Depois do fiasco do Down Under, que foi roteirizado até o último fio da peruca da holograma, vem essa temporada pra salvar a reputação da franquia. Amei demais. Sem o espírito competitivo tosco das temporadas recentes dos EUA, as queens ficaram mais à vontade, se mostraram com mais sinceridade. Brigam, claro, mas também fazem as pazes e combinam rolezinho - e melhor, sem a produção em cima pra criar um draminha artificial e lucrar com a polêmica. E a Supremme, cariño, que quase chorou em todos os episódios? Enfim, uma temporada mais humana. Rupaul tem bastante a aprender com o sucesso do DRE.
Sem exageros, é a pior temporada de todas as franquias. A holograma deveria largar o osso logo, tudo de outro país que ela toca fica péssimo. RPDR Espanha e Tailândia são super amadoras - e incomodam um pouco às vezes mesmo -, mas só de não ter essa roteirização forçada dos EUA já as deixa muito melhores.
Acho que fui um tanto ingênuo esperando imparcialidade de uma série estadunidense sobre espionagem. Retratar o Snowden como um fora-da-lei barato sem nem tocar no roubo massivo de informações feito pela NSA? Essa agência plantou escuta até no telefone presidencial do Brasil! No gabinete da chanceler alemã! Francamente, né? E ainda chamam historiador da CIA, seilá-o-que do FBI, nananá do Pentágono, sem oferecer contraparte, sem segunda opinião alguma. Se não me engano, houve UM convidado sem associação direta com alguma agência estadunidense. E ainda se diz documentário... francamente! Se puxar o fio dos produtores e financiadores dessa série, pode ter certeza que vai encontrar dedo do governo. Poderiam até ter se incluído no tal "arsenal dos espiões", porque é como dizem por aí: propaganda é a alma do negócio.
O último episódio é uma tragédia. E nem digo isso do ponto de vista do roteiro, ao qual todo mundo é tão apegado quando se trata de Lost, falo da filmagem mesmo. As cenas do bambuzal são muito mal filmadas, tem um erro de continuidade grosseiro na luta do penhasco (o Homem de Preto é São Pedro agora, morre e limpa o céu estalando o dedo?), e a cena com o Christian, lotado de símbolos religiosos, é de uma obviedade irritante. Triste fim de uma série que retirava sua força de transições cinematográficas criativas e de meias-explicações que instigavam. Agora sim falando de roteiro: aquele coração da ilha deve ser a coisa mais ridícula que já vi em ficção científica, e olha que já vi vários StarTrek. Eles pegaram a cena da ilha sendo uma "rolha que mantém o mal preso hurr durr" e tornaram isso literal com uma rolha gigante numa fonte secreta de luz, vida e arco-íris. Francamente, né? Chutaram o pau da barraca.
O Jordison falou tudo aí embaixo. Algumas repetições irritam por subestimar a memória de quem vê: uma coisa é fazer recapitulação, outra é encher linguiça. Soma-se a isso os comentários levianos de alguns historiadores chamados, que muita vezes se contradiziam em episódios diferentes. O foco é claramente britânico, o que faz certo sentido, mas poderiam ter diversificado a abordagem. Fiquei um pouco chocado com a periodização, que só aborda dois anos do começo do séxulo XVIII, como se a pirataria e a corsaria não tivesse raízes desde Drake em 1580. Entendo que a ideia era abordar Nassau, mas não deixa de ser uma severa miopia histórica, como se todo aquele modo de pensamento tivesse brotado dos brócolis. De forma geral, em que pese os historiadores chamados, é um documentário de leigos para leigos, que acrescenta tanto à romantização de um estilo de vida "anárquico" quanto à elucidação histórica da pirataria como agência propriamente histórica. Se não se propusesse um documentário, não haveria problema, mas já que o fez, é uma contradição difícil de superar. Enfim, entretenimento barato e vagamente construtivo. Mas como um historiador cansado, admito que me divertiu sim.
