Últimas opiniões enviadas
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A Filha Perdida
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Esse filme é fantástico em vários níveis, primeiramente pode parecer uma crítica à maternidade "opressiva", porém essa seria a visão mais rasa do que acontece no filme. Na verdade, ao mostrar e igualar homens e mulheres que abandonam seus lares ou não se sentem confortáveis na posição de pais, o roteiro desvenda as mazelas humanas, é o humano falho que está sendo retratado, não é a "mãe contra a parede". Ele choca simplesmente porque estamos acostumados com a posição do homem em fazer o mesmo, quando uma mulher resolve se mostrar "egoísta" é algo que nos consterna. Para mim, esse filme fala de uma versão sem máscaras do "eu", a "mulher/mãe" é somente um constructo, o que está no centro é o "eu" que despreza as convenções sociais, a polidez, o afeto piegas, vivendo basicamente em torno de si mesmo e de suas vontades.
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O filme foi construído propositalmente em caráter excessivo, não pensem que essa proximidade com o famoso "besteirol" americano é gratuita, o filme foi muito bem amarrado para nos passar uma sensação de incômodo e nos colocar contra a parede. O papel da boa comédia de costumes é esse, nos deixar agoniados, e fazer com que nos questionemos, "será que somos assim mesmo?", "será que não é exagero do filme?".
Acredito que esse é o tipo de obra que só funciona se você não teve nenhum contato com a obra de Murakami, se teve, a chance de ter desgostado da película do início ao fim é bem alta. O livro é de uma sensibilidade e magia sem igual, te envolve e te prende, o filme é um eterno "vir a ser", uma mistura de outros trechos do livro "O Homem sem mulheres", que na boca dos personagens de "Drive my car" dão a impressão de profanação ao livro. Me senti constrangida com a cena final e não consternada, uma agonia tremenda me tomou do início ao fim. Esse filme resume bem o perigo de adaptações, apesar da Academia ter adorado, não me convenceu nem um pouco.