A proposta deste filme é boa demais para um roteiro tão fraco. Por mais que eu tenha gostado das cenas de ação, foi impossível não pensar que foram tiradas de Matrix e sobrepostas num filme cuja conjuntura é muito mais sofisticada e de foco totalmente distinto. A proposta deste filme é muito similar à da obra 1984, de Orwell, mas com a diferença de que,
enquanto em 1984 são coibidas as ideias, em Equilibrium, por outro lado, são coibidas as emoções.
Sua dialética correlativa é interessante, principalmente porque levanta questionamentos plausíveis através de perspectivas distintas, porém complementares.
Sendo assim, não é nem preciso dizer o quão desnecessárias foram as cenas de ação, que ao invés de contribuírem para autenticidade de um filme com grande potencial, subverteram sua proposta. No entanto, eu o assistiria mais vezes, sim.
Este filme só faz comprovar o quão bom ator é o Ben Kingsley. Já havia me maravilhado com sua atuação monstruosa em House of Sand and Fog, daí me deparo com mais esta em Death and the Maiden. Tem toda a minha admiração.
É um dos filmes de ficção científica mais fascinantes que já vi. Mas antes de qualquer outro comentário que eu possa fazer acerca deste filme por aqui, aponto a interessantíssima imparcialidade com a qual são colocados os pensamentos científico e religioso em perspectiva de assuntos tão importantes como a existência de outras formas de vida no universo, tal como seu criador, sua origem e sobre o quão danoso pode ser o extremismo religioso ante ao avanço da humanidade — e digo que Robert Zemeckis soube abordar muito bem esta questão sem deixar transparecer algum ateísmo arrogante.
Outro detalhe que o diretor soube explorar muito bem foi o fundo filosófico da trama, o que aliás, como muitos sabem, sempre esteve bastante presente em toda a obra de Carl Sagan. A cena em que
é uma das coisas mais fascinantes que já vi na ficção científica; inclusive, Jodie Foster teve uma atuação tão impecável que, por vezes, ao longo da trama, tive a impressão de ver o próprio Carl Sagan em cena, de tamanho que foi o entusiasmo característico do mestre e que ela soube evocar como ninguém.
E bom, não sei se vocês notaram, mas percebi a presença muito frequente de uma prática misógina, conhecida como "manterrupting", que é quando uma mulher que está discursando seja em reuniões ou palestras é interrompida por homens, sem conseguir terminar uma frase. Creio que houve esta intenção de mostrar isto no filme como uma forma de denunciar a constante desvalorização feminina na ciência, por mais que as mulheres cientistas sejam brilhantes, reconhecidas ou renomadas.
Ademais, é inegável que a participação de Ann Druyan teve um impacto vital na realização deste filme, uma vez que ela foi a esposa e também excepcional divulgadora científica ao lado de Carl Sagan. Sua participação foi crucial para transpor os princípios, valores e visão do tão visionário cientista de sua obra para o filme. De fato, Contact é daquelas obras que, embora tenham sido geradas há muitos anos atrás, se manterão por muito tempo tão atuais.
pai de Ellie, quando ela já está na projeção dimensional de "Pensacola", pega os grãos de areia e alguns se sobressaem brilhando, indicando simbolicamente assim, uma galáxia,
de imediado me veio em mente Carl Sagan na série Cosmos fazendo o mesmo gesto e dizendo que somos poeira das estrelas.
"Se só nós existíssemos, seria um tremendo desperdício de espaço."
Sei não, mas acho que depois dessas pessoas dando nota baixa no filme que ainda não viram, todos os responsáveis pelo filme serão invalidados, passarão a morar debaixo de ponte, terão de trabalhar como atendentes de telemarketing ou terão de vender miçangas para viverem.