Dá pra ver por onde e porque esse mangá tanto influenciou o Hideaki Anno. A direção de arte é impecável, com ideias visuais tão boas quanto diretas (a ideia de uma Terra desolada com um horizonte de cruzes e o mar vermelho contratanto com o azul do céu é tão simbólica e incisiva que o Hideaki nem fez questão de disfarçar o "empréstimo" em Evangelion). O enredo é melhor ainda: o que começa como uma aventura típica de shonen vai se deslocando pruma crítica agressiva ao belicismo e o preconceito pra no fim se interiorizar num estudo sobre psicologia do apego e da perda. Curiosamente, o arco narrativo começa e termina com Ryo e Akira, com a relação de fraternidade entre crianças deslocadas, mesmo que isso seja mostrado retrospectivamente. Isso também é interessante, como o enredo evolui temporalmente, mas o fundamental está atrás, na infância, no que não foi entendido e está portanto condenado. É, no fim, uma história sobre o inevitável. As alegorias bíblicas, que adicionariam ou esclareceriam bastante desse enredo humano, ficaram a desejar porque esbarraram no único defeito da adaptação: a pressa. A impressão que se tem é de que são trailers do mangá original: alguns personagens aparecem do nada, outros morrem sem mais nem menos... Ficou bem atropelado, o que é um pouco inaceitável sabendo o tamanho do lucro que a Netflix tem em cada título que lança. Mesquinheza pura. Fora isso, excelente.
Não sei muito o que dizer. Por mais que eu concorde que séries pesadas sobre HIV/AIDS sejam importantes para conscientização - e até pro senso de comunidade LGBT que anda tão pulverizado - o sentimento que fica é de desesperança e melancolia. E, pra mim, conscientização tem de andar junto de redenção, saídas, exemplos, esperanças, sobre-vivências. Evidenciar a vida sem esquecer dos mortos. E nisso a série decepciona. Seguindo a trilha de Years and Years (que não tive estômago de terminar), a paisagem que se desenha aqui é de desolação total, e por mais que se possa dizer que esta era de fato a paisagem, que a série é fidedigna/histórica nesse aspecto, eu posso responder que não se trata de um documentário, mas de um romance de época feita para outra época.
Tudo faz sentido ao se levar em conta o título da série (É um Pecado), que já adianta o estigma duplo da homossexualidade e da soropositividade naqueles dias - e até hoje. Mas até onde vai a crítica quando o enredo parece uma reprodução fatalista desses estigmas? Onde tá a contraposição dessa visão moralizante? Nas duas últimas cenas? Nos coadjuvantes mal-explorados que sobrevivem sem nem um diálogo final? Enfim... é uma série boa, mas Pose é bem melhor estruturado em conscientização sociopolítica, e We Were Here me é bem mais consistente em elucidação histórica. Se me perguntarem, vou nesses.
Bom, foi pra fanbase, né? Eu particularmente achei uma boa temporada. O vilão é mal-resolvido e, claro, tem umas viagens de roteiro imperdoáveis (tipo salvar os Romanoff. sabe, é sério isso? bruxinhas a favor do capital? tosquera demais). Mas no geral é uma temporada que agrada, principalmente por ser uma das menores. A virada no roteiro pelo terceiro ou quarto episódio ajuda também a manter a sanidade do roteiro. É que quanto mais eu vejo AHS mais percebo que é uma série que não pode ter muitas liberdades, senão dá bosta. Tem que ser um tema direto e uma temporada curta, do contrário eles começam a falar de.... salvar uma bruxinha tsarista viajando no tempo.
Se não bastasse o nível geral de GAY do AHS, fizeram uma temporada só pras GAY. E o spinoff no Apocalypse. E o reboot no Scream Queens. E eu adoro? Adoro.
Temporada de pura inspiração para roteiristas e semelhantes. Lost deixou sua marca no quesito remissões, flash-backs, construções de personagens, etc. Disso todos sabem. Mas leio pouco sobre como os roteiristas se reinventam nessa temporada com os flash-forwards, dando um novo fôlego às já surradas personalidades principais. Um último fôlego, inclusive, porque os flashs-seilá-o-que das próximas temporadas não chegam nem perto dos ganchos criados nesta, e os personagens, de tanta remissão, já estão previsíveis e gastos. Não à toa, o povo começa a odiar Jack & Cia por aqui.
