↙️↗️ Provavelmente o filme da DC mais difícil de não revirar os olhos pelas semelhanças óbvias com heróis populares da Marvel; todos parecem versões da shopee do Falcão, Dr. Estranho, Homem-Formiga e Tempestade.
↗️ Apesar disso, a escalação de parte do elenco é boa, Pierce Brosnan está ótimo, por exemplo.
↙️ O roteiro é tão clichê que absolutamente tudo aqui é previsível e soa rançoso; as tentativas de piadas fracassam, especialmente as que envolvem o personagem do Noah Centíneo, e aquela envolvendo o Adão Negro e sua aversão a portas dava pra ver surgindo desde a primeira vez que ele destruiu a parede;
↗️↙️ As cenas de ação não são ruins, só tem essa questão da velocidade exagerada que, ao mesmo tempo que é legal por um lado, deixa tudo frenético demais; aí caímos naquilo de, ou tudo ser ultrarrápido, ou em slow-motion, o que é super irritante; Meu efeito preferido foi o rastro colorido que a Cyclone deixa quando usa seus poderes; E ÓBVIO que este filme teria uma cena de ação ao som de Kanye West 🙄.
↗️↙️ A mensagem sobre neo-imperialismo, resistência e liberdade teria sido muito inspiradora se não soasse tão hipócrita, vindo de uma mega corporação estadunidense.
↙️ No final a impressão que fica é a de uma grande egotrip do The Rock que queria de todo jeito parecer "fodão" e realizar seu sonho de menino, de se eternizar lutando contra o maior herói de todos. Pena (pra ele) que com a reconfiguração que a fusão Warner/Discovery causou no braço da DC, a rasteira que ele, a esposa e o Cavill tentaram dar no estúdio, deu errado, James Gunn entrou na parada para resetar tudo e o resto é história... Fora que o filme flopou também, então...
Não é o desastre total que o trailer sugeria, gosto do que David F. Sandberg faz aqui dentro da pouca liberdade que teve (sou inscrito no seu canal no YouTube desde o curta do "Lights out", antes de ele pegar essas grandes franquias, ele é bem nerdão de cinema): "Fúria dos Deuses" pode não ter o frescor do primeiro, mas conseguiu manter o bom clima leve, goofy e assumidamente infantojuvenil. E aí é que tá: não dá pra colocar a comédia de aventura mais PG13 da DC na mesma prateleira dos outros filmes de herói do estúdio; vi um monte de marmanjo de 30, 40 anos reclamando de um produto que nem é direcionado a eles, ser "bobo" e "ingênuo", sabe... Nem tudo é Snyderverso, nem tudo é uma trama épica pretensiosa, gente! Acho essencial entender que as batidas do roteiro são muito déjà vu para mim que vejo esse mesmo tipo de filme na sessão da tarde desde os anos 90, mas para uma criança de 10 anos, não é assim!
A história é bem contadinha, não sem buracos, mas eles não atrapalharam; o diretor mais uma vez evoca suas origens no horror em diversas cenas que sugerem tortura, morte e catástrofe; esconde easter eggs no background, como as duas versões da boneca Annabelle, o que é divertido; assim como o humor do filme, que faz menção à cultura pop o tempo todo, Jack Dylan Glazer tem a performance mais nuançada do elenco, o carisma desse menino é bizarro, tanto que roubou o screen time todinho do Asher Angel, que faz o protagonista Billy Batson, porém gosto de como este personagem traz mais a questão da família, que eu considero o grande pilar dos filmes, ambos fazem uma boa dupla enfim; Zachary Levi segue funcional, mas continua descoordenado com seu eu mais jovem, nada a ver os dois; diferente da Meagan Good, que reproduziu bem a personalidade encantadora da Darla criança (Faithe Herman, lamentável terem-na usado para aquele product placement safado da skittles); Helen Mirren, queen, tem pelo menos uma cena hilária lendo um bilhete; Lucy Liu está no filme; Djimon Hounsou tem mais tempo para brilhar na comédia; Rachel Zegler adiciona carisma e contribui com o núcleo de Freddy; e finalmente D.J. Cotrona e Cooper Andrews, que fazem o Shazam verde do gordinho que se assumiu, e o pai da família adotiva, respectivamente, são tão lindos affe...! Kkkk
Filme imperfeito, porém simpático, caneta Steve melhor personagem, a duração é um dos maiores problemas, dava uma enxugada melhorava, gostei dos monstros mitológicos, ciclope, manticora, etc., caguei pro fato de não se conectar com universo compartilhado, acho um saco isso de ser obrigatório estar conectado; inclusive
O elenco é muito bem escolhido, quase todos os personagens funcionam - não curti o vilão, Mark Strong sempre meio genérico -, Zachary Levy acerta no tom da estupidez irresponsável do herói adolescente, mas quem rouba a cena no filme mesmo são Jack Dylan Glazer e a pequena Faithe Herman, duas supernovas de carisma. A história não é grande coisa, mas os diálogos são divertidos, o background do Billy é triste de verdade, e vê-lo sendo conquistado pelo carinho da nova família aos poucos é uma eficaz ferramenta narrativa que contagia quem assiste; os toques de horror que David F. Sandberg coloca no jeito de filmar e no tom, sem descaracterizar a proposta leve do filme, são inesperados...
"Shazam!" é uma sessão da tarde leve, despretensiosa, bem-humorada, meta, que faz graça com o mundo dos super-heróis e tem aquele clima de aventura anos 80 do Spielberg, com família, fantasia e doses cavalares de coração.
O filme de Akira Kurosawa que influenciou um sem número de tropos do cinema, como a figura do "forasteiro sem nome" comum nos westerns americanos, e que traz o querido do Toshiro Mifune no papel principal, não bateu pra mim. Simplesmente não é meu tipo de filme; acho tema/história desinteressantes e tecnicamente quase nada me chamou a atenção, exceto a montagem.
A construção de universo é muito cuidadosa, a ação é bem montada e filmada com criatividade; a mescla de efeitos especiais e visuais é bem satisfatória; o elenco é carismático, competente e bem equilibrado nas falas, no tempo de tela e relevância dos personagens para a história. O senso de humor mira nos fãs do RPG, o que é justo (afinal essa galera espera há décadas uma adaptação decente), mas o público em geral também vai rir, e quem assistia à "Caverna do Dragão" nas manhãs da Globo também ganha um mimo. Os momentos mais dramáticos não têm sua carga diminuída com piadas, como tornou-se comum em tramas de aventuras de equipe; o filme se compromete com os momentos de emoção até o fim e recompensa quem prestou atenção no roteiro - descomplicado e amarradinho. Minha única reclamação é a atriz que faz a filha do Chris Pine atuar tão mal naquela cena-chave.
Tava faltando um filme com clima de matinê evocando "Indiana Jones" e "A Múmia" (1999). Divertido demais.
↗️ A abertura tem o melhor uso dos ambientes e Pokémon animados em 2D e 3D de todos os filmes da franquia até aqui; deve ter sido um verdadeiro pesadelo animar aquilo.
↗️ A sequência seguinte que culmina em Rayquaza 🆚 Deoxys... Vou falar: pra mim, é uma obra-prima. Sério, é a melhor batalha que já vi em qualquer mídia de Pokémon ever!! É tão fodaa!! Tão bem dirigida; o modo que a câmera se movimenta no meio da ação, a escala da porradaria, Deoxys mudando suas formas (normal, attack, defense e speed) de acordo com a necessidade, e Rayquaza mandando aquele Hyper Beam de surpresa bem no meio da cara, obliterado o Deoxys, putz!!... *Meme do Scorsese absolute cinema*.
↙️ Uma pena que depois desse início explosivo, o filme ensaia outra batalha agitada com Ash na Battle Tower, mas que acaba sendo um grande mousse... para então cair na mesma lenga-lenga sentimentalóide de sempre, nos vemos diante de uma barriga que dura quase uma hora, e a ação que rola no terço final, novamente envolvendo o lendário Rayquaza e o mítico Deoxys, se configura repetitiva, jamais alcançando a inspiração e o brilhantismo que abriu o filme. Tem querer muito para conseguir realizar um filme centrado em dois dos Pokémon mais fodas já feitos ser tão chato.
↙️ Vi com a dublagem de 2021 (?) disponível no Pokémothim, estranhei não ouvir a voz do Fábio Lucindo e um sotaque carioca... Mas o dublador é ok.
Nem é tão ruim quanto pintaram, é no mesmo nível de "Thor: Amor e Trovão". O filme não se leva a sério, brinca com o encontro das três, extrai tudo que poderia desse trio, tem umas cenas de luta ok (tivessem menos jogação de raiozinho era melhor), o cenário do planeta musical foi legal, aquilo ali e os gatos "transportando" a tripulação da estação espacial do Fury foram um grande surto camp - eu ri.
A encarnação mais tridimensional e desencanada da Capitã Marvel até aqui, Teyonah Parris e Iman Vellani seguram tudo no carisma; assim como a família de Kamala são a melhor coisa do filme; Samuel L. Jackson já viu dias melhores. Zawe Ashton não entrega nada na pele da antagonista Dar-Benn; apesar da motivação boa, é uma das vilãs mais esquecíveis do MCU. Nia DaCosta não repete o trabalho nota 10 de "Candyman", sua direção aqui é menos feliz, mas ainda tem seus momentos, considerando o tamanho e a falta de decisão final dessa produção.
A surpresa do pós-crédito é a mais empolgante de todas e sugere um novo começo para a já esquálida fórmula Marvel.
Ainda com a lembrança do "Duna" de 1984 fresca na memória, pois assisti ano passado, a versão de Denis Villeneuve do épico de ficção científica escrito por Frank Herbert em 1965, traz muitas das cenas icônicas também presentes na versão de Lynch, como a do mosquito assassino, a do teste da caixa misteriosa e as dos vermes no deserto, com a diferença que este filme acerta em tudo que aquele errou.
