999. As questões que fagulham em seus filmes, giram em torno, ao meu ponto de vista, numa auréola mais estética do que narrativa... não que essa não se sobressaia, mas o paroxismo estético é sempre algo sui generis em cada exemplar fílmico que ela divulga... Isso me faz adorar cada obra sua, pois cada plano e cada cor exulta venustidade e graça magistral.... Enfim, Sofia merece nosso olhar atinado de cinéfilos, pois assim como seu pai, também engrandece o Cinema com seu conspícuo olhar, ao mesmo tempo, singelo e eufônico que tanto nos encanta.
Houve uma Vez um Verão
4.0 124" A vida é feita de pequenas idas e vindas. E para cada coisa que levamos, há outra coisa que deixamos para trás..."
Assim que soube ontem da morte do emblemático compositor francês, Michel Legrand.... Ele que já ganhou Oscar por suas feéricas trilhas sonoras, bem como marcou o período da Nouvelle Vague; gravando mais de 100 álbuns de gêneros como jazz e música clássica.... Não tenho como não rememorar essa Obra-Prima incontestável, que é o filme "Houve uma Vez um Verão" de 1971. Certamente quem o assiste ou quem já assistiu, fica com ele na memória implantado de maneira permanente; pois, cada cena nos leva a uma nectária nostalgia que todos nós já vivenciamos um dia... É uma pérola fílmica belíssima, cada perfilhar de cenas nos desvela uma visceral sensibilidade; onde tem-se a evidenciação das reminiscências e descobertas envoltas tanto na esfera do sentimento e do pensamento, que são decantadas pelo diretor, numa espécie de precípua delicadeza que nos deixa, no mínimo, enlevados por tal encantamento e emotividade. Não canso de assistir.... sem contar, a trilha sonora conduzida magistralmente pelo ganhador do Oscar, o agora eterno e sempre genial - Michel Legrand.
Esse é um dos filmes que ainda nos prova que pode e deve haver sentimentalidade no imaginário e nas vivências juvenis no que se refere ao desadormecer para o amor... Um filme não menos que, marcante e inesquecível; esse é daqueles para gente com certeza presentear quem ama Cinema!!
Jane Eyre
3.8 35 Assista Agora" [...] Dinheiro e posição pareciam tudo o que importava... "
É de ficar maravilhado, poder conferir esse grande clássico pertencente à luzidia tradição literária anglo-saxônica; cujo título 'Jane Eyre' nos faz rememorar as produções de conspícuo prestígio que caracterizaram os clássicos do cinema hollywoodiano, principalmente os produzidos pela FOX; que destila refino e elegância em cada produção fílmica.... Me marcou nesse filme, a sua singela estilística e as magistrais atuações; no que concerne ao enlevado preto-e-branco, que aparece-nos visceralmente dissonante e belamente contrastado... bem como as névoas e as sombras incomensuráveis que fornecem o contorno tão bem lapidado dos cenários espessos e agoniantes; o romance gótico também desponta aqui como um luminoso pano de fundo, que atesta as interpretações ao estilo expressionista dos atores.... cuja direção reforça o aspecto sedutor e intimidativo das situações. A fotografia é belíssima; são daqueles filmes, que sem dúvida, captam de maneira eficaz a essência da obra pela qual são inspirados; neste caso, o romance de Charlotte Brontë. Outro destaque, é ver a Elizabeth Taylor em tenra idade, já despertando o seu talento de atriz luzidia que sempre foi... Enfim, vale muito a pena conferir essa obra que encapsula de maneira brilhante, a formulação de filme-literário... Lindíssima versão.
Viridiana
4.2 141"Não vai lhe acontecer nada, senhorita. Aqui somos todos gente de bem...."
É um filme que incomoda por tocar em questões que dizem respeito a todo e qualquer ser humano. Buñuel é, indubitavelmente, um dos meus cineastas favoritos... Verdadeiro ínsito desconstrutor, um Jacques Derrida da sétima arte. Me faz lembrar William Blake, que tão bem expôs questionamentos a respeito do 'sagrado' e do 'profano'; na marcante e indelével obra "O Casamento entre o Céu e o Inferno".
