Fica melhor cada vez que se assiste. De longe a melhor comédia em animação de todos os tempos, o humor está presente a todo momento de todas as formas. Muito diferente de porcarias como "festa da salsicha" ou "mr.pickles", South Park (Graças aos gênios Parker e Stone) sempre soube como conciliar escatologia, humor negro e humor convencional de maneira inteligente e hilária, ao invés de gratuita.
O filme é incessante, deve ter uma piada a cada 5 segundos, e não me lembro de uma que não tenha funcionado, e tudo isso permeado pela qualidade musical de Trey Parker que é um excelente compositor. É difícil escolher uma única canção favorita, todas são hilárias, e também, muito belas. Há também a preocupação de dar ao menos um bom momento para cada personagem, e sub-arcos realmente interessantes.
Veja um exemplo da qualidade do filme em relação a outros semelhantes. Enquanto festa da salsicha é só um monte de trocadilho porco sobre sexo e sobre "hahaha vamos geral se comer e ta tudo certo", as piadas sexuais aqui tem conceitos excelente, no caso, o sub-arco do Diabo com Saddam Hussein. Não apenas é algo tão absurdo que de cara já ranca gargalhadas do espectador pelo simples fato de alguém ter imaginado isso, mas é uma piada que ajuda no desenvolvimento dos personagens em questão. O fato de Saddam só querer sexo está diretamente relacionado com o desfecho da história, além de ser uma espécie de crítica a casais que realmente sofrem por relações abusivas. Não bastasse isso, este sub-arco rende duas músicas fantásticas: "up there" que é uma linda canção sobre alguém estar distante de seus sonhos, e "i can change", que também não deixa de ser repleta de significados intertextuais sobre pessoas que usam de seu passado para justificar os erros presentes.
A outra piada sexual do filme é a busca de Stan pelo clitóris, outra sacada brilhante, que transforma um problema adulto através da inocência do personagem, em uma saga mágica e metafórica sobre encontrar o sentido e ordem para sua ambição amorosa. Da mesma forma, as piadas de peido esbanjadas por Terrence & Philip são uma sátira fantástica a indústria de cinema de massas, e todo o arco relacionado a isso aborda inúmeros temas: Como os pais se preocupam mais com coisas supérfluas do que com de fato serem bons pais, a hipocrisia do fato de que violência no cinema está tudo bem mas dizer uns palavrões já basta para censurá-lo....
Não bastasse tudo isso o filme ainda acha espaço para virar uma sátira de guerra, mostrando o racismo presente nos campos de batalha e exagerando ao máximo a violência dos massacres. Por essas e outras "south park bigger longer and uncut", é não só uma animação hilária, mas definitivamente, uma obra-prima da comédia.
Robert Altman é o mestre da sutileza. O humor do filme está nas entrelinhas; determinados gestos dos personagens, pequenos detalhes nos objetos de cena, algumas expressões e metalinguagens... Essas pequenas coisas constroem a base do filme, sendo essa uma grande sátira a indústria norte-americana de cinema.
Na superfície do filme, temos também um grande thriller, movido a fantásticas atuações, dilemas morais perfeitamente desenvolvidos, personagens fortes e temas significantes. A todo momento o filme brinca com a metalinguagem daquilo que é verdade e o que é ficção, os personagens tentam fugir da realidade a todo custo, e o final do filme, por mais feliz que seja, deixa uma ambiguidade no ar. Pela conversa no telefone entre Tim Robbins e o homem que o ameaçava, percebemos que ele tem um certo desespero na voz quando diz "tem que me garantir de que o final será esse", dando a entender que o que vemos é, assim como "habeas corpus", a versão fantasiosa do que realmente aconteceu, e o personagem procura esperança para sua vida nessa ficção.
De certa forma, todos nós vemos no cinema uma fuga de nossa própria vida, Nos alienamos da tristeza que nos cerca com falsos finais felizes e conclusões banais, e essa fuga se torna nossa salvação. Percebam o detalhe de que, a única personagem que tenta manter a realidade no final do filme que estão produzindo, é também a única que termina com um final triste e amargo, enquanto todos os outros que renunciaram a realidade conseguiram alcançar o final feliz.
Assim como Nashville é uma genial sátira ao mundo da música e todos os seus jogos de falsidade, egoísmo e avareza, Altman faz o mesmo em The Player com a indústria do cinema. Tudo que eu falei está mais relacionado ao roteiro, cheio de subtextos e discussões, mas a direção precisa ser exaltada. A câmera se move de um jeito espetacular, a começar por um dos planos sequência mais impressionantes que já vi em um filme. Clássico absoluto!
Como renovar o gênero de ação em um período do qual praticamente tudo que poderia ter sido feito no gênero já foi repetido exaustivamente? É difícil entender como, mas John Wick conseguiu.
O grande mérito desses filmes talvez seja a genialidade de como a franquia entendeu o que faz de um filme de ação bom, e ainda agregou a isso suficientes coisas para torná-lo original dentro dos limites que o filme se propõem. A começar pelo personagem central; carismático, com uma pitada de drama e um objetivo moral que dá um rumo ao personagem e cria um elo dele e o espectador. Sim, a ideia de "assassino querendo se aposentar" é uma das mais repetidas da história do cinema, mas algo ser clichê, não é o mesmo que "fácil de ser executado". Pelo contrário. Pra cada "os imperdoáveis" que fez a coisa do jeito certo, existem centenas de "x-men origens Wolverine" que fizeram da maneira mais tosca e sem alma possível.
Definindo bem o personagem, que tal uma direção competente? Não precisa ser um George Miller, basta um bom diretor que saiba manter a história e atuações nas rédeas, com um bom padrão de qualidade, e cenas onde a ação se mantém clara ao público e vibrante aos olhos. Longe daquelas porcarias de câmeras tremidas que invadiram o gênero e destruíram todas as cenas que puderam. Em John Wick a ação é clara e objetiva, e o filme ainda se preocupa em criar momentos marcantes, como a cena do tiroteio no labirinto de espelhos, que é um caleidoscópio de violência.
Agora, a grande sacada vem na história. Ao mesmo tempo que você estabelece um plot simplista, que torna a ação ágil e perfeita para aqueles que só querem um cinema escapista, você ainda faz dela uma espécie de sátira do gênero. Qual o motivo mais banal pra um cara decidir matar 2 milhões de pessoas? Bem, e não são todos?
Nessa continuação, o universo é expandido. O quão brilhante é vermos esse contraste da violência banal e descontrolada, com os modos e códigos morais que regem o mundo dos assassinos.Outro aspecto extremamente acertado desses filmes, é o cansaço e mutilação que o protagonista sofre ao longo de sua jornada. Sim, John Wick matará a todos, mas no processo, será esfaqueado, baleado, pisado, cuspido, atropelado.… Esse pequeno detalhe, torna o personagem mais vulnerável, e por mais foda que ele seja, o público ainda teme por sua vida, e torce a todo momento para que ele consiga escapar de mais uma.
Por fim, o detalhe que foi a cereja no bolo de sangue pra mim, e fez eu chegar a conclusão de que, se o terceiro filme manter o nível, será a melhor trilogia de ação do cinema: A paranoia!
Sim! Um dos melhores conceitos pra boas histórias é a paranoia. Como em "the thing" ou “invasores de almas”, onde qualquer um pode ser o alienígena, ou então nas obras de Agatha Christie, onde qualquer pessoa em um local pequeno pode ser o culpado pelo crime; aqui nós temos um universo onde qualquer um pode ser um assassino, e todos querem te matar. Quase que um apocalipse zumbi elevado ao quadrado, o próximo filme da franquia tem tudo na mão pra ser uma obra-prima da escatologia e ação. Torcemos para que tudo dê certo.
Mais um grande exemplo da beleza artística e cultural única das animações japonesas. O filme se inicia apenas como uma fábula fofa e belíssimamente animada a respeito de amizade, criação e mudanças; mas quanto mais o tempo passa, mais camadas vão se juntando ao escopo inicial, dando ao filme inúmeras possibilidades interpretativas e um forte elemento dramático.
Toda a busca dos pretendentes pelo presente que conquistaria Kaguya é brilhantemente construído, com as doses exatas de humor, romance e tragédia. Kaguya, inclusive, é uma das personagens mais complexas e fascinantes que já vi em uma animação. Sua evolução de garota simples e feliz para uma princesa deprimida, seguido de sua busca por algo que traga-lhe a felicidade de volta; é uma trajetória de personagem extremamente marcante e identificável.
Os únicos problemas do filme são algumas transgressões e excessos de elementos narrativos como sonhos e narrações, que poderiam ter sido podados, eliminando assim o segundo problema do filme: a duração. De resto, clássico contemporânea do gênero.
Sem dúvida, o que mais se sobressaí nessa adaptação do clássico dramatúrgico de Shakespeare, é o elemento visual. Com uma ostentação de estilo e coreografia de câmera que buscam atingir os limites do que era possível se fazer no cinema da época, o filme consegue criar cenas extremamente icônicas, em especial a da apresentação de teatro, onde acompanhamos um plano-sequência brilhante, e também a cena da batalha final, feito com muita sutileza e enquadramentos precisos. Fora essas cenas que buscam o espetáculo cinematográfico, há outras que visam um apelo mais poético e onírico, como as conversas de Hamlet com o fantasma de seu pai, ou o suicídio de Ofélia; cenas muito belas. Há também outras mais simples e íntimas, como o monólogo "ser ou não ser" ou o diálogo no cemitério.
