O nome completo é 'Documenteur - An Emotion Picture', o que pode não parecer grande correção, mas dá o tom do filme. Se Mur Murs fala sobre a vida exterior de Los Angeles, este é sobre a vida interior dos quietos e resignados. Sobre aquelas palavras, coisas e gestos do cotidiano que se sucedem como preces mecânicas a uma certa espontaneidade do viver que não mais se encontra. De uma sensibilidade tão enigmática quanto simples. Obra-prima.
Poxa, eu adoro um mockumentary, mas precisa de um toque de estupidez que faltou aqui. Acabou ficando um humor um tanto intelectual demais, monótono. Mas a proposta é boa.
Acabou se tornando um marco mais pelo pânico moral que suscitou que pelo acabamento cinematográfico. A própria Despentes não disfarça hoje em dia que queria causar um rebuliço, só não esperava a tropa-de-choque evangeca francesa fazendo o furor que fez - inclusive banindo o filme, coisa que não acontecia há décadas por lá, terra da 'liberté'. Mas confesso, senti que a história tem um potencial que não se traduziu no filme: muitas coisas não fazem sentido, alguns olhares são simplesmente ignorados, outras tramas foram interessantes mas não tiveram tempo de exibição... Enfim, a produção do filme deixou a desejar - e olha que eu adoro um trash. No mais, é como a diretora diz em Teoria King Kong: filme absolutamente perseguido, pois não é nem tão pornográfico (alô Tango em Paris), nem tão visceral (alô alô Jogos Mortais), nem tão violento (hello Irreversível) como querem taxar. Como as diretoras bem disseram, o problema não é tanto o sexo ou a violência como quem a conduz: mulheres matando e transando sem pudor. A cena da camisinha é paradigmática nisso. Pra quem quiser um gostinho de bastidor, recomendo a entrevista da Despentes e da Coralie pro The Guardian.
Fui ver o filme instigado pelo Teoria King-Kong e foi... diferente do que eu imaginava. O filme fala, grosso modo, das idas e vindas amorosas de duas meninas/mulheres de procedências e estilos bastante diferentes de vida, o que dá ensejo a uma série de conflitos. Mas fala disso num tom calmo, sublimado, bastante diferente do livro e de seu outro filme, o Baise-Moi. O filme é bom sim, só não o que eu esperava. Por que por mais que a temática punk seja abordada, deixo a questão: mas e quanto à forma? No mais, adorei a francezisse.
Os comentários sobre o filme são tão negativos que eu assisti e acabei me surpreendendo. Claro, em termos de adaptação simplesmente não houve adaptação: quase todas as cenas foram filmadas sem alteração alguma do livro do Herbert. Mas eu gostei disso, admito. É menos uma narração hollywoodiana e comportada que uma montagem surrealista e caótica de cenas-chave do primeiro volume da coleção. O cenário e figurino são impecáveis, dão uma atmosfera medieval high-tech que, francamente, é bastante condizente com o livro. Algumas maquetes tem uma influência kubrickiana que eu adorei também. E a força simbólica de algumas cenas, com a marca clara do Lynch, são excelentes, como quase todas de Geidi Primes. Mas, de fato, o problema existe e é grande: péssimas atuações e uma falta total de edição, que transformam o filme numa parafernália de termos, menções e momentos que só quem leu Duna vai saber fazer algum sentido. Mas olha, o sentido num é ruim como dizem não.
Um filme com seu próprio ritmo (2h20 não é pouco não), mas que acaba entregando. Atuação, enredo, fotografia... tudo sem arestas, redondo. Pontos negativos pro tom moralista e acrítico, principalmente no desfecho. Mas o que esperar de um filme do Spielberg fora isso, né?
O único defeito do filme é esse jeitinho estadunidense insuportável: um caminhoneiro chamado JACK que salva o mundo enquanto cospe no chão, beija uma mina e grita THIS IS USA MAN. Fora essa caracterização merda do protagonista, é excelente. É praticamente um filme do Mortal Kombat, só que muito bem feito.
