“A verdade é que duvido mesmo que se possa falar de literatura como duvido, com mais razões, que se possa falar de pintura ou que se possa falar de musica. É claro que se pode falar de tudo, como se fala dos sentimentos e emoções, seria absurdo pretender reduzir ao silêncio aqueles que escrevem, ou aqueles que leem, ou aqueles que sentem, ou aqueles que compõem musica ou que pintam ou que esculpem, como se a obra em si mesma já contivesse tudo quanto é possível dizer e que tudo o que vem depois não fosse mais do que interminável glosa. Não é isso. Acontece, no entanto, que por vezes experimento o desejo de limitar-me a uma muda contemplação diante de uma obra acabada, pela consciência que tenho de que, de certo modo, nos domínios da arte e da literatura estamos lidando com aquilo a que damos nome de inefável. E é o inefável precisamente por se-lo, é o que que não pode ser explicado ainda que tenha de se evitar a tentação de cair em ideia de caráter transcendente, onde tudo encontraria uma explicação precisamente no fato de não ter explicação nenhuma. (...)”
O Olhar de Michelângelo
4.3 2“A verdade é que duvido mesmo que se possa falar de literatura como duvido, com mais razões, que se possa falar de pintura ou que se possa falar de musica. É claro que se pode falar de tudo, como se fala dos sentimentos e emoções, seria absurdo pretender reduzir ao silêncio aqueles que escrevem, ou aqueles que leem, ou aqueles que sentem, ou aqueles que compõem musica ou que pintam ou que esculpem, como se a obra em si mesma já contivesse tudo quanto é possível dizer e que tudo o que vem depois não fosse mais do que interminável glosa. Não é isso. Acontece, no entanto, que por vezes experimento o desejo de limitar-me a uma muda contemplação diante de uma obra acabada, pela consciência que tenho de que, de certo modo, nos domínios da arte e da literatura estamos lidando com aquilo a que damos nome de inefável. E é o inefável precisamente por se-lo, é o que que não pode ser explicado ainda que tenha de se evitar a tentação de cair em ideia de caráter transcendente, onde tudo encontraria uma explicação precisamente no fato de não ter explicação nenhuma. (...)”
Saramago, conferência em Turim, 1998.
Obrigado a Matar
3.1 280Alguém indica isso pros irmãos Coen, por favor hahahaha