Embalado pela fotografia dinâmica e autoconsciente, Maestro começa com o pé direito, traduzindo a perspicácia de um diretor em processo de maturação. Aliás, nesse filme, eu prefiro Cooper como realizador do que como ator. Não é a sua fisicalidade, no seu esforço caricato em espelhar os trejeitos e a voz de Bernstein, que nos convida pra dentro da história, é a sua eficiência em retratar a vivacidade da época, sobretudo na primeira metade - além, é claro, do seu inato carisma. Uma vez dentro da trama, somos tragados pela química do casal e pela sensível interpretação de Carrey Mulligan, em seus olhares, inflexões e silêncios.
Apesar disso, no desfecho, o filme não consegue atingir todo o seu potencial dramático, como se estivesse faltando nele uma peça importante. Caso tivesse se dedicado a nos convencer dos sacrifícios pessoais de Bernstein em nome da sua arte, teríamos comprado o seu eterno tormento criativo, incluindo aí o seu problema de autoaceitação. Da mesma forma, se soubéssemos mais sobre a identidade de Felicia pra além do seu papel de mãe ou esposa, teríamos sentido nas entranhas o seu fardo. No geral, Maestro é um filme bacana e bem feito, mas não nos deixa esquecer o que, apesar da sua vaidade, ele poderia ter sido.
Gostei da sutileza, da acidez, da ambiguidade e do caráter contemplativo, mas comete o mesmo equívoco de Oppenheimer ao intercalar diversas subtramas que não se somam, gerando distração. Se conseguisse conectar o enredo familiar ao plot principal, teria sido bem mais certeiro. Ainda assim, não posso negar que é uma experiência bacana e tecnicamente bem realizada. Vou ficar atento ao trabalho do Cord Jefferson.
Sinto, logo existo. Em Pobres Criaturas, não há espaço pra a vida cartesiana.
Quando limitada a um experimento científico, a existência de Bella é passiva, monocromática e mensurada por dados, até surgir na tela, em fontes condensadas, o letreiro de um novo capítulo. É o prenúncio de que o filme está prestes a perder o resquício de pudor que ainda tem.
Ao sair de casa, a vida de Bella se enche de cor, da forma mais absurda possível. Ela toca e é tocada, ri e chora, e, no fim, é esse amálgama de experiências que irá traçar a direção do seu caminho na Terra. Inicialmente, uma criação sem passado, a protagonista conhece e questiona tudo o que encontra pela frente, construindo, dia a dia, uma compreensão mais profunda da realidade e de si mesma.
Ao mergulhar nessa jornada de autodescoberta pelas lentes desajustadas de Yorgos Lanthimos, Pobres Criaturas é o retrato da falsa dicotomia entre teoria e prática, o mundo real e o mundo das ideias. Razão e emoção. Pra construir o nosso senso crítico, a nossa consciência social e identitária, uma depende da outra.
Poucas coisas são tão importantes pra a nossa visão de mundo quanto o arcabouço de situações, conexões e estímulos filtrados pelos nossos sentidos ao longo da vida - aqui materializados pelo sexo. Seja essa visão pragmática ou não. Pra ter o discernimento de quem somos, onde estamos inseridos e no que acreditamos, precisamos ter a audácia de experimentar em um mundo que adora proibir.
Mas, assim como na vida real, nem tudo é hedonismo. Se, por um lado, o filme é narrativa, moral e socialmente disruptivo, por outro, é excessivamente ambíguo em relação às ideias que retrata. Ao fazer Bella associar a sua situação em Paris a um ideal político de liberdade, cruza a linha tênue entre o empoderamento que liberta e aquele que finge libertar, perpetuando, por vezes, os mesmos paradigmas que critica.
Zona de Interesse não é um filme de guerra. É de horror. Daqueles que tensionam os personagens aos poucos e cozinham o espectador em fogo baixo.
Um pai é surpreendido no dia do seu aniversário. Uma mãe esbanja a beleza do seu jardim. Sob as cobertas, o casal relembra as férias na Itália. Rajadas de bala acalentam o seu sono.
O cotidiano da família de um oficial do alto escalão nazista se apresenta pra nós em planos longos e estáticos. Ao retratar o tintilar das louças, o burburinho das crianças e o choro incessante do bebê, o filme nos provoca a ser cúmplices daquela morosidade, do tédio de uma vida bucólica que existe apesar (e a partir) dos assombrosos ruídos dos muros.
Às vésperas de sua transferência, o protagonista afirma que essa é uma vida pela qual vale a pena lutar, como quem precisa convencer a si mesmo de que está fazendo a coisa certa. Mas o mal não se esvai entre os afagos no cachorro, a cordialidade no trabalho, e a inútil tentativa de preservar a inocência dos filhos.
O maior triunfo do filme é construir sua mensagem sobre diversas camadas, criticando esses personagens sem planificá-los, ao mesmo tempo que nos faz reconhecer neles um pouco de nós, da nossa mundanidade.