Linda retratação da cultura e do jeito caipira do interior de São Paulo. Num enredo que é praticamente um road-movie jeca, os protagonistas saem em busca de seu reflexo nas máquinas ainda honestas da modernidade: num filme de Mazzaropi exibido no cinema, jamais na televisão. O que encontram, porém, não os representa nem um pouco: um cinema que deu lugar a uma loja, a uma igreja evangélica... O que só adiciona ao monólogo inicial de que "até a roça mudou, só o pobre continua igual". Interessante notar que os cinemas que eles acabam encontrando estavam com cartazes do primeiro X-Men e Homem-Aranha - coincidência tão sintomática quanto melancólica da invasão do lixo americano por cá. As melhores partes, pra mim, são as supersticiosas, em que os atores (e o roteirista) parecem se divertir mais que tudo. De crítica mesmo, eu acredito que tentaram cobrir muitos assuntos num só filme e a coisa ficou bastante perdida, e o tempo deve tê-los levado a gravar esses remendos
como o pai encontrando o filho, do nada, na minúscula São Paulo, e o Policapo, coitado, esquecido no churrasco da montagem
. Se fossem dois ou três filmes, seria um épico - mas, de novo, estamos no Brasil, em que cinemas são tomados por Universais e vendinhas de 1,99. Outro ponto que eu levantaria é o exagero dos gestos e sotaques por alguns atores. Não sei se a intenção foi revitalizar o Mazzaropi, mas não funcionou nem um pouco. Conjunto desconjuntado de jeitinhos e érrês preguiçosos que não me convenceu - e eu vim do interior de São Paulo. Mas como li por aí, a sinceridade do filme supera em muito as lacunas na montagem e na atuação. Recomendado.
Assisti por ter caído na minha frente no Netflix e me surpreendi... Claro, é um filme de ritmo lento, pra quem se interessa por educação ou cultura chinesa, mas achei ele ótimo. Muito sensível em retratar a rotina difícil de atores de ópera cantonesa/pequinesa sem julgamentos, digamos, ocidentais. Também achei muito sutil a retratação do duro sistema de ofícios na China do fim do século. Não dá pra perder de vista aqui a política do filho único, extinta em 2015. Vale também como registro histórico do imperialismo cultural estadunidense, que devastou até as culturas mais isoladas como era a chinesa tradicional. No mais, me surpreendi por ser uma história verídica, não esperava essa.
Um Matrix trash. Apesar do excelente argumento (e das primeiras cenas com o óculos, impecáveis do ponto de vista artístico), o desenvolvimento não consegue encadear direito a abordagem crítica com as fórmulas trash de ação e comédia. Acabou parecendo um Rambo com interlúdios revolucionários e uma pitada de Scifi. Mas, pra mim, tudo se perdoa ao saber que o filme é de 88. Certamente um precursor de filmes que traduzem ideologia em termos de visibilidade.
Pra mim, deixou os recentes filmes de vingança feminina comendo poeira. Eu diria que é uma tentativa de trazer o gênero pra Terra, onde planos maquiavélicos de vingança envolvendo serras elétricas e cabanas abandonadas não são lá tão comuns. O filme entrega o mesmo recado, só que com sutileza moral e sem estripar ninguém pra fazer sopa. Inclusive no que escolhe narrar: o acobertamento social do estupro, as sutilezas institucionais, o valor do dinheiro e do status nisso, os advogados carreiristas que fazem sucesso em cima de casos do tipo, etc. Acaba sendo uma abordagem tão sutil que empalidece os outros filmes do gênero, que escolheram personalizar o estupro e discutir a maldade disso, em vez de abordar a permissividade social e discutir o cinismo, assuntos muito mais pervasivos e difíceis de colocar em cena. Assuntos, enfim, que chamamos hoje de cultura do estupro. Só comentaria que, às vezes, os diálogos parecem encenados, eles perdem o realismo e viram quase que uma esquete - a conversa com o advogado sendo o maior exemplo. Mas fora isso, ótimo filme.
Essa nota baixa é um desaforo. O filme é clichê do começo ao fim? Sim, como todo filme da Sessão da Tarde. Mas é praticamente um clássico de comédia, nível As Branquelas. Inclusive é uma ótima plataforma sobre cultura afro-americana. Enfim, recomendo.
