Lindeza de filme sobre a infância. Adoro como Hou inverte os papéis entre a louca (que deveria agir com insanidade, mas é doce) e entre os adultos ditos “normais”, que tratam as crianças, sem perceber, com perigosa negligência. Todos absolutamente naturais em seus papéis, desde o elenco infantil até os avós, dando um tom de realismo nostálgico muito bem-vindo ao filme. De bônus, o mestre Edward Yang ainda faz uma ponta como o pai das crianças. Lembrou-me “Tonari no Totoro” e “Suzaku”, mas este aqui veio bem antes. Hsiao-hsien sempre é garantia de qualidade.
Só o trabalho do Walter Carvalho na fotografia já vale todos os elogios ao filme, mas ainda há um link sensacional com a era Collor - o impacto do congelamento das cadernetas foi bem aquele, segundo me contaram. É verdade que depois a trama parte para uma mistura meio estranha de noir com road-movie numa no man’s land romântica - talvez fosse intencional, mas o filme perdeu sua força ali, para mim. Indo contra a maioria, não gostei do Fernando como Paco, mas a Fernanda estava ótima. Final muito bom, e não falo só da parte com Vapor Barato, mas da irônica cena seguinte. Filme a se respeitar imensamente.
Arrisco dizer que é um das melhores produções brasileiras dos últimos anos, reflete tudo de bom que vem sendo feito lá fora com uma qualidade excelente. Roteiro bem costurado sem ser excessivamente didático - ou seja, não subestima a inteligência de quem vê - e atuações digníssimas. Adorei a voz da Carla Ribas, e que presença em cena ela tem! Vou procurar mais trabalhos seus. Lindo filme, infelizmente pouco conhecido, merecia ser melhor divulgado àqueles que subestimam o cinema nacional.
“Vivemos numa época em que todos mentem. Os farmacêuticos, os políticos, o rádio, o cinema, os jornais. Então por que nós, simples cidadãos, não iríamos mentir?”
É como uma continuação\reedição de “Les Uns et Les Autres”, mas contando também a história de vida do Lelouch e incluindo aí uma homenagem emocionante ao cinema e à obra do cineasta. Claude Lelouch é mesmo um mestre, são poucos os que com 50 anos de estrada ainda lançam filmes que não devem em nada às suas obras consagradas. O que ele faz aqui só reafirma sua paixão pelo cinema e seu talento em construir romances. “Ces Amours-là” é a nostalgia traduzida em película, com uma trilha sonora sensacional que vai de jazz a Rachmaninoff.
Rever esse filme é renovar a fé no cinema contemporâneo, Yang deveria ter vivido mais para que pudéssemos apreciar novas obras assim: que investiguem toda a profundidade humana, afinal, quem disse que só podemos conhecer metade da verdade? O pequeno Yang-Yang não aceitou isso, e o grande Edward Yang também não - para a nossa sorte. “Yi Yi” é uma obra-prima imensurável e, para mim, eterna.
Uma das biografias mais plasticamente primorosas que já vi, impossível não amar a expressão frágil e perdida de Montès. As cenas no circo são sensacionais, as diferenças entre o que é dito no espetáculo e a vida real de Lola também são muito interessantes para pontuar a hipocrisia da época. A cena final é emblemática porque demonstra o que uma bela mulher sempre corre o risco de tornar-se, por azar do destino ou escolhas difíceis:
Incrível o filme, e tudo que aconteceu com ele foi totalmente injusto, desde o seu fracasso comercial - de fato as pessoas não deviam estar preparadas para essa maravilha - e todos os cortes e relançamentos sem o aval do diretor. Último filme de Ophüls e, dentre os que vi, achei o melhor.
Nossa, que lindo. A câmera de Ophüls no auge da sua valsa, atravessando tudo e todos. “Madame de...” pega muitos elementos de “Letter from an Unknown Woman” e os aperfeiçoa; se no primeiro tínhamos as dificuldades da pobreza, nesse temos a vida de aparências dos ricos. Danielle Darrieux conseguiu me conquistar muito mais que a personagem de Joan Fontaine: a Madame muda de forma tão real e assustadora que é impossível não torcermos por ela. O consagrado diretor Vittorio de Sica, quem diria, se sai um verdadeiro cavalheiro, charmoso e sem afetações, como o Barão Donati. O amor intenso de Ophüls, que como uma doença invade os sentidos dos amantes, encontra neste filme uma de suas mais vívidas expressões. Perfeito.
