Um filme sobre expectativas para quem vive na grande cidade, onde a vida é uma engrenagem que tem girar no sentido certo para a máquina funcionar. Só tem liberdade quando a peça espicha e salta para fora, mas daí ela é cuidadosamente posta de volta no lugar. "Recomeçar", como o protagonista repete.
Gostei de vários recursos modernos para contar a história. Um deles é a narrativa não-linear para trazer elementos relevantes na hora certa (não porque A vem depois de B, porque tem que ser assim). Outro foi a quebra da quarta parede no começo para criar um diálogo entre o casal principal em duas cenas separadas. Também alguns monólogos que me lembraram dos que o Bergman faz para fazer refletir sobre um tópico (OK, bem menos eloquentes e fortes aqui). E alguns efeitos como fade-out com sombras, sobreposicão de imagens, e vistas dramáticas da cidade ajudam a dar estilo e elevar a mensagem. O porém é que alguns cortes foram abruptos e acabou estragando a atmosfera de algumas cenas.
E super feliz de ver Eva Wilma e Walmor Chagas novinhos, que foram impecáveis como protagonistas. O Walmor Chagas agora vai ser a minha referência de Mastroianni brasileiro! Otelo Zeloni (Arturo) e Ana Esmeralda (Hilda) também foram bem; outras atuações foram um pouco mais sofridas.
Um achado, descavado em uma das minhas primeiras incursões nos filmes brasileiros mais antigos, que é um território totalmente inexplorado para mim. Descobri que mesmo tendo quase 60 anos, continua um filme muito atual e vale ainda assistir. Foi uma dose saudável de niilismo.
Foi uma surpresa boa ver um filme que tenta mesclar um formato documentário com cinema de ficção (tirando a propaganda descarada da Amazon e a romantização do trabalho nos armazéns deles como um oásis capitalista).
Infelizmente, na segunda parte, esse trunfo é substituído por paisagens, momentos reflexivos e música melancólica para tentar forçar o expectador a sentir algo por uma história que foi construída de forma frágil. São vários fragmentos soltos da história da Fern e das pessoas em volta dela. Cheio de cenas lindas, mas que remeteram mais às minhas lembranças do que com o que estavam acontecendo no filme.
E sinto que o foco do filme foi o luto. Mas, no final, o filme pecou em ditar uma solução para esse processo - a perda de alguém, no fundo, é inexplicável.
Ao contrário de muitos comentários, eu não achei as atuações muito boas, principalmente quando eles falavam em inglês. Às vezes, o ritmo da fala se tornava um pouco artificial e dramático e me distraiu.
Algumas cenas foram destoantes também. Por exemplo,
a cena da galinha que alguém citou, a cena da massagem e das marcas nas costas (talvez porque eu não tenha entendido bem o significado), ou a cena em que Billi anda na rua liderando o grupo com a música ao fundo.
Mas, ao fim do filme, sinto que ele transmitiu sua mensagem sobre diferenças culturais, família, envelhecimento e morte, com leveza e humor. E ainda aprendi um pouco mais sobre a cultura chinesa, que era uma total incógnita para mim. Sem falar que me apaixonei pela personagem da avó -- é decida e imperiosa, sempre de maneira positiva e com bom humor.
São Paulo Sociedade Anônima
4.2 172Um filme sobre expectativas para quem vive na grande cidade, onde a vida é uma engrenagem que tem girar no sentido certo para a máquina funcionar. Só tem liberdade quando a peça espicha e salta para fora, mas daí ela é cuidadosamente posta de volta no lugar. "Recomeçar", como o protagonista repete.
Gostei de vários recursos modernos para contar a história. Um deles é a narrativa não-linear para trazer elementos relevantes na hora certa (não porque A vem depois de B, porque tem que ser assim). Outro foi a quebra da quarta parede no começo para criar um diálogo entre o casal principal em duas cenas separadas. Também alguns monólogos que me lembraram dos que o Bergman faz para fazer refletir sobre um tópico (OK, bem menos eloquentes e fortes aqui). E alguns efeitos como fade-out com sombras, sobreposicão de imagens, e vistas dramáticas da cidade ajudam a dar estilo e elevar a mensagem. O porém é que alguns cortes foram abruptos e acabou estragando a atmosfera de algumas cenas.
E super feliz de ver Eva Wilma e Walmor Chagas novinhos, que foram impecáveis como protagonistas. O Walmor Chagas agora vai ser a minha referência de Mastroianni brasileiro! Otelo Zeloni (Arturo) e Ana Esmeralda (Hilda) também foram bem; outras atuações foram um pouco mais sofridas.
Um achado, descavado em uma das minhas primeiras incursões nos filmes brasileiros mais antigos, que é um território totalmente inexplorado para mim. Descobri que mesmo tendo quase 60 anos, continua um filme muito atual e vale ainda assistir. Foi uma dose saudável de niilismo.
Nomadland
3.9 895 Assista AgoraFoi uma surpresa boa ver um filme que tenta mesclar um formato documentário com cinema de ficção (tirando a propaganda descarada da Amazon e a romantização do trabalho nos armazéns deles como um oásis capitalista).
Infelizmente, na segunda parte, esse trunfo é substituído por paisagens, momentos reflexivos e música melancólica para tentar forçar o expectador a sentir algo por uma história que foi construída de forma frágil. São vários fragmentos soltos da história da Fern e das pessoas em volta dela. Cheio de cenas lindas, mas que remeteram mais às minhas lembranças do que com o que estavam acontecendo no filme.
E sinto que o foco do filme foi o luto. Mas, no final, o filme pecou em ditar uma solução para esse processo - a perda de alguém, no fundo, é inexplicável.
A Despedida
4.0 298Ao contrário de muitos comentários, eu não achei as atuações muito boas, principalmente quando eles falavam em inglês. Às vezes, o ritmo da fala se tornava um pouco artificial e dramático e me distraiu.
Algumas cenas foram destoantes também. Por exemplo,
a cena da galinha que alguém citou, a cena da massagem e das marcas nas costas (talvez porque eu não tenha entendido bem o significado), ou a cena em que Billi anda na rua liderando o grupo com a música ao fundo.
Mas, ao fim do filme, sinto que ele transmitiu sua mensagem sobre diferenças culturais, família, envelhecimento e morte, com leveza e humor. E ainda aprendi um pouco mais sobre a cultura chinesa, que era uma total incógnita para mim. Sem falar que me apaixonei pela personagem da avó -- é decida e imperiosa, sempre de maneira positiva e com bom humor.