Li em algum lugar que o filme é mais importante que bom, e concordo. O desenvolvimento, o desfecho, a tragédia, os conflitos, as resoluções: é tudo bem previsível, tendo em vista o otimismo generalizado da Disney. Mas, ao meu ver, a mensagem supera tudo isso. Não dá pra desassociar o filme do governo Trump que, apesar de alinhado ao conglomerado Disneylândia Capital & Amor, deixou um legado de ódio, cinismo e fragmentação sociocultural que se expressa bem na figura do continente partido por individualismo e ganância. A animação é particularmente bonita, não me lembro da última vez em que algum ambiente/povo da Disney foi tão esteticamente coeso como a ilhota de Fang (Presa), o que me fez querer ver outro sci-fi sendo lançado pela Disney. Os dragões ficaram estranhos, mas acho que foi mais um contraponto ao Como Treinar Seu Dragão que qualquer outra coisa. Enfim, "mais um filme da Disney", mas certamente uma melhora em termos de pertinência sociopolítica.
Tem aquele jeitinho de filme de ação dos 80'-90', meio Sessão da Tarde, que é super datado: cenas de luta intermináveis, trocadilhos bestas, gracinhas na luta, essas coisas. Mas fora isso eu adorei. É incomparável com o segundo, claro, em que o terror e a comédia são remetidos a psicoses cínicas provocadas pelo cramunhão (o que faz todo o sentido, dentro e fora do enredo), e nunca fogem completamente da raia de um equilíbrio entre os dois. Mas aqui a proposta é outra, né? É absurdista, de clichês irônicos. Não é pra ser levado a sério. Monty Python é um bom exemplo: pensamento moderno num contexto antigo. Os efeitos são surpreendentemente bem-feitos, dada a quantidade. Trinta anos antes, Harryhausen passou quase quatro meses animando uma só cena com sete esqueletos, então imaginem. Dá uma reviravolta na franquia, expõe com sinceridade os clichês que movem o gênero do terror (e da comédia de ação), é inesperado e, enfim, tem lá sua graça. Vale.
Comédia e terror, pra mim, é bom mesmo sendo ruim. No mínimo, brinca com o gênero e cria ali um gostinho de metalinguagem que eu adoro. O filme é morno morno em algumas partes e bem previsível lá pro final, mas consegue manter uma certa comédia que acaba valendo a pena. O Vince Vaughn tá bom demais, me fez rir em todas as cenas. Pena que a Kathryn Newton não segurou a marimba da troca de corpos e ficou bem estranha fazendo o serial-killer. Vale como filme de domingo.
Um clássico, nem tem muito o que dizer. Achei o final um tanto confuso, e a Diane Keaton decepcionou um pouco. De resto, influenciou e continua influenciado.
Poxa, é bem feito, mas terrivelmente previsível. E não de um jeito bom, em que você espera que aconteça isso ou aquilo, mas previsível de um jeito preguiçoso, relaxado. O Peter Dinklage decepcionou, também. Povo acha que é fácil fazer mafioso, mas chega lá e fica com essa cara de constipado pra passar de bravo, aí não dá. Enfim... Sessão da Tarde total.
Tem como não amar a Joann Fletcher? Uma Mary Poppins gótica e apaixonada por múmias andando de preto da cabeça aos pés no deserto de 40º? Chorando com murais a cada trinta minutos? Não fica melhor que isso, sério. A periodização é... hm, interessante. Cobrir três mil anos em 60min não é pra poucos, mas a delimitação dos assuntos conseguiu (malemá) dar conta. Uma introdução morna ao Egito em geral, mas uma ótima introdução ao desprezado tema da igualdade de gênero nessa civilização. Pra quem quiser continuar, o Immortal Egypt, também com ela, é excelente.
Documentira
3.9 7 Assista AgoraO nome completo é 'Documenteur - An Emotion Picture', o que pode não parecer grande correção, mas dá o tom do filme. Se Mur Murs fala sobre a vida exterior de Los Angeles, este é sobre a vida interior dos quietos e resignados. Sobre aquelas palavras, coisas e gestos do cotidiano que se sucedem como preces mecânicas a uma certa espontaneidade do viver que não mais se encontra. De uma sensibilidade tão enigmática quanto simples. Obra-prima.