O casting é muito feliz, todos os atores têm momentos de brilho - Rebecca Ferguson e Stellan Skarsgard são os meus preferidos -, o tom das atuações é certeiro, sem exageros, os personagens são interessantes; a narrativa é fácil de assimilar (sem precisar recorrer a voice over o tempo todo), a cinematografia privilegia a escala gigante das naves e dos cenários feitos de ótimos efeitos práticos e CGI, que junto à parte de som, assombra e causa aquele deslumbramento das espaçonaves em "A Chegada" (2016), mesmo sem a genialidade do compositor Jóhan Jóhannsson (R.I.P.), colaborador assíduo de Denis, Hans Zimmer é tão dotado quanto; ele cria uma música tão diferente das cordas europeias de outras obras da ficção como "2001 - Uma Odisséia no Espaço" (1968), remetendo a sons orientais, tribais e alienígenas que causam esse estranhamento, e contribuem essencialmente para a construção daquele universo. É um trabalho de pesquisa e criação absolutamente primoroso.
Gosto da forma sutil que o diretor trabalha todos os temas aqui: as alegorias políticas envolvendo um império que explora uma região desértica atrás de um bem de valor altíssimo (a tal especiaria, mas podia ser petróleo); a relação que os fremen têm com o deserto, como eles lidam com um ambiente tão hostil e sobrevivem criando tecnologias para otimizar o uso da água - muito mais valorizada por eles que a especiaria -, e o status de deidade que eles atribuem aos vermes Shai-Hulud; As misteriosas Bene Gesserit e sua forma de manipular o jogo político daquele universo; poder, determinismo, heroísmo, religião, filosofia, ecologia...
Villeneuve é um dos melhores diretores da atualidade e, como fã da saga, ele entendeu que um épico desse não poderia ser comprimido em três horas, e que bom que a Warner concordou; o filme termina em um ponto de virada que me pegou desprevenido, pois a duração passou voando para mim e a versão do Lynch vai muito além (obviamente, afinal esta é só a parte um), contudo, o ponto onde ele conclui aqui, apesar de ser mais um rito de passagem importante para a jornada de Paul Atreides, não é dirigido com a carga emocional que a sequência pedia para se igualar à escala grandiosa de outros momentos, deixando um gosto de anticlímax não-intencional, como o final de um episódio de meio de temporada de série.
Mesmo imperfeito, o filme me entregou aquilo que, no final do dia, é tudo que eu busco: uma história fascinante e bem contada, com bom ritmo, uma progressão de eventos natural, um personagem chamado Wellington e ao menos uma cena para mostrar a magnitude da bunda do Josh Brolin.
Filme difícil de avaliar, coloca o espectador em um lugar muito desconfortável, nos sentimentos misturados que ele causa. E dá uma revolta, chega uma hora... É bem dirigido, ótimo atores e uma história que não dá para prever aonde está indo, o que é sempre bom.
Esse filme é tosco demais, mas, gente, esse final...! Sem palavras! Passado!!
Slasher dos anos 80 é trash, é clichê e é CAMP! Aqui com trocadilho pois esse filme é a tradução definitiva do sentido do termo haha! Não dá pra esperar coerência, correção política, muito menos uma obra-prima, e "Acampamento Sinistro" te dá tudo isso, sendo tão ruim que dá a volta. Mas além de seguir a cartilha de "Sexta-feira 13" à risca, este aqui tem alguns detalhes que injetam alguma originalidade pela coragem que tiveram (e me deixaram de cara!), como por exemplo:
- É normal nesse tipo de filme atores de 30 fazendo papel de adolescentes, mas aqui tem muita criança e adolescente, algo que eu só veria de novo em 2021 com "Fear Street";
- Há vários tipos de crimes contra essas crianças além do assassino "misterioso" – tem um cozinheiro pedófilo nojento que sai de cena queimado com água fervente depois de falar e fazer barbaridades (que sabor!), e o dono do acampamento, que é outro predador sexual, desce o sarrafo em um moleque de 13 anos, Ricky, o primo de Angela;
- O acampamento é funcional e as atitudes dos jovens são bem autênticas, flertando, jogando, xingando e brigando o tempo todo ("Eat shit and die, Ricky!'' / "Eat shit and live, Bill!" xD), algo incomum no gênero;
- O trabalho de maquiagem nas cenas de morte é bem feito e a música também é boa;
- Desde "A Vingança de Freddy" (1985) eu não vejo um slasher exalar tanta sensualidade masculina, uma subversão das convenções do gênero, afinal, um dos pilares do "camp slasher" é a nudez feminina;
- A tia de Angela, Martha, é tão creepy e Desiree Ghould tem uma atuação tão ruim em um filme já cheio de performances fracas, que faz as cenas dela acrescentarem essa camada de delírio febril mudando completamente o tom do filme;
é tudo tão bizarro e potencialmente problemático... O jeito como é filmado, montado em paralelo com aquele flashback, o efeito prático do molde do rosto da menina sobre o corpo do ator nu paralisado, a música dramática e os efeitos sonoros... É muito arrepiante!!
- E o final, além de ressignificar tudo que veio antes e melhorar o filme, abre margem para muitas discussões acerca da identidade de gênero de Angela/Peter, mas não vou me aprofundar nessa questão, pois não é minha vivência; ele foi forçadamente condicionado a viver como uma menina, sendo um menino, e não se identificava assim, logo, pelo que eu entendo, não é uma pessoa trans.
- Também fica claro através do penúltimo flashback, que o pai de Angela/Peter vivia um romance com seu parceiro que os acompanhava na primeira cena do acidente; o jeito que gays são representados aqui é meio torto, mas são os anos 80 (caguei), funciona pra deixar o filme mais onírico;
- Outros elementos que sempre me fazem rir nesse filme são a panela mais alta e justiceira de todos os tempos; Judy, a mean girl insuportável que tem um final off-camera terrível e o ator que faz o policial que volta no final com o bigode mais fake do cinema, ele não sabia que teria mais cenas pra filmar e raspou o bigode kkkkk que idiota!
- A música desse filme! A fotografia desse filme!! Os enquadramentos, a profundidade de campo infinita, a iluminação, o uso de câmera lenta e o constante balançar das folhas do matagal... Poesia pura!
- E que filme sexy! Muito ousado para a década de 60; O desejo, a lascívia, a inveja, a mágoa e o apetite por punição norteando as ações dos personagens e determinando o andamento da história, que habilmente, a cada nova cena, traz algum pequeno ponto de virada ou anda com os conflitos já estabelecidos;
- Tadinho do totó que virou janta! 😰... Tempos de guerra.
- A forma que foi introduzida a tal máscara demoníaca, com a virada que é a chegada do samurai, é um dos fatores que mantém o filme sempre interessante; não esperava que fosse ser do jeito que foi, e eu gostei muito disso.
- Toda a construção é muito bem compassada até o clímax (aqui literal) na chuva, que age como uma catarse que nos leva a uma conclusão inesperada e ambígua
(ela conseguiu pular o buraco ou caiu lá dentro como parte da maldição do samurai? Existiu mesmo esse elemento sobrenatural, ou foi apenas a ação da chuva sobre a máscara?.. Porque o antes belo samurai teve o mesmo destino!),
dando origem a um plot twist que ressignifica a cena icônica do encontro da mulher com o samurai mascarado.
- Clássico é clássico, e este envelheceu bem na questão da crítica que o diretor e roteirista George A. Romero faz sobre capitalismo e sociedade de consumo, que sempre será relevante; assim como a forma que a visão de mundo de Romero é moldada pelo contexto histórico da crise do petróleo e da Guerra do Vietnã, o que acrescenta camadas ao que vemos na tela. Temos também a discussão ética na mídia sobre como lidar com essa crise, que é um aspecto interessante que eu sinto falta de ver em mais filmes de zumbi.
- Inclusive as cenas da emissora de TV e dos policiais nos apartamentos populares são as que mais gostei do filme, justamente pelas discussões que geram nesse sentido.
- A escalação do elenco e a construção da relação dos personagens ao longo do filme é outro acerto de Romero.
- Porém, senti que envelheceu bem mal no departamento de efeitos e maquiagem - onde o baixo orçamento fica evidente; só gosto de como fizeram a pele na hora das mordidas, aquela gelatina ali ficou satisfatório. Tom Savini, mago dos efeitos especiais, não entregou seu melhor neste departamento, MAS FAZER BADERNA como um dos motoqueiros mercenários ele soube né haha!
- O mais irônico é que os protagonistas poderiam ter vivido anos no shopping, pois tinham tudo que necessitavam e os zumbis eram de boas, porém me ocorreu a certo ponto que a maior ameaça que eles poderiam enfrentar, seria outro grupo de vivos mal-intencionados e, para minha satisfação, o roteiro seguiu essa lógica.
- Mesmo com todos os pontos positivos, a mágica aconteceu apenas pela metade, e o filme não me cativou a ponto de se tornar um novo favorito. Se eu pudesse, juntaria a reflexão social deste com os efeitos e a urgência do remake de Zack Snyder, aí sim. Ou quem sabe reassistindo em alguns anos.
Que viagem! Filme completamente despirocado, over-the-top, absurdista, kitsch e gay AF! A definição do que é um "Midnight movie".
Tim Curry NASCEU para interpretar o Dr. Frank-N-Furter! Susan Sarandon também serviu camp na jornada de ingenuidade conservadora de Janet até a total liberação sexual ao lado do seu amado Brad. Todo o elenco funciona, mesmo os atores mais inexperientes, pelos elementos satíricos de terror, sci-fi e comédia do filme.
Deve ser muito mais divertido num cinema com fãs cantando e fazendo as coreografias, porque na sala de casa, a falta de sentido dos eventos e a queda de ritmo depois do segundo ato sobressaem e dão uma prejudicada na diversão. Mas curti as músicas icônicas e a ousadia em desafiar os costumes, os padrões, as noções de masculino e feminino da época, que conferem ao filme um senso de liberdade único.
Não é o tipo de filme que me prende. Não fui capaz de embarcar na trama de intrigas políticas e crime organizado proposta aqui. A direção também não me chamou a atenção, algumas atuações exageradas, como a do ator que interpreta Big D... mas acredito que essa percepção seja algo cultural. Só que quando não bate... Não bate. Chato. Salvo o terço final, mais violento e o tema do filme que antagoniza os conceitos de tradição versus sede de poder a qualquer preço.
