É preciso reconhecer os méritos de Antonio Tabet, pois ele está muito bem nesse novo filme. Ele consegue manter essa figura do policial miliciano de maneira constante e hilária durante todo o longa.
Apenas um ponto que me chamou a atenção é isso que chamei de caráter atemporal do filme. O Porta dos Fundos para mim sempre foi marcado por uma forte relação com a sua época. Eles o tempo todo fazem piadas com situações cotidianas e críticas sociais misturadas com política. Não é o caso aqui, onde com a exceção de um único comentário, a covid-19 não existe nesse universo.
Não que eu tenha desgostado do filme por causa disso, pelo contrário, proporcionou ótimas risadas ao longo de toda a sua uma hora de duração. Apenas foi algo que me chamou a atenção, já que destoa um pouco do que o Porta costuma fazer, principalmente nas suas últimas produções. Meu palpite é que pelo fato de 2020 e 21 terem sido anos bastante pesados, eles não acharam que era hora ainda de tocar no assunto, ou simplesmente não tiveram vontade de falar do mesmo. Até porque eles próprios foram afetados, na medida que tiveram que contratar literalmente uma equipe de biossegurança para as filmagens.
Agora, a única coisa que de fato não curti foi a sequência com a personagem da Evelyn Castro bancando o cachorro farejador com a camisinha do assassino. Eu não sou contra escatologia em filmes, mas depois dos primeiros 15 segundos a piada simplesmente perdeu completamente a graça. Além de que é um tipo de humor que o Porta não costuma fazer, de maneira que ficou um trecho muito deslocado do restante da narrativa.
Por outro lado, gostei muito que eles fugiram do estereótipo de dizer que o assassino ia matar o faxineiro gay porque naquele dia saiu o número 24 no jogo do bicho (veado). Seria péssimo caso tivessem feito isso, além de uma hipocrisia, já que o Porta claramente é ligado ao campo progressista, de maneira que é contra esse tipo de piada homofóbica. Assim, foi uma grata surpresa eles romperem com essa expectativa.
Então, se você quer se divertir bastante, recomendo!
Um primeiro ponto que preciso deixar claro: nunca li os livros da série duna e não assisti a versão da década de 1980. Ou seja, esse é o meu primeiro contato com esse universo.
Dito isso, algo que me chamou muito a atenção e considero primoroso no filme é a construção de mundo.
Especialmente no planeta onde se encontra a especiaria, retratado como extremamente hostil a vida humana. Os recursos tecnológicos que ajudam na sobrevivência, como as roupas especiais, o jeito de caminhar na areia, o aparelho que atrai os vermes gigantes, tudo isso achei incrível, muito criativo e dialoga muito bem com esse cenário inóspito. O detalhe do ratinho que precisa usar o próprio suor para sobreviver foi a cereja do bolo.
O problema é que para mim o personagem principal da trama é esse, duna. Porque fui incapaz de criar qualquer conexão com os protagonistas.
Paul Atreus é a versão empoeirada do meme do Grumpy Cat, a morte do duque Leto Atreides não me impactou em nada, e sei que muita gente idolatra a Zendaya, mas essa personagem dela que lembra o estereótipo da árabe exótica foi totalmente genérico pra mim: uma mulher bela e misteriosa, cheia de segredos e ao mesmo tempo perigosa.
Eu gostaria muito de ver uma história sobre Duncan Idaho, isso sim, e não apenas porque ele é interpretado por Jason "labrador humano" Momoa. A razão é que com ele foi possível criar empatia, de maneira que seria incrível ver como ele se tornou esse grande guerreiro. Da mesma forma, o papel da doutora Kynes também me despertou muito interesse, essa botânica nativa do planeta que trabalha para o império, mas ao mesmo tempo guarda seus segredos e tem interesses próprios.
Nesse sentido, acredito que o único ponto positivo disso tudo é que me despertou bastante a curiosidade de ler os livros, já que várias coisas são simplesmente atiradas na tela.
A mãe de Paul faz parte de uma ordem secreta que aparece por cinco minutos e pronto, mais nenhuma explicação. Por que o tal do barão é deformado e se banha em uma espécie de piche negro? Qual é o real poder da casa Atreides, textualmente colocada como uma das mais poderosas daquele universo, tanto que o imperador tem medo dela, mas que é aniquilada em 10 minutos? O que faz o exército do imperador ser uma força tão poderosa, tem algo a ver com a cerimônia na chuva que vemos por alguns minutos? Aí volta a questão, se esse poderio militar do imperador é tão incrível, porque utilizar a casa do barão?
