A ideia é bem executada dentro da curta duração, proporcionando sequências musicais com gags visuais divertidas e soluções criativas.
Mas, visualmente, achei uma animação feia. Chega a haver um desacordo técnico entre o visual feio e a ótima trilha sonora instrumental, que, em natalina e fabulosa, em diversos momentos relembra as clássicas trilhas de Danny Elfman para animações.
É fofo, comove principalmente pela possível identificação que milhares de espectadores podem ter diante da figura da velhinha, e termina com aquele happy-end suspeito - como a própria sinopse já entrega, a idade vai avançando e embaralhando a realidade. Não diz mais do que isso, mas é o que dá para fazer em 9 minutos. Funciona como exercício imaginativo, de criação.
Há tanto para se ver, tantos detalhes co-ocorrendo, que a experiência pode ser fascinante ou desgastante. Uma visão geral e atenta, porém, permite que a mensagem geral seja transmitida. Ainda que seja um assunto já muito tratado, a abordagem não deixa de ser inovadora e válida, além do aceno de que todos os acontecimentos de uma sociedade estão inequivocamente interligados, como micro-ações, realizadas por indivíduos minúsculos, diante de algo maior e mais importante que a frágil individualidade de cada um. A trilha sonora catastrófica atrapalha, conferindo ao curta um aspecto mais de videogame do que de cinema.
Acredito que um filme com esse visual nem precisa de um roteiro mais concreto, pois a experiência estética já satisfaz. É mágica a forma como as formas e os sons, em nome do caos, se desmancham, se reconfiguram, se metamorfoseiam, a ponto de um objeto ou indivíduo nunca ser só ele mesmo, mas sempre se apresentar também na forma de um animal ou similar. Assim, a cidade adquire para a inquieta personagem um aspecto metafísico, bagunçado, inconstante, bem como sua relação com os outros seres humanos, assustadores ou inalcançáveis. O texto em si é minimalista e não revela nada realmente. Não se permite total compreensão em nenhum dos níveis desse curta.
Tudo gira em torno de Fábio Porchat. Seu texto é engraçado e inteligente; seu personagem não poderia casar melhor com a proposta e, obviamente, destila as mais afiadas críticas; as músicas dão o toque final para deixar tudo ainda mais absurdo e - por que não? - genial. Em algum momento, começa a cansar, o que parece comum de trabalhos mais longos do Porta dos Fundos, e a ideia do paternalismo que sustenta a canção final não foi a solução mais divertida para se aproximar do fim. O resultado, entretanto, é bastante positivo, e certamente merece uma posição de destaque no que o humor brasileiro vem produzindo.
Um exercício gratuito de criatividade e fantasia para deixar os espectadores com vontade de ver mais. O visual é lindo, contrastando tons de azul e dourado que massageiam os olhos; a decisão de calar os personagens, permitindo-lhes somente grunhidos, diverte e ajuda a manter o foco na poesia dos movimentos; por fim, a ideia de dar à lua o toque fabular que justifica o curta é um presente para nosso imaginário.
Personagens fofos que, de dentro de sua solidão, subvertem os papéis aos quais estão naturalmente destinados: uma história extremamente simples e com pouco tempo para conquistar o espectador. Portanto, o curta lança mão de alguns artifícios já conhecidos para isso (violência do dono, enganos que os afastam, acidentes que os unem, etc.). Vale a pena ver tudo isso em um tempo tão curto e com um traço tão agradável - a concepção visual do gato, minúsculo, sem boca e de olhos gigantes, é muito boa.
Enigmático e obscuro na medida certa, o curta deixa certo incômodo ao longo de sua execução e, com o desfecho abrupto, um sentimento de solidão e incapacidade de interrompimento de ciclos. Não sei se tem muito mais para dizer além daquilo que sua superfície sugere, mas que é uma experiência interessante para uma duração tão curta, isso é inegável.
A fundação do cinema imaginativo que conhecemos hoje, como todos sabem, não teria se constituído sem que essa obra, em momentos de muita curiosidade quanto às potencialidades do cinema, não tivesse, tão cedo, abertas tantas possibilidades narrativas. A concepção futurista ainda é atual, pois se pauta em um desejo humano de exploração que nunca se tornou obsoleto, e possibilita que a criatividade ao redor do desconhecidos e a poesia na idealização do espaço sideral (a imagem da lua e dos planetas é um dos frames mais lindos da história) coexistam. Obra importante e inesquecível.
Há tanto para se falar de um filme que, em pouco tempo, metaforiza com estranhamento, humor e morbidez a instabilidade das relações humanas, que vou retirar as três principais reflexões que tive, uma para cada segmento: somos resultado dos dejetos comunicativos dos que vieram antes; se fundir ao outro é parte do processo de se rematerializar; mesmo com as coisas certas para dizer, incorremos constantemente no ato de expressá-las na hora errada, originando um embate sem certo e errado, e sem outro resultado a não ser o desgaste mútuo.
