Antes de lançar o filme, o Marc Webb fez um curta promocional em que a Zooey e o Joseph representam um casal (por spoiler, não direi qual, :) ) mencionado em uma de suas conversas. Pra quem não viu, tá aqui, é bem bacana: https://www.youtube.com/watch?v=Ln29hZ9hhZ0
Acabei de reassistir a esse filme, após tantos anos, e é quase impossível descrever a miríade de emoções que senti ao rever cada uma de suas clássicas cenas e de seus incrivelmente cativantes personagens. Bastian, com sua pureza e vontade de sonhar; Atreyu, com sua coragem e sua disposição para enfrentar os desafios; a Imperatriz Menina, com sua sabedoria e sua paciência; e tantos outros...
O melhor é que a emoção não brota apenas do reencontro com um dos filmes que marcou a infância de toda a minha geração, mas pela grandiosidade e beleza de um obra que eu, criança, apesar de me encantar com a mesma, não tinha condições de perceber em sua plenitude. Atreyu é praticamente o alter-ego onírico do Bastian e, por extensão, nosso próprio alter-ego, uma vez que a identificação com o segundo é quase inescapável. E a jornada do primeiro não é outra senão nossa própria jornada, buscando a sabedoria dos antigos, aproveitando os momentos de descontração, enfrentando a perda e a dor, a descrença, a falta de confiança em nós mesmos, nosso próprio eu-interior... Enfrentando o próprio Nada que nos ameaça cotidianamente, que por vezes parece quase destruir totalmente o Bastian que já fomos nalgum longínquo momento do passado e que, por vezes, quase não acreditamos que realmente fomos. A luta de Atreyu é a nossa própria luta para impedir que o sofrimento, o caos e o pessimismo do mundo contemporâneo não destruam de vez nossos sonhos e nossa esperança, nossa imaginação - e só a imaginação, a criatividade, pode dar conta de encontrar as respostas que possam solucionar os infindáveis problemas de nossa realidade. Não por acaso, a imperatriz desse mundo de Fantasia recebe o nome de Esperança. Somente ela pode contra todo esse Nada. Obviamente, não aquela esperança que aguarda sentada que tudo melhore, mas aquela que toma em mãos a responsabilidade por suas ações e desafia aquilo que era supostamente seu Destino.
[acho difícil alguém se preocupar, MAS] A conversa com Morla, a morte de Artax, o voo nas asas de Falkor, ao som daquela música lindíssima... O diálogo entre Atreyu e Gmork, de uma profundidade e precisão brilhantes; e, claro, o momento em que Bastian finalmente descobre que, sim, ele também faz parte daquela história maravilhosa e, na sequência, grita o nome da Imperatriz. Tudo, tudo, muito lindo e nostálgico. Agora, a cena que me fez chorar como uma criancinha foi aquela em que Bastian faz seu primeiro pedido e esse pedido é voar com Falkor! Cara, que coisa mais linda e certeira, aquele pedido o Bastian fez por todos nós, porque claramente o que todo mundo mais quer ao assistir a esse filme é voar nas costas de um Dragão da Sorte, sentindo o vento sobre os cabelos ao observar as belezas do mundo. Quem sabe, até perseguir nossos próprios inimigos na rua, rs
Enfim. Já falei até demais, o que só mostra o quanto foi uma experiência fantástica reassistir a esse filme. Recomendo a todos aqueles que não o fazem a um bom tempo que o assistam de novo também, garanto que será uma formidável viagem. E que mesmo aqueles que não tiveram esse privilégio em sua infância, que busquem conhecer essa obra-prima, uma vez que quase não se faze mais filmes com toda essa magia e esse encanto. Nota 10.
McConaughey e Leto estão simplesmente impecáveis, atuações bem acima da média - inclusive, de suas próprias. A dedicação de ambos a seus papéis é visível e, quando em cena, demonstram uma química excelente. O filme já valeria pela impressionante trajetória de vida de Ron Woodroof, incapaz de ser definido nalgum esterótipo; contudo, torna-se grandioso quando consegue mesclar superação de preconceitos a uma dura crítica da indústria farmacêutica e seus interesses mesquinhos. Sem contar o fato de que nos apresenta de maneira ímpar o drama vivido pelos primeiros HIV positivos, numa época marcada pela ignorância sobre a doença. Certamente, um filme imperdível, desses que emocionam e, se não formos tolos, nos dão oportunidade de ser pessoas melhores. Fabuloso.
