Solitude autoconhecimento, descoberta. Uma busca por algo, por si mesmo, pelo que há de mais profundo e recôndito em si mesmo e na paisagem branca que com vagas pegadas se escreve. “Como o silêncio nos alpes sem ter vento” diz o verso de Dante na comédia que é como aqui uma jornada espiritual por íngremes caminhos como uma montanha: uma montanha mágica que resplandece no fulgor do mistério feito brasa vulcânica a incendiar essa fusão lírica de si . Quem poderá caminhar pela beleza desvelando o coração do desconhecido? Contemplação e segredo são motes do silêncio do ser.
Tem mar, tem rio, tem piscina, mas ao contrário do que estes elementos sugerem, não trata-se de um filme solar; isto é, não é um filme alegre, divertido e isso é bom. A água perpassa a película de ponta a ponta, apresentando-se mais como um elemento das profundezas do ser, das suas dores, do que propriamente das suas alegrias (ainda que estas existam, sejam pequenas felicidades, em doses homeopáticas). É um filme que se deve mergulhar num "mundo sujo", nublado, de uma fotografia escura que é retrato da alma sofrida e em transformação das personagens. Tudo é lento e muito difícil, é como se o ciclo de purificação sugerido pela água fosse antes um ciclo de purgação enfrentado pela mãe grávida e sozinha, o filho adolescente querendo descobrir a vida, a menina menor que margeia isso tudo e a mãe da mulher que tem a sua alegria entristecida. É, um bom filme que vale a pena ser visto pois ressoa como uma pedra atirada a um lago.
"O inexplicável horror de saber que esta vida é verdadeira" Fernando Pessoa. O horror, no filme, é saber que o que ali ocorre se repetiu inúmeras vezes mais de modo igual ou bastante semelhante. Alguém faz um pedido numa rede fast food e vc obedece. Uma voz do outro lado do telefone faz um pedido e vc obedece. É absurdo o que a voz te diz, mas é a voz de uma autoridade, então vc não questiona, não se indaga, apenas obedece. Vc no fundo, quer obedecer, é seu desejo obedecer, sobretudo por se tratar de algo que menospreza e humilha uma outra pessoa. Vc não tem culpa de nada, afinal de contas vc está apenas cumprindo com seu trabalho, com seu ofício. E, vc obedece. Acho que o filme trata disso: a natureza do mal, a banalidade do mal. Os carrascos nazistas não sentiam culpa pq afinal de contas apenas cumpriam ordens, apenas obedeciam. O trabalho liberta e vc obedece. Manda quem pode obedece quem não tem juízo ou apaga vilmente sua humanidade em nome de uma ordem na qual vc consegue se regozijar com outro sobre seu poder: Não tenha medo, nem sinta remorsos, apenas obedeça. Afinal, se as regras são más, vc não é o vilão é apenas um ser humano obediente.
Sim, eu te entendo pequeno, John. Eu te entendo. Com quanto desprezo se destrói uma vida? Com quantas brigas se perde o caminho de casa? Com quanta solidão se esvazia uma alma? Quem poderá te compreender nos caminhos rotos da perdição de si mesmo? Pequeno, John: nunca é fácil eu sei. Nem será para o teu sangue e tua revolta. Grite a dor de teus olhos na surdez insana de tua vida.
Há um verso da poeta Wislawa Szymborska que diz: "O mundo não merece/ o fim do mundo". Com certeza. "Porra, eu odeio pessoas" fala a personagem no filme. Trata-se de um tema batido no cinema, essa coisa de fim do mundo, pós apocalipse e tudo mais. O que há de interessante na película é a abordagem disso. Então o mundo acabou e não fomos avisados? Ou melhor, mesmo vendo o que está na nossa cara, na nossa frente como o filme na tela e o mundo em que vivemos ainda assim não percebemos o que ocorre? Deu ruim, gente. Apocalipse tecnológico: A internet caiu e o ser humano ainda funciona? Grande reset global, guerra híbrida? Terrorismo? Ataques cibernéticos? "Dançamos em círculos e supomos,/ mas o segredo senta no meio e sabe" Robert Frost. E, o filme nos diz: "Se ainda não está paranoico, talvez seja tarde demais." . Pois é, talvez seja tarde demais. A culpa é sempre do outro: Russos, árabes, asiáticos e vilões em geral. Teoria da conspiração/ sobrevivencialismo. Até os animais que nos encaram, nos encurralam não dizem nada? Pq não nos dizem o que há? Esse azul que insiste/persiste, essas questões que não sei elucidar. Essas pinturas que cambiam conforme cambiam os acontecimentos; essa voragem do olhar que nos devora na hora do fim que não sabemos, ó doce e terrível antropoceno! "O mundo não merece/ o fim do mundo".