Kléber Mendonça Filho busca em uma narrativa russa o ponto de partida para criar seu curto e sofisticado horror. Com um domínio admirável de técnicas fotográficas e edição, que ajudam a contar a história e a estabelecer a atmosfera (o tempo de cada fotografia em tela não é arbitrário), consegue, em menos de vinte minutos, desenvolver uma narrativa grotesca, profunda e que faz pensar sobre o amadurecimento, as consequências das ações e da liberdade, a morte metafórica dos pais e as aflições passadas a cada geração.
A proposta inicial é criativa e a concepção dos personagens sustenta um visual tanto lindo quanto desagradável. Entretanto, o desenrolar literal que o curta segue, levando ao pé da letra o que antes parecia carregar um sentido muito mais metafórico, empobrece as possibilidades, condenando-o a sobreviver de gags visuais dignas de um desenho animado qualquer.
Acredito que a experiência do livro deva ser, de alguma forma, mais completa. Nas telas, o formato mudo e reduzido ao essencial resulta em um curta, de alguma forma, charmoso, mas que vale mais pelo experimentalismo do traço do pelo objetivo de se produzir algo a mais.
Os vestígios ditatoriais que resistem na democracia alemã são materializados na figura militarizada que, aqui, constitui o porta-voz do fascismo reprimido e também o próprio denunciado. Apesar da excelente substância de análise, o assunto é denso demais para ser tratado em tão pouco tempo, e aqui toda essa matéria histórica e social acaba sendo sugerida de forma menos corrosiva do que se poderia. A frase final deixa um gostinho de quero-mais.
Em poucos minutos, Agnès Varda se concentra sobre um instante bem preciso de um caso muito específico e, daí, extrair os principais pontos da dinâmica de funcionamento dos Panteras Negras e uma exemplificação - sempre atual - da arbitrariedade das forças públicas em relação ao negro na história dos Estados Unidos. Aliando imagens ricas a depoimentos curtos e inspiradores, um bom documento que ajuda a reconstruir visões de quem testemunhou esse grupo político de perto ou até fez parte dele.
Um exercício narrativo e cinematográfico que se apropria de elementos comuns ao imaginário sobre faroeste e os reposiciona em um curta-metragem intenso, que concentra em poucos minutos um leque farto de referências e momentos faiscantes, além de ser belissimamente filmado e com frescor do cinema nacional.
As cenas de tiroteio apresentam técnicas de direção que lembram o melhor do cinema recente de Tarantino, incorporando também uma fina teatralidade que imprime uma marca própria ao curta, não condenando-o a ocupar o espaço de uma sombra tarantinesca, como poderia ter sido.
Convém ainda comentar a boa caracterização dos personagens, que ajuda na confecção do universo próprio da obra, e a excelente cena final, na mesma medida provocante e inventiva.
Um tema importante e duro. Tratá-lo, portanto, através de metáforas e analogias divertidas - e não menos sensíveis - requer inteligência. A intenção aqui é ótima, mas talvez tudo tenha ficado muito óbvio e linear demais. Não me pegou como deveria.
O texto comovente e a fragmentação das cenas e das imagens compõem uma breve, porém forte visita às memórias do narrador. Cumpre seu papel de transformar em cinema o conteúdo de um disco que é primoroso demais para se realizar apenas como música.
"Eu prefiro ficar aqui, sentaaado na sombra quietinho, cheiraaaaaando as flores". O contraponto entre a doçura de Ferdinando e o tom satírico com o qual o toureiro é construído cria um efeito muito interessante.
Tecnicamente impecável, o ponto mais alto deste curta reside nos ambientes detalhadamente construídos e como eles, através de sua cuidadosa apresentação, vão vagarosamente revelando - e, ao mesmo tempo, sugerindo - toda uma narrativa que ultrapassa os limites do filme. Genial!
Os traços são muito bonitos, o texto é comovente, mas eu não me surpreenderia se o logotipo de alguma marca surgisse no final, pois não está muito longe de um comercial bonito de qualquer coisa.
A Sabiá Sabiazinha
3.5 67 Assista AgoraA ideia é bem executada dentro da curta duração, proporcionando sequências musicais com gags visuais divertidas e soluções criativas.
Mas, visualmente, achei uma animação feia. Chega a haver um desacordo técnico entre o visual feio e a ótima trilha sonora instrumental, que, em natalina e fabulosa, em diversos momentos relembra as clássicas trilhas de Danny Elfman para animações.