Jonathan Glazer nos faz um convite a olhar no espelho, abrir as cortinas e lidar com a realidade, por mais dolorosa que seja.
E se as nossas vidas passadas não forem, necessariamente, existências pregressas em outros corpos? E se cada uma dessas vidas vive nos inúmeros caminhos que se apresentam pra nós durante a nossa curta trajetória na Terra, nas bifurcações que nos fazem escolher tomar uma direção ou outra?
São esses e outros questionamentos que se desabrocham no que é dito e, principalmente no que não é, em Past Lives. Título que denota tanto o que a tradução brasileira induz, quanto a sobrevida de um passado que se recusa a abandonar o presente. Como um chamado do destino.
Mas se a gente pudesse recalcular nossa rota, daria pra eliminar a incerteza de um futuro pleno e satisfatório? Seria possível ignorar esse eterno sentimento de incompletude que nos assombra a cada passo? Provavelmente não, pois todo movimento implica uma perda.
Com a imigração, a pequena Na Young perdeu parte da identidade e a chance de construir uma vida com o seu primeiro amor. Mas foi essa mesma pessoa que pôde desbravar outras realidades e culturas, realizar o seu potencial de escritora, e encontrar alguém que não só torna o seu mundo maior, como se esforça pra acessar uma parte sua há muito tempo esquecida.
Na Young não teve que desaparecer pra Nora surgir. Ambas coexistem. A personagem não sabe, mas sua versão de 24 anos atrás teria orgulho de quem ela se tornou.
a saturação dos true crimes e a sua busca incessante por uma verdade definitiva, enquanto alguns viram apenas a trajetória de um relacionamento tóxico.
Pra mim, a trama mostra um casal em rota de colisão, imersos em uma guerra silenciosa, fomentada durante anos, e prestes a irromper. Como aquele balde que a gente coloca embaixo do registro de água gotejando e esquece lá até transbordar.
Um conflito que continua, mesmo após a morte de um dos personagens, nos tribunais.
Com indivíduos cegos para o fato de que o maior problema da vida deles foi gerado pela falta de comunicação, pelo piloto automático da vida adulta, e pela nossa tendência de resolver fora o emaranhado que tá dentro.
Ser humano é assim. Seguimos buscando sair sempre vencedores dos nossos conflitos com o outro, mesmo que atribuir vitória ou derrota muitas vezes nos impeça de perceber que o nosso maior oponente é o nosso ego.
Somos fruto das nossas escolhas. Sem perceber, Samuel escolheu seu medo, Sandra escolheu a sua conformidade, e Daniel, felizmente, escolheu sua intuição.
O filme pode ter sido concebido pra falar sobre tudo isso, ou não. Mas pouco importa.
Só por abrir essas possibilidades de forma sensível, verossímil e com um subtexto tão rico, é uma experiência poética e sublime.
- Quando você perde, você perde. É a pior coisa que pode acontecer. E se você ganha, você espera alguma recompensa. Mas não há nenhuma. Simplesmente acaba.
- Talvez, às vezes, exigimos demais. - Sim, talvez.
mataram o Snoke cedo demais e não souberam encerrar a história só com o Kylo Ren como vilão.
E o resultado dessa divergência criativa entre Abrams e Johnson pode ter contribuído bastante pra a derrocada do filme. Confesso, o Episódio tá recheado de Deus ex-machina e incoerências narrativas, como as motivações do Palpatine e a infinita extensão dos poderes da Força. Tentaram até justificar o fenômeno com a Díade, mas me pareceu um conceito preguiçoso e mal explorado. Ainda assim, consegui me divertir muito mais do que esperava. Então, se você modular suas expectativas como eu, vai conseguir se divertir à beça, afinal, “Ascensão” continua sendo um espetáculo visual com ótimos personagens. Virou meu guilty pleasure da saga. Pode ser que eu mude de ideia no futuro, mas por enquanto, minha nota é 100% coração.
Comecei achando que iria amar. Mas, lá pela marca dos 90 minutos, o filme foi se perdendo.
Primeiro, porque a ideia que justificou a troca de foco da investigação do FBI para os Osage - evitar o clichê hollywoodiano do "salvador branco” - no papel, era uma maravilha, mas na execução, ficou capenga.
Afinal, só a Mollie ganhou um tratamento decente. O resto da tribo permaneceu, na esmagadora maioria do tempo, na sombra dos antagonistas.
Segundo, por conta da distribuição do tempo: há quase nenhum contraponto ao sofrimento dos indígenas durante as mais de 3 horas de duração, fazendo esse retrato saturar, mesmo que essa escolha tenha sido intencional pra retratar a realidade.
Junte isso ao fato de, depois de todas as pistas que tio e sobrinho davam,
os Osage sequer desconfiarem do Hale. Parece piada. A Mollie, então… sendo condescendente até depois que se curou e soube tudo o que o Ernest fez? Inacreditável.
