"Você acha que tem todas as cartas porque pode fazer o que quiser neste mundo? Eu digo, vá em frente, saia do sério, pinte o céu com arco-íris. Mas é o seguinte, o gado não vai a lugar nenhum. Eles gostam do meu mundo. Eles não gostam desse... desse sentimentalismo. Eles não querem liberdade ou empoderamento. Eles querem ser controlados. Eles anseiam pelo conforto da certeza, e isso significa que vocês dois (apontando para Neo e Trinity) de volta em seu casulo, inconscientes e sozinhos, assim como eles. "
Eles gostam do meu mundo = indústria cinematográfica que lança remake ou filme de herói genérico 5 vezes por ano.
Na homenagem mais espetacular do filme ao Bullet Time, os atores Keanu Reeves e Neil Patrick Harris parecem se mover em velocidades diferentes dentro do mesmo quadro.
Lana queria que um ator se movesse super rápido e um se movendo super lento e ainda estarem no mesmo quadro juntos, interagindo.
A resposta foi usar um equipamento estereoscópico. Em vez de ter cada câmera em parallax como se fosse filmar em 3D, as câmeras foram alinhadas para filmar uma visão idêntica com uma gravando 6K 120fps e o outra 6K 8 fps. As filmagens foram então combinadas na pós-produção para criar uma cena de 1 minuto de duração reproduzida em velocidade normal do filme 24fps.
A quantidade de bots zumbis agindo em horda nos comentários e repetindo as mesmas coisas sem conseguir abstrair o subtexto e proposta do filme só prova que a Lana Wachowski acertou em cheio! Eles estão repetindo o mesmo comportamento do filme, quebraram a quarta parede.
Essa continuação muito provavelmente vai dar prejuízo à Warner Bros. e não vai render continuações ad eternum. Se fosse o Kevin Feigi produzindo, iria fazer 2 bilhões e estaria com nota 5 aqui. Lana Wachowski fez exatamente o que deveria ter feito, ela deu prejuízo a uma grande corporação que iria fazer uma continuação sem a presença dela e levantou uma discussão sobre a indústria cinematográfica atual que é vazia, boba e busca sempre nos deixar na zona de conforto.
A coisa menos criativa do mundo é pedir para uma diretora repetir o mesmo filme que ela fez. É o que a maioria das pessoas que vão ver filmes Blockbuster querem, essa zona de conforto, gostar antes de assistir, ter o filme como produto. Paguei e o filme não tentou me agradar ? Que absurdo!!!! O que muita gente não entendeu é que esse filme não foi feito para agradar ninguém, foi feito para gerar a discussão e dividir opiniões. Quem critica por não ter cena de ação é a mesma coisa que criticar filme da Marvel por não ter profundidade, são outras propostas.
"É tão fácil esquecer o quanto de ruído a Matrix bombeia em sua cabeça".
Matrix Resurrections é um filme que está à frente do seu tempo, como todas as obras-primas das quais Lana Wachowski fez parte. Uma sátira e crítica ao cinema moderno, do excesso de (des) informação, dos filmes que nada têm a dizer ou razão de existir, produtos que existem apenas para continuar a minar as nossas mentes e extrair a nossa energia e força de vontade nos mantendo na zona de conforto.
A trilogia Matrix foi um grande sucesso de bilheteria e criou a forma e o estilo (CGI e ação sexy) para a era dos filmes de super-heróis hoje, mas a trilogia Matrix nunca foi só isso. Pegue a Marvel, por exemplo, que seus filmes são parte de um conto infantil sem fim e tem confortado adultos e crianças em todo o mundo com suas soluções fáceis para resolver problemas e personagens em preto e branco. Lana está assumindo que a maioria da audiência que assistiram à Trilogia Matrix 18 anos atrás não entenderam a substância e a narrativa (o wake up call para o mundo real), apenas se importaram com a forma e o estilo.
