Candidato franco-turco a filme estrangeiro no Oscar 2016, “Mustang” é interessante por trazer à baila um contexto polêmico de costumes opressores e quase escravidão feminina de forma não tão densa e urgente assim. Mas este mérito é uma via de mão dupla, já que o longa não é hábil em criar uma discussão acerca do tema justamente por tratar aquilo com menos seriedade do que deveria e acaba passando despercebido, sem toda a força que poderia ter com o tema que leva nas costas.
Definitivamente, um filme sobre violência. Não no sentido gráfico, mas principalmente na interação entre os personagens. A fotografia opressora retrata os semblantes em contraste extremo de preto e branco, enquanto a narração gritada só acrescenta urgência à narrativa. Sem dúvidas um dos grandes filmes do cinema novo, embora pouco conhecido.
É assistindo a pérolas como esta de Murnau que se percebe o tamanho da perda que sua morte representou ao cinema. "City Girl" possui o tipo de narrativa que apenas a inocência do cinema mudo poderia levar às telas. Ainda mais com a precisão estética e narrativa de um dos gênios do expressionismo. História bem amarrada, fotografia caprichada e um texto muito bonito fazem desta uma pequena obra-prima esquecida de Murnau.
O trunfo aqui é a forma como Bergman transforma uma narrativa simples em um estudo de personagens muito interessante onde temas como vida e morte, céu e inferno se sobressaem. É, acima de tudo, um filme onde personagens se veem presos em relacionamentos abusivos e a forma como cada um costuma lidar com este - por isso a sequência em uma prisão de verdade funciona tão bem como metáfora.
De toda a carreira de Tarantino, este talvez tenha sido um de seus trabalhos de direção mais brilhantes. É fabuloso apreciar um filme no qual se pode notar o controle total do realizador em cada sequência. A fotografia em Panavision 70mm é uma das mais supremas de 2015 e totalmente justificada - mesmo que o longa se desenrole quase que inteiramente em um ambiente fechado, a razão de aspecto estendida acaba transformando tudo em um jogo de pista e recompensa no próprio cenário. A trilha de Morricone é fabulosa e se encaixa de forma impecável na narrativa (a abertura do filme é quase que uma ode à esta trilha). Além disso, Quentin tem em mãos um elenco de primeira categoria muito bem aproveitado por personagens instigantes e cheios de história para contar. Algumas das performances mais icônicas do ano passado estão neste filme aqui. O mais gratificante, porém, é notar a maestria do diretor em reunir todos estes elementos em uma obra coesa, madura (ainda que com uma roupagem descontraída) e muito significativa por tudo que tem a contar: sim, há uma representação implícita durante todo o roteiro sobre o próprio processo histórico estadunidense - principalmente no que tange à questão racial. Tudo isso sob a montagem sublime e atenta do diretor, que entrega não apenas uma grande diversão, mas um filme atento à questões muito mais grandiosas. Além de uma grande homenagem ao cinema, Tarantino parece entender sua importância no panorama atual (como um dos diretores mais prestigiados) e a usa para discutir certos aspectos que deveriam vir à baila mais recorrentemente.
Nunca havia visto em nosso cinema um filme que tratasse de ideais nazistas no sul do país e ainda mais sob uma ótima tão intimista quanto esta empregada por Back. Só pela originalidade o longa já vale a conferida, mas ainda tem muitas outras qualidades, como uma fotografia caprichada e uma montagem atenta. Filme deveras interessante de um grande cineasta ainda por ser descoberto.
Não concordo com os detratores deste filme: pra mim, é um dos primeiros a mostrar o que Bergman viria a se tornar menos de uma década depois. Todos os elementos que o fariam notório estão aqui: há espaço para existencialismo, para identificação do espectador com os personagens, há crises de histeria, crises de epifania... tudo mesclado sob um olhar ainda juvenil e um tanto imaturo (deve-se admitir), mas muito crítico e pungente. Adorei o desfecho e acho este um dos primeiros marcos na carreira do diretor. Uma pequena pérola esquecida.