Assistir a um filme assim deixa a gente mais leve, mais feliz, mais humano. Dá um quentinho no coração! Há muito tempo eu não dava tantas risadas, desse riso que comove, que faz a gente querer bem cada personagem por conta de sua bondade sincera, de sua loucura poética.O filme envolve a gente como um abraço com seu humanismo tocante. Muito bom!
Excelente! Gosto do silêncio, do jeito minimalista como se conduzem gestos e olhares e a narrativa como um todo. Tudo ali fica dito nos interstícios, nas camadas mais profundas da psicologia, na delicadeza torturante da ação expandindo-se como uma pedra silenciosamente atirada a um lago. A trama se adensa por elipses, convence e prende nas atuações sublimes, no quão tudo é discreto e cortante ao mesmo tempo. Filme para se apreciar aos poucos, sentindo seu sabor entre seco e arrebatador.
É belo, forte e sensível. Toca a realidade agreste/árida de Paloma, seus sonhos de felicidade e seus sofrimentos por ser apenas quem ela é. Nos humaniza pela empatia, por nos fazer ver/entender em profundidade a dor daqueles que são vistos como diferentes, como se eles não fossem assim como nós seres humanos que amam, que sonham, que desejam para si e para os seus uma vida de realizações, uma vida plena. Paloma é um filme necessário pela beleza dura que cava fundo no sentimento de que é preciso sonhar, é preciso igualdade e respeito. É uma bruta flor de plena delicadeza e sinceridade. Altamente recomendável.
Não sei se é lícito dizer de um filme, mas direi mesmo assim: Tem charme. Um charme provocante, baseado numa tensão erótica e sexual. A srta. K teria algo de kafkiana? Talvez. O elemento onírico faz-se presente com o clima obsessivo de uma perseguição pautada pelo desejo. Eros comanda a película, devassada pelo olhar que consome-se a si e ao outro pelo gozo do interdito. É um belo filme!
É um desses filmes em que a gente fica sem palavras. Simplesmente engasga. Dói. A dor pode ser bela? Pode. Os traumas, os amores, a guerra, tudo beira a crueldade, mas uma crueldade lírica. Desde a paisagem áspera, fria, aqui tudo faz sofrer, se contorce como carne de cães, um corpo enforcado, um olhar vazado e inerte. Esse endereço desconhecido nós o perdemos. Quem sabe chegar ao coração? Kim Ki-duk sabe.
Gosto principalmente dos longos silêncios e da mirada voyeurística. Parece haver, um processo de desumanização de coisificação mesmo. O homem transformado em um cão de guarda, um guardião, suficientemente adestrado, calado, sempre ao redor, nas bordas das conversas e das pessoas e ao que parece até de si mesmo. Alguém que existe de modo a não existir, a não ser perceptível, a ser submisso e sutil em sua silenciosa invisibilidade. Bom filme!
Eu diria o seguinte: Há dois filmes; um dentro do outro. A coisa toda vai se revelando pouco a pouco, numa espécie de efeito strip-tease, um personagem desvelando as ações de si e o andamento do filme. O primeiro filme me parece é aquele do inverno, da nevasca, onde as ações parecem mais comedidas, mais intimistas e coisas assim. O segundo, é aquele do calor escaldando, de um outro continente, outros dramas que na verdade, reverberam no primeiro filme. Tudo está conectado. Situações randômicas, num rolê amplamente aleatório. Contudo, para mim o segundo filme que há meio que estraga a beleza do primeiro, ainda que lógico dentro do arco do drama, que para mim, se amplia mais do que necessário. Mas, gostei bastante, do efeito engenhoso e intrigante da obra, que é muito gostosa de se assistir, que prende a gente nas suas volutas repletas de suspense.