"Eles pegaram sua história. Algo que significava muito para pessoas como eu. E a transformaram em algo trivial."
Nesse cenário, Lana não quer adicionar mais barulho a esta orquestra que a indústria implantou, ela não quer recompensar a Warner Bros. com uma grande bilheteria, ao invés disso ela conscientemente faz um Manifesto em forma de Filme focado apenas na narrativa e conteúdo, o que vai dividir o público e quebrar a zona de conforto de quem trata The Matrix apenas como uma franquia com ação sexy e não um wake up call para quebrar as estruturas de poder e controle.
Talvez o motivo pelo qual o Coringa seja o vilão mais conhecido do mundo dos quadrinhos seja por ele representar um antagonismo que ultrapassa a figura do herói. O Coringa quebra a dinâmica básica vilanesca, pois ele é um arquétipo anárquico que personifica uma desilusão com o sistema e com o ser humano.
Ele é uma indagação/provocação: Se o motivo pelo qual o herói luta é inválido, não existe heróis ou vilões, nem algo pelo qual lutar. É tudo uma questão de perspectiva.
Autores como Alan Moore e Frank Miller entenderam o personagem perfeitamente nesse sentido e Todd Phillips e Scott Silver também reproduzem com eficácia esse sentimento durante todo o roteiro, por conduzir o filme com uma série de confrontos de narrativas que são interpretadas pela perspectiva do Arthur Fleck.
Arthur começa a ser moldado involuntariamente pelo ambiente que vive, se vê impotente para reagir, logo, seu renascimento como Coringa ( arquétipo/desilusão ) é inevitável ante a tudo que viveu, e isso o empodera para agir ( apenas quando ele ressignifica a perspectiva ). Essa dinâmica retrata bem como são formados os mass shooters ou serial killers, e não acho que de maneira nenhuma o filme endosse esse comportamento.
Vale ressaltar que a partir do momento que Arthur deixa de tomar a medicação, tudo pode ter caráter interpretativo e ilusório, dando ao filme uma áurea fantástica, com acontecimentos que podem ser encarados como meras visões distorcidas, o que combina e muito com o personagem
Tudo isso contando com uma trilha sonora melancólica da talentosa Hildur Guðnadóttir e o aspecto visual e temático do final dos anos 70 e filmes do Scorsese como Rei da Comédia e Taxi Driver, que de fato são bem influentes no filme e com paralelos nada sutis, mas que ao meu ver só enriquecem o filme. A escolha do período é meramente estética, pois o roteiro se encaixaria perfeitamente nos dias atuais, já que a decadência dos governos e aproveitamento das grandes corporações é algo que nunca sai de moda, o que poderia acentuar ainda mais a mensagem de luta de classes e decadente sobre a sociedade trazida pelo filme.
Última coisa: Joaquin Phoenix. Presente em praticamente todo frame do filme, compõe uma atuação sentimental do personagem como nunca antes vista, realmente é um puta ator que já se provou diversas vezes e que nesse filme está espetacular e discordo de algumas pessoas dizendo que ele se repete por causa de trabalhos como The Master (2012) e You Were Never Really Here (2017), a vulnerabilidade está presente no Coringa, mas a psicopatia e catarse, principalmente no final do filme é algo único e que irá garantir o Oscar sem dúvidas.
Filmaço que consolida ainda mais Jordan Peele como um dos diretores de destaque da sua geração. Existem diretores que deixam sua assinatura clara em seus filmes, seja pelo roteiro, estética ou ação. Ex: Tarantino, Tim Burton e Scorsese. Já podemos dizer que Peele possui a mistura de humor, desconforto, terror e política como sua assinatura. Isso pode agradar muito quem gosta desse estilo ou o contrário. O filme funciona como entretenimento, com várias cenas inesperadas, tensas e intrigantes e possui camadas interpretativas como o questionamento de quem são os doppelgangers e seus motivos. Acredito que o filme consegue prender o espectador do início ao fim. Tem personagens envolventes, um roteiro original e que faz a audiência refletir. Só isso é algo acima da média, não só de filmes considerados do gênero "terror", mas em geral.