Sem falar na última hora, que foi desnecessariamente expositiva. Se já está subentendido pra o espectador como as mortes aconteceram, pra que mostrar tudo no detalhe?
No geral, mesmo com atuações brilhantes, a impressão que fica é que “Assassinos” se acha mais grandioso do que realmente é.
É um filme teen. Isso fica evidente pela falta de violência nas mortes, que seria mais apropriada pra criar uma atmosfera de terror e assim, refletir a brutalidade dos jogos. Mas, ainda sem esse componente, tem algo que continua me atraindo nesse filme e me fazendo retornar a assisti-lo de tempos em tempos. Ele é muito eficiente em refletir a megalomania dos jogos, com o circo midiático, o sadismo coletivo dos espectadores, a obsessão dos carreiristas, e como o entretenimento, aliado a um fio de esperança, é capaz de domesticar toda uma nação. Ainda que, silenciosamente, baste uma fagulha bem lançada pra fazer tudo isso começar a ruir. Essa é a parte hipnótica da coisa, e que me faz ter vontade de ler o livro e ver como a Suzanne Collins amarra essas questões com o suspense. Panem é intrigante demais pra passar batido.
Em certa medida, evoca "Mãe" e "O Poço", que vestem suas críticas sociais com uma roupagem igualmente excêntrica e, a depender do olhar, um tanto pretensiosa. Mas, que não deixam de ser boas obras, porque abraçam o caos sugerido pelo enredo, sem receio de dividir o público. São, realmente, "ame" ou "odeie", e isso é o que as diferencia dessa daqui. "O Menu" fica só no conceito, com medo de sujar as mãos, e embora conte com performances maravilhosas de Ralph Fiennes e Anya Taylor-Joy, além de alguns simbolismos interessantes, acaba sendo um filme morno, a cair no esquecimento em poucos dias.
O problema desse live action não é a bandeira que ele levanta ou a que deixa de levantar. Tudo bem escolher falar sobre feminismo, ou não escolher aprofundar a discussão em torno desse assunto. Pra mim, onde Barbie peca é no arco dramático. Os primeiros 40 minutos são excelentes - a paródia de 2001, a apresentação do mundo comum (Barbielândia), o encontro com a mentora (Barbie Estranha), o chamado à aventura, a recusa do chamado, o aceite, e a chegada ao mundo real - é tudo muito bem feito, e no timing certo, como em todo bom blockbuster. Mas, a partir do segundo ato, a coisa desanda. Basta olhar os problemas emocionais da mãe e da filha: não era a resolução deles que iria balizar o sucesso da jornada da Barbie? O potencial de usar a celulite, os pensamentos de morte, e os pés planos da boneca como porta de entrada pra falar de autocobrança, distorções na autoimagem, exigências externas, na perspectiva das mulheres que ela encontra, e qual seria o seu papel na reconstrução dessa relação, é substituído por uma boba caça à Barbie pelo patriarcado, representado pelos executivos da Mattel e pelos Ken's cowboys. Assim, a relação com as humanas é colocada em segundo plano e o filme se torna um bonito pano de fundo pra uma propaganda de rebranding do brinquedo, com algumas frases de efeito. Tudo bem que é uma comédia, mas com o buzz em torno do projeto e o envolvimento da Greta Gerwig, confesso que esperava um tantinho mais.
Tecnicamente impecável, mas narrativamente inchado. Não sabe a história que quer contar - se é a da bomba, a do cientista, ou a da vingança. O resultado são 3 horas de clímax ininterrupto. Cada fragmento de cena parece que tem o mesmo grau de importância que o anterior, fazendo com que a história se desenvolva em uma toada só, sem qualquer tipo de cadência ou respiro pra concatenar o raciocínio construído. O desenvolvimento de personagem sofre com isso, e é a interpretação do Cillian Murphy que o salva. Resultado mediano. Tenta abarcar um pouco de tudo e acaba dizendo muito de nada.
Esse filme é uma puta AULA de storytelling. Não tem espaços mortos. É tenso, explosivo, com um contexto social pulsante e atmosfera ambígua. Não existem mocinhos. O perigo é extremo, o tempo todo. Padilha é eficiente em nos colocar na pele de policiais que atuam dentro de um sistema falido e em condições insalubres, ainda que sejam perversos em campo. No entanto, o filme escorrega num aspecto importante -
termina com uma catarse. O BOPE sai como herói da fábula, e não como um grupo de justiceiros que também faz parte do sistema. O tiro na cara do Baiano simboliza um expurgo contra todas as mazelas do crime organizado, que, evidentemente, não se resumem a ele. Os chefes das instituições políticas vão continuar fazendo a máquina girar, usando a favela como bode expiatório. Pra mim, seria perfeito se a morte do traficante fosse seguida por cenas do Nascimento e do Mathias experimentando o vazio das suas vidas cinzas, enquanto percebem que nada, de fato, mudou. Seria um bom gancho pra a parte II.
Ainda assim, uma grandiosíssima pérola do cinema nacional!