Enfim, o que me parece é que o filme, embora traga um enredo simples e compreensível, é feito para quem leu os livros, isto é, ele só será de fato uma experiência rica e envolvente para quem já tem essa bagagem cultural. Isso porque ele se preocupa tanto em apresentar esse mundo que simplesmente esquece de mostrar quem são as pessoas que habitam ele, de maneira que a aridez do cenário também se manifesta em aridez narrativa, sem elementos de roteiro que façam com que se desperte o interesse em saber para onde aqueles indivíduos irão, o que vão fazer.
Paul Atreides é o futuro imperador, o escolhido. Tá, e daí? Aqui não ocorre algo como em "matrix" ou "star wars", onde essa noção de um indivíduo especial que mudará completamente o mundo é trabalhada desde o início do filme. Não digo que seria o caso deles seguirem rigorosamente a receita da "jornada do herói", mas faltou o mínimo de elaboração do personagem que, teoricamente, é o principal. E entendo que o problema é justamente esse, o personagem principal é aquele que dá nome ao filme
Curti bastante como a premissa do filme foi bem explorada ainda que tenha focado quase que somente nos aspectos biológicos e não dado tanta atenção para os culturais. Não que isso tenha feito eu não gostar do filme, apenas um pensamento de que talvez fosse algo que pudesse ter sido melhor desenvolvido. Mas claro, é bem mais fácil encenar mudanças grotescas no corpo humano, como a cena do tumor, do que alterações psicológicas.
É interessante como é possível relacionar o tema geral com a época em que vivemos. As relações sociais no longa, por causa dos efeitos colaterais da ilha, são rápidas e dinâmicas. Temos o casal Trent e Kara que se conhecem, tem um filho e depois se separam. E o casal principal, Guy e Prisca, que estão prestes a se separar, mas ao final se reconciliam. Isso lembra muito o nosso contexto já que, como defende o sociólogo Zygmunt Bauman, hoje em dias as relações são fluídas, começam e terminam muito rapidamente.
Ainda nessa questão, existe uma cena onde Trent e Kara comentam que não tiveram formatura de Ensino Médio e nem de faculdade, o que também dá para relacionar com o nosso momento histórico onde muitos adultos, especialmente os de classe média, ainda vivem com os pais e continuam estudando.
Outra coisa interessante é a ideia, presente no nosso cotidiano, de que tudo aquilo que é natural é, por consequência, bom, e que muitas empresas usam para vender produtos "100% naturais", por exemplo. Esse discurso aparece no "vilão" gerente do Resort, que tenta justificar o que faz dizendo que a natureza criou aquele lugar para que eles realizassem seus experimentos, logo não estão fazendo nada de errado.
Nesse sentido, é tentador justificar o que eles estão fazendo já que usam seus remédios para salvar vidas. Mas, analisando com mais calma, se eles de fato desejassem curar doenças então deveriam divulgar essa ilha para o mundo inteiro, para que vários laboratórios diferentes a utilizassem. Mas não, afinal de contas, se fizessem isso iriam perder o monopólio de ser a única farmacêutica que pode estudar os efeitos de um medicamento ao longo de décadas.
Enfim, uma experiência bastante satisfatória, com destaque para as atuações do elenco, a trilha sonora e os usos criativos da fotografia (como a imagem desfocada para o personagem que sofre de catarata).
Atuações excelentes de Adam Driver e Scarlett Johansson, que conseguem se manter nos seu personagens em cenas mais longas do que o tradicional. O único ponto negativo que encontrei é que não fiquei satisfeito com a forma como o fim do matrimônio dos personagens foi retratada:
Achei problemático que a narrativa parece colocar a responsabilidade pelo fim do casamento somente na Nicole, enquanto que Charlie é retratado como uma vítima, ainda que seja mencionado que ele traiu a esposa e foi bastante egoísta ao longo do relacionamento. Teria achado mais interessante se ficasse bem claro que a relação deles acabou devido ao comportamento dos dois
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Peçanha Contra o Animal
2.6 81Um filme quase atemporal, mas muito engraçado
É preciso reconhecer os méritos de Antonio Tabet, pois ele está muito bem nesse novo filme. Ele consegue manter essa figura do policial miliciano de maneira constante e hilária durante todo o longa.
