Tecnicamente muito bem dirigido, mas de um roteiro um pouco preguiçoso. Pode-se resumir o roteiro de maneira esdrúxula dizendo que se trata da trama de um adolescente em busca de uma resposta para a pergunta: "como é ser adulto?". A partir de tal indagação a solução do personagem é trancar os pais em um bunker e tentar viver uma vida de adulto por conta própria. Uma solução porca e sem nexo, sem a menor coerência, uma vez que o roteiro não apresenta os indicativos psicológicos que serviriam como motivação para o personagem.
Enfim, enquanto o protagonista "viveu" uma vida de adulto por demanda espontânea, a outra garota teve que amadurecer às pressas devido o abandono da mãe. Metáfora tão solta que facilmente passa despercebida pelo espectador e ainda pode ser causa de constrangimento.
Um bando de adolescentes decide destruir a única cidade que resta no planeta - e que possuía os principais recursos pra salvar a humanidade - pra ir morar na praia.
Pensemos o curta de Gaspar Noé com a máxima exemplificada pelo psicanalista francês Jacques Lacan: "não há relação sexual!".
Pois bem, por mais que o enredo do curta aponte que ambos personagens se liguem à um propósito comum - os dois assistem o mesmo filme e com o mesmo objetivo, por exemplo-, notamos que eles se desconectam desse propósito na exata medida em que cada qual esbarra em suas próprias fantasias. Ou seja, a conexão dos dois é improvável se pensarmos pela lógica de que as fantasias de um sujeito sempre colocam o outro no lugar de um objeto ao qual ele não corresponde. Logo, a relação sexual está mais ligada aos desejos e fantasias de cada um do que a união dos corpos propriamente dita.
No curta isso se apresenta como crítica metalinguística à pornografia. Na pornografia não há contato se não com a própria fantasia, esse é o único contato possível. Os dois personagens estão no mesmo ambiente, separados apenas por uma parede, eles assistem ao mesmo filme e "gozam" ao mesmo tempo. Isso nos faz questionar: afinal, por quê eles não estão juntos? Bem... há aqui um esvaziamento das relações humanas; não fosse a pornografia eles estariam juntos...
Eggers fez uma escolha muito feliz ao transformar seu primeiro curta-metragem em um filme mudo. Com certeza é uma homenagem pra era do cinema mudo do gênero de terror!
O mais interessante é que a direção consegue recriar com muita meticulosidade a sensação de assistir os primeiros filmes do movimento expressionista alemão: visuais contrastados, edição simples, atuações extremamente enfáticas, trilha sonora estridente, iluminação e ângulos de câmera exagerados e muito dramáticos!
"Nimic" é uma palavra que se assemelha muito a "mimic", do inglês "mímica". Para mim não restam dúvidas de que o curta revela algo muito próximo a isso!
"Que horas são?" é a pergunta que faz o personagem interpretado por Matt Dillon ter sua identidade roubada por uma mulher misteriosa, que o acaso o fez encontrar em um metrô. Essa mulher segue-o até sua casa e passa a adotar todos todos os seus trejeitos, falas e costumes, literalmente lhe imitando. O ocorrido é tão perturbador ao ponto em que nem mesmo a esposa e os filhos do homem sabem diferenciar um do outro. "Digam à mãe quem é o verdadeiro pai" diz ele aos filhos que agora titubeiam ao tentar reconhecê-lo.
Para solucionar o problema a família faz um teste: cada um dos dois deita-se com a mãe e quem lhe figurar maior intimidade sem dúvidas será o "verdadeiro pai". Dito e feito: a família escolhe a mulher desconhecida e ela assume o posto do pai.
O curta se encerra no momento em que o personagem de Matt Dillon volta ao metrô e um rapaz lhe pergunta: "que horas são?"; a câmera fica alternando entre os dois em um movimento que agrega um suspense muito meticuloso. Bem, por aí já se entende que chegou a vez d'ele roubar a personalidade de alguém... .
É incrível como a linguagem cinematográfica marca uma enorme presença nos trabalhos do Lanthimos. Percebam que no início da história é o homem assume o papel de violoncelista na orquestra, já no final da história quem assume o posto de violoncelista é a mulher desconhecida, consumando a teoria de que ela lhe roubou a identidade.
Também achei incrível o fato de que a trilha sonora é engendrada pela própria orquestra que compõe as cenas do curta do início ao fim. Algo assim aconteceu em Birdman, do Iñárritu, onde percebemos que o som de uma bateria frenética que acompanhava um extenso plano sequência estava presente na cena em si, onde um rapaz estava tocando o instrumento em uma das calçadas da Broadway por onde passava um dos personagens. Simplesmente sensacional!