Apesar de as três histórias contadas divergirem muito em qualidade - a primeira é mal desenvolvida e a terceira não me agradou tanto, ainda prefiro “Le Plaisir” a “Letter from an Unknown Woman”. O conto das prostitutas vale o filme inteiro, muito bom e sincero. Ophüls entrega novamente uma obra de perfeição técnica invejável, cada cena parece cuidadosamente planejada e a narração fictícia de Maupassant deu muita leveza à obra.
A crítica feita ao sonho capitalista pós-guerra é duríssima, o triângulo amoroso retratado sem concessões é no mínimo ousado e Simone Signoret esbanja elegância e sensualidade a cada tragada. Subir na vida, arranjar um lugar no topo, mesmo pondo a alma em leilão? “Room at the Top” é uma obra-prima de Clayton e totalmente negligenciada, que pena. Sorte dos que tiverem a chance de conhecer os tormentos morais de Joe Lampton - que inspira, ao mesmo tempo, raiva e pena, por culpa da ótima atuação de Laurence Harvey. Assim é que se vende a alma ao diabo.
Sensacional, um passeio pelas profundezas da mente sarcástica de Clive Langham. Se há muitos filmes que retratam sonhos, poucos conseguiram traduzir as lembranças como “Providence”. Os personagens bebem o filme inteiro - vinho branco ou champagne - mas os diálogos são de uma sobriedade incrível, coaduno com quase todas as idéias de Resnais aqui. Lindíssimo filme e as cenas do aniversário são especialmente belas. Verdadeiro crime que só 22 pessoas o viram.
Esta deve ser a magnum opus de Miklós Jancsó. Direção inspiradíssima - ainda estou pasma com as cenas que ele criou aqui - e um final para assombrar a mente de qualquer ser humano.
Este filme de forma alguma é propagandista. Tanto vermelhos quanto brancos agem da mesma forma e com os mesmos métodos cruéis, afinal, o que é a guerra senão a desumanização dos que nela combatem? O valor da vida é diminuído a zero e qualquer motivo patriótico sucumbe perante a insanidade do conflito. Vários filmes abordam essa temática, mas Jancsó o faz sem floreios e entrega um filme onde os personagens parecem ressequidos de qualquer “sentimento”, meros robôs. Quanto mais obras vejo de Miklós, mais o admiro.
Sou das que não apreciam o cinema de Bertolucci, mas “Il Conformista” tem méritos inegáveis. Considero este o melhor filme do diretor, agraciado com a performance magistral de Jean-Louis Trintignant e Stefania Sandrelli (a sua “burguesa trivial” é um dos pontos altos da obra) ótima trilha sonora e lindíssima fotografia de Storaro.
Aqui se faz, aqui se paga, meus amigos! A melhor vingança que já vi no cinema, vingança limpa e justa, sem firulas.
Por que ceder à maldade antes da justiça? Por que preferir ignorar a dor de outrem, por preconceito ou cegueira? Só quando a desgraça é conosco que podemos senti-la? Neste “Manon des Sources” Berri vai mais fundo que a primeira obra em todos esses dilemas humanos, e questiona a validade das superstições numa sociedade pautada em cinismo. Soberbo.
Nunca esquecerei os gritos tristes de Emmanuelle Béart nas colinas da Provença, nem a música que ela tocava na gaita de seu pai.
Este filme é sensacional em todos os aspectos. Poderia ficar horas citando todos os seus detalhes geniais, desde o roteiro soberbo até o embate de três monstros sagrados do cinema: Auteuil, Montand e Depardieu.
Vou resignar-me a dizer apenas que nunca tive tanto asco da raça humana quanto depois de assistir “Jean de Florette”, e que não pretendo revê-lo tão cedo, de tanta raiva que despertou-me ver a destruição gradativa de uma vida humana pelo espírito de porco daqueles vermes Soubeyran - o retrato do sistema econômico atual, diga-se de passagem.
- Giacometti uma vez disse: “Se eu estivesse no meio do fogo e tivesse que escolher entre um Rembrandt e um gato... escolheria o gato.” - “...E então o deixaria partir.”
