Simplesmente a melhor experiência cinematográfica que já tive. Cinema calado (não ousei abrir um Doritos para não interromper ninguém), pessoas aos prantos e o melhor: Máximo respeito pelo artista homenageado. Recomendo IMAX, não se arrependerão.
Um filme que me surpreendeu pela ousadia, qualidade e pelo TERROR. Aviso prévio: Se você quiser sofrer jumpscares baratos de um cinema preguiçoso, não veja o filme. Sou muito, mas muito chato com a qualidade dos filmes de terror que pecam pela história, excesso de violência gratuita e superficialidade das personagens, algo que não ocorre nessa longa.
Temos aqui um retrato de uma família aparentemente comum: Pai cético, mãe neurótico, filho distante e filha estranha. Pela primeira metade do filme vemos os acontecimentos com um ponto de vista mesclado entre Charlie (filha) e Steve (pai), que pintam os quadros com ceticismo e incompreensão. Entretanto, mais a frente adotamos o ponto de vista de Annie (mãe) e Peter (filho), onde a insanidade e as dúvidas quanto a natureza de sua realidade são postos à prova.
O filme tende a nos fazer questionar a real essência do terror: Seria tudo fruto de doenças mentais? Fanatismo religioso? Trabalho demoníaco? Tudo isso e mais um pouco?
As cenas são carregadas de simbolismos que necessitam de conhecimento prévio para serem completamente compreendidas (leitores do Grimório que o digam), o que por si só já é indício de um cinema um pouco mais exigente com seu telespectador. A violência e a crueza beiram entre explícito e o implícito, carregando ainda mais o filme de tensão e ansiedade, deixando-nos nas mãos dos atores que carregam seus dramas e medos de forma visceral, crível e angustiante. (A cena de Peter e Charlie no carro após o acidente me deixou boquiaberto, senti o peso do medo e da abrupta situação que o rapaz se inseriu).
O enredo a todo momento nos dá indícios do que estaria a acontecer: Charlie decapitando um pombo (sua trágica morte), construindo bonecos (como o ídolo na casa, que por sinal, tinha a sua cabeça), os sonhos envolvendo o fogo (morte de Steve), o Grimório (Paimon sendo invocado pelo culto satânico).
Além de tudo isso, o filme ainda brinca com algumas referências interessantes que podem ter sido propositais: Charles (cujo nome Charlie é uma variação) foi um rei inglês que morreu decapitado, assim como Pedro (Peter) foi, segundo a história, crucificado de ponta a cabeça, ou seja, em uma cruz oposta à que vemos, geralmente usada para sinalizar cultos satânicos. A presença das moscas me remete a Belzebu, o senhor das moscas, outro demônio de maior grau assim como Paimon, assim como a cena final é uma referência ao nascimento de Cristo na manjedoura.
Por fim, vi o filme no cinema na data de hoje e não perdi o interesse no mesmo em nenhum momento. Os instantes mais tensos me deixaram grudados na poltrona e com aquela sensação de desconforto que não sentia desde "A Bruxa".
Uma pequena surpresa responsável por reacender meu desejo pelo terror psicológico no cinema. A fotografia bela, a trilha sonora que assim como o roteiro te causa inquietação e incômodo casam perfeitamente com as interpretações dos atores, todas excelentes.
O filme é lentamente construído em cima de relações que, apesar de não serem ruins (à primeira vista) são no mínimo estranhas e perturbadoras. Quando a amizade entre o jovem que perdera o pai e o cirurgião responsável por isso (apesar de haver toda uma séria discussão entre quem seria de fato o responsável) revela sua verdadeira faceta, todo o tom de esquisitice incômoda do filme toma tons mais escuros. Assim como Agamenon fora cobrado pela deusa a sacrificar uma de suas três filhas para possibilitar uma demanda contra Troia, o estimado cirurgião deve sacrificar um de seus filhos para parar uma espécie de maldição que assola sua família. Entretanto, agora é o pobre mortal que demanda o sacrifio para o deus entre os homens, aquele que brinca com a vida e a morte foi pego em uma troça de mal gosto. O embate entre o científico vs sobrenatural toma conta e somos postos na mesma situação que o patriarca, sem nenhum controle de seu destino, com sua crença e razão questionadas e uma decisão a ser tomada. A frieza com que todos lidam é perturbadora. A mãe instiga o marido a matar um dos filhos porque eles ainda poderiam ter outro caso quisessem enquanto os irmãos disputam a atenção dos pais afim de ganharem o seu favor no momento da escolha. Diferente de Agamenon, que encotrou um cervo para substituir a filha durante o sacrifício, o pai dessa trama teve que fazer do filho sua peça a ser sacrificada.
Um longa que discute desde a responsabilidade médica até a lei de balanceamento do universo "eu perdi alguém, você também deve perder, só assim o universo estará balanceado novamente". Fora dos moldes tradicionais do cinema e uma boa surpresa pra aqueles que como eu estão decepcionados com os filmes do gênero.
Que filme maravilhoso! Isso me faz lembrar que cinema não é apenas uma indústria, mas um palco para a visualização da alma humana, é arte! Além das atuações maravilhosas, da trilha sonora, fotografia e todos outros termos técnicos que não deixam a desejar, temos aqui um filme com uma mensagem. Não li nenhuma crítica ou entrevista do criador dessa obra poética para tirar minhas conclusões, mas sinto a necessidade de expô-las de acordo com o eco que o filme emitiu em mim.
No início temos o Poeta, uma alusão ao Deus bíblico, habitando em sua morada ao lado de sua esposa, sua Inspiração Divina. Apesar de haver amor entre ambos, o Criador deve criar, é o que ele é e faz (como ele mesmo afirma em um dado momento do filme).
Então surge o primeiro visitante, que nada mais é do que a representação de Adão. Que habita com "Deus" e sua "Inspiração" na sua casa como se fosse parte da família. É nítido que não fazia bem para o visitante estar ali sozinho, então do nada (ou quase do nada, porque na cena em que o "Adão" está vomitando vemos um machucado na região da sua costela), surge sua esposa, uma alusão à Eva. É interessante ver que "Eva" se interessa pela jóia guardada na sala do Poeta, assim como "Adão", mas é ela quem insiste de maneira irritante a ver e pegar a mesma.
A Jóia é a representação do amor, da ligação e inspiração para recomeçar tudo outra vez, mas também uma alusão ao fruto proibido. Quando "Adão" mostra a "Eva" o "fruto" (um pouco diferente aqui da história original), ele se quebra, assim como aquela pacífica ligação que havia entre os moradores da casa (ainda que estranha). "Deus" os expulsa daquela sala e a sela para sempre, assim como aconteceu no jardim do Éden.
Depois, mais uma vez do quase nada, surgem os dois filhos do casal (após a cena de sexo de "Adão" e "Eva"). Uma nítida alusão à Caim e Abel, tendo até o mesmo desfecho da história narrada na Bíblia. É legal ver que o sangue de "Abel" vai para debaixo da terra (casa), assim como descrito na bíblia e mostra para a "Inspiração" uma sala secreta, onde havia o combustível da "Ira", pois o sangue de "Abel" clamava por justiça (como está nas passagens das Escrituras).
Depois da cena de "Deus" confortando o primeiro casal e pessoas de diversas aparências e lugares. Temos aquela degradação da casa, que começa a se ferir com a atitude dos convidados e a negligência para com a voz da "Inspiração e Amor" divina. Talvez haja aí um paralelo para quando o pecado entrou no mundo e os homens se distanciaram de Deus, transformando a terra (casa) e a degradando (como mostra o coração da casa tornando-se mais seco). P.S: A cena da pia quebrando e inundando tudo deixando a casa vazia depois é uma clara referência ao dilúvio.
"Deus" se une à sua "Inspiração" e dela surge o filho, junto com uma nova história. A história se alastra pelo mundo e todos vão vê-la, sendo uns marcados pelo Poeta, outros começaram a tomar suas fotos e fazerem ídolos com ele (como os falsos religiosos, vemos aí o joio e o trigo). A "Terra" (casa) é degradada enquanto "Deus" parece estar distante de sua "Inspiração", que sofre das dores do parto. (É também uma grande metáfora para o Apocalipse bíblico)
O bebê nasce e, óbviamente, representa Jesus. Diante de toda aquela multidão de pessoas, apenas alguns os presenteiam (como são poucos os justos/justificados em detrimemento aos injustos, como diz as Escrituras). O percurso de "Jesus" termina com a sua morte e com os povos se alimentando de sua carne e sangue (como na Ceia é descrito, apesar de mal interpretado por algumas vertentes do cristianismo). A "Inspiração e Amor" (que nessa altura vemos que nada mais é do que o outro lado da moeda do próprio Poeta) pune os que resistiram em lhe entregar seu filho, assim como a ira de Deus o faz. Vemos que "Deus" a todo instante alega que eles estavam arrependidos e que deveriam ser perdoados.
Apesar do Aronofsky tratar a ideia de destruir e amar como um dilema divino (o que é particular, não Bíblico), vemos que o mundo se torna cinzas, mas aquele amor ressequido pela degradação das pessoas na casa (Terra) volta a se tornar a bela jóia de antes, em metáfora ao fim de tocas as coisas e o nascer de um novo tempo.
A Jóia que aqui representa o puro amor de "Deus", que restaura e faz nova todas as coisas. Existem coisas que ainda não consegui conceber totalemente, como o porquê de beber a água como o pózinho amarelo? Porque o amarelo é tão importante em todas as cenas?
Espero rever o filme em breve e talvez encontrar as respostas (ou as perguntas certas)
Essa é a minha interpretação do filme, podem haver outras semelhantes ou completamente diferentes, mas é essa distinção de idéias que enriquecem a obra e tornam-a tão singular no meio da onda de filmes triviais que vemos.
Se você é do tipo de pessoa que espera se assustar com sons explosivos e imagens aterrorizantes pulando bem na sua frente, não veja esse filme. O filme é um grande terror psicológico que usa meios ordinários como angulo, som e iluminação (além da atuação) para criar um clima de tensão, que é a palavra que define o longa.
Para mim, o filme se trata de doenças psicológicas. Temos duas personagens principais com relacionamentos fracassados e uma falta de auto confiança tremenda tendo que enfrentar seus demônios internos. Wyatt claramente é um esquisofrênico (eu não sou psicólogo, é apenas a impressão que tive) e seu amigo uma pessoa depressiva. A todo momento Wyatt insiste que acontecerá uma grande batalha entre a humanidade e os seres (dando a entender que eram demônios) que se assemelham aos homens, mas são maus. Eles infectam os bons com a maldade através de contato visual ou pela voz. Tudo uma grande alegoria para a falta de confiança que ele tem nas pessoas, nas coisas ruins que elas podem falar para você ou te mostrar. É engraçado ver que ambos protagonistas precisavam provar pra si mesmos que eles poderiam ir além, que aquela não poderia ser a sua realiade. Um pra firmar a sua lucidez e outro a sua coragem, ambos migram até as fronteiras da razão para mostrar para seu eu interior que não podem ser apenas aquilo que são. Um filme condescendente à situação de quem tem depressão ou qualquer outra doença psicológica onde o maior inimigo não está nas cidades ou na maldade das pessoas, mas na sua própria mente.
Portanto, pra você que gosta de um suspense de qualidade com uma filmografia que exige que você não seja apenas um mero telespectador passivo, assista o filme e descubra que em meio a merda da cinematografia do gênero as vezes pode vir algum ouro junto.
Um filme que me deu uma pequena dorzinha de cabeça para compreender, mas acho que no final das contas eu saquei a ideia dos irmãos Coen, pois se "a matemática é a arte da possibilidade", o cinema é a arte mais precisa do mundo nas mãos de bons cinegrafistas (tudo está ali por um razão). Dispensa comentários as atuações e a fotografia que é bela e não te tira do foco do roteiro/enredo do filme, que é o seu "carro chefe".
Antes de tudo precisamos entender sobre o que se trata a teoria do Gato de Schrödinger (sim, foi necessário um ctrl c+ ctrl v para esse belo nome). Basicamente, a teoria nos diz que duas realidades opostas podem coexistir, entretanto, quando nos prontificamos a conhecê-las, apenas uma pode se assumir como a "real realidade" para nós.