A identidade cinematográfica que Lanthimos adquiriu é tão singular que chega a ser atemorizante. A marca do diretor é grifada de maneira tão nítida em suas obras que às tornam completamente inconfundíveis (e até mesmo incomparáveis, eu diria).
Não há hesitação em sua forma particular de contar histórias; o grotesco encontra o estapafúrdio e dá origem ao excêntrico. Ao passo em que tudo é estranhamente artificial, supérfluo e inexpressivo, suas narrativas demonstram as mais profundas inquietações humanas!
A premissa da série é relativamente simples: um fazendeiro encontra um imenso buraco em sua fazenda e percebe que o buraco mascara algo que está para além da compreensão humana. A partir disso a história começa a se desenrolar.
Uma premissa simples mas tão bem construída que logo no primeiro episódio já vemos se criar uma atmosfera muito misteriosa e que nos prende com muita facilidade, afinal, queremos saber o que diabos é aquele "buraco". A grande questão aqui é que a série se prende muito em construir toda essa ambientação que simplesmente esquece de utilizar ela pra resolver o mistério que ela mesmo criou.
Em meu ver, em 8 episódios a série poderia ter, talvez, mais respostas do que perguntas. Poxa, em seu penúltimo episódio a série ainda estava lançando questionamentos, ao invez de já começar a dar solução a alguns problemas.
O último episódio, mesmo que tarde, poderia dar o braço a torcer e investir em resoluções mais pontuais; pois bem dizer, a série demora 8 capítulos para chegar no clímax esperado, e quando chega, se encerra. É como se você ficasse 3 horas morrendo de fome enquanto prepara um jantar muito bem pensando mas quando ele finalmente está pronto você desliga o fogo, tampa as panelas e decide comer só no próximo ano.
Acho que isso foi uma escolha errada, pois no fim das contas a primeira temporada se resume à especulações presunçosas sobre o que seria o tal "buraco". Acho imprudente desatar todos os nós somente na segunda temporada, creio que o público não vai ter a paciência que os produtores esperam...
A série em si tem seus méritos, que não são poucos, confesso. Com exceção de um ou outro ator, a grande maioria faz um bom trabalho. Fotografia, direção de arte, composição e trilha sonora são de cair o queixo!
Absurdo. Simplesmente absurdo! Esse é um daqueles filmes que te deixa completamente devastado ao te jogar informações que exigem grande esforço pra engolir, em um momento onde você não está preparado para tanto. O desfecho te pega desprevenido, desce seco pela garganta. Pesado o suficiente pra te deixar com a cabeça latejando de tanto refletir.
Poucas vezes um final de filme me proporcionou sentimento tão ambíguo. Uma mistura de alívio com angústia. Alívio por finalmente vir à tona uma história que permaneceu por anos silenciada; angústia pelo próprio caráter da história.
Sem dúvida alguma mais tarde vou poder dizer que foi um dos melhores longas que assisti no ano.
O que eu senti foi o seguinte: a gente pode levar o filme apenas como a história de um rapaz que pela mediocridade de sua vida decide entrar em um jogo assombroso com um cavaleiro, na busca de ter uma história pra contar pra alta sociedade, ou podemos deixar de lado essa concepção trivial e levar em conta que o filme é cheio de simbolismos que falam sobre a busca inconsequente pelo poder.
Essa busca pelo poder é tão amarga e egocentrada que trás mais prejuízos do que benefícios. O poder, no filme, não passa de uma máscara vestida para camuflar sujeitos completamente supérfluos e fúteis. Pois bem, Sir Gawain, o protagonista, é aquele cara que vive de farra, bebedeiras e irresponsabilidades, totalmente desprovido de virtudes. O próprio Rei Arthur o coloca numa situação constrangedora quando lhe pede que conte uma de suas histórias de vida e o rapaz se vê sem nenhuma informação relevante sobre si mesmo, vendo-se defronte o caráter miserável de sua existência.
Em busca de ter uma história para se vangloriar e de possuir o mínimo traço de identidade venerável, Sir Gawain aceita o desafio do cavaleiro verde para finalmente "ser alguém" e poder empossar o posto de Rei Arthur, seu tio, quando este vir a falecer - algo que está para acontecer em um futuro muito próximo. No entanto, durante todo o percurso do personagem até seu destino final, a capela verde, vemos ele passar por diversas tentações e provações que mostram que na verdade ele não é nada mais do que uma pessoa medrosa, insegura, frágil e completamente influenciável.
Diante das tentações e provações que encontra pelo caminho - que me parecem terem sido arquitetadas por sua mãe, uma feiticeira - ele falhou em todas. A ambição fez com que ele fechasse seus olhos para tudo e fosse em busca de seu único objetivo: provar da sua coragem até então encubada. Entretanto, o próprio protagonista sabe que não é capaz de um feito desses.