É um filme bom, com uma atuação sensacional da Julie Delpy no papel da condessa Bathory que a meu ver transmitiu bem a austeridade e sobretudo a natureza cruel da personagem. No entanto, eu esperava mais, principalmente por se tratar de uma personagem histórica e sua lenda, que no fim se resumiram apenas a uma desilusão amorosa. Compreendi bem a intenção de Julie Delpy neste filme, mas acho que deveria haver um pouco mais de enfoque nos personagens coadjuvantes, na sua relação com Darvulia e também nas torturas, já que tais características foram os alicerces em sua composição histórica. Entendo sua perspectiva crítica no que tange o retrato dessa lenda, mas penso que ela obteria um contraste mais interessante se buscasse este enfoque. No mais, adorei a fotografia, os figurinos e a ambientação do filme.
Filme preciso e infelizmente tão atual. Porque afinal de contas, quantas outras garotas não têm a vida e o fim como os de Lilya? Mesmo sendo entregue uma prévia de seu desfecho logo no início da trama, sob desesperança torci para que seu destino tivesse contornos diferentes.
No entanto, não se pode esperar outra coisa de uma trama sobre desamor, abusos e objetificação feminina que não seja tristeza e revolta.
Embora eu tenha achado o roteiro fraco, este filme não chega a ser ruim. Muito pelo contrário: sua fotografia é boa, feita em sua maior parte de planos abertos, visando ressaltar visualmente o perigo iminente na trama; as atuações são razoáveis (não achei lá grande coisa); a trilha sonora é muito boa, o que por si só dá um tom interessante à atmosfera do filme, remetendo-o à estética Old School, e o enredo preserva uma simplicidade que torna o filme agradável de assistir, sem se perder em clichés toscos e jumpscares desnecessários.
Acredito que este filme seria muito mais interessante se tanto o roteiro quanto fotografia e cenários fossem melhor trabalhados, do mesmo modo que também seria interessante se fizessem um uso mais preciso da paleta de cores, visto que se trata de uma película que se enquadra no gênero Horror. E por se tratar de um filme do mesmo diretor d'O Exorcista (William Friedkin), eu esperava que a ambientação fosse no mínimo mais carregada.
Mas, puta merda, as atuações nisso daqui são muito boas. Se por um lado a atmosfera não me cativara, por outro, no entanto, as atuações me puxaram para a carga psicológica acerca dos transtornos e situações abordados no enredo.
Aliás, para entendimento do que diabos se passa no filme (até porque para quem não viu este filme antes e/ou não tem conhecimento sobre psicologia, obviamente parecerá confuso), é recomendável que leia sobre
"Síndrome de Ekbom", que é uma forma particular de psicose (também conhecida como delírio de parasitose) que causa ao portador a alucinação de estar infestado por parasitas e também sobre "Folie à deux" (Loucura a dois), que é uma sintomatologia psicopatológica na qual sintomas psicóticos são compartilhados por duas pessoas.
Enfim, não é dos melhores filmes de horror psicológico que eu já vi, mas vale muito a pena ver por retratar transtornos tão delicados e amplamente negligenciados quanto aqueles mais conhecidos.
Eu compreendo perfeitamente muitos de vocês que não gostaram ou detestaram este filme, até porque não me chocara e tampouco me causara algum mal-estar ou desconforto. Mas creio que a decepção de muitos se deu justamente pelo marketing exacerbado e altamente tendencioso que criou as expectativas erradas num público provavelmente errado e que, consequentemente, gerou um status negativo para este filme.
Particularmente, eu adorei The Witch. A cena em que
Thomasin adentra nua na floresta, é uma das coisas mais visualmente belas que já vi no cinema. A estória é permeada por um niilismo que se manifesta na ausência de Deus, do bem, de qualquer melhoria de vida que a família profundamente religiosa de protagonistas da trama possa ter e na negação de muitos dos princípios cristãos. Sob a perspectiva cristã, este filme pode no mínimo ser sufocante, pois na trama só há lugar para o mal — mal este que de tão maduro e iminente, se apresenta como um chamado sutil (que inclusive confunde as personagens sobre quem supostamente ser a bruxa), que vai ganhando intensidade no decorrer do enredo e se manifesta numa das bruxas e em Black Phillip, que vez ou outra aparecem, simbolizando assim, que todas as preces foram em vão.