Um dos melhores filmes românticos que tive o prazer de ver e um dos meus favoritos desde já. Trintignant e Aimée nasceram para esses papéis.
Acho que o cachorro era o morador mais sensato daquela cidade perdida no tempo. Provavelmente o primeiro filme sem diálogos onde os protagonistas são cabras, pinheiros e a própria terra em que pisamos.
Obra-prima desconhecida do Melville, thriller político tão primoroso quanto “Z” e “L'Aveu” do Costa-Gravas. Um retrato sóbrio mas não menos apaixonante da resistência francesa - ao som de Mozart.
O final lembra muito “Z”, contando o destino trágico de cada personagem. “Luc Jardie mourut sous la torture le 22 janvier 1944, après avoir livré un nom: le sien.”
Melhor trabalho do Yves Montand que tive o prazer de ver, filme extremamente sufocante.
A título de curiosidade, Simone Signoret e Montand - que fazem papel de marido e mulher neste “L'Aveu”, também eram casados e militantes políticos na vida real.
Kawase é extraordinária nessa mistura entre realidade e ficção. Neste filme os elementos autobiográficos e documentais costuram-se com o plot principal de forma muito sensível, adoro a forma com que a diretora usa as luzes e cores claras, como retrata o escuro sempre com um pequeno feixe de luz à espreita, como recorre a canções populares que trazem consigo um confortável ar nostálgico.
É um cinema de memórias, como ela gosta de dizer.
Há um breve momento onde a família vê um filme caseiro, não vemos as imagens mas sabemos que foram bonitas, pois apesar de tudo seus rostos esboçam paz e Michiru sorri levemente. Foi assim que terminei “Suzaku”: em paz, sorrindo, consciente do acaso da vida - e querendo viver num lugar tão lindo quanto as montanhas verdes de Nara.
Kobayashi tem uma preferência por personagens marginalizados que me encanta. Ele põe-nos do lado dos rejeitados, dos tratados como inferiores, e demonstra a grandeza de espírito que estes homens têm, ao contrário dos bem-nascidos.
Neste filme aqui não é diferente, e ele vai bem longe nesse aspecto elegendo como heróis um grupo de contrabandistas perturbados e libertinos, vistos pela sociedade “sã” como “criminosos maus” em essência.
Ótima construção de personagens, apesar de serem muitos e não ficarmos sabendo de vários detalhes a respeito deles - com exceção de Sadashichi, Tomijiro e do bêbado sem nome, que têm parte de suas vidas devidamente contadas (Kobayashi adora invocar os tormentos de pessoas simples) - conseguimos gostar de todos, como amigos.
O final é enigmático como sempre, trágico mas com esperança pro futuro - o que parece ser uma marca do diretor.
Como em outras obras de Masaki podemos desfrutar do perfeccionismo nos enquadramentos e da ótima trilha sonora de Takemitsu.
Achei curiosa a tradução do título para o inglês, pois é uma antítese à mensagem do filme, já que o título original significa “Damos Nossa Vida por Nada”, demonstrando a coragem e bondade dos “marginais”, enquanto que o título em inglês “Taverna da Maldade” sugere o que deles pensa a sociedade.
Um dos filmes mais lindos que eu já vi na minha vida, pena que o Erice não conseguiu terminá-lo. Pois é, um amigo contou-me que o filme teria originalmente três horas de duração.
Após a morte do Pai, Estrella vai mesmo para o sul e acaba conhecendo um meio-irmão, filho do pai dela com a atriz, e ele tem de certa forma os mesmos anseios dela, mas em relação ao norte.
Só que algumas mudanças no Ministério da Cultura cortaram o orçamento do filme. Então, o produtor Elías Querejeta mandou a fita para Cannes sem Erice saber, e depois que a obra tornou-se sucesso por lá ele abandonou o filme, mas sempre salienta que é uma obra inacabada.
Um Verão na Casa do Vovô
3.8 6Lindeza de filme sobre a infância. Adoro como Hou inverte os papéis entre a louca (que deveria agir com insanidade, mas é doce) e entre os adultos ditos “normais”, que tratam as crianças, sem perceber, com perigosa negligência. Todos absolutamente naturais em seus papéis, desde o elenco infantil até os avós, dando um tom de realismo nostálgico muito bem-vindo ao filme. De bônus, o mestre Edward Yang ainda faz uma ponta como o pai das crianças. Lembrou-me “Tonari no Totoro” e “Suzaku”, mas este aqui veio bem antes. Hsiao-hsien sempre é garantia de qualidade.