O foco do diretor no filme é a desigualdade social, e isso é reforçado durante todo o tempo: seja pela campanha "Hands Across America", que aconteceu nos anos 80 nos estados unidos para arrecadar fundos para ajudar desabrigados, pela constante comparação do patrimônio da família dos protagonistas com a da família branca, ou pela comparação da realidade desprivilegiada e dura que os doppelgangers tiveram. A comparação com a realidade que imigrantes, pobres e negros vivem no U.S é clara.
É um daqueles filmes que é necessário uma segunda ou terceira reassistida, pois contém muitos detalhes relevantes para a história que está sendo contada.
OBS: O filme vale apena só pela atuação espetacular da Lupita Nyong'O ( é impressionante como ela consegue ser bela e assustadora ao mesmo tempo, o trabalho vocal dela no filme também é muito bom ).
Depois de um ano com "Raw" e "Mother!", mais um filme com protagonista feminina forte e em processo de descoberta e conflito. No caso de Thelma, a descoberta é na verdade uma aceitação de seus desejos como sendo a sua natureza definitiva (várias simbologias da natureza durante o longa) e o conflito acontece em todos os momentos que esses desejos são reprimidos (seja na religião cristã ou autoridade dos pais). O filme começa com Thelma tendo novas experiências, provocações e sentimentos, esses desejos se transformam em tentações e culpa por conta de sua criação religiosa, o que impede que ela sacie suas vontades. Sejam essas vontades sexuais ou sejam anti-éticas, elas a definem como pessoa. O que resulta dessa culpa são eventos que podem ser considerados alegóricos ou não para o espectador, junto com um suspense sobre o passado da família muito bem construído que funciona como um puzzle para a audiência. Atuação excelente, fotografia intrigante, trilha sonora precisa e apoteótica em alguns pontos, Thelma é um thriller sobre descoberta, conflito e aceitação e um dos melhores filmes do ano.
Thelma sempre age segundo seus interesses, é uma completa egoísta e isso é representado no filme como um dom, como algo poderoso no qual ela se sente superior as outras pessoas por possuir, mas que sempre foi reprimido por conta da religião cristã ou pelos pais. Ela aceita esse "dom" completamente no final do filme. Nesse aspecto, me lembra muito o filme "The Witch" pela filosofia satanista e pela repressão a mulher como um ser com desejos e o empoderamento ao se aceitar. É interessante notar também a brincadeira com o nome, Thelma e Thelema ("Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei").
Não traz nada de novo sobre as condições que animais são submetidos ou como a estrutura capitalista funciona com suas amarras políticas para favorecer o lucro de grandes corporações. É um filme que parte dessa premissa, e não chega a lugar nenhum. Os seus personagens são unilaterais, os bons são apresentados como 100% bons e os maus são caracterizados de um jeito bem desnecessário para forçar uma antipatia do público que seria natural. Além de seus personagens fracos, o roteiro contém uma série de diálogos expositivos, seja para tentar justificar ainda mais as ações inviáveis no mundo real dos ativistas, como pra tentar dar profundidade as irmãs Mirando.
Jake Gyllenhaal o que foi essa atuação ? Que final ridículo foi aquele da Nancy Mirando com todo o seu poder abrir mão do porco mais valioso que lhe renderia muito mais dinheiro pra aceitar uma troca ? Porque ela não ficou com as duas coisas ? Se ela é movida por lucro era a decisão óbvia a ser feita, a menina não tem poder de barganha.