Excelente! As marcas em carne viva de um Brasil profundo estão todas ali representadas. Um país braseiro, áspero, senhorial, de uma elite que menospreza o seu povo, que o renega, que quer o apagamento das identidades, das culturas que ficam cerceadas/caladas pela voz do dono, do mando, do dono da voz. "Eles derrubam nós, a gente nasce de novo" diz a certa altura uma personagem. Assim, na carne brasileira, há esse respiro fundo de lirismo combativo, essa beleza que grita mesmo no silêncio dos olhares silenciados, mas que se sabe força avassaladora ao modo de um fogaréu.
Filmaço! Provavelmente, a adolescência é a melhor, e com certeza, a mais turbulenta fase da vida. Novas experiências, vivências, descobertas formam uma avalanche com os hormônios em flor, um tsunami de emoções e beleza estridente, tal como este filme. Tudo é muito forte, muito (in)tenso, daí a urgência pela busca de uma identidade, de pertencimento a um grupo, e de repente, o rolê pode acabar numas viagens erradas, ultrapassando os limites, escapando ao mundo real dos conflitos internos/externo para deleitar-se/perder-se em paraísos artificiais. Em mim, deu uma nostalgia jovem, uma melancolia funda e boa de sentir.
Singelo e terno. Belo e docemente memorialista. Um bater constante entre o primeiro amor, os bilhetinhos no armário, e a aspereza da guerra. As bombas, os bombardeios e o coração pulsando no alumbramento da beleza da menina que a gente ama. Quem não se recorda, rememora, do amor nos tempos da escola? Em meio, a esse mundo ingênuo e de descobertas surge a explosão do conflito bélico. Quem sabe, como ali, a imaginação, a fantasia infantil de um super-herói possa derrotar/superar a bestialidade das armas. Vale muito a pena assistir!
É nada mais nada menos que nosso mundo contemporâneo: O vazio, a solidão hiperconectada dos grandes centros urbanos, toda a incomunicabilidade de nossa época. Paradoxalmente, parece que quanto mais os meios tecnológicos se desenvolvem, mais cai a capacidade humana de contato real com os outros seres humanos.
Que filme! Do começo ao fim não perde a pegada de manter-se fortemente dentro do drama. A personagem tem uma força de caráter incrível, uma coisa admirável, uma enorme fibra! É impressionante sua dignidade, seu humanismo mesmo em meio as vicissitudes. O filme poderia descambar para um humor fácil pela situação a qual ela se submete, mas consegue antes a proeza de ficar firme na aspereza da realidade apresentada. Gostei demais!
Fascinante. Tem uma estranheza que faz a gente se perguntar sinceramente sobre o que está havendo. É algo que desconcerta na medida em que o corpo importa e muito ao propósito do filme, mas não menos que um que dê espiritual, um mais além do mero corpo objeto de massagem e sim uma espécie de transcendência. Transmite uma paz e uma quietude ao mesmo tempo em que nos desmorona como a neve que jamais cairá novamente.
Gostei muitíssimo! Era um filme que pela temática tinha tudo pra descambar para um sentimentalismo piegas, contudo mantém-se com uma enorme força expressiva. O sentimento aqui é forte, duro, pesado conforme o exigido pela obra, as personagens são dotadas de uma profunda humanidade pelo modo e valor com que se defrontam com esse limiar, esse ponto extremo/extremado com o qual a velhinha (e q velhinha amável) se propõe. Cada um reage a seu modo perante essa questão espinhosa sobre o destino que se pode dar a própria vida
É uma obra forte, dura, chegando por vezes a crueldade. O tema da violência de gênero, marca tenaz do machismo da sociedade mexicana, latino-americana e humana de modo geral, se traduz aqui num profundo trauma da personagem central. Tratam-se, pois, de vidas destroçadas por conta desta chaga social. É um filme necessário para fazer-nos refletir sobre a aspereza deste valor de modo a mudá-lo.