Uma das obras-primas do Mestre Buñuel; são daqueles filmes que valem apreciar cada frame; este, que foi inicialmente proibido na Espanha e completamente execrado pelo Vaticano, demonstra um Buñuel ainda mais cirúrgico em suas geniais críticas com relação à hipocrisia santuária e fulgurante tartufismo que regem as relações sociais.... Esta obra que foi premiada com a Palma de Ouro em Cannes, descortina e nos presenteia com um roteiro impecável, no que concerne à luzidia habilidade de Buñuel em nos conduzir por essas obscuras e sinuosas ambiências que delineiam os desvarios insânios da natureza humana, retratada através da sua perspectiva surrealista, amplificada por um primoroso prisma neo-realista do dissimulado cotidiano social. Ele nos expõe à bisturi a mais lapidada exposição da comédia que costuma reger a vida que não presume a estremadura da coibição punitiva... Vale destacar uma das mais marcantes e antológicas cenas do cinema, a "Santa Ceia" representada aqui, por mendigos; e perfilhada por irretocável senso de enquadramento e ângulos que só Buñuel era capaz de nos evidenciar... Filmaço que nos faz refletir sobre o medular existencialismo e os desvarios do incongruente maniqueísmo moral; imperdível para qualquer cinéfilo e aficionado por Cinema, com C maiúsculo .
Europa
4.0 117 Assista AgoraMinistério da Cinefilia adverte: Quem morrer sem assistir as obras do Lars Von Trier, morrerá duas vezes.....
" [...] Você quer acordar para se libertar da imagem de Europa. Mas isso não é possível. "
Que filme mais estupendo, a fotografia em que se destila cada frame é algo inefável; Trier, mais uma vez genial, nesse que é um dos meus filmes prediletos dele; denominado 'Europa' traz uma sacada inédita e esplendorosa, ao fazer alternâncias das cenas com cor e em preto&branco para borrifar uma fulgurante metáfora cênico-sinestésica com relação à enlevação de sentimentos e emoções que afloram e circundam cada vez mais os personagens principais e a angustiante ambiência em que se desenrola essa obra fílmica; mais precisamente, a Alemanha do pós-guerra e a questão da sua política coibitiva; o enredo é brilhantemente original, isso devido também à narrativa hipnótica em off, bastante engenhosa, que se constitui como consciência do protagonista.... Trier nos leva a fazer uma incursão para dentro de nós mesmos, onde se sincretizam as amofinações provocadas pela guerra, bem como acentua-se o intermúndio experienciado de se notar aferrolhado num mundo que não é o nosso.... Nos fazendo refletir até que ponto uma sociedade edificada na coerção sentenciadora, pode levar à insensatez de indivíduos idealistas; Lars sempre primoroso e faz enxergar que àqueles que possuem refinada predileção pelo Cinema, não podem deixar de conferir sua filmografia.... em especial, esse que conferi, 'Europa' de 1991; que com certeza nos brinda com uma experiência cinematográfica singular.
A Verdade
4.2 28"Ela parece ter asas; ele, raízes [...] Eles se amaram, mas cada um amou em um tempo diferente."
"Dominique está aqui para negar toda essa hipocrisia....."
Que filme mais estupendo, o cineasta francês Clouzot não nos desaponta; entre tantos dos seus clássicos, dentre eles: 'As Diabólicas' [1955], 'O Salário do Medo' [1953].... me deparo de forma bastante radiante, com essa obra irretocável: 'A Verdade' de 1960. Aqui, atesta-se e quem o assiste com a devida atenção cinéfila, percebe o quão esta é a melhor, senão uma das melhores performances da esplendorosa Brigitte Bardot com sua portentosa beleza e luzidio talento dramático.... A emancipação feminina aqui, é discutida exemplarmente; desgarrada de toda hipocrisia que delineia a instituição moralista e os denominados 'bons costumes'. A consistência do roteiro, demonstrando à procura por uma Verdade estilhaçada em fabulosos flashbacks, ao longo de todo o filme nos brinda com cenas e atuações inolvidáveis. A fotografia nos deixa embevecidos com suas tonalidades cinzentas, principalmente nas cenas do tribunal; onde se edifica toda desconstrução a respeito de um preconceito totalmente conservador e retrógrado... Isso se torna tão atual, já que ainda, infelizmente enxergamos a 'crucificação' de certas mulheres que são vistas fora desses moldes anacrônicos da mendaz sociedade; indiscutivelmente, um verdadeiro clássico do cinema francês, e sobretudo, locupleta a sublimidade do Cinema mundial.... Clouzot, você é o Cara!!