Talvez fosse interessante ler essa matéria: http://www.slate.com/blogs/browbeat/2014/01/17/was_dallas_buyers_club_s_ron_woodroof_gay_or_bisexual_friends_and_doctor.html
Cara, que animação deliciosa. O título não me animou muito, não tava muito afim de assistir esse filme no momento em que fui convencido a assistí-lo. Contudo, ainda bem que o fizeram: o filme é bastante formidável. Consegue ser leve sem descambar pra superficialidade, e também sabe tocar em temas relativamente controversos e pesados sem perder a leveza ou se tornar maçante e pedante. Com isso, consegue deixar a mente num estado bastante propenso a reflexões dos mais variados tipos, envolvendo religião - obviamente, em especial, o judaísmo, mas também sobre o islamismo -, tolerância, vida em comunidade e preconceito.
Apesar disso, de longe, o ponto forte do filme são os personagens, todos eles adoráveis e cativantes. O rabino, com seu jeito devoto, porém sempre gentil e respeitoso, um tanto amarrado às tradições; sua filha, sempre rebelde, a força da juventude a questionar costumes antigos; o líder islâmico, sem dúvida o personagem mais sábio da história, quebrando os paradigmas que descrevem o Islã como uma religião de fanáticos; o bêbado russo, com sua paixão pelo lado mundano, mais material da vida, e o judeu russo, com sua vitalidade e esperança, cheio de ideais, que, juntos, chegam para "abalar" o cotidiano relativamente tranquilo e banal da pequena vila. Por fim, sem dúvida, o melhor de todos, o próprio gato do rabino, engraçadíssimo, sempre perspicaz, com as melhores tiradas, o espírito mais livre de todos, apesar de agir indiscutivelmente de maneira felina, sempre. Aliás, o trabalho dos desenhistas nos movimentos do gato ficaram fantásticos, eles definitivamente conseguiram captar as características mais proeminentes desse animal, é sempre bem legal vê-lo se movimentar no desenho, bem verossímil.
O traço do desenho é outra de suas qualidades, muito, muito bonito. Conseguiram lhe dar um ar bastante realista, mas sem perder uma leve aura cartunesca, que confere uma originalidade bem marcante à animação, que prontamente consegue se diferenciar daquelas hollywoodianas ou japonesas.
Em suma, um filme excelente, pra se assistir a qualquer hora, em qualquer situação, embora seja apropriado não vê-lo sozinho, pois dá pra compartilhar boas risadas com uma galera. Recomendadíssimo.
"É fabuloso viver só em espírito, dia a dia, eternamente testemunhar o que é espiritual nas pessoas. Mas às vezes fico farto com a minha existência espiritual. Gostaria de deixar de flutuar eternamente nas alturas. Gostaria de sentir meu peso, acabar com a ausência de fronteiras e me unir à Terra. Gostaria de, a cada passo, a cada lufada de vento, ser capaz de dizer: 'agora', 'agora' e 'agora'. Não mais: 'Para sempre' e 'Pela eternidade'. Sentar no lugar vago da mesa de cartas, ser cumprimentado, mesmo que por um pequeno gesto de cabeça. Sempre que participamos de algo, foi fingindo. Fingimos que, numa luta, deslocamos o quadril, fingimos pescar um peixe. Fingimos sentar à mesa, beber e comer. Cordeiros tostados e vinho servidos nas tendas do deserto, apenas um fingimento. Não quero gerar uma criança ou plantar uma árvore, mas seria bom chegar em casa depois de um longo dia e alimentar o gato, como faz Philip Marlowe; ter uma febre, sujar os dedos de preto com o jornal; entusiasmar-se não só com coisas espirituais, mas com uma refeição, com o contorno de um pescoço, com uma orelha. Mentir. Sentir o sorriso de alguém. Ao andar, sentir os ossos se movimentando. Por fim 'achar', ao invés de 'saber'. Poder dizer: 'Ah' e 'Oh' e 'Ei', ao invés de: 'Sim' e 'amém.'
Sim. Poder, pelo menos uma vez, se entusiasmar com o mal. Atrair para si os demônios dos transeuntes e caçá-los no mundo. Ser selvagem. Ou, por fim, sentir como seria tirar os sapatos debaixo da mesa e, descalço, mover os dedos assim... Ficar sozinho. Deixar as coisas acontecerem. Ser sério; só podemos ser selvagens na medida em que formos sérios. Não fazer nada além de olhar, reunir, testemunhar, dar fé, proteger... Permanecer sendo espírito. Manter-se à distância. Ficar na palavra."
Acabei de assistir ao segundo filme dos concorrentes ao oscar de melhor filme desse ano: 'Lincoln'. E posso dizer sem medo - claro, dentro dos limites a que pode chegar um filme clássica e notoriamente hollywoodiano: cara, que FILMAÇO. Muito bom, gostei mesmo.