O que mais me impressiona no cinema de Vlácil é a capacidade que este tem em construir um clima que emana do início ao fim da projeção e transforma cada pequena ação em situações de extremo interesse. Só não ganha 5 estrelas pelo final apressado que não faz jus à criatividade e suspense criados durante toda a projeção.
Não sei exatamente qual a conexão entre este documentário e a trilogia "Paradise Lost", mas a impressão que ficou é a de chover no molhado. Apesar de tratar com respeito e esmero o caso do trio de Memphis, não entendi ainda a necessidade de mais 150 minutos documentando um caso que já havia sido contado em mais de 7 horas de filme. Muito pouca coisa se acrescenta aqui e para quem assistiu a trilogia, nada de novo no front.
Para filme de estreia, é um projeto muito inspirado que procura fugir de clichês do gênero ou imaturidades de direção. Apresenta sequências de ação extremamente bem coreografadas e personagens muito carismáticos. Além disso, utiliza a violência gráfica extrema (um dos filmes mais pesados de 2015, vale dizer) a favor da narrativa ao criar uma ambientação deveras perturbadora, mas que encontra lugar ainda para humor negro.
De certa forma, este filme dialoga em temática com seu antecessor "O Joelho de Claire", porém é muito mais eficiente por ser mais sucinto e esteticamente bem mais agradável. No mais, evoca aquela nostalgia de estar em lugares que nunca se visitou antes - típico do cinema francês setentista.
Um filme sobre voyerismo. A sensação de que observar e fantasiar pode ser mais sensual que concretizar uma relação. O típico filme que apenas cineastas inseridos no contexto da nouvelle vague poderiam realizar com tamanha sutileza. A idealização de um joelho como fonte de prazer foi um truque muito interessante. Mas a coisa não deslancha mais que isso. E para um enredo que não evolui, a duração se revela bem mais longa que a necessária.
Foi um prazer iniciar minhas atividades cinéfilas de 2016 conferindo esta obra-prima de Ford, sem dúvidas um dos melhores western que já vi. Absolutamente brilhante em sua construção de tensão, temos o sempre impecável Stewart de frente com o icônico Wayne para narrar uma história de perdas e danos. Coisas que abdicamos pelo caminho para que um objetivo maior seja alcançado. Há um desfile de personagens icônicos (como o jornalista, por exemplo) que cuidam de suportar os dois monstros em cena. Só não é o melhor filme de John Ford porque o majestoso "Vinhas da Ira" bate de frente em qualidade com este aqui. Mas nem por isso é menos merecedor de elogios. Um dos filmes mais brilhantes já lançados dentro do gênero, transpirando um diretor muito mais maduro e reticente - a idade lhe ensinou que não há apenas uma solução para um problema ou mesmo que nem tudo que aparenta de fato procede como a verdade.
Mesmo saindo da Grécia e aportando em UK, Lanthimos (cineasta que conheci e passei a admirar desde o ótimo "Dente Canino") mantem aqui sua marcar registrada e lança "The Lobster", talvez seu filme mais complexo e recheado de muitas facetas. A começar pela própria abordagem, muito fiel ao que o realizador vinha fazendo em seu país de origem, que não permite se enquadrar em nenhum gênero específico, mesmo que abarque de tudo um pouco. Se vê violência gráfica, sequências angustiantes, um pouco de ficção estranha, drama intenso e - como não poderia faltar - comédia. Com o humor mais negro e perverso possível, e justamente por isso, faz rir. Por essa pluralidade e também por uma montagem magnífica e uma fotografia deslumbrante (cada plano parece ser meticulosamente calculado), "The Lobster" é um dos melhores filmes do ano, com muito a dizer. Sob uma camada de letargia, se esconde uma mensagem extremamente humana e ácida.