Filme fantástico, uma verdadeira aula cinematográfica, filosófica e sobre o social. Toda a construção do ambiente vivido é muito boa, tanto interior como exterior. Como já foi dito, a simbologia com a caverna de Platão é óbvia para qualquer filme com essa premissa, a comparação com governos ditatoriais é válida também, assim como o pai poderia ser comparável as elites dominantes capitalistas e os filhos seriam um reflexo da alienação classista, ou com mandamentos e crendices religiosas, mas o filme na minha visão engloba uma característica que está presente em todas essas formas de opressões: o DOGMA. E Lanthimos e Filippou conseguem expressar de forma eficaz durante toda a linha narrativa como o pai usa de sua autoridade para estabelecer dogmas e como seus subalternos agem fielmente de acordo com eles. Como a metáfora do cachorro e da argila, assim somos nós, moldados de acordo com o ambiente.
O final não é nada ambíguo e interpretativo, é bem conclusivo na realidade. Durante o roteiro é estabelecido as condições ( dogmas ) para se sair da caverna de platão. Um único diálogo aos 57:19 define o final do filme:
Pai: Quando um filho está pronto para deixar sua casa...?
Filha mais velha: Quando cai o seu canino direito.
Pai: Ou o esquerdo, tanto faz. Nesse momento, o corpo está pronto para enfrentar todos os perigos. Para deixar a casa a salvo se deve usar o carro. Quando se pode aprender a dirigir?
Filho: Quando o canino direito volta a crescer. Ou o esquerdo, tanto faz.
Ou seja, a filha mais velha não sairá da mala enquanto o dente canino não crescer novamente. Ela foi moldada assim, arrancou o dente canino seguindo o dogma, já que em nenhum momento se dizia como o dente ia cair, ela foi extremista no dogma e o arrancou.
Um filme perfeito para os dias que vivemos. Depois da segunda guerra mundial, havia um consenso que houve no Holocausto nazista, os fatos históricos e sobreviventes eram a prova do horror feito. Com o passar do tempo, "a história se repete", surgem pessoas e grupos que começam a negar esses acontecimentos não com provas, mas movidos simplesmente pelo ódio/machismo/racismo/homofobia/antisemitismo. Para essas pessoas e quem as segue, não importa a validez dos argumentos, mas o discurso em si, e é isso que pessoas como David Irving, Bolsonaro, Trump, Marine le pen fazem atualmente. É um conceito chamado de "pós-verdade", aonde a ideia passada ao povo ( maioria dominante ) é mais importante do que a racionalidade, coisas como: aquecimento global não existir, holocausto não existir, racismo ou machismo não existirem e uma luta constante contra o politicamente correto servem para legitimar pensamentos ultrapassados e extremistas. O filme tem boas atuações, destaque para sempre ótima Rachel Weizs e Timothy Spall encarnando um ser que dá desprezo ao espectador. O roteiro é bem procedural e simples e o filme tem mais méritos por ser uma história real. Vale muito a pena.
Mais um filme saturado da Marvel. Mesmo com menos de 2 horas de duração passa a sensação de cansaço. Trama previsível e repetida, auto explicativa e muitas vezes contraditória com as regras estabelecidas no mundo mágico, e por fim, força diversas piadas que Benedict Cumberbatch visivelmente inconfortável, as fala em seu sotaque americano irritante para quem o conhece em outros trabalhos. Efeitos visuais bons e o final surpreende e inova o gênero de filmes de heróis, apesar de ser conveniente. Para mim poderia ter 30 minutos só com as cenas de ação e o final que seria mais honesto, sem a trama qualquer coisa enlatada que só serve pra passar o tempo e fazer o espectador médio e crianças rirem.
Comprar Ingressos
Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.
Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.
Matrix Resurrections
2.8 1,3K Assista AgoraMensagem do Analista para alguns que viram o filme:
"Você acha que tem todas as cartas porque pode fazer o que quiser neste mundo? Eu digo, vá em frente, saia do sério, pinte o céu com arco-íris. Mas é o seguinte, o gado não vai a lugar nenhum. Eles gostam do meu mundo. Eles não gostam desse... desse sentimentalismo. Eles não querem liberdade ou empoderamento. Eles querem ser controlados. Eles anseiam pelo conforto da certeza, e isso significa que vocês dois (apontando para Neo e Trinity) de volta em seu casulo, inconscientes e sozinhos, assim como eles. "
Eles gostam do meu mundo = indústria cinematográfica que lança remake ou filme de herói genérico 5 vezes por ano.