Provavelmente todo cinéfilo em formação já passou por isso: tomou conhecimento de um filme ovacionado pelo público e pela crítica, criou uma expectativa gigante em cima dele e depois de conferir, ficou frustrado. Mas por alguma razão inexplicável, algumas partes da experiência ficaram na sua mente e você, vez ou outra, se pegou revivendo as cenas que assistiu... E ao finalmente decidir revisitar a obra despido dos seus pré-conceitos, WOW. Tudo foi diferente. O filme não tinha mas a obrigação de te surpreender e você se permitiu curtir a vibe. Foi assim a minha relação com Pulp Fiction, em um espaço de 3 anos entre a primeira e a segunda sessão. A abertura, na cafeteria, é uma das sequências mais instigantes que já assisti. E o primeiro conto, estrelando John Travolta e Uma Thurman, fazem do filme um dos mais especiais do Tarantino.
Quando você olha pra as produções da Disney das décadas de 1990/2000, vê o quanto o estúdio tá perdendo em qualidade com essa leva de filmes em live action. Enredo muuuito bobo, a história se contorce toda pra caber dentro de uma linha de raciocínio que faça sentido e ainda assim escapa várias vezes. Assista sem pretensão alguma e terá um pouco de entretenimento pra o seu fim de semana.
Não acrescenta nada de novo ao debate, mas condensa as informações essenciais sobre o funcionamento dos algoritmos para introduzir leigos ao tema. Ganha mais relevância à medida que aborda a questão das fake news na nossa democracia. No entanto, senti falta de uma diversidade de especialistas para abordar o assunto, bem como de exemplos de boas práticas nas redes sociais, além das recomendações de uso comedido. Controlar o tempo gasto nas plataformas é importante, mas ignorar o algoritmo não fará os problemas sumirem. Eu sei que cabem mais perguntas do que respostas, só senti falta de um equilíbrio entre o clima distópico e perspectivas mais otimistas.
Uma das grandes referências do cinema Sci-Fi, Blade Runner dá uma aula de ambientação com fotografia, trilha sonora e direção de arte hipnotizantes. Entende-se o porquê de ser tão admirado. No entanto, é muito latente a carência do desenvolvimento de seus personagens, que prejudica até mesmo o ritmo da trama. Um filme cadenciado e contemplativo não seria problema se as questões humanas sugeridas no início fossem aprofundadas por meio dos conflitos internos do protagonista. Mas o roteiro não facilita para o Harrison Ford, nem para o espectador. Ficamos muito tempo acompanhando o caçador e nos perguntando se, em todo o universo estabelecido na obra, esse seria o indivíduo mais interessante de se acompanhar. Em contrapartida, o vilão interpretado pelo Rutger Hauer foge à regra e apresenta a melhor caracterização da história. Gostaria de ter visto, ao menos, o mesmo tratamento para a Rachel da Sean Young e para a Pris da Daryl Hannah. Teria enriquecido um bocado a experiência.
Uma das coisas que o Tarantino faz de melhor é escrever conversas fiadas, no melhor sentido do termo. Elas são o ponto de partida para que seus personagens ácidos compitam pelos maiores níveis de testosterona do ambiente, transformando meia dúzia de palavras, olhares e sorrisos enviesados numa mina de tensão prestes a explodir. É um artifício tão bem feito que sempre rende ao diretor as melhores cenas de sua filmografia. O mesmo princípio ocorre aqui, embora aplicado de forma diferente. Explico: os Oito Odiados não usa os diálogos para instigar uma sequência de embates físicos durante o longa. Ao contrário, ele apenas mantém os conflitos no nível verbal, negando qualquer amostra de violência durante mais da metade de sua duração. E isso, claro, é proposital. Ao negar a recompensa ao espectador, permite que a tensão se acumule até a última dose, e quando ela irrompe... PORRA! O impacto é o de um coquetel molotov. Tem gente que vai cansar até lá, e tem gente que vai embarcar na vibe e desejar que o filme não acabe, como eu desejei. Poderia ter uns minutos a menos, é verdade, mas nada disso diminui o brilho e a grandiosidade do resultado.
Os Rejeitados
4.0 317É só mais um filme clichê onde duas pessoas que não se gostam começam a se entrosar... Quem tá chorando? Eu não, você que tá.
Maestro
3.1 260Embalado pela fotografia dinâmica e autoconsciente, Maestro começa com o pé direito, traduzindo a perspicácia de um diretor em processo de maturação. Aliás, nesse filme, eu prefiro Cooper como realizador do que como ator. Não é a sua fisicalidade, no seu esforço caricato em espelhar os trejeitos e a voz de Bernstein, que nos convida pra dentro da história, é a sua eficiência em retratar a vivacidade da época, sobretudo na primeira metade - além, é claro, do seu inato carisma. Uma vez dentro da trama, somos tragados pela química do casal e pela sensível interpretação de Carrey Mulligan, em seus olhares, inflexões e silêncios.