Dono de uma filmografia irretocável, Villeneuve é um dos diretores mais talentosos da atualidade. Sua habilidade em acrescentar assinatura própria em cada filme que realiza é admirável. Em "Sicario" (um dos filmes que mais aguardava no ano) não é diferente. Possui uma qualidade técnica tamanha que o destoa de outros filmes do gênero pela inventividade de alguns recursos utilizados. Definitivamente não estamos vendo um longa policial genérico. A fotografia aliada a montagem já lançam este filme acima de muitos outros do gênero. O desenho de som também é brilhante e concede grandiosidade ao filme. Mas o trunfo é o suspense criado por Denis que se mantém até o encerramento da projeção e culmina em um final de tirar o fôlego. Grande filme de um grande diretor. Como não poderia deixar de ser.
Como admirador confesso do cinema de Noé, é com pesar que devo assumir um desapontamento tremendo com este filme. A tentativa é nobre, a intenção de unir o sexo gráfico com uma trama que evoque o amor incondicional já funcionou muito bem outras vezes no cinema e tinha tudo para dar certo aqui também - uma vez que Noé é perito em filmar sexo de forma única. Pois bem, o longa é realmente sensual e as sequências explícitas são muito bem orquestradas (vide os momentos da casa de swing ou do ménage). Além disso, ganha pontos por manter essa tensão sexual durante toda a projeção e retratar um casal possível, longe dos clichês de beleza pornográficos. O cerne do problema é justamente a motivação da narrativa. Noé falha miseravelmente em tentar exprimir o amor entre seus personagens e acaba entregando personas rasas, caricaturas sem profundidade que muitas vezes irritam. E justamente por não haver motivação clara aos personagens e acontecimentos, o longa não se conecta com o espectador e se desgasta em pouco mais de 60 minutos. Longe de ser uma experiência totalmente inválida (já que o rigor estético continua acima do normal, como de costume no cinema do diretor), "Love" poderia ser um dos grandes filmes do ano se soubesse aproveitar as cartas que tem na manga, mas acabou se tornando mais um filme lembrando por sua polêmica, não por seus méritos.
"Star Wars 7" é, acima de tudo, um capítulo extremamente respeitoso à franquia já consagrada e um resgate do conceito mais básico de blockbuster. Aliado à técnica excepcional (que deve ser reconhecida em diversas categorias do Oscar 2016), está uma homenagem à trilogia clássica com direito ao retorno dos personagens mais clássicos com uma roupagem, digamos, mais envelhecida. Até agora, o melhor filme de J. J. Abrams e um dos melhores super-lançamentos do ano.
O grande trunfo é a honestidade e delicadeza com que trata o sexo. Poderia enveredar por um viés de julgamento ou depreciação, mas prefere se abster em apenas observar as interações entre personagens - como deveria ser. O problema é que a profundidade dos protagonistas se resume apenas à ironia na qual estão inseridos (uma terapeuta de casais que nunca teve um orgasmo, por exemplo), fora isso, não há mais nada a se explorar. Mas ainda vale a pena pela sensualidade que emana do início ao fim e o respeito que nutre por cada orientação, desejo e impulso que retrata.
O mais destacável é a preocupação em costurar os seis episódios de forma que o filme pareça menos fragmentado possível, um retrato da sociedade italiana da época. Assim, os dois segmentos documentais que abrem o filme surgem como boa introdução para a produção, além de abordarem os temas de forma muito digna, respeitosa e explícita. Particularmente, o segmento que mais apreciei foi "A História de Caterina", um drama doloroso e cru, ao melhor estilo do neo-realismo. Fellini, por sua vez, brilha menos que Antonioni, mas ainda assim traz seu charme e se faz notar.
