Tá aí uma surpresa enorme. Fui assistir sem mal saber a sinopse e acabei me deparando com 2h de te(n)são crescente. É curioso notar como são poucas as cenas de sexo propriamente ditas, mas o filme consegue ter uma sensualidade gritante. Seja na trilha sonora (impecável) pulsante dos já premiados Trent e Atticus, que dita o ritmo e a êxtase do clímax, ou na ênfase em detalhes como os músculos contraídos, o suor, as roupas curtas, os olhares, gestos, gemidos e gritos. O próprio tênis é retratado de um modo quase sexual e simultaneamente furioso, como se ambos nem sempre fossem dissociáveis. Diferentemente de outros filmes esportivos, ele tira o foco do esporte em si, suas regras e competições, e coloca na fisicalidade envolvida no esporte e na intimidade da relação entre seus atletas. Tênis nunca antes tão carnal.
Segue uma fórmula comum em outros filmes com histórias paralelas de animes ainda não concluídos. Traz pontas da maioria dos personagens, mas foca na família, cedendo um momento para cada um brilhar. O resultado é divertido e atende as expectativas de quem gosta do anime, mesmo não se destacando especificamente em nada.
Tenso até o último minuto. Kirsten Dunst entrega uma personagem com um olhar de profunda exaustão, seja do próprio trabalho, do mundo ou de si mesma. Imagino que ele tenha um impacto muito mais forte nos Estados Unidos, ao trazer para o "intocável" país a violência que seu exército perpetua pelos países em desenvolvimento, ainda mais considerando o quão palpáveis são suas tensões políticas.
Foi o primeiro filme de Chaplin que vi com diálogos falados, sem as limitações dos filmes mudos. E, nossa, que surpresa excelente ver que ele manteve sua maestria. Conheço muito pouco de sua vida, mas senti um ar quase autobiográfico nessa história sobre um palhaço que é esquecido com as mudanças culturais e novas formas de fazer espetáculo. A própria interpretação dele quando se apresenta como o palhaço me remeteu muito ao Carlitos. Parecia que o próprio filme era uma reflexão sobre sua trajetória e sobre como ele foi desafiado pelas mudanças no cinema (e, no fim, saiu vitorioso).
A única coisa que não me agradou tanto foi que achei as cenas no teatro um tanto longas. Eu entendo que faz sentido com a ideia do filme e com a proposta de revisitar experiências artísticas anteriores. O filme vai além de sua linguagem e torna-se também uma experiência para o teatro. E, de certa forma, esse foco nesses números até dá um charme também para o filme. Mas, se eu dissesse que não sentia o ritmo sofrer um pouco, estaria mentindo.
Como comentário adicional e não muito relevante, mais alguém achou Claire Bloom a cara de Alanis Morrisette? Nossa, achei muito parecidas.
Claramente influenciado por Makoto Shinkai, repetindo os mesmos erros e vícios de seu "mestre". A história tem um potencial interessante, mas eventualmente é escanteada para direcionar o foco a um romance ingênuo e que, por mais que o casal tenha certa química, nem chega perto de ser tão interessante quanto seus dramas pessoais e o mistério do túnel.
Está longe de ser um filme inovador. Pelo contrário, há vários clichês do gênero, incluindo a esposa morta sorrindo em flashbacks. Mas nunca pretendeu mais que ser um legítimo filme de ação. E executa isso muito bem. Usando do carisma natural da ótima imagem pública de Keanu Reeves e da sensibilidade quase universal por animais de estimação, o filme logo nos faz embarcar na jornada de vingança de seu protagonista e vibrar a cada ótima coreografia de tiro e porrada. Algo nele me fez lembrar de HQs, mas não sei dizer exatamente o quê. Meu único problema é que, à medida que o filme foi passando, meu interesse foi esvaindo. Boas cenas de ação não foram suficientes para sustentar o filme inteiro para mim.
Após ter lido e me apaixonado pelo romance de Eugenides, fiquei bastante curioso para saber como Sofia Coppola, logo em seu trabalho de estreia, faria para adaptar um texto tão desafiador, narrado na primeira pessoa do plural e repleto de devaneios, saltos e fugas temporais.
E, me decepcionando um pouco, percebi que ela escolheu o caminho mais seguro, mas menos ousado e criativo: manteve a narração e seguiu os principais eventos na ordem em que eram relatados no romance, fazendo algumas omissões para tornar a história mais concisa, sem reescrevê-los para aproveitar melhor a linguagem do cinema (considerando que o romance é basicamente um grande relatório sobre o ocorrido, incluindo menções a uma suposta lista de anexos). Até problemas do romance, como o foco exagerado em Trip quebrando o ritmo da narrativa, são mantidos.