Terra Estrangeira
4.1 182 Assista AgoraSó o trabalho do Walter Carvalho na fotografia já vale todos os elogios ao filme, mas ainda há um link sensacional com a era Collor - o impacto do congelamento das cadernetas foi bem aquele, segundo me contaram. É verdade que depois a trama parte para uma mistura meio estranha de noir com road-movie numa no man’s land romântica - talvez fosse intencional, mas o filme perdeu sua força ali, para mim. Indo contra a maioria, não gostei do Fernando como Paco, mas a Fernanda estava ótima. Final muito bom, e não falo só da parte com Vapor Barato, mas da irônica cena seguinte.
Filme a se respeitar imensamente.
A Casa de Alice
3.7 139Arrisco dizer que é um das melhores produções brasileiras dos últimos anos, reflete tudo de bom que vem sendo feito lá fora com uma qualidade excelente. Roteiro bem costurado sem ser excessivamente didático - ou seja, não subestima a inteligência de quem vê - e atuações digníssimas. Adorei a voz da Carla Ribas, e que presença em cena ela tem! Vou procurar mais trabalhos seus. Lindo filme, infelizmente pouco conhecido, merecia ser melhor divulgado àqueles que subestimam o cinema nacional.
A Regra do Jogo
4.1 122 Assista Agora“Vivemos numa época em que todos mentem. Os farmacêuticos, os políticos, o rádio, o cinema, os jornais. Então por que nós, simples cidadãos, não iríamos mentir?”
Esses Amores
3.9 61É como uma continuação\reedição de “Les Uns et Les Autres”, mas contando também a história de vida do Lelouch e incluindo aí uma homenagem emocionante ao cinema e à obra do cineasta. Claude Lelouch é mesmo um mestre, são poucos os que com 50 anos de estrada ainda lançam filmes que não devem em nada às suas obras consagradas. O que ele faz aqui só reafirma sua paixão pelo cinema e seu talento em construir romances. “Ces Amours-là” é a nostalgia traduzida em película, com uma trilha sonora sensacional que vai de jazz a Rachmaninoff.
As Coisas Simples da Vida
4.3 120Rever esse filme é renovar a fé no cinema contemporâneo, Yang deveria ter vivido mais para que pudéssemos apreciar novas obras assim: que investiguem toda a profundidade humana, afinal, quem disse que só podemos conhecer metade da verdade? O pequeno Yang-Yang não aceitou isso, e o grande Edward Yang também não - para a nossa sorte.
“Yi Yi” é uma obra-prima imensurável e, para mim, eterna.
Lola Montes
4.0 23Uma das biografias mais plasticamente primorosas que já vi, impossível não amar a expressão frágil e perdida de Montès. As cenas no circo são sensacionais, as diferenças entre o que é dito no espetáculo e a vida real de Lola também são muito interessantes para pontuar a hipocrisia da época. A cena final é emblemática porque demonstra o que uma bela mulher sempre corre o risco de tornar-se, por azar do destino ou escolhas difíceis:
mero objeto que se compra por um dólar.
Incrível o filme, e tudo que aconteceu com ele foi totalmente injusto, desde o seu fracasso comercial - de fato as pessoas não deviam estar preparadas para essa maravilha - e todos os cortes e relançamentos sem o aval do diretor.
Último filme de Ophüls e, dentre os que vi, achei o melhor.
Desejos Proibidos
3.9 27 Assista AgoraNossa, que lindo. A câmera de Ophüls no auge da sua valsa, atravessando tudo e todos. “Madame de...” pega muitos elementos de “Letter from an Unknown Woman” e os aperfeiçoa; se no primeiro tínhamos as dificuldades da pobreza, nesse temos a vida de aparências dos ricos. Danielle Darrieux conseguiu me conquistar muito mais que a personagem de Joan Fontaine: a Madame muda de forma tão real e assustadora que é impossível não torcermos por ela. O consagrado diretor Vittorio de Sica, quem diria, se sai um verdadeiro cavalheiro, charmoso e sem afetações, como o Barão Donati. O amor intenso de Ophüls, que como uma doença invade os sentidos dos amantes, encontra neste filme uma de suas mais vívidas expressões. Perfeito.
