Nicksson

Essa série escala de forma que eu não tava preparado. Faz sentido que seja assim, eles são jovens e os problemas só vão crescendo em nossas vidas. Achei os personagens muito orgânicos, muito reais, esses atores que fazem os protagonistas são fantásticos. É inacreditável como a Marianne muda do episódio um para o episódio dois, parece outra pessoa, a postura é totalmente diferente; deixa de parecer uma menina frágil(o que ela não era) pra ter um ar intimidador para o Connell.

É interessante ver como os dois, Marienne e Connell, vão seguindo ao longo da série. Ele deixa de ser popular (em um lugar em que ele nem era ele mesmo, mas que se sentia confortável, que tinha a ingenuidade da adolescência) e vai pra um lugar em que ele é mais um na cidade grande, o que é bem comum - é como ele se sente. Essa mudança da cidadezinha, do colégio, da adolescência, vai afetando ele. É um personagem que pode parecer não fazer sentido às vezes, gostaria que explicassem um pouquinho mais o porquê dele ter certas atitudes, acho que faltou explorar isso um pouquinho mais. Ainda sobre isso, nós, homens, podemos ter problemas para se comunicar. É claro que não tô generalizando, mas percebi isso ao longo do tempo. Acho que vem muito dessa besteira que é fraqueza mostrar sentimentos. Algumas coisas podiam ser facilmente resolvidas só com dialogo, e parece até difícil de engolir em alguns momentos, mas isso é bem comum.

A Marianne têm sérios problemas familiares, com a mãe omissa e o irmão abusivo. Ela via no Connell como a única pessoa que olhava pra ela, só o fato dele não tratá-la mal já o fazia diferente. Ela aceitaria tudo por ele. A personagem foi aceitando as migalhas que davam pra ela e até sentia prazer na rejeição. Tem um episódio que é um soco na alma. É triste ver como uma pessoa que não fez nada de mal pra ninguém, pode sofrer tanto. Só queria dar um abraço nela.

Os dois se diminuem perante o outro e vão mudando de papel durante os episódios. Até na posição em que cada um fica em dado momento. Ele ou ela em pé diante do outro. Têm as cenas do sangue e tals. Parece que estamos sempre competindo em nossas relações, temos medo de nos expor. É curioso como o Connell parece ter medo dos sentimentos dela por ele e consequentemente os dele por ela. Ele foge, é muito travado. De novo, queria que explicassem um pouco mais disso. Não que seja necessário explicar tudo e cada ação de uma pessoa tenha que ter uma justificativa, mas acho que dava pra explorar mais, como foi com a Marianne, nós entendemos de onde o drama dela vem.

Os episódios começavam em pontos que não eram imediatos ao episódio anteriores, isso nos causa uma raiva e curiosidade; eles estavam tão bem e, de repente, nem sabemos o que aconteceu e onde estão. O final não foi piegas, deixa para a nossa imaginação o desfecho dos personagens.

Achei Dark frustrante. Acho que tecnicamente é muito boa. Tem um roteiro amarrado, fotografia boa, trilha bem imersiva, ambientação muito competente, mas falta conteúdo. Sinto que Dark não me passou quase nada, uma série que é considerada uma das melhores precisa te deixar uma reflexão. Dava pra ter explorado algumas coisas. Estamos sempre lutando contra o nosso destino? Temos alguma versão melhor? Os nossos relacionamentos são de alguma forma cíclicos? Os fins justificam os meios?(isso aqui parece que a série acha que sim, o que é bem questionável).

Na real, eles pouco desenvolveram os personagens, eram tantos personagens e tantas versões deles mesmos que eles não eram completos por si só. Deram tanto tempo de tela e me venderam que alguns personagens eram importantes, quando muitos não eram. Dava pra usar esse tempo com quem realmente importa. O Noah, por exemplo, que eu achei um personagem bem interessante no início, acabou sem muita relevância. O único personagem que eu achei mais interessante foi o Adam. Sobre as relações, eu nunca me importei com nenhuma relação ali. Acho Dark é muito sobre família, mas nenhuma dessas relações foi bem explorada. Parece que ninguém era realmente conectado ali. Até o relacionamento entre Jonas e Martha não tinha química, eles são a parada da série, o relacionamento deles causa tudo. Eles têm uma conexão maior que o tempo e o espaço e não conseguiram me passar isso em três temporadas.

O ritmo da primeira é problemática, a série andou na segunda e ficou extremamente repetitiva na terceira. Entendo que a proposta da série seja essas repetições e ciclos, mas chegou um momento em que ficou super cansativo com aquelas idas e vindas o tempo todo, com o "começo é o fim e o fim é o começo" e tudo mais.