A ambientação é meticulosamente trabalhada para expressar a onipresença do mal, que pela atmosfera soturna, se mostra tão latente e até mesmo asfixiante para quem quer que nutra alguma esperança por algum desfecho positivo. Há um simbolismo incrível na cena em que
Thomasin se despe totalmente e é tocada no ombro por uma mão negra, evidenciando assim que ela finalmente fora tocada pelo mal.
A sensação que tive ao ver este filme foi a de estar submerso num velho conto inglês que, embora se baseie numa lenda, retrata com grande realismo a frágil condição humana e todo o seu sentimento de impotência diante das adversidades da vida.
É um filme de terror que tem todos os atributos para um dia ser considerado um clássico; no entanto, não é um filme de terror convencional. Portanto, nem espere vê-lo na expectativa de que você levará vários sustos cabulosos, de que verá o cramulhão ou de que ao terminar de vê-lo, ficará tão em choque que não conseguirá dormir por dias sem as luzes acesas; não é esta a intenção do filme e o seu roteiro tampouco transparece isto. The Witch está mais para uma representação visual do que você imagina ao ler contos antigos. Só isso.
Enfim, não vou falar nada da fotografia impecável, da trilha sonora arrebatadora, das atuações maravilhosas e tampouco do roteiro tão bem feito que abre espaço para possíveis continuações, desde que tenham qualidade equivalente ou superior a deste filme. Em suma, se fosse bebida, The Witch estaria mais para um vinho que só pode ser apreciado se for devidamente degustado, além do fato de que quanto mais o tempo passa, melhor fica.
Diferente do que muitos pensam, este filme não é confuso, não. Pode até parecer confuso em partes, mas não o é porque o final já entrega a resolução de todo o mistério. E tentarei aqui explicar o porquê de acordo com a interpretação que tive. Vou analisar alguns pontos por partes, mas antes deixo o alerta de que virá um textão quilométrico pela frente.
> Neste filme acontece algo que muito me lembra "Inception", de Christopher Nolan, que é o que chamo de "sobreposição de enredos"; ou seja, quando se desenrola um enredo a partir de outro. No caso de Inception, os acontecimentos se dão a partir dos sonhos dos personagens; já neste filme em questão, desenrolam-se a partir das lembranças de Dr. Washington. Toda ou quase toda a estória do filme se passa dentro da memória de John Washington, que quando aceita ajudar Anna é envolvido numa teia meticulosamente construída por ela.
> Sabe-se disso a partir do momento em que John Washington se queixa de haver alguém o seguindo. No final do filme, quando ele atende ao chamado de Anna para socorrê-la — o que aliás não passava de um plano dela para incriminá-lo —, o homem que aparece no corredor e que posteriormente é visto por ele tanto nas câmeras de segurança como também na floresta é Peter Lundgren, que desde o início esteve vasculhando suas lembranças — aliás, John entrou em desespero ao vê-lo nas câmeras, já acreditando totalmente na encenação de Anna sobre realmente haver alguém na casa para assassiná-la.
> Como disse anteriormente, John Washington é envolvido numa teia meticulosamente construída por Anna, pois desde o início ela planejou tudo no intuito de se livrar do internato e evitar que o padrasto ficasse com seu dinheiro. Para isso, de acordo com o que é revelado no final, ela estudou todos os protocolos da Mindscape a fim de encontrar falhas e subverter as sessões de John, que pouco a pouco é confundido pelos fatos manipulados por ela, que sabendo de sua história usou a água para envolvê-lo emocionalmente nesse processo, demovendo sua racionalidade e desestruturando assim suas análises.
> Sabe-se que ela subverteu as sessões de John na cena em que ela aparece para ele no fim de seu encontro com Judith. Sabe-se também, com o desfecho, que ela cortou as próprias mãos com o antigo abridor de cartas, o que é comprovado quando John vê suas mãos ensanguentadas ao se render e quando o policial, já no interrogatório, afirma que o abridor estava com o sangue dela e com as impressões de John, uma vez que ele havia tocado no objeto. Como ela sumiu deixando supostos rastros de violência, isso foi o suficiente para forjar sua morte e incriminá-lo. Outro ponto de destaque, foi o fato de Anna ter dopado seus pais com os comprimidos para dormir de sua mãe tendo em vista que isto contaria para a incriminação de John, já que ele havia dado um dos comprimidos para Anna em uma de suas sessões no quarto monitorado.