O Prazer
4.0 13Apesar de as três histórias contadas divergirem muito em qualidade - a primeira é mal desenvolvida e a terceira não me agradou tanto, ainda prefiro “Le Plaisir” a “Letter from an Unknown Woman”. O conto das prostitutas vale o filme inteiro, muito bom e sincero. Ophüls entrega novamente uma obra de perfeição técnica invejável, cada cena parece cuidadosamente planejada e a narração fictícia de Maupassant deu muita leveza à obra.
Almas em Leilão
4.0 22A crítica feita ao sonho capitalista pós-guerra é duríssima, o triângulo amoroso retratado sem concessões é no mínimo ousado e Simone Signoret esbanja elegância e sensualidade a cada tragada. Subir na vida, arranjar um lugar no topo, mesmo pondo a alma em leilão? “Room at the Top” é uma obra-prima de Clayton e totalmente negligenciada, que pena. Sorte dos que tiverem a chance de conhecer os tormentos morais de Joe Lampton - que inspira, ao mesmo tempo, raiva e pena, por culpa da ótima atuação de Laurence Harvey. Assim é que se vende a alma ao diabo.
Providence
4.2 24Sensacional, um passeio pelas profundezas da mente sarcástica de Clive Langham. Se há muitos filmes que retratam sonhos, poucos conseguiram traduzir as lembranças como “Providence”. Os personagens bebem o filme inteiro - vinho branco ou champagne - mas os diálogos são de uma sobriedade incrível, coaduno com quase todas as idéias de Resnais aqui. Lindíssimo filme e as cenas do aniversário são especialmente belas. Verdadeiro crime que só 22 pessoas o viram.
Os Sem-Esperança
4.1 11Esta deve ser a magnum opus de Miklós Jancsó. Direção inspiradíssima - ainda estou pasma com as cenas que ele criou aqui - e um final para assombrar a mente de qualquer ser humano.
A esperança era impossível aos homens de Sándor, afinal.
Vermelhos e Brancos
4.0 18Este filme de forma alguma é propagandista. Tanto vermelhos quanto brancos agem da mesma forma e com os mesmos métodos cruéis, afinal, o que é a guerra senão a desumanização dos que nela combatem? O valor da vida é diminuído a zero e qualquer motivo patriótico sucumbe perante a insanidade do conflito. Vários filmes abordam essa temática, mas Jancsó o faz sem floreios e entrega um filme onde os personagens parecem ressequidos de qualquer “sentimento”, meros robôs.
Quanto mais obras vejo de Miklós, mais o admiro.
O Conformista
4.1 83 Assista AgoraSou das que não apreciam o cinema de Bertolucci, mas “Il Conformista” tem méritos inegáveis. Considero este o melhor filme do diretor, agraciado com a performance magistral de Jean-Louis Trintignant e Stefania Sandrelli (a sua “burguesa trivial” é um dos pontos altos da obra) ótima trilha sonora e lindíssima fotografia de Storaro.
A Vingança de Manon
4.4 37Aqui se faz, aqui se paga, meus amigos! A melhor vingança que já vi no cinema, vingança limpa e justa, sem firulas.
Por que ceder à maldade antes da justiça? Por que preferir ignorar a dor de outrem, por preconceito ou cegueira? Só quando a desgraça é conosco que podemos senti-la? Neste “Manon des Sources” Berri vai mais fundo que a primeira obra em todos esses dilemas humanos, e questiona a validade das superstições numa sociedade pautada em cinismo. Soberbo.
Nunca esquecerei os gritos tristes de Emmanuelle Béart nas colinas da Provença, nem a música que ela tocava na gaita de seu pai.
Jean de Florette
4.4 51Este filme é sensacional em todos os aspectos. Poderia ficar horas citando todos os seus detalhes geniais, desde o roteiro soberbo até o embate de três monstros sagrados do cinema: Auteuil, Montand e Depardieu.
Vou resignar-me a dizer apenas que nunca tive tanto asco da raça humana quanto depois de assistir “Jean de Florette”, e que não pretendo revê-lo tão cedo, de tanta raiva que despertou-me ver a destruição gradativa de uma vida humana pelo espírito de porco daqueles vermes Soubeyran - o retrato do sistema econômico atual, diga-se de passagem.