Quando todo mundo pensa que ele poderia ter morrido no embate com o cavaleiro verde, ele retorna vivo e é tido por todos como um grande rapaz destemido, um homem bravo e indomável, mas ele sabe que isso não passa de uma farsa; não é a toa que, mesmo sendo vangloriado, seu semblante de rapaz frágil ainda se faz presente.
Temos aqui uma sequência de cenas excelentes que encerram o longa: Sir Gawain retira o cinto enfeitiçado de sua cintura por acreditar que ele é o causador de sua infelicidade; ao abandonar a magia que lhe protegia e que ao mesmo tempo era a causa de sua melancolia, ele passa a viver no plano da realidade e, quase que instantaneamente, ele presencia seu verdadeiro destino: sua cabeça é simplesmente decapitada, como deveria ter sido desde o princípio.
O filme mostra como algumas coisas são puramente consequência de nossos atos, e por mais que tentemos mascarar seus efeitos, o destino é inevitável. De forma alguma Gawain tinha os requisitos para suceder o trono de Arthur, ele mesmo sabia disso
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Eu acho impossível não mencionar Dev Patel aqui, seria até mesmo injusto! Mas, fala sério, que ator foda, em todos os personagens que ele interpreta ele consegue deixar uma identidade muito marcante, e aqui não foi diferente. Depois de assistir a interpretação dele eu simplesmente não consigo pensar em mais ninguém que conseguiria fazer o que ele fez com tamanha maestria. O cara fala até com os olhos!
O maior destaque, pra mim, foi o fato da diretora ter conseguido apresentar uma mensagem muito pertinente sobre a maternidade sem precisar fazer um grande discurso sobre isso!
A história é contada a partir da mescla de duas linhas de tempo que são apresentadas em forma de flashbacks do passado e muitas vezes apenas como devaneios de Leda. Aos poucos as coisas vão se encaixando e tomando seu sentido, e isso, de certa forma, nos deixa engajados em acompanhar os possíveis efeitos em que as ações da protagonista irão resultar. No entanto, a direção opta por não oferecer muitas repostas, o que torna o filme um tanto quanto especulativo - no melhor sentido da palavra.
Incômodo e tenso mas ao mesmo tempo leve e sensível, assim que eu descreveria o filme!
É um filme que literalmente subverte o gênero western clássico ao optar por deixar de lado os duelos armados, o famoso bang-bang, e optar por narrar sua história através de imagens e com o recurso do silêncio.
É um filme simplista e minimalista e ao mesmo tempo complexo e profundo. A história é contada através da quietude, da calmaria; e aqui a trilha sonora, as atuações e os enquadramentos contam muito mais do que imaginamos. Por um lado temos a ambientação de uma atmosfera árida e melancólica da fazenda onde os personagens vivem; aqui os planos abertos demonstram a pequenez dos sujeitos frente a um ambiente de proporções imensamente catastróficas. Por outro lado temos a compreensão da angústia subjetiva de cada personagem, do cowboy durão ao adolescente que rebela a imagem de masculinidade. Cenas longas, com poucos diálogos e enquadramentos fechados nos fazem sentir que cada personagem possui um universo particular emaranhado em segredos.
O mais interessante é que o filme nos apresenta cenas simples e muito, mas muito eficazes. Nada do que vemos em tela é feito por acaso, tudo engrandece a história. O que faz tudo isso funcionar é um jogo semiótico incrível. Com a cadência das cenas os segredos de Phill vão vindo à tona sem muita pressa, de uma maneira tão delicada que nos instiga a ir em busca de mais respostas sobre o passado do personagem. Por mais que Phill demonstre ser durão e insensível, temos uma noção de que seu passado esconde muitas coisas que nos fazem pensar que na verdade sua personalidade não passa de uma carcaça que ele vestiu para esconder seu sentimentalismo. isso fica evidente devido as cansativas menções sobre sua relação com um antigo amigo, Bronco Henry.
As diversas menções sobre Bronco, somadas à outros detalhes, nos mostram que talvez a relação dos dois tenha ido para além de uma simples amizade. Isso fica evidente nas cenas onde Peter encontra revistas antigas que Phill mantém escondidas e que pertenciam à Bronco, revistas sobre cultura física, com imagens de homens com corpos esculturais. Outra cena que também nos apresenta fortes indícios, é quando Phill vai à seu "paraíso escondido" e passa a se acariciar com um lenço que possui as iniciais de Bronco Henry (B.H). Isso é linguagem cinematográfica pura!