Segunda parte — sobre a dissolução da acusação de John:
> Atente-se à fotografia que Anna envia para John: nela, Anna está segurando um jornal aparentemente impresso tempo depois de John ser preso, e isto conta como evidência irrefutável de que ela está viva, o que torna desnecessário dizer que já não há mais razão para ele continuar preso, já que na realidade não houve crime algum.
> Quanto às rosas sem espinhos, a meu ver representa um gesto simbólico que Anna encontrou para dizer a John para se livrar dos ressentimentos e se desapegar de suas lembranças, uma vez que na literatura as rosas tais como seus espinhos são repletos de simbolismos, sendo alguns deles as mágoas, os ressentimentos. Isto serviu como conselho definitivo para John vender sua casa de praia e seguir em frente com sua vida.
> A fixação de Anna pelas rosas nada mais é que sua fixação pela liberdade, pois era isso que as rosas significavam para ela, o que aliás é revelado com as rosas de ferro incrustadas nos portões de sua casa e também, arrisco dizer, quando ela envia uma rosa para John, simbolizando que ambos alcançaram a liberdade. Isto é explicável justamente ao levar em conta o ambiente na qual ela cresceu, que é isolado, fechado e frio.
"experimentos" são feitos puramente pela ânsia de Mademoiselle a respeito do que vem após a morte, tal como seus clientes/amigos/público, já que ela, assim como quase todos eles que só aparecem no final são idosos.
Obviamente isto denota uma patologia, oriunda, quiçá, de um fanatismo religioso(?).
No mais, trata-se de uma película com um alto porém requintado teor de crueldade, sem dar quaisquer margens para excessos tão característicos em filmes convencionais. Vale a pena ver.
Equilibrium
3.5 601 Assista AgoraA proposta deste filme é boa demais para um roteiro tão fraco. Por mais que eu tenha gostado das cenas de ação, foi impossível não pensar que foram tiradas de Matrix e sobrepostas num filme cuja conjuntura é muito mais sofisticada e de foco totalmente distinto. A proposta deste filme é muito similar à da obra 1984, de Orwell, mas com a diferença de que,
enquanto em 1984 são coibidas as ideias, em Equilibrium, por outro lado, são coibidas as emoções.
Sendo assim, não é nem preciso dizer o quão desnecessárias foram as cenas de ação, que ao invés de contribuírem para autenticidade de um filme com grande potencial, subverteram sua proposta. No entanto, eu o assistiria mais vezes, sim.
A Morte e a Donzela
3.6 73Este filme só faz comprovar o quão bom ator é o Ben Kingsley. Já havia me maravilhado com sua atuação monstruosa em House of Sand and Fog, daí me deparo com mais esta em Death and the Maiden. Tem toda a minha admiração.
Contato
4.1 804 Assista AgoraÉ um dos filmes de ficção científica mais fascinantes que já vi. Mas antes de qualquer outro comentário que eu possa fazer acerca deste filme por aqui, aponto a interessantíssima imparcialidade com a qual são colocados os pensamentos científico e religioso em perspectiva de assuntos tão importantes como a existência de outras formas de vida no universo, tal como seu criador, sua origem e sobre o quão danoso pode ser o extremismo religioso ante ao avanço da humanidade — e digo que Robert Zemeckis soube abordar muito bem esta questão sem deixar transparecer algum ateísmo arrogante.
Outro detalhe que o diretor soube explorar muito bem foi o fundo filosófico da trama, o que aliás, como muitos sabem, sempre esteve bastante presente em toda a obra de Carl Sagan. A cena em que
Ellie atravessa os túneis dimensionais
E bom, não sei se vocês notaram, mas percebi a presença muito frequente de uma prática misógina, conhecida como "manterrupting", que é quando uma mulher que está discursando seja em reuniões ou palestras é interrompida por homens, sem conseguir terminar uma frase. Creio que houve esta intenção de mostrar isto no filme como uma forma de denunciar a constante desvalorização feminina na ciência, por mais que as mulheres cientistas sejam brilhantes, reconhecidas ou renomadas.