Matrix Resurrections
2.8 1,3K Assista AgoraEsse filme foi mais sutil nas cenas de ação, mas Lana Wachowski mais uma vez usou técnicas que comprovam sua maestria na sétima arte:
Na homenagem mais espetacular do filme ao Bullet Time, os atores Keanu Reeves e Neil Patrick Harris parecem se mover em velocidades diferentes dentro do mesmo quadro.
Lana queria que um ator se movesse super rápido e um se movendo super lento e ainda estarem no mesmo quadro juntos, interagindo.
A resposta foi usar um equipamento estereoscópico. Em vez de ter cada câmera em parallax como se fosse filmar em 3D, as câmeras foram alinhadas para filmar uma visão idêntica com uma gravando 6K 120fps e o outra 6K 8 fps. As filmagens foram então combinadas na pós-produção para criar uma cena de 1 minuto de duração reproduzida em velocidade normal do filme 24fps.
Matrix Resurrections
2.8 1,3K Assista AgoraA quantidade de bots zumbis agindo em horda nos comentários e repetindo as mesmas coisas sem conseguir abstrair o subtexto e proposta do filme só prova que a Lana Wachowski acertou em cheio! Eles estão repetindo o mesmo comportamento do filme, quebraram a quarta parede.
Matrix Resurrections
2.8 1,3K Assista AgoraEssa continuação muito provavelmente vai dar prejuízo à Warner Bros. e não vai render continuações ad eternum. Se fosse o Kevin Feigi produzindo, iria fazer 2 bilhões e estaria com nota 5 aqui. Lana Wachowski fez exatamente o que deveria ter feito, ela deu prejuízo a uma grande corporação que iria fazer uma continuação sem a presença dela e levantou uma discussão sobre a indústria cinematográfica atual que é vazia, boba e busca sempre nos deixar na zona de conforto.
Matrix Resurrections
2.8 1,3K Assista AgoraA coisa menos criativa do mundo é pedir para uma diretora repetir o mesmo filme que ela fez. É o que a maioria das pessoas que vão ver filmes Blockbuster querem, essa zona de conforto, gostar antes de assistir, ter o filme como produto. Paguei e o filme não tentou me agradar ? Que absurdo!!!! O que muita gente não entendeu é que esse filme não foi feito para agradar ninguém, foi feito para gerar a discussão e dividir opiniões. Quem critica por não ter cena de ação é a mesma coisa que criticar filme da Marvel por não ter profundidade, são outras propostas.
Matrix Resurrections
2.8 1,3K Assista Agora"É tão fácil esquecer o quanto de ruído a Matrix bombeia em sua cabeça".
Matrix Resurrections é um filme que está à frente do seu tempo, como todas as obras-primas das quais Lana Wachowski fez parte. Uma sátira e crítica ao cinema moderno, do excesso de (des) informação, dos filmes que nada têm a dizer ou razão de existir, produtos que existem apenas para continuar a minar as nossas mentes e extrair a nossa energia e força de vontade nos mantendo na zona de conforto.
A trilogia Matrix foi um grande sucesso de bilheteria e criou a forma e o estilo (CGI e ação sexy) para a era dos filmes de super-heróis hoje, mas a trilogia Matrix nunca foi só isso. Pegue a Marvel, por exemplo, que seus filmes são parte de um conto infantil sem fim e tem confortado adultos e crianças em todo o mundo com suas soluções fáceis para resolver problemas e personagens em preto e branco. Lana está assumindo que a maioria da audiência que assistiram à Trilogia Matrix 18 anos atrás não entenderam a substância e a narrativa (o wake up call para o mundo real), apenas se importaram com a forma e o estilo.