Poderia comentar tantos aspectos impecáveis desta obra-prima que renderiam páginas de análise, mas gostaria de deixar registrada minha devoção a Abel Gance pelos 20 minutos finais deste filme. Em toda a era muda, poucas vezes vi algo tão genial, inteligente e deslumbrante como o uso das três câmeras que Gance emprega na tentativa de simular um widescreen artesanal. Uma sacada digna de aplausos não apenas pela criatividade e dificuldade de execução (as salas precisavam portar três projetores ligados simultaneamente), mas pela forma totalmente justificável na qual foi empregada. Com isso, o diretor pode estabelecer uma noção muito mais ampla do tamanho do exército liderado por Bonaparte (através das panorâmicas belamente fotografadas), transformando meras cenas de batalha em construções monumentais de imagem e mise-èn-scene que por muito tempo ficarão guardadas em minha memória cinéfila. Além disso, Gance se utiliza da estética que inventou para explorar três situações simultâneas e exprimir em tela (através de metáforas ou lembranças) o êxtase da conquista de Napoleão no encerramento do filme. Não apenas um momento brilhante, epifânico, mas também um dos mais sublimes registros feitos em toda a história do cinema mudo. Este filme é um presente para os cinéfilos, uma aula de cinema e construção pessoal. Pena que as cópias disponíveis não sejam tão difundidas... "Napoleão" transcende a própria era silenciosa - é uma obra de arte para se ver e rever sempre que se precisar de um sopro de criatividade e inspiração.
O grande problema é que o filme trai a própria estética. Ao apostar em um formato de documentário já editado e pós-produzido, constantemente os envolvidos têm que abandonar a estética para criar algo mais real e bruto (como se o grupo de documentaristas escolhesse apenas determinados trechos para editar, deixando o resto como imagens sem tratamento). Além disso, o encerramento (apesar de muito perturbador e funcional) é executado de forma bem pedestre com uma fotografia e montagem que não decidem o que querem expor e acabam quase deteriorando o potencial perturbador dos 10 minutos finais. Mas, apesar dos pesares, o filme ainda funciona por conseguir prender, interessar e perturbar. É eficaz em mostrar mais horror que terror e construir uma atmosfera que prioriza sugestões em detrimento de apenas imagens escabrosas. Poderia ser bem melhor, mas não é de todo ruim.
Sempre tive curiosidade acerca deste filme pelo diferencial em abordar o tanto como o sexo pode se relacionar à violência e explicitar isso em pleno mercado comercial hollywoodiano. É claro que "Hellraiser" se difundiu bem menos que filmes contemporâneos seus justamente pela temática pesada e pela forma como a aborda sem se acovardar (ponto muito positivo), mas ainda conseguiu certa notoriedade, com direito até a uma franquia de filmes (não tão bem sucedida assim). Pois bem, este filme só não é melhor por pura imaturidade de Clive Barker, diretor medíocre que desperdiça bons momentos pela dificuldade que tem em chocar com aquilo que mostra. Se "Hellraiser" caísse nas mãos de um realizador competente, ou ao menos que soubesse jogar com certos elementos cinematográficos a seu favor (como fotografia e direção de arte) poderia se tornar um dos filmes mais perturbadores e sádicos da década de 80. No fim, a experiência vale pelo esforço dos envolvidos e, principalmente, por levar às telas de forma corajosa uma temática não tão fácil de se lidar. Mas que houve um potencial desperdiçado... isso é inegável.
Devo confessar que a construção da figura feminina neste filme me incomodou um pouco. E à parte a fotografia deslumbrante e o encerramento genial, o longa não me conquistou nem me inspirou empatia. Talvez se apostasse em personagens mais relevantes (e não apenas marcantes e característicos), Vidor se sairia melhor na construção do drama da protagonista.
Muito da forma como Kurosawa viria a utilizar o movimento em seus filmes já se faz notar aqui, ainda que imaturo. A direção é repleta de boas intenções e já manifesta o gênio criativo que Akira viria a se tornar, mesmo que deveras contido em início de carreira.
Cinco Graças
4.3 329 Assista AgoraCandidato franco-turco a filme estrangeiro no Oscar 2016, “Mustang” é interessante por trazer à baila um contexto polêmico de costumes opressores e quase escravidão feminina de forma não tão densa e urgente assim. Mas este mérito é uma via de mão dupla, já que o longa não é hábil em criar uma discussão acerca do tema justamente por tratar aquilo com menos seriedade do que deveria e acaba passando despercebido, sem toda a força que poderia ter com o tema que leva nas costas.