Ademais, é inegável que a participação de Ann Druyan teve um impacto vital na realização deste filme, uma vez que ela foi a esposa e também excepcional divulgadora científica ao lado de Carl Sagan. Sua participação foi crucial para transpor os princípios, valores e visão do tão visionário cientista de sua obra para o filme. De fato, Contact é daquelas obras que, embora tenham sido geradas há muitos anos atrás, se manterão por muito tempo tão atuais.
P.S.: Quanto a cena em que o
pai de Ellie, quando ela já está na projeção dimensional de "Pensacola", pega os grãos de areia e alguns se sobressaem brilhando, indicando simbolicamente assim, uma galáxia,
"Se só nós existíssemos, seria um tremendo desperdício de espaço."
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraSei não, mas acho que depois dessas pessoas dando nota baixa no filme que ainda não viram, todos os responsáveis pelo filme serão invalidados, passarão a morar debaixo de ponte, terão de trabalhar como atendentes de telemarketing ou terão de vender miçangas para viverem.
Onírica
3.8 3"Nós colocamos a palavra 'esperança' em toda derrota e em toda tragédia. Talvez porque seja a única maneira de encararmos nossa própria impotência."
A Condessa
3.6 104É um filme bom, com uma atuação sensacional da Julie Delpy no papel da condessa Bathory que a meu ver transmitiu bem a austeridade e sobretudo a natureza cruel da personagem. No entanto, eu esperava mais, principalmente por se tratar de uma personagem histórica e sua lenda, que no fim se resumiram apenas a uma desilusão amorosa. Compreendi bem a intenção de Julie Delpy neste filme, mas acho que deveria haver um pouco mais de enfoque nos personagens coadjuvantes, na sua relação com Darvulia e também nas torturas, já que tais características foram os alicerces em sua composição histórica. Entendo sua perspectiva crítica no que tange o retrato dessa lenda, mas penso que ela obteria um contraste mais interessante se buscasse este enfoque. No mais, adorei a fotografia, os figurinos e a ambientação do filme.
Para Sempre Lilya
4.2 868Filme preciso e infelizmente tão atual. Porque afinal de contas, quantas outras garotas não têm a vida e o fim como os de Lilya? Mesmo sendo entregue uma prévia de seu desfecho logo no início da trama, sob desesperança torci para que seu destino tivesse contornos diferentes.
No entanto, não se pode esperar outra coisa de uma trama sobre desamor, abusos e objetificação feminina que não seja tristeza e revolta.
Corrente do Mal
3.2 1,8K Assista AgoraEmbora eu tenha achado o roteiro fraco, este filme não chega a ser ruim. Muito pelo contrário: sua fotografia é boa, feita em sua maior parte de planos abertos, visando ressaltar visualmente o perigo iminente na trama; as atuações são razoáveis (não achei lá grande coisa); a trilha sonora é muito boa, o que por si só dá um tom interessante à atmosfera do filme, remetendo-o à estética Old School, e o enredo preserva uma simplicidade que torna o filme agradável de assistir, sem se perder em clichés toscos e jumpscares desnecessários.
Possuídos
3.0 220Acredito que este filme seria muito mais interessante se tanto o roteiro quanto fotografia e cenários fossem melhor trabalhados, do mesmo modo que também seria interessante se fizessem um uso mais preciso da paleta de cores, visto que se trata de uma película que se enquadra no gênero Horror. E por se tratar de um filme do mesmo diretor d'O Exorcista (William Friedkin), eu esperava que a ambientação fosse no mínimo mais carregada.
Mas, puta merda, as atuações nisso daqui são muito boas. Se por um lado a atmosfera não me cativara, por outro, no entanto, as atuações me puxaram para a carga psicológica acerca dos transtornos e situações abordados no enredo.