No prólogo do filme temos uma versão peculiar dessa teoria, retratada como um visitante na casa de um casal. O visitante é para o marido da mulher um homem normal, mas para a mesma ele é um espírito (e nós somos os observadores que sabemos que ele pode ser ambas as coisas). No momento que a mulher decide tomar uma atitude ao tirar a prova o esfaqueando, para nossa surpresa, o homem sangra e vai embora, deixando a entender que ele era de fato um humano normal. Mas por que ele não pareceu sofrer com o golpe? Por que ele simplesmente foi embora? Como o segundo rabi responde as perguntas de Larry sobre a metáfora do dentista: "Isso é realmente necessário?"
Toda a vida de Larry era uma rede de coexistências, a caixa fechada do gato de Schrödinger. Ele tinha um bom casamento e não fazia nada de errado, mas sua esposa ainda assim queria o divórcio. Ele era um bom professor e ainda assim era ameaçado de ser processado por não receber suborno. Ele acolhe o seu irmão em sua casa e sua própria família o expulsa de lá. Toda a sua inatividade trazia uma série de contradições a respeito de sua "seriedade", então ele recorre aos rabis, à Deus, a si mesmo e apenas uma coisa fica clara pra ele: Ele não sabe o que está acontecendo.
Larry sempre quis saber o que estava acontecendo e, por não fazer nada sofreu as consequências de sua inatividade, as consequências da falta de atitude (paradoxal, não?). Ao mesmo tempo, ao correr atrás da resolução de seus problemas, fica clara qual era a sua "real realidade". É um grande ciclo onde não fazer nada é observar uma mera caixa e agir te força a trazer uma realidade que talvez não seja a que você esteja esperando (vemos isso no final, onde ele descobre uma provável doença porque decidiu fazer o exame. Não fazer o exame te deixa no estado de doente/saudável).
É engraçado que os irmãos Coen criaram um filme tão carregado de conceitos religiosos e ao mesmo tempo tão niilista. O paralelo esboçado através de Danny sobre como algo (no caso a religião) é tão cheio de significados e, ao mesmo tempo, tão vazio em si mesmo (ele cantava em hebraico numa das tradições mais importantes para um judeu, mas estava drogado e mal sabia ler/escrever/falar a língua na qual cantava).
A obra te põe no lugar de Larry e, consequentemente, de todos os homens, onde a real e simples questão que resume a nossa existência simplesmente não tem resposta: O que está acontecendo?
O filme é maravilhoso. Nunca vi um romance com nuances de sci-fi retratado de uma forma tão singela, delicada e assustadoramente crível. "Never let me go" é para mim um retrato da humanidade, mostrando o seu lado mais cruel (seja em nome do progresso ou do medo) e do poder de amar e ser amado. A fotografia é linda, deslumbrante e consegue sintetizar toda a melancolia, a tristeza sem nome e sem forma que Kathy sente vivendo em um domo, um mundo fechado com cores pastéis e acinzentadas.
A escola, apesar de real dentro do filme, não é nada mais que um grande exemplo das regras que aprendemos a seguir sem saber o porquê, das leis que nos definem antes mesmo de nascermos. O poder instituído por outros homens que controlam os nossos destinos e a nossa vida sem perguntar se nos importamos, queremos ou sofremos com isso. Kathy para muitos pode ter parecido ser uma pessoa fraca, que não luta pelo que quer, mas pra mim ela é uma representação daquele amor vestal e imortal que sentimos por algo/alguém. Um amor que tudo espera e suporta, que é paciente e inocente, incondicional e intensamente sublime. Ruth em contrapartida é aquela que quer ser forte, que quer mostrar as pessoas que é ela quem põe os outros em seu lugar e tem as rédeas de sua vida. Assim como Kathy, ela tem ciência da complexidade de suas situações como "réplicas", mas não consegue aceitar porque é orgulhosa, tem fome de viver a vida que idealizou (é a única "réplica" a dizer que tinha um sonho, logo no início do filme quando ela conta para Kathy que queria ter cinco cavalos). Ela encontra a sua "redenção" porque reconhece seus pecados, sua inveja, sua fragilidade escondida debaixo de toda a carapuça de ímpeto e força. De todos, ela pra mim é a que melhor representa o aspecto "rebelde" do ser humano, o sentimento de lutar pra poder tomar o controle do pouco que pode controlar em sua vida, de querer transcender o destino e seguir seu próprio caminho . Já Tommy é um cordeiro. Um menino afogado em suas emoções, mas debaixo de uma mansidão e curiosidade puras e infantis. Ele não sabe o que está realmente acontecendo ao seu redor, é sempre o que é cuidado, o que sofre por não entender e ainda assim tenta, mesmo que tentar não nada além de uma carta em branco na sua vida. Todos os três são justificáveis, reais e humanos, muito humanos. Criaturas com alma, vida e desejos, mas tratados como peça de reposição por outros homens cujo desejo é mais importante porque sim. O ápice do filme ocorre na cena final. Um grande pôr do sol com pedaços de plástico atados no arame durante uma ventania. Não importa o quanto o vento sopre, aquelas sacolas jamais se soltariam sem se rasgar e prosseguir sozinhas para o além distante, assim como Kathy, Ruth e Tommy.
Sensível, profundo e melancólico, um grande filme que é assustadoramente real em sua abordagem sobre progresso, ciência, e acima de tudo, o amor.
Um filme que deixa com uma sensação semelhante ao desconforto de quando seu tio faz piadas de extremo mal gosto nas reuniões familiares. "É apenas o fim do mundo", para mim, é claustrofóbico, belo de se ver e apesar de dramático (o que não é defeito algum), bastante cru em sua representação de uma família e de pessoas tridimensionais.
O filme momento nenhum te explica porque Louis abandonou a família e só voltou doze anos depois, pois assim como nós não entendemos, a família dele também não. Uma versão oposta da parábola do filho pródigo, quando o retorno é amado mas não é aceito porque é mal compreendido. A dor da irmã que foi privada de ter um irmão que ela teve que passar a construir em sua mente, a dor de um irmão que perdeu o outro sem motivo aparente e desconta tudo em todos em acessos de fúria e uma mãe que, por mais que sofra por não entender o filho, aceita o seu silêncio e suas respostas curtas. As cenas sempre tão focadas no rosto dos atores, quase te impedindo de ver o que está por detrás deles (o que é simbólico ao meu ver, pois somos levados a ter uma pincelada do passado de cada um, mas nada realmente concreto), nos dá aquele desconforto claustrofóbico, como se uma bomba fosse explodir a qualquer instante (o que, de certo modo, aconteceu). O ritmo lento e contemplativo, como o próprio Louis, dita a regra do filme. Ele, assim como aquele pássaro na cena final, estava preso pelas amarras do tempo (seja que passou com a sua família ou longe dela), quando se liberta (a aceitação de sua morte, provavelmente iminente) ele voa, mas não para os céus e sim para as barreiras de seu lar (a família ferida, as memórias felizes tão distantes, o futuro incerto quanto a relação de todos eles) e depois de atrapalhar toda a ordem, cai e morre (Louis parte com o recado de que iria os visitar e desejava ser visitado, mas claramente aquela foi a sua despedida, mas como sempre, ninguém conseguiu compreender). Ao que me parece, apenas a esposa de seu irmão conseguiu entender que aquilo era um "Adeus", mas como ela mesma disse, Louis não devia isso a ela, e sim à sua família.
Triste, dramático, realista e contemplativo.Típico do cinema francês e, por isso, uma obra que vale a pena ser vista.
Não se trata necessariamente de um filme de terror, The Boy te põe numa posição de contemplação e espera, quase na mesma posição que o pequeno Ted encontra com a vida que leva ao lado do pai. O filme tem uma bela fotografia e atuações, os diálogos ainda que escassos são reveladores a cerca da personalidade das personagens. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi como a história se desenvolveu no ritmo bem lento e sem muito suspense, pois os atos tomados por Ted foram atos frios e calculados, logo, não há porque criar um clima de suspense e mistério. A iluminação natural, o silêncio e as poucas personagens reforçam a ideia de isolamento e distância de Ted e seu pai em relação ao mundo.
Ted é um menino que claramente foi afetado pelo abandono da mãe e deseja morar com ela, largar a vida solitária onde a perda é constante e lucrativa tanto para ele, que lucra com animais mortos nas rodovias, quanto para o pai que lucra com a saída de um hóspede para a chegada de outro. No entanto, diferente de muitos filmes de terror, onde o mau é um agente externo ou é implantado na pessoa, vemos em The Boy que o menino já é mau, mesmo que não entenda isso, pois no final das contas suas atitudes foram tomadas ou para alcançar um objetivo maior (que é ir para a Flórida morar com a mãe) ou como diversão (como sua mania de sufocar as pessoas dormindo ou tentar afogar o pequeno hóspede do motel). O que gostei mais é da quebra de visão que o filme carrega, principalmente em ver um pai fraco e ausente (reparem que Ted sempre troca os lençóis do quarto 5 porque seu pai não era capaz, já que esse era o quarto do caminhoneiro com o qual sua mãe fugiu) e de uma criança tão obstinada a ponto de lucrar com a morte e se vingar cruelmente dos atos tomados contra ela. A cena onde ela é espancada é forte, mas não é injusta, afinal de contas Ted estava sufocando friamente uma garota por prazer ou até mesmo curiosidade. A prova da maldade explícita de Ted é que ele escolheu queimar o motel porque sabia do passado de Colby e que ele era procurado pela polícia. Um crime bem pensado e executado, ainda mais para uma criança de 9 anos de idade.
Espero ansioso a sequência da vida do engenhoso e sociopata Ted.
Um filme sobre vingança e escolhas. A fotografia é linda, atuações excelentes e uma trilha sonora de tirar o fôlego, mas o que mais me encantou foi o roteiro tão bem escrito. Vemos Susan, interpretada pela linda e brilhante Amy Adams, como uma mulher que se auto deprecia não por martírio de auto piedade, mas por uma visão crua e realista de si mesma. Não esconde que esconde a decadente situação financeira e nem que se sente culpada diante de tanta fartura e um imenso e inexplicável deserto interior. O mais interessante do filme é que interpretei toda a história criada por seu ex-marido como uma metáfora para a relação dos dois. Ela fora uma analogia para os malfeitores que sequestram a filha e a esposa de Tony, interpretado por Jake, que nada mais era do que um retrato de si mesmo, já que como Susan mesmo afirma, escreve sobre sua própria pessoa. Ela forte, selvagem, impetuosa e decidida, não conseguindo tirar os pés dos chãos e viver uma vida incerta, como a vida de todos aqueles que optam por viver de arte (tanto que ela preferiu o seguimento histórico da arte, não o criativo). Ele um homem sensível, romântico e de certo modo frágil. Enquanto ela tirava dele toda a sua expectativa de um futuro (representado pelos homens que levaram a esposa e a filha de Tony), ela se tornava o que mais odiava, alguém como sua mãe (segundo Ray Marcus, que pra mim é um retrato abstrato de Susan, "Se você me acusa de algo, eu tenho o direito de me tornar aquilo"). Por fim percebe-se que o ex-marido apenas queria se vingar da traição, do futuro roubado e das feridas que ela causou nele. Tony consegue sua vingança, mas morre no caminho. Shannon, que interpreta Bobby, um alter ego para sua força interna que o motiva a fazer o que ele realmente quer, matar Susan em si ou deixá-la ir? No final, é nítido que o ex-marido retirou todo o espaço de Susan de dentro de si, deixando sozinha com todo seu luxo e riqueza, incapazes de lhe garantir a felicidade que a fez o abandonar para ter. Apesar da minha interpretação pessoal (que não necessariamente está errada ou correta), achei o filme uma surpresa agradável, com ritmo lento e, por conta disso, altamente contemplativo.