Desconcertante! Vc tenta pegar o fio da meada, mas parece não haver um fio da meada, um começo, um centro por onde se entender o filme. Estará ela em coma? Será um pesadelo? Uma ficção escrita por alguém? Nunca se deve atropelar uma ovelha numa estrada. Tbm não converse com gatos mesmo que estes insistam demasiadamente. Os símbolos expostos na obra mesclam-se, fundem-se, confundem-se e nos confundem naquilo que dizem como numa espécie de espiral, de discurso paranoico. Vale assistir!
Que filme bonito! Simples, puro e singelo. Como uma espécie de Quixote, o Sr. Luz vai iluminando, dando vida e alma, aos sonhos elétricos de um lugarejo ressequido, tipo uma Taperoá sertaneja no "Auto da Compadecida". De verdade, a paisagem e os tipos humanos, em especial o Sr. Luz, me lembraram estes do Suassuna, em especial pela simpatia, pelo humanismo telúrico. O filme possui lá suas irregularidades na estrutura, mas que de forma alguma o fazem perder valor: Um valor ao mesmo tempo poético e humano de um cinema delicado e sensível. Muito Bom!
Foi estranho e bonito. "Desde que estou neste navio, estou tonta. Está sempre balançando. Eu cambaleio e fico surpresa por não cair. Surpresa por ninguém cair. E eu me pergunto como a vela fincada no salão não tomba. Como os vasos não deslizam sobre a borda da mesa. As lâmpadas não quebram contra a parede. Tudo parece magnético aqui. Como se uma força secreta fosse segurando tudo junto. A própria força do navio. Como se um majestoso castelo, ele desliza sobre as ondas. Flutuando pacificamente através de um sonho. Meu sonho. Do qual eu continuo acordando. Porque o sol brilhante perfura meus olhos, agarrando no oceano. Então, aí estou eu. Imóvel. Como o navio continua a flutuar através da água brilhante, só a noite me permite fechar os olhos. E me embala suavemente para dormir. Imagino então as baleias, a estrela do mar, as anêmonas. Todas aquelas criaturas maravilhosas e eu flutuo acima delas. E imagino, um dia, afundar nisso tudo. Neste escuro reino do silêncio que me chama. Mas, por enquanto, eu tropeço pelos corredores. Através dos salões, das cabines, enquanto me pergunto se mais alguém percebe que tudo está balançando. Talvez os passageiros que vêm e vão, que ficam para trás como vestígios na minha cabeça nebulosa. Só as gaivotas estão sempre lá. Constantemente. Meus amigos, lá fora. Eles gritam, horrivelmente. Eu penso no meu piano. Imagino alguém tocando nele. Acompanhando o canto das gaivotas. E eu olho para o mar. Um sorriso no meu rosto, porque imagino alguém perto de mim, como o luar se instala ao nosso redor. E assim, estamos de pé. Ouço o grito das gaivotas, como se estivessem cantando uma música. Uma música inusitada. Uma música, só para nós."
Um dos raros filmes que vi cujo estranhamento ( a nossos olhos ocidentais, creio), se dá por intermédio de uma estarrecedora beleza. O que mais me fascina aqui, é a fotografia que parece transitar por um cenário ao mesmo tempo de sonho e apocalipse provocando esse efeito próprio ao mundo espiritual proposto pela obra. Os fatos que poderiam causar estardalhaço, pela mirada da razão, são aqui aceitos como elementos comuns pelas personagens pois que envoltos num mundo místico distinto das amarras da racionalidade pura. Gosto dessa verdade contemplativa afeita aos mistério da vida em sua inteireza ( vide a morte) que impregna pessoas e paisagens com essa espécie de transcendência.
A Montanha
2.0 2Solitude autoconhecimento, descoberta. Uma busca por algo, por si mesmo, pelo que há de mais profundo e recôndito em si mesmo e na paisagem branca que com vagas pegadas se escreve. “Como o silêncio nos alpes sem ter vento” diz o verso de Dante na comédia que é como aqui uma jornada espiritual por íngremes caminhos como uma montanha: uma montanha mágica que resplandece no fulgor do mistério feito brasa vulcânica a incendiar essa fusão lírica de si . Quem poderá caminhar pela beleza desvelando o coração do desconhecido? Contemplação e segredo são motes do silêncio do ser.