Noites Brancas
4.1 61" [....] Que seja claro o seu céu, que seja luminoso e sereno o seu lindo sorriso; abençoada seja você pelo momento de júbilo e felicidade que concedeu a um coração solitário e agradecido!
Meu Deus! Um momento inteiro de júbilo! Não será isto o bastante para uma vida inteira? " (p. 82)
DOSTOIÉVSKI, F. in "Noites Brancas" - Ed. 34
Adaptação Viscontiana de surpreendente beleza; com certeza Dostoiévski ficaria bestificado por tamanha venustidade.... O livro, que é um dos meus favoritos, é aqui apresentado e ambientado numa belíssima atmosfera onírica, com astuciosos borrifos devaneantes e cenas que contém uma poesia inenarrável. A maestria do alumiante diretor italiano Visconti, cineasta que está no meu rol de prediletos, é algo surreal nesse, que é uma das suas obras-primas em sua vasta e preciosa filmografia.... Os protagonistas nos brindam com atuações bem luminosas, assim como a transmissão das emoções são fulguradas por um destacável perfilhar de cintilante arrebatamento; mais uma vez, o aspecto da fotografia se sobressai, justamente pela encolerização de um dissonante preto-e-branco memorável.... Venero a obra escrita, e adorei essa insigne adaptação desse gênio italiano; sem dúvidas, uma grande obra fílmica; afinal, não é tarefa nada fácil transpor as reflexões cirúrgicas do Dostô para a imagética da Sétima Arte; viva o Cinema Italiano, e viva mais ainda ao Cinema mundial que nos faz com seus ótimos filmes, ter uma vida melhor e mais suportável!!
O Boulevard do Crime
4.4 59 Assista Agora" [...] Paris est tout petit pour ceux qui s'aiment d'un aussi grand amour [...]
" Você estava certo Garance, é tão simples o amor ..."
Agora pude constatar o porque que 'O Boulevard do Crime' se mantém como sendo um dos maiores filmes franceses de todos os tempos.... A manifestação belíssima e conspícua, do que se denomina 'realismo poético' ou 'romantismo pessimista', é retratada por uma magia cinematográfica inenarrável; é importante destacar que o filme foi realizado e lançado numa França assombrada pela vil ambiência bélica, sob ocupação nazista.... nesse sentido, já pode-se fulgurar o valor dessa Obra-Prima para a história da Sétima Arte... constitui-se praticamente num louvável ato homérico e heroico. Cada exsudação cênica, faz alambicar na tela os detalhes vívidos e cenários talhados à bisturi, envoltos por momentos de inolvidável emoção; tudo isso, devido ao roteiro impecável de Jacques Prévert e a direção circunspecta do perfeccionista Marcel Carné. Uma brilhante reflexão nos é destilada, entre às quais, podemos destacar: as ponderações acerca das diversas camadas que se debruçam sobre a natureza da pantomima, inventividade e da própria representação. Cada diálogo se sobressai, bem como cada ação é exibida de maneira primorosa.... As três horas de filme transcorrem de maneira tão fluída e envolvente, que nem notamos o seu esvoaçamento; ao contrário, cada minuto aqui é uma verdadeira reverência ao teatro, como sendo a maior arte popular do século XIX; bem como o próprio Cinema foi no século XX.... tudo isso brindado com memoráveis atuações, cuja graciosidade e fervor nos descortina com uma prestigiosa sensação disseminante de brevidade, a apolínea profusão da melancolia; à qual se localiza por trás de todo o requinte poético!!
Very Nice, Very Nice
4.1 5" [...] What's the meaning of life? Bravo! Very nice, very nice!
[ /// Qual é o sentido da vida? Bravo! Muito legal, muito legal... "
Já estava há algum tempo querendo conferir esse tão aclamado curta-metragem e fiquei bem aturdido com a formidável genialidade do diretor Lipsett; uma rebuscada fusão de aspectos imagético-sonoros, nos fazem ficar maravilhados pelo deslinde de fotografias contingenciais, bem como multíscios estilhaços de discursos oniscientes.... e o constante vozear que nos exclama: "Very nice, very nice"; é importante fazer uma ressalva de que esse belíssimo filme experimental, ganhou um Oscar e logrou reconhecimento internacional; agora assimilo, o porque de ser um dos prediletos de Stanley Kubrick, diretor que cultuo tenazmente. Esse filme, desnuda de maneira inclemente, os arquejos e as incongruências da vida.... Justamente pela refulgente aposição de efígies, sonância e temas musicais.