Talvez seja exatamente por isso que diversas vezes Phill é aversivo à presença de Peter, pois Peter vive uma vida sem receios quanto às nuances de sua masculinidade, tudo o que Phill sempre quis mas jamais conseguirá.
O terror psicológico que a presença de Phill trás para todo mundo é assombroso. É impossível não sentir um nó na garganta e uma angústia à flor da pele. Phill atormenta Rose muitas vezes sem dizer uma palavra. Rose adoece com o tempo e tudo o que vemos são suas ressacas diárias de whisky.
Não obstante, o que me deixou muito surpreso (e o que também justifica minha nota ao filme) é que desde o momento onde Peter vai morar na fazenda ele arquiteta um plano engenhoso contra Phill, e não temos a menor noção disso se não levarmos em consideração que tudo o que é mostrado em tela, por mais simples que seja, será somado e usado posteriormente para revelar algo. Essas revelações podem ser igualmente tão simples ao ponto de passarem batidas.
De início não ficou muito óbvio, mas depois de refletir um pouco percebemos que Peter foi literalmente quem Matou Phill. Não é tão nítido, mas Peter percebe a perturbação que Phill causa em Rose, sua mãe. Em vista disso, vemos Peter se aproveitar da inesperada aproximação de Phill. Não é à toa que Pete aprende a cavalgar, sobe nas montanhas, retira um pedaço do couro de uma vaca que foi morta pelo ataque de lobos - animal altamente contagioso e que é mencionado diversas vezes no filme - e deposita esse pedaço contaminado na bacia de água pela qual Phill lava suas mãos. Phill, com um corte aberto em sua mão, cai na armadilha de Peter e se limpa na água contaminada (temos um take longo dessa cena). Pois bem, dito e feito, dentro de algumas horas Phill adoece e vem a falecer no dia seguinte. Logo após, na cena que encerra o filme, vemos Peter sorrindo após ver sua mãe e seu padrasto expressando o mínimo de felicidade depois de muito tempo. Não obstante, toda essa construção é feita lentamente, desde o momento onde Phill tira sarro das flores artesanais que Peter confecciona e que estavam presentes nas mesas do restaurante de Rose.
Não diria que é um filme que possui um grande clímax, mas é um filme onde cada cena é apresentada de maneira muito sutil de forma que a sequência dos fatos cria uma lógica implícita para a construção do desfecho. É tudo muito coerente e coeso.
Em resumo é um filme engenhoso, muito bem construído, eu diria até que foi a primeira adaptação do livro que deu certo. É um filme bonito visualmente e muito sentimental. É um filme pra assistir de cabeça aberta e sentir o terror psicológico e a angústia junto com os personagens.
Atuação da Elisabeth Moss impecável como sempre. A cena inicial é muito boa, muito bem dirigida, tensa e angustiante pra caramba; mesmo que naquele momento ainda não sabemos os motivos da fuga da protagonista, tem algo ali que nos faz torcer pelo bom êxito dela!
O filme em si é um bom entretenimento, mas pra mim não passou muito disso: vários furos de roteiro, pontas soltas, uso ultrapassado do jump scare, etc. Além do mais, sempre me irrita muito essa narrativa do personagem que tem a razão de todos os fatos mas ninguém acredita, julgam-no como louco pra no final da história - previsível, como sempre - tudo ser revelado e o protagonista enfim, mostrar que sempre esteve certo.
Por se tratar de uma adaptação, não sei em que medida as cenas são condizentes com a narrativa literária, mas que é previsível, é!
Também não entendi como o longa ganhou um AACTA Award de Melhor Som?? Achei a mixagem bem mais ou menos.
American Horror Story: Delicate (12ª Temporada)
2.6 65O enredo mais batido de Hollywood. Quem aguenta?
Herman's Cure-All Tonic
3.3 1Meu deus! O Harold ouvindo Tom Jobim na farmácia!!
Basically
3.1 2Senti uma pegada meio Wes Anderson!
Um Lugar Secreto
2.3 154 Assista AgoraTecnicamente muito bem dirigido, mas de um roteiro um pouco preguiçoso. Pode-se resumir o roteiro de maneira esdrúxula dizendo que se trata da trama de um adolescente em busca de uma resposta para a pergunta: "como é ser adulto?". A partir de tal indagação a solução do personagem é trancar os pais em um bunker e tentar viver uma vida de adulto por conta própria. Uma solução porca e sem nexo, sem a menor coerência, uma vez que o roteiro não apresenta os indicativos psicológicos que serviriam como motivação para o personagem.
Enfim, enquanto o protagonista "viveu" uma vida de adulto por demanda espontânea, a outra garota teve que amadurecer às pressas devido o abandono da mãe. Metáfora tão solta que facilmente passa despercebida pelo espectador e ainda pode ser causa de constrangimento.