Portanto, visualmente, não poderia haver uma direção mais acertada que levasse o clássico ao cinema, de maneira a proporcionar uma experiência única e diferente da que se vê nos palcos. Em compensação para a genialidade narrativa do filme, a parte de roteiro deixa a desejar. Mesmo sendo muito fiel ao texto original, o filme não entende que uma boa adaptação necessita de mudanças substanciais de uma mídia a outra, isso significa que, há muitos momentos do filme onde a busca pela fidelidade textual atrapalha a linguagem visual. Há monólogos desnecessários e cenas que não precisavam de diálogo, além de outras que só existem na peça porque não haveria forma de mostra-las de outra maneira nos limites do teatro. Quando se adapta algo para outra mídia, esses pontos devem ser notados para que aquilo que funciona em A não se torne extremamente desagradável em B.
A personagem de Ofélia também está péssima. Irritante e afetada. E por último, o estilo de atuação teatral do filme era bem comum para todos os filmes da época, mas não deixa de ser algo que tenha datado o filme, ainda mais pela densidade do texto.
O conceito de Stardust, apesar de derivativo de outros filmes, é ótimo. Um fluxo de consciência que passa de maneira não linear por vários momentos da vida do protagonista, em tom semiautobiográfico da vida do próprio Allen.
A obra através disso busca enquadrar-se em duas principais temáticas, sendo a primeira o sentido da vida, e o segundo, uma crítica aos costumes das classes mais ricas, em especial as pseudo-artisticas. Para pontuar algumas cenas que elucidam esses pontos do filme, cito a cena inicial, onde vemos dois trens, um repleto de pessoas ricas e atrativas, e o outro composto por pessoas pobres e miseráveis. Woody Allen tenta passar para o trem das pessoas ricas, mas é barrado. Ao chegarem ao fim da linha, vemos que o destino de ambos os trens era o mesmo: um lixão.
A mensagem é clara, não importa o quão rico você seja, o destino de todos é o mesmo: a morte. Sendo, portanto, o ponto inicial do ensaio sobre a vida que Woody Allen busca traçar. E também, há aqui a ironia, pois, após lutar tanto para chegar ao trem da riqueza e lascívia, durante o filme todo Woody Allen é bombardeado pelo lado ruim dessa ambição. Outro ponto sempre presente no filme, é o de que, mesmo tendo a vida ganha, isso não significa ter uma vida feliz. Levando em conta o diálogo a respeito do filme “ladrões de bicicleta”, onde ele compara a busca por trabalho das classes mais pobres, com a busca por sentido e estabilidade emocional das classes mais ricas, em especial dele próprio.
Sendo, portanto, um filme tão arrojado de significados e metáforas, o que me fez considerá-lo um dos mais fracos que já vi do Allen?
A começar, o filme é extremamente repetitivo em todas as coisas que ele quer dizer. O único motivo para repetir tanto as mesmas coisas seria para alcançar um tom cômico das situações, mas a última coisa que o filme consegue ser é engraçado. E não é nem como se o filme tentasse ser engraçado; Woody Allen fez algumas das melhores comédias de todos os tempos, e durante o filme todo ele se autocrítica tanto pela comédia quanto pela pseudo-intelectualidade de seus novos projetos (novos na época). A impressão que fica, é a de que ele não sabia exatamente que tom queria pra seu ensaio cinematográfico.
Resultado disso, é um filme perdido, cheio de meios debates, com diálogos afetados e dolorosamente derivativos de outros filmes do mesmo diretor. Okay, Allen, entendemos que todo mundo fica te parando pra pedir autógrafos e que você pega uma nova mulher a cada esquina, stop it. Falando assim até pode parecer que sou hater dele; muito pelo contrário, é um dos meus diretores favoritos, mas esse filme realmente é problemático. As referências dele também estão mais óbvias aqui que em outros filmes. A burguesia e subjetividade dos filmes do Bunuel (que não sou lá muito fã), as várias inspirações do cinema de Fellini (em especial 8 ½), o existencialismo de Bergman, que na verdade está em todo filme da fase madura do Allen, entre outros… Mais do que qualquer outro filme do Allen, aqui parecia que ele realmente queria evocar a atmosfera de filmes desses outros diretores, mais do que a sua própria. Um lado bom disso é que, provavelmente, trata-se do filme do diretor mais apurado tecnicamente. As cenas são todas dirigidas com muito cuidado e atenção aos mínimos detalhes, como sombras, enquadramentos e movimentações, detalhes que normalmente o Allen não se preocupa muito e só deixa a câmera seguir o fluxo dos diálogos. Sendo portanto, tecnicamente, o filme mais maduro do Allen, mas também o mais derivativo.
Vale dizer também que os outros filmes do diretor com temáticas parecidas superam, e muito, este, bem como os filmes inspirados nos de Allen lançados postumamente, em especial os de Charlie Kaufman (quem ver este filme e comparar com “Adaptação” ou “Sinedoque, nova york” perceberá o que estou dizendo).
A estrutura do filme pode ser clichê e previsível, mas a execução é primorosa. A começar pela qualidade da animação, cheia de espírito e ideias criativas para composições visuais e fluídez das cenas. O trio protagonista também é excelente, mas com algumas ressalvas. Kubo está perfeito, trabalho de voz impecável e desenvolvimento competente e engajante. A macaca também está ótima, assim como o Besouro, que além de memoráveis, carismáticos e ótimo trabalho de voz, a química contrastante entre a absoluta ordem dela e as trapalhadas dele rende momentos genuinamente hilários.
O problema é quando surge o plot twist, que além de previsível, complica as coisas. Na parte da macaca porque ela deveria saber daquilo o tempo todo pelo o que a história indica, e na parte do bizorro porque o lado dele ser um alívio cômico não casa muito bem com a ideia dele ser o pai do garoto.
Outro problema do filme é o vilão e o final que deram pra ele, que é até um pouco bizarro de se assistir. Tentaram dar a ele um ar meio perturbado com uns tiques excêntricos, mas no final isso tornou-o bem genérico. Se o tivessem mantido como aquele senhor são e manipulativo que ele aparenta ser na primeira cena em que apareceu, guiando Kubo em seu sonho, teria sido um vilão bem mais memorável.
Terminando em uma nota positiva: A trilha sonora é excelente!
Filme baseado nas lendas folclóricas japonesas. O último ser da espécie de criaturas "Kappa" é encontrado por um jovem, e após conseguir enturmar-se com a família, têm de lidar com o impacto que sua aparição trouxe para os tempos modernos.
Com fortes e relevantes críticas a cultura de entretenimento, que constantemente abusa da privacidade e capacidade mental de celebridades e/ou virais, assim como a própria sociedade, que através das constantes fotos e idolatrias reduz preciosas culturas, tradições, ou seres vivos em meros produtos de consumo e entretenimento. Não é raro ir a parques zoológicos e ver pessoas abusando dos limites para conseguir melhores fotos, ou então vendo animais como banais espetáculos; lembro por exemplo, de um parque que fui uma vez, e todos estavam insatisfeitos e resmungões pelo fato do Hipopótamo estar submerso, provavelmente dormindo. Alguns inclusive comentando de jogar algo para acordar o bicho, como se este tivesse a mínima obrigação de estar acordado para suprir os desejos de pessoas vazias e insensíveis a vida animal.
Tendo em vista o quanto cada vez mais coisas assim se popularizam, o filme se mantém extremamente atual, mesmo já tendo sido lançado há mais de 10 anos (acabei de descobrir isso!). A obra então busca uma conscientização a respeito da importância de se preservar a cultura, e não deixar toda a beleza do mundo e dos seres vivos (inclusive humanos) serem reduzidas a descartáveis produtos. Vale a pena destacar também o humor do filme, que consegue ser extremamente engraçado em diversos momentos, uma pitada de humor negro e excelente timing. As cenas mais dramáticas envolvendo o drama de Coo e seu pai também são muito tocantes e memoráveis, apesar de dependerem de uma coincidência absurda que tira o espectador do filme por um momento.
É, não é um filme perfeito. Entre os principais problemas pode-se destacar a animação que fica meio inconsistente em alguns momentos (bem poucos), a trilha sonora que é genérica, esquecível, e às vezes até incomoda; além de que a subtrama envolvendo o bullying e o "interesse romântico" é bem clichê e prejudica a empatia do público pelo menino, que por 2 terços do filme é um completo babaca com a garota. Mas mesmo com esses problemas, sem dúvida vale uma conferida. Ótima animação!
Nessa adaptação do mito grego para os tempos modernos, muitas mudanças são feitas em relação a lenda original, sendo a mais notável delas, o amor de Orfeu por Eurídice. Enquanto o mito visava demonstrar o máximo que o amor de um homem pode chegar, ao ponto dele ir até o próprio submundo resgatá-la (além de ser um clássico exemplo de herói trovador romântico) aqui isto é totalmente subvertido.
Orfeu não é romântico, pelo contrário. Está a todo momento evitando sua mulher, o que inclusive gera uma genial cena no final, onde ele usa da regra de não poder olhá-la como desculpa para se ausentar ainda mais. É o retrato de um artista desiludido com a vida e suas paixões. Não é difícil traçar o que provavelmente foi a vida de Orfeu antes do filme começar; perdidamente apaixonado por Eurídice, escrevendo-a lindas poesias, até que quando finalmente a teve, cansou-se do romantismo, e reclusou-se de sua arte e sua amada.
Em meio a isso, um novo amor surge em sua vida: A Morte. Que brilhante sacada é por um poeta, literalmente, se apaixonando pela morte. Vemos nas mais inúmeras poesias e poemas, essa relação tão próxima de amor e morte. Os poetas sempre pareciam usar da morte como escapatória para as desilusões amorosas, "ela não me ama, me matarei!" (ala Werther). Nesse filme, podemos refletir que talvez, realmente, o grande amor da vida de tais poetas é a própria morte, não a mulher que os levam ao suicídio.