Claro, o filme é muito bom não só alertando pros limites do cinema hollywoodiano, mas também fazendo vista-grossa pro não-acuramento histórico e pro excesso de romantização tanto do personagem principal quanto da política estadunidense como um todo. Certamente, o Lincoln histórico não foi o sábio e semi-deus apresentado no filme, tampouco a questão da emenda abolicionista foi tratada unicamente por questões de temperamentos e convicções pessoais - não se fala nem na bem documentada interferência maçônica e nem nos interesses gritantemente capitalistas por trás de tal momento histórico. Contudo, vendo o filme como de fato é, não como um documentário da época ou um documento fiel dos acontecimentos, mas como uma obra-de-arte, uma ficção BASEADA em acontecimentos reais, então ele ganha ares épicos e excepcionais.
Uma coisa que o Spielberg aprendeu como diretor foi a como emocionar o público. Neste filme, especificamente, aproveitando o magnetismo do personagem principal e a força das questões envolvidas, ele soube se utilizar dessa arte como poucas vezes. Não foram raros os momentos em que marejei meus olhos nalgum diálogo ou nalguma cena mais grandiosa, notadamente nos momentos-chaves da história. Sem contar as cenas que, desde o começo do filme, já imaginávamos que seriam tocantes - bem, é um filme de época, quem conhece um pouco de história americana já sabe o que vai acontecer -, se me focar só nos diálogos, há pelo menos uns três que considerei marcantes, e que tive que pausar pra sorvê-los com o sentimento apropriado. Em todos eles, o Spielberg soube usar muito bem suas técnicas para torná-los masi grandiosos.
Agora, nada disso teria sido possível sem o Daniel Day-Lewis. Mermão, esse cara é PHODA. Dos concorrentes ao oscar de melhor ator, só vi a atuação dele, mas, bicho, não tem como não ter certeza de que ele merece muito esse prêmio. O cara fez miséria, doido... Obviamente, não sou estadunidense e, por isso, apesar de ter uma vaga ideia, não conheço ao certo o tipo de mitologia que cerca a figura do Lincoln pra eles. Mesmo assim, a atuação do Daniel te engolfa, cara, te envolve, ele É Abraham Lincoln reencarnado, e soube cristalizar tudo de miticamente bom e heroico que a figura dele comumente já evoca. Em suma: se o Lincoln tivesse sido exatamente como representadno por Daniel Day-Lewis, meu amigo, ele seria um dos grandes heróis da minha vida.
Enfim, em resumo, 'Lincoln' é um filme excepcional que vale muito a pena ser visto. Certamente, pra mim, entrou pra lista dos grandes filmes do Spielberg. Como não vi a maior parte dos concorrentes ao oscar de melhor filme, é cedo pra dizer que merece a estatueta. Porém, com certeza, é um forte candidato.
'Roma' é um Filme fantástico, com 'F' maiúsculo. Se um filme precisa cumprir a múltipla tarefa de entreter, informar, fazer refletir, instigar a imaginação e representar algo, então este filme realiza sua meta com precisão.
Desde o começo, como o próprio Fellini, o narrador do filme, já deixa claro, sua intenção, acima de tudo, é retratar não uma pessoa, não uma história, mas uma cidade: Roma é o personagem principal, como objeto a ser investigado. O personagem secundário, mas tão importante quanto o primeiro, é a figura de Fellini, que revela Roma a partir de sua ótica única e particular. Por isso, achei sensacional a ideia que ele teve de retratar, de começo, não a cidade em si, mas o burburinho de Roma, a maneira como ela aparece para quem não nasceu lá, que só a conhecia através de relatos históricos ou do boca-a-boca. Em especial, de retratar como Roma aparecia a ELE mesmo, apenas uma criança do interior italiano, que nem sonhava em conhecer Roma ou se tornar um cineasta famoso. Deste modo, Fellini consegue representar Roma não de um modo "fixo", determinado, mas deixa bem claro que aquela é a SUA Roma, a Roma de Fellini, que nasceu da interação singular que se estabelece entre um objeto e a subjetividade que o capta - no caso, obviamente, a do próprio Fellini.