A contribuição de Mario Bava para o que veio a se tornar o slasher foi imensa e finalmente pude assistir este que foi um de seus filmes mais influentes.
A cena inicial é muito boa. Ela começa meio melodramática, daí tem uma mudança de tom súbita na edição e na música para um giallo (com direito a luvas pretas), porém em seguida subverte tudo ao revelar a identidade do assassino; e então outra subversão quando vilão se torna vítima! Há um nível de ironia que esbarra no camp nesta cena, que me lembrou o enfoque que Wes Craven dá na franquia "Pânico", não por acaso, um slasher.
Devido ao baixo orçamento, Bava dirige e também opera a câmera, capturando alguns planos que eu gosto, que avançam com a narrativa e fazem uso inventivo dos cenários... mas a maioria são enquadramentos meio caóticos, escuros ou fechados demais, com zoom in-out que não acaba mais, câmera subjetiva, um uso excessivo de transições por perda de profundidade de campo, causando uma confusão visual desagradável... Óbvio que há apreciadores do que ele faz aqui, mas eu fiquei mais incomodado do que impressionado.
Mais da metade do filme há poucas falas realmente interessantes, o que cria grandes vácuos de desenvolvimento narrativo... para então em seu terço final, tudo se atropelar em diálogos e flashbacks que pretendem explicar uma trama convoluta de ganância e vários núcleos de personagens diferentes. Essa escolha mais confunde do que esclarece, pois falta tempo para essas informações serem assimiladas por quem assiste. Há, inclusive, dois personagens de meia idade grisalhos praticamente idênticos que também não ajudam na tarefa de entender o que está acontecendo na tela.
As cenas de morte são o ponto alto do filme: elas são criativas, têm um nível de gore chocante, os efeitos especiais de Carlo Rambaldi (que anos depois viria a trabalhar em "Alien" e "E. T. - O Extraterrestre" vencendo 3 Oscars no processo) impressionam, e influenciaram praticamente todos os slashers, principalmente "Sexta-feira 13".
A polêmica cena final foi um acerto para mim; dentro de todo o absurdismo dela, há um sofisticado humor dark e um comentário sobre como a banalização da violência tem um efeito devastador em mentes suscetíveis.
"A Bay of Blood" é um clássico que inegavelmente influenciou o giallo e o slasher, contudo, não sem defeitos, sendo um pouco confuso visual e textualmente. A história é interessante, mas poderia ter sido melhor trabalhada ao longo do filme. A maquiagem excelente e a direção criativa nas cenas onde o facão entra, são seu maior legado.
Eu nem sabia que estava com saudades de ver um filme independente ianque nessa vibe final dos 90's/início dos 2000, tipo "Tempestade de gelo", "Donnie Darko", "Beleza Americana" e "Aos Treze", mas "Mysterious Skin" (no original) entregou isso e mais uma inédita dose de nostalgia por esse segmento de filme específico realizado nesse período, que eu amo forte. A juventude vivendo de excessos em suas descobertas de como navegar pelo mundo dos adultos, sem esperança e sem supervisão pois seus pais são separados, alcoólatras ou só negligentes; a moda y2k exagerada, colorida, carregada e que não pede desculpas a ninguém; a banalização da sexualidade dos corpos, do sexo em si e suas consequências; algum elemento inexplicável como OVNIs ou viagem temporal; traumas, gatilhos, dissociação mental, acerto de contas... E aquela vibe de filme 'artsy' despretensioso, mas com aquela montagem, música e direção espertas que os festivais adoram.
Esse estilo de filme existe em uma cápsula de tempo específica, e mesmo tratando de temas em geral bem pesados, consegue evocar um sentimento tão nostálgico para mim, que fui adolescente no ano de 2004, que é até difícil de explicar. Só sei que eu amei "Mistérios da carne", pela época que ele representa no jeito do "fazer cinema", por esse negativo granulado, essas locações mundanas, essa fotografia descomplicada — tem o sabor do meu ensino médio e a efervescência de seu tempo.
A história também é um elemento que ressoou muito comigo, o diretor e roteirista Gregg Araki adapta de um livro semi-autobiográfico de Scott Heim, esse relato assustadoramente preciso de abuso infantil e as diferentes formas que as vítimas encontraram para lidar com isso, cheio de complexidade, sempre muito real e direto ao ponto. Acho um roteiro corajoso e uma direção por vezes delicada, com truques de edição para lidar com o elenco infantil sem que eles soubessem do assunto denso que as cenas envolviam, como atuar diretamente para a câmera subjetiva (o que deu uma sensação tão estranha, de repente me senti exposto)... e em outras, bem crua retratando a violência a que está sujeito um twink trabalhador do sexo.
Neil e seus amigos têm muito de pessoas que eu conheci no colégio, situações que vivi enquanto crescia, e a atuação de todo o jovem elenco é competente, Joseph Gordon-Levitt faz um trabalho digno de prêmios em um de seus primeiros papéis mais adultos e um dos melhores de toda sua carreira, entregando-se completamente à trajetória tortuosa de Neil. Brady Corbert também confere uma ingenuidade verossímil a Brian que cria um contraponto bem interessante com Neil, e sua jornada em busca da verdade não é um mistério para nós, mas queremos que ele descubra e ficamos preocupados com o modo que ele reagirá. Bill Sage está aterrorizante e sedutor como o treinador Heider. Elisabeth Shue está linda e eu amo vê-la atuando. E me conectei muito com o personagem Eric, amigo de Neil, pois ele se parecia comigo naquela idade, inclusive fisicamente.
Um filme bonito e deprimente sobre as "dores do crescimento" (ou "coming-of-age" para usar uma expressão do inglês difícil de traduzir) que não guarda seus socos, guiado por uma performance poderosa de um ainda jovem Gordon-Levitt e amparado por um roteiro sólido e uma direção segura do pai do cinema queer underground Gregg Araki.
"Two boys. One can't remember. The other can't forget." ...Eu não lembro de ter lido uma tagline tão sucinta, tão poderosa e tão assertiva assim na vida.
Nunca mostrar imageticamente os horrores que acontecem do outro lado do muro, deixando o espectador apenas com a perspectiva da família alemã nazi é uma escolha narrativa brilhante, que torna este filme único dentre tantos que já abordaram o holocausto judeu. Os vislumbres vêm da fumaça que sai da chaminé da fornalha, cujo odor "incomoda" os residentes do entorno privilegiado; das cinzas despejadas no rio em que eles se banham e pegam pai e filhos de surpresa, tendo que passar por uma limpeza intensa após; mas principalmente do som. O trabalho de som de "The Zone of Interest" (no original) é magnífico e espero que ganhe o Oscar, pois é usado de maneira tão fundamental, tão pungente... Ouvimos vozes, tiros, sirenes, etc. e, assim como os judeus trabalhando do lado de cá, ficamos mortificados com as imagens que nossa imaginação produz a partir desses sons, mas diferente deles, não precisamos fingir costume e seguir com a vida como se aquilo não fosse um matadouro de gente - da nossa gente.
A normalidade das vidas daquelas pessoas, que riem, batem papo, comemoram, brincam, namoram, tomam banho de piscina e se preocupam com algo tão insignificante como arbustos do jardim, enquanto há um genocídio rolando literalmente ao lado, é mais do que suficiente para causar um embrulho no estômago de quem tem humanidade.
Os bastidores do holocausto, o aperfeiçoamento do mecanismo de morte e a sutileza da crueldade retratadas aqui são muito mais eficazes do que criar cenas maniqueístas onde o general é um monstro que comete atrocidades contra os prisioneiros; Rudolph Hoss é um homem até razoável, mundano que comanda o campo de concentração de Auschwitz, nunca toca em sua esposa, satisfaz seus desejos com judias (limpando muito bem seu membro após, pois, eca, judeus) e só é capaz de demonstrar sentimentos para sua égua; e sua esposa Hedwig (Sandra Huller mais uma vez magnética), uma mulher organizada e tranquila, que comanda a casa, cria os filhos e ocasionalmente solta alguma ameaça de morte para suas empregadas judias, lembrando-as da sorte que têm em estarem ali, vivas.
Gostei de todas as decisões tomadas por Jonathan Glazer aqui, na forma como "pula" deliberadamente certos acontecimentos, criando o set-up da situação e já mostrando o pós; e como mostra a rotina, o banal, a vida se desenrolando apesar do horror de que temos consciência, pois reflete como aqueles nazistas ordinários viam a situação, judeus são menos que animais para eles, então, nem havia mesmo incômodo algum para abordar, era só mais um dia.
Direção muito boa de Fatih Akin, gosto das escolhas que ele faz sobre o que mostrar e o que apenas sugerir, como na cena de abertura que envolve um serrote, onde mesmo trabalhando apenas com efeitos sonoros e atuação, o resultado é muito incômodo.
A vibe desse filme é toda assim: incômoda, lúgubre, deprimente... A decadência humana, a imundície, a podridão que transborda da tela e o sentimento de desesperança são constantes, te deixam pra baixo - e eu nem estou considerando os crimes! Daí é ladeira emocional abaixo. Mulheres cuja juventude e a beleza já as deixou há tempos, em situação de vulnerabilidade social ou baixa autoestima caem nas mãos de um assassino impiedoso e pouco metódico para sofrerem horrores difíceis de testemunhar (boatos de que talvez eu tenha colocado os dedos sobre os olhos nesses momentos).
O protagonista desta história real, Fritz Honka, é interpretado pelo talentoso Jonas Dassler com uma entrega magnífica - não acreditei quando descobri que seu rosto estava coberto de maquiagem o filme todo, de tão perfeita! Margarethe Tiesel como Gerda Voss destruiu meu coração com até onde ela estava disposta a ir em sua jornada degradante em busca de um teto; e a Frida de Martina Eitner-Achea, em seu curto tempo em cena, cria uma marca ressonante na fita por ser a primeira a revidar as agressões de Honka, mas que comete os erros das antecessoras de não aproveitar as oportunidades de fugir e tem um fim terrível. O restante do elenco que compõe a galeria de personagens do bar luva dourada, do prédio em que Honka mora e do seu trabalho são memoráveis.