Apesar de minha queixa, de certo modo, a adaptação de Coppola funciona. Ela soube capturar bem a melancolia, a impessoalidade e o ar sonhador, nostálgico, da história. Isso sem falar da beleza da fotografia, provavelmente uma das melhores da diretora em conjunto com Maria Antonieta. Mas há detalhes que faltam e fazem a diferença, como a decadência da casa, que se torna praticamente um personagem digno das mansões das narrativas góticas, a degradação psicológica da família inteira, a obsessão quase maníaca de seus narradores, a ambiguidade da identidade dos narradores, que muitas vezes se confunde entre o grupo de garotos e a própria vizinhança, que observa o desastre que acomete a família como passantes que observam um acidente de carro pela janela... Além disso, se Coppola consegue transmitir bem a melancolia, sentimentos mais fortes acabam passando anestesiados, o que impacta o pesadíssimo desfecho.
Esse foi um projeto desafiador para um trabalho de estreia e acredito que o resultado foi bom. Mas, talvez com um pouco mais de experiência e ousadia, Sofia poderia ter entregue algo que se somasse ao romance, e não apenas fosse uma versão diluída com fotografia bonita.
Ainda que não seja excepcional, é um suspense intenso e bem amarrado. Uma perseguição muito divertida de se acompanhar, com caça e caçador trocando de lugares ao longo do filme.
Como canta Chico Buarque, "Todo dia ela faz tudo sempre igual..."
Filme poético com um olhar minucioso e contemplativo sobre a rotina de um zelador de peculiares banheiros na conturbada metrópole que é Tóquio. Apesar de exercer uma função muitas vezes vista como inferior (por mais necessária que seja), sua personalidade (muito bem interpretada, por sinal) não se resume a seu trabalho. Hiraiyama é um grande apreciador das artes, encontrando na música, literatura e fotografia alentos que não só tornam a rotina suportável como também lhe dão satisfação em existir, ainda que exista uma melancolia velada que, eventualmente, ele não consegue fugir completamente. A rotina de Horaiyama é uma rotina comum, mas é nesse comum que se encontra o excepcional, a convivência de opostos como a beleza e o asqueroso, a simpatia e o preconceito, a amizade e a indiferença.
Meu principal problema com o filme, que justifica a nota mediana, é a sensação de que ele esgota seus temas em pouquíssimo tempo. Após poucos minutos tinha assimilado suas reflexões e senti que o filme estava apenas reiterando. Senti que, se tivesse me atrasado ou saído antes do filme acabar, teria feito pouca diferença, talvez com exceção de algumas cenas no final que revelam algumas camadas mais profundas da personalidade do protagonista. Entendo que a repetição faz parte da proposta do filme, mas vejo que havia formas de filmar uma rotina repetitiva sem que o próprio filme parecesse uma repetição de suas discussões.
Confesso que esperei um filme lento, maçante, arrastado, mas que surpresa, hein? Com o passar dos minutos vamos descobrindo as camadas dessa família, seus dramas e intensos atritos. A direção faz um papel muito bem de selecionar o que vemos e o que não vemos com o propósito de cultivar a dúvida de qual versão seria a mais próxima da verdade.
Sandra Hüller dá um show de atuação mas o resto não fica para trás. O filho e até mesmo o cachorro (sem exagero) impressionam.
Seu maior mérito não está nem no próprio filme. Não que ele seja ruim e nem que Villeneuve tenha feito um trabalho fácil, longe disso. Mas é que o universo do livro é, por si só, tão interessante que acaba sendo um dos grandes atrativos. Como alguém que não leu, não posso comentar exatamente como foi o trabalho de adaptação. Mas me senti fascinado por cada detalhe que era revelado, mesmo que esperasse algumas explicações menos vagas. Mas, ao menos isso me livrou de diálogos expositivos chatos. Os paralelos com a ocupação ocidental no Oriente Médio e com o (pós)colonialismo são cerejas do bolo.
Li um comentário comentando que era o 8 1/2 de Miyazaki e achei engraçado, mas após assistir me parece uma descrição bastante precisa.
O Menino e a Garça é uma história fantástica como esperado do Ghibli, mas também é um metafilme sobre o diretor, sua trajetória e despedida. Além de nítidos ecos a outras filmes do estúdio, como Túmulo dos Vagalumes, O Castelo Animado, Reino dos Gatos, A Viagem de Chihiro, Vidas ao Vento, entre outros, percebe-se que em vários momentos usa os personagens para tanto fazer uma reflexão sobre si. Ora ele é menino em seu luto silencioso, ora é o mago contemplando o fim de seu reino, ora é a garça oferecendo escapes tentadores.