Os primeiros 40, 50 minutos iniciais, por si sós, já bastariam para considerá-lo uma obra-prima. A forma maestral e certeira com que Fellini vai delineando a cidade através dos costumes de seu povo, do modo-de-ser de sua gente, de sua cultura, permite que nos sintamos quase que parte do filme, quase que presentes naqueles ambientes. Não sei quanto do filme depende da questão desse RECONHECIMENTO DE SI no filme, da percepção de que aquelas situações lhe são bem próximas e familiares - e penso que seja muito. Sendo assim, creio que, para um brasileiro, como eu - que, além disso, sou maranhense -, é impossível não reconhecer nossa herança latina no comportamento dos romanos, nas situações postas em cena. Por isso, ao menos pra mim, o filme ganhou muitos pontos, ganhou uma verossimilhança desmedida. E ganha ainda mais pontos também pelo modo como explora a metalinguagem, brincando com fantasia e realidade, ilusão e verdade - afinal, 'Roma' é um filme que parece um documentário ou um documentário que parece um filme?
A partir da metade, o filme dá uma amornada, sem perder o brilho. Envereda por uma metáfora sobre o passado clássico romano e de seu irremediável e destruidor encontro com o presente cáustico, tendo como premissa a filmagem de um metrô; depois, faz uma acentuada crítica tanto ao poder que a igreja católica sustenta em Roma - fazendo do Papa quase a figura de um grande mafioso - quanto à superficialidade e ao materialismo da mesma. Porém, já perto do fim, o filme cresce novamente, explorando a metalinguagem com uma magia de marejar os olhos, para finalizar com uma cena que novamente põe em choque o grandioso passado de Roma e a velocidade e a imprudência da modernidade e das novas gerações - deixando claro, porém, que por mais diferentes que sejam, a Roma Antiga e a Roma "Nova" (atual) ainda são a mesma coisa, a mesma cidade, a mesma Roma.
A Roma de Fellini é uma cidade caótica porém mágica, suja porém bela, de uma gente mal-educada porém autêntica, passional e espontânea, ao mesmo tempo sempre abertas e fechadas ao outro. Em sua visão de Roma, não há espaço nem para a defesa do fascismo nem para o elogio da luta social; há, sim, o olhar atento diante do modo como o fascismo se implantou naquela sociedade e o olhar suave diante das dores dos trabalhadores, da gente simples, e dos jovens contrários ao status quo - nunca o comprometimento. Assim Fellini termina a construção de sua Roma - construção esta que, me parece, é tanto um libelo quanto uma declaração de amor à cidade.
Realmente não entendi como Zack Snyder, com outros filmes tão bem cotados, conseguiu fazer um tão desinteressante. Quer dizer, no começo, antes da trama se desenrolar, até parece que pode sair uma coisa melhorzinha. Mas aí o filme segue e sua previsibilidade torna tudo quase uma chatice. Estão todos lá: o herói sonhador com quem todos se preocupam, o amigo leal-porém-fracote, o amigo meio doido e o amigo forte-mas-burro... Em alguns aspectos, lembra muito 'Transformers' - que, obviamente, não é lá um filme que se possa dizer 'bom'. A diferença é que, no caso do filme em questão, o herói-fodão (Lyze of Kiel), apesar de bacana, deixa muito a desejar em relação a Optimus Prime - esse, sim, causa um temor verossímil no seu arqui-inimigo.
Enfim, repetindo, uma trama fraca, em que a maior parte dos acontecimentos é facilmente previsto minutos antes de acontecer. Além disso, o ritmo do filme é mal conduzido, e parece que tudo acontece rápido demais. Sem contar os furos da história: quer dizer que o primogênito da família morre e os pais nem ligam? Nem comentam? Por fim, o clímax termina de modo inverossímil e desinteressante, trazendo à tona a pergunta: "Ué, acabou?"
Bom, de positivo mesmo, só a qualidade da animação, que é nota 10. As corujas ficaram muito bem feitas, sem contar o voo delas e toda sua movimentação. As cenas de batalhas, apesar de poucas, são legais. E a história, apesar de batida, tem o seu quinhão de magia. No final das contas, não recomendo a ninguém que assista a este filme. Mas, se o fizerem, não será assim tão ruim, se você não se importa muito com tudo aquilo que critiquei - ou se simplesmente for menos "chato".
T2: Trainspotting
4.0 695 Assista AgoraIdiotas que ficam dando nota pro filme antes mesmo de ele estrear, parem com isso. A única coisa que vocês fazem é atrapalhar o cálculo da nota final.
Nós Somos as Melhores!
4.1 112"Eu não acredito em Deus. Eu acredito em ketchup. É a melhor coisa que existe."
Klara FTW
(500) Dias com Ela
4.0 5,7K Assista AgoraAntes de lançar o filme, o Marc Webb fez um curta promocional em que a Zooey e o Joseph representam um casal (por spoiler, não direi qual, :) ) mencionado em uma de suas conversas. Pra quem não viu, tá aqui, é bem bacana: https://www.youtube.com/watch?v=Ln29hZ9hhZ0
A História Sem Fim
3.8 973 Assista AgoraAcabei de reassistir a esse filme, após tantos anos, e é quase impossível descrever a miríade de emoções que senti ao rever cada uma de suas clássicas cenas e de seus incrivelmente cativantes personagens. Bastian, com sua pureza e vontade de sonhar; Atreyu, com sua coragem e sua disposição para enfrentar os desafios; a Imperatriz Menina, com sua sabedoria e sua paciência; e tantos outros...