"Eles pegaram sua história. Algo que significava muito para pessoas como eu. E a transformaram em algo trivial."
Nesse cenário, Lana não quer adicionar mais barulho a esta orquestra que a indústria implantou, ela não quer recompensar a Warner Bros. com uma grande bilheteria, ao invés disso ela conscientemente faz um Manifesto em forma de Filme focado apenas na narrativa e conteúdo, o que vai dividir o público e quebrar a zona de conforto de quem trata The Matrix apenas como uma franquia com ação sexy e não um wake up call para quebrar as estruturas de poder e controle.
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraTalvez o motivo pelo qual o Coringa seja o vilão mais conhecido do mundo dos quadrinhos seja por ele representar um antagonismo que ultrapassa a figura do herói. O Coringa quebra a dinâmica básica vilanesca, pois ele é um arquétipo anárquico que personifica uma desilusão com o sistema e com o ser humano.
Ele é uma indagação/provocação: Se o motivo pelo qual o herói luta é inválido, não existe heróis ou vilões, nem algo pelo qual lutar. É tudo uma questão de perspectiva.
Autores como Alan Moore e Frank Miller entenderam o personagem perfeitamente nesse sentido e Todd Phillips e Scott Silver também reproduzem com eficácia esse sentimento durante todo o roteiro, por conduzir o filme com uma série de confrontos de narrativas que são interpretadas pela perspectiva do Arthur Fleck.
Arthur começa a ser moldado involuntariamente pelo ambiente que vive, se vê impotente para reagir, logo, seu renascimento como Coringa ( arquétipo/desilusão ) é inevitável ante a tudo que viveu, e isso o empodera para agir ( apenas quando ele ressignifica a perspectiva ). Essa dinâmica retrata bem como são formados os mass shooters ou serial killers, e não acho que de maneira nenhuma o filme endosse esse comportamento.
Vale ressaltar que a partir do momento que Arthur deixa de tomar a medicação, tudo pode ter caráter interpretativo e ilusório, dando ao filme uma áurea fantástica, com acontecimentos que podem ser encarados como meras visões distorcidas, o que combina e muito com o personagem
Tudo isso contando com uma trilha sonora melancólica da talentosa Hildur Guðnadóttir e o aspecto visual e temático do final dos anos 70 e filmes do Scorsese como Rei da Comédia e Taxi Driver, que de fato são bem influentes no filme e com paralelos nada sutis, mas que ao meu ver só enriquecem o filme. A escolha do período é meramente estética, pois o roteiro se encaixaria perfeitamente nos dias atuais, já que a decadência dos governos e aproveitamento das grandes corporações é algo que nunca sai de moda, o que poderia acentuar ainda mais a mensagem de luta de classes e decadente sobre a sociedade trazida pelo filme.
Última coisa: Joaquin Phoenix. Presente em praticamente todo frame do filme, compõe uma atuação sentimental do personagem como nunca antes vista, realmente é um puta ator que já se provou diversas vezes e que nesse filme está espetacular e discordo de algumas pessoas dizendo que ele se repete por causa de trabalhos como The Master (2012) e You Were Never Really Here (2017), a vulnerabilidade está presente no Coringa, mas a psicopatia e catarse, principalmente no final do filme é algo único e que irá garantir o Oscar sem dúvidas.
Mulheres Alteradas
2.6 67Um dos filmes brasileiros mais esteticamente bonitos. Fotografia que se destaca, me faz assistir o filme até o final por conta disso.
Nós
3.8 2,3K Assista AgoraFilmaço que consolida ainda mais Jordan Peele como um dos diretores de destaque da sua geração. Existem diretores que deixam sua assinatura clara em seus filmes, seja pelo roteiro, estética ou ação. Ex: Tarantino, Tim Burton e Scorsese. Já podemos dizer que Peele possui a mistura de humor, desconforto, terror e política como sua assinatura. Isso pode agradar muito quem gosta desse estilo ou o contrário.