Entretenimento barato. Sabe acidente de beira de estrada, que você quer desviar o olhar mas não consegue de tão ruim? Pois é. Tem seu charme de série pra botar com sono e dormir sem culpa, mas francamente, se eu soubesse de antemão que seria essa novela mexicana de espírito ciumento eu nem teria começado. Sem falar da caralhada de estereótipo bizarro de histeria feminina que tem nessa série. E pra não falarem que eu não citei nada de bom, as referências que os diretores usam descaradamente são ótimas: A Profecia, Medeia, Bebê de Rosemary, Os Outros, etc.
Poxa, não sei o que dizer. Politicamente a série é impecável, mas tematicamente ficou meio brega em alguns episódios. O ritmo também ficou meio solto. Acredito que eles tenham pensado em fazer um bem-bolado com os grandes temas de sci-fi, que historicamente é associado à venda de pulps e à população negra estadunidense. Mas tentaram abraçar o mundo com as pernas, acho, e com diretores muito diferentes. O episódio galáctico foi assim, incrível do começo ao fim, muito muito muito bom, mas o do fantasma nazista... que queda, né? O CGI me incomodou um pouco também, principalmente porque o resto da direção de arte é muito bom. Mas pralém de ficar de picuinha, é uma das séries do ano pra mim. Ótimo trabalho de reinterpretação do Lovecraft. É realmente brilhante se você pensar que pegam a obra do cara, abertamente racista, e a transformaram em uma grande metáfora do horror do racismo.
Animação péssima, não há expressão alguma nos rostos, precisa de MUITO mais quadros. Chega ao ponto da dublagem sair de sincronia com a imagem, péssimo mesmo. História clichê com final previsível. Uma perda de tempo, francamente.
Eu imagino que eles tenham se inspirado em Lost: um terço de estranheza, um terço de biografia, um terço de drama. E realmente, isso tira um pouco a ciência da ficção científica e deixa o enredo mais humano. Mas só funciona quando os personagens são interessantes, né? Imagine um Lost feito só com Jacks: perfeitinho, americanozinho, patriotazinho, familiazinho, certinho, moralzinho... um porre tremendo. Acho que a única coisa que me chamou a atenção na série toda foi o lance que surge entre o Ram e a COMMANDER GREEN (aliás, que porre essa chamação de comandante ein? os cara dividem uma kitnet por oito meses e ficam de comandante pra lá e pra cá? haja paciência). Que é inclusive a única vontade não-normótica dessas quase dez horas de série. E digo mais: novamente uma série da Netflix que bota os russos e os chineses como os vilões nacionalistas, quando os maiores nacionalistas desse mundinho condenado são os EUA do sr. Trump. Enfim, a hipocrisia. Só pra compartilhar o ouro que já postaram aqui: sobreviver ao tédio dessa série só pulando as histórias da Terra mesmo. Fica a dica. Mas as atuações estão realmente muito boas. Menos a do pai, aquele chato que tem duas funções na série toda: fazer biquinho e salvar o dia. Haja paciência..
Sabe aquele jeitinho divertido de quadrinhos em que os personagens morrem e voltam só pra morrer de novo na edição seguinte? Que não faz o menor sentido mas você tá lá querendo a edição seguinte? Então, não adaptem esse tipo de quadrinho pra live-action. O que em HQ pode ser visto como enredo de livre-associação acaba virando uma grande palhaçada em audiovisual: plot-hole em todo canto, inconsistência de personagem, pontas soltas pra todos, personagens esquecidos no churrasco... É que nem um acidente de carro que você não consegue desviar o olhar. Pontos pro Cinco que carregou a família nas costas, pro Klaus que sustentou o carisma da temporada inteira, e pra Ellen Page que conseguiu fazer a sapatona mais entediante que já vi na história do cinema.
O apresentador parece saído de um programa infantil, então o documentário pega um jeito de Coursera que eu odiei. E, sei lá, o tom dos comentários são tecnofílicos demais pro meu gosto. Se a tecnologia fosse "salvar o mundo", já teria feito há muito.