Esse e muitos outros paralelos podem ser traçados entre a re-imaginação de Cocteau sobre o mito de Orfeu. Junte essas belas alegorias a um dos mais impressionantes usos de efeitos práticos da história do cinema, e o resultado é um clássico do surrealismo.
Agora, não trata-se de um filme perfeito. As várias alegorias falham em encontrar um elo forte entre si; cada uma parece inclusive contradizer a outra. A desilusão romântica representada por Orfeu se perde quando, ao encontrar a morte, se torna exatamente o trovador do qual o filme havia subvertido, proclamando juras de amor eterno a nova paixão. Há também o problema da coerência narrativa, que eu sei, não adianta esperar muito disso em um filme surreal, mas dava pra modificar várias pequenas coisas que parecem avulsas a trama e apenas transgredem o espectador da condução alegórica visada pelo diretor.
O filme visa criar poesia através de imagens. Hoje em dia não é raro filmes tentarem fazer algo assim, mas quase sempre se tornam esses filmes amadores de cineastas que, por não terem orçamento pra fazerem algo coerente, simplesmente saem filmando qualquer coisa e fica uma impressão de vazio e pretenciosismo enfadonho.
Agora, estamos falando de um filme de 1930, onde o conceito de criar poesia usando do cinema era novo e intrigante. O resultado não poderia ter sido melhor. Usando de todos os recursos e técnicas cinematográficas existentes até então, ao longe de 50 minutos, Cocteau vai desde o erótico até a violência explícita, passando pelo fantasioso e o simplesmente estranho, na busca de transmitir uma sensação no espectador.
Talvez o grande mérito do filme é o quanto envelheceu bem. Visualmente o filme se mantém tão impactante e belo quanto deve ter sido em seu lançamento; nem clássicos mais conhecidos como "um cão andaluz" (que tem uma proposta parecida) conseguiram se manter tão bem com o passar dos anos quanto esse.
Porém, pode se argumentar que o filme é vazio de significados, mas discordo. Os temas discutidos aqui são vários, mas nunca é tentado dar uma resposta a qualquer das perguntas levantadas pelo filme. É sabido que, certas emoções e pensamentos, não podem ser transmitidos ou explicados através de palavras, apenas sentidos, individualmente, por cada um. O filme então busca, passando pelo filtro individual de seu criador, tentar nos fazer sentir as questões que o aflige, usando do audiovisual em todo seu potencial.
Infelizmente ainda não li a obra original de Richard Adams, que tudo indica ser primorosa, então minha base comparativa foi a animação clássica de 1974. Antes de eu entrar no mérito de comparação, é muito mais importante e relevante avaliar esta obra por si só.
A animação, apesar de estar longe de um CGI de filmes como “Mogli” ou “Rei Leão” (que claramente são o estilo 3D realista que tentaram capturar para a série) ainda é de extrema qualidade, ainda mais se julgarmos o orçamento que séries assim costumam ter. As únicas cenas que o CGI realmente afeta a história, são nos momentos de colisão entre personagens. Pra uma história carregada de batalhas grandiosas entre os animais, a falta de visceralidade compromete muito as cenas. As performances estão todas incríveis, conseguem transmitir o texto com muito sentimento e naturalidade, o que é difícil, já que a abordagem aqui escolhida visa ser mais realista e humana do que a de 74, que era mais fabulesca e lírica, e portanto, não necessitava de tanta naturalidade na interpretação do texto em razão da teatralidade do tom.
Outra crítica a ser feita, é o desenvolvimento dos personagens. Apesar de todos os personagens estarem bem, como já foi dito, com ótimos arcos, e cada um ter, pelo menos, um grande momento; a série parece apressar-se em pontos importantíssimos dos personagens, e isso porque tem quase 4 horas de duração. Isso fica claro com Hezel, figura central da história, que logo nos 10 primeiros minutos já é tratado como grande líder sendo que nada nos foi mostrado disso. Quase todos os acontecimentos devem mais aos outros personagens do que a ele. A falta de uma caracterização diferenciada ao personagem também torna difícil localizá-lo em meio aos outros em várias cenas. São problemas graves sendo que, tecnicamente, ele é o protagonista da história, mas é ofuscado por, pelo menos, outros 4 personagens mais fortes que ele.
Outro exemplo de mal planejamento de arco é o que diz respeito ao vilão. É um excelente vilão, mas é um tanto estranho o flashback que colocam do personagem no início do quarto episódio. Apesar do estilo do flash back ser um dos momentos mais peculiares da minissérie, ficou deslocado da trama e mal desenvolvido. Isso por que o motivo de vermos uma cena como aquela seria entendermos a jornada desse personagem, mas não sabemos praticamente nada de seu desenvolvimento. Vemos apenas um flash de como ele era antes, e sabemos como ele é agora, tudo que aconteceu entre esses dois pontos é um enigma. Isso leva a duas alternativas: ou a inclusão do flash back foi desnecessária, já que o personagem já era ótimo sendo um mistério completo, ou deveriam ter expandido essa origem. Talvez um episódio a mais apenas focado nisso, ou a inserção de mais flash’s ao longo dos quatro episódios teria resolvido o problema.
Entrando no mérito comparativo, no geral, ambas as obras são extremamente engajantes e emocionantes em seu jeito, além de contarem uma história maravilhosa de uma maneira competente (o que para uma história maravilhosa é suficiente).
Mas, o que diminui esta versão em relação antecessor, é: Primeiramente, a animação 2D é muito mais atemporal que a 3D, de certa forma essa minissérie já nasceu datada tecnologicamente, e em poucos anos terá sido deixada pra trás por outras animações em séries superiores. Já a 2D apenas melhora com o tempo. Outro ponto importante é a violência, marca registrada do clássico de 74, e que tem um papel importante na história, longe de ser gratuita. O sangue que escorre dos personagens na animação clássica da outra dimensão a tudo que está em jogo, e choca o espectador no melhor sentido da palavra possível. Aqui, quase nunca o sangue é visto, o que dá a tudo um ar de artificialidade. Outro ponto que só poderia julgar bem caso tivesse lido o livro é a duração. A animação clássica com apenas 1h30 compactou muito bem a história, mas talvez os momentos a mais da minissérie sejam pontos importantes da obra que foram deixados de lado do clássico. Mas caso foram apenas transgressões para preencher a duração, é outro ponto de inferioridade dessa versão. Anyway, ainda é uma excelente minissérie.
Boa adaptação do clássico de Rudyard Kipling, mas com uma estrutura um tanto estranha e desconexa, além de umas mudanças de tom abruptas e chocantes que deixa o filme quase perturbador (quem viu o filme sabe do que estou falando. Não sei se essa surpresa deixa o filme melhor pela coragem, ou pior pela falta de noção).
Os personagens não são bem explorados; na verdade fica a sensação de que o roteiro ou era pontual demais, colocando cada um em cada lugar em cada momento exato, ou então, que o filme foi cortado ao extremo, deixando inúmeros personagens sem ter o que fazer ou fazendo apenas o estritamente necessário para que o filme prosseguisse (deuses ex-machina enrustidos), sendo um desperdício de grandes atores que estavam muito investidos em seus papéis.
É foda ter que comparar com o da Disney. Aconteceu mais uma dessas inconveniências em que dois filmes sobre o mesmo tema caem de acontecer na mesma época; a Warner estava planejando sua adaptação bem antes do da Disney. Além de que o foco das duas são bem diferentes, este aqui é uma adaptação do livro, o da Disney é um remake da animação.
Mas não tem jeito, comparar é inevitável com os dois tendo saído tão próximos. As principais virtudes da Disney foram, em primeiro lugar, dar mais atenção a estrutura da história, pois o livro e, consequentemente, a animação clássica, tem estruturas muito difíceis de serem adaptadas. Isso porque trata-se de uma narrativa épica fragmentada em contos não-lineares sobre diferentes temas, saber conectá-las em algo fechado de 2 horas demanda muita atenção e cuidado. Faltou muito disso aqui. Outro ponto que a Disney fez melhor, foi o uso de efeitos especiais, mas que não seria tão relevante caso a história dessa versão tivesse sido melhor contada.
O que fica desse filme pro espectador realmente é a perda de potencial, parece que, por terem feito o filme logo após o sucesso da Disney, estavam todos desmotivados com o produto, e o finalizaram com descaso. Triste, poderia ter sido a adaptação definitiva dos contos de Kipling.
Apesar de adorar o cinema de Herzog, esse filme é definitivamente problemático. A começar pelos pontos positivos: A cinematografia de Herzog sempre belíssima e particular; paisagens capturadas com simplicidade mas, ainda assim, atmosféricas. Sempre transmitindo uma aura poética e natural ao espectador. A história contada é boa por si só, e imagino que o livro que serviu de base pro filme seja ótimo, mas infelizmente é extremamente raro.
Indo para aspectos incômodos do filme: As atuações transitam entre "bem, Herzog estava tentando capturar algo mais realista aqui" e "ok, agora o maluco só ta atuando mal mesmo". Tem poucos momentos que se destacam na parte de atuação, como a cena em que Kaspar vai se apresentar para aquele aristocrático, que mesmo aparecendo pouquíssimo no filme, é extremamente sútil e é a melhor atuação do filme.
A edição também é estranha, com várias cenas se alongando por muito mais tempo do que seria normalmente o necessário. Pode-se argumentar que foi proposital, mas não entendo o propósito em se deixar um longa enfadonho. Só fazendo cortes nos lugares certos o filme diminuiria uns 10 minutos.