Sem Sol
4.2 36Imagens pensantes em todo o esplendor. Ótimo filme.
Space Jam: Um Novo Legado
2.9 350 Assista AgoraUm filme sem alma alguma.
Possesso
3.6 17 Assista AgoraLiquidificador de referências com um humor inteligente e um tanto quanto trash. Muito bom.
Por Trás da Máscara: O Surgimento de Leslie Vernon
3.0 122Poxa, eu adoro um mockumentary, mas precisa de um toque de estupidez que faltou aqui. Acabou ficando um humor um tanto intelectual demais, monótono. Mas a proposta é boa.
A Paisagem Mental de Alan Moore
4.3 38Filme para fãs. Mesmo assim, bastante arrastado...
Baise Moi
2.6 74Acabou se tornando um marco mais pelo pânico moral que suscitou que pelo acabamento cinematográfico. A própria Despentes não disfarça hoje em dia que queria causar um rebuliço, só não esperava a tropa-de-choque evangeca francesa fazendo o furor que fez - inclusive banindo o filme, coisa que não acontecia há décadas por lá, terra da 'liberté'. Mas confesso, senti que a história tem um potencial que não se traduziu no filme: muitas coisas não fazem sentido, alguns olhares são simplesmente ignorados, outras tramas foram interessantes mas não tiveram tempo de exibição... Enfim, a produção do filme deixou a desejar - e olha que eu adoro um trash. No mais, é como a diretora diz em Teoria King Kong: filme absolutamente perseguido, pois não é nem tão pornográfico (alô Tango em Paris), nem tão visceral (alô alô Jogos Mortais), nem tão violento (hello Irreversível) como querem taxar. Como as diretoras bem disseram, o problema não é tanto o sexo ou a violência como quem a conduz: mulheres matando e transando sem pudor. A cena da camisinha é paradigmática nisso. Pra quem quiser um gostinho de bastidor, recomendo a entrevista da Despentes e da Coralie pro The Guardian.
Bye Bye Blondie
3.0 34Fui ver o filme instigado pelo Teoria King-Kong e foi... diferente do que eu imaginava. O filme fala, grosso modo, das idas e vindas amorosas de duas meninas/mulheres de procedências e estilos bastante diferentes de vida, o que dá ensejo a uma série de conflitos. Mas fala disso num tom calmo, sublimado, bastante diferente do livro e de seu outro filme, o Baise-Moi. O filme é bom sim, só não o que eu esperava. Por que por mais que a temática punk seja abordada, deixo a questão: mas e quanto à forma? No mais, adorei a francezisse.
Pets: A Vida Secreta dos Bichos
3.5 938 Assista AgoraMeh.
Duna
2.9 412 Assista AgoraOs comentários sobre o filme são tão negativos que eu assisti e acabei me surpreendendo. Claro, em termos de adaptação simplesmente não houve adaptação: quase todas as cenas foram filmadas sem alteração alguma do livro do Herbert. Mas eu gostei disso, admito. É menos uma narração hollywoodiana e comportada que uma montagem surrealista e caótica de cenas-chave do primeiro volume da coleção. O cenário e figurino são impecáveis, dão uma atmosfera medieval high-tech que, francamente, é bastante condizente com o livro. Algumas maquetes tem uma influência kubrickiana que eu adorei também. E a força simbólica de algumas cenas, com a marca clara do Lynch, são excelentes, como quase todas de Geidi Primes. Mas, de fato, o problema existe e é grande: péssimas atuações e uma falta total de edição, que transformam o filme numa parafernália de termos, menções e momentos que só quem leu Duna vai saber fazer algum sentido. Mas olha, o sentido num é ruim como dizem não.
Prenda-me Se For Capaz
4.2 1,6K Assista AgoraUm filme com seu próprio ritmo (2h20 não é pouco não), mas que acaba entregando. Atuação, enredo, fotografia... tudo sem arestas, redondo. Pontos negativos pro tom moralista e acrítico, principalmente no desfecho. Mas o que esperar de um filme do Spielberg fora isso, né?
Os Aventureiros do Bairro Proibido
3.7 568 Assista AgoraO único defeito do filme é esse jeitinho estadunidense insuportável: um caminhoneiro chamado JACK que salva o mundo enquanto cospe no chão, beija uma mina e grita THIS IS USA MAN. Fora essa caracterização merda do protagonista, é excelente. É praticamente um filme do Mortal Kombat, só que muito bem feito.