Aliás, para entendimento do que diabos se passa no filme (até porque para quem não viu este filme antes e/ou não tem conhecimento sobre psicologia, obviamente parecerá confuso), é recomendável que leia sobre
"Síndrome de Ekbom", que é uma forma particular de psicose (também conhecida como delírio de parasitose) que causa ao portador a alucinação de estar infestado por parasitas e também sobre "Folie à deux" (Loucura a dois), que é uma sintomatologia psicopatológica na qual sintomas psicóticos são compartilhados por duas pessoas.
Enfim, não é dos melhores filmes de horror psicológico que eu já vi, mas vale muito a pena ver por retratar transtornos tão delicados e amplamente negligenciados quanto aqueles mais conhecidos.
A Bruxa
3.6 3,4K Assista AgoraEu compreendo perfeitamente muitos de vocês que não gostaram ou detestaram este filme, até porque não me chocara e tampouco me causara algum mal-estar ou desconforto. Mas creio que a decepção de muitos se deu justamente pelo marketing exacerbado e altamente tendencioso que criou as expectativas erradas num público provavelmente errado e que, consequentemente, gerou um status negativo para este filme.
Particularmente, eu adorei The Witch. A cena em que
Thomasin adentra nua na floresta, é uma das coisas mais visualmente belas que já vi no cinema. A estória é permeada por um niilismo que se manifesta na ausência de Deus, do bem, de qualquer melhoria de vida que a família profundamente religiosa de protagonistas da trama possa ter e na negação de muitos dos princípios cristãos. Sob a perspectiva cristã, este filme pode no mínimo ser sufocante, pois na trama só há lugar para o mal — mal este que de tão maduro e iminente, se apresenta como um chamado sutil (que inclusive confunde as personagens sobre quem supostamente ser a bruxa), que vai ganhando intensidade no decorrer do enredo e se manifesta numa das bruxas e em Black Phillip, que vez ou outra aparecem, simbolizando assim, que todas as preces foram em vão.
A ambientação é meticulosamente trabalhada para expressar a onipresença do mal, que pela atmosfera soturna, se mostra tão latente e até mesmo asfixiante para quem quer que nutra alguma esperança por algum desfecho positivo. Há um simbolismo incrível na cena em que
Thomasin se despe totalmente e é tocada no ombro por uma mão negra, evidenciando assim que ela finalmente fora tocada pelo mal.
A sensação que tive ao ver este filme foi a de estar submerso num velho conto inglês que, embora se baseie numa lenda, retrata com grande realismo a frágil condição humana e todo o seu sentimento de impotência diante das adversidades da vida.
É um filme de terror que tem todos os atributos para um dia ser considerado um clássico; no entanto, não é um filme de terror convencional. Portanto, nem espere vê-lo na expectativa de que você levará vários sustos cabulosos, de que verá o cramulhão ou de que ao terminar de vê-lo, ficará tão em choque que não conseguirá dormir por dias sem as luzes acesas; não é esta a intenção do filme e o seu roteiro tampouco transparece isto. The Witch está mais para uma representação visual do que você imagina ao ler contos antigos. Só isso.
Enfim, não vou falar nada da fotografia impecável, da trilha sonora arrebatadora, das atuações maravilhosas e tampouco do roteiro tão bem feito que abre espaço para possíveis continuações, desde que tenham qualidade equivalente ou superior a deste filme. Em suma, se fosse bebida, The Witch estaria mais para um vinho que só pode ser apreciado se for devidamente degustado, além do fato de que quanto mais o tempo passa, melhor fica.
Regressão
3.4 265Diferente do que muitos pensam, este filme não é confuso, não. Pode até parecer confuso em partes, mas não o é porque o final já entrega a resolução de todo o mistério. E tentarei aqui explicar o porquê de acordo com a interpretação que tive. Vou analisar alguns pontos por partes, mas antes deixo o alerta de que virá um textão quilométrico pela frente.
Primeira parte — Sobre a incriminação de John:
> Neste filme acontece algo que muito me lembra "Inception", de Christopher Nolan, que é o que chamo de "sobreposição de enredos"; ou seja, quando se desenrola um enredo a partir de outro. No caso de Inception, os acontecimentos se dão a partir dos sonhos dos personagens; já neste filme em questão, desenrolam-se a partir das lembranças de Dr. Washington. Toda ou quase toda a estória do filme se passa dentro da memória de John Washington, que quando aceita ajudar Anna é envolvido numa teia meticulosamente construída por ela.