A fotografia é excepcional, tanto nas cenas que envolvem a musa do assassino, quanto ao retratar a sujeira de sua moradia, e aqui vale também um destaque para direção de arte, a reprodução do apartamento com a decoração de fotos pornográficas amontoadas pela parede e objetos de cena como aquelas bonecas creepy e os inúmeros aromatizadores de ambiente foram escolhas tão eficazes narrativamente, pois ajudam a compreender melhor quem é esse cara e constroem um "clima".
O papel do álcool como um agente potencializador das desgraças é outro aspecto interessante que o filme aborda. Há um take que eu achei assombroso, uma pan que a câmera faz do incêndio no apartamento para o céu noturno, onde a fumaça forma o rosto de uma das vítimas de Fritz, muito sutil. O realismo alcançado aqui é perturbador, a natureza física e psicológica da violência, idem, e a vontade é de sair o mais rápido possível daquele universo pós-guerra nefasto cheio de personagens estranhos e doses de humor dark demais para esboçar um riso.
Quem diria que uma das cinematografias mais deslumbrantes que já vi na vida pertenceria a um filme de Thomas Vinterberg, um cineasta oriundo do manifesto dogma 95, que pregava um cinema mais "cru". E também não imaginava jamais vê-lo dirigindo um romance tão "classicão" como esta adaptação da obra mais conhecida do escritor Thomas Hardy: "Far from the Madding Crowd" (no original). Só pelo aspecto inusitado deste crossover já estava curtindo o filme.
Carey Mulligan é ótima para papéis de época como este e seus três interesses amorosos - Matthias Schoenaerts, Michael Sheen e Tom Sturridge - delimitam bem as diferentes personalidades e a forma que demonstram seu apreço pela protagonista Bathsheba Everdene; A história segue um caminho tradicional, porém nunca se torna enfadonha de acompanhar, com algumas surpresas despretensiosas e uma montagem que tem o demérito de não deixar tão clara a passagem do tempo, e que efetivamente prejudica a construção de certas relações que poderiam ser mais bem trabalhadas, sendo Bathsheba/Gabriel a única satisfatória delas.
Ainda não sei se gosto dela, porque ela brincou com o coração dos dois homens que a amaram de verdade e escolheu ficar com o cafajeste (normal); tinha princípios muito modernos para sua época e se viu traindo-os por uma paixão que acabou por torná-la infeliz... mas de certa forma, essas falhas da protagonista me interessam e refletem o tom pessimista das obras de Hardy que encontram ecos na filmografia de Vinterberg... E ela teve sua redenção e Gabriel Oak, seu final feliz.
Trilha sonora 10/10 e só pela fotografia eu passaria horas vendo exclusivamente takes do pessoal trabalhando na fazenda sem uma fala sequer, mas a escrita é boa, os atores são ótimos e o desenrolar do plot subverte algumas expectativas. É o tipo de história que nas mãos da rede globo daria uma novela esticada por 180 capítulos cheios de fillers, mas que se resolve em duas horas com um bom ritmo.
- Um filme sintomático das ansiedades que tomaram conta do mundo com a pandemia, as tensões raciais e a cyberparanoia da virada da década de 2020; some-se a isso o fato de ter sido produzido por Barack e Michelle Obama e temos uma senhora pulga atrás da orelha com os rumos que as coisas poderiam tomar nesta distopia estadunidense. Uma guerra baseada em isolamento digital total só mostra como a nossa dependência da tecnologia cria prisões difíceis de transpor que podem se manifestar de forma real até demais, como em carros automáticos e outros hardwares que podem ser hackeados. Gosto principalmente da parte que os personagens estão discutindo quem seria responsável por aqueles ataques, se Irã ou Coreia, e alguém diz que poderia ser uma iniciativa coordenada das várias nações inimigas que os EUA foram colecionando ao longo dos anos - a ideia é terrivelmente épica.
- A direção acerta na trilha sonora, excelente e bem utilizada, mas deixa a desejar no manejo da câmera; o diretor Sam Esmail parece querer aplicar tudo que aprendeu, abusando dos travelings e planos zenitais, que se tornam vertiginosos sem realmente acrescentar muito dramaticamente. O clima lembra um pouco um filme do Jordan Peele, como "Corra!", até na temática racial, que aqui fica beeem nas entrelinhas, mas está ali, e gostei disso, pois cria uma dinâmica de percepção deturpada do caráter de determinada personagem e ajuda numa construção mais tridimensional dela.
- De quebra, temos boas atuações de Julia Roberts, Mahershala Ali, Ethan Hawke, Kevin Bacon e das jovens Farrah MacKenzie e Myha'la Herrold.
uma jovem nascida em 2010, que nunca ouviu falar de uma TV fora do ar, comerciais interrompendo a programação ou falta de sinal de Internet, se depara com o "inédito" mundo do entretenimento offline (um detalhe que o filme enfatiza com os vinis e, aqui, com os boxes de DVDs) em um bunker, e pode terminar a série que traz o escapismo que ela precisava, enquanto o mundo lá fora está acabando – ou ao menos, os EUA.
- Para mim, este filme é todo sobre a atuação de Sandra Huller e a direção de Justine Triet. Ambas muito elegantes, meticulosas e certeiras.
- Gosto dos movimentos de câmera inesperados que a diretora usa, como na cena em que Daniel está depondo, e a câmera se movimenta de acordo com a direção de onde vêm as vozes que o jovem cego ouve; os desfoques e os zoom-ins, que brincam com a metalinguagem, tornando a câmera diegética, ou seja, ela passa a existir no universo do filme também.
- A decisão de iniciar a cena da gravação como um áudio tocado no tribunal, daí mostrar a cena como um flashback e terminar de volta ao tribunal no momento-chave do áudio, deixando a interpretação para o espectador até que a versão de Sandra esclareça o que aconteceu de fato.
- O clima de incerteza psicológica é muito bem estabelecido, a ambiguidade é constante...
- E o que dizer da atuação de Sandra Huller que já não foi dito né? Dos filmes que estão concorrendo nesta temporada de premiações que eu já consegui assistir, a dela é a melhor. Enquanto as outras concorrentes têm uma cena que a gente bate o olho e fala "essa é a Oscar tape dela!", aqui, praticamente qualquer cena poderia ser a de Sandra. O que mais me atrai na sua atuação é a riqueza de emoções, de nuances, de humores e entonações que ela imprime em sua personagem homônima - é um showcase de todas as ferramentas dramáticas que esta atriz possui, e sem parecer que há esforço, que há método; é uma dessas que nem parece que está atuando, e eu acho isso fascinante.
- O menino Daniel, interpretado pelo Milo Machado-Gra também faz um trabalho impecável, queria tê-lo visto indicado como coadjuvante a qualquer prêmio desses.
- Eu gosto de filmes de tribunal e este aqui, certamente, está entre os melhores.
Belíssimo filme, um apagamento histórico literal que precisava ser trazido à tona, atuações magistrais de Lily Gladstone, Leo DiCaprio e do gigante Robert De Niro, que faz de Bill "King" Hale uma cobra tão desprezível [dessas que fingem ser aliados, quando na realidade estão por trás de tudo de asqueroso], que acho que está sendo pouco falado diante do rolo compressor que é a intérprete de Mollie Burkhart.
Me toca a sensibilidade de Scorsese, um senhorzinho de 81 anos, que poderia estar contando a história que quisesse, escolher contar esta; e com tanto respeito! É de uma clareza, um frescor, uma lucidez...! Um relato verídico de como brancos americanos roubaram as terras ricas em petróleo da nação Osage enquanto matavam praticamente todos os seus representantes, que funciona como alegoria de todo o modus operandi que países do norte do globo usaram para roubar as riquezas de nações do sul.
A cena do programa de rádio em que Scorsese faz uma linda participação também resgata uma arte extinta, que eram as rádio-novelas, e ao menos, os prêmios de ator, atriz, ator coadjuvante e diretor, esse filme merecia. A importância deste filme e a abordagem da direção de Scorsese são nada menos que emocionantes. Mas há uma pedra no caminho chamada "Oppenheimer".
Acho que se tornou meu filme de Natal preferido; dos últimos que assisti é o melhor. Amei essas atuações, Paul Giamatti, Dominic Sessa e Da'Vine Joy Randolph têm uma química irresistível juntos, a relação deles é construída muito organicamente, sem pieguice barata, mas muito coração. A cinematografia é discreta, mas com planos muito bem pensados, bastante profundidade de campo, belas composições; os figurinos também passam muito a vibes da época retratada, no caso, o fim dos anos 70. Que filme fofo e reconfortante.
Por mim, o de melhor ator ia para o Giamatti e melhor atriz ia pra Joy Randolph.
O que ficou comigo foi o êxtase dos americanos comemorando o bombardeio em Hiroshima, completamente dessensibilizadas das vidas japonesas aniquiladas, enquanto Robert Oppenheimer estava tendo uma crise nervosa de consciência com o poder devastador de sua criação; pois uma coisa é teorizar sobre, outra coisa é ver de fato a destruição.
Muitos nomes, muitos personagens (impossível gravar todos), um elenco de peso entregando atuações na média, a direção usa de muitas elipses temporais na montagem, tem horas que dá a ideia de estar vendo vários recortes de reportagens colados... Achei o filme muito seco, sem emoção, aborrecido e lançá-lo em imax não se justifica para além de um capricho padrão do Nolan.
Única parte que gostei foi a revelação do conteúdo da conversa entre Einstein e Oppenheimer.
Um documento histórico relevante que passa a limpo a contribuição do homem em um dos momentos mais definitivos da humanidade, sua culpa, sua consciência, as injustiças que sofreu, etc.... Mas como cinema, não entendo o hype, e é uma pena que esteja levando todos os prêmios que, de outra forma, iriam para o filme do Scorsese.
Adão Negro
3.1 687 Assista Agora↙️↗️ Provavelmente o filme da DC mais difícil de não revirar os olhos pelas semelhanças óbvias com heróis populares da Marvel; todos parecem versões da shopee do Falcão, Dr. Estranho, Homem-Formiga e Tempestade.
↗️ Apesar disso, a escalação de parte do elenco é boa, Pierce Brosnan está ótimo, por exemplo.