Um filme simples, mas que retrata os relacionamentos e como lidamos com nosso emocional de forma direta, metafórica e ainda assim muito crua. Desde o princípio é notável que se trata de uma película sobre a restauração de alguém que não sabe o que está errado consigo, mas sabe que algo não está certo. A relação despreocupada, distante e curiosa de Davis nada mais é do que um reflexo de como ele suprime todos seus sentimentos a ponto de não sentir absolutamente nada, senão a necessidade de entender o que há dentro das coisas. Acredito que isso retrata de forma sensível como a personagem canalizava toda a sua necessidade de entender seu sentimento pela esposa e por que não, pelo mundo. Todo esse peso cedeu sob forma de devastação e destruição de objetos e coisas que relacionavam Julia à ele. Primeiro a relação com o sogro (forçada), depois o trabalho (que segue o mesmo rumo que o sogro), depois sua casa. Davis encontra em Karen alguém tão estranho como ele, alguém que está vivendo uma vida porque deve ser vivida, sem saber realmente o que está acontecendo. Com o pequeno garoto, uma empática sensação de pura honestidade típico de quem fala a verdade porque não tem nada a perder com ela. Apesar dos deslizes do filme, gosto de como ele mostra o quanto Davis, por fim, amava sua esposa. As anotações nos indicam que ela poderia ser controladora ou implicante, mas quando ele finalmente as lê é mostrado o quão carinhosa ela era, mesmo diante da negligência dele como marido e companheiro. O problema sempre foi Davis e a morte de Julia só foi o propulsor que incentivou a demolir-se e ver o que estava errado com ele. Não é um filme genial, mas nutro por ele um carinho especial, como se Davi de fato existisse e tivesse escrito uma carta para mim.
Um filme fiel à natureza humana, que antes de qualquer coisa tem apenas um objetivo em si mesma: sobreviver. O filme inteiro é uma grande carga de como o homem realmente é e o ciclo que a história traz consigo. Através da fotografia vemos a beleza e a imponência da natureza, imparcial e insubmissa às necessidades do homem. Pelos diálogos temos a sensação de como se tornou/tornará a comunicação entre as pessoas quando não há mais nada a se dizer senão o necessário. Um filme peculiar, belíssimo, lento (o que não é defeito algum) e bastante reflexivo.
Quando você para e pensa bem, nem temos o nome da personagem principal, apenas sabemos que ele é um sobrevivente, como todos assim também são. Ele, para prosseguir vivo mata o irmão. Milja, que antes planejava mata-lo, acha melhor matar a mãe uma vez que não haveria comida suficiente para três (mesmo estando ela grávida, o que resultaria sem a mãe a contagem de três pessoas novamente) e o homem proveria maior proteção para ela. Kathryn procura manter-se e manter a filha viva, sendo traída pela mesma e por sua própria pessoa, que a criou como "não seja sentimentalista" (e ela não foi mesmo). No final vemos que todos poderiam ter sobrevivido de fato. O fazendeiro poderia ter saído com a jovem e sua mãe em busca do acampamento no final, assim ele não seria devorado por humanos e nem a senhora envenenada pela própria filha (p.s: a proteína que poderia ter salvo a todos por mais um tempo aparece logo depois que Kathryn morre, mais uma vez provando que se esperassem mais um pouco poderiam ter terminado com vida).
Mais uma vez, um ótimo filme e um lembrete à humanidade, que hora ou outra sempre acaba se afundando sobre o peso de sua cruel natureza
, representada bem através da transitoriedade de protagonistas e da escolha do nome do bebê "Augustus" em homenagem ao irmão que o próprio fazendeiro matou para sobreviver.
The Lobster, um filme que exige um pouco de sensibilidade e profundidade dos seus espectadores, o que por si só já o faz um bom filme. Indo direto ao ponto, The Lobster trata sobre amor e como o amor é visto pelas pessoas/sociedade como um todo. O mais magnífico é a fabulosa metáfora para tal. O homem DEVE buscar alguém que seja igual a ele (Você é míope? Você tem sangramentos repentinos? Cabelos lindos?), alguém que não o complete, mas o compreenda em toda a sua complexa e niilista existência. A solidão nada mais é do que uma caçada feroz até que o dia em que encontrar o parceiro selecionado de forma fria e racional finalmente chegue, caso o contrário torna-se uma besta, um ser ignorado e selvagem. A lição mais profunda que se pode tirar do filme é que devemos amar as pessoas não para deixarmos de ser solitários ou para exercer um papel imposto por algo ou alguém maior que nós. Devemos amar para partilhar a solidão e, ironicamente (pelo menos no caso do filme), a solidão trouxe o amor, pois conhecendo a si em seus momentos mais isolados conseguimos ver o outro em nós mesmos. O que mais gostei também foi como a diferença entre o casal do filme o aproxima e como o amor é feito de sacrifícios (quem não toparia perder a visão pela amada hein? hein?) Apesar de toda a filosofia proposta pelo filme através de diálogos sarcásticos, eventos estranhamente normais (ou normalmente estranhos) e desventuras em busca de algo que não se deve procurar para encontrar, The Lobster é um retrato caricato e fiel de como o amor é visto dentre as pessoas e como ele realmente é.
Um filme cru, como a realidade em si. Anna nada mais é do que uma das milhões (bilhões talvez) de pessoas que se perdem num cíclico estado de autodestruição sem nem mesmo saber onde começou e muito menos onde vai terminar. (Sim, conterá SPOILERS) O filme guarda todo seu brilhantismo por inúmeros fatores, o que mais me chamou a atenção foi o quanto a história de Anna é contada a cada teste para um trabalho de atriz, cada diálogo e monólogo. Uma vítima do desamparo alheio tão presente na sociedade (e pelo visto, no mundo inteiro), vítima do egoísmo dos outros e do seu próprio, vítima de abuso sexual, vítima de abuso emocional, vítima da maternidade precoce, vítima de si mesmo e da dura realidade que como uma força da natureza não escolhe ninguém para atuar. O filme é como um algoz que nos causa uma profunda dor ao ver a pobre Daisy, que é igualmente uma vítima da realidade da mãe, que a sugou para uma vida que, mesmo que se desenvolvesse "normalmente" teria tudo para dar errado. Um filme que me lembrou o quanto as relações humanas, os problemas mal resolvidos, a culpa e a frustração podem destruir o homem. A diretora que claramente precisa de um pênis para se sentir no comando, no poder, subjugando alguém com sua força. O diretor que sutilmente drena suas atrizes com promessas vazias afim de descolar uma noite de sexo, o homem que teve relações conturbadas com a mãe e a usa como fantasia sexual, o homem que se castrou em nome de sua orientação sexual, o pobre coitado que sofreu com o abandono emocional dos pais que não o beijavam mais. Todos ali aparecem no momento mais humano da humanidade, na sua miséria existencial, no lixo que somente uma relação nada saudável pode fazer nascer em nós. A perca da inocência, um mundo onde se está só e tão mergulhado em si que não conseguimos ver longe daquilo. A culpa é de Anna que nunca percebeu uma creche em frente ao seu apartamento ou é da babá que sempre a viu e nunca se aproximou para oferecer sua ajuda/serviço? A culpa é do namorado que abandonou (porque de estupro a culpa é integralmente dele) ou dos pais que deram as costas para sua filha? A culpa é de Anna que não aceitou sua realidade e desistiu de seu sonho ou do ramo cruel da dramaturgia que não afrouxou a poderosa mão de ferro nos seus julgamentos? A culpa é de todos ou de ninguém? Assim como na vida, não há como saber, apenas viver aquilo que lhe é oferecido como a sua realidade. Filme obrigatório para todos os leitores de Dostoiévski e Kafka. Sem sombra de dúvida uma obra prima, um retrato cruel do mundo que cada pessoa é, e de como deixamos esses mundos fora dos nossos por razões que nem mesmo sabemos quais são.
O que falar desse filme que, aposto todas as minhas fichas, será o novo cult de terror do futuro? Sem sombra de dúvidas, aqueles que o assistiram com o intuito de se assustarem o borrarem as calças saíram decepcionados, pois A Bruxa é um filme de ritmo lento, onde o terror está no verdadeiro "não saber a verdade", nas crendices ocultas na fé e (talvez o mais importante) no esquecido medo da natureza que o homem atual já não mais sente. Além do ritmo lento, que te enfeitiça com uma fotografia impecável e uma trilha sonora perturbadora, o filme exige uma certa inteligência e conhecimento prévio de seu público, o que de fato amei! Para aqueles que não sabem, vamos primeiro ás curiosidades "históricas(?)" que se ocultam na obra.
(E SIM, TERÁ SPOILERS,SPOILERS,SPOILERS,SPOILERS E SPOILERS)
- Para quem não sabe, Nova Inglaterra se localizava nos EUA, nos remetendo então à falta de "lar" das personagens, que além de se queixarem da saudade que sentiam da vida na Inglaterra, ainda foram expulsos da colônia devido ao comportamento excessivamente religioso do pai, declarado radical (com a pomposa linguagem do século XVII se não me engano) por um PURITANO (como eram os cristãos protestantes da época). - Pulando para o macabro ritual da bruxa usando a pobre criança não batizada (o que para sua família estaria ligado a um passe certeiro pro inferno em caso de morte). O pensamento da época era de que uma bruxa para poder exercer sua magia deveria se embatumar de gordura e sangue de crianças não batizadas (não pertencentes à Deus). O que de fato ocorreu. - Alguns simbolismos tênues do filme, como a caça ao coelho, que se safa "miraculosamente". O coelho era visto como um animal ligado à imoralidade sexual, algo fortemente atribuído às bruxas (mulheres vulgares e sensuais). Reparem que o menino Caleb, caiu exatamente por conta de seus desejos sexuais reprimidos pela moral (já que costumeiramente olhava para o decote da irmã). - Sobre Thomassin. O nome automaticamente nos liga a Thomas, que além de se referir a Thomas (Tomé aqui) da bíblia, nos liga diretamente ao abandono da fé da menina, que se vendeu ao chifrudo para viver deliciosamente. Outra curiosidade é que Thomassin é o feminino de Thomas (avá!), o que PODE indicar o desejo do casal de ter tido um filho homem, explicando-se a raiva da mãe para com sua primogênita e seu ciúmes em relação ao marido e a filha. - Mais uma curiosidade, sobre Caleb agora. Caleb foi o único do povo de Israel (castigado por Deus) a entrar na terra prometida, assim como o pequeno Caleb do filme, que aparentemente foi o único a entrar no céu na sua (estranha e sinistra) confissão pré morte. - Chegando no final, vemos que os dois bizarros irmãos de Thomassin e Caleb sumiram. Na cena final vemos o que chamavam de Sabbat Negro (sim, tipo a banda) o Sabbat Satânico, onde Bruxas se reuniam e (segundo a crença da época) dançavam para o demônio depois de SACRIFICAR pessoas. Esse pensamento é reforçado num quadro específico onde as crianças não mais aparecem e ao fundo da cela onde passaram a noite estão duas ovelhas mortas, representando simbolicamente seus sacrifícios.
Um filme digno de ser memorado. Dividiu opiniões entre aqueles que caíram no hype da publicidade devido ao "jogo de edição" dos trailers, entre os que queriam levar sustinho (¬_¬") e os que amaram (tipo eu). Um filme maravilhoso, um verdadeiro "terror" em meio ao mar de clichês que vêm surgindo nos últimos anos.