O filme funciona como entretenimento, com várias cenas inesperadas, tensas e intrigantes e possui camadas interpretativas como o questionamento de quem são os doppelgangers e seus motivos. Acredito que o filme consegue prender o espectador do início ao fim. Tem personagens envolventes, um roteiro original e que faz a audiência refletir. Só isso é algo acima da média, não só de filmes considerados do gênero "terror", mas em geral.
O foco do diretor no filme é a desigualdade social, e isso é reforçado durante todo o tempo:
seja pela campanha "Hands Across America", que aconteceu nos anos 80 nos estados unidos para arrecadar fundos para ajudar desabrigados, pela constante comparação do patrimônio da família dos protagonistas com a da família branca, ou pela comparação da realidade desprivilegiada e dura que os doppelgangers tiveram.
A comparação com a realidade que imigrantes, pobres e negros vivem no U.S é clara.
É um daqueles filmes que é necessário uma segunda ou terceira reassistida, pois contém muitos detalhes relevantes para a história que está sendo contada.
OBS: O filme vale apena só pela atuação espetacular da Lupita Nyong'O ( é impressionante como ela consegue ser bela e assustadora ao mesmo tempo, o trabalho vocal dela no filme também é muito bom ).
Thelma
3.5 342 Assista AgoraDepois de um ano com "Raw" e "Mother!", mais um filme com protagonista feminina forte e em processo de descoberta e conflito. No caso de Thelma, a descoberta é na verdade uma aceitação de seus desejos como sendo a sua natureza definitiva (várias simbologias da natureza durante o longa) e o conflito acontece em todos os momentos que esses desejos são reprimidos (seja na religião cristã ou autoridade dos pais). O filme começa com Thelma tendo novas experiências, provocações e sentimentos, esses desejos se transformam em tentações e culpa por conta de sua criação religiosa, o que impede que ela sacie suas vontades. Sejam essas vontades sexuais ou sejam anti-éticas, elas a definem como pessoa. O que resulta dessa culpa são eventos que podem ser considerados alegóricos ou não para o espectador, junto com um suspense sobre o passado da família muito bem construído que funciona como um puzzle para a audiência. Atuação excelente, fotografia intrigante, trilha sonora precisa e apoteótica em alguns pontos, Thelma é um thriller sobre descoberta, conflito e aceitação e um dos melhores filmes do ano.
Thelma sempre age segundo seus interesses, é uma completa egoísta e isso é representado no filme como um dom, como algo poderoso no qual ela se sente superior as outras pessoas por possuir, mas que sempre foi reprimido por conta da religião cristã ou pelos pais. Ela aceita esse "dom" completamente no final do filme. Nesse aspecto, me lembra muito o filme "The Witch" pela filosofia satanista e pela repressão a mulher como um ser com desejos e o empoderamento ao se aceitar. É interessante notar também a brincadeira com o nome, Thelma e Thelema ("Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei").
Okja
4.0 1,3K Assista AgoraNão traz nada de novo sobre as condições que animais são submetidos ou como a estrutura capitalista funciona com suas amarras políticas para favorecer o lucro de grandes corporações. É um filme que parte dessa premissa, e não chega a lugar nenhum. Os seus personagens são unilaterais, os bons são apresentados como 100% bons e os maus são caracterizados de um jeito bem desnecessário para forçar uma antipatia do público que seria natural. Além de seus personagens fracos, o roteiro contém uma série de diálogos expositivos, seja para tentar justificar ainda mais as ações inviáveis no mundo real dos ativistas, como pra tentar dar profundidade as irmãs Mirando.
Jake Gyllenhaal o que foi essa atuação ? Que final ridículo foi aquele da Nancy Mirando com todo o seu poder abrir mão do porco mais valioso que lhe renderia muito mais dinheiro pra aceitar uma troca ? Porque ela não ficou com as duas coisas ? Se ela é movida por lucro era a decisão óbvia a ser feita, a menina não tem poder de barganha.