Cléo das 5 às 7
4.2 200 Assista Agora" Uma obra prima fantástica que inspirou Legrand, Jean-Luc Godard e Anna Karina....."
" [...] "Você sempre tem uma resposta. É engraçado, sempre tenho perguntas."
Que obra fílmica mais fantástica, verdadeira ode pulquérrima a respeito da contemplação imagético-poética que envolvem as ambiências e os pequenos grandes detalhes anfêmeros do cotidiano.... A magnífica diretora francesa Agnès Varda, apreende como ninguém, a envolvente atmosfera de Paris no contexto dos anos 60. A trilha sonora de Michel Legrand mais uma vez deixa qualquer um embevecido pela sinfonia etérea das imagens feéricas que são destiladas à bisturi por Varda, esta que foi uma verdadeira e excepcional precursora da 'new wave' francesa no Cinema.... O movimento sinuoso da câmera nos faz mergulhar por entre as belezas singelas que geralmente nos fogem ao olhar do dia-a-dia; um dos motivos que atestam que esse é, definitivamente, um dos filmes mais 'cool' de todos os tempos e merece abrolhar sempre com louvor nas listas de melhores obras da história do Cinema... A encantadora transição que faz com que Cléo passe a "ver", ao invés de somente "olhar" é algo, no mínimo, lancinante para quem compreende a melíflua perspectiva metafórica que ambienta as situações que a envolvem em sua jornada na cruciante efervescência urbana.... Filme estupendo que nos faz ter uma marcante experiência imersiva, fator este, devido muito pela fotografia arrebatadora e convidativa; bem como nos faz enxergar o porque de ser considerado um dos mais importantes da 'Nouvelle Vague'; é Edificante e Inspirador, no veraz sentido polissêmico dessas palavras. Certa vez escutei que o primeiro Varda a gente nunca esquece.....
Só acho que deveria ter um versão estendida para todos àqueles que apreciam Cinema, com letra Maiúscula!!!
A Carruagem Fantasma
4.3 117''[...] Deus, deixe que minha alma amadureça antes de recolhê-la [...] Não tenho poder algum sobre os vivos.''
Esse é Clássico com 'c' maiúsculo mesmo; verdadeira experiência cinematográfica singular.... imperdível para qualquer Cinéfilo; tem-se aqui a gênese veraz da Sétima Arte com a sua conspícua altivez, ratificando já no começo do século da sua criação, a sua predisposição ontológica. Obra fílmica belíssima, super emocionante e ainda nos lega uma mensagem sublime a respeito do cerne que consuma as relações humanas.... O poder do cinema aqui evoca aos píncaros a magia cinemática; sobretudo, destacam-se o perfilhar de sequências locupletadas por uma lapidar trilha sonora; o pináculo enternecedor confere a essa película, o seu status de atemporal e que depois de 100 anos após o seu lançamento, ainda nos marca de maneira indelével e imperecível... destaque para essa versão restaurada, ficou um fidedigno deleite para os amantes do Cinema.
Senso de direção audaz do sueco Sjöström, enquadramentos dentro de diretrizes formidáveis, famanaz em cada detalhe; dos quais em seu conjunto nos lega uma verdadeira obra acrônica - isto é - M O D E L A R!!!
O Espião que Veio do Frio
3.7 22" [...] Reservo o direito de ser ignorante. Esse é o estilo de vida ocidental... O que acha que são os espiões? Filósofos moralistas que medem o que fazem contra a palavra de Deus ou de Karl Marx? Não, não são isso. São apenas um punhado de sórdidos e miseráveis bastardos como eu. Homenzinhos, bêbados, maricas, maridos molengas, funcionários jogando vaqueiros e índios para iluminar suas pequenas vidas. Acha que se sentem como monges pensando no bem e no mal? [...] O que é o seu partido? Tem milhões de cadáveres no seu caminho".