Além do forte da fotografia, existe também a criatividade. Acho que as pessoas não entenderam a mensagem do filme: Seus erros SEMPRE de perseguem, a consequência deles uma hora ou outra alcança você. O objetivo não é chocar ou aterrorizar, mas criar um filme que passe a mesma passagem batida de forma original, e nisso eles acertaram. (Quem não se imaginou sendo perseguido por alguém disfarçado o resto da vida? A ideia me deu medo, pois não importa a velocidade, cedo ou tarde você acaba sendo pego)
O Comentário inteiro já é um spoiler, então recomendo a leitura somente depois de assitir o filme. Vamos lá. Para quem demorou para perceber que Lukas estava morto desde o princípio do filme, basta perceber o quão incessantemente Elias chama o irmão, a cada porta escura, a cada virada e a cada momento de dúvida Elias solta um sonoro "Lukas", como uma criança chamaria mamãe, o protagonista prefere chamar pelo irmão. O grande ponto forte do filme é a percepção fotográfica. Pra quem não está acostumado a esse tipo de filme a probabilidade de compreensão das mensagens, ditas sem palavras, é quase nula. Pontuemos: - O jogo de roupa dos gêmeos: Lukas sempre de tons escuros e Elias em tons claros. Uma clara representação do estado de cada um, Lukas morto e Elias vivo. O mais interessante é como os irmãos pretendem se vestir de maneira igual para confundirem a mãe, uma clara analogia do desejo de Elias de que a mãe pudesse voltar a ver o irmão. - Casa: Isolada, assim como a mãe e o filho são um dos outros. A provável situação de morte do irmão, divórcio e acidente ocorridos afastou e traumatizou profundamente os dois. Reparem que as fotografias são imagens embaçadas e quase sempre é mostrado espelhos e vidros pela casa, como uma ironia de olhar para si e não mais se reconhecer (Elias reconhece Lukas em sua imagem, perda de identidade própria). Os gêmeos quase sempre dividem os mesmos móveis e brinquedos, um reforço ao forte laço que os ligava. - O Gato: O gato foi uma interpretação metafórica ao meu ver. Elias entra num cômodo velho (se você já viu Paixão de Cristo verá a semelhança do lugar com uma tumba da antiguidade clássica) onde existem ossadas, que para mim são visões de Elias. O gato já estava doente e fadado a morte, uma representação do estado psicológico de Elias. O gato morre e ele o põe na gasolina em um aquário, pois Elias têm um relacionamento com fogo e água (veremos depois). -Pizzas: Para mim Pizza é a forma da mãe de fugir da "obrigação" de servir dois pratos sem ofender o filho. Pizza é para comemoração, festa e alegria, uma tentativa futura da mãe de restaurar os momentos bons com o filho, uma vez que o sabor é seu preferido. -Floresta: Pra mim, a parte mais bem feita do filme. A floresta é o retrato do primal, daquilo que o homem se oculta como presa ou caçador. A floresta cerca a casa e as três personagens com essa mesma tensão: Quem é a caça e quem é o caçador da relação? (que basicamente se tornou uma disputa por autoridade devido aos traumas) - Sonhos: O ventre cortado e a mulher nua na floresta é um retrato da situação psicológica das personagens. A floresta um lugar dúbio, onde a mãe iria nua, sem proteção ou pudor, para aliviar sua angústia. O ventre aberto é fruto da "visão" de Elias em que a mãe engole o inseto, que para mim representa seus desejos, desejos esses que deveriam ser compartilhados pela mãe (ver o irmão e seguir a vida como se nada tivesse ocorrido). - Água/Fogo: Para mim Lukas morreu afogado no exato momento em que é mostrado Elias flutuando sobre uma tora e bolhas se erguendo sobre a superfície do lago. A mãe fala "Não é sua culpa" justamente porque estavam ambos brincando juntos. Já o fogo, assim como a floresta, retrata o primal e incontrolável (único elemento não encontrado de forma natural no planeta) sentimento de culpa de Elias, que o consome. Notem que sempre há velas acesas em orações fervorosas de Elias, orações guiadas pela culpa. - Cirurgia: Foi a jogada de dúvida, a mãe é ou não verdadeira? Acredito que ela tenha sido para fins estéticos, já que ela era meio famosa, rica e vaidosa (quem anda de salto alto em casa) - O tempo: O filme não segue uma linha cronológica, mas mistos de passado e presente. A cena de Elias brincando com o irmão no início são devaneios, até a cena do lago, uma lembrança de culpa (perceba que há risos antes da cena ser mostrada, risos que findam na escuridão do primeiro "Lukas?" solto por Elias). A hora que vêem a casa a venda é também uma lembrança, já que acredito que se mudaram por conta do divórcio (a mãe saiu com os filhos, e como a mesma era rica mudou-se para uma boa região e em uma boa casa). -Mulher no incêndio: Outra linguagem metafórica. O fogo purifica e sacrifica, Elias sacrificou a "falsa mãe" para poder ter a família purificada. Acredito que o menino sobreviveu ao incêndio e vive no seu mundo irreal, onde a mãe e o irmão estão bem como na foto (lembrem-se que Elias é melancólico, preso ao passado, fato confirmado pela vez que olha as fotos dentro e fora do álbum). Reparem que na cena final, um dos gêmeos está claramente mais sorridente que o outro, esse seria o estado de espírito de Elias, agora livre e feliz com a família que tinha e amava. O plot twist se dá quando percebemos que Elias tem seus devaneios mas ele sabe que o irmão morreu. Ele simplesmente deseja que a mãe viva como se isso nunca tivesse acontecido para que possa seguir em frente, uma espécie de confirmação e consentimento materno para viverem a família dos sonhos da criança. Notem também que o menino é amante do fogo, a morte e a redenção têm a presença das velas e das chamas que o menino acende. (Eu sinceramente não notei nenhum indício de que houve um outro incêndio em outra casa, na cena final me pareceu ser a mesma residência, mas de outro ângulo. E que pessoa tem só o rosto queimado e volta a ser exatamente como antes?) That's all folks!!!
Apesar de ser adolescente, não sou fã de filmes adolescentes. Sempre achei eles abusivamente exagerados em relação á rebeldia jovial, nos romances água com açúcar e em problemas que até uma criança acha simples de resolver. Mas não esse, esse filme é diferente. O filme retrata o drama de muitas pessoas, muitas mesmo, algumas como o Charlie, outros como a Sam e alguns como o Patrick. A dor de ter poucos amigos, viver sempre de lado, sozinho, pensando e nunca se expondo. Um filme feito pros invisíveis (pra mim são os melhores tipos de pessoas, parece que eles compreendem o que é viver e não existir). É marcado com uma sensibilidade peculiar, uma trama bem armada, o menino sem amigos que encontra um grupo de pessoas totalmente distintas, com somente uma coisa em comum, sua invisibilidade em relação as suas dores, medos, relações e pensamentos. Esses é um daqueles filmes feitos pras pessoas que sabem viver a eternidade que existe entre um momento e outro da vida.
"Eu me sinto infinito"
P.S: Tem uma trilha sonora magnífica (quem não passou a curtir The Smiths depois do filme não tem coração), atuações comportadas com os perfis das personagens, enfim, um baita filme!!
Um documentário maravilhoso. Fico em dúvida se o que mais me fascina é o Studio Ghibli em si ou o próprio Miyazaki. Muito bem gravado, fotografia incrível e uma narração fluida, suave e bem confortante. Kingdom of Dreams and Madness resume bem o mundo artístico que a Ghibli inventou no ramo da animação japonesa e até mesmo mundial, pois o "Disney Japonês" encanta a todos seus telespectadores com a simplicidade peculiar e poética de suas obras. Pelo que percebi Miyazaki é um dos poucos homens que leva a sua arte como arte e não como um mercado. "A Ghibli presa as relações humanas" ou "Você trabalha para ser feliz?" são pequenas frases que determinam a singularidade que este homem traz pra dentro de seu trabalho, ou grande Hobby como afirma. Para alguém que vivenciou a guerra na infância e perdeu a fé na humanidade, Miyazaki contempla o mundo quando ele é mundo, seja olhando o céu, observando a gatinha do estúdio ou o gramado em seu telhado. Um homem que é um idealista por aspirar a perfeição, um lugar onde cada detalhe, cada fala, cada ação e emoção devem estar em harmonia completa e ideal. Isso é o que faz a Ghibli ser a Ghibli e Miyazaki ser uma pessoa inspiradora! Uma inspiração para mim saber que existem homens como Miyazaki (e sua equipe também), que trabalham duro, com prazos, pressão e dificuldades, mas que sabem fazer um bom serviço encantador e fascinante!
"Não é divertido ver o mundo dessa maneira? É como se você pudesse ir para um lugar muito além. E talvez possa."
Inspirador! Um filme cheio de sensibilidade e suavidade. O Filme flui naturalmente, especialmente quando você acompanha o avanço de Walter Mitty com Cheryl, e quando começa a enfrentar suas adversidades abandonando seus medos e afins. Um filme que narra a vida de alguém que pára de sonhar pra correr atrás do sonho e melhor, vivê-lo. Um filme que faz refletir que a vida pode ser melhor, ela deve ser vivida e não sobrevivida. A fotografia e a trilha sonora são excepcionais, únicas, tocantes e muito bonitas.
"As coisas belas não clamam por atenção" _Sean O'Connell
Um filme bom, simples, mas bom! A participação da Eva Green (Eve) para mim foi excepcional, um misto de desespero, inveja, raiva e loucura muito bem retratados ao longo da trama, que começa a focar o seu rumo logo após o desaparecimento da mãe. O filme apresenta momentos, pequeno momentos, onde a tensão do suspense realmente acontece, pelo menos comigo foi assim, mas eu diria que o suspense não é o foco do filme e sim "Uma história sobre uma garota e sua mãe", o que foi bem exposto. Por um instante é esquecido um pouco o desaparecimento da mãe, acho que decorrente do fato da própria protagonista ter jogado isso em um canto esquecido de sua mente, o que não considero uma falha de roteiro, e sim uma tática muito perspicaz, pois leva as pessoas que assistem o filme para dentro dos sentimentos e das reações de Kat, "a garota" da trama.
P.S: Risada da Eve ficou simplesmente fantástico! Deboche, alívio e um pensamento tipo: "Sabia que você era um covarde!" <<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<SPOILER ZONE>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> O final eu achei meio óbvio, para todos que prestaram atenção nos sonhos de Kat e na cena, aparentemente desnecessária onde as carnes do freezer estam estragadas ( que ocorre somente para mostrar o freezer) são dicas que levam qualquer um a especular o final (mas na parte em que ela abre o freezer e não há nada lá achei simplesmente inteligente e tenso, eu estava tenso). CRÍTICAS: Achei estranho um homem matar sua esposa e coloca-la em um freezer e a polícia nem mesmo investigar sua casa, o homem fez o teste do detector de mentiras, mas só isso seria suficiente? Nunca. Não é explicada a participação de Phil, o namorado, no crime. Apesar dele simplesmente ter sumido no dia da morte de Eve não fica explícito que ele foi um cúmplice, mas de alguma forma ele revelou saber que o culpado era o bigodudo. Revelar seu crime em um bar depois de 3 anos livre sem a polícia em seu pé, ou sua filha em casa, ou seu jovem ex-amante nem mesmo ter te dedurado? Mesmo bêbado achei meio tosca essa parte, mas ainda assim valeu a pena o filme. P.S: Fiquei estagnado quando descobri que o Sr.Bigode era igual a Fredy Mercury (não só no bigode) e que tava com o namorado da Kat ( e eu achando que ele é que pegava a Eve).
SE PREFERIR, VEJA O FILME ANTES DE LER O COMENTÁRIO: Um filme maravilhoso! Praticamente uma poesia animada. A arte é esplendida, os traços que lembram rascunhos e a coloração aquarelada fazem da animação uma verdadeira obra de arte, sem falar que o "estilo" artístico varia de acordo com as situações, quando houve ira, medo e sofrimento tudo ficou mais bruto, sem forma e cor, quando houve alegria, satisfação e realização tudo ficou mais colorido e detalhado. A história é baseada no antigo conto japonês, deixando uma impressão cultural marcante tanto nos pequenos detalhes do andar dos servos da mansão, na maneira de sentar, de apresentar os dotes, de carregar os palacetes, as músicas infantis e a delicadeza em representar os sentimentos e expressões das personagens é sensacional, deixando claro que tudo foi pensado e bem realizado. O drama das personagens, a ganância de outros e o amor de alguns poucos nos mostra a dura realidade da vida de cada um deles, uns perderam a inocência, outros tornam-se gananciosos e egoístas, outros são interesseiros e alguns permanecem do jeito que sempre foram, desenvolvendo, pelo menos para mim, personagens carismáticos que deixam um toque de realidade e volatilidade da vontade e vida humana. Um filme que merece ser lembrado e como de costume do Studio Ghibli, uma grande obra!!! OBS: os últimos 20 minutos de filme para mim foram sensacionais, simplesmente fantásticos!
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Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraSimplesmente a melhor experiência cinematográfica que já tive. Cinema calado (não ousei abrir um Doritos para não interromper ninguém), pessoas aos prantos e o melhor: Máximo respeito pelo artista homenageado.
Recomendo IMAX, não se arrependerão.
Hereditário
3.8 3,0K Assista AgoraUm filme que me surpreendeu pela ousadia, qualidade e pelo TERROR. Aviso prévio: Se você quiser sofrer jumpscares baratos de um cinema preguiçoso, não veja o filme. Sou muito, mas muito chato com a qualidade dos filmes de terror que pecam pela história, excesso de violência gratuita e superficialidade das personagens, algo que não ocorre nessa longa.