Apesar de ser um grande admirador de Henry Salick e das histórias de Roald Dahl, não consegui gostar muito desse filme. As partes em live action são quase inassistíveis de tão forçadas e enfadonhas (além de quase amadorescas). Quando o filme se torna animação é um alívio, mas ainda assim, não há nada fascinante nem engajante o bastante pra tornar esse filme memorável. As músicas são na maior parte derivativas e esquecíveis.
Imagino que o filme tenha feito parte da vida de milhares de pessoas, ou ainda consiga ter esse efeito mesmo em adultos. Mas definitivamente não foi pra mim, e sei que se tivesse visto na infância poderia gostar mais, mas os grandes filmes infantis pra mim são bons em qualquer época; muitos deles só tenho conhecido recentemente e são fantásticos. Esse aqui, não desceu pra mim.
Seria inocência da minha parte pensar que uma animação infantil pudesse adaptar com extrema fidelidade o clássico literário de Jack London, repleto de violência, selvajeria, crueldade e etc... Na verdade, é estranho pensar a quantidade absurda de produtoras cinematográficas que vêem na bibliografia do escritor um bom local para se tirar filmes infantis; okay, é a história de um lobo-cachorro fofinho, mas isso não é suficiente pra tirar de cena toda a podridão humana e horror animal representado na obra.
Mas isso tudo é irrelevante, estamos analisando o filme e o que nos interressa é se ele conseguiu cumprir seu papel. E digo que sim! A animação é claramente de baixo orçamento, mas isso não a impede de ser muito bela e criativa. A direção e atuações também estão no ponto, principalmente o que diz respeito ao personagem Beauty Smith, que, em uma mistura de Gollum com Steve Buscemi, consegue ser um vilão muito memorável.
Aos problemas do filme, tenho a ressaltar principalmente dois: O primeiro é a incoerência emocional de alguns personagens. O Índio por exemplo, deixa seu amado cachorro para trás sem nem ao menos dizer adeus; enquanto o coronel e sua mulher, em um piscar de olhos, já amam White Fang como se estivessem com ele à décadas. O segundo problema, é como os roteiristas não souberam trabalhar o desenvolvimento intelectual de White Fang. No livro, para cada aprendizado novo do canino, era necessário intensas repetições para que ele compreendesse e se adequasse ao condicionamento. Pedir algo tão denso assim pode ser exagero, mas sem dúvida havia formas melhores de fazer o personagem compreender as coisas ao seu redor do que o jeito que fizeram aqui. É quase como se os humanos conversassem, literalmente, com o cachorro. Como se ele fosse dotado de total capacidade racional humana.
Isso pode não chegar a comprometer o filme porque, de novo, é uma animação infanto-juvenil, mas boa parte da genialidade da obra vem da maneira realista como o protagonista é desenvolvido, o que acabou me decepcionando.
Pré-história é uma das minhas temáticas favoritas, mas também, uma das menos exploradas no cinema, o que faz com que, mesmo este sendo um filme muito aquém do seu potencial, ainda é um dos melhores de seu nicho.
Os grandes problemas do filme estão na criação cultural da tribo, que é bem clichê e esquecível, os efeitos visuais que, na maioria das vezes, é plástico e tiram o espectador da atmosfera; os diálogos que são quase inexistentes, e quando existem são péssimos (aliás, a ausência de diálogos teria feito um bem enorme a história) e também a perda de potencial ao se passar em um mundo pré-histórico.
Mas há muitas virtudes, uma delas é a história envolvente e tocante, tudo que diz respeito a relação homem e lobo é gradual e convincente, as paisagens são belas e há um ótimo trabalho de direção no sentido de dar dimensão as locações, e a luta por sobrêvivencia no filme funciona e entretém. A trilha é clichê mas cumpre muito bem o seu papel, e as atuações são operantes.
Merecia um 3 ou 3,5, mas dou quatro porque, como disse, sou apaixonado pelo tema e esse talvez seja o melhor filme sobre tribos pré-históricas após "A Guerra do Fogo" (Se não considerarmos 2001 parte do subgênero).
Esse é o mais próximo de um filme da Disney feito pelo Monty Python ou pelo Scorsese. Subversivo, objetivo e extremamente engraçado, menos sentimental mal ainda assim com muito coração ❤️
"Multidões são muito mais fáceis de controlar do que indivíduos.."
Nessa ousada e peculiar adaptação da obra e vida de Kafka, Steven Sodenbergh sabe misturar perfeitamente os estilos popularizados pela obra do escritor, mas incluindo também um sábio estudo da vida desse que é um dos personagens mais curiosos e especiais da história da literatura mundial.
Sou suspeito para falar do filme pois Kafka é meu escritor favorito, mas o filme é inegavelmente fascinante, desde a direção perfeccionista impregada por Sodenbergh, passando pela magistral trilha sonora (uma mistura de música onírica com música tradicional Judaica, casando perfeitamente com a atmosfera dos livros, que sempre tem referências ao judaísmo da família do escritor) até a maravilhosa cinematografia, que sabe dosar muito bem o barroco, com o expressionista e com os elementos surreais.
Nota especial tambem, é claro, para a perfeita atuação de Jeromy Irons no papel principal. Filmaço!
Atuações icônicas, cinematografia perfeita (principalmente pelo jogo de luzes e sombras) e boa adaptação do livro, por conseguir torná-lo mais acessível ao público casual sem perder a essência da obra literária.
O longa, porém, sofre pela morbidez narrativa. Trata-se de um filme que, apesar de curto, é lento e enfadonho. Talvez não tenha envelhecido muito bem.
Não há profundidade nos personagens, a narrativa é apressada e não abre espaço para um enfoque maior a elementos importantes da história, ou pra profundidade que o King colocou no livro. Os temas existenciais e o mergulho no personagem principal que há na obra original, é descartado, sobrando apenas uma história de terror eficiente porém vazia e esquecível.
Tinha inúmeros preconceitos com esse filme, mas tive que dar o braço a torcer sobre todos eles.
O que mais gosto nele é que me fez lembrar 2 dos meus contos de "terror" favoritos. Um deles, se não me engano escrito por H.G Wells, fala de um homem que é desafiado a passar uma noite em uma casa considerada mal assombrada. Ele então corre desesperado na noite, se apavora, ouve coisas, sente coisas, até maxucar a cabeça, acordar no outro dia, e perceber que o único agente sobrenatural que ele lutava era o seu próprio medo de que pudesse haver algum.
O outro é o clássico "Entre as paredes de Eryx" de H.P Lovecraft. Um astronauta entra em um labirinto invisivel para pegar a peça preciosa contida no meio dele, e depois não consegue mais sair.
Em ambos, assim como no filme, o que predomina é o desespero crescente, o confronto do fisico com o psicológico, a paranoia e o desgaste. A sutileza é perturbadora, e a invisibilidade do sobrenatural é tão aterradora quanto qualquer vulto fantasmagórico imaginável. A famosa cartilha da "sugestão do horror", ao invés do horror escrachado, agindo mais na imaginação do espectador do que na pura e simples visão.
Não apenas essa manipulação é genial, como os atores e a direção são de um realismo absoluto e angustiante. Outra sacada genial foi tapar as improbabilidades e incoerencias da narrativa colocando profundidade nos personagens, como por exemplo, a estupidez de continuar gravando o documentário mesmo após os eventos sobrenaturais ficarem evidentes, é justificado com a comovente cena da protogonista dizendo que aquilo é tudo que restou para ela em meio ao desespero que se agravou. O filme então transforma suas falhas em ideias que dão camadas a trama.
Mesmo sendo um aficcionado por Star Trek, demorei anos pra conferir a serie animada por pura falta de interesse ao achar que seria infantiloide e inferior a série clássica. Mas que engano o meu!
Com o mesmo espírito e teor filosófico e inventivo, a série consegue, mesmo com recursos de animação limitadissimos, dar desenvolvimento aos personagens e a saga mostrada até então; contendo vários episódios que dão continuidade a episódios clássicos, ou que estabelecem coisas importantes para os personagens, ou ambos, como no caso do episódio em que Spock volta no tempo através do portal de "cidade a beira da eternidade"(melhor episódio de star trek na minha opinião) e acaba por se desenvolver como um dos melhores insights sobre o personagem do Spock entre tudo que já foi feito com ele.
Nota também para os episódios que podem despirocar de vez e fazer coisas impossíveis de serem feitas na série clássica, como o episódio da cidade submersa, o infame e inacreditável episódio sobre lucifer (em um desenho infantil dos anos 70! Star trek sempre a frente de seu tempo), e o último episódio dessa temporada, sobre um grupo de alienigenas recrutado para resgatar um artefato religioso de um planeta em erupção. Psicodelia pura.
South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes
3.9 316 Assista AgoraFica melhor cada vez que se assiste. De longe a melhor comédia em animação de todos os tempos, o humor está presente a todo momento de todas as formas. Muito diferente de porcarias como "festa da salsicha" ou "mr.pickles", South Park (Graças aos gênios Parker e Stone) sempre soube como conciliar escatologia, humor negro e humor convencional de maneira inteligente e hilária, ao invés de gratuita.
O filme é incessante, deve ter uma piada a cada 5 segundos, e não me lembro de uma que não tenha funcionado, e tudo isso permeado pela qualidade musical de Trey Parker que é um excelente compositor. É difícil escolher uma única canção favorita, todas são hilárias, e também, muito belas. Há também a preocupação de dar ao menos um bom momento para cada personagem, e sub-arcos realmente interessantes.