Ao fim, a mensagem é um adeus firme, mas necessário: nada dura para sempre, a fuga da realidade é uma ilusão e ninguém pode substituir outra pessoa.
Contudo, se, em um nível simbólico, ele é excelente, em termos de narrativa, ele é bom, mas deixa a desejar em alguns aspectos. O que mais me incomoda é a falta de desenvolvimento dos próprios personagens e seus relacionamentos. Alguns momentos acabam sendo anticlimáticos por essas lacunas. O que é uma pena. Sei que quem assistir dentro do contexto da filmografia e da vida de Miyazaki vai ter uma experiência excelente, mas não posso ignorar que há outras leituras que terminam um tanto frustradas.
Um filme documental de terror. Não espere uma história instigante, desenvolvimento de personagem ou algo do tipo. Mesmo diálogos expositivos estão ausentes. É como se uma câmera fosse enviada para o passado e decidisse registrar a vida dessa família em seu cotidiano banal. Mas, há um terror que domina a experiência ao prestar atenção nas entrelinhas e, principalmente, manter os ouvidos atentos. Enquanto discutem temas banais como decoração da casa, lanches ou descansam numa varanda, ao fundo há gritos, tiros e fumaças que chocam pelo modo como tornaram-se apenas mais um som ambiente para aqueles que não tinham uma mira em si. Desconfortável, tenso e sufocante graças quase totalmente ao trabalho de direção e montagem, já que nada de horripilante é transparecido em seus diálogos.
Dito isto, não é meu tipo favorito de filme. Prefiro roteiros mais estruturados a esses filmes com proposta documental. Mas não posso negar sua força.
Venceu o teste do tempo. Permanece um filme muito divertido e surpreendentemente intenso. Com classificação indicativa livre, consegue passar mais tensão que muitos filmes de terror cheios de jumpscare e gore.
Em um dos seus primeiros filmes, Linklater já mostrava alguns dos fascínios que o acompanhariam por boa parte de sua filmografia, como o interesse pelo banal, corriqueiro, cotidiano e a ênfase nos diálogos. Ainda sem a escrita hipnótica da trilogia Antes..., é quase um antecessor espiritual de Jovens, Loucos e Rebeldes, passeando por grupos de indivíduos aparentemente aleatórios mas ligados pelo recorte geracional. Assistir me fez lembrar daquela fase da vida em que você não é adolescente e nem adulto, tentando encontrar seu próprio propósito e procurando pequenas ocupações para viver o dia-a-dia. Infelizmente, o filme não prende tanto quanto poderia. Era uma ideia bacana para um curta ou média metragem, mas como um longa... As conversas não eram tão interessantes assim. Mas que cena bonita no final!
Esteticamente, é um filme impecável. Incansavelmente criativo, Lanthimos faz questão de reforçar o incomum em todos os aspectos, do figurino simultaneamente vitoriano e futurista, aos ângulos de câmera e lentes inusitadas e à trilha sonora repleta de notas e instrumentos não convencionais. Emma Stone realmente brilha ao construir uma personagem em uma transformação gradual que envolve até a forma de andar e falar.
Sobre o roteiro, no entanto, preciso fazer uma ressalva. Estava achando tudo ótimo, adorando a jornada de Bella ao conhecer os prazeres (físicos, artísticos e intelectuais), seus limites e suas contradições. Mas, em certo ponto, o ritmo começa a sofrer e vemos situações repetitivas que parecem reiterar algo já bem exposto. Até chegar o final que, apesar de não ser ruim, pareceu ter buscado um vilão que a história não precisava e envolvendo detalhes dispensáveis sobre a personagem. Uma pena.
Quando estava assistindo no cinema, ainda na primeira hora uma amiga se virou para mim e disse que parecia que estava assistindo a um trailer que não acabava. E esse foi um comentário que resumiu muito bem meu incômodo.
Os problemas de ritmo e desenvolvimento precário são nítidos, especialmente em sua primeira metade. O filme salta de uma cena a outra, sem que nos acostumemos com os personagens e suas relações, deixando lacunas nítidas que, se por um lado deixam para a imaginação preencher os detalhes, por outro pecam pelo uso excessivo. O filme soa como um claro resumo do romance.