Os Fuzis
4.1 72Definitivamente, um filme sobre violência. Não no sentido gráfico, mas principalmente na interação entre os personagens. A fotografia opressora retrata os semblantes em contraste extremo de preto e branco, enquanto a narração gritada só acrescenta urgência à narrativa. Sem dúvidas um dos grandes filmes do cinema novo, embora pouco conhecido.
O Pão Nosso de Cada Dia
4.1 18É assistindo a pérolas como esta de Murnau que se percebe o tamanho da perda que sua morte representou ao cinema. "City Girl" possui o tipo de narrativa que apenas a inocência do cinema mudo poderia levar às telas. Ainda mais com a precisão estética e narrativa de um dos gênios do expressionismo. História bem amarrada, fotografia caprichada e um texto muito bonito fazem desta uma pequena obra-prima esquecida de Murnau.
Prisão
3.9 25O trunfo aqui é a forma como Bergman transforma uma narrativa simples em um estudo de personagens muito interessante onde temas como vida e morte, céu e inferno se sobressaem. É, acima de tudo, um filme onde personagens se veem presos em relacionamentos abusivos e a forma como cada um costuma lidar com este - por isso a sequência em uma prisão de verdade funciona tão bem como metáfora.
Os Oito Odiados
4.1 2,4K Assista AgoraDe toda a carreira de Tarantino, este talvez tenha sido um de seus trabalhos de direção mais brilhantes. É fabuloso apreciar um filme no qual se pode notar o controle total do realizador em cada sequência. A fotografia em Panavision 70mm é uma das mais supremas de 2015 e totalmente justificada - mesmo que o longa se desenrole quase que inteiramente em um ambiente fechado, a razão de aspecto estendida acaba transformando tudo em um jogo de pista e recompensa no próprio cenário. A trilha de Morricone é fabulosa e se encaixa de forma impecável na narrativa (a abertura do filme é quase que uma ode à esta trilha). Além disso, Quentin tem em mãos um elenco de primeira categoria muito bem aproveitado por personagens instigantes e cheios de história para contar. Algumas das performances mais icônicas do ano passado estão neste filme aqui. O mais gratificante, porém, é notar a maestria do diretor em reunir todos estes elementos em uma obra coesa, madura (ainda que com uma roupagem descontraída) e muito significativa por tudo que tem a contar: sim, há uma representação implícita durante todo o roteiro sobre o próprio processo histórico estadunidense - principalmente no que tange à questão racial. Tudo isso sob a montagem sublime e atenta do diretor, que entrega não apenas uma grande diversão, mas um filme atento à questões muito mais grandiosas. Além de uma grande homenagem ao cinema, Tarantino parece entender sua importância no panorama atual (como um dos diretores mais prestigiados) e a usa para discutir certos aspectos que deveriam vir à baila mais recorrentemente.
Aleluia, Gretchen
3.4 28 Assista AgoraNunca havia visto em nosso cinema um filme que tratasse de ideais nazistas no sul do país e ainda mais sob uma ótima tão intimista quanto esta empregada por Back. Só pela originalidade o longa já vale a conferida, mas ainda tem muitas outras qualidades, como uma fotografia caprichada e uma montagem atenta. Filme deveras interessante de um grande cineasta ainda por ser descoberto.
Sede de Paixões
3.5 12Não concordo com os detratores deste filme: pra mim, é um dos primeiros a mostrar o que Bergman viria a se tornar menos de uma década depois. Todos os elementos que o fariam notório estão aqui: há espaço para existencialismo, para identificação do espectador com os personagens, há crises de histeria, crises de epifania... tudo mesclado sob um olhar ainda juvenil e um tanto imaturo (deve-se admitir), mas muito crítico e pungente. Adorei o desfecho e acho este um dos primeiros marcos na carreira do diretor. Uma pequena pérola esquecida.
Armadilha do Diabo
4.0 9O que mais me impressiona no cinema de Vlácil é a capacidade que este tem em construir um clima que emana do início ao fim da projeção e transforma cada pequena ação em situações de extremo interesse. Só não ganha 5 estrelas pelo final apressado que não faz jus à criatividade e suspense criados durante toda a projeção.