Apesar disso, no desfecho, o filme não consegue atingir todo o seu potencial dramático, como se estivesse faltando nele uma peça importante. Caso tivesse se dedicado a nos convencer dos sacrifícios pessoais de Bernstein em nome da sua arte, teríamos comprado o seu eterno tormento criativo, incluindo aí o seu problema de autoaceitação. Da mesma forma, se soubéssemos mais sobre a identidade de Felicia pra além do seu papel de mãe ou esposa, teríamos sentido nas entranhas o seu fardo. No geral, Maestro é um filme bacana e bem feito, mas não nos deixa esquecer o que, apesar da sua vaidade, ele poderia ter sido.
Ficção Americana
3.8 369 Assista AgoraGostei da sutileza, da acidez, da ambiguidade e do caráter contemplativo, mas comete o mesmo equívoco de Oppenheimer ao intercalar diversas subtramas que não se somam, gerando distração. Se conseguisse conectar o enredo familiar ao plot principal, teria sido bem mais certeiro. Ainda assim, não posso negar que é uma experiência bacana e tecnicamente bem realizada. Vou ficar atento ao trabalho do Cord Jefferson.
A Sala dos Professores
3.9 138 Assista AgoraToda a minha profunda solidariedade aos professores, principalmente aos do ensino fundamental e médio. É pressão!
Pobres Criaturas
4.1 1,1K Assista AgoraSinto, logo existo. Em Pobres Criaturas, não há espaço pra a vida cartesiana.
Quando limitada a um experimento científico, a existência de Bella é passiva, monocromática e mensurada por dados, até surgir na tela, em fontes condensadas, o letreiro de um novo capítulo. É o prenúncio de que o filme está prestes a perder o resquício de pudor que ainda tem.
Ao sair de casa, a vida de Bella se enche de cor, da forma mais absurda possível. Ela toca e é tocada, ri e chora, e, no fim, é esse amálgama de experiências que irá traçar a direção do seu caminho na Terra. Inicialmente, uma criação sem passado, a protagonista conhece e questiona tudo o que encontra pela frente, construindo, dia a dia, uma compreensão mais profunda da realidade e de si mesma.
Ao mergulhar nessa jornada de autodescoberta pelas lentes desajustadas de Yorgos Lanthimos, Pobres Criaturas é o retrato da falsa dicotomia entre teoria e prática, o mundo real e o mundo das ideias. Razão e emoção. Pra construir o nosso senso crítico, a nossa consciência social e identitária, uma depende da outra.
Poucas coisas são tão importantes pra a nossa visão de mundo quanto o arcabouço de situações, conexões e estímulos filtrados pelos nossos sentidos ao longo da vida - aqui materializados pelo sexo. Seja essa visão pragmática ou não. Pra ter o discernimento de quem somos, onde estamos inseridos e no que acreditamos, precisamos ter a audácia de experimentar em um mundo que adora proibir.
Mas, assim como na vida real, nem tudo é hedonismo. Se, por um lado, o filme é narrativa, moral e socialmente disruptivo, por outro, é excessivamente ambíguo em relação às ideias que retrata. Ao fazer Bella associar a sua situação em Paris a um ideal político de liberdade, cruza a linha tênue entre o empoderamento que liberta e aquele que finge libertar, perpetuando, por vezes, os mesmos paradigmas que critica.
Zona de Interesse
3.6 587 Assista AgoraZona de Interesse não é um filme de guerra. É de horror. Daqueles que tensionam os personagens aos poucos e cozinham o espectador em fogo baixo.
Um pai é surpreendido no dia do seu aniversário. Uma mãe esbanja a beleza do seu jardim. Sob as cobertas, o casal relembra as férias na Itália. Rajadas de bala acalentam o seu sono.
O cotidiano da família de um oficial do alto escalão nazista se apresenta pra nós em planos longos e estáticos. Ao retratar o tintilar das louças, o burburinho das crianças e o choro incessante do bebê, o filme nos provoca a ser cúmplices daquela morosidade, do tédio de uma vida bucólica que existe apesar (e a partir) dos assombrosos ruídos dos muros.
Às vésperas de sua transferência, o protagonista afirma que essa é uma vida pela qual vale a pena lutar, como quem precisa convencer a si mesmo de que está fazendo a coisa certa. Mas o mal não se esvai entre os afagos no cachorro, a cordialidade no trabalho, e a inútil tentativa de preservar a inocência dos filhos.
O maior triunfo do filme é construir sua mensagem sobre diversas camadas, criticando esses personagens sem planificá-los, ao mesmo tempo que nos faz reconhecer neles um pouco de nós, da nossa mundanidade.
Jonathan Glazer nos faz um convite a olhar no espelho, abrir as cortinas e lidar com a realidade, por mais dolorosa que seja.
Vidas Passadas
4.2 737 Assista AgoraE se as nossas vidas passadas não forem, necessariamente, existências pregressas em outros corpos? E se cada uma dessas vidas vive nos inúmeros caminhos que se apresentam pra nós durante a nossa curta trajetória na Terra, nas bifurcações que nos fazem escolher tomar uma direção ou outra?