O melhor é que a emoção não brota apenas do reencontro com um dos filmes que marcou a infância de toda a minha geração, mas pela grandiosidade e beleza de um obra que eu, criança, apesar de me encantar com a mesma, não tinha condições de perceber em sua plenitude. Atreyu é praticamente o alter-ego onírico do Bastian e, por extensão, nosso próprio alter-ego, uma vez que a identificação com o segundo é quase inescapável. E a jornada do primeiro não é outra senão nossa própria jornada, buscando a sabedoria dos antigos, aproveitando os momentos de descontração, enfrentando a perda e a dor, a descrença, a falta de confiança em nós mesmos, nosso próprio eu-interior... Enfrentando o próprio Nada que nos ameaça cotidianamente, que por vezes parece quase destruir totalmente o Bastian que já fomos nalgum longínquo momento do passado e que, por vezes, quase não acreditamos que realmente fomos. A luta de Atreyu é a nossa própria luta para impedir que o sofrimento, o caos e o pessimismo do mundo contemporâneo não destruam de vez nossos sonhos e nossa esperança, nossa imaginação - e só a imaginação, a criatividade, pode dar conta de encontrar as respostas que possam solucionar os infindáveis problemas de nossa realidade. Não por acaso, a imperatriz desse mundo de Fantasia recebe o nome de Esperança. Somente ela pode contra todo esse Nada. Obviamente, não aquela esperança que aguarda sentada que tudo melhore, mas aquela que toma em mãos a responsabilidade por suas ações e desafia aquilo que era supostamente seu Destino.
E as mencionadas cenas clássicas?
[acho difícil alguém se preocupar, MAS] A conversa com Morla, a morte de Artax, o voo nas asas de Falkor, ao som daquela música lindíssima... O diálogo entre Atreyu e Gmork, de uma profundidade e precisão brilhantes; e, claro, o momento em que Bastian finalmente descobre que, sim, ele também faz parte daquela história maravilhosa e, na sequência, grita o nome da Imperatriz. Tudo, tudo, muito lindo e nostálgico. Agora, a cena que me fez chorar como uma criancinha foi aquela em que Bastian faz seu primeiro pedido e esse pedido é voar com Falkor! Cara, que coisa mais linda e certeira, aquele pedido o Bastian fez por todos nós, porque claramente o que todo mundo mais quer ao assistir a esse filme é voar nas costas de um Dragão da Sorte, sentindo o vento sobre os cabelos ao observar as belezas do mundo. Quem sabe, até perseguir nossos próprios inimigos na rua, rs
Enfim. Já falei até demais, o que só mostra o quanto foi uma experiência fantástica reassistir a esse filme. Recomendo a todos aqueles que não o fazem a um bom tempo que o assistam de novo também, garanto que será uma formidável viagem. E que mesmo aqueles que não tiveram esse privilégio em sua infância, que busquem conhecer essa obra-prima, uma vez que quase não se faze mais filmes com toda essa magia e esse encanto. Nota 10.
É o Fim
3.0 2,0K Assista Agora"Dear God, it's me, Jonah Hill... from Moneyball."
Clube de Compras Dallas
4.3 2,8K Assista AgoraMcConaughey e Leto estão simplesmente impecáveis, atuações bem acima da média - inclusive, de suas próprias. A dedicação de ambos a seus papéis é visível e, quando em cena, demonstram uma química excelente. O filme já valeria pela impressionante trajetória de vida de Ron Woodroof, incapaz de ser definido nalgum esterótipo; contudo, torna-se grandioso quando consegue mesclar superação de preconceitos a uma dura crítica da indústria farmacêutica e seus interesses mesquinhos. Sem contar o fato de que nos apresenta de maneira ímpar o drama vivido pelos primeiros HIV positivos, numa época marcada pela ignorância sobre a doença. Certamente, um filme imperdível, desses que emocionam e, se não formos tolos, nos dão oportunidade de ser pessoas melhores. Fabuloso.
Clube de Compras Dallas
4.3 2,8K Assista AgoraTalvez fosse interessante ler essa matéria: http://www.slate.com/blogs/browbeat/2014/01/17/was_dallas_buyers_club_s_ron_woodroof_gay_or_bisexual_friends_and_doctor.html
Contatos de 4º Grau
3.1 1,8KEspero jamais olhar uma coruja às 3 da manhã.