Olha, a direção de arte é impecável: iluminação, locaçao, fotografia, figurino... A trilha sonora impressiona: Sophie, Boy Harsher, Baco Exu, Trupe Chá, The Knife... Uma lindeza. O argumento também é ótimo. O começo inclusive lembra o de Bacurau, com a hipótese futurista em cenário interiorano. A coisa do Culto, a separação de Progresso da Capital como um refúgio político-religioso bizarro; citada de relance, dosada, criando expectativa, é esteticamente muito sedutora. Há momentos de puro brilhantismo, como a cena da pregação na academia, algumas que mimetizam o Instagram e, principalmente, o desfecho do primeiro episódio. Mais sutilmente sintonizado com nosso contexto de desgraça nacional e pandemia global impossível. MAS, o desenvolvimento deixa a desejar. Não sei, acho que o que havia de simbólico (e alegórico, e crítico) do começo da série se perdeu num desenvolvimento... mundano. A partir do quarto episódio (algo assim), o mergulho nos protagonistas focaliza nossa atenção no que a série é: um romance de formação modernoso. A narrativa principal se desfia em dramas pessoais muito particulares - e francamente irreais, tendo em vista que
, por exemplo, tenta retomar um simbolismo crítico, mas acaba sendo só desconexa. Fica a impressão de que era um script muito querido e lapidado por alguém, mas que foi apressado ou alongado por necessidades da produtora/de produção/de financiamento. Comum também. Enfim, recomendei a todos os meus amigos. Mas não julguei quem abandonou nos últimos dois episódios.
Excelente. Um tanto longa e anticlimática a princípio (ainda mais nesses tempos de séries-relâmpago do Netflix), mas depois do baque inicial é uma delícia acompanhar a dinastia júlio-claudiana de perto por um século e tanto. Dizem que foi uma grande inspiração pro GoT da HBO, e eu consigo ver porquê. Sobre a veracidade da história em si, o Robert Graves parece ter se baseado única e literalmente nos historiadores romanos clássicos, e nisso peca um pouco ao incorrer em fofocas populares e palacianas. Mas que ele consegue fazer disso um belo drama, consegue. Pontos e pontos pra Sian Philips, que fez uma Lívia impecável e merecidamente ganhou um BAFTA por isso.
Acredito que o auge da série ficou mesmo lá pela 4ª e 5ª temporada, mas essa foi curta e certeira, o que me agradou bastante. Série boa de comédia já é coisa rara, de comédia inteligente e ácida é quase a cada década. Gostei do tom sombrio e crítico com que ela termina, acredito que foi uma boa finalização pra Selina que, apesar de adorável e hilária, é também a encarnação de tudo que vemos de errado na política contemporânea. E nada me tira da cabeça que o Jonah é baseado no Trump e no Bolsonaro (ele passando varíola pra todo mundo foi praticamente uma premeditação do nosso coisa-ruim nacional passando Covid e abraçando criança sem máscara por aqui). Se souberem de séries parecidas, agradeço o aviso!
Como os comentários abaixo, foi uma primeira temporada confusa em seus objetivos. Não convence como drama, nem como comédia, restando pra série o rótulo de uma crítica de costumes bem-humorada - agradável, mas genérica. Espero que acertem (maximizem, pra mim) o tom na próxima, porque, em tempos de sucessos sobre o Estado americano como Veep e de lançamentos teatrais à lua como o de Musk, o roteiro não poderia ter um timing melhor pra ser uma série de sucesso. Pontos pra China, realmente, que carrega o humor da série nas costas, e multas pros dramas pessoais dos personagens, sofríveis de tão mal escritos e atuados.
Veep continua insuperável na criatividade dos xingamentos, e ainda tô pra ver um personagem tão abertamente odiável sendo protagonista de uma série de comédia como a Selina é. Temporada morna, mas ainda muito acima da média.
Drag Race Espanha (1ª Temporada)
3.9 30Depois do fiasco do Down Under, que foi roteirizado até o último fio da peruca da holograma, vem essa temporada pra salvar a reputação da franquia. Amei demais. Sem o espírito competitivo tosco das temporadas recentes dos EUA, as queens ficaram mais à vontade, se mostraram com mais sinceridade. Brigam, claro, mas também fazem as pazes e combinam rolezinho - e melhor, sem a produção em cima pra criar um draminha artificial e lucrar com a polêmica. E a Supremme, cariño, que quase chorou em todos os episódios? Enfim, uma temporada mais humana. Rupaul tem bastante a aprender com o sucesso do DRE.