E o que foi o pai do garoto perguntando "se ele já havia olhado debaixo da cama?"
The Twilight Zone (2ª Temporada)
3.4 65 Assista AgoraTeria que se esforçar mais pra chegar a ser ruim.
Prehistoric Cabaret
2.8 6 Assista AgoraVisceral é um ótimo adjetivo!
Maze Runner: A Cura Mortal
3.3 565 Assista AgoraUm bando de adolescentes decide destruir a única cidade que resta no planeta - e que possuía os principais recursos pra salvar a humanidade - pra ir morar na praia.
A Escada
4.0 14Uma aula sobre montagem em 5 minutos!
We Fuck Alone
2.7 90Pensemos o curta de Gaspar Noé com a máxima exemplificada pelo psicanalista francês Jacques Lacan: "não há relação sexual!".
Pois bem, por mais que o enredo do curta aponte que ambos personagens se liguem à um propósito comum - os dois assistem o mesmo filme e com o mesmo objetivo, por exemplo-, notamos que eles se desconectam desse propósito na exata medida em que cada qual esbarra em suas próprias fantasias. Ou seja, a conexão dos dois é improvável se pensarmos pela lógica de que as fantasias de um sujeito sempre colocam o outro no lugar de um objeto ao qual ele não corresponde. Logo, a relação sexual está mais ligada aos desejos e fantasias de cada um do que a união dos corpos propriamente dita.
No curta isso se apresenta como crítica metalinguística à pornografia. Na pornografia não há contato se não com a própria fantasia, esse é o único contato possível. Os dois personagens estão no mesmo ambiente, separados apenas por uma parede, eles assistem ao mesmo filme e "gozam" ao mesmo tempo. Isso nos faz questionar: afinal, por quê eles não estão juntos? Bem... há aqui um esvaziamento das relações humanas; não fosse a pornografia eles estariam juntos...
SebastiAn: Thirst
3.7 2Gaspar Noé e seus planos-sequência ambientados no inferno!
João e Maria
3.3 4Eggers fez uma escolha muito feliz ao transformar seu primeiro curta-metragem em um filme mudo. Com certeza é uma homenagem pra era do cinema mudo do gênero de terror!
O mais interessante é que a direção consegue recriar com muita meticulosidade a sensação de assistir os primeiros filmes do movimento expressionista alemão: visuais contrastados, edição simples, atuações extremamente enfáticas, trilha sonora estridente, iluminação e ângulos de câmera exagerados e muito dramáticos!
Comida
4.5 78Pra quem se interessar, tem disponível no Youtube dividido em 3 partes!
Breakfast: https://www.youtube.com/watch?v=7abCEq0Qla4
Lunch: https://www.youtube.com/watch?v=0yM3uxZjdfo
Dinner: https://www.youtube.com/watch?v=nSkBBy8N4Bs
Nimic
3.5 62"Nimic" é uma palavra que se assemelha muito a "mimic", do inglês "mímica". Para mim não restam dúvidas de que o curta revela algo muito próximo a isso!
"Que horas são?" é a pergunta que faz o personagem interpretado por Matt Dillon ter sua identidade roubada por uma mulher misteriosa, que o acaso o fez encontrar em um metrô. Essa mulher segue-o até sua casa e passa a adotar todos todos os seus trejeitos, falas e costumes, literalmente lhe imitando. O ocorrido é tão perturbador ao ponto em que nem mesmo a esposa e os filhos do homem sabem diferenciar um do outro. "Digam à mãe quem é o verdadeiro pai" diz ele aos filhos que agora titubeiam ao tentar reconhecê-lo.
Para solucionar o problema a família faz um teste: cada um dos dois deita-se com a mãe e quem lhe figurar maior intimidade sem dúvidas será o "verdadeiro pai". Dito e feito: a família escolhe a mulher desconhecida e ela assume o posto do pai.
O curta se encerra no momento em que o personagem de Matt Dillon volta ao metrô e um rapaz lhe pergunta: "que horas são?"; a câmera fica alternando entre os dois em um movimento que agrega um suspense muito meticuloso. Bem, por aí já se entende que chegou a vez d'ele roubar a personalidade de alguém...
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É incrível como a linguagem cinematográfica marca uma enorme presença nos trabalhos do Lanthimos. Percebam que no início da história é o homem assume o papel de violoncelista na orquestra, já no final da história quem assume o posto de violoncelista é a mulher desconhecida, consumando a teoria de que ela lhe roubou a identidade.
Também achei incrível o fato de que a trilha sonora é engendrada pela própria orquestra que compõe as cenas do curta do início ao fim. Algo assim aconteceu em Birdman, do Iñárritu, onde percebemos que o som de uma bateria frenética que acompanhava um extenso plano sequência estava presente na cena em si, onde um rapaz estava tocando o instrumento em uma das calçadas da Broadway por onde passava um dos personagens. Simplesmente sensacional!