O Gato do Rabino
4.0 93Cara, que animação deliciosa. O título não me animou muito, não tava muito afim de assistir esse filme no momento em que fui convencido a assistí-lo. Contudo, ainda bem que o fizeram: o filme é bastante formidável. Consegue ser leve sem descambar pra superficialidade, e também sabe tocar em temas relativamente controversos e pesados sem perder a leveza ou se tornar maçante e pedante. Com isso, consegue deixar a mente num estado bastante propenso a reflexões dos mais variados tipos, envolvendo religião - obviamente, em especial, o judaísmo, mas também sobre o islamismo -, tolerância, vida em comunidade e preconceito.
Apesar disso, de longe, o ponto forte do filme são os personagens, todos eles adoráveis e cativantes. O rabino, com seu jeito devoto, porém sempre gentil e respeitoso, um tanto amarrado às tradições; sua filha, sempre rebelde, a força da juventude a questionar costumes antigos; o líder islâmico, sem dúvida o personagem mais sábio da história, quebrando os paradigmas que descrevem o Islã como uma religião de fanáticos; o bêbado russo, com sua paixão pelo lado mundano, mais material da vida, e o judeu russo, com sua vitalidade e esperança, cheio de ideais, que, juntos, chegam para "abalar" o cotidiano relativamente tranquilo e banal da pequena vila. Por fim, sem dúvida, o melhor de todos, o próprio gato do rabino, engraçadíssimo, sempre perspicaz, com as melhores tiradas, o espírito mais livre de todos, apesar de agir indiscutivelmente de maneira felina, sempre. Aliás, o trabalho dos desenhistas nos movimentos do gato ficaram fantásticos, eles definitivamente conseguiram captar as características mais proeminentes desse animal, é sempre bem legal vê-lo se movimentar no desenho, bem verossímil.
O traço do desenho é outra de suas qualidades, muito, muito bonito. Conseguiram lhe dar um ar bastante realista, mas sem perder uma leve aura cartunesca, que confere uma originalidade bem marcante à animação, que prontamente consegue se diferenciar daquelas hollywoodianas ou japonesas.
Em suma, um filme excelente, pra se assistir a qualquer hora, em qualquer situação, embora seja apropriado não vê-lo sozinho, pois dá pra compartilhar boas risadas com uma galera. Recomendadíssimo.
Asas do Desejo
4.3 493 Assista AgoraUma das melhores passagens, na minha opinião:
"É fabuloso viver só em espírito, dia a dia, eternamente testemunhar o que é espiritual nas pessoas. Mas às vezes fico farto com a minha existência espiritual. Gostaria de deixar de flutuar eternamente nas alturas. Gostaria de sentir meu peso, acabar com a ausência de fronteiras e me unir à Terra. Gostaria de, a cada passo, a cada lufada de vento, ser capaz de dizer: 'agora', 'agora' e 'agora'. Não mais: 'Para sempre' e 'Pela eternidade'. Sentar no lugar vago da mesa de cartas, ser cumprimentado, mesmo que por um pequeno gesto de cabeça. Sempre que participamos de algo, foi fingindo. Fingimos que, numa luta, deslocamos o quadril, fingimos pescar um peixe. Fingimos sentar à mesa, beber e comer. Cordeiros tostados e vinho servidos nas tendas do deserto, apenas um fingimento. Não quero gerar uma criança ou plantar uma árvore, mas seria bom chegar em casa depois de um longo dia e alimentar o gato, como faz Philip Marlowe; ter uma febre, sujar os dedos de preto com o jornal; entusiasmar-se não só com coisas espirituais, mas com uma refeição, com o contorno de um pescoço, com uma orelha. Mentir. Sentir o sorriso de alguém. Ao andar, sentir os ossos se movimentando. Por fim 'achar', ao invés de 'saber'. Poder dizer: 'Ah' e 'Oh' e 'Ei', ao invés de: 'Sim' e 'amém.'
Sim. Poder, pelo menos uma vez, se entusiasmar com o mal. Atrair para si os demônios
dos transeuntes e caçá-los no mundo. Ser selvagem. Ou, por fim, sentir como seria tirar
os sapatos debaixo da mesa e, descalço, mover os dedos assim... Ficar sozinho. Deixar as coisas acontecerem. Ser sério; só podemos ser selvagens na medida em que formos sérios. Não fazer nada além de olhar, reunir, testemunhar, dar fé, proteger... Permanecer sendo espírito. Manter-se à distância. Ficar na palavra."