↙️ O roteiro é tão clichê que absolutamente tudo aqui é previsível e soa rançoso; as tentativas de piadas fracassam, especialmente as que envolvem o personagem do Noah Centíneo, e aquela envolvendo o Adão Negro e sua aversão a portas dava pra ver surgindo desde a primeira vez que ele destruiu a parede;
↗️↙️ As cenas de ação não são ruins, só tem essa questão da velocidade exagerada que, ao mesmo tempo que é legal por um lado, deixa tudo frenético demais; aí caímos naquilo de, ou tudo ser ultrarrápido, ou em slow-motion, o que é super irritante; Meu efeito preferido foi o rastro colorido que a Cyclone deixa quando usa seus poderes; E ÓBVIO que este filme teria uma cena de ação ao som de Kanye West 🙄.
↗️↙️ A mensagem sobre neo-imperialismo, resistência e liberdade teria sido muito inspiradora se não soasse tão hipócrita, vindo de uma mega corporação estadunidense.
↙️ No final a impressão que fica é a de uma grande egotrip do The Rock que queria de todo jeito parecer "fodão" e realizar seu sonho de menino, de se eternizar lutando contra o maior herói de todos. Pena (pra ele) que com a reconfiguração que a fusão Warner/Discovery causou no braço da DC, a rasteira que ele, a esposa e o Cavill tentaram dar no estúdio, deu errado, James Gunn entrou na parada para resetar tudo e o resto é história... Fora que o filme flopou também, então...
Shazam! Fúria dos Deuses
2.8 353 Assista AgoraNão é o desastre total que o trailer sugeria, gosto do que David F. Sandberg faz aqui dentro da pouca liberdade que teve (sou inscrito no seu canal no YouTube desde o curta do "Lights out", antes de ele pegar essas grandes franquias, ele é bem nerdão de cinema): "Fúria dos Deuses" pode não ter o frescor do primeiro, mas conseguiu manter o bom clima leve, goofy e assumidamente infantojuvenil. E aí é que tá: não dá pra colocar a comédia de aventura mais PG13 da DC na mesma prateleira dos outros filmes de herói do estúdio; vi um monte de marmanjo de 30, 40 anos reclamando de um produto que nem é direcionado a eles, ser "bobo" e "ingênuo", sabe... Nem tudo é Snyderverso, nem tudo é uma trama épica pretensiosa, gente! Acho essencial entender que as batidas do roteiro são muito déjà vu para mim que vejo esse mesmo tipo de filme na sessão da tarde desde os anos 90, mas para uma criança de 10 anos, não é assim!
A história é bem contadinha, não sem buracos, mas eles não atrapalharam; o diretor mais uma vez evoca suas origens no horror em diversas cenas que sugerem tortura, morte e catástrofe; esconde easter eggs no background, como as duas versões da boneca Annabelle, o que é divertido; assim como o humor do filme, que faz menção à cultura pop o tempo todo, Jack Dylan Glazer tem a performance mais nuançada do elenco, o carisma desse menino é bizarro, tanto que roubou o screen time todinho do Asher Angel, que faz o protagonista Billy Batson, porém gosto de como este personagem traz mais a questão da família, que eu considero o grande pilar dos filmes, ambos fazem uma boa dupla enfim; Zachary Levi segue funcional, mas continua descoordenado com seu eu mais jovem, nada a ver os dois; diferente da Meagan Good, que reproduziu bem a personalidade encantadora da Darla criança (Faithe Herman, lamentável terem-na usado para aquele product placement safado da skittles); Helen Mirren, queen, tem pelo menos uma cena hilária lendo um bilhete; Lucy Liu está no filme; Djimon Hounsou tem mais tempo para brilhar na comédia; Rachel Zegler adiciona carisma e contribui com o núcleo de Freddy; e finalmente D.J. Cotrona e Cooper Andrews, que fazem o Shazam verde do gordinho que se assumiu, e o pai da família adotiva, respectivamente, são tão lindos affe...! Kkkk
Filme imperfeito, porém simpático, caneta Steve melhor personagem, a duração é um dos maiores problemas, dava uma enxugada melhorava, gostei dos monstros mitológicos, ciclope, manticora, etc., caguei pro fato de não se conectar com universo compartilhado, acho um saco isso de ser obrigatório estar conectado; inclusive
se tivessem deixado o herói morto e os irmãos sem os poderes seria um desfecho mais corajoso e definitivo.
Shazam!
3.5 1,2K Assista AgoraO elenco é muito bem escolhido, quase todos os personagens funcionam - não curti o vilão, Mark Strong sempre meio genérico -, Zachary Levy acerta no tom da estupidez irresponsável do herói adolescente, mas quem rouba a cena no filme mesmo são Jack Dylan Glazer e a pequena Faithe Herman, duas supernovas de carisma. A história não é grande coisa, mas os diálogos são divertidos, o background do Billy é triste de verdade, e vê-lo sendo conquistado pelo carinho da nova família aos poucos é uma eficaz ferramenta narrativa que contagia quem assiste; os toques de horror que David F. Sandberg coloca no jeito de filmar e no tom, sem descaracterizar a proposta leve do filme, são inesperados...
"Shazam!" é uma sessão da tarde leve, despretensiosa, bem-humorada, meta, que faz graça com o mundo dos super-heróis e tem aquele clima de aventura anos 80 do Spielberg, com família, fantasia e doses cavalares de coração.
Yojimbo, o Guarda-Costas
4.3 127O filme de Akira Kurosawa que influenciou um sem número de tropos do cinema, como a figura do "forasteiro sem nome" comum nos westerns americanos, e que traz o querido do Toshiro Mifune no papel principal, não bateu pra mim. Simplesmente não é meu tipo de filme; acho tema/história desinteressantes e tecnicamente quase nada me chamou a atenção, exceto a montagem.
Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes
3.6 506 Assista AgoraA construção de universo é muito cuidadosa, a ação é bem montada e filmada com criatividade; a mescla de efeitos especiais e visuais é bem satisfatória; o elenco é carismático, competente e bem equilibrado nas falas, no tempo de tela e relevância dos personagens para a história. O senso de humor mira nos fãs do RPG, o que é justo (afinal essa galera espera há décadas uma adaptação decente), mas o público em geral também vai rir, e quem assistia à "Caverna do Dragão" nas manhãs da Globo também ganha um mimo. Os momentos mais dramáticos não têm sua carga diminuída com piadas, como tornou-se comum em tramas de aventuras de equipe; o filme se compromete com os momentos de emoção até o fim e recompensa quem prestou atenção no roteiro - descomplicado e amarradinho. Minha única reclamação é a atriz que faz a filha do Chris Pine atuar tão mal naquela cena-chave.
Tava faltando um filme com clima de matinê evocando "Indiana Jones" e "A Múmia" (1999). Divertido demais.
Pokémon, O Filme 7: Alma Gêmea
3.5 37 Assista Agora↗️ A abertura tem o melhor uso dos ambientes e Pokémon animados em 2D e 3D de todos os filmes da franquia até aqui; deve ter sido um verdadeiro pesadelo animar aquilo.
↗️ A sequência seguinte que culmina em Rayquaza 🆚 Deoxys... Vou falar: pra mim, é uma obra-prima. Sério, é a melhor batalha que já vi em qualquer mídia de Pokémon ever!! É tão fodaa!! Tão bem dirigida; o modo que a câmera se movimenta no meio da ação, a escala da porradaria, Deoxys mudando suas formas (normal, attack, defense e speed) de acordo com a necessidade, e Rayquaza mandando aquele Hyper Beam de surpresa bem no meio da cara, obliterado o Deoxys, putz!!... *Meme do Scorsese absolute cinema*.
↙️ Uma pena que depois desse início explosivo, o filme ensaia outra batalha agitada com Ash na Battle Tower, mas que acaba sendo um grande mousse... para então cair na mesma lenga-lenga sentimentalóide de sempre, nos vemos diante de uma barriga que dura quase uma hora, e a ação que rola no terço final, novamente envolvendo o lendário Rayquaza e o mítico Deoxys, se configura repetitiva, jamais alcançando a inspiração e o brilhantismo que abriu o filme. Tem querer muito para conseguir realizar um filme centrado em dois dos Pokémon mais fodas já feitos ser tão chato.
↙️ Vi com a dublagem de 2021 (?) disponível no Pokémothim, estranhei não ouvir a voz do Fábio Lucindo e um sotaque carioca... Mas o dublador é ok.
As Marvels
2.8 401 Assista AgoraNem é tão ruim quanto pintaram, é no mesmo nível de "Thor: Amor e Trovão". O filme não se leva a sério, brinca com o encontro das três, extrai tudo que poderia desse trio, tem umas cenas de luta ok (tivessem menos jogação de raiozinho era melhor), o cenário do planeta musical foi legal, aquilo ali e os gatos "transportando" a tripulação da estação espacial do Fury foram um grande surto camp - eu ri.
A encarnação mais tridimensional e desencanada da Capitã Marvel até aqui, Teyonah Parris e Iman Vellani seguram tudo no carisma; assim como a família de Kamala são a melhor coisa do filme; Samuel L. Jackson já viu dias melhores. Zawe Ashton não entrega nada na pele da antagonista Dar-Benn; apesar da motivação boa, é uma das vilãs mais esquecíveis do MCU. Nia DaCosta não repete o trabalho nota 10 de "Candyman", sua direção aqui é menos feliz, mas ainda tem seus momentos, considerando o tamanho e a falta de decisão final dessa produção.
A surpresa do pós-crédito é a mais empolgante de todas e sugere um novo começo para a já esquálida fórmula Marvel.
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraAinda com a lembrança do "Duna" de 1984 fresca na memória, pois assisti ano passado, a versão de Denis Villeneuve do épico de ficção científica escrito por Frank Herbert em 1965, traz muitas das cenas icônicas também presentes na versão de Lynch, como a do mosquito assassino, a do teste da caixa misteriosa e as dos vermes no deserto, com a diferença que este filme acerta em tudo que aquele errou.