RuPaul's Drag Race Down Under (1ª Temporada)
2.6 42Sem exageros, é a pior temporada de todas as franquias. A holograma deveria largar o osso logo, tudo de outro país que ela toca fica péssimo. RPDR Espanha e Tailândia são super amadoras - e incomodam um pouco às vezes mesmo -, mas só de não ter essa roteirização forçada dos EUA já as deixa muito melhores.
O Arsenal dos Espiões
3.2 8Acho que fui um tanto ingênuo esperando imparcialidade de uma série estadunidense sobre espionagem. Retratar o Snowden como um fora-da-lei barato sem nem tocar no roubo massivo de informações feito pela NSA? Essa agência plantou escuta até no telefone presidencial do Brasil! No gabinete da chanceler alemã! Francamente, né? E ainda chamam historiador da CIA, seilá-o-que do FBI, nananá do Pentágono, sem oferecer contraparte, sem segunda opinião alguma. Se não me engano, houve UM convidado sem associação direta com alguma agência estadunidense. E ainda se diz documentário... francamente! Se puxar o fio dos produtores e financiadores dessa série, pode ter certeza que vai encontrar dedo do governo. Poderiam até ter se incluído no tal "arsenal dos espiões", porque é como dizem por aí: propaganda é a alma do negócio.
Lost (6ª Temporada)
3.9 998 Assista AgoraO último episódio é uma tragédia. E nem digo isso do ponto de vista do roteiro, ao qual todo mundo é tão apegado quando se trata de Lost, falo da filmagem mesmo. As cenas do bambuzal são muito mal filmadas, tem um erro de continuidade grosseiro na luta do penhasco (o Homem de Preto é São Pedro agora, morre e limpa o céu estalando o dedo?), e a cena com o Christian, lotado de símbolos religiosos, é de uma obviedade irritante. Triste fim de uma série que retirava sua força de transições cinematográficas criativas e de meias-explicações que instigavam. Agora sim falando de roteiro: aquele coração da ilha deve ser a coisa mais ridícula que já vi em ficção científica, e olha que já vi vários StarTrek. Eles pegaram a cena da ilha sendo uma "rolha que mantém o mal preso hurr durr" e tornaram isso literal com uma rolha gigante numa fonte secreta de luz, vida e arco-íris. Francamente, né? Chutaram o pau da barraca.
O Reino Perdido dos Piratas
3.5 12 Assista AgoraO Jordison falou tudo aí embaixo. Algumas repetições irritam por subestimar a memória de quem vê: uma coisa é fazer recapitulação, outra é encher linguiça. Soma-se a isso os comentários levianos de alguns historiadores chamados, que muita vezes se contradiziam em episódios diferentes. O foco é claramente britânico, o que faz certo sentido, mas poderiam ter diversificado a abordagem. Fiquei um pouco chocado com a periodização, que só aborda dois anos do começo do séxulo XVIII, como se a pirataria e a corsaria não tivesse raízes desde Drake em 1580. Entendo que a ideia era abordar Nassau, mas não deixa de ser uma severa miopia histórica, como se todo aquele modo de pensamento tivesse brotado dos brócolis. De forma geral, em que pese os historiadores chamados, é um documentário de leigos para leigos, que acrescenta tanto à romantização de um estilo de vida "anárquico" quanto à elucidação histórica da pirataria como agência propriamente histórica. Se não se propusesse um documentário, não haveria problema, mas já que o fez, é uma contradição difícil de superar. Enfim, entretenimento barato e vagamente construtivo. Mas como um historiador cansado, admito que me divertiu sim.
Devilman Crybaby
4.1 190 Assista AgoraDá pra ver por onde e porque esse mangá tanto influenciou o Hideaki Anno. A direção de arte é impecável, com ideias visuais tão boas quanto diretas (a ideia de uma Terra desolada com um horizonte de cruzes e o mar vermelho contratanto com o azul do céu é tão simbólica e incisiva que o Hideaki nem fez questão de disfarçar o "empréstimo" em Evangelion). O enredo é melhor ainda: o que começa como uma aventura típica de shonen vai se deslocando pruma crítica agressiva ao belicismo e o preconceito pra no fim se interiorizar num estudo sobre psicologia do apego e da perda. Curiosamente, o arco narrativo começa e termina com Ryo e Akira, com a relação de fraternidade entre crianças deslocadas, mesmo que isso seja mostrado retrospectivamente. Isso também é interessante, como o enredo evolui temporalmente, mas o fundamental está atrás, na infância, no que não foi entendido e está portanto condenado. É, no fim, uma história sobre o inevitável. As alegorias bíblicas, que adicionariam ou esclareceriam bastante desse enredo humano, ficaram a desejar porque esbarraram no único defeito da adaptação: a pressa. A impressão que se tem é de que são trailers do mangá original: alguns personagens aparecem do nada, outros morrem sem mais nem menos... Ficou bem atropelado, o que é um pouco inaceitável sabendo o tamanho do lucro que a Netflix tem em cada título que lança. Mesquinheza pura. Fora isso, excelente.