Lincoln
3.5 1,5KNotas sobre o filme (talvez haja spoiler):
Acabei de assistir ao segundo filme dos concorrentes ao oscar de melhor filme desse ano: 'Lincoln'. E posso dizer sem medo - claro, dentro dos limites a que pode chegar um filme clássica e notoriamente hollywoodiano: cara, que FILMAÇO. Muito bom, gostei mesmo.
Claro, o filme é muito bom não só alertando pros limites do cinema hollywoodiano, mas também fazendo vista-grossa pro não-acuramento histórico e pro excesso de romantização tanto do personagem principal quanto da política estadunidense como um todo. Certamente, o Lincoln histórico não foi o sábio e semi-deus apresentado no filme, tampouco a questão da emenda abolicionista foi tratada unicamente por questões de temperamentos e convicções pessoais - não se fala nem na bem documentada interferência maçônica e nem nos interesses gritantemente capitalistas por trás de tal momento histórico. Contudo, vendo o filme como de fato é, não como um documentário da época ou um documento fiel dos acontecimentos, mas como uma obra-de-arte, uma ficção BASEADA em acontecimentos reais, então ele ganha ares épicos e excepcionais.
Uma coisa que o Spielberg aprendeu como diretor foi a como emocionar o público. Neste filme, especificamente, aproveitando o magnetismo do personagem principal e a força das questões envolvidas, ele soube se utilizar dessa arte como poucas vezes. Não foram raros os momentos em que marejei meus olhos nalgum diálogo ou nalguma cena mais grandiosa, notadamente nos momentos-chaves da história. Sem contar as cenas que, desde o começo do filme, já imaginávamos que seriam tocantes - bem, é um filme de época, quem conhece um pouco de história americana já sabe o que vai acontecer -, se me focar só nos diálogos, há pelo menos uns três que considerei marcantes, e que tive que pausar pra sorvê-los com o sentimento apropriado. Em todos eles, o Spielberg soube usar muito bem suas técnicas para torná-los masi grandiosos.
Agora, nada disso teria sido possível sem o Daniel Day-Lewis. Mermão, esse cara é PHODA. Dos concorrentes ao oscar de melhor ator, só vi a atuação dele, mas, bicho, não tem como não ter certeza de que ele merece muito esse prêmio. O cara fez miséria, doido... Obviamente, não sou estadunidense e, por isso, apesar de ter uma vaga ideia, não conheço ao certo o tipo de mitologia que cerca a figura do Lincoln pra eles. Mesmo assim, a atuação do Daniel te engolfa, cara, te envolve, ele É Abraham Lincoln reencarnado, e soube cristalizar tudo de miticamente bom e heroico que a figura dele comumente já evoca. Em suma: se o Lincoln tivesse sido exatamente como representadno por Daniel Day-Lewis, meu amigo, ele seria um dos grandes heróis da minha vida.
Enfim, em resumo, 'Lincoln' é um filme excepcional que vale muito a pena ser visto. Certamente, pra mim, entrou pra lista dos grandes filmes do Spielberg. Como não vi a maior parte dos concorrentes ao oscar de melhor filme, é cedo pra dizer que merece a estatueta. Porém, com certeza, é um forte candidato.
Filadélfia
4.2 907 Assista AgoraTom Hanks e Denzel Washington no mesmo filme?
Praticamente não precisa dizer mais nada. História tocante e atuações fantásticas.
A cena em que o Tom Hanks canta aquela ópera para o Denzel é lindíssima.
Roma de Fellini
4.1 65 Assista Agora#CONTÉM SPOILER#
'Roma' é um Filme fantástico, com 'F' maiúsculo. Se um filme precisa cumprir a múltipla tarefa de entreter, informar, fazer refletir, instigar a imaginação e representar algo, então este filme realiza sua meta com precisão.
Desde o começo, como o próprio Fellini, o narrador do filme, já deixa claro, sua intenção, acima de tudo, é retratar não uma pessoa, não uma história, mas uma cidade: Roma é o personagem principal, como objeto a ser investigado. O personagem secundário, mas tão importante quanto o primeiro, é a figura de Fellini, que revela Roma a partir de sua ótica única e particular. Por isso, achei sensacional a ideia que ele teve de retratar, de começo, não a cidade em si, mas o burburinho de Roma, a maneira como ela aparece para quem não nasceu lá, que só a conhecia através de relatos históricos ou do boca-a-boca. Em especial, de retratar como Roma aparecia a ELE mesmo, apenas uma criança do interior italiano, que nem sonhava em conhecer Roma ou se tornar um cineasta famoso. Deste modo, Fellini consegue representar Roma não de um modo "fixo", determinado, mas deixa bem claro que aquela é a SUA Roma, a Roma de Fellini, que nasceu da interação singular que se estabelece entre um objeto e a subjetividade que o capta - no caso, obviamente, a do próprio Fellini.