Apenas um ponto que me chamou a atenção é isso que chamei de caráter atemporal do filme. O Porta dos Fundos para mim sempre foi marcado por uma forte relação com a sua época. Eles o tempo todo fazem piadas com situações cotidianas e críticas sociais misturadas com política. Não é o caso aqui, onde com a exceção de um único comentário, a covid-19 não existe nesse universo.
Não que eu tenha desgostado do filme por causa disso, pelo contrário, proporcionou ótimas risadas ao longo de toda a sua uma hora de duração. Apenas foi algo que me chamou a atenção, já que destoa um pouco do que o Porta costuma fazer, principalmente nas suas últimas produções. Meu palpite é que pelo fato de 2020 e 21 terem sido anos bastante pesados, eles não acharam que era hora ainda de tocar no assunto, ou simplesmente não tiveram vontade de falar do mesmo. Até porque eles próprios foram afetados, na medida que tiveram que contratar literalmente uma equipe de biossegurança para as filmagens.
Agora, a única coisa que de fato não curti foi a sequência com a personagem da Evelyn Castro bancando o cachorro farejador com a camisinha do assassino. Eu não sou contra escatologia em filmes, mas depois dos primeiros 15 segundos a piada simplesmente perdeu completamente a graça. Além de que é um tipo de humor que o Porta não costuma fazer, de maneira que ficou um trecho muito deslocado do restante da narrativa.
Por outro lado, gostei muito que eles fugiram do estereótipo de dizer que o assassino ia matar o faxineiro gay porque naquele dia saiu o número 24 no jogo do bicho (veado). Seria péssimo caso tivessem feito isso, além de uma hipocrisia, já que o Porta claramente é ligado ao campo progressista, de maneira que é contra esse tipo de piada homofóbica. Assim, foi uma grata surpresa eles romperem com essa expectativa.
Então, se você quer se divertir bastante, recomendo!
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraUm filme árido, e não só no cenário
Um primeiro ponto que preciso deixar claro: nunca li os livros da série duna e não assisti a versão da década de 1980. Ou seja, esse é o meu primeiro contato com esse universo.
Dito isso, algo que me chamou muito a atenção e considero primoroso no filme é a construção de mundo.
Especialmente no planeta onde se encontra a especiaria, retratado como extremamente hostil a vida humana. Os recursos tecnológicos que ajudam na sobrevivência, como as roupas especiais, o jeito de caminhar na areia, o aparelho que atrai os vermes gigantes, tudo isso achei incrível, muito criativo e dialoga muito bem com esse cenário inóspito. O detalhe do ratinho que precisa usar o próprio suor para sobreviver foi a cereja do bolo.
O problema é que para mim o personagem principal da trama é esse, duna. Porque fui incapaz de criar qualquer conexão com os protagonistas.
Paul Atreus é a versão empoeirada do meme do Grumpy Cat, a morte do duque Leto Atreides não me impactou em nada, e sei que muita gente idolatra a Zendaya, mas essa personagem dela que lembra o estereótipo da árabe exótica foi totalmente genérico pra mim: uma mulher bela e misteriosa, cheia de segredos e ao mesmo tempo perigosa.
Eu gostaria muito de ver uma história sobre Duncan Idaho, isso sim, e não apenas porque ele é interpretado por Jason "labrador humano" Momoa. A razão é que com ele foi possível criar empatia, de maneira que seria incrível ver como ele se tornou esse grande guerreiro. Da mesma forma, o papel da doutora Kynes também me despertou muito interesse, essa botânica nativa do planeta que trabalha para o império, mas ao mesmo tempo guarda seus segredos e tem interesses próprios.
Nesse sentido, acredito que o único ponto positivo disso tudo é que me despertou bastante a curiosidade de ler os livros, já que várias coisas são simplesmente atiradas na tela.
A mãe de Paul faz parte de uma ordem secreta que aparece por cinco minutos e pronto, mais nenhuma explicação. Por que o tal do barão é deformado e se banha em uma espécie de piche negro? Qual é o real poder da casa Atreides, textualmente colocada como uma das mais poderosas daquele universo, tanto que o imperador tem medo dela, mas que é aniquilada em 10 minutos? O que faz o exército do imperador ser uma força tão poderosa, tem algo a ver com a cerimônia na chuva que vemos por alguns minutos? Aí volta a questão, se esse poderio militar do imperador é tão incrível, porque utilizar a casa do barão?