Que obra fílmica mais estonteante; uma das coisas que mais se sobressaem é a questão da montagem e da fotografia vertiginosa auscultadas por tamanha frugalidade; ao destilar de cada cena, tem-se a edição límpida e ao mesmo tempo pungentemente sóbria.... a trama entrançada nos faz imergir numa prestigiosa estilística envolta por magnético voyeurismo, na qual a formosa direção de arte ressaltada pelo aspecto imagético em preto&branco não faz destoar do clima peremptório que caracteriza a maioria dos filmes desse gênero de espionagem; sendo este filme ratificado como um dos mais, senão, o mais significativo representante já realizado. Vale destacar que Richard Burton afigura impecavelmente como protagonista da conjuração numa atuação soberba... O realismo inclemente é o argumento tônico que rege essa obra-prima, que sim, merece e muitíssimo ser mais conhecida pelos cinéfilos em vigília!!
A Chinesa
3.9 135"Um filme em [des]construção."
"[...] A arte não reproduz o visível; ela torna visível [...] porque o teatro e o cinema tem um preço enquanto que o exército é gratuito. Deveria ser o oposto. Os espetáculos deveriam ser gratuitos e aqueles que quisessem guerrear deveriam ter de pagar caro por isso [...] Não é o silêncio que me incomoda, mas sim, o som e a fúria."
Esse filme, decerto, é daqueles que entram em nosso rol de inolvidáveis; pautado por uma inigualável estética, onde Godard com a maestria costumeira que caracteriza as suas sui generis obras fílmicas, nos desvela um universo de angústia e reivindicações por parte da juventude que vai ser protagonista do Maio de 68; os altivos diálogos tracejados por distinta inteligência agem como um fator a mais nesse belo filme.... O uso das cores também foi outro aspecto que me saltou aos olhos, trazendo à luz uma metafórica ascendência dos sentimentos de inquietação juvenil. Vale mencionar que essa película não é menos atual, pois com essa era sombria que nos circunda, ele nos traz argumentos bastante engenhosos e provocativos. Mais uma vez, a Fotografia é um show à parte, a montagem não-convencional bem ao estilo idiossincrático godardiano também se apresenta como aspecto suntuoso em sua eminente filmografia. Sua ímpar estilística cênica/enredo, é uma das coisas que mais me fascinam; e com certeza locupleta a fascinante história da Sétima Arte... Godard sendo Godard, não é mesmo?!
Estado de Sítio
4.3 39Um primoroso filme para apreender o nosso lúgubre período histórico passado e o de nossa contemporaneidade não menos assombreada!!
" [...] Com efeito lhes permite, e permite a um governo estrangeiro, controlar todo o país, conhecer seus recursos, suas riquezas [...] Diz que defende a liberdade e a democracia, mas seus métodos são a guerra, o ódio, o fascismo e a tortura. [...] - Deus é americano e golpista?! "
Que obra fílmica mais intensa e, certamente, imprescindível para compreender nossos tempos sinuosos atuais..... Costa-Gavras é daqueles diretores que possuem uma filmografia pujante e veemente no que concerne ao Cinema de Reflexão/Denúncia Político-Social; a falta de promoção da verdade que anda circundando nosso Brasil, nos faz remeter com essa obra-prima do Cinema mundial, a seguinte assertiva atemporal de Brecht: "Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?!". A contundente denúncia que é feita por Gavras às forças conservadores corruptas se sobressai no enfático aspecto de thriller político e engajado.... O nascimento das estruturas de poder, bem como a gênese e conservação das ditaduras latino-americanas caracterizadas por seus métodos nefastos e cruéis para "manter a ordem e o progresso", são enfoques desvelados com maestria pelo insigne diretor grego; um verdadeiro retrato documental de incriminação aos crimes atrozes cometidos e que, infelizmente, ainda são praticados em despotismos velados não só no Brasil, como em todo o mundo hodierno.... Filme recomendadíssimo para àqueles que objetivam radiografar como se originam as autocracias na América Latina, bem como às ideologias daqueles que a combatiam e ainda combatem, hoje, as outras formas encobertas de tiranias cotidianas.
I-M-P-E-C-Á-V-E-L, um dos melhores do Costa-Gavras junto com "Z" de 1969 que vale também muitíssimo a pena conferir.
Trens Estreitamente Vigiados
4.0 42"Engenhoso e divertido, um verdadeiro clássico do Cinema tcheco...."