São esses e outros questionamentos que se desabrocham no que é dito e, principalmente no que não é, em Past Lives. Título que denota tanto o que a tradução brasileira induz, quanto a sobrevida de um passado que se recusa a abandonar o presente. Como um chamado do destino.
Mas se a gente pudesse recalcular nossa rota, daria pra eliminar a incerteza de um futuro pleno e satisfatório? Seria possível ignorar esse eterno sentimento de incompletude que nos assombra a cada passo? Provavelmente não, pois todo movimento implica uma perda.
Mas também pode trazer conquistas.
Com a imigração, a pequena Na Young perdeu parte da identidade e a chance de construir uma vida com o seu primeiro amor. Mas foi essa mesma pessoa que pôde desbravar outras realidades e culturas, realizar o seu potencial de escritora, e encontrar alguém que não só torna o seu mundo maior, como se esforça pra acessar uma parte sua há muito tempo esquecida.
Na Young não teve que desaparecer pra Nora surgir. Ambas coexistem. A personagem não sabe, mas sua versão de 24 anos atrás teria orgulho de quem ela se tornou.
Pra Hae Sung, a resposta da vida foi mais amarga. Afinal, a realidade não cabe em um In-Yun, mas isso não é o fim do mundo.
Pra mim, essa história é menos sobre o que perdemos e mais sobre a triste, mas bela, arte de lidar com as perdas.
Anatomia de uma Queda
4.0 799 Assista AgoraUma das coisas mais preciosas de um filme é a diversidade de reflexões que você consegue tirar dele.
Já vi gente interpretando esse conto da Justine Triet como
uma cutucada no sistema judicial e sua forma por vezes cacoética de presumir a culpa de alguém, ou como uma crítica à cultura do cancelamento.
Outros enxergaram nele um paralelo com
a saturação dos true crimes e a sua busca incessante por uma verdade definitiva, enquanto alguns viram apenas a trajetória de um relacionamento tóxico.
Pra mim, a trama mostra um casal em rota de colisão, imersos em uma guerra silenciosa, fomentada durante anos, e prestes a irromper. Como aquele balde que a gente coloca embaixo do registro de água gotejando e esquece lá até transbordar.
Um conflito que continua, mesmo após a morte de um dos personagens, nos tribunais.
Com indivíduos cegos para o fato de que o maior problema da vida deles foi gerado pela falta de comunicação, pelo piloto automático da vida adulta, e pela nossa tendência de resolver fora o emaranhado que tá dentro.
Ser humano é assim. Seguimos buscando sair sempre vencedores dos nossos conflitos com o outro, mesmo que atribuir vitória ou derrota muitas vezes nos impeça de perceber que o nosso maior oponente é o nosso ego.
Somos fruto das nossas escolhas. Sem perceber, Samuel escolheu seu medo, Sandra escolheu a sua conformidade, e Daniel, felizmente, escolheu sua intuição.
O filme pode ter sido concebido pra falar sobre tudo isso, ou não. Mas pouco importa.
Só por abrir essas possibilidades de forma sensível, verossímil e com um subtexto tão rico, é uma experiência poética e sublime.
Anatomia de uma Queda
4.0 799 Assista Agora- Quando você perde, você perde. É a pior coisa que pode acontecer. E se você ganha, você espera alguma recompensa. Mas não há nenhuma. Simplesmente acaba.
- Talvez, às vezes, exigimos demais.
- Sim, talvez.
Fil-ma-ço ♥
Star Wars, Episódio IX: A Ascensão Skywalker
3.2 1,3K Assista AgoraFiquei com a sensação de que trouxeram o Palpatine de volta porque
mataram o Snoke cedo demais e não souberam encerrar a história só com o Kylo Ren como vilão.
A única coisa que me fez revirar real os olhos de vergonha alheia foi o beijo no final 😂 Misericórdia!
Assassinos da Lua das Flores
4.1 608 Assista AgoraComecei achando que iria amar. Mas, lá pela marca dos 90 minutos, o filme foi se perdendo.
Primeiro, porque a ideia que justificou a troca de foco da investigação do FBI para os Osage - evitar o clichê hollywoodiano do "salvador branco” - no papel, era uma maravilha, mas na execução, ficou capenga.
Afinal, só a Mollie ganhou um tratamento decente. O resto da tribo permaneceu, na esmagadora maioria do tempo, na sombra dos antagonistas.
Segundo, por conta da distribuição do tempo: há quase nenhum contraponto ao sofrimento dos indígenas durante as mais de 3 horas de duração, fazendo esse retrato saturar, mesmo que essa escolha tenha sido intencional pra retratar a realidade.
Junte isso ao fato de, depois de todas as pistas que tio e sobrinho davam,
os Osage sequer desconfiarem do Hale. Parece piada. A Mollie, então… sendo condescendente até depois que se curou e soube tudo o que o Ernest fez? Inacreditável.