Alpes
3.5 89 Assista AgoraA identidade cinematográfica que Lanthimos adquiriu é tão singular que chega a ser atemorizante. A marca do diretor é grifada de maneira tão nítida em suas obras que às tornam completamente inconfundíveis (e até mesmo incomparáveis, eu diria).
Não há hesitação em sua forma particular de contar histórias; o grotesco encontra o estapafúrdio e dá origem ao excêntrico. Ao passo em que tudo é estranhamente artificial, supérfluo e inexpressivo, suas narrativas demonstram as mais profundas inquietações humanas!
Titane
3.5 391 Assista AgoraCronenberg caminhou pra Ducournal correr!
Além da Margem (1ª Temporada)
3.4 100 Assista AgoraA premissa da série é relativamente simples: um fazendeiro encontra um imenso buraco em sua fazenda e percebe que o buraco mascara algo que está para além da compreensão humana. A partir disso a história começa a se desenrolar.
Uma premissa simples mas tão bem construída que logo no primeiro episódio já vemos se criar uma atmosfera muito misteriosa e que nos prende com muita facilidade, afinal, queremos saber o que diabos é aquele "buraco". A grande questão aqui é que a série se prende muito em construir toda essa ambientação que simplesmente esquece de utilizar ela pra resolver o mistério que ela mesmo criou.
Em meu ver, em 8 episódios a série poderia ter, talvez, mais respostas do que perguntas. Poxa, em seu penúltimo episódio a série ainda estava lançando questionamentos, ao invez de já começar a dar solução a alguns problemas.
O último episódio, mesmo que tarde, poderia dar o braço a torcer e investir em resoluções mais pontuais; pois bem dizer, a série demora 8 capítulos para chegar no clímax esperado, e quando chega, se encerra. É como se você ficasse 3 horas morrendo de fome enquanto prepara um jantar muito bem pensando mas quando ele finalmente está pronto você desliga o fogo, tampa as panelas e decide comer só no próximo ano.
Acho que isso foi uma escolha errada, pois no fim das contas a primeira temporada se resume à especulações presunçosas sobre o que seria o tal "buraco". Acho imprudente desatar todos os nós somente na segunda temporada, creio que o público não vai ter a paciência que os produtores esperam...
A série em si tem seus méritos, que não são poucos, confesso. Com exceção de um ou outro ator, a grande maioria faz um bom trabalho. Fotografia, direção de arte, composição e trilha sonora são de cair o queixo!
Uma História Americana
3.8 63 Assista Agora100% white savior!
Vale pra conhecer um pedacinho da filmografia da Whoopi. Nada muito além disso.
O Último Suspiro
3.0 139 Assista AgoraNão tem pulso nem pra ser chamado de apático!
Incêndios
4.5 1,9K Assista AgoraAbsurdo. Simplesmente absurdo! Esse é um daqueles filmes que te deixa completamente devastado ao te jogar informações que exigem grande esforço pra engolir, em um momento onde você não está preparado para tanto. O desfecho te pega desprevenido, desce seco pela garganta. Pesado o suficiente pra te deixar com a cabeça latejando de tanto refletir.
Poucas vezes um final de filme me proporcionou sentimento tão ambíguo. Uma mistura de alívio com angústia. Alívio por finalmente vir à tona uma história que permaneceu por anos silenciada; angústia pelo próprio caráter da história.
Sem dúvida alguma mais tarde vou poder dizer que foi um dos melhores longas que assisti no ano.
A Lenda do Cavaleiro Verde
3.6 475 Assista AgoraO que eu senti foi o seguinte: a gente pode levar o filme apenas como a história de um rapaz que pela mediocridade de sua vida decide entrar em um jogo assombroso com um cavaleiro, na busca de ter uma história pra contar pra alta sociedade, ou podemos deixar de lado essa concepção trivial e levar em conta que o filme é cheio de simbolismos que falam sobre a busca inconsequente pelo poder.
Essa busca pelo poder é tão amarga e egocentrada que trás mais prejuízos do que benefícios. O poder, no filme, não passa de uma máscara vestida para camuflar sujeitos completamente supérfluos e fúteis. Pois bem, Sir Gawain, o protagonista, é aquele cara que vive de farra, bebedeiras e irresponsabilidades, totalmente desprovido de virtudes. O próprio Rei Arthur o coloca numa situação constrangedora quando lhe pede que conte uma de suas histórias de vida e o rapaz se vê sem nenhuma informação relevante sobre si mesmo, vendo-se defronte o caráter miserável de sua existência.