> Sabe-se disso a partir do momento em que John Washington se queixa de haver alguém o seguindo. No final do filme, quando ele atende ao chamado de Anna para socorrê-la — o que aliás não passava de um plano dela para incriminá-lo —, o homem que aparece no corredor e que posteriormente é visto por ele tanto nas câmeras de segurança como também na floresta é Peter Lundgren, que desde o início esteve vasculhando suas lembranças — aliás, John entrou em desespero ao vê-lo nas câmeras, já acreditando totalmente na encenação de Anna sobre realmente haver alguém na casa para assassiná-la.
> Como disse anteriormente, John Washington é envolvido numa teia meticulosamente construída por Anna, pois desde o início ela planejou tudo no intuito de se livrar do internato e evitar que o padrasto ficasse com seu dinheiro. Para isso, de acordo com o que é revelado no final, ela estudou todos os protocolos da Mindscape a fim de encontrar falhas e subverter as sessões de John, que pouco a pouco é confundido pelos fatos manipulados por ela, que sabendo de sua história usou a água para envolvê-lo emocionalmente nesse processo, demovendo sua racionalidade e desestruturando assim suas análises.
> Sabe-se que ela subverteu as sessões de John na cena em que ela aparece para ele no fim de seu encontro com Judith. Sabe-se também, com o desfecho, que ela cortou as próprias mãos com o antigo abridor de cartas, o que é comprovado quando John vê suas mãos ensanguentadas ao se render e quando o policial, já no interrogatório, afirma que o abridor estava com o sangue dela e com as impressões de John, uma vez que ele havia tocado no objeto. Como ela sumiu deixando supostos rastros de violência, isso foi o suficiente para forjar sua morte e incriminá-lo. Outro ponto de destaque, foi o fato de Anna ter dopado seus pais com os comprimidos para dormir de sua mãe tendo em vista que isto contaria para a incriminação de John, já que ele havia dado um dos comprimidos para Anna em uma de suas sessões no quarto monitorado.
Segunda parte — sobre a dissolução da acusação de John:
> Atente-se à fotografia que Anna envia para John: nela, Anna está segurando um jornal aparentemente impresso tempo depois de John ser preso, e isto conta como evidência irrefutável de que ela está viva, o que torna desnecessário dizer que já não há mais razão para ele continuar preso, já que na realidade não houve crime algum.
> Quanto às rosas sem espinhos, a meu ver representa um gesto simbólico que Anna encontrou para dizer a John para se livrar dos ressentimentos e se desapegar de suas lembranças, uma vez que na literatura as rosas tais como seus espinhos são repletos de simbolismos, sendo alguns deles as mágoas, os ressentimentos. Isto serviu como conselho definitivo para John vender sua casa de praia e seguir em frente com sua vida.
Explicação sobre a fixação de Anna com as rosas:
> A fixação de Anna pelas rosas nada mais é que sua fixação pela liberdade, pois era isso que as rosas significavam para ela, o que aliás é revelado com as rosas de ferro incrustadas nos portões de sua casa e também, arrisco dizer, quando ela envia uma rosa para John, simbolizando que ambos alcançaram a liberdade. Isto é explicável justamente ao levar em conta o ambiente na qual ela cresceu, que é isolado, fechado e frio.
Enfim, é isso e espero ter sanado alguma dúvida.
Mártires
3.9 1,6KFilme magnífico, mas não considero genial. No entanto, notei que, o filme, ao menos em seu desfecho, traz à tona a revelação de que os
"experimentos" são feitos puramente pela ânsia de Mademoiselle a respeito do que vem após a morte, tal como seus clientes/amigos/público, já que ela, assim como quase todos eles que só aparecem no final são idosos.
No mais, trata-se de uma película com um alto porém requintado teor de crueldade, sem dar quaisquer margens para excessos tão característicos em filmes convencionais. Vale a pena ver.