It's a Sin
4.4 102 Assista AgoraNão sei muito o que dizer. Por mais que eu concorde que séries pesadas sobre HIV/AIDS sejam importantes para conscientização - e até pro senso de comunidade LGBT que anda tão pulverizado - o sentimento que fica é de desesperança e melancolia. E, pra mim, conscientização tem de andar junto de redenção, saídas, exemplos, esperanças, sobre-vivências. Evidenciar a vida sem esquecer dos mortos. E nisso a série decepciona. Seguindo a trilha de Years and Years (que não tive estômago de terminar), a paisagem que se desenha aqui é de desolação total, e por mais que se possa dizer que esta era de fato a paisagem, que a série é fidedigna/histórica nesse aspecto, eu posso responder que não se trata de um documentário, mas de um romance de época feita para outra época.
Tudo faz sentido ao se levar em conta o título da série (É um Pecado), que já adianta o estigma duplo da homossexualidade e da soropositividade naqueles dias - e até hoje. Mas até onde vai a crítica quando o enredo parece uma reprodução fatalista desses estigmas? Onde tá a contraposição dessa visão moralizante? Nas duas últimas cenas? Nos coadjuvantes mal-explorados que sobrevivem sem nem um diálogo final? Enfim... é uma série boa, mas Pose é bem melhor estruturado em conscientização sociopolítica, e We Were Here me é bem mais consistente em elucidação histórica. Se me perguntarem, vou nesses.
American Horror Story: Apocalypse (8ª Temporada)
3.5 511Bom, foi pra fanbase, né? Eu particularmente achei uma boa temporada. O vilão é mal-resolvido e, claro, tem umas viagens de roteiro imperdoáveis (tipo salvar os Romanoff. sabe, é sério isso? bruxinhas a favor do capital? tosquera demais). Mas no geral é uma temporada que agrada, principalmente por ser uma das menores. A virada no roteiro pelo terceiro ou quarto episódio ajuda também a manter a sanidade do roteiro. É que quanto mais eu vejo AHS mais percebo que é uma série que não pode ter muitas liberdades, senão dá bosta. Tem que ser um tema direto e uma temporada curta, do contrário eles começam a falar de.... salvar uma bruxinha tsarista viajando no tempo.
American Horror Story: Coven (3ª Temporada)
3.8 2,1KSe não bastasse o nível geral de GAY do AHS, fizeram uma temporada só pras GAY. E o spinoff no Apocalypse. E o reboot no Scream Queens. E eu adoro? Adoro.
Lost (4ª Temporada)
4.2 329 Assista AgoraTemporada de pura inspiração para roteiristas e semelhantes. Lost deixou sua marca no quesito remissões, flash-backs, construções de personagens, etc. Disso todos sabem. Mas leio pouco sobre como os roteiristas se reinventam nessa temporada com os flash-forwards, dando um novo fôlego às já surradas personalidades principais. Um último fôlego, inclusive, porque os flashs-seilá-o-que das próximas temporadas não chegam nem perto dos ganchos criados nesta, e os personagens, de tanta remissão, já estão previsíveis e gastos. Não à toa, o povo começa a odiar Jack & Cia por aqui.
American Horror Story: Murder House (1ª Temporada)
4.2 2,2KEntretenimento barato. Sabe acidente de beira de estrada, que você quer desviar o olhar mas não consegue de tão ruim? Pois é. Tem seu charme de série pra botar com sono e dormir sem culpa, mas francamente, se eu soubesse de antemão que seria essa novela mexicana de espírito ciumento eu nem teria começado. Sem falar da caralhada de estereótipo bizarro de histeria feminina que tem nessa série. E pra não falarem que eu não citei nada de bom, as referências que os diretores usam descaradamente são ótimas: A Profecia, Medeia, Bebê de Rosemary, Os Outros, etc.