Os primeiros 40, 50 minutos iniciais, por si sós, já bastariam para considerá-lo uma obra-prima. A forma maestral e certeira com que Fellini vai delineando a cidade através dos costumes de seu povo, do modo-de-ser de sua gente, de sua cultura, permite que nos sintamos quase que parte do filme, quase que presentes naqueles ambientes. Não sei quanto do filme depende da questão desse RECONHECIMENTO DE SI no filme, da percepção de que aquelas situações lhe são bem próximas e familiares - e penso que seja muito. Sendo assim, creio que, para um brasileiro, como eu - que, além disso, sou maranhense -, é impossível não reconhecer nossa herança latina no comportamento dos romanos, nas situações postas em cena. Por isso, ao menos pra mim, o filme ganhou muitos pontos, ganhou uma verossimilhança desmedida. E ganha ainda mais pontos também pelo modo como explora a metalinguagem, brincando com fantasia e realidade, ilusão e verdade - afinal, 'Roma' é um filme que parece um documentário ou um documentário que parece um filme?
A partir da metade, o filme dá uma amornada, sem perder o brilho. Envereda por uma metáfora sobre o passado clássico romano e de seu irremediável e destruidor encontro com o presente cáustico, tendo como premissa a filmagem de um metrô; depois, faz uma acentuada crítica tanto ao poder que a igreja católica sustenta em Roma - fazendo do Papa quase a figura de um grande mafioso - quanto à superficialidade e ao materialismo da mesma. Porém, já perto do fim, o filme cresce novamente, explorando a metalinguagem com uma magia de marejar os olhos, para finalizar com uma cena que novamente põe em choque o grandioso passado de Roma e a velocidade e a imprudência da modernidade e das novas gerações - deixando claro, porém, que por mais diferentes que sejam, a Roma Antiga e a Roma "Nova" (atual) ainda são a mesma coisa, a mesma cidade, a mesma Roma.
A Roma de Fellini é uma cidade caótica porém mágica, suja porém bela, de uma gente mal-educada porém autêntica, passional e espontânea, ao mesmo tempo sempre abertas e fechadas ao outro. Em sua visão de Roma, não há espaço nem para a defesa do fascismo nem para o elogio da luta social; há, sim, o olhar atento diante do modo como o fascismo se implantou naquela sociedade e o olhar suave diante das dores dos trabalhadores, da gente simples, e dos jovens contrários ao status quo - nunca o comprometimento. Assim Fellini termina a construção de sua Roma - construção esta que, me parece, é tanto um libelo quanto uma declaração de amor à cidade.
A Lenda dos Guardiões
3.6 1,2K Assista Agora#CONTÉM SPOILER#
Realmente não entendi como Zack Snyder, com outros filmes tão bem cotados, conseguiu fazer um tão desinteressante. Quer dizer, no começo, antes da trama se desenrolar, até parece que pode sair uma coisa melhorzinha. Mas aí o filme segue e sua previsibilidade torna tudo quase uma chatice. Estão todos lá: o herói sonhador com quem todos se preocupam, o amigo leal-porém-fracote, o amigo meio doido e o amigo forte-mas-burro... Em alguns aspectos, lembra muito 'Transformers' - que, obviamente, não é lá um filme que se possa dizer 'bom'. A diferença é que, no caso do filme em questão, o herói-fodão (Lyze of Kiel), apesar de bacana, deixa muito a desejar em relação a Optimus Prime - esse, sim, causa um temor verossímil no seu arqui-inimigo.
Enfim, repetindo, uma trama fraca, em que a maior parte dos acontecimentos é facilmente previsto minutos antes de acontecer. Além disso, o ritmo do filme é mal conduzido, e parece que tudo acontece rápido demais. Sem contar os furos da história: quer dizer que o primogênito da família morre e os pais nem ligam? Nem comentam? Por fim, o clímax termina de modo inverossímil e desinteressante, trazendo à tona a pergunta: "Ué, acabou?"
Bom, de positivo mesmo, só a qualidade da animação, que é nota 10. As corujas ficaram muito bem feitas, sem contar o voo delas e toda sua movimentação. As cenas de batalhas, apesar de poucas, são legais. E a história, apesar de batida, tem o seu quinhão de magia. No final das contas, não recomendo a ninguém que assista a este filme. Mas, se o fizerem, não será assim tão ruim, se você não se importa muito com tudo aquilo que critiquei - ou se simplesmente for menos "chato".