Temos aqui um retrato de uma família aparentemente comum: Pai cético, mãe neurótico, filho distante e filha estranha. Pela primeira metade do filme vemos os acontecimentos com um ponto de vista mesclado entre Charlie (filha) e Steve (pai), que pintam os quadros com ceticismo e incompreensão. Entretanto, mais a frente adotamos o ponto de vista de Annie (mãe) e Peter (filho), onde a insanidade e as dúvidas quanto a natureza de sua realidade são postos à prova.
O filme tende a nos fazer questionar a real essência do terror: Seria tudo fruto de doenças mentais? Fanatismo religioso? Trabalho demoníaco? Tudo isso e mais um pouco?
As cenas são carregadas de simbolismos que necessitam de conhecimento prévio para serem completamente compreendidas (leitores do Grimório que o digam), o que por si só já é indício de um cinema um pouco mais exigente com seu telespectador.
A violência e a crueza beiram entre explícito e o implícito, carregando ainda mais o filme de tensão e ansiedade, deixando-nos nas mãos dos atores que carregam seus dramas e medos de forma visceral, crível e angustiante. (A cena de Peter e Charlie no carro após o acidente me deixou boquiaberto, senti o peso do medo e da abrupta situação que o rapaz se inseriu).
O enredo a todo momento nos dá indícios do que estaria a acontecer: Charlie decapitando um pombo (sua trágica morte), construindo bonecos (como o ídolo na casa, que por sinal, tinha a sua cabeça), os sonhos envolvendo o fogo (morte de Steve), o Grimório (Paimon sendo invocado pelo culto satânico).
Além de tudo isso, o filme ainda brinca com algumas referências interessantes que podem ter sido propositais: Charles (cujo nome Charlie é uma variação) foi um rei inglês que morreu decapitado, assim como Pedro (Peter) foi, segundo a história, crucificado de ponta a cabeça, ou seja, em uma cruz oposta à que vemos, geralmente usada para sinalizar cultos satânicos. A presença das moscas me remete a Belzebu, o senhor das moscas, outro demônio de maior grau assim como Paimon, assim como a cena final é uma referência ao nascimento de Cristo na manjedoura.
Por fim, vi o filme no cinema na data de hoje e não perdi o interesse no mesmo em nenhum momento. Os instantes mais tensos me deixaram grudados na poltrona e com aquela sensação de desconforto que não sentia desde "A Bruxa".
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraUma pequena surpresa responsável por reacender meu desejo pelo terror psicológico no cinema.
A fotografia bela, a trilha sonora que assim como o roteiro te causa inquietação e incômodo casam perfeitamente com as interpretações dos atores, todas excelentes.
O filme é lentamente construído em cima de relações que, apesar de não serem ruins (à primeira vista) são no mínimo estranhas e perturbadoras.
Quando a amizade entre o jovem que perdera o pai e o cirurgião responsável por isso (apesar de haver toda uma séria discussão entre quem seria de fato o responsável) revela sua verdadeira faceta, todo o tom de esquisitice incômoda do filme toma tons mais escuros.
Assim como Agamenon fora cobrado pela deusa a sacrificar uma de suas três filhas para possibilitar uma demanda contra Troia, o estimado cirurgião deve sacrificar um de seus filhos para parar uma espécie de maldição que assola sua família. Entretanto, agora é o pobre mortal que demanda o sacrifio para o deus entre os homens, aquele que brinca com a vida e a morte foi pego em uma troça de mal gosto.
O embate entre o científico vs sobrenatural toma conta e somos postos na mesma situação que o patriarca, sem nenhum controle de seu destino, com sua crença e razão questionadas e uma decisão a ser tomada.
A frieza com que todos lidam é perturbadora. A mãe instiga o marido a matar um dos filhos porque eles ainda poderiam ter outro caso quisessem enquanto os irmãos disputam a atenção dos pais afim de ganharem o seu favor no momento da escolha.
Diferente de Agamenon, que encotrou um cervo para substituir a filha durante o sacrifício, o pai dessa trama teve que fazer do filho sua peça a ser sacrificada.
Um longa que discute desde a responsabilidade médica até a lei de balanceamento do universo "eu perdi alguém, você também deve perder, só assim o universo estará balanceado novamente". Fora dos moldes tradicionais do cinema e uma boa surpresa pra aqueles que como eu estão decepcionados com os filmes do gênero.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraQue filme maravilhoso! Isso me faz lembrar que cinema não é apenas uma indústria, mas um palco para a visualização da alma humana, é arte! Além das atuações maravilhosas, da trilha sonora, fotografia e todos outros termos técnicos que não deixam a desejar, temos aqui um filme com uma mensagem. Não li nenhuma crítica ou entrevista do criador dessa obra poética para tirar minhas conclusões, mas sinto a necessidade de expô-las de acordo com o eco que o filme emitiu em mim.
No início temos o Poeta, uma alusão ao Deus bíblico, habitando em sua morada ao lado de sua esposa, sua Inspiração Divina. Apesar de haver amor entre ambos, o Criador deve criar, é o que ele é e faz (como ele mesmo afirma em um dado momento do filme).
Então surge o primeiro visitante, que nada mais é do que a representação de Adão. Que habita com "Deus" e sua "Inspiração" na sua casa como se fosse parte da família. É nítido que não fazia bem para o visitante estar ali sozinho, então do nada (ou quase do nada, porque na cena em que o "Adão" está vomitando vemos um machucado na região da sua costela), surge sua esposa, uma alusão à Eva. É interessante ver que "Eva" se interessa pela jóia guardada na sala do Poeta, assim como "Adão", mas é ela quem insiste de maneira irritante a ver e pegar a mesma.
A Jóia é a representação do amor, da ligação e inspiração para recomeçar tudo outra vez, mas também uma alusão ao fruto proibido. Quando "Adão" mostra a "Eva" o "fruto" (um pouco diferente aqui da história original), ele se quebra, assim como aquela pacífica ligação que havia entre os moradores da casa (ainda que estranha). "Deus" os expulsa daquela sala e a sela para sempre, assim como aconteceu no jardim do Éden.
Depois, mais uma vez do quase nada, surgem os dois filhos do casal (após a cena de sexo de "Adão" e "Eva"). Uma nítida alusão à Caim e Abel, tendo até o mesmo desfecho da história narrada na Bíblia. É legal ver que o sangue de "Abel" vai para debaixo da terra (casa), assim como descrito na bíblia e mostra para a "Inspiração" uma sala secreta, onde havia o combustível da "Ira", pois o sangue de "Abel" clamava por justiça (como está nas passagens das Escrituras).
Depois da cena de "Deus" confortando o primeiro casal e pessoas de diversas aparências e lugares. Temos aquela degradação da casa, que começa a se ferir com a atitude dos convidados e a negligência para com a voz da "Inspiração e Amor" divina. Talvez haja aí um paralelo para quando o pecado entrou no mundo e os homens se distanciaram de Deus, transformando a terra (casa) e a degradando (como mostra o coração da casa tornando-se mais seco). P.S: A cena da pia quebrando e inundando tudo deixando a casa vazia depois é uma clara referência ao dilúvio.
"Deus" se une à sua "Inspiração" e dela surge o filho, junto com uma nova história. A história se alastra pelo mundo e todos vão vê-la, sendo uns marcados pelo Poeta, outros começaram a tomar suas fotos e fazerem ídolos com ele (como os falsos religiosos, vemos aí o joio e o trigo). A "Terra" (casa) é degradada enquanto "Deus" parece estar distante de sua "Inspiração", que sofre das dores do parto. (É também uma grande metáfora para o Apocalipse bíblico)
O bebê nasce e, óbviamente, representa Jesus. Diante de toda aquela multidão de pessoas, apenas alguns os presenteiam (como são poucos os justos/justificados em detrimemento aos injustos, como diz as Escrituras). O percurso de "Jesus" termina com a sua morte e com os povos se alimentando de sua carne e sangue (como na Ceia é descrito, apesar de mal interpretado por algumas vertentes do cristianismo). A "Inspiração e Amor" (que nessa altura vemos que nada mais é do que o outro lado da moeda do próprio Poeta) pune os que resistiram em lhe entregar seu filho, assim como a ira de Deus o faz. Vemos que "Deus" a todo instante alega que eles estavam arrependidos e que deveriam ser perdoados.
Apesar do Aronofsky tratar a ideia de destruir e amar como um dilema divino (o que é particular, não Bíblico), vemos que o mundo se torna cinzas, mas aquele amor ressequido pela degradação das pessoas na casa (Terra) volta a se tornar a bela jóia de antes, em metáfora ao fim de tocas as coisas e o nascer de um novo tempo.
A Jóia que aqui representa o puro amor de "Deus", que restaura e faz nova todas as coisas. Existem coisas que ainda não consegui conceber totalemente, como o porquê de beber a água como o pózinho amarelo? Porque o amarelo é tão importante em todas as cenas?
Espero rever o filme em breve e talvez encontrar as respostas (ou as perguntas certas)
Essa é a minha interpretação do filme, podem haver outras semelhantes ou completamente diferentes, mas é essa distinção de idéias que enriquecem a obra e tornam-a tão singular no meio da onda de filmes triviais que vemos.
They Look Like People
3.1 59Se você é do tipo de pessoa que espera se assustar com sons explosivos e imagens aterrorizantes pulando bem na sua frente, não veja esse filme. O filme é um grande terror psicológico que usa meios ordinários como angulo, som e iluminação (além da atuação) para criar um clima de tensão, que é a palavra que define o longa.
Para mim, o filme se trata de doenças psicológicas. Temos duas personagens principais com relacionamentos fracassados e uma falta de auto confiança tremenda tendo que enfrentar seus demônios internos.
Wyatt claramente é um esquisofrênico (eu não sou psicólogo, é apenas a impressão que tive) e seu amigo uma pessoa depressiva. A todo momento Wyatt insiste que acontecerá uma grande batalha entre a humanidade e os seres (dando a entender que eram demônios) que se assemelham aos homens, mas são maus. Eles infectam os bons com a maldade através de contato visual ou pela voz. Tudo uma grande alegoria para a falta de confiança que ele tem nas pessoas, nas coisas ruins que elas podem falar para você ou te mostrar.
É engraçado ver que ambos protagonistas precisavam provar pra si mesmos que eles poderiam ir além, que aquela não poderia ser a sua realiade. Um pra firmar a sua lucidez e outro a sua coragem, ambos migram até as fronteiras da razão para mostrar para seu eu interior que não podem ser apenas aquilo que são.
Um filme condescendente à situação de quem tem depressão ou qualquer outra doença psicológica onde o maior inimigo não está nas cidades ou na maldade das pessoas, mas na sua própria mente.
Portanto, pra você que gosta de um suspense de qualidade com uma filmografia que exige que você não seja apenas um mero telespectador passivo, assista o filme e descubra que em meio a merda da cinematografia do gênero as vezes pode vir algum ouro junto.
Um Homem Sério
3.5 574 Assista AgoraUm filme que me deu uma pequena dorzinha de cabeça para compreender, mas acho que no final das contas eu saquei a ideia dos irmãos Coen, pois se "a matemática é a arte da possibilidade", o cinema é a arte mais precisa do mundo nas mãos de bons cinegrafistas (tudo está ali por um razão). Dispensa comentários as atuações e a fotografia que é bela e não te tira do foco do roteiro/enredo do filme, que é o seu "carro chefe".
Antes de tudo precisamos entender sobre o que se trata a teoria do Gato de Schrödinger (sim, foi necessário um ctrl c+ ctrl v para esse belo nome). Basicamente, a teoria nos diz que duas realidades opostas podem coexistir, entretanto, quando nos prontificamos a conhecê-las, apenas uma pode se assumir como a "real realidade" para nós.
No prólogo do filme temos uma versão peculiar dessa teoria, retratada como um visitante na casa de um casal. O visitante é para o marido da mulher um homem normal, mas para a mesma ele é um espírito (e nós somos os observadores que sabemos que ele pode ser ambas as coisas). No momento que a mulher decide tomar uma atitude ao tirar a prova o esfaqueando, para nossa surpresa, o homem sangra e vai embora, deixando a entender que ele era de fato um humano normal. Mas por que ele não pareceu sofrer com o golpe? Por que ele simplesmente foi embora? Como o segundo rabi responde as perguntas de Larry sobre a metáfora do dentista: "Isso é realmente necessário?"