Veja um exemplo da qualidade do filme em relação a outros semelhantes. Enquanto festa da salsicha é só um monte de trocadilho porco sobre sexo e sobre "hahaha vamos geral se comer e ta tudo certo", as piadas sexuais aqui tem conceitos excelente, no caso, o sub-arco do Diabo com Saddam Hussein. Não apenas é algo tão absurdo que de cara já ranca gargalhadas do espectador pelo simples fato de alguém ter imaginado isso, mas é uma piada que ajuda no desenvolvimento dos personagens em questão. O fato de Saddam só querer sexo está diretamente relacionado com o desfecho da história, além de ser uma espécie de crítica a casais que realmente sofrem por relações abusivas. Não bastasse isso, este sub-arco rende duas músicas fantásticas: "up there" que é uma linda canção sobre alguém estar distante de seus sonhos, e "i can change", que também não deixa de ser repleta de significados intertextuais sobre pessoas que usam de seu passado para justificar os erros presentes.
A outra piada sexual do filme é a busca de Stan pelo clitóris, outra sacada brilhante, que transforma um problema adulto através da inocência do personagem, em uma saga mágica e metafórica sobre encontrar o sentido e ordem para sua ambição amorosa.
Da mesma forma, as piadas de peido esbanjadas por Terrence & Philip são uma sátira fantástica a indústria de cinema de massas, e todo o arco relacionado a isso aborda inúmeros temas: Como os pais se preocupam mais com coisas supérfluas do que com de fato serem bons pais, a hipocrisia do fato de que violência no cinema está tudo bem mas dizer uns palavrões já basta para censurá-lo....
Não bastasse tudo isso o filme ainda acha espaço para virar uma sátira de guerra, mostrando o racismo presente nos campos de batalha e exagerando ao máximo a violência dos massacres. Por essas e outras "south park bigger longer and uncut", é não só uma animação hilária, mas definitivamente, uma obra-prima da comédia.
O Jogador
4.0 85 Assista AgoraRobert Altman é o mestre da sutileza. O humor do filme está nas entrelinhas; determinados gestos dos personagens, pequenos detalhes nos objetos de cena, algumas expressões e metalinguagens... Essas pequenas coisas constroem a base do filme, sendo essa uma grande sátira a indústria norte-americana de cinema.
Na superfície do filme, temos também um grande thriller, movido a fantásticas atuações, dilemas morais perfeitamente desenvolvidos, personagens fortes e temas significantes. A todo momento o filme brinca com a metalinguagem daquilo que é verdade e o que é ficção, os personagens tentam fugir da realidade a todo custo, e o final do filme, por mais feliz que seja, deixa uma ambiguidade no ar. Pela conversa no telefone entre Tim Robbins e o homem que o ameaçava, percebemos que ele tem um certo desespero na voz quando diz "tem que me garantir de que o final será esse", dando a entender que o que vemos é, assim como "habeas corpus", a versão fantasiosa do que realmente aconteceu, e o personagem procura esperança para sua vida nessa ficção.
De certa forma, todos nós vemos no cinema uma fuga de nossa própria vida, Nos alienamos da tristeza que nos cerca com falsos finais felizes e conclusões banais, e essa fuga se torna nossa salvação. Percebam o detalhe de que, a única personagem que tenta manter a realidade no final do filme que estão produzindo, é também a única que termina com um final triste e amargo, enquanto todos os outros que renunciaram a realidade conseguiram alcançar o final feliz.
Assim como Nashville é uma genial sátira ao mundo da música e todos os seus jogos de falsidade, egoísmo e avareza, Altman faz o mesmo em The Player com a indústria do cinema. Tudo que eu falei está mais relacionado ao roteiro, cheio de subtextos e discussões, mas a direção precisa ser exaltada. A câmera se move de um jeito espetacular, a começar por um dos planos sequência mais impressionantes que já vi em um filme. Clássico absoluto!
John Wick: Um Novo Dia Para Matar
3.9 1,1K Assista AgoraComo renovar o gênero de ação em um período do qual praticamente tudo que poderia ter sido feito no gênero já foi repetido exaustivamente? É difícil entender como, mas John Wick conseguiu.
O grande mérito desses filmes talvez seja a genialidade de como a franquia entendeu o que faz de um filme de ação bom, e ainda agregou a isso suficientes coisas para torná-lo original dentro dos limites que o filme se propõem. A começar pelo personagem central; carismático, com uma pitada de drama e um objetivo moral que dá um rumo ao personagem e cria um elo dele e o espectador. Sim, a ideia de "assassino querendo se aposentar" é uma das mais repetidas da história do cinema, mas algo ser clichê, não é o mesmo que "fácil de ser executado". Pelo contrário. Pra cada "os imperdoáveis" que fez a coisa do jeito certo, existem centenas de "x-men origens Wolverine" que fizeram da maneira mais tosca e sem alma possível.
Definindo bem o personagem, que tal uma direção competente? Não precisa ser um George Miller, basta um bom diretor que saiba manter a história e atuações nas rédeas, com um bom padrão de qualidade, e cenas onde a ação se mantém clara ao público e vibrante aos olhos. Longe daquelas porcarias de câmeras tremidas que invadiram o gênero e destruíram todas as cenas que puderam. Em John Wick a ação é clara e objetiva, e o filme ainda se preocupa em criar momentos marcantes, como a cena do tiroteio no labirinto de espelhos, que é um caleidoscópio de violência.
Agora, a grande sacada vem na história. Ao mesmo tempo que você estabelece um plot simplista, que torna a ação ágil e perfeita para aqueles que só querem um cinema escapista, você ainda faz dela uma espécie de sátira do gênero. Qual o motivo mais banal pra um cara decidir matar 2 milhões de pessoas? Bem, e não são todos?
Nessa continuação, o universo é expandido. O quão brilhante é vermos esse contraste da violência banal e descontrolada, com os modos e códigos morais que regem o mundo dos assassinos.Outro aspecto extremamente acertado desses filmes, é o cansaço e mutilação que o protagonista sofre ao longo de sua jornada. Sim, John Wick matará a todos, mas no processo, será esfaqueado, baleado, pisado, cuspido, atropelado.… Esse pequeno detalhe, torna o personagem mais vulnerável, e por mais foda que ele seja, o público ainda teme por sua vida, e torce a todo momento para que ele consiga escapar de mais uma.
Por fim, o detalhe que foi a cereja no bolo de sangue pra mim, e fez eu chegar a conclusão de que, se o terceiro filme manter o nível, será a melhor trilogia de ação do cinema: A paranoia!
Sim! Um dos melhores conceitos pra boas histórias é a paranoia. Como em "the thing" ou “invasores de almas”, onde qualquer um pode ser o alienígena, ou então nas obras de Agatha Christie, onde qualquer pessoa em um local pequeno pode ser o culpado pelo crime; aqui nós temos um universo onde qualquer um pode ser um assassino, e todos querem te matar. Quase que um apocalipse zumbi elevado ao quadrado, o próximo filme da franquia tem tudo na mão pra ser uma obra-prima da escatologia e ação. Torcemos para que tudo dê certo.
O Conto da Princesa Kaguya
4.4 802 Assista AgoraMais um grande exemplo da beleza artística e cultural única das animações japonesas. O filme se inicia apenas como uma fábula fofa e belíssimamente animada a respeito de amizade, criação e mudanças; mas quanto mais o tempo passa, mais camadas vão se juntando ao escopo inicial, dando ao filme inúmeras possibilidades interpretativas e um forte elemento dramático.
Toda a busca dos pretendentes pelo presente que conquistaria Kaguya é brilhantemente construído, com as doses exatas de humor, romance e tragédia. Kaguya, inclusive, é uma das personagens mais complexas e fascinantes que já vi em uma animação. Sua evolução de garota simples e feliz para uma princesa deprimida, seguido de sua busca por algo que traga-lhe a felicidade de volta; é uma trajetória de personagem extremamente marcante e identificável.
Os únicos problemas do filme são algumas transgressões e excessos de elementos narrativos como sonhos e narrações, que poderiam ter sido podados, eliminando assim o segundo problema do filme: a duração. De resto, clássico contemporânea do gênero.
Hamlet
4.2 80Sem dúvida, o que mais se sobressaí nessa adaptação do clássico dramatúrgico de Shakespeare, é o elemento visual. Com uma ostentação de estilo e coreografia de câmera que buscam atingir os limites do que era possível se fazer no cinema da época, o filme consegue criar cenas extremamente icônicas, em especial a da apresentação de teatro, onde acompanhamos um plano-sequência brilhante, e também a cena da batalha final, feito com muita sutileza e enquadramentos precisos. Fora essas cenas que buscam o espetáculo cinematográfico, há outras que visam um apelo mais poético e onírico, como as conversas de Hamlet com o fantasma de seu pai, ou o suicídio de Ofélia; cenas muito belas. Há também outras mais simples e íntimas, como o monólogo "ser ou não ser" ou o diálogo no cemitério.
Portanto, visualmente, não poderia haver uma direção mais acertada que levasse o clássico ao cinema, de maneira a proporcionar uma experiência única e diferente da que se vê nos palcos. Em compensação para a genialidade narrativa do filme, a parte de roteiro deixa a desejar. Mesmo sendo muito fiel ao texto original, o filme não entende que uma boa adaptação necessita de mudanças substanciais de uma mídia a outra, isso significa que, há muitos momentos do filme onde a busca pela fidelidade textual atrapalha a linguagem visual. Há monólogos desnecessários e cenas que não precisavam de diálogo, além de outras que só existem na peça porque não haveria forma de mostra-las de outra maneira nos limites do teatro. Quando se adapta algo para outra mídia, esses pontos devem ser notados para que aquilo que funciona em A não se torne extremamente desagradável em B.