A Oeste de Memphis
4.3 34 Assista AgoraNão sei exatamente qual a conexão entre este documentário e a trilogia "Paradise Lost", mas a impressão que ficou é a de chover no molhado. Apesar de tratar com respeito e esmero o caso do trio de Memphis, não entendi ainda a necessidade de mais 150 minutos documentando um caso que já havia sido contado em mais de 7 horas de filme. Muito pouca coisa se acrescenta aqui e para quem assistiu a trilogia, nada de novo no front.
Rastro de Maldade
3.7 408 Assista AgoraPara filme de estreia, é um projeto muito inspirado que procura fugir de clichês do gênero ou imaturidades de direção. Apresenta sequências de ação extremamente bem coreografadas e personagens muito carismáticos. Além disso, utiliza a violência gráfica extrema (um dos filmes mais pesados de 2015, vale dizer) a favor da narrativa ao criar uma ambientação deveras perturbadora, mas que encontra lugar ainda para humor negro.
Amor à Tarde
4.1 41 Assista AgoraDe certa forma, este filme dialoga em temática com seu antecessor "O Joelho de Claire", porém é muito mais eficiente por ser mais sucinto e esteticamente bem mais agradável. No mais, evoca aquela nostalgia de estar em lugares que nunca se visitou antes - típico do cinema francês setentista.
O Joelho de Claire
3.9 77 Assista AgoraUm filme sobre voyerismo. A sensação de que observar e fantasiar pode ser mais sensual que concretizar uma relação. O típico filme que apenas cineastas inseridos no contexto da nouvelle vague poderiam realizar com tamanha sutileza. A idealização de um joelho como fonte de prazer foi um truque muito interessante. Mas a coisa não deslancha mais que isso. E para um enredo que não evolui, a duração se revela bem mais longa que a necessária.
O Homem Que Matou o Facínora
4.3 167Foi um prazer iniciar minhas atividades cinéfilas de 2016 conferindo esta obra-prima de Ford, sem dúvidas um dos melhores western que já vi. Absolutamente brilhante em sua construção de tensão, temos o sempre impecável Stewart de frente com o icônico Wayne para narrar uma história de perdas e danos. Coisas que abdicamos pelo caminho para que um objetivo maior seja alcançado. Há um desfile de personagens icônicos (como o jornalista, por exemplo) que cuidam de suportar os dois monstros em cena. Só não é o melhor filme de John Ford porque o majestoso "Vinhas da Ira" bate de frente em qualidade com este aqui. Mas nem por isso é menos merecedor de elogios. Um dos filmes mais brilhantes já lançados dentro do gênero, transpirando um diretor muito mais maduro e reticente - a idade lhe ensinou que não há apenas uma solução para um problema ou mesmo que nem tudo que aparenta de fato procede como a verdade.
O Lagosta
3.8 1,5K Assista AgoraMesmo saindo da Grécia e aportando em UK, Lanthimos (cineasta que conheci e passei a admirar desde o ótimo "Dente Canino") mantem aqui sua marcar registrada e lança "The Lobster", talvez seu filme mais complexo e recheado de muitas facetas. A começar pela própria abordagem, muito fiel ao que o realizador vinha fazendo em seu país de origem, que não permite se enquadrar em nenhum gênero específico, mesmo que abarque de tudo um pouco. Se vê violência gráfica, sequências angustiantes, um pouco de ficção estranha, drama intenso e - como não poderia faltar - comédia. Com o humor mais negro e perverso possível, e justamente por isso, faz rir. Por essa pluralidade e também por uma montagem magnífica e uma fotografia deslumbrante (cada plano parece ser meticulosamente calculado), "The Lobster" é um dos melhores filmes do ano, com muito a dizer. Sob uma camada de letargia, se esconde uma mensagem extremamente humana e ácida.
