Que pudesse Mel Brooks, com sua comédia simples, mas genial e de cunho social, ensinar e dar alguns conselhos aos novos "humoristas" brasileiros, derrotados pela falta de criatividade e originalidade, fadados à prática das piadas chulas e preguiçosas que cultivam estereótipos e preconceitos nada engraçados - preconceitos do tipo que faz vítimas todos os dias.
É evidente como a versão brasileira do título do filme reflete um moralismo demente das pessoas deste país, ou pelo menos das pessoas responsáveis por essas traduções horríveis. A palavra "ninfomaníaca" não aparece sequer uma vez no filme - e além disso, há de se admitir, não dá pra chamar a personagem de ninfomaníaca. É apenas uma adolescente com tesão, assim como todos os adolescentes saudáveis. A garota do filme, todavia, é duramente reprimida, e é isso.
O que a maioria das pessoas não vê, devido às amarras do conformismo, é que o filme é uma inteligente obra de subversão ao sistema estrutural de educação tal como conhecemos. A fragmentação dos conhecimentos, as relações de hierarquia e autoritarismo que pautam o convívio escolar, a crueldade da fusão das políticas da meritocracia e do comportamentalismo e a necessidade da homogeneização de um grupo diverso (a classe), além do foco na problemática da distância entre o interesse do aluno e o conteúdo curricular, são as principais causas estruturais de todas as mazelas que lamentamos hoje na educação - e a discussão do senso comum aponta apenas as consequências e os sintomas (como a violência) que, como é celebremente retratado no filme, são apenas a superfície da catástrofe.
Apesar do que se costuma dizer das adaptações cinematográficas de romances, senti que houve muita fidelidade nesta. As decepções ocorrem geralmente por não considerarmos o fator da própria divergência das formas de narrar.
A confusão e a incongruência mental do personagem é, com algumas ressalvas, bem retratada pela performance do ator. Também achei interessante como foi traduzida a perturbação que traz o clima quente e ardido, tão presente no livro.
A obra de Camus é surpreendente e incomoda pelo barulho existencial. Estarrece, assusta. A insensibilidade do personagem, simbolizada principalmente pela fala pausada, é capaz de influenciar uma postura de vida; permite o leitor também a pausar cada momento do cotidiano, silenciá-lo e enxergar sua insignificância.
O livro foi marcante na minha vida e o filme foi extremamente importante para organizar e dar forma aos acontecimentos da história. A cena do assassinato, por exemplo, tem sua fugacidade e espontaneidade muito mais nítida no filme.
Enfatizo a recomendação: só assista depois de ler. Não tem como se arrepender da leitura. Até tem... mas não por ser ruim, por outros motivos.
Que Droga de Vida
3.8 62Que pudesse Mel Brooks, com sua comédia simples, mas genial e de cunho social, ensinar e dar alguns conselhos aos novos "humoristas" brasileiros, derrotados pela falta de criatividade e originalidade, fadados à prática das piadas chulas e preguiçosas que cultivam estereótipos e preconceitos nada engraçados - preconceitos do tipo que faz vítimas todos os dias.
Jovem Aloucada
3.2 337 Assista AgoraÉ evidente como a versão brasileira do título do filme reflete um moralismo demente das pessoas deste país, ou pelo menos das pessoas responsáveis por essas traduções horríveis. A palavra "ninfomaníaca" não aparece sequer uma vez no filme - e além disso, há de se admitir, não dá pra chamar a personagem de ninfomaníaca. É apenas uma adolescente com tesão, assim como todos os adolescentes saudáveis. A garota do filme, todavia, é duramente reprimida, e é isso.
Entre os Muros da Escola
3.9 363 Assista AgoraO que a maioria das pessoas não vê, devido às amarras do conformismo, é que o filme é uma inteligente obra de subversão ao sistema estrutural de educação tal como conhecemos. A fragmentação dos conhecimentos, as relações de hierarquia e autoritarismo que pautam o convívio escolar, a crueldade da fusão das políticas da meritocracia e do comportamentalismo e a necessidade da homogeneização de um grupo diverso (a classe), além do foco na problemática da distância entre o interesse do aluno e o conteúdo curricular, são as principais causas estruturais de todas as mazelas que lamentamos hoje na educação - e a discussão do senso comum aponta apenas as consequências e os sintomas (como a violência) que, como é celebremente retratado no filme, são apenas a superfície da catástrofe.
O Estrangeiro
3.8 49Apesar do que se costuma dizer das adaptações cinematográficas de romances, senti que houve muita fidelidade nesta. As decepções ocorrem geralmente por não considerarmos o fator da própria divergência das formas de narrar.
A confusão e a incongruência mental do personagem é, com algumas ressalvas, bem retratada pela performance do ator. Também achei interessante como foi traduzida a perturbação que traz o clima quente e ardido, tão presente no livro.
A obra de Camus é surpreendente e incomoda pelo barulho existencial. Estarrece, assusta. A insensibilidade do personagem, simbolizada principalmente pela fala pausada, é capaz de influenciar uma postura de vida; permite o leitor também a pausar cada momento do cotidiano, silenciá-lo e enxergar sua insignificância.
O livro foi marcante na minha vida e o filme foi extremamente importante para organizar e dar forma aos acontecimentos da história. A cena do assassinato, por exemplo, tem sua fugacidade e espontaneidade muito mais nítida no filme.
Enfatizo a recomendação: só assista depois de ler. Não tem como se arrepender da leitura. Até tem... mas não por ser ruim, por outros motivos.
A Montanha Sagrada
4.3 467 Assista AgoraInsano.