A Felicidade das Coisas
3.4 21 Assista AgoraTem mar, tem rio, tem piscina, mas ao contrário do que estes elementos sugerem, não trata-se de um filme solar; isto é, não é um filme alegre, divertido e isso é bom. A água perpassa a película de ponta a ponta, apresentando-se mais como um elemento das profundezas do ser, das suas dores, do que propriamente das suas alegrias (ainda que estas existam, sejam pequenas felicidades, em doses homeopáticas). É um filme que se deve mergulhar num "mundo sujo", nublado, de uma fotografia escura que é retrato da alma sofrida e em transformação das personagens. Tudo é lento e muito difícil, é como se o ciclo de purificação sugerido pela água fosse antes um ciclo de purgação enfrentado pela mãe grávida e sozinha, o filho adolescente querendo descobrir a vida, a menina menor que margeia isso tudo e a mãe da mulher que tem a sua alegria entristecida. É, um bom filme que vale a pena ser visto pois ressoa como uma pedra atirada a um lago.
Obediência
3.4 309"O inexplicável horror de saber que esta vida é verdadeira" Fernando Pessoa. O horror, no filme, é saber que o que ali ocorre se repetiu inúmeras vezes mais de modo igual ou bastante semelhante. Alguém faz um pedido numa rede fast food e vc obedece. Uma voz do outro lado do telefone faz um pedido e vc obedece. É absurdo o que a voz te diz, mas é a voz de uma autoridade, então vc não questiona, não se indaga, apenas obedece. Vc no fundo, quer obedecer, é seu desejo obedecer, sobretudo por se tratar de algo que menospreza e humilha uma outra pessoa. Vc não tem culpa de nada, afinal de contas vc está apenas cumprindo com seu trabalho, com seu ofício. E, vc obedece. Acho que o filme trata disso: a natureza do mal, a banalidade do mal. Os carrascos nazistas não sentiam culpa pq afinal de contas apenas cumpriam ordens, apenas obedeciam. O trabalho liberta e vc obedece. Manda quem pode obedece quem não tem juízo ou apaga vilmente sua humanidade em nome de uma ordem na qual vc consegue se regozijar com outro sobre seu poder: Não tenha medo, nem sinta remorsos, apenas obedeça. Afinal, se as regras são más, vc não é o vilão é apenas um ser humano obediente.
Neds: Não Educados e Delinquentes
3.6 63Sim, eu te entendo pequeno, John. Eu te entendo. Com quanto desprezo se destrói uma vida? Com quantas brigas se perde o caminho de casa? Com quanta solidão se esvazia uma alma? Quem poderá te compreender nos caminhos rotos da perdição de si mesmo? Pequeno, John: nunca é fácil eu sei. Nem será para o teu sangue e tua revolta. Grite a dor de teus olhos na surdez insana de tua vida.
O Mundo Depois de Nós
3.2 889 Assista AgoraHá um verso da poeta Wislawa Szymborska que diz: "O mundo não merece/ o fim do mundo". Com certeza. "Porra, eu odeio pessoas" fala a personagem no filme. Trata-se de um tema batido no cinema, essa coisa de fim do mundo, pós apocalipse e tudo mais. O que há de interessante na película é a abordagem disso. Então o mundo acabou e não fomos avisados? Ou melhor, mesmo vendo o que está na nossa cara, na nossa frente como o filme na tela e o mundo em que vivemos ainda assim não percebemos o que ocorre? Deu ruim, gente. Apocalipse tecnológico: A internet caiu e o ser humano ainda funciona? Grande reset global, guerra híbrida? Terrorismo? Ataques cibernéticos? "Dançamos em círculos e supomos,/ mas o segredo senta no meio e sabe" Robert Frost. E, o filme nos diz: "Se ainda não está paranoico, talvez seja tarde demais." . Pois é, talvez seja tarde demais. A culpa é sempre do outro: Russos, árabes, asiáticos e vilões em geral. Teoria da conspiração/ sobrevivencialismo. Até os animais que nos encaram, nos encurralam não dizem nada? Pq não nos dizem o que há? Esse azul que insiste/persiste, essas questões que não sei elucidar. Essas pinturas que cambiam conforme cambiam os acontecimentos; essa voragem do olhar que nos devora na hora do fim que não sabemos, ó doce e terrível antropoceno! "O mundo não merece/ o fim do mundo".