Sicario: Terra de Ninguém
3.7 943 Assista AgoraDono de uma filmografia irretocável, Villeneuve é um dos diretores mais talentosos da atualidade. Sua habilidade em acrescentar assinatura própria em cada filme que realiza é admirável. Em "Sicario" (um dos filmes que mais aguardava no ano) não é diferente. Possui uma qualidade técnica tamanha que o destoa de outros filmes do gênero pela inventividade de alguns recursos utilizados. Definitivamente não estamos vendo um longa policial genérico. A fotografia aliada a montagem já lançam este filme acima de muitos outros do gênero. O desenho de som também é brilhante e concede grandiosidade ao filme. Mas o trunfo é o suspense criado por Denis que se mantém até o encerramento da projeção e culmina em um final de tirar o fôlego. Grande filme de um grande diretor. Como não poderia deixar de ser.
Love
3.5 883 Assista AgoraComo admirador confesso do cinema de Noé, é com pesar que devo assumir um desapontamento tremendo com este filme. A tentativa é nobre, a intenção de unir o sexo gráfico com uma trama que evoque o amor incondicional já funcionou muito bem outras vezes no cinema e tinha tudo para dar certo aqui também - uma vez que Noé é perito em filmar sexo de forma única. Pois bem, o longa é realmente sensual e as sequências explícitas são muito bem orquestradas (vide os momentos da casa de swing ou do ménage). Além disso, ganha pontos por manter essa tensão sexual durante toda a projeção e retratar um casal possível, longe dos clichês de beleza pornográficos. O cerne do problema é justamente a motivação da narrativa. Noé falha miseravelmente em tentar exprimir o amor entre seus personagens e acaba entregando personas rasas, caricaturas sem profundidade que muitas vezes irritam. E justamente por não haver motivação clara aos personagens e acontecimentos, o longa não se conecta com o espectador e se desgasta em pouco mais de 60 minutos. Longe de ser uma experiência totalmente inválida (já que o rigor estético continua acima do normal, como de costume no cinema do diretor), "Love" poderia ser um dos grandes filmes do ano se soubesse aproveitar as cartas que tem na manga, mas acabou se tornando mais um filme lembrando por sua polêmica, não por seus méritos.
Star Wars, Episódio VII: O Despertar da Força
4.3 3,1K Assista Agora"Star Wars 7" é, acima de tudo, um capítulo extremamente respeitoso à franquia já consagrada e um resgate do conceito mais básico de blockbuster. Aliado à técnica excepcional (que deve ser reconhecida em diversas categorias do Oscar 2016), está uma homenagem à trilogia clássica com direito ao retorno dos personagens mais clássicos com uma roupagem, digamos, mais envelhecida. Até agora, o melhor filme de J. J. Abrams e um dos melhores super-lançamentos do ano.
Shortbus
3.7 548O grande trunfo é a honestidade e delicadeza com que trata o sexo. Poderia enveredar por um viés de julgamento ou depreciação, mas prefere se abster em apenas observar as interações entre personagens - como deveria ser. O problema é que a profundidade dos protagonistas se resume apenas à ironia na qual estão inseridos (uma terapeuta de casais que nunca teve um orgasmo, por exemplo), fora isso, não há mais nada a se explorar. Mas ainda vale a pena pela sensualidade que emana do início ao fim e o respeito que nutre por cada orientação, desejo e impulso que retrata.
Amores na Cidade
3.7 14 Assista AgoraO mais destacável é a preocupação em costurar os seis episódios de forma que o filme pareça menos fragmentado possível, um retrato da sociedade italiana da época. Assim, os dois segmentos documentais que abrem o filme surgem como boa introdução para a produção, além de abordarem os temas de forma muito digna, respeitosa e explícita. Particularmente, o segmento que mais apreciei foi "A História de Caterina", um drama doloroso e cru, ao melhor estilo do neo-realismo. Fellini, por sua vez, brilha menos que Antonioni, mas ainda assim traz seu charme e se faz notar.