Na segunda metade a situação melhora, mas sinto dizer que não foi o suficiente para me agradar. Consigo entender a importância da história para a população afroamericana, especialmente a feminina. Mas é um melodrama clássico, com uma estrutura feita sob medida para fazer o público se emocionar. Funciona, mas é batido.
Sobre a parte musical, as músicas são ótimas, mas os números são pouco inspirados, esquecíveis. Facilmente dispensáveis.
Resistiu muitíssimo bem ao teste do tempo. Começa como um romance esperançoso e termina como um suspense trágico. Fiquei impressionado em como toca em temas sensíveis, mesmo sem mencioná-los diretamente, e aborda diretamente questões ainda atuais como privilégios sociais e desigualdade de oportunidades.
Assistido sem conhecimento do jogo ou da franquia. E funcionou isoladamente, mas é uma história bem básica, com clichês típicos do gênero e um CG que às vezes incomoda. Ao menos as músicas são bacanas, apesar de ser um JRock não lá muito original. Mas as vozes salvam.
Não cheguei a assistir quando era criança (ou se vi, esqueci) e tenho que concordar com os comentários que vi de pessoas com um perfil parecido com o meu. É um filme bem bobinho, divertido para crianças, mas que não oferece muito para outros públicos. A própria aventura cria uma expectativa de grandiosidade que nunca chega a alcançar, infelizmente.
Mas achei curioso observar como, apesar de ser bobinho, o roteiro em si tem umas piadas que não costumam estar presentes nos filmes infantis atuais. Hoje há uma visão da infância como uma fase de inocência e pureza imaculadas que nem sempre corresponde à realidade. Talvez um dos motivos para o filme ter marcado tanto sua geração foi a forma em que conseguiu se comunicar com as crianças de sua época, falando na linguagem delas.
É o tipo de filme que se aproveita melhor interpretando-o por meio de seus simbolismos, e não procurando uma simples narrativa. É como um passeio pelo caderno policial: pessoas diferentes envolvidas com assassinatos e suicídios, mas tendo um elemento em comum: a banalização da morte e a rejeição da família, seja na forma de pais entediantes, mães opressivas, esposas exaustas e casamentos falidos. Mas há uma "manchete" que diverge: a tortura e assassinato de uma pessoa pelas mãos de militares. Mas seria mesmo divergente? Ou veríamos aqui uma violência da "família" que compõe a sociedade brasileira e seus órgãos políticos?
Não é um filme que vá conquistar todo mundo, mas é uma experiência interessante. E como comentário adicional: adorei ver Renata Sorrah tão jovem.
E não foi dessa vez que deitei pra Sofia.... Não é que eu tenha achado ruim. Mas é que não pareceu ser um filme que tinha muito para dizer para começo de conversa. São várias situações que se repetem até a eventual conclusão. Intencional? Provavelmente, já que serviu para mostrar como a vida de Priscilla foi uma sucessão de aprisionamentos. Mas, com sua mente pouco aprofundada, o filme vai se arrastando e no final sobra só a conclusão (já tomada na primeira hora): "Elvis foi um fdp". E logo o filme é esquecido. Não sei, Coppola tem uma predileção sobre temas como solidão e melancolia de mulheres ricas, mas parece ter dificuldade de fazer algo mais profundo e interessante sobre isso além de simplesmente retratar como elas vivem.
Contudo, figurinos belíssimos. Só por eles é possível ter noção do passar dos anos já que eles acompanham a transformação na moda nos Estados Unidos.
Quando vi que se tratava do mesmo diretor de Crepúsculo dos Deuses e Se Meu Apartamento Falasse, já tive boas expectativas. Felizmente, foram cumpridas.
Apesar de ser uma comédia romântica bem clichê (para os dias de hoje), tem um texto ácido e com um humor leve, sem ser muito escrachado mas com uma comicidade espontânea. Só não funcionou bem como triângulo amoroso porque, né... Um dos pretendentes em questão sequer merecia o carinho de Sabrina.
Rivais
4.0 78Tá aí uma surpresa enorme. Fui assistir sem mal saber a sinopse e acabei me deparando com 2h de te(n)são crescente. É curioso notar como são poucas as cenas de sexo propriamente ditas, mas o filme consegue ter uma sensualidade gritante. Seja na trilha sonora (impecável) pulsante dos já premiados Trent e Atticus, que dita o ritmo e a êxtase do clímax, ou na ênfase em detalhes como os músculos contraídos, o suor, as roupas curtas, os olhares, gestos, gemidos e gritos. O próprio tênis é retratado de um modo quase sexual e simultaneamente furioso, como se ambos nem sempre fossem dissociáveis. Diferentemente de outros filmes esportivos, ele tira o foco do esporte em si, suas regras e competições, e coloca na fisicalidade envolvida no esporte e na intimidade da relação entre seus atletas. Tênis nunca antes tão carnal.