Sem falar na última hora, que foi desnecessariamente expositiva. Se já está subentendido pra o espectador como as mortes aconteceram, pra que mostrar tudo no detalhe?
No geral, mesmo com atuações brilhantes, a impressão que fica é que “Assassinos” se acha mais grandioso do que realmente é.
Jogos Vorazes
3.8 5,0K Assista AgoraÉ um filme teen. Isso fica evidente pela falta de violência nas mortes, que seria mais apropriada pra criar uma atmosfera de terror e assim, refletir a brutalidade dos jogos. Mas, ainda sem esse componente, tem algo que continua me atraindo nesse filme e me fazendo retornar a assisti-lo de tempos em tempos. Ele é muito eficiente em refletir a megalomania dos jogos, com o circo midiático, o sadismo coletivo dos espectadores, a obsessão dos carreiristas, e como o entretenimento, aliado a um fio de esperança, é capaz de domesticar toda uma nação. Ainda que, silenciosamente, baste uma fagulha bem lançada pra fazer tudo isso começar a ruir. Essa é a parte hipnótica da coisa, e que me faz ter vontade de ler o livro e ver como a Suzanne Collins amarra essas questões com o suspense. Panem é intrigante demais pra passar batido.
O Menu
3.6 1,0K Assista AgoraEm certa medida, evoca "Mãe" e "O Poço", que vestem suas críticas sociais com uma roupagem igualmente excêntrica e, a depender do olhar, um tanto pretensiosa. Mas, que não deixam de ser boas obras, porque abraçam o caos sugerido pelo enredo, sem receio de dividir o público. São, realmente, "ame" ou "odeie", e isso é o que as diferencia dessa daqui. "O Menu" fica só no conceito, com medo de sujar as mãos, e embora conte com performances maravilhosas de Ralph Fiennes e Anya Taylor-Joy, além de alguns simbolismos interessantes, acaba sendo um filme morno, a cair no esquecimento em poucos dias.
Barbie
3.9 1,6K Assista AgoraO problema desse live action não é a bandeira que ele levanta ou a que deixa de levantar. Tudo bem escolher falar sobre feminismo, ou não escolher aprofundar a discussão em torno desse assunto. Pra mim, onde Barbie peca é no arco dramático. Os primeiros 40 minutos são excelentes - a paródia de 2001, a apresentação do mundo comum (Barbielândia), o encontro com a mentora (Barbie Estranha), o chamado à aventura, a recusa do chamado, o aceite, e a chegada ao mundo real - é tudo muito bem feito, e no timing certo, como em todo bom blockbuster. Mas, a partir do segundo ato, a coisa desanda. Basta olhar os problemas emocionais da mãe e da filha: não era a resolução deles que iria balizar o sucesso da jornada da Barbie? O potencial de usar a celulite, os pensamentos de morte, e os pés planos da boneca como porta de entrada pra falar de autocobrança, distorções na autoimagem, exigências externas, na perspectiva das mulheres que ela encontra, e qual seria o seu papel na reconstrução dessa relação, é substituído por uma boba caça à Barbie pelo patriarcado, representado pelos executivos da Mattel e pelos Ken's cowboys. Assim, a relação com as humanas é colocada em segundo plano e o filme se torna um bonito pano de fundo pra uma propaganda de rebranding do brinquedo, com algumas frases de efeito. Tudo bem que é uma comédia, mas com o buzz em torno do projeto e o envolvimento da Greta Gerwig, confesso que esperava um tantinho mais.
Oppenheimer
4.0 1,1KTecnicamente impecável, mas narrativamente inchado. Não sabe a história que quer contar - se é a da bomba, a do cientista, ou a da vingança. O resultado são 3 horas de clímax ininterrupto. Cada fragmento de cena parece que tem o mesmo grau de importância que o anterior, fazendo com que a história se desenvolva em uma toada só, sem qualquer tipo de cadência ou respiro pra concatenar o raciocínio construído. O desenvolvimento de personagem sofre com isso, e é a interpretação do Cillian Murphy que o salva. Resultado mediano. Tenta abarcar um pouco de tudo e acaba dizendo muito de nada.
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraA parceria Villeneuve-Zimmer chega a seu auge. Eis Duna.
O Imortal
3.4 13Filmão!
Tropa de Elite
4.0 1,8K Assista AgoraEsse filme é uma puta AULA de storytelling. Não tem espaços mortos. É tenso, explosivo, com um contexto social pulsante e atmosfera ambígua. Não existem mocinhos. O perigo é extremo, o tempo todo. Padilha é eficiente em nos colocar na pele de policiais que atuam dentro de um sistema falido e em condições insalubres, ainda que sejam perversos em campo. No entanto, o filme escorrega num aspecto importante -
termina com uma catarse. O BOPE sai como herói da fábula, e não como um grupo de justiceiros que também faz parte do sistema. O tiro na cara do Baiano simboliza um expurgo contra todas as mazelas do crime organizado, que, evidentemente, não se resumem a ele. Os chefes das instituições políticas vão continuar fazendo a máquina girar, usando a favela como bode expiatório. Pra mim, seria perfeito se a morte do traficante fosse seguida por cenas do Nascimento e do Mathias experimentando o vazio das suas vidas cinzas, enquanto percebem que nada, de fato, mudou. Seria um bom gancho pra a parte II.