Napoleão
4.2 33Poderia comentar tantos aspectos impecáveis desta obra-prima que renderiam páginas de análise, mas gostaria de deixar registrada minha devoção a Abel Gance pelos 20 minutos finais deste filme. Em toda a era muda, poucas vezes vi algo tão genial, inteligente e deslumbrante como o uso das três câmeras que Gance emprega na tentativa de simular um widescreen artesanal. Uma sacada digna de aplausos não apenas pela criatividade e dificuldade de execução (as salas precisavam portar três projetores ligados simultaneamente), mas pela forma totalmente justificável na qual foi empregada. Com isso, o diretor pode estabelecer uma noção muito mais ampla do tamanho do exército liderado por Bonaparte (através das panorâmicas belamente fotografadas), transformando meras cenas de batalha em construções monumentais de imagem e mise-èn-scene que por muito tempo ficarão guardadas em minha memória cinéfila. Além disso, Gance se utiliza da estética que inventou para explorar três situações simultâneas e exprimir em tela (através de metáforas ou lembranças) o êxtase da conquista de Napoleão no encerramento do filme. Não apenas um momento brilhante, epifânico, mas também um dos mais sublimes registros feitos em toda a história do cinema mudo. Este filme é um presente para os cinéfilos, uma aula de cinema e construção pessoal. Pena que as cópias disponíveis não sejam tão difundidas... "Napoleão" transcende a própria era silenciosa - é uma obra de arte para se ver e rever sempre que se precisar de um sopro de criatividade e inspiração.
A Possessão de Deborah Logan
3.0 369 Assista AgoraO grande problema é que o filme trai a própria estética. Ao apostar em um formato de documentário já editado e pós-produzido, constantemente os envolvidos têm que abandonar a estética para criar algo mais real e bruto (como se o grupo de documentaristas escolhesse apenas determinados trechos para editar, deixando o resto como imagens sem tratamento). Além disso, o encerramento (apesar de muito perturbador e funcional) é executado de forma bem pedestre com uma fotografia e montagem que não decidem o que querem expor e acabam quase deteriorando o potencial perturbador dos 10 minutos finais. Mas, apesar dos pesares, o filme ainda funciona por conseguir prender, interessar e perturbar. É eficaz em mostrar mais horror que terror e construir uma atmosfera que prioriza sugestões em detrimento de apenas imagens escabrosas. Poderia ser bem melhor, mas não é de todo ruim.
Hellraiser: Renascido do Inferno
3.5 858 Assista AgoraSempre tive curiosidade acerca deste filme pelo diferencial em abordar o tanto como o sexo pode se relacionar à violência e explicitar isso em pleno mercado comercial hollywoodiano. É claro que "Hellraiser" se difundiu bem menos que filmes contemporâneos seus justamente pela temática pesada e pela forma como a aborda sem se acovardar (ponto muito positivo), mas ainda conseguiu certa notoriedade, com direito até a uma franquia de filmes (não tão bem sucedida assim). Pois bem, este filme só não é melhor por pura imaturidade de Clive Barker, diretor medíocre que desperdiça bons momentos pela dificuldade que tem em chocar com aquilo que mostra. Se "Hellraiser" caísse nas mãos de um realizador competente, ou ao menos que soubesse jogar com certos elementos cinematográficos a seu favor (como fotografia e direção de arte) poderia se tornar um dos filmes mais perturbadores e sádicos da década de 80. No fim, a experiência vale pelo esforço dos envolvidos e, principalmente, por levar às telas de forma corajosa uma temática não tão fácil de se lidar. Mas que houve um potencial desperdiçado... isso é inegável.
Duelo ao Sol
3.6 35 Assista AgoraDevo confessar que a construção da figura feminina neste filme me incomodou um pouco. E à parte a fotografia deslumbrante e o encerramento genial, o longa não me conquistou nem me inspirou empatia. Talvez se apostasse em personagens mais relevantes (e não apenas marcantes e característicos), Vidor se sairia melhor na construção do drama da protagonista.
Os Homens Que Pisaram na Cauda do Tigre
3.6 18 Assista AgoraMuito da forma como Kurosawa viria a utilizar o movimento em seus filmes já se faz notar aqui, ainda que imaturo. A direção é repleta de boas intenções e já manifesta o gênio criativo que Akira viria a se tornar, mesmo que deveras contido em início de carreira.