Spy X Family Código: Branco
4.1 8Segue uma fórmula comum em outros filmes com histórias paralelas de animes ainda não concluídos. Traz pontas da maioria dos personagens, mas foca na família, cedendo um momento para cada um brilhar. O resultado é divertido e atende as expectativas de quem gosta do anime, mesmo não se destacando especificamente em nada.
Guerra Civil
3.8 192Tenso até o último minuto. Kirsten Dunst entrega uma personagem com um olhar de profunda exaustão, seja do próprio trabalho, do mundo ou de si mesma. Imagino que ele tenha um impacto muito mais forte nos Estados Unidos, ao trazer para o "intocável" país a violência que seu exército perpetua pelos países em desenvolvimento, ainda mais considerando o quão palpáveis são suas tensões políticas.
Luzes da Ribalta
4.5 280 Assista AgoraFoi o primeiro filme de Chaplin que vi com diálogos falados, sem as limitações dos filmes mudos. E, nossa, que surpresa excelente ver que ele manteve sua maestria. Conheço muito pouco de sua vida, mas senti um ar quase autobiográfico nessa história sobre um palhaço que é esquecido com as mudanças culturais e novas formas de fazer espetáculo. A própria interpretação dele quando se apresenta como o palhaço me remeteu muito ao Carlitos. Parecia que o próprio filme era uma reflexão sobre sua trajetória e sobre como ele foi desafiado pelas mudanças no cinema (e, no fim, saiu vitorioso).
A única coisa que não me agradou tanto foi que achei as cenas no teatro um tanto longas. Eu entendo que faz sentido com a ideia do filme e com a proposta de revisitar experiências artísticas anteriores. O filme vai além de sua linguagem e torna-se também uma experiência para o teatro. E, de certa forma, esse foco nesses números até dá um charme também para o filme. Mas, se eu dissesse que não sentia o ritmo sofrer um pouco, estaria mentindo.
Como comentário adicional e não muito relevante, mais alguém achou Claire Bloom a cara de Alanis Morrisette? Nossa, achei muito parecidas.
O Túnel para o Verão, a Saída das Despedidas
3.2 2Claramente influenciado por Makoto Shinkai, repetindo os mesmos erros e vícios de seu "mestre". A história tem um potencial interessante, mas eventualmente é escanteada para direcionar o foco a um romance ingênuo e que, por mais que o casal tenha certa química, nem chega perto de ser tão interessante quanto seus dramas pessoais e o mistério do túnel.
John Wick: De Volta ao Jogo
3.8 1,8K Assista AgoraEstá longe de ser um filme inovador. Pelo contrário, há vários clichês do gênero, incluindo a esposa morta sorrindo em flashbacks. Mas nunca pretendeu mais que ser um legítimo filme de ação. E executa isso muito bem. Usando do carisma natural da ótima imagem pública de Keanu Reeves e da sensibilidade quase universal por animais de estimação, o filme logo nos faz embarcar na jornada de vingança de seu protagonista e vibrar a cada ótima coreografia de tiro e porrada. Algo nele me fez lembrar de HQs, mas não sei dizer exatamente o quê. Meu único problema é que, à medida que o filme foi passando, meu interesse foi esvaindo. Boas cenas de ação não foram suficientes para sustentar o filme inteiro para mim.
As Virgens Suicidas
3.8 1,4K Assista AgoraApós ter lido e me apaixonado pelo romance de Eugenides, fiquei bastante curioso para saber como Sofia Coppola, logo em seu trabalho de estreia, faria para adaptar um texto tão desafiador, narrado na primeira pessoa do plural e repleto de devaneios, saltos e fugas temporais.
E, me decepcionando um pouco, percebi que ela escolheu o caminho mais seguro, mas menos ousado e criativo: manteve a narração e seguiu os principais eventos na ordem em que eram relatados no romance, fazendo algumas omissões para tornar a história mais concisa, sem reescrevê-los para aproveitar melhor a linguagem do cinema (considerando que o romance é basicamente um grande relatório sobre o ocorrido, incluindo menções a uma suposta lista de anexos). Até problemas do romance, como o foco exagerado em Trip quebrando o ritmo da narrativa, são mantidos.
