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  • Renato de Oliveira

    Quanto mais dura a vida se nos apresenta, mais doída se torna a arte que lhe tenta fazer frente. Tal como o samba no Brasil, o blues nasceu como uma resposta sofisticada e pacífica de escravizados afro-americanos aos maus tratos dos senhores brancos, curando o corpo e o espírito das feridas reais do cativeiro ao longo dos anos terminais do século 19. Notas impressionantemente graves, sustentadas por vozeirões sem nenhum preparo técnico, só o da natureza, embalavam as tantas horas de trabalho forçado nas lavouras de algodão no sul dos Estados Unidos, amenizando o suplício e o opróbrio da escravatura sem anestesiar aqueles homens e mulheres alijados do que pode haver de mais básico para um indivíduo, pelo contrário. O canto estranhamente doce e tenebroso, acompanhado dos sons guturais que disfarçavam a falta de instrumentos, conferiam à gente destemida que o entoava a condição de reis e rainhas de uma terra distante, que muitos sequer conheciam, mas cuja memória faziam questão de manter acesa.

    Surgido entre 1890 e 1910 em Nova Orleans, na Louisiana, sudeste americano, uma variação do blues teve o condão de aperfeiçoar o caráter notadamente intuitivo do blues, acrescentando o vigor de trompas, trompetes, saxofones e, claro, da bateria furiosa, que só fizeram com que as vozes únicas de seus intérpretes se tornassem ainda mais admiráveis. O jazz, a mais americana das manifestações artísticas, foi uma tentativa bem-sucedida de unir a premência de expurgar uma das dores mais lancinantes que alguém pode sentir à inclinação para a beleza. Essa também é a sensação que o diretor Tyler Perry faz avultar em “O Homem do Jazz” (2022), um registro pleno de afeto de um país que evoluiu em tantos aspectos, mas teima em permanecer num passado melancólico no que respeita à herança inestimável de uma vasta parcela de sua gente. Sem margem para respiros cômicos, o filme é um relato triste de tempos sombrios, mas que em que também há lugar para a leveza.

    Celebrado por protagonizar comédias nada engajadas, em que trata das angústias que podem afligir qualquer um, como em “Diário de uma Louca” (2005), levado à tela por Darren Grant, Perry parece querer dar à carreira um rumo mais, digamos, respeitável. “O Homem do Jazz”, cuja estreia se deu com pompa — e contrariando os supersticiosos — no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 11 de setembro de 2022, atravessa as décadas de 1930 e 1940 em Hopewell, pequena comunidade rural no condado de Harris, na Geórgia. O diretor mistura o amor impossível entre um homem e uma mulher, outro, mais feliz desse mesmo homem e seu talento e lança esse todo amorfo num caldeirão de ódio racial que ferve até o desfecho. O roteiro de Perry recicla o argumento empregado por Rebecca Hall em “Identidade” (2021), de negros que se passam por brancos devido à pele alva, enganando-se a si mesmos e sendo tolerados por brancos que se deixam ludibriar, mas só até certo ponto. O lado assumidamente melodramático do enredo vem em ondas, sendo sobrepujado por anticlímax violentos que preparam o final chocante.

    Baseado num texto que Perry escreveu há 27 anos, “O Homem do Jazz” abre mostrando uma senhora que se dirige a um distrito policial exigindo que se investigue um assassinato ocorrido quatro décadas antes. O ano é 1987, e essa mulher alquebrada pelo tempo e pelas lembranças começa seu périplo rumo à vida na Geórgia, primeiro em 1937 — é preciso redobrar a atenção a fim de não se perder nas datas —, quando ela, uma mestiça clara, conhece um rapaz negro. Como já espera, os dois vão se apaixonar e malgrado sejam ambos pobres, vão experimentar impedimentos para viver esse amor. LeAnne, a mocinha de Solea Pfeiffer, e Bayou, de Joshua Boone, são logo separados pela mãe da garota, cuja boa situação financeira nunca é explicada. Também não fica claro porque LeAnne vive com o avô, e nesse momento descortina-se uma subtrama ligeira, mas perturbadora, que desmistifica um pouco a alma profundamente opressa do personagem de Boone.

    Delicadezas como a razão de Bayou ser conhecido assim cedem lugar ao coming-of-age do jovem casal, que cruza os anos em encontros fortuitos, como se condenados a nunca vivenciar essa relação de modo pleno em função da conjuntura sociopolítica em que estão inseridos e do que fazem com suas vidas. Perry equilibra esses dois campos de seu filme, reservando ainda espaço para os números musicais de Amirah Vann (uma sábia estratégia), nada menos que sublimes.

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  • Filmow
    Filmow

    O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!

    Serão 3 vencedores no Bolão com prêmios da loja Chico Rei para os três participantes que mais acertarem nas categorias da premiação. (O 1º lugar vai ganhar um kit da Chico Rei com 01 camiseta + 01 caneca + 01 almofada; o 2º lugar 01 camiseta da Chico Rei; e o 3º lugar 01 almofada da Chico Rei.)

    Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
    Boa sorte! :)

    * Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/

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