Toda a vida de Larry era uma rede de coexistências, a caixa fechada do gato de Schrödinger. Ele tinha um bom casamento e não fazia nada de errado, mas sua esposa ainda assim queria o divórcio. Ele era um bom professor e ainda assim era ameaçado de ser processado por não receber suborno. Ele acolhe o seu irmão em sua casa e sua própria família o expulsa de lá. Toda a sua inatividade trazia uma série de contradições a respeito de sua "seriedade", então ele recorre aos rabis, à Deus, a si mesmo e apenas uma coisa fica clara pra ele: Ele não sabe o que está acontecendo.
Larry sempre quis saber o que estava acontecendo e, por não fazer nada sofreu as consequências de sua inatividade, as consequências da falta de atitude (paradoxal, não?). Ao mesmo tempo, ao correr atrás da resolução de seus problemas, fica clara qual era a sua "real realidade". É um grande ciclo onde não fazer nada é observar uma mera caixa e agir te força a trazer uma realidade que talvez não seja a que você esteja esperando (vemos isso no final, onde ele descobre uma provável doença porque decidiu fazer o exame. Não fazer o exame te deixa no estado de doente/saudável).
É engraçado que os irmãos Coen criaram um filme tão carregado de conceitos religiosos e ao mesmo tempo tão niilista. O paralelo esboçado através de Danny sobre como algo (no caso a religião) é tão cheio de significados e, ao mesmo tempo, tão vazio em si mesmo (ele cantava em hebraico numa das tradições mais importantes para um judeu, mas estava drogado e mal sabia ler/escrever/falar a língua na qual cantava).
A obra te põe no lugar de Larry e, consequentemente, de todos os homens, onde a real e simples questão que resume a nossa existência simplesmente não tem resposta: O que está acontecendo?
Não Me Abandone Jamais
3.8 2,1K Assista AgoraO filme é maravilhoso. Nunca vi um romance com nuances de sci-fi retratado de uma forma tão singela, delicada e assustadoramente crível. "Never let me go" é para mim um retrato da humanidade, mostrando o seu lado mais cruel (seja em nome do progresso ou do medo) e do poder de amar e ser amado.
A fotografia é linda, deslumbrante e consegue sintetizar toda a melancolia, a tristeza sem nome e sem forma que Kathy sente vivendo em um domo, um mundo fechado com cores pastéis e acinzentadas.
A escola, apesar de real dentro do filme, não é nada mais que um grande exemplo das regras que aprendemos a seguir sem saber o porquê, das leis que nos definem antes mesmo de nascermos. O poder instituído por outros homens que controlam os nossos destinos e a nossa vida sem perguntar se nos importamos, queremos ou sofremos com isso.
Kathy para muitos pode ter parecido ser uma pessoa fraca, que não luta pelo que quer, mas pra mim ela é uma representação daquele amor vestal e imortal que sentimos por algo/alguém. Um amor que tudo espera e suporta, que é paciente e inocente, incondicional e intensamente sublime.
Ruth em contrapartida é aquela que quer ser forte, que quer mostrar as pessoas que é ela quem põe os outros em seu lugar e tem as rédeas de sua vida. Assim como Kathy, ela tem ciência da complexidade de suas situações como "réplicas", mas não consegue aceitar porque é orgulhosa, tem fome de viver a vida que idealizou (é a única "réplica" a dizer que tinha um sonho, logo no início do filme quando ela conta para Kathy que queria ter cinco cavalos). Ela encontra a sua "redenção" porque reconhece seus pecados, sua inveja, sua fragilidade escondida debaixo de toda a carapuça de ímpeto e força. De todos, ela pra mim é a que melhor representa o aspecto "rebelde" do ser humano, o sentimento de lutar pra poder tomar o controle do pouco que pode controlar em sua vida, de querer transcender o destino e seguir seu próprio caminho .
Já Tommy é um cordeiro. Um menino afogado em suas emoções, mas debaixo de uma mansidão e curiosidade puras e infantis. Ele não sabe o que está realmente acontecendo ao seu redor, é sempre o que é cuidado, o que sofre por não entender e ainda assim tenta, mesmo que tentar não nada além de uma carta em branco na sua vida.
Todos os três são justificáveis, reais e humanos, muito humanos. Criaturas com alma, vida e desejos, mas tratados como peça de reposição por outros homens cujo desejo é mais importante porque sim.
O ápice do filme ocorre na cena final. Um grande pôr do sol com pedaços de plástico atados no arame durante uma ventania. Não importa o quanto o vento sopre, aquelas sacolas jamais se soltariam sem se rasgar e prosseguir sozinhas para o além distante, assim como Kathy, Ruth e Tommy.
Sensível, profundo e melancólico, um grande filme que é assustadoramente real em sua abordagem sobre progresso, ciência, e acima de tudo, o amor.
É Apenas o Fim do Mundo
3.5 302 Assista AgoraUm filme que deixa com uma sensação semelhante ao desconforto de quando seu tio faz piadas de extremo mal gosto nas reuniões familiares. "É apenas o fim do mundo", para mim, é claustrofóbico, belo de se ver e apesar de dramático (o que não é defeito algum), bastante cru em sua representação de uma família e de pessoas tridimensionais.
O filme momento nenhum te explica porque Louis abandonou a família e só voltou doze anos depois, pois assim como nós não entendemos, a família dele também não. Uma versão oposta da parábola do filho pródigo, quando o retorno é amado mas não é aceito porque é mal compreendido.
A dor da irmã que foi privada de ter um irmão que ela teve que passar a construir em sua mente, a dor de um irmão que perdeu o outro sem motivo aparente e desconta tudo em todos em acessos de fúria e uma mãe que, por mais que sofra por não entender o filho, aceita o seu silêncio e suas respostas curtas.
As cenas sempre tão focadas no rosto dos atores, quase te impedindo de ver o que está por detrás deles (o que é simbólico ao meu ver, pois somos levados a ter uma pincelada do passado de cada um, mas nada realmente concreto), nos dá aquele desconforto claustrofóbico, como se uma bomba fosse explodir a qualquer instante (o que, de certo modo, aconteceu).
O ritmo lento e contemplativo, como o próprio Louis, dita a regra do filme. Ele, assim como aquele pássaro na cena final, estava preso pelas amarras do tempo (seja que passou com a sua família ou longe dela), quando se liberta (a aceitação de sua morte, provavelmente iminente) ele voa, mas não para os céus e sim para as barreiras de seu lar (a família ferida, as memórias felizes tão distantes, o futuro incerto quanto a relação de todos eles) e depois de atrapalhar toda a ordem, cai e morre (Louis parte com o recado de que iria os visitar e desejava ser visitado, mas claramente aquela foi a sua despedida, mas como sempre, ninguém conseguiu compreender).
Ao que me parece, apenas a esposa de seu irmão conseguiu entender que aquilo era um "Adeus", mas como ela mesma disse, Louis não devia isso a ela, e sim à sua família.
Triste, dramático, realista e contemplativo.Típico do cinema francês e, por isso, uma obra que vale a pena ser vista.
O Garoto Sombrio
3.1 163 Assista AgoraNão se trata necessariamente de um filme de terror, The Boy te põe numa posição de contemplação e espera, quase na mesma posição que o pequeno Ted encontra com a vida que leva ao lado do pai.
O filme tem uma bela fotografia e atuações, os diálogos ainda que escassos são reveladores a cerca da personalidade das personagens. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi como a história se desenvolveu no ritmo bem lento e sem muito suspense, pois os atos tomados por Ted foram atos frios e calculados, logo, não há porque criar um clima de suspense e mistério.
A iluminação natural, o silêncio e as poucas personagens reforçam a ideia de isolamento e distância de Ted e seu pai em relação ao mundo.
Ted é um menino que claramente foi afetado pelo abandono da mãe e deseja morar com ela, largar a vida solitária onde a perda é constante e lucrativa tanto para ele, que lucra com animais mortos nas rodovias, quanto para o pai que lucra com a saída de um hóspede para a chegada de outro.
No entanto, diferente de muitos filmes de terror, onde o mau é um agente externo ou é implantado na pessoa, vemos em The Boy que o menino já é mau, mesmo que não entenda isso, pois no final das contas suas atitudes foram tomadas ou para alcançar um objetivo maior (que é ir para a Flórida morar com a mãe) ou como diversão (como sua mania de sufocar as pessoas dormindo ou tentar afogar o pequeno hóspede do motel).
O que gostei mais é da quebra de visão que o filme carrega, principalmente em ver um pai fraco e ausente (reparem que Ted sempre troca os lençóis do quarto 5 porque seu pai não era capaz, já que esse era o quarto do caminhoneiro com o qual sua mãe fugiu) e de uma criança tão obstinada a ponto de lucrar com a morte e se vingar cruelmente dos atos tomados contra ela. A cena onde ela é espancada é forte, mas não é injusta, afinal de contas Ted estava sufocando friamente uma garota por prazer ou até mesmo curiosidade.
A prova da maldade explícita de Ted é que ele escolheu queimar o motel porque sabia do passado de Colby e que ele era procurado pela polícia. Um crime bem pensado e executado, ainda mais para uma criança de 9 anos de idade.
Espero ansioso a sequência da vida do engenhoso e sociopata Ted.
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista AgoraUm filme sobre vingança e escolhas.
A fotografia é linda, atuações excelentes e uma trilha sonora de tirar o fôlego, mas o que mais me encantou foi o roteiro tão bem escrito. Vemos Susan, interpretada pela linda e brilhante Amy Adams, como uma mulher que se auto deprecia não por martírio de auto piedade, mas por uma visão crua e realista de si mesma. Não esconde que esconde a decadente situação financeira e nem que se sente culpada diante de tanta fartura e um imenso e inexplicável deserto interior.
O mais interessante do filme é que interpretei toda a história criada por seu ex-marido como uma metáfora para a relação dos dois. Ela fora uma analogia para os malfeitores que sequestram a filha e a esposa de Tony, interpretado por Jake, que nada mais era do que um retrato de si mesmo, já que como Susan mesmo afirma, escreve sobre sua própria pessoa.
Ela forte, selvagem, impetuosa e decidida, não conseguindo tirar os pés dos chãos e viver uma vida incerta, como a vida de todos aqueles que optam por viver de arte (tanto que ela preferiu o seguimento histórico da arte, não o criativo). Ele um homem sensível, romântico e de certo modo frágil. Enquanto ela tirava dele toda a sua expectativa de um futuro (representado pelos homens que levaram a esposa e a filha de Tony), ela se tornava o que mais odiava, alguém como sua mãe (segundo Ray Marcus, que pra mim é um retrato abstrato de Susan, "Se você me acusa de algo, eu tenho o direito de me tornar aquilo").
Por fim percebe-se que o ex-marido apenas queria se vingar da traição, do futuro roubado e das feridas que ela causou nele. Tony consegue sua vingança, mas morre no caminho. Shannon, que interpreta Bobby, um alter ego para sua força interna que o motiva a fazer o que ele realmente quer, matar Susan em si ou deixá-la ir?
No final, é nítido que o ex-marido retirou todo o espaço de Susan de dentro de si, deixando sozinha com todo seu luxo e riqueza, incapazes de lhe garantir a felicidade que a fez o abandonar para ter.
Apesar da minha interpretação pessoal (que não necessariamente está errada ou correta), achei o filme uma surpresa agradável, com ritmo lento e, por conta disso, altamente contemplativo.
Demolição
3.8 447 Assista AgoraUm filme simples, mas que retrata os relacionamentos e como lidamos com nosso emocional de forma direta, metafórica e ainda assim muito crua. Desde o princípio é notável que se trata de uma película sobre a restauração de alguém que não sabe o que está errado consigo, mas sabe que algo não está certo.
A relação despreocupada, distante e curiosa de Davis nada mais é do que um reflexo de como ele suprime todos seus sentimentos a ponto de não sentir absolutamente nada, senão a necessidade de entender o que há dentro das coisas. Acredito que isso retrata de forma sensível como a personagem canalizava toda a sua necessidade de entender seu sentimento pela esposa e por que não, pelo mundo. Todo esse peso cedeu sob forma de devastação e destruição de objetos e coisas que relacionavam Julia à ele. Primeiro a relação com o sogro (forçada), depois o trabalho (que segue o mesmo rumo que o sogro), depois sua casa.