Pulp Fiction: Tempo de Violência
4.4 3,7K Assista AgoraProvavelmente todo cinéfilo em formação já passou por isso: tomou conhecimento de um filme ovacionado pelo público e pela crítica, criou uma expectativa gigante em cima dele e depois de conferir, ficou frustrado. Mas por alguma razão inexplicável, algumas partes da experiência ficaram na sua mente e você, vez ou outra, se pegou revivendo as cenas que assistiu... E ao finalmente decidir revisitar a obra despido dos seus pré-conceitos, WOW. Tudo foi diferente. O filme não tinha mas a obrigação de te surpreender e você se permitiu curtir a vibe. Foi assim a minha relação com Pulp Fiction, em um espaço de 3 anos entre a primeira e a segunda sessão. A abertura, na cafeteria, é uma das sequências mais instigantes que já assisti. E o primeiro conto, estrelando John Travolta e Uma Thurman, fazem do filme um dos mais especiais do Tarantino.
Cruella
4.0 1,4K Assista AgoraQuando você olha pra as produções da Disney das décadas de 1990/2000, vê o quanto o estúdio tá perdendo em qualidade com essa leva de filmes em live action. Enredo muuuito bobo, a história se contorce toda pra caber dentro de uma linha de raciocínio que faça sentido e ainda assim escapa várias vezes. Assista sem pretensão alguma e terá um pouco de entretenimento pra o seu fim de semana.
Jogador Nº 1
3.9 1,4K Assista AgoraMágico! ♥
O Dilema das Redes
4.0 594 Assista AgoraNão acrescenta nada de novo ao debate, mas condensa as informações essenciais sobre o funcionamento dos algoritmos para introduzir leigos ao tema. Ganha mais relevância à medida que aborda a questão das fake news na nossa democracia. No entanto, senti falta de uma diversidade de especialistas para abordar o assunto, bem como de exemplos de boas práticas nas redes sociais, além das recomendações de uso comedido. Controlar o tempo gasto nas plataformas é importante, mas ignorar o algoritmo não fará os problemas sumirem. Eu sei que cabem mais perguntas do que respostas, só senti falta de um equilíbrio entre o clima distópico e perspectivas mais otimistas.
Blade Runner: O Caçador de Andróides
4.1 1,6K Assista AgoraUma das grandes referências do cinema Sci-Fi, Blade Runner dá uma aula de ambientação com fotografia, trilha sonora e direção de arte hipnotizantes. Entende-se o porquê de ser tão admirado. No entanto, é muito latente a carência do desenvolvimento de seus personagens, que prejudica até mesmo o ritmo da trama. Um filme cadenciado e contemplativo não seria problema se as questões humanas sugeridas no início fossem aprofundadas por meio dos conflitos internos do protagonista. Mas o roteiro não facilita para o Harrison Ford, nem para o espectador. Ficamos muito tempo acompanhando o caçador e nos perguntando se, em todo o universo estabelecido na obra, esse seria o indivíduo mais interessante de se acompanhar. Em contrapartida, o vilão interpretado pelo Rutger Hauer foge à regra e apresenta a melhor caracterização da história. Gostaria de ter visto, ao menos, o mesmo tratamento para a Rachel da Sean Young e para a Pris da Daryl Hannah. Teria enriquecido um bocado a experiência.
Os Oito Odiados
4.1 2,4K Assista AgoraUma das coisas que o Tarantino faz de melhor é escrever conversas fiadas, no melhor sentido do termo. Elas são o ponto de partida para que seus personagens ácidos compitam pelos maiores níveis de testosterona do ambiente, transformando meia dúzia de palavras, olhares e sorrisos enviesados numa mina de tensão prestes a explodir. É um artifício tão bem feito que sempre rende ao diretor as melhores cenas de sua filmografia. O mesmo princípio ocorre aqui, embora aplicado de forma diferente. Explico: os Oito Odiados não usa os diálogos para instigar uma sequência de embates físicos durante o longa. Ao contrário, ele apenas mantém os conflitos no nível verbal, negando qualquer amostra de violência durante mais da metade de sua duração. E isso, claro, é proposital. Ao negar a recompensa ao espectador, permite que a tensão se acumule até a última dose, e quando ela irrompe... PORRA! O impacto é o de um coquetel molotov. Tem gente que vai cansar até lá, e tem gente que vai embarcar na vibe e desejar que o filme não acabe, como eu desejei. Poderia ter uns minutos a menos, é verdade, mas nada disso diminui o brilho e a grandiosidade do resultado.