Lovecraft Country (1ª Temporada)
4.1 404Poxa, não sei o que dizer. Politicamente a série é impecável, mas tematicamente ficou meio brega em alguns episódios. O ritmo também ficou meio solto. Acredito que eles tenham pensado em fazer um bem-bolado com os grandes temas de sci-fi, que historicamente é associado à venda de pulps e à população negra estadunidense. Mas tentaram abraçar o mundo com as pernas, acho, e com diretores muito diferentes. O episódio galáctico foi assim, incrível do começo ao fim, muito muito muito bom, mas o do fantasma nazista... que queda, né? O CGI me incomodou um pouco também, principalmente porque o resto da direção de arte é muito bom. Mas pralém de ficar de picuinha, é uma das séries do ano pra mim. Ótimo trabalho de reinterpretação do Lovecraft. É realmente brilhante se você pensar que pegam a obra do cara, abertamente racista, e a transformaram em uma grande metáfora do horror do racismo.
O Sangue de Zeus (1ª Temporada)
3.6 88 Assista AgoraAnimação péssima, não há expressão alguma nos rostos, precisa de MUITO mais quadros. Chega ao ponto da dublagem sair de sincronia com a imagem, péssimo mesmo. História clichê com final previsível. Uma perda de tempo, francamente.
Away (1ª Temporada)
3.8 96 Assista AgoraEu imagino que eles tenham se inspirado em Lost: um terço de estranheza, um terço de biografia, um terço de drama. E realmente, isso tira um pouco a ciência da ficção científica e deixa o enredo mais humano.
Mas só funciona quando os personagens são interessantes, né? Imagine um Lost feito só com Jacks: perfeitinho, americanozinho, patriotazinho, familiazinho, certinho, moralzinho... um porre tremendo. Acho que a única coisa que me chamou a atenção na série toda foi o lance que surge entre o Ram e a COMMANDER GREEN (aliás, que porre essa chamação de comandante ein? os cara dividem uma kitnet por oito meses e ficam de comandante pra lá e pra cá? haja paciência). Que é inclusive a única vontade não-normótica dessas quase dez horas de série. E digo mais: novamente uma série da Netflix que bota os russos e os chineses como os vilões nacionalistas, quando os maiores nacionalistas desse mundinho condenado são os EUA do sr. Trump. Enfim, a hipocrisia.
Só pra compartilhar o ouro que já postaram aqui: sobreviver ao tédio dessa série só pulando as histórias da Terra mesmo. Fica a dica. Mas as atuações estão realmente muito boas. Menos a do pai, aquele chato que tem duas funções na série toda: fazer biquinho e salvar o dia. Haja paciência..
The Umbrella Academy (2ª Temporada)
4.1 322Sabe aquele jeitinho divertido de quadrinhos em que os personagens morrem e voltam só pra morrer de novo na edição seguinte? Que não faz o menor sentido mas você tá lá querendo a edição seguinte? Então, não adaptem esse tipo de quadrinho pra live-action. O que em HQ pode ser visto como enredo de livre-associação acaba virando uma grande palhaçada em audiovisual: plot-hole em todo canto, inconsistência de personagem, pontas soltas pra todos, personagens esquecidos no churrasco... É que nem um acidente de carro que você não consegue desviar o olhar. Pontos pro Cinco que carregou a família nas costas, pro Klaus que sustentou o carisma da temporada inteira, e pra Ellen Page que conseguiu fazer a sapatona mais entediante que já vi na história do cinema.
A Era dos Dados: A Ciência por Trás de Tudo …
4.0 12 Assista AgoraO apresentador parece saído de um programa infantil, então o documentário pega um jeito de Coursera que eu odiei. E, sei lá, o tom dos comentários são tecnofílicos demais pro meu gosto. Se a tecnologia fosse "salvar o mundo", já teria feito há muito.