Enfim, o que me parece é que o filme, embora traga um enredo simples e compreensível, é feito para quem leu os livros, isto é, ele só será de fato uma experiência rica e envolvente para quem já tem essa bagagem cultural. Isso porque ele se preocupa tanto em apresentar esse mundo que simplesmente esquece de mostrar quem são as pessoas que habitam ele, de maneira que a aridez do cenário também se manifesta em aridez narrativa, sem elementos de roteiro que façam com que se desperte o interesse em saber para onde aqueles indivíduos irão, o que vão fazer.
Paul Atreides é o futuro imperador, o escolhido. Tá, e daí? Aqui não ocorre algo como em "matrix" ou "star wars", onde essa noção de um indivíduo especial que mudará completamente o mundo é trabalhada desde o início do filme. Não digo que seria o caso deles seguirem rigorosamente a receita da "jornada do herói", mas faltou o mínimo de elaboração do personagem que, teoricamente, é o principal. E entendo que o problema é justamente esse, o personagem principal é aquele que dá nome ao filme
Tempo
3.1 1,1K Assista AgoraMais um ótimo filme de Shyamalan, ainda que não tenha me causado um impacto emocional tão forte, como em outros dos seus trabalhos.
Curti bastante como a premissa do filme foi bem explorada ainda que tenha focado quase que somente nos aspectos biológicos e não dado tanta atenção para os culturais. Não que isso tenha feito eu não gostar do filme, apenas um pensamento de que talvez fosse algo que pudesse ter sido melhor desenvolvido. Mas claro, é bem mais fácil encenar mudanças grotescas no corpo humano, como a cena do tumor, do que alterações psicológicas.
É interessante como é possível relacionar o tema geral com a época em que vivemos. As relações sociais no longa, por causa dos efeitos colaterais da ilha, são rápidas e dinâmicas. Temos o casal Trent e Kara que se conhecem, tem um filho e depois se separam. E o casal principal, Guy e Prisca, que estão prestes a se separar, mas ao final se reconciliam. Isso lembra muito o nosso contexto já que, como defende o sociólogo Zygmunt Bauman, hoje em dias as relações são fluídas, começam e terminam muito rapidamente.
Ainda nessa questão, existe uma cena onde Trent e Kara comentam que não tiveram formatura de Ensino Médio e nem de faculdade, o que também dá para relacionar com o nosso momento histórico onde muitos adultos, especialmente os de classe média, ainda vivem com os pais e continuam estudando.
Outra coisa interessante é a ideia, presente no nosso cotidiano, de que tudo aquilo que é natural é, por consequência, bom, e que muitas empresas usam para vender produtos "100% naturais", por exemplo. Esse discurso aparece no "vilão" gerente do Resort, que tenta justificar o que faz dizendo que a natureza criou aquele lugar para que eles realizassem seus experimentos, logo não estão fazendo nada de errado.
Nesse sentido, é tentador justificar o que eles estão fazendo já que usam seus remédios para salvar vidas. Mas, analisando com mais calma, se eles de fato desejassem curar doenças então deveriam divulgar essa ilha para o mundo inteiro, para que vários laboratórios diferentes a utilizassem. Mas não, afinal de contas, se fizessem isso iriam perder o monopólio de ser a única farmacêutica que pode estudar os efeitos de um medicamento ao longo de décadas.
Enfim, uma experiência bastante satisfatória, com destaque para as atuações do elenco, a trilha sonora e os usos criativos da fotografia (como a imagem desfocada para o personagem que sofre de catarata).
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraAtuações excelentes de Adam Driver e Scarlett Johansson, que conseguem se manter nos seu personagens em cenas mais longas do que o tradicional. O único ponto negativo que encontrei é que não fiquei satisfeito com a forma como o fim do matrimônio dos personagens foi retratada:
Achei problemático que a narrativa parece colocar a responsabilidade pelo fim do casamento somente na Nicole, enquanto que Charlie é retratado como uma vítima, ainda que seja mencionado que ele traiu a esposa e foi bastante egoísta ao longo do relacionamento. Teria achado mais interessante se ficasse bem claro que a relação deles acabou devido ao comportamento dos dois