Tapete Vermelho
3.8 277 Assista AgoraLinda retratação da cultura e do jeito caipira do interior de São Paulo. Num enredo que é praticamente um road-movie jeca, os protagonistas saem em busca de seu reflexo nas máquinas ainda honestas da modernidade: num filme de Mazzaropi exibido no cinema, jamais na televisão. O que encontram, porém, não os representa nem um pouco: um cinema que deu lugar a uma loja, a uma igreja evangélica... O que só adiciona ao monólogo inicial de que "até a roça mudou, só o pobre continua igual". Interessante notar que os cinemas que eles acabam encontrando estavam com cartazes do primeiro X-Men e Homem-Aranha - coincidência tão sintomática quanto melancólica da invasão do lixo americano por cá. As melhores partes, pra mim, são as supersticiosas, em que os atores (e o roteirista) parecem se divertir mais que tudo.
De crítica mesmo, eu acredito que tentaram cobrir muitos assuntos num só filme e a coisa ficou bastante perdida, e o tempo deve tê-los levado a gravar esses remendos
como o pai encontrando o filho, do nada, na minúscula São Paulo, e o Policapo, coitado, esquecido no churrasco da montagem
Painted Faces
3.7 7Assisti por ter caído na minha frente no Netflix e me surpreendi... Claro, é um filme de ritmo lento, pra quem se interessa por educação ou cultura chinesa, mas achei ele ótimo. Muito sensível em retratar a rotina difícil de atores de ópera cantonesa/pequinesa sem julgamentos, digamos, ocidentais. Também achei muito sutil a retratação do duro sistema de ofícios na China do fim do século. Não dá pra perder de vista aqui a política do filho único, extinta em 2015. Vale também como registro histórico do imperialismo cultural estadunidense, que devastou até as culturas mais isoladas como era a chinesa tradicional. No mais, me surpreendi por ser uma história verídica, não esperava essa.
Eles Vivem
3.7 731 Assista AgoraUm Matrix trash. Apesar do excelente argumento (e das primeiras cenas com o óculos, impecáveis do ponto de vista artístico), o desenvolvimento não consegue encadear direito a abordagem crítica com as fórmulas trash de ação e comédia. Acabou parecendo um Rambo com interlúdios revolucionários e uma pitada de Scifi. Mas, pra mim, tudo se perdoa ao saber que o filme é de 88. Certamente um precursor de filmes que traduzem ideologia em termos de visibilidade.
Bela Vingança
3.8 1,3K Assista AgoraPra mim, deixou os recentes filmes de vingança feminina comendo poeira. Eu diria que é uma tentativa de trazer o gênero pra Terra, onde planos maquiavélicos de vingança envolvendo serras elétricas e cabanas abandonadas não são lá tão comuns. O filme entrega o mesmo recado, só que com sutileza moral e sem estripar ninguém pra fazer sopa. Inclusive no que escolhe narrar: o acobertamento social do estupro, as sutilezas institucionais, o valor do dinheiro e do status nisso, os advogados carreiristas que fazem sucesso em cima de casos do tipo, etc. Acaba sendo uma abordagem tão sutil que empalidece os outros filmes do gênero, que escolheram personalizar o estupro e discutir a maldade disso, em vez de abordar a permissividade social e discutir o cinismo, assuntos muito mais pervasivos e difíceis de colocar em cena. Assuntos, enfim, que chamamos hoje de cultura do estupro. Só comentaria que, às vezes, os diálogos parecem encenados, eles perdem o realismo e viram quase que uma esquete - a conversa com o advogado sendo o maior exemplo. Mas fora isso, ótimo filme.
Fake Art
3.5 25 Assista AgoraO desfecho absurdista em que ninguém é devidamente punido por um crime de oitenta milhões representa tão bem o mercado da arte...
Ricas e Gloriosas
2.6 56Essa nota baixa é um desaforo. O filme é clichê do começo ao fim? Sim, como todo filme da Sessão da Tarde. Mas é praticamente um clássico de comédia, nível As Branquelas. Inclusive é uma ótima plataforma sobre cultura afro-americana. Enfim, recomendo.