Davis encontra em Karen alguém tão estranho como ele, alguém que está vivendo uma vida porque deve ser vivida, sem saber realmente o que está acontecendo. Com o pequeno garoto, uma empática sensação de pura honestidade típico de quem fala a verdade porque não tem nada a perder com ela.
Apesar dos deslizes do filme, gosto de como ele mostra o quanto Davis, por fim, amava sua esposa. As anotações nos indicam que ela poderia ser controladora ou implicante, mas quando ele finalmente as lê é mostrado o quão carinhosa ela era, mesmo diante da negligência dele como marido e companheiro.
O problema sempre foi Davis e a morte de Julia só foi o propulsor que incentivou a demolir-se e ver o que estava errado com ele.
Não é um filme genial, mas nutro por ele um carinho especial, como se Davi de fato existisse e tivesse escrito uma carta para mim.
O Sobrevivente
3.4 39Um filme fiel à natureza humana, que antes de qualquer coisa tem apenas um objetivo em si mesma: sobreviver.
O filme inteiro é uma grande carga de como o homem realmente é e o ciclo que a história traz consigo. Através da fotografia vemos a beleza e a imponência da natureza, imparcial e insubmissa às necessidades do homem. Pelos diálogos temos a sensação de como se tornou/tornará a comunicação entre as pessoas quando não há mais nada a se dizer senão o necessário. Um filme peculiar, belíssimo, lento (o que não é defeito algum) e bastante reflexivo.
Quando você para e pensa bem, nem temos o nome da personagem principal, apenas sabemos que ele é um sobrevivente, como todos assim também são. Ele, para prosseguir vivo mata o irmão. Milja, que antes planejava mata-lo, acha melhor matar a mãe uma vez que não haveria comida suficiente para três (mesmo estando ela grávida, o que resultaria sem a mãe a contagem de três pessoas novamente) e o homem proveria maior proteção para ela. Kathryn procura manter-se e manter a filha viva, sendo traída pela mesma e por sua própria pessoa, que a criou como "não seja sentimentalista" (e ela não foi mesmo).
No final vemos que todos poderiam ter sobrevivido de fato. O fazendeiro poderia ter saído com a jovem e sua mãe em busca do acampamento no final, assim ele não seria devorado por humanos e nem a senhora envenenada pela própria filha (p.s: a proteína que poderia ter salvo a todos por mais um tempo aparece logo depois que Kathryn morre, mais uma vez provando que se esperassem mais um pouco poderiam ter terminado com vida).
Mais uma vez, um ótimo filme e um lembrete à humanidade, que hora ou outra sempre acaba se afundando sobre o peso de sua cruel natureza
, representada bem através da transitoriedade de protagonistas e da escolha do nome do bebê "Augustus" em homenagem ao irmão que o próprio fazendeiro matou para sobreviver.
O Lagosta
3.8 1,4K Assista AgoraThe Lobster, um filme que exige um pouco de sensibilidade e profundidade dos seus espectadores, o que por si só já o faz um bom filme.
Indo direto ao ponto, The Lobster trata sobre amor e como o amor é visto pelas pessoas/sociedade como um todo. O mais magnífico é a fabulosa metáfora para tal. O homem DEVE buscar alguém que seja igual a ele (Você é míope? Você tem sangramentos repentinos? Cabelos lindos?), alguém que não o complete, mas o compreenda em toda a sua complexa e niilista existência.
A solidão nada mais é do que uma caçada feroz até que o dia em que encontrar o parceiro selecionado de forma fria e racional finalmente chegue, caso o contrário torna-se uma besta, um ser ignorado e selvagem.
A lição mais profunda que se pode tirar do filme é que devemos amar as pessoas não para deixarmos de ser solitários ou para exercer um papel imposto por algo ou alguém maior que nós. Devemos amar para partilhar a solidão e, ironicamente (pelo menos no caso do filme), a solidão trouxe o amor, pois conhecendo a si em seus momentos mais isolados conseguimos ver o outro em nós mesmos.
O que mais gostei também foi como a diferença entre o casal do filme o aproxima e como o amor é feito de sacrifícios (quem não toparia perder a visão pela amada hein? hein?)
Apesar de toda a filosofia proposta pelo filme através de diálogos sarcásticos, eventos estranhamente normais (ou normalmente estranhos) e desventuras em busca de algo que não se deve procurar para encontrar, The Lobster é um retrato caricato e fiel de como o amor é visto dentre as pessoas e como ele realmente é.
Daisy Diamond
3.9 127Um filme cru, como a realidade em si. Anna nada mais é do que uma das milhões (bilhões talvez) de pessoas que se perdem num cíclico estado de autodestruição sem nem mesmo saber onde começou e muito menos onde vai terminar.
(Sim, conterá SPOILERS)
O filme guarda todo seu brilhantismo por inúmeros fatores, o que mais me chamou a atenção foi o quanto a história de Anna é contada a cada teste para um trabalho de atriz, cada diálogo e monólogo. Uma vítima do desamparo alheio tão presente na sociedade (e pelo visto, no mundo inteiro), vítima do egoísmo dos outros e do seu próprio, vítima de abuso sexual, vítima de abuso emocional, vítima da maternidade precoce, vítima de si mesmo e da dura realidade que como uma força da natureza não escolhe ninguém para atuar.
O filme é como um algoz que nos causa uma profunda dor ao ver a pobre Daisy, que é igualmente uma vítima da realidade da mãe, que a sugou para uma vida que, mesmo que se desenvolvesse "normalmente" teria tudo para dar errado.
Um filme que me lembrou o quanto as relações humanas, os problemas mal resolvidos, a culpa e a frustração podem destruir o homem. A diretora que claramente precisa de um pênis para se sentir no comando, no poder, subjugando alguém com sua força. O diretor que sutilmente drena suas atrizes com promessas vazias afim de descolar uma noite de sexo, o homem que teve relações conturbadas com a mãe e a usa como fantasia sexual, o homem que se castrou em nome de sua orientação sexual, o pobre coitado que sofreu com o abandono emocional dos pais que não o beijavam mais. Todos ali aparecem no momento mais humano da humanidade, na sua miséria existencial, no lixo que somente uma relação nada saudável pode fazer nascer em nós.
A perca da inocência, um mundo onde se está só e tão mergulhado em si que não conseguimos ver longe daquilo. A culpa é de Anna que nunca percebeu uma creche em frente ao seu apartamento ou é da babá que sempre a viu e nunca se aproximou para oferecer sua ajuda/serviço? A culpa é do namorado que abandonou (porque de estupro a culpa é integralmente dele) ou dos pais que deram as costas para sua filha? A culpa é de Anna que não aceitou sua realidade e desistiu de seu sonho ou do ramo cruel da dramaturgia que não afrouxou a poderosa mão de ferro nos seus julgamentos? A culpa é de todos ou de ninguém? Assim como na vida, não há como saber, apenas viver aquilo que lhe é oferecido como a sua realidade.
Filme obrigatório para todos os leitores de Dostoiévski e Kafka.
Sem sombra de dúvida uma obra prima, um retrato cruel do mundo que cada pessoa é, e de como deixamos esses mundos fora dos nossos por razões que nem mesmo sabemos quais são.
A Bruxa
3.6 3,4K Assista AgoraO que falar desse filme que, aposto todas as minhas fichas, será o novo cult de terror do futuro?
Sem sombra de dúvidas, aqueles que o assistiram com o intuito de se assustarem o borrarem as calças saíram decepcionados, pois A Bruxa é um filme de ritmo lento, onde o terror está no verdadeiro "não saber a verdade", nas crendices ocultas na fé e (talvez o mais importante) no esquecido medo da natureza que o homem atual já não mais sente.
Além do ritmo lento, que te enfeitiça com uma fotografia impecável e uma trilha sonora perturbadora, o filme exige uma certa inteligência e conhecimento prévio de seu público, o que de fato amei!
Para aqueles que não sabem, vamos primeiro ás curiosidades "históricas(?)" que se ocultam na obra.
(E SIM, TERÁ SPOILERS,SPOILERS,SPOILERS,SPOILERS E SPOILERS)
- Para quem não sabe, Nova Inglaterra se localizava nos EUA, nos remetendo então à falta de "lar" das personagens, que além de se queixarem da saudade que sentiam da vida na Inglaterra, ainda foram expulsos da colônia devido ao comportamento excessivamente religioso do pai, declarado radical (com a pomposa linguagem do século XVII se não me engano) por um PURITANO (como eram os cristãos protestantes da época).
- Pulando para o macabro ritual da bruxa usando a pobre criança não batizada (o que para sua família estaria ligado a um passe certeiro pro inferno em caso de morte). O pensamento da época era de que uma bruxa para poder exercer sua magia deveria se embatumar de gordura e sangue de crianças não batizadas (não pertencentes à Deus). O que de fato ocorreu.
- Alguns simbolismos tênues do filme, como a caça ao coelho, que se safa "miraculosamente". O coelho era visto como um animal ligado à imoralidade sexual, algo fortemente atribuído às bruxas (mulheres vulgares e sensuais). Reparem que o menino Caleb, caiu exatamente por conta de seus desejos sexuais reprimidos pela moral (já que costumeiramente olhava para o decote da irmã).
- Sobre Thomassin. O nome automaticamente nos liga a Thomas, que além de se referir a Thomas (Tomé aqui) da bíblia, nos liga diretamente ao abandono da fé da menina, que se vendeu ao chifrudo para viver deliciosamente. Outra curiosidade é que Thomassin é o feminino de Thomas (avá!), o que PODE indicar o desejo do casal de ter tido um filho homem, explicando-se a raiva da mãe para com sua primogênita e seu ciúmes em relação ao marido e a filha.
- Mais uma curiosidade, sobre Caleb agora. Caleb foi o único do povo de Israel (castigado por Deus) a entrar na terra prometida, assim como o pequeno Caleb do filme, que aparentemente foi o único a entrar no céu na sua (estranha e sinistra) confissão pré morte.
- Chegando no final, vemos que os dois bizarros irmãos de Thomassin e Caleb sumiram. Na cena final vemos o que chamavam de Sabbat Negro (sim, tipo a banda) o Sabbat Satânico, onde Bruxas se reuniam e (segundo a crença da época) dançavam para o demônio depois de SACRIFICAR pessoas. Esse pensamento é reforçado num quadro específico onde as crianças não mais aparecem e ao fundo da cela onde passaram a noite estão duas ovelhas mortas, representando simbolicamente seus sacrifícios.
Um filme digno de ser memorado. Dividiu opiniões entre aqueles que caíram no hype da publicidade devido ao "jogo de edição" dos trailers, entre os que queriam levar sustinho (¬_¬") e os que amaram (tipo eu). Um filme maravilhoso, um verdadeiro "terror" em meio ao mar de clichês que vêm surgindo nos últimos anos.
Corrente do Mal
3.2 1,8K Assista AgoraAlém do forte da fotografia, existe também a criatividade. Acho que as pessoas não entenderam a mensagem do filme: Seus erros SEMPRE de perseguem, a consequência deles uma hora ou outra alcança você.
O objetivo não é chocar ou aterrorizar, mas criar um filme que passe a mesma passagem batida de forma original, e nisso eles acertaram.
(Quem não se imaginou sendo perseguido por alguém disfarçado o resto da vida? A ideia me deu medo, pois não importa a velocidade, cedo ou tarde você acaba sendo pego)
Boa Noite, Mamãe
3.5 1,5K Assista AgoraO Comentário inteiro já é um spoiler, então recomendo a leitura somente depois de assitir o filme. Vamos lá.
Para quem demorou para perceber que Lukas estava morto desde o princípio do filme, basta perceber o quão incessantemente Elias chama o irmão, a cada porta escura, a cada virada e a cada momento de dúvida Elias solta um sonoro "Lukas", como uma criança chamaria mamãe, o protagonista prefere chamar pelo irmão.
O grande ponto forte do filme é a percepção fotográfica. Pra quem não está acostumado a esse tipo de filme a probabilidade de compreensão das mensagens, ditas sem palavras, é quase nula. Pontuemos:
- O jogo de roupa dos gêmeos: Lukas sempre de tons escuros e Elias em tons claros. Uma clara representação do estado de cada um, Lukas morto e Elias vivo. O mais interessante é como os irmãos pretendem se vestir de maneira igual para confundirem a mãe, uma clara analogia do desejo de Elias de que a mãe pudesse voltar a ver o irmão.