A Visita
4.0 2É fofo, comove principalmente pela possível identificação que milhares de espectadores podem ter diante da figura da velhinha, e termina com aquele happy-end suspeito - como a própria sinopse já entrega, a idade vai avançando e embaralhando a realidade. Não diz mais do que isso, mas é o que dá para fazer em 9 minutos. Funciona como exercício imaginativo, de criação.
Opera
3.8 55Há tanto para se ver, tantos detalhes co-ocorrendo, que a experiência pode ser fascinante ou desgastante. Uma visão geral e atenta, porém, permite que a mensagem geral seja transmitida. Ainda que seja um assunto já muito tratado, a abordagem não deixa de ser inovadora e válida, além do aceno de que todos os acontecimentos de uma sociedade estão inequivocamente interligados, como micro-ações, realizadas por indivíduos minúsculos, diante de algo maior e mais importante que a frágil individualidade de cada um. A trilha sonora catastrófica atrapalha, conferindo ao curta um aspecto mais de videogame do que de cinema.
Genius Loci
3.1 55Acredito que um filme com esse visual nem precisa de um roteiro mais concreto, pois a experiência estética já satisfaz. É mágica a forma como as formas e os sons, em nome do caos, se desmancham, se reconfiguram, se metamorfoseiam, a ponto de um objeto ou indivíduo nunca ser só ele mesmo, mas sempre se apresentar também na forma de um animal ou similar. Assim, a cidade adquire para a inquieta personagem um aspecto metafísico, bagunçado, inconstante, bem como sua relação com os outros seres humanos, assustadores ou inalcançáveis. O texto em si é minimalista e não revela nada realmente. Não se permite total compreensão em nenhum dos níveis desse curta.
A Guiana Sumiu...
3.4 4Tudo gira em torno de Fábio Porchat. Seu texto é engraçado e inteligente; seu personagem não poderia casar melhor com a proposta e, obviamente, destila as mais afiadas críticas; as músicas dão o toque final para deixar tudo ainda mais absurdo e - por que não? - genial. Em algum momento, começa a cansar, o que parece comum de trabalhos mais longos do Porta dos Fundos, e a ideia do paternalismo que sustenta a canção final não foi a solução mais divertida para se aproximar do fim. O resultado, entretanto, é bastante positivo, e certamente merece uma posição de destaque no que o humor brasileiro vem produzindo.
A Lua
4.5 544 Assista AgoraUm exercício gratuito de criatividade e fantasia para deixar os espectadores com vontade de ver mais. O visual é lindo, contrastando tons de azul e dourado que massageiam os olhos; a decisão de calar os personagens, permitindo-lhes somente grunhidos, diverte e ajuda a manter o foco na poesia dos movimentos; por fim, a ideia de dar à lua o toque fabular que justifica o curta é um presente para nosso imaginário.
Lava
3.9 178 Assista AgoraQue coisa mais sem-graça.
Kitbull
4.5 148 Assista AgoraPersonagens fofos que, de dentro de sua solidão, subvertem os papéis aos quais estão naturalmente destinados: uma história extremamente simples e com pouco tempo para conquistar o espectador. Portanto, o curta lança mão de alguns artifícios já conhecidos para isso (violência do dono, enganos que os afastam, acidentes que os unem, etc.). Vale a pena ver tudo isso em um tempo tão curto e com um traço tão agradável - a concepção visual do gato, minúsculo, sem boca e de olhos gigantes, é muito boa.
The Maker
4.5 269Enigmático e obscuro na medida certa, o curta deixa certo incômodo ao longo de sua execução e, com o desfecho abrupto, um sentimento de solidão e incapacidade de interrompimento de ciclos. Não sei se tem muito mais para dizer além daquilo que sua superfície sugere, mas que é uma experiência interessante para uma duração tão curta, isso é inegável.
Viagem à Lua
4.4 857 Assista AgoraA fundação do cinema imaginativo que conhecemos hoje, como todos sabem, não teria se constituído sem que essa obra, em momentos de muita curiosidade quanto às potencialidades do cinema, não tivesse, tão cedo, abertas tantas possibilidades narrativas. A concepção futurista ainda é atual, pois se pauta em um desejo humano de exploração que nunca se tornou obsoleto, e possibilita que a criatividade ao redor do desconhecidos e a poesia na idealização do espaço sideral (a imagem da lua e dos planetas é um dos frames mais lindos da história) coexistam. Obra importante e inesquecível.
Dimensões do Diálogo
4.4 188Há tanto para se falar de um filme que, em pouco tempo, metaforiza com estranhamento, humor e morbidez a instabilidade das relações humanas, que vou retirar as três principais reflexões que tive, uma para cada segmento: somos resultado dos dejetos comunicativos dos que vieram antes; se fundir ao outro é parte do processo de se rematerializar; mesmo com as coisas certas para dizer, incorremos constantemente no ato de expressá-las na hora errada, originando um embate sem certo e errado, e sem outro resultado a não ser o desgaste mútuo.