Em busca de ter uma história para se vangloriar e de possuir o mínimo traço de identidade venerável, Sir Gawain aceita o desafio do cavaleiro verde para finalmente "ser alguém" e poder empossar o posto de Rei Arthur, seu tio, quando este vir a falecer - algo que está para acontecer em um futuro muito próximo. No entanto, durante todo o percurso do personagem até seu destino final, a capela verde, vemos ele passar por diversas tentações e provações que mostram que na verdade ele não é nada mais do que uma pessoa medrosa, insegura, frágil e completamente influenciável.
Diante das tentações e provações que encontra pelo caminho - que me parecem terem sido arquitetadas por sua mãe, uma feiticeira - ele falhou em todas. A ambição fez com que ele fechasse seus olhos para tudo e fosse em busca de seu único objetivo: provar da sua coragem até então encubada. Entretanto, o próprio protagonista sabe que não é capaz de um feito desses.
Quando todo mundo pensa que ele poderia ter morrido no embate com o cavaleiro verde, ele retorna vivo e é tido por todos como um grande rapaz destemido, um homem bravo e indomável, mas ele sabe que isso não passa de uma farsa; não é a toa que, mesmo sendo vangloriado, seu semblante de rapaz frágil ainda se faz presente.
Temos aqui uma sequência de cenas excelentes que encerram o longa: Sir Gawain retira o cinto enfeitiçado de sua cintura por acreditar que ele é o causador de sua infelicidade; ao abandonar a magia que lhe protegia e que ao mesmo tempo era a causa de sua melancolia, ele passa a viver no plano da realidade e, quase que instantaneamente, ele presencia seu verdadeiro destino: sua cabeça é simplesmente decapitada, como deveria ter sido desde o princípio.
O filme mostra como algumas coisas são puramente consequência de nossos atos, e por mais que tentemos mascarar seus efeitos, o destino é inevitável. De forma alguma Gawain tinha os requisitos para suceder o trono de Arthur, ele mesmo sabia disso
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Eu acho impossível não mencionar Dev Patel aqui, seria até mesmo injusto! Mas, fala sério, que ator foda, em todos os personagens que ele interpreta ele consegue deixar uma identidade muito marcante, e aqui não foi diferente. Depois de assistir a interpretação dele eu simplesmente não consigo pensar em mais ninguém que conseguiria fazer o que ele fez com tamanha maestria. O cara fala até com os olhos!
A Filha Perdida
3.6 573O maior destaque, pra mim, foi o fato da diretora ter conseguido apresentar uma mensagem muito pertinente sobre a maternidade sem precisar fazer um grande discurso sobre isso!
A história é contada a partir da mescla de duas linhas de tempo que são apresentadas em forma de flashbacks do passado e muitas vezes apenas como devaneios de Leda. Aos poucos as coisas vão se encaixando e tomando seu sentido, e isso, de certa forma, nos deixa engajados em acompanhar os possíveis efeitos em que as ações da protagonista irão resultar. No entanto, a direção opta por não oferecer muitas repostas, o que torna o filme um tanto quanto especulativo - no melhor sentido da palavra.
Incômodo e tenso mas ao mesmo tempo leve e sensível, assim que eu descreveria o filme!
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraQue filme prazeroso de se assistir, os visuais e efeitos especiais são hipnotizantes!
Pena que a Parte II sai só no final de 2023...
Ataque dos Cães
3.7 933Que filme sensacional!
É um filme que literalmente subverte o gênero western clássico ao optar por deixar de lado os duelos armados, o famoso bang-bang, e optar por narrar sua história através de imagens e com o recurso do silêncio.
É um filme simplista e minimalista e ao mesmo tempo complexo e profundo. A história é contada através da quietude, da calmaria; e aqui a trilha sonora, as atuações e os enquadramentos contam muito mais do que imaginamos. Por um lado temos a ambientação de uma atmosfera árida e melancólica da fazenda onde os personagens vivem; aqui os planos abertos demonstram a pequenez dos sujeitos frente a um ambiente de proporções imensamente catastróficas. Por outro lado temos a compreensão da angústia subjetiva de cada personagem, do cowboy durão ao adolescente que rebela a imagem de masculinidade. Cenas longas, com poucos diálogos e enquadramentos fechados nos fazem sentir que cada personagem possui um universo particular emaranhado em segredos.