Boca a Boca (1ª Temporada)
3.8 168 Assista AgoraOlha, a direção de arte é impecável: iluminação, locaçao, fotografia, figurino... A trilha sonora impressiona: Sophie, Boy Harsher, Baco Exu, Trupe Chá, The Knife... Uma lindeza. O argumento também é ótimo. O começo inclusive lembra o de Bacurau, com a hipótese futurista em cenário interiorano. A coisa do Culto, a separação de Progresso da Capital como um refúgio político-religioso bizarro; citada de relance, dosada, criando expectativa, é esteticamente muito sedutora. Há momentos de puro brilhantismo, como a cena da pregação na academia, algumas que mimetizam o Instagram e, principalmente, o desfecho do primeiro episódio. Mais sutilmente sintonizado com nosso contexto de desgraça nacional e pandemia global impossível.
MAS, o desenvolvimento deixa a desejar. Não sei, acho que o que havia de simbólico (e alegórico, e crítico) do começo da série se perdeu num desenvolvimento... mundano. A partir do quarto episódio (algo assim), o mergulho nos protagonistas focaliza nossa atenção no que a série é: um romance de formação modernoso. A narrativa principal se desfia em dramas pessoais muito particulares - e francamente irreais, tendo em vista que
estão quase todos pra morrer
cura da doença
Enfim, recomendei a todos os meus amigos. Mas não julguei quem abandonou nos últimos dois episódios.
Eu, Claudius
4.4 5Excelente. Um tanto longa e anticlimática a princípio (ainda mais nesses tempos de séries-relâmpago do Netflix), mas depois do baque inicial é uma delícia acompanhar a dinastia júlio-claudiana de perto por um século e tanto. Dizem que foi uma grande inspiração pro GoT da HBO, e eu consigo ver porquê. Sobre a veracidade da história em si, o Robert Graves parece ter se baseado única e literalmente nos historiadores romanos clássicos, e nisso peca um pouco ao incorrer em fofocas populares e palacianas. Mas que ele consegue fazer disso um belo drama, consegue. Pontos e pontos pra Sian Philips, que fez uma Lívia impecável e merecidamente ganhou um BAFTA por isso.
Veep (7ª Temporada)
4.4 51 Assista AgoraAcredito que o auge da série ficou mesmo lá pela 4ª e 5ª temporada, mas essa foi curta e certeira, o que me agradou bastante. Série boa de comédia já é coisa rara, de comédia inteligente e ácida é quase a cada década. Gostei do tom sombrio e crítico com que ela termina, acredito que foi uma boa finalização pra Selina que, apesar de adorável e hilária, é também a encarnação de tudo que vemos de errado na política contemporânea. E nada me tira da cabeça que o Jonah é baseado no Trump e no Bolsonaro (ele passando varíola pra todo mundo foi praticamente uma premeditação do nosso coisa-ruim nacional passando Covid e abraçando criança sem máscara por aqui). Se souberem de séries parecidas, agradeço o aviso!
Space Force (1ª Temporada)
3.2 124 Assista AgoraComo os comentários abaixo, foi uma primeira temporada confusa em seus objetivos. Não convence como drama, nem como comédia, restando pra série o rótulo de uma crítica de costumes bem-humorada - agradável, mas genérica. Espero que acertem (maximizem, pra mim) o tom na próxima, porque, em tempos de sucessos sobre o Estado americano como Veep e de lançamentos teatrais à lua como o de Musk, o roteiro não poderia ter um timing melhor pra ser uma série de sucesso. Pontos pra China, realmente, que carrega o humor da série nas costas, e multas pros dramas pessoais dos personagens, sofríveis de tão mal escritos e atuados.
Veep (6ª Temporada)
4.1 34 Assista AgoraVeep continua insuperável na criatividade dos xingamentos, e ainda tô pra ver um personagem tão abertamente odiável sendo protagonista de uma série de comédia como a Selina é. Temporada morna, mas ainda muito acima da média.
O Nome da Rosa
3.7 17Ótima adaptação. Peca um pouco nos efeitos especiais, mas compensa na fidelidade ao livro.
Veep (5ª Temporada)
4.5 46Impecável. Séries como Veep, 30Rock e Fleabag são um dos poucos ânimos no modelo de séries enlatadas que domina o audiovisual atualmente..
Westworld (3ª Temporada)
3.6 322Toda temporada o William
morrendo de uma forma diferente