Que obra fílmica mais estupenda; produção clássica advinda do Cinema agora da extinta Checoslováquia.... A Fotografia é algo repleto de singela airosidade, indispensável para àqueles cinéfilos que apreciam as análises cênicas acerca da levidão que permeia questões como, o amor, as inseguranças, o sexo e a própria perspectiva bélica que se faz ascendente como pano de fundo nessa belíssima película. A linguagem em que se destilam as cenas, são caracterizadas por sequencias, no mínimo, paulatinamente oníricas... O roteiro simples e direto, faz com que percebamos o frescor da vida em seus detalhes mais anfêmeros; um dos fatores que, com certeza, fazem com que esse filme não envelheça... ratifica-se aqui o seu lugar de altivo destaque no rol dos filmes que marcam o Cinema mundial.. Experiência cinematográfica mais que necessária para todos àqueles que apreciam, como eu, a quintessência da Sétima Arte; enfatizando que tudo isso, o pontilhismo da juventude e suas inquietações, bosquejam pela tela, como se estivesse justamente, como um trem seguindo os seus trilhos na estrada das nossas oblíquas existências....
Os Amores de uma Loira
3.8 34 Assista Agora" Ociosa juventude,
De tudo pervertida.
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora !" ///// . - Rimbaud -
Ainda sobre o Cinema Checoslováquo, não poderia deixar de mencionar o visionário diretor Miloš Forman; com esse que é uma das suas fulgurantes obras, intitulada: 'Os Amores de uma Loira'; agora, compreendo porque é considerado um dos grandes filmes dos anos 60.... já é primigênio, em seu escopo de pôr em vivacidade diálogos repletos de improvisações e técnicas cinematográficas num viés documental; tudo isso pautado por um ritmo cênico não menos fruitivo, caracterizado por um olhar singular bastante inteligente e delicado a respeito do desadormecer vivencial... Forman é cirúrgico ao retratar clinicamente o prestigioso descortinamento da passagem de uma fase adolescida existencial.... a contemplação de detalhes que para uns podem parecer banais, para Miloš se destacam altivamente e fazem desse filme único em seu quesito de arriscar em planos/passagens fílmicas que atestam a sua prolífica e sensível efetividade. Os nossos dramas e frustrações cotidianas se deslavam aqui como apanágios do seu resoluto trunfo.... Em síntese, uma obra para reverenciar com a singeleza e o deleite que merece!!!
Tristana, Uma Paixão Mórbida
3.8 60Uma das obras-primas do Buñuel..... como sempre, cirúrgico em sua crítica cítrica à burguesia, às repressões sociais [franquismo] e claro, à perfídia da dissimulação episcopal.... Sem contar, a Deneuve, que está um deslumbre magnânimo em sua atuação marcante... Que diretor fantástico, isso é Cinema com 'C' hercúleo!!!
Amigas de Colégio
3.4 216" As maiores vitórias das nossas vidas podem ser celebradas num brinde de Toddynho......"
Filme marcante, suas cenas deslindam borrifadas de melíflua fluidez nesse enredo singelo e simultaneamente lindo.... Adorei a atmosfera que fora criada pelo diretor sueco nas ambiências que envolvem as cativantes protagonistas; a sinceridade com que é tratado tema tão envolvente e, ao mesmo tempo delicado, se demonstra na fulgurante mescla do Cinema de Arte com a própria estilística fílmica criada pelo singular movimento correspondente ao Dogma 95; para ir mais além, tem-se a alternativa estética naturalista, que nos faz rememorar os vídeo-clipes da MTV; pois nota-se a fotografia, que é outro aspecto que reluz no que concerne ao desprovimento de alumiação artificiosa....
A casualidade das interpretações é algo bem apreciativo de se conferir com mais parcimônia.... A originalidade está aí: no formidável amálgama que fez-se no destilar das cenas e em como se trabalhou na simplicidade o estilo Dogma 95 com o retrato da Geração Music Television com um desfecho memorável....
Vidas Sem Rumo
3.8 259Um dos meus poemas favoritos, escrito em 1923... ainda nos revela seu augúrio hodierno e sintetiza de maneira etérea a beleza melancólica de uma das obras-primas do Coppola 'The Outsiders' ou 'Vidas sem Rumo' de 1983 :
O primeiro verde da natureza é dourado,
Para ela, o tom mais difícil de fixar.
Sua primeira folha é uma flor,
Mas só durante uma hora.
Depois folha se rende a folha.
Assim o Paraíso afundou na dor,
Assim a aurora se transforma em dia.
Nada que é dourado fica.