Apesar de minha queixa, de certo modo, a adaptação de Coppola funciona. Ela soube capturar bem a melancolia, a impessoalidade e o ar sonhador, nostálgico, da história. Isso sem falar da beleza da fotografia, provavelmente uma das melhores da diretora em conjunto com Maria Antonieta. Mas há detalhes que faltam e fazem a diferença, como a decadência da casa, que se torna praticamente um personagem digno das mansões das narrativas góticas, a degradação psicológica da família inteira, a obsessão quase maníaca de seus narradores, a ambiguidade da identidade dos narradores, que muitas vezes se confunde entre o grupo de garotos e a própria vizinhança, que observa o desastre que acomete a família como passantes que observam um acidente de carro pela janela... Além disso, se Coppola consegue transmitir bem a melancolia, sentimentos mais fortes acabam passando anestesiados, o que impacta o pesadíssimo desfecho.
Esse foi um projeto desafiador para um trabalho de estreia e acredito que o resultado foi bom. Mas, talvez com um pouco mais de experiência e ousadia, Sofia poderia ter entregue algo que se somasse ao romance, e não apenas fosse uma versão diluída com fotografia bonita.
O Dia do Chacal
4.0 50 Assista AgoraAinda que não seja excepcional, é um suspense intenso e bem amarrado. Uma perseguição muito divertida de se acompanhar, com caça e caçador trocando de lugares ao longo do filme.
BanG Dream! Episódio de Roselia II: Música eu sou.
2.5 1 Assista AgoraSequência direta, mas sem nenhum drama ou desenvolvimento que o torne interessante. Vale só pelas músicas e olhe lá.
Dias Perfeitos
4.2 250 Assista AgoraComo canta Chico Buarque, "Todo dia ela faz tudo sempre igual..."
Filme poético com um olhar minucioso e contemplativo sobre a rotina de um zelador de peculiares banheiros na conturbada metrópole que é Tóquio. Apesar de exercer uma função muitas vezes vista como inferior (por mais necessária que seja), sua personalidade (muito bem interpretada, por sinal) não se resume a seu trabalho. Hiraiyama é um grande apreciador das artes, encontrando na música, literatura e fotografia alentos que não só tornam a rotina suportável como também lhe dão satisfação em existir, ainda que exista uma melancolia velada que, eventualmente, ele não consegue fugir completamente. A rotina de Horaiyama é uma rotina comum, mas é nesse comum que se encontra o excepcional, a convivência de opostos como a beleza e o asqueroso, a simpatia e o preconceito, a amizade e a indiferença.
Meu principal problema com o filme, que justifica a nota mediana, é a sensação de que ele esgota seus temas em pouquíssimo tempo. Após poucos minutos tinha assimilado suas reflexões e senti que o filme estava apenas reiterando. Senti que, se tivesse me atrasado ou saído antes do filme acabar, teria feito pouca diferença, talvez com exceção de algumas cenas no final que revelam algumas camadas mais profundas da personalidade do protagonista. Entendo que a repetição faz parte da proposta do filme, mas vejo que havia formas de filmar uma rotina repetitiva sem que o próprio filme parecesse uma repetição de suas discussões.
Anatomia de uma Queda
4.0 786 Assista AgoraConfesso que esperei um filme lento, maçante, arrastado, mas que surpresa, hein? Com o passar dos minutos vamos descobrindo as camadas dessa família, seus dramas e intensos atritos. A direção faz um papel muito bem de selecionar o que vemos e o que não vemos com o propósito de cultivar a dúvida de qual versão seria a mais próxima da verdade.
Sandra Hüller dá um show de atuação mas o resto não fica para trás. O filho e até mesmo o cachorro (sem exagero) impressionam.
Duna: Parte 2
4.4 595Seu maior mérito não está nem no próprio filme. Não que ele seja ruim e nem que Villeneuve tenha feito um trabalho fácil, longe disso. Mas é que o universo do livro é, por si só, tão interessante que acaba sendo um dos grandes atrativos. Como alguém que não leu, não posso comentar exatamente como foi o trabalho de adaptação. Mas me senti fascinado por cada detalhe que era revelado, mesmo que esperasse algumas explicações menos vagas. Mas, ao menos isso me livrou de diálogos expositivos chatos. Os paralelos com a ocupação ocidental no Oriente Médio e com o (pós)colonialismo são cerejas do bolo.
O Menino e a Garça
4.0 215Li um comentário comentando que era o 8 1/2 de Miyazaki e achei engraçado, mas após assistir me parece uma descrição bastante precisa.