A personagem de Ofélia também está péssima. Irritante e afetada. E por último, o estilo de atuação teatral do filme era bem comum para todos os filmes da época, mas não deixa de ser algo que tenha datado o filme, ainda mais pela densidade do texto.
Memórias
4.0 168 Assista AgoraO conceito de Stardust, apesar de derivativo de outros filmes, é ótimo. Um fluxo de consciência que passa de maneira não linear por vários momentos da vida do protagonista, em tom semiautobiográfico da vida do próprio Allen.
A obra através disso busca enquadrar-se em duas principais temáticas, sendo a primeira o sentido da vida, e o segundo, uma crítica aos costumes das classes mais ricas, em especial as pseudo-artisticas. Para pontuar algumas cenas que elucidam esses pontos do filme, cito a cena inicial, onde vemos dois trens, um repleto de pessoas ricas e atrativas, e o outro composto por pessoas pobres e miseráveis. Woody Allen tenta passar para o trem das pessoas ricas, mas é barrado. Ao chegarem ao fim da linha, vemos que o destino de ambos os trens era o mesmo: um lixão.
A mensagem é clara, não importa o quão rico você seja, o destino de todos é o mesmo: a morte. Sendo, portanto, o ponto inicial do ensaio sobre a vida que Woody Allen busca traçar. E também, há aqui a ironia, pois, após lutar tanto para chegar ao trem da riqueza e lascívia, durante o filme todo Woody Allen é bombardeado pelo lado ruim dessa ambição. Outro ponto sempre presente no filme, é o de que, mesmo tendo a vida ganha, isso não significa ter uma vida feliz. Levando em conta o diálogo a respeito do filme “ladrões de bicicleta”, onde ele compara a busca por trabalho das classes mais pobres, com a busca por sentido e estabilidade emocional das classes mais ricas, em especial dele próprio.
Sendo, portanto, um filme tão arrojado de significados e metáforas, o que me fez considerá-lo um dos mais fracos que já vi do Allen?
A começar, o filme é extremamente repetitivo em todas as coisas que ele quer dizer. O único motivo para repetir tanto as mesmas coisas seria para alcançar um tom cômico das situações, mas a última coisa que o filme consegue ser é engraçado. E não é nem como se o filme tentasse ser engraçado; Woody Allen fez algumas das melhores comédias de todos os tempos, e durante o filme todo ele se autocrítica tanto pela comédia quanto pela pseudo-intelectualidade de seus novos projetos (novos na época). A impressão que fica, é a de que ele não sabia exatamente que tom queria pra seu ensaio cinematográfico.
Resultado disso, é um filme perdido, cheio de meios debates, com diálogos afetados e dolorosamente derivativos de outros filmes do mesmo diretor. Okay, Allen, entendemos que todo mundo fica te parando pra pedir autógrafos e que você pega uma nova mulher a cada esquina, stop it.
Falando assim até pode parecer que sou hater dele; muito pelo contrário, é um dos meus diretores favoritos, mas esse filme realmente é problemático. As referências dele também estão mais óbvias aqui que em outros filmes. A burguesia e subjetividade dos filmes do Bunuel (que não sou lá muito fã), as várias inspirações do cinema de Fellini (em especial 8 ½), o existencialismo de Bergman, que na verdade está em todo filme da fase madura do Allen, entre outros…
Mais do que qualquer outro filme do Allen, aqui parecia que ele realmente queria evocar a atmosfera de filmes desses outros diretores, mais do que a sua própria. Um lado bom disso é que, provavelmente, trata-se do filme do diretor mais apurado tecnicamente. As cenas são todas dirigidas com muito cuidado e atenção aos mínimos detalhes, como sombras, enquadramentos e movimentações, detalhes que normalmente o Allen não se preocupa muito e só deixa a câmera seguir o fluxo dos diálogos. Sendo portanto, tecnicamente, o filme mais maduro do Allen, mas também o mais derivativo.
Vale dizer também que os outros filmes do diretor com temáticas parecidas superam, e muito, este, bem como os filmes inspirados nos de Allen lançados postumamente, em especial os de Charlie Kaufman (quem ver este filme e comparar com “Adaptação” ou “Sinedoque, nova york” perceberá o que estou dizendo).
Kubo e as Cordas Mágicas
4.2 635 Assista AgoraA estrutura do filme pode ser clichê e previsível, mas a execução é primorosa. A começar pela qualidade da animação, cheia de espírito e ideias criativas para composições visuais e fluídez das cenas. O trio protagonista também é excelente, mas com algumas ressalvas. Kubo está perfeito, trabalho de voz impecável e desenvolvimento competente e engajante. A macaca também está ótima, assim como o Besouro, que além de memoráveis, carismáticos e ótimo trabalho de voz, a química contrastante entre a absoluta ordem dela e as trapalhadas dele rende momentos genuinamente hilários.
O problema é quando surge o plot twist, que além de previsível, complica as coisas. Na parte da macaca porque ela deveria saber daquilo o tempo todo pelo o que a história indica, e na parte do bizorro porque o lado dele ser um alívio cômico não casa muito bem com a ideia dele ser o pai do garoto.
Outro problema do filme é o vilão e o final que deram pra ele, que é até um pouco bizarro de se assistir. Tentaram dar a ele um ar meio perturbado com uns tiques excêntricos, mas no final isso tornou-o bem genérico. Se o tivessem mantido como aquele senhor são e manipulativo que ele aparenta ser na primeira cena em que apareceu, guiando Kubo em seu sonho, teria sido um vilão bem mais memorável.
Terminando em uma nota positiva: A trilha sonora é excelente!
Férias de Verão com Coo
4.1 28Filme baseado nas lendas folclóricas japonesas. O último ser da espécie de criaturas "Kappa" é encontrado por um jovem, e após conseguir enturmar-se com a família, têm de lidar com o impacto que sua aparição trouxe para os tempos modernos.
Com fortes e relevantes críticas a cultura de entretenimento, que constantemente abusa da privacidade e capacidade mental de celebridades e/ou virais, assim como a própria sociedade, que através das constantes fotos e idolatrias reduz preciosas culturas, tradições, ou seres vivos em meros produtos de consumo e entretenimento. Não é raro ir a parques zoológicos e ver pessoas abusando dos limites para conseguir melhores fotos, ou então vendo animais como banais espetáculos; lembro por exemplo, de um parque que fui uma vez, e todos estavam insatisfeitos e resmungões pelo fato do Hipopótamo estar submerso, provavelmente dormindo. Alguns inclusive comentando de jogar algo para acordar o bicho, como se este tivesse a mínima obrigação de estar acordado para suprir os desejos de pessoas vazias e insensíveis a vida animal.
Tendo em vista o quanto cada vez mais coisas assim se popularizam, o filme se mantém extremamente atual, mesmo já tendo sido lançado há mais de 10 anos (acabei de descobrir isso!). A obra então busca uma conscientização a respeito da importância de se preservar a cultura, e não deixar toda a beleza do mundo e dos seres vivos (inclusive humanos) serem reduzidas a descartáveis produtos. Vale a pena destacar também o humor do filme, que consegue ser extremamente engraçado em diversos momentos, uma pitada de humor negro e excelente timing. As cenas mais dramáticas envolvendo o drama de Coo e seu pai também são muito tocantes e memoráveis, apesar de dependerem de uma coincidência absurda que tira o espectador do filme por um momento.
É, não é um filme perfeito. Entre os principais problemas pode-se destacar a animação que fica meio inconsistente em alguns momentos (bem poucos), a trilha sonora que é genérica, esquecível, e às vezes até incomoda; além de que a subtrama envolvendo o bullying e o "interesse romântico" é bem clichê e prejudica a empatia do público pelo menino, que por 2 terços do filme é um completo babaca com a garota. Mas mesmo com esses problemas, sem dúvida vale uma conferida. Ótima animação!
Orfeu
4.3 40 Assista AgoraNessa adaptação do mito grego para os tempos modernos, muitas mudanças são feitas em relação a lenda original, sendo a mais notável delas, o amor de Orfeu por Eurídice. Enquanto o mito visava demonstrar o máximo que o amor de um homem pode chegar, ao ponto dele ir até o próprio submundo resgatá-la (além de ser um clássico exemplo de herói trovador romântico) aqui isto é totalmente subvertido.
Orfeu não é romântico, pelo contrário. Está a todo momento evitando sua mulher, o que inclusive gera uma genial cena no final, onde ele usa da regra de não poder olhá-la como desculpa para se ausentar ainda mais. É o retrato de um artista desiludido com a vida e suas paixões. Não é difícil traçar o que provavelmente foi a vida de Orfeu antes do filme começar; perdidamente apaixonado por Eurídice, escrevendo-a lindas poesias, até que quando finalmente a teve, cansou-se do romantismo, e reclusou-se de sua arte e sua amada.
Em meio a isso, um novo amor surge em sua vida: A Morte. Que brilhante sacada é por um poeta, literalmente, se apaixonando pela morte. Vemos nas mais inúmeras poesias e poemas, essa relação tão próxima de amor e morte. Os poetas sempre pareciam usar da morte como escapatória para as desilusões amorosas, "ela não me ama, me matarei!" (ala Werther). Nesse filme, podemos refletir que talvez, realmente, o grande amor da vida de tais poetas é a própria morte, não a mulher que os levam ao suicídio.
Esse e muitos outros paralelos podem ser traçados entre a re-imaginação de Cocteau sobre o mito de Orfeu. Junte essas belas alegorias a um dos mais impressionantes usos de efeitos práticos da história do cinema, e o resultado é um clássico do surrealismo.