Elling
4.0 17Assistir a um filme assim deixa a gente mais leve, mais feliz, mais humano. Dá um quentinho no coração! Há muito tempo eu não dava tantas risadas, desse riso que comove, que faz a gente querer bem cada personagem por conta de sua bondade sincera, de sua loucura poética.O filme envolve a gente como um abraço com seu humanismo tocante. Muito bom!
Ao Lado da Pianista
3.6 30Excelente! Gosto do silêncio, do jeito minimalista como se conduzem gestos e olhares e a narrativa como um todo. Tudo ali fica dito nos interstícios, nas camadas mais profundas da psicologia, na delicadeza torturante da ação expandindo-se como uma pedra silenciosamente atirada a um lago. A trama se adensa por elipses, convence e prende nas atuações sublimes, no quão tudo é discreto e cortante ao mesmo tempo. Filme para se apreciar aos poucos, sentindo seu sabor entre seco e arrebatador.
Paloma
3.9 59É belo, forte e sensível. Toca a realidade agreste/árida de Paloma, seus sonhos de felicidade e seus sofrimentos por ser apenas quem ela é. Nos humaniza pela empatia, por nos fazer ver/entender em profundidade a dor daqueles que são vistos como diferentes, como se eles não fossem assim como nós seres humanos que amam, que sonham, que desejam para si e para os seus uma vida de realizações, uma vida plena. Paloma é um filme necessário pela beleza dura que cava fundo no sentimento de que é preciso sonhar, é preciso igualdade e respeito. É uma bruta flor de plena delicadeza e sinceridade. Altamente recomendável.
The Woman That Dreamed About A Man
3.1 2Não sei se é lícito dizer de um filme, mas direi mesmo assim: Tem charme. Um charme provocante, baseado numa tensão erótica e sexual. A srta. K teria algo de kafkiana? Talvez. O elemento onírico faz-se presente com o clima obsessivo de uma perseguição pautada pelo desejo. Eros comanda a película, devassada pelo olhar que consome-se a si e ao outro pelo gozo do interdito. É um belo filme!
Endereço Desconhecido
3.9 13É um desses filmes em que a gente fica sem palavras. Simplesmente engasga. Dói. A dor pode ser bela? Pode. Os traumas, os amores, a guerra, tudo beira a crueldade, mas uma crueldade lírica. Desde a paisagem áspera, fria, aqui tudo faz sofrer, se contorce como carne de cães, um corpo enforcado, um olhar vazado e inerte. Esse endereço desconhecido nós o perdemos. Quem sabe chegar ao coração? Kim Ki-duk sabe.
O Guardião
3.4 5Gosto principalmente dos longos silêncios e da mirada voyeurística. Parece haver, um processo de desumanização de coisificação mesmo. O homem transformado em um cão de guarda, um guardião, suficientemente adestrado, calado, sempre ao redor, nas bordas das conversas e das pessoas e ao que parece até de si mesmo. Alguém que existe de modo a não existir, a não ser perceptível, a ser submisso e sutil em sua silenciosa invisibilidade. Bom filme!
Seules Les Bêtes
3.9 33Eu diria o seguinte: Há dois filmes; um dentro do outro. A coisa toda vai se revelando pouco a pouco, numa espécie de efeito strip-tease, um personagem desvelando as ações de si e o andamento do filme. O primeiro filme me parece é aquele do inverno, da nevasca, onde as ações parecem mais comedidas, mais intimistas e coisas assim. O segundo, é aquele do calor escaldando, de um outro continente, outros dramas que na verdade, reverberam no primeiro filme. Tudo está conectado. Situações randômicas, num rolê amplamente aleatório. Contudo, para mim o segundo filme que há meio que estraga a beleza do primeiro, ainda que lógico dentro do arco do drama, que para mim, se amplia mais do que necessário. Mas, gostei bastante, do efeito engenhoso e intrigante da obra, que é muito gostosa de se assistir, que prende a gente nas suas volutas repletas de suspense.