O Menino e a Garça é uma história fantástica como esperado do Ghibli, mas também é um metafilme sobre o diretor, sua trajetória e despedida. Além de nítidos ecos a outras filmes do estúdio, como Túmulo dos Vagalumes, O Castelo Animado, Reino dos Gatos, A Viagem de Chihiro, Vidas ao Vento, entre outros, percebe-se que em vários momentos usa os personagens para tanto fazer uma reflexão sobre si. Ora ele é menino em seu luto silencioso, ora é o mago contemplando o fim de seu reino, ora é a garça oferecendo escapes tentadores.
Ao fim, a mensagem é um adeus firme, mas necessário: nada dura para sempre, a fuga da realidade é uma ilusão e ninguém pode substituir outra pessoa.
Contudo, se, em um nível simbólico, ele é excelente, em termos de narrativa, ele é bom, mas deixa a desejar em alguns aspectos. O que mais me incomoda é a falta de desenvolvimento dos próprios personagens e seus relacionamentos. Alguns momentos acabam sendo anticlimáticos por essas lacunas. O que é uma pena. Sei que quem assistir dentro do contexto da filmografia e da vida de Miyazaki vai ter uma experiência excelente, mas não posso ignorar que há outras leituras que terminam um tanto frustradas.
Zona de Interesse
3.6 579 Assista AgoraUm filme documental de terror. Não espere uma história instigante, desenvolvimento de personagem ou algo do tipo. Mesmo diálogos expositivos estão ausentes. É como se uma câmera fosse enviada para o passado e decidisse registrar a vida dessa família em seu cotidiano banal. Mas, há um terror que domina a experiência ao prestar atenção nas entrelinhas e, principalmente, manter os ouvidos atentos. Enquanto discutem temas banais como decoração da casa, lanches ou descansam numa varanda, ao fundo há gritos, tiros e fumaças que chocam pelo modo como tornaram-se apenas mais um som ambiente para aqueles que não tinham uma mira em si. Desconfortável, tenso e sufocante graças quase totalmente ao trabalho de direção e montagem, já que nada de horripilante é transparecido em seus diálogos.
Dito isto, não é meu tipo favorito de filme. Prefiro roteiros mais estruturados a esses filmes com proposta documental. Mas não posso negar sua força.
Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros
3.9 1,7K Assista AgoraVenceu o teste do tempo. Permanece um filme muito divertido e surpreendentemente intenso. Com classificação indicativa livre, consegue passar mais tensão que muitos filmes de terror cheios de jumpscare e gore.
Slacker
3.6 89Em um dos seus primeiros filmes, Linklater já mostrava alguns dos fascínios que o acompanhariam por boa parte de sua filmografia, como o interesse pelo banal, corriqueiro, cotidiano e a ênfase nos diálogos. Ainda sem a escrita hipnótica da trilogia Antes..., é quase um antecessor espiritual de Jovens, Loucos e Rebeldes, passeando por grupos de indivíduos aparentemente aleatórios mas ligados pelo recorte geracional. Assistir me fez lembrar daquela fase da vida em que você não é adolescente e nem adulto, tentando encontrar seu próprio propósito e procurando pequenas ocupações para viver o dia-a-dia. Infelizmente, o filme não prende tanto quanto poderia. Era uma ideia bacana para um curta ou média metragem, mas como um longa... As conversas não eram tão interessantes assim. Mas que cena bonita no final!
Pobres Criaturas
4.2 1,1K Assista AgoraEsteticamente, é um filme impecável. Incansavelmente criativo, Lanthimos faz questão de reforçar o incomum em todos os aspectos, do figurino simultaneamente vitoriano e futurista, aos ângulos de câmera e lentes inusitadas e à trilha sonora repleta de notas e instrumentos não convencionais. Emma Stone realmente brilha ao construir uma personagem em uma transformação gradual que envolve até a forma de andar e falar.
Sobre o roteiro, no entanto, preciso fazer uma ressalva. Estava achando tudo ótimo, adorando a jornada de Bella ao conhecer os prazeres (físicos, artísticos e intelectuais), seus limites e suas contradições. Mas, em certo ponto, o ritmo começa a sofrer e vemos situações repetitivas que parecem reiterar algo já bem exposto. Até chegar o final que, apesar de não ser ruim, pareceu ter buscado um vilão que a história não precisava e envolvendo detalhes dispensáveis sobre a personagem. Uma pena.
A Cor Púrpura
3.5 94Quando estava assistindo no cinema, ainda na primeira hora uma amiga se virou para mim e disse que parecia que estava assistindo a um trailer que não acabava. E esse foi um comentário que resumiu muito bem meu incômodo.