Agora, não trata-se de um filme perfeito. As várias alegorias falham em encontrar um elo forte entre si; cada uma parece inclusive contradizer a outra. A desilusão romântica representada por Orfeu se perde quando, ao encontrar a morte, se torna exatamente o trovador do qual o filme havia subvertido, proclamando juras de amor eterno a nova paixão. Há também o problema da coerência narrativa, que eu sei, não adianta esperar muito disso em um filme surreal, mas dava pra modificar várias pequenas coisas que parecem avulsas a trama e apenas transgredem o espectador da condução alegórica visada pelo diretor.
O Sangue de um Poeta
4.2 44O filme visa criar poesia através de imagens. Hoje em dia não é raro filmes tentarem fazer algo assim, mas quase sempre se tornam esses filmes amadores de cineastas que, por não terem orçamento pra fazerem algo coerente, simplesmente saem filmando qualquer coisa e fica uma impressão de vazio e pretenciosismo enfadonho.
Agora, estamos falando de um filme de 1930, onde o conceito de criar poesia usando do cinema era novo e intrigante. O resultado não poderia ter sido melhor. Usando de todos os recursos e técnicas cinematográficas existentes até então, ao longe de 50 minutos, Cocteau vai desde o erótico até a violência explícita, passando pelo fantasioso e o simplesmente estranho, na busca de transmitir uma sensação no espectador.
Talvez o grande mérito do filme é o quanto envelheceu bem. Visualmente o filme se mantém tão impactante e belo quanto deve ter sido em seu lançamento; nem clássicos mais conhecidos como "um cão andaluz" (que tem uma proposta parecida) conseguiram se manter tão bem com o passar dos anos quanto esse.
Porém, pode se argumentar que o filme é vazio de significados, mas discordo. Os temas discutidos aqui são vários, mas nunca é tentado dar uma resposta a qualquer das perguntas levantadas pelo filme. É sabido que, certas emoções e pensamentos, não podem ser transmitidos ou explicados através de palavras, apenas sentidos, individualmente, por cada um. O filme então busca, passando pelo filtro individual de seu criador, tentar nos fazer sentir as questões que o aflige, usando do audiovisual em todo seu potencial.
Em Busca de Watership Down
4.1 37 Assista AgoraInfelizmente ainda não li a obra original de Richard Adams, que tudo indica ser primorosa, então minha base comparativa foi a animação clássica de 1974. Antes de eu entrar no mérito de comparação, é muito mais importante e relevante avaliar esta obra por si só.
A animação, apesar de estar longe de um CGI de filmes como “Mogli” ou “Rei Leão” (que claramente são o estilo 3D realista que tentaram capturar para a série) ainda é de extrema qualidade, ainda mais se julgarmos o orçamento que séries assim costumam ter. As únicas cenas que o CGI realmente afeta a história, são nos momentos de colisão entre personagens. Pra uma história carregada de batalhas grandiosas entre os animais, a falta de visceralidade compromete muito as cenas. As performances estão todas incríveis, conseguem transmitir o texto com muito sentimento e naturalidade, o que é difícil, já que a abordagem aqui escolhida visa ser mais realista e humana do que a de 74, que era mais fabulesca e lírica, e portanto, não necessitava de tanta naturalidade na interpretação do texto em razão da teatralidade do tom.
Outra crítica a ser feita, é o desenvolvimento dos personagens. Apesar de todos os personagens estarem bem, como já foi dito, com ótimos arcos, e cada um ter, pelo menos, um grande momento; a série parece apressar-se em pontos importantíssimos dos personagens, e isso porque tem quase 4 horas de duração. Isso fica claro com Hezel, figura central da história, que logo nos 10 primeiros minutos já é tratado como grande líder sendo que nada nos foi mostrado disso. Quase todos os acontecimentos devem mais aos outros personagens do que a ele. A falta de uma caracterização diferenciada ao personagem também torna difícil localizá-lo em meio aos outros em várias cenas. São problemas graves sendo que, tecnicamente, ele é o protagonista da história, mas é ofuscado por, pelo menos, outros 4 personagens mais fortes que ele.
Outro exemplo de mal planejamento de arco é o que diz respeito ao vilão. É um excelente vilão, mas é um tanto estranho o flashback que colocam do personagem no início do quarto episódio. Apesar do estilo do flash back ser um dos momentos mais peculiares da minissérie, ficou deslocado da trama e mal desenvolvido. Isso por que o motivo de vermos uma cena como aquela seria entendermos a jornada desse personagem, mas não sabemos praticamente nada de seu desenvolvimento. Vemos apenas um flash de como ele era antes, e sabemos como ele é agora, tudo que aconteceu entre esses dois pontos é um enigma. Isso leva a duas alternativas: ou a inclusão do flash back foi desnecessária, já que o personagem já era ótimo sendo um mistério completo, ou deveriam ter expandido essa origem. Talvez um episódio a mais apenas focado nisso, ou a inserção de mais flash’s ao longo dos quatro episódios teria resolvido o problema.
Entrando no mérito comparativo, no geral, ambas as obras são extremamente engajantes e emocionantes em seu jeito, além de contarem uma história maravilhosa de uma maneira competente (o que para uma história maravilhosa é suficiente).
Mas, o que diminui esta versão em relação antecessor, é: Primeiramente, a animação 2D é muito mais atemporal que a 3D, de certa forma essa minissérie já nasceu datada tecnologicamente, e em poucos anos terá sido deixada pra trás por outras animações em séries superiores. Já a 2D apenas melhora com o tempo. Outro ponto importante é a violência, marca registrada do clássico de 74, e que tem um papel importante na história, longe de ser gratuita. O sangue que escorre dos personagens na animação clássica da outra dimensão a tudo que está em jogo, e choca o espectador no melhor sentido da palavra possível. Aqui, quase nunca o sangue é visto, o que dá a tudo um ar de artificialidade.
Outro ponto que só poderia julgar bem caso tivesse lido o livro é a duração. A animação clássica com apenas 1h30 compactou muito bem a história, mas talvez os momentos a mais da minissérie sejam pontos importantes da obra que foram deixados de lado do clássico. Mas caso foram apenas transgressões para preencher a duração, é outro ponto de inferioridade dessa versão.
Anyway, ainda é uma excelente minissérie.
Mogli: Entre Dois Mundos
3.4 390 Assista AgoraBoa adaptação do clássico de Rudyard Kipling, mas com uma estrutura um tanto estranha e desconexa, além de umas mudanças de tom abruptas e chocantes que deixa o filme quase perturbador (quem viu o filme sabe do que estou falando. Não sei se essa surpresa deixa o filme melhor pela coragem, ou pior pela falta de noção).
Os personagens não são bem explorados; na verdade fica a sensação de que o roteiro ou era pontual demais, colocando cada um em cada lugar em cada momento exato, ou então, que o filme foi cortado ao extremo, deixando inúmeros personagens sem ter o que fazer ou fazendo apenas o estritamente necessário para que o filme prosseguisse (deuses ex-machina enrustidos), sendo um desperdício de grandes atores que estavam muito investidos em seus papéis.
É foda ter que comparar com o da Disney. Aconteceu mais uma dessas inconveniências em que dois filmes sobre o mesmo tema caem de acontecer na mesma época; a Warner estava planejando sua adaptação bem antes do da Disney. Além de que o foco das duas são bem diferentes, este aqui é uma adaptação do livro, o da Disney é um remake da animação.
Mas não tem jeito, comparar é inevitável com os dois tendo saído tão próximos. As principais virtudes da Disney foram, em primeiro lugar, dar mais atenção a estrutura da história, pois o livro e, consequentemente, a animação clássica, tem estruturas muito difíceis de serem adaptadas. Isso porque trata-se de uma narrativa épica fragmentada em contos não-lineares sobre diferentes temas, saber conectá-las em algo fechado de 2 horas demanda muita atenção e cuidado. Faltou muito disso aqui. Outro ponto que a Disney fez melhor, foi o uso de efeitos especiais, mas que não seria tão relevante caso a história dessa versão tivesse sido melhor contada.
O que fica desse filme pro espectador realmente é a perda de potencial, parece que, por terem feito o filme logo após o sucesso da Disney, estavam todos desmotivados com o produto, e o finalizaram com descaso. Triste, poderia ter sido a adaptação definitiva dos contos de Kipling.
O Enigma de Kaspar Hauser
4.0 328Apesar de adorar o cinema de Herzog, esse filme é definitivamente problemático.
A começar pelos pontos positivos: A cinematografia de Herzog sempre belíssima e particular; paisagens capturadas com simplicidade mas, ainda assim, atmosféricas. Sempre transmitindo uma aura poética e natural ao espectador. A história contada é boa por si só, e imagino que o livro que serviu de base pro filme seja ótimo, mas infelizmente é extremamente raro.
Indo para aspectos incômodos do filme: As atuações transitam entre "bem, Herzog estava tentando capturar algo mais realista aqui" e "ok, agora o maluco só ta atuando mal mesmo". Tem poucos momentos que se destacam na parte de atuação, como a cena em que Kaspar vai se apresentar para aquele aristocrático, que mesmo aparecendo pouquíssimo no filme, é extremamente sútil e é a melhor atuação do filme.
A edição também é estranha, com várias cenas se alongando por muito mais tempo do que seria normalmente o necessário. Pode-se argumentar que foi proposital, mas não entendo o propósito em se deixar um longa enfadonho. Só fazendo cortes nos lugares certos o filme diminuiria uns 10 minutos.