- Casa: Isolada, assim como a mãe e o filho são um dos outros. A provável situação de morte do irmão, divórcio e acidente ocorridos afastou e traumatizou profundamente os dois. Reparem que as fotografias são imagens embaçadas e quase sempre é mostrado espelhos e vidros pela casa, como uma ironia de olhar para si e não mais se reconhecer (Elias reconhece Lukas em sua imagem, perda de identidade própria). Os gêmeos quase sempre dividem os mesmos móveis e brinquedos, um reforço ao forte laço que os ligava.
- O Gato: O gato foi uma interpretação metafórica ao meu ver. Elias entra num cômodo velho (se você já viu Paixão de Cristo verá a semelhança do lugar com uma tumba da antiguidade clássica) onde existem ossadas, que para mim são visões de Elias. O gato já estava doente e fadado a morte, uma representação do estado psicológico de Elias. O gato morre e ele o põe na gasolina em um aquário, pois Elias têm um relacionamento com fogo e água (veremos depois).
-Pizzas: Para mim Pizza é a forma da mãe de fugir da "obrigação" de servir dois pratos sem ofender o filho. Pizza é para comemoração, festa e alegria, uma tentativa futura da mãe de restaurar os momentos bons com o filho, uma vez que o sabor é seu preferido.
-Floresta: Pra mim, a parte mais bem feita do filme. A floresta é o retrato do primal, daquilo que o homem se oculta como presa ou caçador. A floresta cerca a casa e as três personagens com essa mesma tensão: Quem é a caça e quem é o caçador da relação? (que basicamente se tornou uma disputa por autoridade devido aos traumas)
- Sonhos: O ventre cortado e a mulher nua na floresta é um retrato da situação psicológica das personagens. A floresta um lugar dúbio, onde a mãe iria nua, sem proteção ou pudor, para aliviar sua angústia. O ventre aberto é fruto da "visão" de Elias em que a mãe engole o inseto, que para mim representa seus desejos, desejos esses que deveriam ser compartilhados pela mãe (ver o irmão e seguir a vida como se nada tivesse ocorrido).
- Água/Fogo: Para mim Lukas morreu afogado no exato momento em que é mostrado Elias flutuando sobre uma tora e bolhas se erguendo sobre a superfície do lago. A mãe fala "Não é sua culpa" justamente porque estavam ambos brincando juntos. Já o fogo, assim como a floresta, retrata o primal e incontrolável (único elemento não encontrado de forma natural no planeta) sentimento de culpa de Elias, que o consome. Notem que sempre há velas acesas em orações fervorosas de Elias, orações guiadas pela culpa.
- Cirurgia: Foi a jogada de dúvida, a mãe é ou não verdadeira? Acredito que ela tenha sido para fins estéticos, já que ela era meio famosa, rica e vaidosa (quem anda de salto alto em casa)
- O tempo: O filme não segue uma linha cronológica, mas mistos de passado e presente. A cena de Elias brincando com o irmão no início são devaneios, até a cena do lago, uma lembrança de culpa (perceba que há risos antes da cena ser mostrada, risos que findam na escuridão do primeiro "Lukas?" solto por Elias). A hora que vêem a casa a venda é também uma lembrança, já que acredito que se mudaram por conta do divórcio (a mãe saiu com os filhos, e como a mesma era rica mudou-se para uma boa região e em uma boa casa).
-Mulher no incêndio: Outra linguagem metafórica. O fogo purifica e sacrifica, Elias sacrificou a "falsa mãe" para poder ter a família purificada. Acredito que o menino sobreviveu ao incêndio e vive no seu mundo irreal, onde a mãe e o irmão estão bem como na foto (lembrem-se que Elias é melancólico, preso ao passado, fato confirmado pela vez que olha as fotos dentro e fora do álbum). Reparem que na cena final, um dos gêmeos está claramente mais sorridente que o outro, esse seria o estado de espírito de Elias, agora livre e feliz com a família que tinha e amava.
O plot twist se dá quando percebemos que Elias tem seus devaneios mas ele sabe que o irmão morreu. Ele simplesmente deseja que a mãe viva como se isso nunca tivesse acontecido para que possa seguir em frente, uma espécie de confirmação e consentimento materno para viverem a família dos sonhos da criança. Notem também que o menino é amante do fogo, a morte e a redenção têm a presença das velas e das chamas que o menino acende.
(Eu sinceramente não notei nenhum indício de que houve um outro incêndio em outra casa, na cena final me pareceu ser a mesma residência, mas de outro ângulo. E que pessoa tem só o rosto queimado e volta a ser exatamente como antes?)
That's all folks!!!
As Vantagens de Ser Invisível
4.2 6,9K Assista AgoraApesar de ser adolescente, não sou fã de filmes adolescentes. Sempre achei eles abusivamente exagerados em relação á rebeldia jovial, nos romances água com açúcar e em problemas que até uma criança acha simples de resolver. Mas não esse, esse filme é diferente.
O filme retrata o drama de muitas pessoas, muitas mesmo, algumas como o Charlie, outros como a Sam e alguns como o Patrick. A dor de ter poucos amigos, viver sempre de lado, sozinho, pensando e nunca se expondo. Um filme feito pros invisíveis (pra mim são os melhores tipos de pessoas, parece que eles compreendem o que é viver e não existir). É marcado com uma sensibilidade peculiar, uma trama bem armada, o menino sem amigos que encontra um grupo de pessoas totalmente distintas, com somente uma coisa em comum, sua invisibilidade em relação as suas dores, medos, relações e pensamentos.
Esses é um daqueles filmes feitos pras pessoas que sabem viver a eternidade que existe entre um momento e outro da vida.
"Eu me sinto infinito"
P.S: Tem uma trilha sonora magnífica (quem não passou a curtir The Smiths depois do filme não tem coração), atuações comportadas com os perfis das personagens, enfim, um baita filme!!
"Eu me sinto infinito"
Estúdio Ghibli, Reino de Sonhos e Loucura
4.5 62Um documentário maravilhoso. Fico em dúvida se o que mais me fascina é o Studio Ghibli em si ou o próprio Miyazaki. Muito bem gravado, fotografia incrível e uma narração fluida, suave e bem confortante.
Kingdom of Dreams and Madness resume bem o mundo artístico que a Ghibli inventou no ramo da animação japonesa e até mesmo mundial, pois o "Disney Japonês" encanta a todos seus telespectadores com a simplicidade peculiar e poética de suas obras.
Pelo que percebi Miyazaki é um dos poucos homens que leva a sua arte como arte e não como um mercado. "A Ghibli presa as relações humanas" ou "Você trabalha para ser feliz?" são pequenas frases que determinam a singularidade que este homem traz pra dentro de seu trabalho, ou grande Hobby como afirma. Para alguém que vivenciou a guerra na infância e perdeu a fé na humanidade, Miyazaki contempla o mundo quando ele é mundo, seja olhando o céu, observando a gatinha do estúdio ou o gramado em seu telhado. Um homem que é um idealista por aspirar a perfeição, um lugar onde cada detalhe, cada fala, cada ação e emoção devem estar em harmonia completa e ideal. Isso é o que faz a Ghibli ser a Ghibli e Miyazaki ser uma pessoa inspiradora!
Uma inspiração para mim saber que existem homens como Miyazaki (e sua equipe também), que trabalham duro, com prazos, pressão e dificuldades, mas que sabem fazer um bom serviço encantador e fascinante!
"Não é divertido ver o mundo dessa maneira? É como se você pudesse ir para um lugar muito além. E talvez possa."
A Vida Secreta de Walter Mitty
3.8 2,0K Assista AgoraInspirador!
Um filme cheio de sensibilidade e suavidade. O Filme flui naturalmente, especialmente quando você acompanha o avanço de Walter Mitty com Cheryl, e quando começa a enfrentar suas adversidades abandonando seus medos e afins.
Um filme que narra a vida de alguém que pára de sonhar pra correr atrás do sonho e melhor, vivê-lo. Um filme que faz refletir que a vida pode ser melhor, ela deve ser vivida e não sobrevivida.
A fotografia e a trilha sonora são excepcionais, únicas, tocantes e muito bonitas.
"As coisas belas não clamam por atenção" _Sean O'Connell
Pássaro Branco na Nevasca
3.6 442Um filme bom, simples, mas bom!
A participação da Eva Green (Eve) para mim foi excepcional, um misto de desespero, inveja, raiva e loucura muito bem retratados ao longo da trama, que começa a focar o seu rumo logo após o desaparecimento da mãe.
O filme apresenta momentos, pequeno momentos, onde a tensão do suspense realmente acontece, pelo menos comigo foi assim, mas eu diria que o suspense não é o foco do filme e sim "Uma história sobre uma garota e sua mãe", o que foi bem exposto.
Por um instante é esquecido um pouco o desaparecimento da mãe, acho que decorrente do fato da própria protagonista ter jogado isso em um canto esquecido de sua mente, o que não considero uma falha de roteiro, e sim uma tática muito perspicaz, pois leva as pessoas que assistem o filme para dentro dos sentimentos e das reações de Kat, "a garota" da trama.
P.S: Risada da Eve ficou simplesmente fantástico! Deboche, alívio e um pensamento tipo: "Sabia que você era um covarde!"
<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<SPOILER ZONE>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>
O final eu achei meio óbvio, para todos que prestaram atenção nos sonhos de Kat e na cena, aparentemente desnecessária onde as carnes do freezer estam estragadas ( que ocorre somente para mostrar o freezer) são dicas que levam qualquer um a especular o final (mas na parte em que ela abre o freezer e não há nada lá achei simplesmente inteligente e tenso, eu estava tenso).
CRÍTICAS: Achei estranho um homem matar sua esposa e coloca-la em um freezer e a polícia nem mesmo investigar sua casa, o homem fez o teste do detector de mentiras, mas só isso seria suficiente? Nunca.
Não é explicada a participação de Phil, o namorado, no crime. Apesar dele simplesmente ter sumido no dia da morte de Eve não fica explícito que ele foi um cúmplice, mas de alguma forma ele revelou saber que o culpado era o bigodudo.
Revelar seu crime em um bar depois de 3 anos livre sem a polícia em seu pé, ou sua filha em casa, ou seu jovem ex-amante nem mesmo ter te dedurado? Mesmo bêbado achei meio tosca essa parte, mas ainda assim valeu a pena o filme.
P.S: Fiquei estagnado quando descobri que o Sr.Bigode era igual a Fredy Mercury (não só no bigode) e que tava com o namorado da Kat ( e eu achando que ele é que pegava a Eve).
[spoiler][/spoiler]
O Conto da Princesa Kaguya
4.4 802 Assista AgoraSE PREFERIR, VEJA O FILME ANTES DE LER O COMENTÁRIO:
Um filme maravilhoso! Praticamente uma poesia animada. A arte é esplendida, os traços que lembram rascunhos e a coloração aquarelada fazem da animação uma verdadeira obra de arte, sem falar que o "estilo" artístico varia de acordo com as situações, quando houve ira, medo e sofrimento tudo ficou mais bruto, sem forma e cor, quando houve alegria, satisfação e realização tudo ficou mais colorido e detalhado.
A história é baseada no antigo conto japonês, deixando uma impressão cultural marcante tanto nos pequenos detalhes do andar dos servos da mansão, na maneira de sentar, de apresentar os dotes, de carregar os palacetes, as músicas infantis e a delicadeza em representar os sentimentos e expressões das personagens é sensacional, deixando claro que tudo foi pensado e bem realizado.
O drama das personagens, a ganância de outros e o amor de alguns poucos nos mostra a dura realidade da vida de cada um deles, uns perderam a inocência, outros tornam-se gananciosos e egoístas, outros são interesseiros e alguns permanecem do jeito que sempre foram, desenvolvendo, pelo menos para mim, personagens carismáticos que deixam um toque de realidade e volatilidade da vontade e vida humana.
Um filme que merece ser lembrado e como de costume do Studio Ghibli, uma grande obra!!!
OBS: os últimos 20 minutos de filme para mim foram sensacionais, simplesmente fantásticos!