Dente Canino
3.8 1,2K Assista AgoraFilme fantástico, uma verdadeira aula cinematográfica, filosófica e sobre o social. Toda a construção do ambiente vivido é muito boa, tanto interior como exterior. Como já foi dito, a simbologia com a caverna de Platão é óbvia para qualquer filme com essa premissa, a comparação com governos ditatoriais é válida também, assim como o pai poderia ser comparável as elites dominantes capitalistas e os filhos seriam um reflexo da alienação classista, ou com mandamentos e crendices religiosas, mas o filme na minha visão engloba uma característica que está presente em todas essas formas de opressões: o DOGMA.
E Lanthimos e Filippou conseguem expressar de forma eficaz durante toda a linha narrativa como o pai usa de sua autoridade para estabelecer dogmas e como seus subalternos agem fielmente de acordo com eles. Como a metáfora do cachorro e da argila, assim somos nós, moldados de acordo com o ambiente.
O final não é nada ambíguo e interpretativo, é bem conclusivo na realidade. Durante o roteiro é estabelecido as condições ( dogmas ) para se sair da caverna de platão. Um único diálogo aos 57:19 define o final do filme:
Pai: Quando um filho está pronto para deixar sua casa...?
Filha mais velha: Quando cai o seu canino direito.
Pai: Ou o esquerdo, tanto faz.
Nesse momento, o corpo está pronto para enfrentar todos os perigos.
Para deixar a casa a salvo se deve usar o carro.
Quando se pode aprender a dirigir?
Filho: Quando o canino direito volta a crescer.
Ou o esquerdo, tanto faz.
Ou seja, a filha mais velha não sairá da mala enquanto o dente canino não crescer novamente. Ela foi moldada assim, arrancou o dente canino seguindo o dogma, já que em nenhum momento se dizia como o dente ia cair, ela foi extremista no dogma e o arrancou.
Negação
3.8 132 Assista AgoraUm filme perfeito para os dias que vivemos. Depois da segunda guerra mundial, havia um consenso que houve no Holocausto nazista, os fatos históricos e sobreviventes eram a prova do horror feito. Com o passar do tempo, "a história se repete", surgem pessoas e grupos que começam a negar esses acontecimentos não com provas, mas movidos simplesmente pelo ódio/machismo/racismo/homofobia/antisemitismo. Para essas pessoas e quem as segue, não importa a validez dos argumentos, mas o discurso em si, e é isso que pessoas como David Irving, Bolsonaro, Trump, Marine le pen fazem atualmente. É um conceito chamado de "pós-verdade", aonde a ideia passada ao povo ( maioria dominante ) é mais importante do que a racionalidade, coisas como: aquecimento global não existir, holocausto não existir, racismo ou machismo não existirem e uma luta constante contra o politicamente correto servem para legitimar pensamentos ultrapassados e extremistas.
O filme tem boas atuações, destaque para sempre ótima Rachel Weizs e Timothy Spall encarnando um ser que dá desprezo ao espectador. O roteiro é bem procedural e simples e o filme tem mais méritos por ser uma história real. Vale muito a pena.
Doutor Estranho
4.0 2,2K Assista AgoraMais um filme saturado da Marvel. Mesmo com menos de 2 horas de duração passa a sensação de cansaço. Trama previsível e repetida, auto explicativa e muitas vezes contraditória com as regras estabelecidas no mundo mágico, e por fim, força diversas piadas que Benedict Cumberbatch visivelmente inconfortável, as fala em seu sotaque americano irritante para quem o conhece em outros trabalhos. Efeitos visuais bons e o final surpreende e inova o gênero de filmes de heróis, apesar de ser conveniente. Para mim poderia ter 30 minutos só com as cenas de ação e o final que seria mais honesto, sem a trama qualquer coisa enlatada que só serve pra passar o tempo e fazer o espectador médio e crianças rirem.