O casting é muito feliz, todos os atores têm momentos de brilho - Rebecca Ferguson e Stellan Skarsgard são os meus preferidos -, o tom das atuações é certeiro, sem exageros, os personagens são interessantes; a narrativa é fácil de assimilar (sem precisar recorrer a voice over o tempo todo), a cinematografia privilegia a escala gigante das naves e dos cenários feitos de ótimos efeitos práticos e CGI, que junto à parte de som, assombra e causa aquele deslumbramento das espaçonaves em "A Chegada" (2016), mesmo sem a genialidade do compositor Jóhan Jóhannsson (R.I.P.), colaborador assíduo de Denis, Hans Zimmer é tão dotado quanto; ele cria uma música tão diferente das cordas europeias de outras obras da ficção como "2001 - Uma Odisséia no Espaço" (1968), remetendo a sons orientais, tribais e alienígenas que causam esse estranhamento, e contribuem essencialmente para a construção daquele universo. É um trabalho de pesquisa e criação absolutamente primoroso.
Gosto da forma sutil que o diretor trabalha todos os temas aqui: as alegorias políticas envolvendo um império que explora uma região desértica atrás de um bem de valor altíssimo (a tal especiaria, mas podia ser petróleo); a relação que os fremen têm com o deserto, como eles lidam com um ambiente tão hostil e sobrevivem criando tecnologias para otimizar o uso da água - muito mais valorizada por eles que a especiaria -, e o status de deidade que eles atribuem aos vermes Shai-Hulud; As misteriosas Bene Gesserit e sua forma de manipular o jogo político daquele universo; poder, determinismo, heroísmo, religião, filosofia, ecologia...
Villeneuve é um dos melhores diretores da atualidade e, como fã da saga, ele entendeu que um épico desse não poderia ser comprimido em três horas, e que bom que a Warner concordou; o filme termina em um ponto de virada que me pegou desprevenido, pois a duração passou voando para mim e a versão do Lynch vai muito além (obviamente, afinal esta é só a parte um), contudo, o ponto onde ele conclui aqui, apesar de ser mais um rito de passagem importante para a jornada de Paul Atreides, não é dirigido com a carga emocional que a sequência pedia para se igualar à escala grandiosa de outros momentos, deixando um gosto de anticlímax não-intencional, como o final de um episódio de meio de temporada de série.
Mesmo imperfeito, o filme me entregou aquilo que, no final do dia, é tudo que eu busco: uma história fascinante e bem contada, com bom ritmo, uma progressão de eventos natural, um personagem chamado Wellington e ao menos uma cena para mostrar a magnitude da bunda do Josh Brolin.
O Clube
3.9 146 Assista AgoraFilme difícil de avaliar, coloca o espectador em um lugar muito desconfortável, nos sentimentos misturados que ele causa. E dá uma revolta, chega uma hora... É bem dirigido, ótimo atores e uma história que não dá para prever aonde está indo, o que é sempre bom.
Acampamento Sinistro
3.3 386Esse filme é tosco demais, mas, gente, esse final...! Sem palavras! Passado!!
Slasher dos anos 80 é trash, é clichê e é CAMP! Aqui com trocadilho pois esse filme é a tradução definitiva do sentido do termo haha! Não dá pra esperar coerência, correção política, muito menos uma obra-prima, e "Acampamento Sinistro" te dá tudo isso, sendo tão ruim que dá a volta. Mas além de seguir a cartilha de "Sexta-feira 13" à risca, este aqui tem alguns detalhes que injetam alguma originalidade pela coragem que tiveram (e me deixaram de cara!), como por exemplo:
- É normal nesse tipo de filme atores de 30 fazendo papel de adolescentes, mas aqui tem muita criança e adolescente, algo que eu só veria de novo em 2021 com "Fear Street";
- Há vários tipos de crimes contra essas crianças além do assassino "misterioso" – tem um cozinheiro pedófilo nojento que sai de cena queimado com água fervente depois de falar e fazer barbaridades (que sabor!), e o dono do acampamento, que é outro predador sexual, desce o sarrafo em um moleque de 13 anos, Ricky, o primo de Angela;
- O acampamento é funcional e as atitudes dos jovens são bem autênticas, flertando, jogando, xingando e brigando o tempo todo ("Eat shit and die, Ricky!'' / "Eat shit and live, Bill!" xD), algo incomum no gênero;
- O trabalho de maquiagem nas cenas de morte é bem feito e a música também é boa;
- Desde "A Vingança de Freddy" (1985) eu não vejo um slasher exalar tanta sensualidade masculina, uma subversão das convenções do gênero, afinal, um dos pilares do "camp slasher" é a nudez feminina;
- A tia de Angela, Martha, é tão creepy e Desiree Ghould tem uma atuação tão ruim em um filme já cheio de performances fracas, que faz as cenas dela acrescentarem essa camada de delírio febril mudando completamente o tom do filme;
- E aquele final impossível de prever!...
é tudo tão bizarro e potencialmente problemático... O jeito como é filmado, montado em paralelo com aquele flashback, o efeito prático do molde do rosto da menina sobre o corpo do ator nu paralisado, a música dramática e os efeitos sonoros... É muito arrepiante!!
- E o final, além de ressignificar tudo que veio antes e melhorar o filme, abre margem para muitas discussões acerca da identidade de gênero de Angela/Peter, mas não vou me aprofundar nessa questão, pois não é minha vivência; ele foi forçadamente condicionado a viver como uma menina, sendo um menino, e não se identificava assim, logo, pelo que eu entendo, não é uma pessoa trans.
- Também fica claro através do penúltimo flashback, que o pai de Angela/Peter vivia um romance com seu parceiro que os acompanhava na primeira cena do acidente; o jeito que gays são representados aqui é meio torto, mas são os anos 80 (caguei), funciona pra deixar o filme mais onírico;
- Outros elementos que sempre me fazem rir nesse filme são a panela mais alta e justiceira de todos os tempos; Judy, a mean girl insuportável que tem um final off-camera terrível e o ator que faz o policial que volta no final com o bigode mais fake do cinema, ele não sabia que teria mais cenas pra filmar e raspou o bigode kkkkk que idiota!
Onibaba: A Mulher Demônio
4.1 115- A música desse filme! A fotografia desse filme!! Os enquadramentos, a profundidade de campo infinita, a iluminação, o uso de câmera lenta e o constante balançar das folhas do matagal... Poesia pura!
- E que filme sexy! Muito ousado para a década de 60; O desejo, a lascívia, a inveja, a mágoa e o apetite por punição norteando as ações dos personagens e determinando o andamento da história, que habilmente, a cada nova cena, traz algum pequeno ponto de virada ou anda com os conflitos já estabelecidos;
- Tadinho do totó que virou janta! 😰... Tempos de guerra.
- A forma que foi introduzida a tal máscara demoníaca, com a virada que é a chegada do samurai, é um dos fatores que mantém o filme sempre interessante; não esperava que fosse ser do jeito que foi, e eu gostei muito disso.
- Toda a construção é muito bem compassada até o clímax (aqui literal) na chuva, que age como uma catarse que nos leva a uma conclusão inesperada e ambígua
(ela conseguiu pular o buraco ou caiu lá dentro como parte da maldição do samurai? Existiu mesmo esse elemento sobrenatural, ou foi apenas a ação da chuva sobre a máscara?.. Porque o antes belo samurai teve o mesmo destino!),
- Excelente, poético, obra prima.
📽️ Stremio_ Dom, 25/Fev/2023.
Despertar dos Mortos
3.9 318 Assista Agora- Clássico é clássico, e este envelheceu bem na questão da crítica que o diretor e roteirista George A. Romero faz sobre capitalismo e sociedade de consumo, que sempre será relevante; assim como a forma que a visão de mundo de Romero é moldada pelo contexto histórico da crise do petróleo e da Guerra do Vietnã, o que acrescenta camadas ao que vemos na tela. Temos também a discussão ética na mídia sobre como lidar com essa crise, que é um aspecto interessante que eu sinto falta de ver em mais filmes de zumbi.
- Inclusive as cenas da emissora de TV e dos policiais nos apartamentos populares são as que mais gostei do filme, justamente pelas discussões que geram nesse sentido.
- A escalação do elenco e a construção da relação dos personagens ao longo do filme é outro acerto de Romero.
- Porém, senti que envelheceu bem mal no departamento de efeitos e maquiagem - onde o baixo orçamento fica evidente; só gosto de como fizeram a pele na hora das mordidas, aquela gelatina ali ficou satisfatório. Tom Savini, mago dos efeitos especiais, não entregou seu melhor neste departamento, MAS FAZER BADERNA como um dos motoqueiros mercenários ele soube né haha!
- O mais irônico é que os protagonistas poderiam ter vivido anos no shopping, pois tinham tudo que necessitavam e os zumbis eram de boas, porém me ocorreu a certo ponto que a maior ameaça que eles poderiam enfrentar, seria outro grupo de vivos mal-intencionados e, para minha satisfação, o roteiro seguiu essa lógica.
- Mesmo com todos os pontos positivos, a mágica aconteceu apenas pela metade, e o filme não me cativou a ponto de se tornar um novo favorito. Se eu pudesse, juntaria a reflexão social deste com os efeitos e a urgência do remake de Zack Snyder, aí sim. Ou quem sabe reassistindo em alguns anos.
The Rocky Horror Picture Show
4.1 1,3K Assista AgoraQue viagem! Filme completamente despirocado, over-the-top, absurdista, kitsch e gay AF! A definição do que é um "Midnight movie".
Tim Curry NASCEU para interpretar o Dr. Frank-N-Furter! Susan Sarandon também serviu camp na jornada de ingenuidade conservadora de Janet até a total liberação sexual ao lado do seu amado Brad. Todo o elenco funciona, mesmo os atores mais inexperientes, pelos elementos satíricos de terror, sci-fi e comédia do filme.
Deve ser muito mais divertido num cinema com fãs cantando e fazendo as coreografias, porque na sala de casa, a falta de sentido dos eventos e a queda de ritmo depois do segundo ato sobressaem e dão uma prejudicada na diversão. Mas curti as músicas icônicas e a ousadia em desafiar os costumes, os padrões, as noções de masculino e feminino da época, que conferem ao filme um senso de liberdade único.