James e o Pêssego Gigante
3.8 467 Assista AgoraApesar de ser um grande admirador de Henry Salick e das histórias de Roald Dahl, não consegui gostar muito desse filme. As partes em live action são quase inassistíveis de tão forçadas e enfadonhas (além de quase amadorescas). Quando o filme se torna animação é um alívio, mas ainda assim, não há nada fascinante nem engajante o bastante pra tornar esse filme memorável. As músicas são na maior parte derivativas e esquecíveis.
Imagino que o filme tenha feito parte da vida de milhares de pessoas, ou ainda consiga ter esse efeito mesmo em adultos. Mas definitivamente não foi pra mim, e sei que se tivesse visto na infância poderia gostar mais, mas os grandes filmes infantis pra mim são bons em qualquer época; muitos deles só tenho conhecido recentemente e são fantásticos. Esse aqui, não desceu pra mim.
Caixa de Pássaros
3.4 2,3K Assista AgoraHollywood > Produz qualquer filme que pareça um episódio marromeno de Twilight Zone
Jovens na internet > OMG! BEST ORIGINAL MOVIE OF ALL TIME!!!!
Your Studio and You
3.6 6Até em um curta de 12 minutos Trey Parker e Matt Stone são geniais!
Caninos Brancos
3.8 38 Assista AgoraSeria inocência da minha parte pensar que uma animação infantil pudesse adaptar com extrema fidelidade o clássico literário de Jack London, repleto de violência, selvajeria, crueldade e etc...
Na verdade, é estranho pensar a quantidade absurda de produtoras cinematográficas que vêem na bibliografia do escritor um bom local para se tirar filmes infantis; okay, é a história de um lobo-cachorro fofinho, mas isso não é suficiente pra tirar de cena toda a podridão humana e horror animal representado na obra.
Mas isso tudo é irrelevante, estamos analisando o filme e o que nos interressa é se ele conseguiu cumprir seu papel. E digo que sim! A animação é claramente de baixo orçamento, mas isso não a impede de ser muito bela e criativa. A direção e atuações também estão no ponto, principalmente o que diz respeito ao personagem Beauty Smith, que, em uma mistura de Gollum com Steve Buscemi, consegue ser um vilão muito memorável.
Aos problemas do filme, tenho a ressaltar principalmente dois: O primeiro é a incoerência emocional de alguns personagens. O Índio por exemplo, deixa seu amado cachorro para trás sem nem ao menos dizer adeus; enquanto o coronel e sua mulher, em um piscar de olhos, já amam White Fang como se estivessem com ele à décadas.
O segundo problema, é como os roteiristas não souberam trabalhar o desenvolvimento intelectual de White Fang. No livro, para cada aprendizado novo do canino, era necessário intensas repetições para que ele compreendesse e se adequasse ao condicionamento. Pedir algo tão denso assim pode ser exagero, mas sem dúvida havia formas melhores de fazer o personagem compreender as coisas ao seu redor do que o jeito que fizeram aqui. É quase como se os humanos conversassem, literalmente, com o cachorro. Como se ele fosse dotado de total capacidade racional humana.
Isso pode não chegar a comprometer o filme porque, de novo, é uma animação infanto-juvenil, mas boa parte da genialidade da obra vem da maneira realista como o protagonista é desenvolvido, o que acabou me decepcionando.
Alfa
3.4 296 Assista AgoraPré-história é uma das minhas temáticas favoritas, mas também, uma das menos exploradas no cinema, o que faz com que, mesmo este sendo um filme muito aquém do seu potencial, ainda é um dos melhores de seu nicho.
Os grandes problemas do filme estão na criação cultural da tribo, que é bem clichê e esquecível, os efeitos visuais que, na maioria das vezes, é plástico e tiram o espectador da atmosfera; os diálogos que são quase inexistentes, e quando existem são péssimos (aliás, a ausência de diálogos teria feito um bem enorme a história) e também a perda de potencial ao se passar em um mundo pré-histórico.
Mas há muitas virtudes, uma delas é a história envolvente e tocante, tudo que diz respeito a relação homem e lobo é gradual e convincente, as paisagens são belas e há um ótimo trabalho de direção no sentido de dar dimensão as locações, e a luta por sobrêvivencia no filme funciona e entretém. A trilha é clichê mas cumpre muito bem o seu papel, e as atuações são operantes.
Merecia um 3 ou 3,5, mas dou quatro porque, como disse, sou apaixonado pelo tema e esse talvez seja o melhor filme sobre tribos pré-históricas após "A Guerra do Fogo" (Se não considerarmos 2001 parte do subgênero).
A Nova Onda do Imperador
3.7 686 Assista AgoraEsse é o mais próximo de um filme da Disney feito pelo Monty Python ou pelo Scorsese. Subversivo, objetivo e extremamente engraçado, menos sentimental mal ainda assim com muito coração ❤️
Kafka
3.6 32"Multidões são muito mais fáceis de controlar do que indivíduos.."
Nessa ousada e peculiar adaptação da obra e vida de Kafka, Steven Sodenbergh sabe misturar perfeitamente os estilos popularizados pela obra do escritor, mas incluindo também um sábio estudo da vida desse que é um dos personagens mais curiosos e especiais da história da literatura mundial.
Sou suspeito para falar do filme pois Kafka é meu escritor favorito, mas o filme é inegavelmente fascinante, desde a direção perfeccionista impregada por Sodenbergh, passando pela magistral trilha sonora (uma mistura de música onírica com música tradicional Judaica, casando perfeitamente com a atmosfera dos livros, que sempre tem referências ao judaísmo da família do escritor) até a maravilhosa cinematografia, que sabe dosar muito bem o barroco, com o expressionista e com os elementos surreais.
Nota especial tambem, é claro, para a perfeita atuação de Jeromy Irons no papel principal. Filmaço!
Drácula
3.9 296 Assista AgoraAtuações icônicas, cinematografia perfeita (principalmente pelo jogo de luzes e sombras) e boa adaptação do livro, por conseguir torná-lo mais acessível ao público casual sem perder a essência da obra literária.
O longa, porém, sofre pela morbidez narrativa. Trata-se de um filme que, apesar de curto, é lento e enfadonho. Talvez não tenha envelhecido muito bem.
Cemitério Maldito
3.7 1,1K Assista AgoraO filme é uma adaptação fiel e divertida. Só.
Não há profundidade nos personagens, a narrativa é apressada e não abre espaço para um enfoque maior a elementos importantes da história, ou pra profundidade que o King colocou no livro. Os temas existenciais e o mergulho no personagem principal que há na obra original, é descartado, sobrando apenas uma história de terror eficiente porém vazia e esquecível.
A Bruxa de Blair
3.1 1,6KTinha inúmeros preconceitos com esse filme, mas tive que dar o braço a torcer sobre todos eles.
O que mais gosto nele é que me fez lembrar 2 dos meus contos de "terror" favoritos. Um deles, se não me engano escrito por H.G Wells, fala de um homem que é desafiado a passar uma noite em uma casa considerada mal assombrada. Ele então corre desesperado na noite, se apavora, ouve coisas, sente coisas, até maxucar a cabeça, acordar no outro dia, e perceber que o único agente sobrenatural que ele lutava era o seu próprio medo de que pudesse haver algum.
O outro é o clássico "Entre as paredes de Eryx" de H.P Lovecraft. Um astronauta entra em um labirinto invisivel para pegar a peça preciosa contida no meio dele, e depois não consegue mais sair.
Em ambos, assim como no filme, o que predomina é o desespero crescente, o confronto do fisico com o psicológico, a paranoia e o desgaste. A sutileza é perturbadora, e a invisibilidade do sobrenatural é tão aterradora quanto qualquer vulto fantasmagórico imaginável. A famosa cartilha da "sugestão do horror", ao invés do horror escrachado, agindo mais na imaginação do espectador do que na pura e simples visão.
Não apenas essa manipulação é genial, como os atores e a direção são de um realismo absoluto e angustiante. Outra sacada genial foi tapar as improbabilidades e incoerencias da narrativa colocando profundidade nos personagens, como por exemplo, a estupidez de continuar gravando o documentário mesmo após os eventos sobrenaturais ficarem evidentes, é justificado com a comovente cena da protogonista dizendo que aquilo é tudo que restou para ela em meio ao desespero que se agravou. O filme então transforma suas falhas em ideias que dão camadas a trama.
Jornada nas Estrelas: A Série Animada (1ª Temporada)
3.8 19 Assista AgoraMesmo sendo um aficcionado por Star Trek, demorei anos pra conferir a serie animada por pura falta de interesse ao achar que seria infantiloide e inferior a série clássica. Mas que engano o meu!
Com o mesmo espírito e teor filosófico e inventivo, a série consegue, mesmo com recursos de animação limitadissimos, dar desenvolvimento aos personagens e a saga mostrada até então; contendo vários episódios que dão continuidade a episódios clássicos, ou que estabelecem coisas importantes para os personagens, ou ambos, como no caso do episódio em que Spock volta no tempo através do portal de "cidade a beira da eternidade"(melhor episódio de star trek na minha opinião) e acaba por se desenvolver como um dos melhores insights sobre o personagem do Spock entre tudo que já foi feito com ele.
Nota também para os episódios que podem despirocar de vez e fazer coisas impossíveis de serem feitas na série clássica, como o episódio da cidade submersa, o infame e inacreditável episódio sobre lucifer (em um desenho infantil dos anos 70! Star trek sempre a frente de seu tempo), e o último episódio dessa temporada, sobre um grupo de alienigenas recrutado para resgatar um artefato religioso de um planeta em erupção. Psicodelia pura.