Os problemas de ritmo e desenvolvimento precário são nítidos, especialmente em sua primeira metade. O filme salta de uma cena a outra, sem que nos acostumemos com os personagens e suas relações, deixando lacunas nítidas que, se por um lado deixam para a imaginação preencher os detalhes, por outro pecam pelo uso excessivo. O filme soa como um claro resumo do romance.
Na segunda metade a situação melhora, mas sinto dizer que não foi o suficiente para me agradar. Consigo entender a importância da história para a população afroamericana, especialmente a feminina. Mas é um melodrama clássico, com uma estrutura feita sob medida para fazer o público se emocionar. Funciona, mas é batido.
Sobre a parte musical, as músicas são ótimas, mas os números são pouco inspirados, esquecíveis. Facilmente dispensáveis.
Um Lugar ao Sol
4.2 124 Assista AgoraResistiu muitíssimo bem ao teste do tempo. Começa como um romance esperançoso e termina como um suspense trágico. Fiquei impressionado em como toca em temas sensíveis, mesmo sem mencioná-los diretamente, e aborda diretamente questões ainda atuais como privilégios sociais e desigualdade de oportunidades.
BanG Dream! Episódio de Roselia I: Promessa
3.0 1 Assista AgoraAssistido sem conhecimento do jogo ou da franquia. E funcionou isoladamente, mas é uma história bem básica, com clichês típicos do gênero e um CG que às vezes incomoda. Ao menos as músicas são bacanas, apesar de ser um JRock não lá muito original. Mas as vozes salvam.
Os Goonies
4.1 1,3K Assista AgoraNão cheguei a assistir quando era criança (ou se vi, esqueci) e tenho que concordar com os comentários que vi de pessoas com um perfil parecido com o meu. É um filme bem bobinho, divertido para crianças, mas que não oferece muito para outros públicos. A própria aventura cria uma expectativa de grandiosidade que nunca chega a alcançar, infelizmente.
Mas achei curioso observar como, apesar de ser bobinho, o roteiro em si tem umas piadas que não costumam estar presentes nos filmes infantis atuais. Hoje há uma visão da infância como uma fase de inocência e pureza imaculadas que nem sempre corresponde à realidade. Talvez um dos motivos para o filme ter marcado tanto sua geração foi a forma em que conseguiu se comunicar com as crianças de sua época, falando na linguagem delas.
Matou a Família e Foi ao Cinema
3.6 91É o tipo de filme que se aproveita melhor interpretando-o por meio de seus simbolismos, e não procurando uma simples narrativa. É como um passeio pelo caderno policial: pessoas diferentes envolvidas com assassinatos e suicídios, mas tendo um elemento em comum: a banalização da morte e a rejeição da família, seja na forma de pais entediantes, mães opressivas, esposas exaustas e casamentos falidos. Mas há uma "manchete" que diverge: a tortura e assassinato de uma pessoa pelas mãos de militares. Mas seria mesmo divergente? Ou veríamos aqui uma violência da "família" que compõe a sociedade brasileira e seus órgãos políticos?
Não é um filme que vá conquistar todo mundo, mas é uma experiência interessante. E como comentário adicional: adorei ver Renata Sorrah tão jovem.
Priscilla
3.4 160 Assista AgoraE não foi dessa vez que deitei pra Sofia.... Não é que eu tenha achado ruim. Mas é que não pareceu ser um filme que tinha muito para dizer para começo de conversa. São várias situações que se repetem até a eventual conclusão. Intencional? Provavelmente, já que serviu para mostrar como a vida de Priscilla foi uma sucessão de aprisionamentos. Mas, com sua mente pouco aprofundada, o filme vai se arrastando e no final sobra só a conclusão (já tomada na primeira hora): "Elvis foi um fdp". E logo o filme é esquecido. Não sei, Coppola tem uma predileção sobre temas como solidão e melancolia de mulheres ricas, mas parece ter dificuldade de fazer algo mais profundo e interessante sobre isso além de simplesmente retratar como elas vivem.
Contudo, figurinos belíssimos. Só por eles é possível ter noção do passar dos anos já que eles acompanham a transformação na moda nos Estados Unidos.
Sabrina
4.1 332 Assista AgoraQuando vi que se tratava do mesmo diretor de Crepúsculo dos Deuses e Se Meu Apartamento Falasse, já tive boas expectativas. Felizmente, foram cumpridas.
Apesar de ser uma comédia romântica bem clichê (para os dias de hoje), tem um texto ácido e com um humor leve, sem ser muito escrachado mas com uma comicidade espontânea. Só não funcionou bem como triângulo amoroso porque, né... Um dos pretendentes em questão sequer merecia o carinho de Sabrina.