Eleição - O Submundo do Poder
3.8 14Não é o tipo de filme que me prende. Não fui capaz de embarcar na trama de intrigas políticas e crime organizado proposta aqui. A direção também não me chamou a atenção, algumas atuações exageradas, como a do ator que interpreta Big D... mas acredito que essa percepção seja algo cultural. Só que quando não bate... Não bate. Chato. Salvo o terço final, mais violento e o tema do filme que antagoniza os conceitos de tradição versus sede de poder a qualquer preço.
Banho de Sangue
3.5 124A contribuição de Mario Bava para o que veio a se tornar o slasher foi imensa e finalmente pude assistir este que foi um de seus filmes mais influentes.
A cena inicial é muito boa. Ela começa meio melodramática, daí tem uma mudança de tom súbita na edição e na música para um giallo (com direito a luvas pretas), porém em seguida subverte tudo ao revelar a identidade do assassino; e então outra subversão quando vilão se torna vítima! Há um nível de ironia que esbarra no camp nesta cena, que me lembrou o enfoque que Wes Craven dá na franquia "Pânico", não por acaso, um slasher.
Devido ao baixo orçamento, Bava dirige e também opera a câmera, capturando alguns planos que eu gosto, que avançam com a narrativa e fazem uso inventivo dos cenários... mas a maioria são enquadramentos meio caóticos, escuros ou fechados demais, com zoom in-out que não acaba mais, câmera subjetiva, um uso excessivo de transições por perda de profundidade de campo, causando uma confusão visual desagradável... Óbvio que há apreciadores do que ele faz aqui, mas eu fiquei mais incomodado do que impressionado.
Mais da metade do filme há poucas falas realmente interessantes, o que cria grandes vácuos de desenvolvimento narrativo... para então em seu terço final, tudo se atropelar em diálogos e flashbacks que pretendem explicar uma trama convoluta de ganância e vários núcleos de personagens diferentes. Essa escolha mais confunde do que esclarece, pois falta tempo para essas informações serem assimiladas por quem assiste. Há, inclusive, dois personagens de meia idade grisalhos praticamente idênticos que também não ajudam na tarefa de entender o que está acontecendo na tela.
As cenas de morte são o ponto alto do filme: elas são criativas, têm um nível de gore chocante, os efeitos especiais de Carlo Rambaldi (que anos depois viria a trabalhar em "Alien" e "E. T. - O Extraterrestre" vencendo 3 Oscars no processo) impressionam, e influenciaram praticamente todos os slashers, principalmente "Sexta-feira 13".
A polêmica cena final foi um acerto para mim; dentro de todo o absurdismo dela, há um sofisticado humor dark e um comentário sobre como a banalização da violência tem um efeito devastador em mentes suscetíveis.
"A Bay of Blood" é um clássico que inegavelmente influenciou o giallo e o slasher, contudo, não sem defeitos, sendo um pouco confuso visual e textualmente. A história é interessante, mas poderia ter sido melhor trabalhada ao longo do filme. A maquiagem excelente e a direção criativa nas cenas onde o facão entra, são seu maior legado.
Mistérios da Carne
4.1 975Eu nem sabia que estava com saudades de ver um filme independente ianque nessa vibe final dos 90's/início dos 2000, tipo "Tempestade de gelo", "Donnie Darko", "Beleza Americana" e "Aos Treze", mas "Mysterious Skin" (no original) entregou isso e mais uma inédita dose de nostalgia por esse segmento de filme específico realizado nesse período, que eu amo forte. A juventude vivendo de excessos em suas descobertas de como navegar pelo mundo dos adultos, sem esperança e sem supervisão pois seus pais são separados, alcoólatras ou só negligentes; a moda y2k exagerada, colorida, carregada e que não pede desculpas a ninguém; a banalização da sexualidade dos corpos, do sexo em si e suas consequências; algum elemento inexplicável como OVNIs ou viagem temporal; traumas, gatilhos, dissociação mental, acerto de contas... E aquela vibe de filme 'artsy' despretensioso, mas com aquela montagem, música e direção espertas que os festivais adoram.
Esse estilo de filme existe em uma cápsula de tempo específica, e mesmo tratando de temas em geral bem pesados, consegue evocar um sentimento tão nostálgico para mim, que fui adolescente no ano de 2004, que é até difícil de explicar. Só sei que eu amei "Mistérios da carne", pela época que ele representa no jeito do "fazer cinema", por esse negativo granulado, essas locações mundanas, essa fotografia descomplicada — tem o sabor do meu ensino médio e a efervescência de seu tempo.
A história também é um elemento que ressoou muito comigo, o diretor e roteirista Gregg Araki adapta de um livro semi-autobiográfico de Scott Heim, esse relato assustadoramente preciso de abuso infantil e as diferentes formas que as vítimas encontraram para lidar com isso, cheio de complexidade, sempre muito real e direto ao ponto. Acho um roteiro corajoso e uma direção por vezes delicada, com truques de edição para lidar com o elenco infantil sem que eles soubessem do assunto denso que as cenas envolviam, como atuar diretamente para a câmera subjetiva (o que deu uma sensação tão estranha, de repente me senti exposto)... e em outras, bem crua retratando a violência a que está sujeito um twink trabalhador do sexo.
Neil e seus amigos têm muito de pessoas que eu conheci no colégio, situações que vivi enquanto crescia, e a atuação de todo o jovem elenco é competente, Joseph Gordon-Levitt faz um trabalho digno de prêmios em um de seus primeiros papéis mais adultos e um dos melhores de toda sua carreira, entregando-se completamente à trajetória tortuosa de Neil. Brady Corbert também confere uma ingenuidade verossímil a Brian que cria um contraponto bem interessante com Neil, e sua jornada em busca da verdade não é um mistério para nós, mas queremos que ele descubra e ficamos preocupados com o modo que ele reagirá. Bill Sage está aterrorizante e sedutor como o treinador Heider. Elisabeth Shue está linda e eu amo vê-la atuando. E me conectei muito com o personagem Eric, amigo de Neil, pois ele se parecia comigo naquela idade, inclusive fisicamente.
Um filme bonito e deprimente sobre as "dores do crescimento" (ou "coming-of-age" para usar uma expressão do inglês difícil de traduzir) que não guarda seus socos, guiado por uma performance poderosa de um ainda jovem Gordon-Levitt e amparado por um roteiro sólido e uma direção segura do pai do cinema queer underground Gregg Araki.
"Two boys. One can't remember. The other can't forget." ...Eu não lembro de ter lido uma tagline tão sucinta, tão poderosa e tão assertiva assim na vida.
Zona de Interesse
3.6 581 Assista AgoraNunca mostrar imageticamente os horrores que acontecem do outro lado do muro, deixando o espectador apenas com a perspectiva da família alemã nazi é uma escolha narrativa brilhante, que torna este filme único dentre tantos que já abordaram o holocausto judeu. Os vislumbres vêm da fumaça que sai da chaminé da fornalha, cujo odor "incomoda" os residentes do entorno privilegiado; das cinzas despejadas no rio em que eles se banham e pegam pai e filhos de surpresa, tendo que passar por uma limpeza intensa após; mas principalmente do som. O trabalho de som de "The Zone of Interest" (no original) é magnífico e espero que ganhe o Oscar, pois é usado de maneira tão fundamental, tão pungente... Ouvimos vozes, tiros, sirenes, etc. e, assim como os judeus trabalhando do lado de cá, ficamos mortificados com as imagens que nossa imaginação produz a partir desses sons, mas diferente deles, não precisamos fingir costume e seguir com a vida como se aquilo não fosse um matadouro de gente - da nossa gente.
A normalidade das vidas daquelas pessoas, que riem, batem papo, comemoram, brincam, namoram, tomam banho de piscina e se preocupam com algo tão insignificante como arbustos do jardim, enquanto há um genocídio rolando literalmente ao lado, é mais do que suficiente para causar um embrulho no estômago de quem tem humanidade.
Os bastidores do holocausto, o aperfeiçoamento do mecanismo de morte e a sutileza da crueldade retratadas aqui são muito mais eficazes do que criar cenas maniqueístas onde o general é um monstro que comete atrocidades contra os prisioneiros; Rudolph Hoss é um homem até razoável, mundano que comanda o campo de concentração de Auschwitz, nunca toca em sua esposa, satisfaz seus desejos com judias (limpando muito bem seu membro após, pois, eca, judeus) e só é capaz de demonstrar sentimentos para sua égua; e sua esposa Hedwig (Sandra Huller mais uma vez magnética), uma mulher organizada e tranquila, que comanda a casa, cria os filhos e ocasionalmente solta alguma ameaça de morte para suas empregadas judias, lembrando-as da sorte que têm em estarem ali, vivas.
Gostei de todas as decisões tomadas por Jonathan Glazer aqui, na forma como "pula" deliberadamente certos acontecimentos, criando o set-up da situação e já mostrando o pós; e como mostra a rotina, o banal, a vida se desenrolando apesar do horror de que temos consciência, pois reflete como aqueles nazistas ordinários viam a situação, judeus são menos que animais para eles, então, nem havia mesmo incômodo algum para abordar, era só mais um dia.
O Bar Luva Dourada
3.5 340Direção muito boa de Fatih Akin, gosto das escolhas que ele faz sobre o que mostrar e o que apenas sugerir, como na cena de abertura que envolve um serrote, onde mesmo trabalhando apenas com efeitos sonoros e atuação, o resultado é muito incômodo.
A vibe desse filme é toda assim: incômoda, lúgubre, deprimente... A decadência humana, a imundície, a podridão que transborda da tela e o sentimento de desesperança são constantes, te deixam pra baixo - e eu nem estou considerando os crimes! Daí é ladeira emocional abaixo. Mulheres cuja juventude e a beleza já as deixou há tempos, em situação de vulnerabilidade social ou baixa autoestima caem nas mãos de um assassino impiedoso e pouco metódico para sofrerem horrores difíceis de testemunhar (boatos de que talvez eu tenha colocado os dedos sobre os olhos nesses momentos).