Raya e o Último Dragão
4.0 646 Assista AgoraLi em algum lugar que o filme é mais importante que bom, e concordo. O desenvolvimento, o desfecho, a tragédia, os conflitos, as resoluções: é tudo bem previsível, tendo em vista o otimismo generalizado da Disney. Mas, ao meu ver, a mensagem supera tudo isso. Não dá pra desassociar o filme do governo Trump que, apesar de alinhado ao conglomerado Disneylândia Capital & Amor, deixou um legado de ódio, cinismo e fragmentação sociocultural que se expressa bem na figura do continente partido por individualismo e ganância. A animação é particularmente bonita, não me lembro da última vez em que algum ambiente/povo da Disney foi tão esteticamente coeso como a ilhota de Fang (Presa), o que me fez querer ver outro sci-fi sendo lançado pela Disney. Os dragões ficaram estranhos, mas acho que foi mais um contraponto ao Como Treinar Seu Dragão que qualquer outra coisa. Enfim, "mais um filme da Disney", mas certamente uma melhora em termos de pertinência sociopolítica.
Uma Noite Alucinante 3
3.5 530 Assista AgoraTem aquele jeitinho de filme de ação dos 80'-90', meio Sessão da Tarde, que é super datado: cenas de luta intermináveis, trocadilhos bestas, gracinhas na luta, essas coisas. Mas fora isso eu adorei. É incomparável com o segundo, claro, em que o terror e a comédia são remetidos a psicoses cínicas provocadas pelo cramunhão (o que faz todo o sentido, dentro e fora do enredo), e nunca fogem completamente da raia de um equilíbrio entre os dois. Mas aqui a proposta é outra, né? É absurdista, de clichês irônicos. Não é pra ser levado a sério. Monty Python é um bom exemplo: pensamento moderno num contexto antigo. Os efeitos são surpreendentemente bem-feitos, dada a quantidade. Trinta anos antes, Harryhausen passou quase quatro meses animando uma só cena com sete esqueletos, então imaginem.
Dá uma reviravolta na franquia, expõe com sinceridade os clichês que movem o gênero do terror (e da comédia de ação), é inesperado e, enfim, tem lá sua graça. Vale.
Freaky: No Corpo de um Assassino
3.2 464Comédia e terror, pra mim, é bom mesmo sendo ruim. No mínimo, brinca com o gênero e cria ali um gostinho de metalinguagem que eu adoro. O filme é morno morno em algumas partes e bem previsível lá pro final, mas consegue manter uma certa comédia que acaba valendo a pena. O Vince Vaughn tá bom demais, me fez rir em todas as cenas. Pena que a Kathryn Newton não segurou a marimba da troca de corpos e ficou bem estranha fazendo o serial-killer. Vale como filme de domingo.
O Clube das Desquitadas
3.5 175 Assista AgoraUm clássico, nem tem muito o que dizer. Achei o final um tanto confuso, e a Diane Keaton decepcionou um pouco. De resto, influenciou e continua influenciado.
Eu Me Importo
3.3 1,2K Assista AgoraPoxa, é bem feito, mas terrivelmente previsível. E não de um jeito bom, em que você espera que aconteça isso ou aquilo, mas previsível de um jeito preguiçoso, relaxado. O Peter Dinklage decepcionou, também. Povo acha que é fácil fazer mafioso, mas chega lá e fica com essa cara de constipado pra passar de bravo, aí não dá. Enfim... Sessão da Tarde total.
Egypt's Lost Queens
4.0 1Tem como não amar a Joann Fletcher? Uma Mary Poppins gótica e apaixonada por múmias andando de preto da cabeça aos pés no deserto de 40º? Chorando com murais a cada trinta minutos? Não fica melhor que isso, sério. A periodização é... hm, interessante. Cobrir três mil anos em 60min não é pra poucos, mas a delimitação dos assuntos conseguiu (malemá) dar conta. Uma introdução morna ao Egito em geral, mas uma ótima introdução ao desprezado tema da igualdade de gênero nessa civilização. Pra quem quiser continuar, o Immortal Egypt, também com ela, é excelente.