Um Homem, Uma Mulher
4.1 87- Giacometti uma vez disse: “Se eu estivesse no meio do fogo e tivesse que escolher entre um Rembrandt e um gato... escolheria o gato.”
- “...E então o deixaria partir.”
Um dos melhores filmes românticos que tive o prazer de ver e um dos meus favoritos desde já. Trintignant e Aimée nasceram para esses papéis.
As Quatro Voltas
3.9 35Acho que o cachorro era o morador mais sensato daquela cidade perdida no tempo. Provavelmente o primeiro filme sem diálogos onde os protagonistas são cabras, pinheiros e a própria terra em que pisamos.
O Exército das Sombras
4.2 26Obra-prima desconhecida do Melville, thriller político tão primoroso quanto “Z” e “L'Aveu” do Costa-Gravas. Um retrato sóbrio mas não menos apaixonante da resistência francesa - ao som de Mozart.
O final lembra muito “Z”, contando o destino trágico de cada personagem. “Luc Jardie mourut sous la torture le 22 janvier 1944, après avoir livré un nom: le sien.”
A Confissão
4.2 22Melhor trabalho do Yves Montand que tive o prazer de ver, filme extremamente sufocante.
A título de curiosidade, Simone Signoret e Montand - que fazem papel de marido e mulher neste “L'Aveu”, também eram casados e militantes políticos na vida real.
Suzaku
4.0 10“Vocês são pássaros da madrugada.”
Kawase é extraordinária nessa mistura entre realidade e ficção. Neste filme os elementos autobiográficos e documentais costuram-se com o plot principal de forma muito sensível, adoro a forma com que a diretora usa as luzes e cores claras, como retrata o escuro sempre com um pequeno feixe de luz à espreita, como recorre a canções populares que trazem consigo um confortável ar nostálgico.
É um cinema de memórias, como ela gosta de dizer.
Há um breve momento onde a família vê um filme caseiro, não vemos as imagens mas sabemos que foram bonitas, pois apesar de tudo seus rostos esboçam paz e Michiru sorri levemente. Foi assim que terminei “Suzaku”: em paz, sorrindo, consciente do acaso da vida - e querendo viver num lugar tão lindo quanto as montanhas verdes de Nara.
Inn of Evil
3.4 3Kobayashi tem uma preferência por personagens marginalizados que me encanta. Ele põe-nos do lado dos rejeitados, dos tratados como inferiores, e demonstra a grandeza de espírito que estes homens têm, ao contrário dos bem-nascidos.
Neste filme aqui não é diferente, e ele vai bem longe nesse aspecto elegendo como heróis um grupo de contrabandistas perturbados e libertinos, vistos pela sociedade “sã” como “criminosos maus” em essência.
Ótima construção de personagens, apesar de serem muitos e não ficarmos sabendo de vários detalhes a respeito deles - com exceção de Sadashichi, Tomijiro e do bêbado sem nome, que têm parte de suas vidas devidamente contadas (Kobayashi adora invocar os tormentos de pessoas simples) - conseguimos gostar de todos, como amigos.
O final é enigmático como sempre, trágico mas com esperança pro futuro - o que parece ser uma marca do diretor.
Como em outras obras de Masaki podemos desfrutar do perfeccionismo nos enquadramentos e da ótima trilha sonora de Takemitsu.
Achei curiosa a tradução do título para o inglês, pois é uma antítese à mensagem do filme, já que o título original significa “Damos Nossa Vida por Nada”, demonstrando a coragem e bondade dos “marginais”, enquanto que o título em inglês “Taverna da Maldade” sugere o que deles pensa a sociedade.
O Sul
4.2 22 Assista AgoraUm dos filmes mais lindos que eu já vi na minha vida, pena que o Erice não conseguiu terminá-lo. Pois é, um amigo contou-me que o filme teria originalmente três horas de duração.
Após a morte do Pai, Estrella vai mesmo para o sul e acaba conhecendo um meio-irmão, filho do pai dela com a atriz, e ele tem de certa forma os mesmos anseios dela, mas em relação ao norte.
Shara
4.0 31Quem não sorri com a cena do pôster?
É a seqüência de chuva mais bonita que já vi.