O mais interessante é que o filme nos apresenta cenas simples e muito, mas muito eficazes. Nada do que vemos em tela é feito por acaso, tudo engrandece a história. O que faz tudo isso funcionar é um jogo semiótico incrível. Com a cadência das cenas os segredos de Phill vão vindo à tona sem muita pressa, de uma maneira tão delicada que nos instiga a ir em busca de mais respostas sobre o passado do personagem. Por mais que Phill demonstre ser durão e insensível, temos uma noção de que seu passado esconde muitas coisas que nos fazem pensar que na verdade sua personalidade não passa de uma carcaça que ele vestiu para esconder seu sentimentalismo. isso fica evidente devido as cansativas menções sobre sua relação com um antigo amigo, Bronco Henry.
As diversas menções sobre Bronco, somadas à outros detalhes, nos mostram que talvez a relação dos dois tenha ido para além de uma simples amizade. Isso fica evidente nas cenas onde Peter encontra revistas antigas que Phill mantém escondidas e que pertenciam à Bronco, revistas sobre cultura física, com imagens de homens com corpos esculturais. Outra cena que também nos apresenta fortes indícios, é quando Phill vai à seu "paraíso escondido" e passa a se acariciar com um lenço que possui as iniciais de Bronco Henry (B.H). Isso é linguagem cinematográfica pura!
Talvez seja exatamente por isso que diversas vezes Phill é aversivo à presença de Peter, pois Peter vive uma vida sem receios quanto às nuances de sua masculinidade, tudo o que Phill sempre quis mas jamais conseguirá.
O terror psicológico que a presença de Phill trás para todo mundo é assombroso. É impossível não sentir um nó na garganta e uma angústia à flor da pele. Phill atormenta Rose muitas vezes sem dizer uma palavra. Rose adoece com o tempo e tudo o que vemos são suas ressacas diárias de whisky.
Não obstante, o que me deixou muito surpreso (e o que também justifica minha nota ao filme) é que desde o momento onde Peter vai morar na fazenda ele arquiteta um plano engenhoso contra Phill, e não temos a menor noção disso se não levarmos em consideração que tudo o que é mostrado em tela, por mais simples que seja, será somado e usado posteriormente para revelar algo. Essas revelações podem ser igualmente tão simples ao ponto de passarem batidas.
De início não ficou muito óbvio, mas depois de refletir um pouco percebemos que Peter foi literalmente quem Matou Phill. Não é tão nítido, mas Peter percebe a perturbação que Phill causa em Rose, sua mãe. Em vista disso, vemos Peter se aproveitar da inesperada aproximação de Phill. Não é à toa que Pete aprende a cavalgar, sobe nas montanhas, retira um pedaço do couro de uma vaca que foi morta pelo ataque de lobos - animal altamente contagioso e que é mencionado diversas vezes no filme - e deposita esse pedaço contaminado na bacia de água pela qual Phill lava suas mãos. Phill, com um corte aberto em sua mão, cai na armadilha de Peter e se limpa na água contaminada (temos um take longo dessa cena). Pois bem, dito e feito, dentro de algumas horas Phill adoece e vem a falecer no dia seguinte. Logo após, na cena que encerra o filme, vemos Peter sorrindo após ver sua mãe e seu padrasto expressando o mínimo de felicidade depois de muito tempo. Não obstante, toda essa construção é feita lentamente, desde o momento onde Phill tira sarro das flores artesanais que Peter confecciona e que estavam presentes nas mesas do restaurante de Rose.
Não diria que é um filme que possui um grande clímax, mas é um filme onde cada cena é apresentada de maneira muito sutil de forma que a sequência dos fatos cria uma lógica implícita para a construção do desfecho. É tudo muito coerente e coeso.
Em resumo é um filme engenhoso, muito bem construído, eu diria até que foi a primeira adaptação do livro que deu certo. É um filme bonito visualmente e muito sentimental. É um filme pra assistir de cabeça aberta e sentir o terror psicológico e a angústia junto com os personagens.
Sem dúvidas é um dos meus favoritos pro Oscar!
O Homem Invisível
3.8 2,0K Assista AgoraAtuação da Elisabeth Moss impecável como sempre. A cena inicial é muito boa, muito bem dirigida, tensa e angustiante pra caramba; mesmo que naquele momento ainda não sabemos os motivos da fuga da protagonista, tem algo ali que nos faz torcer pelo bom êxito dela!
O filme em si é um bom entretenimento, mas pra mim não passou muito disso: vários furos de roteiro, pontas soltas, uso ultrapassado do jump scare, etc. Além do mais, sempre me irrita muito essa narrativa do personagem que tem a razão de todos os fatos mas ninguém acredita, julgam-no como louco pra no final da história - previsível, como sempre - tudo ser revelado e o protagonista enfim, mostrar que sempre esteve certo.
Por se tratar de uma adaptação, não sei em que medida as cenas são condizentes com a narrativa literária, mas que é previsível, é!
Também não entendi como o longa ganhou um AACTA Award de Melhor Som?? Achei a mixagem bem mais ou menos.