Inalação
3.3 4Talvez tenha sido muito curto para me suscitar qualquer reflexão mais profunda.
Vinil Verde
3.7 173 Assista AgoraKléber Mendonça Filho busca em uma narrativa russa o ponto de partida para criar seu curto e sofisticado horror. Com um domínio admirável de técnicas fotográficas e edição, que ajudam a contar a história e a estabelecer a atmosfera (o tempo de cada fotografia em tela não é arbitrário), consegue, em menos de vinte minutos, desenvolver uma narrativa grotesca, profunda e que faz pensar sobre o amadurecimento, as consequências das ações e da liberdade, a morte metafórica dos pais e as aflições passadas a cada geração.
Une Histoire Vertebrale
3.4 5A proposta inicial é criativa e a concepção dos personagens sustenta um visual tanto lindo quanto desagradável. Entretanto, o desenrolar literal que o curta segue, levando ao pé da letra o que antes parecia carregar um sentido muito mais metafórico, empobrece as possibilidades, condenando-o a sobreviver de gags visuais dignas de um desenho animado qualquer.
The Sky-Colored Seed
3.5 5Acredito que a experiência do livro deva ser, de alguma forma, mais completa. Nas telas, o formato mudo e reduzido ao essencial resulta em um curta, de alguma forma, charmoso, mas que vale mais pelo experimentalismo do traço do pelo objetivo de se produzir algo a mais.
Machorka-Muff
3.3 5 Assista AgoraOs vestígios ditatoriais que resistem na democracia alemã são materializados na figura militarizada que, aqui, constitui o porta-voz do fascismo reprimido e também o próprio denunciado. Apesar da excelente substância de análise, o assunto é denso demais para ser tratado em tão pouco tempo, e aqui toda essa matéria histórica e social acaba sendo sugerida de forma menos corrosiva do que se poderia. A frase final deixa um gostinho de quero-mais.
Os Panteras Negras
4.3 37 Assista AgoraEm poucos minutos, Agnès Varda se concentra sobre um instante bem preciso de um caso muito específico e, daí, extrair os principais pontos da dinâmica de funcionamento dos Panteras Negras e uma exemplificação - sempre atual - da arbitrariedade das forças públicas em relação ao negro na história dos Estados Unidos. Aliando imagens ricas a depoimentos curtos e inspiradores, um bom documento que ajuda a reconstruir visões de quem testemunhou esse grupo político de perto ou até fez parte dele.
Soledad
3.7 3Um exercício narrativo e cinematográfico que se apropria de elementos comuns ao imaginário sobre faroeste e os reposiciona em um curta-metragem intenso, que concentra em poucos minutos um leque farto de referências e momentos faiscantes, além de ser belissimamente filmado e com frescor do cinema nacional.
As cenas de tiroteio apresentam técnicas de direção que lembram o melhor do cinema recente de Tarantino, incorporando também uma fina teatralidade que imprime uma marca própria ao curta, não condenando-o a ocupar o espaço de uma sombra tarantinesca, como poderia ter sido.
Convém ainda comentar a boa caracterização dos personagens, que ajuda na confecção do universo próprio da obra, e a excelente cena final, na mesma medida provocante e inventiva.
Bao
4.2 197 Assista AgoraUm tema importante e duro. Tratá-lo, portanto, através de metáforas e analogias divertidas - e não menos sensíveis - requer inteligência. A intenção aqui é ótima, mas talvez tudo tenha ficado muito óbvio e linear demais. Não me pegou como deveria.
Scenes from the Suburbs
4.3 245O texto comovente e a fragmentação das cenas e das imagens compõem uma breve, porém forte visita às memórias do narrador. Cumpre seu papel de transformar em cinema o conteúdo de um disco que é primoroso demais para se realizar apenas como música.
Ferdinando, o Touro
4.0 44"Eu prefiro ficar aqui, sentaaado na sombra quietinho, cheiraaaaaando as flores". O contraponto entre a doçura de Ferdinando e o tom satírico com o qual o toureiro é construído cria um efeito muito interessante.
Garden Party
4.0 64Tecnicamente impecável, o ponto mais alto deste curta reside nos ambientes detalhadamente construídos e como eles, através de sua cuidadosa apresentação, vão vagarosamente revelando - e, ao mesmo tempo, sugerindo - toda uma narrativa que ultrapassa os limites do filme. Genial!
Dear Basketball
3.7 70Os traços são muito bonitos, o texto é comovente, mas eu não me surpreenderia se o logotipo de alguma marca surgisse no final, pois não está muito longe de um comercial bonito de qualquer coisa.
Espaço Negativo
4.3 59CARALHO