Fogaréu
3.4 22Excelente! As marcas em carne viva de um Brasil profundo estão todas ali representadas. Um país braseiro, áspero, senhorial, de uma elite que menospreza o seu povo, que o renega, que quer o apagamento das identidades, das culturas que ficam cerceadas/caladas pela voz do dono, do mando, do dono da voz. "Eles derrubam nós, a gente nasce de novo" diz a certa altura uma personagem. Assim, na carne brasileira, há esse respiro fundo de lirismo combativo, essa beleza que grita mesmo no silêncio dos olhares silenciados, mas que se sabe força avassaladora ao modo de um fogaréu.
A Deusa dos Vagalumes
3.6 5Filmaço! Provavelmente, a adolescência é a melhor, e com certeza, a mais turbulenta fase da vida. Novas experiências, vivências, descobertas formam uma avalanche com os hormônios em flor, um tsunami de emoções e beleza estridente, tal como este filme. Tudo é muito forte, muito (in)tenso, daí a urgência pela busca de uma identidade, de pertencimento a um grupo, e de repente, o rolê pode acabar numas viagens erradas, ultrapassando os limites, escapando ao mundo real dos conflitos internos/externo para deleitar-se/perder-se em paraísos artificiais. Em mim, deu uma nostalgia jovem, uma melancolia funda e boa de sentir.
1982
3.8 2Singelo e terno. Belo e docemente memorialista. Um bater constante entre o primeiro amor, os bilhetinhos no armário, e a aspereza da guerra. As bombas, os bombardeios e o coração pulsando no alumbramento da beleza da menina que a gente ama. Quem não se recorda, rememora, do amor nos tempos da escola? Em meio, a esse mundo ingênuo e de descobertas surge a explosão do conflito bélico. Quem sabe, como ali, a imaginação, a fantasia infantil de um super-herói possa derrotar/superar a bestialidade das armas. Vale muito a pena assistir!
Solitários
3.9 33 Assista AgoraÉ nada mais nada menos que nosso mundo contemporâneo: O vazio, a solidão hiperconectada dos grandes centros urbanos, toda a incomunicabilidade de nossa época. Paradoxalmente, parece que quanto mais os meios tecnológicos se desenvolvem, mais cai a capacidade humana de contato real com os outros seres humanos.
Irina Palm
3.9 73Que filme! Do começo ao fim não perde a pegada de manter-se fortemente dentro do drama. A personagem tem uma força de caráter incrível, uma coisa admirável, uma enorme fibra! É impressionante sua dignidade, seu humanismo mesmo em meio as vicissitudes. O filme poderia descambar para um humor fácil pela situação a qual ela se submete, mas consegue antes a proeza de ficar firme na aspereza da realidade apresentada. Gostei demais!
Nunca Mais Nevará
3.1 15 Assista AgoraFascinante. Tem uma estranheza que faz a gente se perguntar sinceramente sobre o que está havendo. É algo que desconcerta na medida em que o corpo importa e muito ao propósito do filme, mas não menos que um que dê espiritual, um mais além do mero corpo objeto de massagem e sim uma espécie de transcendência. Transmite uma paz e uma quietude ao mesmo tempo em que nos desmorona como a neve que jamais cairá novamente.
Coração Mudo
3.5 15 Assista AgoraGostei muitíssimo! Era um filme que pela temática tinha tudo pra descambar para um sentimentalismo piegas, contudo mantém-se com uma enorme força expressiva. O sentimento aqui é forte, duro, pesado conforme o exigido pela obra, as personagens são dotadas de uma profunda humanidade pelo modo e valor com que se defrontam com esse limiar, esse ponto extremo/extremado com o qual a velhinha (e q velhinha amável) se propõe. Cada um reage a seu modo perante essa questão espinhosa sobre o destino que se pode dar a própria vida
El Día Que Me Perdí
4.0 1 Assista AgoraÉ uma obra forte, dura, chegando por vezes a crueldade. O tema da violência de gênero, marca tenaz do machismo da sociedade mexicana, latino-americana e humana de modo geral, se traduz aqui num profundo trauma da personagem central. Tratam-se, pois, de vidas destroçadas por conta desta chaga social. É um filme necessário para fazer-nos refletir sobre a aspereza deste valor de modo a mudá-lo.
Animais
3.3 3Desconcertante! Vc tenta pegar o fio da meada, mas parece não haver um fio da meada, um começo, um centro por onde se entender o filme. Estará ela em coma? Será um pesadelo? Uma ficção escrita por alguém? Nunca se deve atropelar uma ovelha numa estrada. Tbm não converse com gatos mesmo que estes insistam demasiadamente. Os símbolos expostos na obra mesclam-se, fundem-se, confundem-se e nos confundem naquilo que dizem como numa espécie de espiral, de discurso paranoico. Vale assistir!
O Ladrão de Luz
3.4 12Que filme bonito! Simples, puro e singelo. Como uma espécie de Quixote, o Sr. Luz vai iluminando, dando vida e alma, aos sonhos elétricos de um lugarejo ressequido, tipo uma Taperoá sertaneja no "Auto da Compadecida". De verdade, a paisagem e os tipos humanos, em especial o Sr. Luz, me lembraram estes do Suassuna, em especial pela simpatia, pelo humanismo telúrico. O filme possui lá suas irregularidades na estrutura, mas que de forma alguma o fazem perder valor: Um valor ao mesmo tempo poético e humano de um cinema delicado e sensível. Muito Bom!
A Garota e a Aranha
3.2 7 Assista AgoraFoi estranho e bonito. "Desde que estou neste navio, estou tonta. Está sempre balançando. Eu cambaleio e fico surpresa por não cair. Surpresa por ninguém cair. E eu me pergunto como a vela fincada no salão não tomba. Como os vasos não deslizam sobre a borda da mesa. As lâmpadas não quebram contra a parede. Tudo parece magnético aqui. Como se uma força secreta fosse segurando tudo junto. A própria força do navio. Como se um majestoso castelo, ele desliza sobre as ondas. Flutuando pacificamente através de um sonho. Meu sonho. Do qual eu continuo acordando. Porque o sol brilhante perfura meus olhos, agarrando no oceano. Então, aí estou eu. Imóvel. Como o navio continua a flutuar através da água brilhante, só a noite me permite fechar os olhos. E me embala suavemente para dormir. Imagino então as baleias, a estrela do mar, as anêmonas. Todas aquelas criaturas maravilhosas e eu flutuo acima delas. E imagino, um dia, afundar nisso tudo. Neste escuro reino do silêncio que me chama. Mas, por enquanto, eu tropeço pelos corredores. Através dos salões, das cabines, enquanto me pergunto se mais alguém percebe que tudo está balançando. Talvez os passageiros que vêm e vão, que ficam para trás como vestígios na minha cabeça nebulosa. Só as gaivotas estão sempre lá. Constantemente. Meus amigos, lá fora. Eles gritam, horrivelmente. Eu penso no meu piano. Imagino alguém tocando nele. Acompanhando o canto das gaivotas. E eu olho para o mar. Um sorriso no meu rosto, porque imagino alguém perto de mim, como o luar se instala ao nosso redor. E assim, estamos de pé. Ouço o grito das gaivotas, como se estivessem cantando uma música. Uma música inusitada. Uma música, só para nós."
A Vida Após a Vida
3.5 11Um dos raros filmes que vi cujo estranhamento ( a nossos olhos ocidentais, creio), se dá por intermédio de uma estarrecedora beleza. O que mais me fascina aqui, é a fotografia que parece transitar por um cenário ao mesmo tempo de sonho e apocalipse provocando esse efeito próprio ao mundo espiritual proposto pela obra. Os fatos que poderiam causar estardalhaço, pela mirada da razão, são aqui aceitos como elementos comuns pelas personagens pois que envoltos num mundo místico distinto das amarras da racionalidade pura. Gosto dessa verdade contemplativa afeita aos mistério da vida em sua inteireza ( vide a morte) que impregna pessoas e paisagens com essa espécie de transcendência.