O protagonista desta história real, Fritz Honka, é interpretado pelo talentoso Jonas Dassler com uma entrega magnífica - não acreditei quando descobri que seu rosto estava coberto de maquiagem o filme todo, de tão perfeita! Margarethe Tiesel como Gerda Voss destruiu meu coração com até onde ela estava disposta a ir em sua jornada degradante em busca de um teto; e a Frida de Martina Eitner-Achea, em seu curto tempo em cena, cria uma marca ressonante na fita por ser a primeira a revidar as agressões de Honka, mas que comete os erros das antecessoras de não aproveitar as oportunidades de fugir e tem um fim terrível. O restante do elenco que compõe a galeria de personagens do bar luva dourada, do prédio em que Honka mora e do seu trabalho são memoráveis.
A fotografia é excepcional, tanto nas cenas que envolvem a musa do assassino, quanto ao retratar a sujeira de sua moradia, e aqui vale também um destaque para direção de arte, a reprodução do apartamento com a decoração de fotos pornográficas amontoadas pela parede e objetos de cena como aquelas bonecas creepy e os inúmeros aromatizadores de ambiente foram escolhas tão eficazes narrativamente, pois ajudam a compreender melhor quem é esse cara e constroem um "clima".
O papel do álcool como um agente potencializador das desgraças é outro aspecto interessante que o filme aborda. Há um take que eu achei assombroso, uma pan que a câmera faz do incêndio no apartamento para o céu noturno, onde a fumaça forma o rosto de uma das vítimas de Fritz, muito sutil. O realismo alcançado aqui é perturbador, a natureza física e psicológica da violência, idem, e a vontade é de sair o mais rápido possível daquele universo pós-guerra nefasto cheio de personagens estranhos e doses de humor dark demais para esboçar um riso.
Longe Deste Insensato Mundo
3.6 232 Assista AgoraQuem diria que uma das cinematografias mais deslumbrantes que já vi na vida pertenceria a um filme de Thomas Vinterberg, um cineasta oriundo do manifesto dogma 95, que pregava um cinema mais "cru". E também não imaginava jamais vê-lo dirigindo um romance tão "classicão" como esta adaptação da obra mais conhecida do escritor Thomas Hardy: "Far from the Madding Crowd" (no original). Só pelo aspecto inusitado deste crossover já estava curtindo o filme.
Carey Mulligan é ótima para papéis de época como este e seus três interesses amorosos - Matthias Schoenaerts, Michael Sheen e Tom Sturridge - delimitam bem as diferentes personalidades e a forma que demonstram seu apreço pela protagonista Bathsheba Everdene; A história segue um caminho tradicional, porém nunca se torna enfadonha de acompanhar, com algumas surpresas despretensiosas e uma montagem que tem o demérito de não deixar tão clara a passagem do tempo, e que efetivamente prejudica a construção de certas relações que poderiam ser mais bem trabalhadas, sendo Bathsheba/Gabriel a única satisfatória delas.
Ainda não sei se gosto dela, porque ela brincou com o coração dos dois homens que a amaram de verdade e escolheu ficar com o cafajeste (normal); tinha princípios muito modernos para sua época e se viu traindo-os por uma paixão que acabou por torná-la infeliz... mas de certa forma, essas falhas da protagonista me interessam e refletem o tom pessimista das obras de Hardy que encontram ecos na filmografia de Vinterberg... E ela teve sua redenção e Gabriel Oak, seu final feliz.
Trilha sonora 10/10 e só pela fotografia eu passaria horas vendo exclusivamente takes do pessoal trabalhando na fazenda sem uma fala sequer, mas a escrita é boa, os atores são ótimos e o desenrolar do plot subverte algumas expectativas. É o tipo de história que nas mãos da rede globo daria uma novela esticada por 180 capítulos cheios de fillers, mas que se resolve em duas horas com um bom ritmo.
O Mundo Depois de Nós
3.2 881- Um filme sintomático das ansiedades que tomaram conta do mundo com a pandemia, as tensões raciais e a cyberparanoia da virada da década de 2020; some-se a isso o fato de ter sido produzido por Barack e Michelle Obama e temos uma senhora pulga atrás da orelha com os rumos que as coisas poderiam tomar nesta distopia estadunidense. Uma guerra baseada em isolamento digital total só mostra como a nossa dependência da tecnologia cria prisões difíceis de transpor que podem se manifestar de forma real até demais, como em carros automáticos e outros hardwares que podem ser hackeados. Gosto principalmente da parte que os personagens estão discutindo quem seria responsável por aqueles ataques, se Irã ou Coreia, e alguém diz que poderia ser uma iniciativa coordenada das várias nações inimigas que os EUA foram colecionando ao longo dos anos - a ideia é terrivelmente épica.
- A direção acerta na trilha sonora, excelente e bem utilizada, mas deixa a desejar no manejo da câmera; o diretor Sam Esmail parece querer aplicar tudo que aprendeu, abusando dos travelings e planos zenitais, que se tornam vertiginosos sem realmente acrescentar muito dramaticamente. O clima lembra um pouco um filme do Jordan Peele, como "Corra!", até na temática racial, que aqui fica beeem nas entrelinhas, mas está ali, e gostei disso, pois cria uma dinâmica de percepção deturpada do caráter de determinada personagem e ajuda numa construção mais tridimensional dela.
- De quebra, temos boas atuações de Julia Roberts, Mahershala Ali, Ethan Hawke, Kevin Bacon e das jovens Farrah MacKenzie e Myha'la Herrold.
- O desfecho é sensacional;
uma jovem nascida em 2010, que nunca ouviu falar de uma TV fora do ar, comerciais interrompendo a programação ou falta de sinal de Internet, se depara com o "inédito" mundo do entretenimento offline (um detalhe que o filme enfatiza com os vinis e, aqui, com os boxes de DVDs) em um bunker, e pode terminar a série que traz o escapismo que ela precisava, enquanto o mundo lá fora está acabando – ou ao menos, os EUA.
Anatomia de uma Queda
4.0 791- Para mim, este filme é todo sobre a atuação de Sandra Huller e a direção de Justine Triet. Ambas muito elegantes, meticulosas e certeiras.
- Gosto dos movimentos de câmera inesperados que a diretora usa, como na cena em que Daniel está depondo, e a câmera se movimenta de acordo com a direção de onde vêm as vozes que o jovem cego ouve; os desfoques e os zoom-ins, que brincam com a metalinguagem, tornando a câmera diegética, ou seja, ela passa a existir no universo do filme também.
- A decisão de iniciar a cena da gravação como um áudio tocado no tribunal, daí mostrar a cena como um flashback e terminar de volta ao tribunal no momento-chave do áudio, deixando a interpretação para o espectador até que a versão de Sandra esclareça o que aconteceu de fato.
- O clima de incerteza psicológica é muito bem estabelecido, a ambiguidade é constante...
- E o que dizer da atuação de Sandra Huller que já não foi dito né? Dos filmes que estão concorrendo nesta temporada de premiações que eu já consegui assistir, a dela é a melhor. Enquanto as outras concorrentes têm uma cena que a gente bate o olho e fala "essa é a Oscar tape dela!", aqui, praticamente qualquer cena poderia ser a de Sandra. O que mais me atrai na sua atuação é a riqueza de emoções, de nuances, de humores e entonações que ela imprime em sua personagem homônima - é um showcase de todas as ferramentas dramáticas que esta atriz possui, e sem parecer que há esforço, que há método; é uma dessas que nem parece que está atuando, e eu acho isso fascinante.
- O menino Daniel, interpretado pelo Milo Machado-Gra também faz um trabalho impecável, queria tê-lo visto indicado como coadjuvante a qualquer prêmio desses.
- Eu gosto de filmes de tribunal e este aqui, certamente, está entre os melhores.
Assassinos da Lua das Flores
4.1 607 Assista AgoraBelíssimo filme, um apagamento histórico literal que precisava ser trazido à tona, atuações magistrais de Lily Gladstone, Leo DiCaprio e do gigante Robert De Niro, que faz de Bill "King" Hale uma cobra tão desprezível [dessas que fingem ser aliados, quando na realidade estão por trás de tudo de asqueroso], que acho que está sendo pouco falado diante do rolo compressor que é a intérprete de Mollie Burkhart.
Me toca a sensibilidade de Scorsese, um senhorzinho de 81 anos, que poderia estar contando a história que quisesse, escolher contar esta; e com tanto respeito! É de uma clareza, um frescor, uma lucidez...! Um relato verídico de como brancos americanos roubaram as terras ricas em petróleo da nação Osage enquanto matavam praticamente todos os seus representantes, que funciona como alegoria de todo o modus operandi que países do norte do globo usaram para roubar as riquezas de nações do sul.
A cena do programa de rádio em que Scorsese faz uma linda participação também resgata uma arte extinta, que eram as rádio-novelas, e ao menos, os prêmios de ator, atriz, ator coadjuvante e diretor, esse filme merecia. A importância deste filme e a abordagem da direção de Scorsese são nada menos que emocionantes. Mas há uma pedra no caminho chamada "Oppenheimer".
Os Rejeitados
4.0 317Acho que se tornou meu filme de Natal preferido; dos últimos que assisti é o melhor. Amei essas atuações, Paul Giamatti, Dominic Sessa e Da'Vine Joy Randolph têm uma química irresistível juntos, a relação deles é construída muito organicamente, sem pieguice barata, mas muito coração. A cinematografia é discreta, mas com planos muito bem pensados, bastante profundidade de campo, belas composições; os figurinos também passam muito a vibes da época retratada, no caso, o fim dos anos 70. Que filme fofo e reconfortante.
Por mim, o de melhor ator ia para o Giamatti e melhor atriz ia pra Joy Randolph.
Oppenheimer
4.0 1,1KO que ficou comigo foi o êxtase dos americanos comemorando o bombardeio em Hiroshima, completamente dessensibilizadas das vidas japonesas aniquiladas, enquanto Robert Oppenheimer estava tendo uma crise nervosa de consciência com o poder devastador de sua criação; pois uma coisa é teorizar sobre, outra coisa é ver de fato a destruição.
Muitos nomes, muitos personagens (impossível gravar todos), um elenco de peso entregando atuações na média, a direção usa de muitas elipses temporais na montagem, tem horas que dá a ideia de estar vendo vários recortes de reportagens colados... Achei o filme muito seco, sem emoção, aborrecido e lançá-lo em imax não se justifica para além de um capricho padrão do Nolan.
Única parte que gostei foi a revelação do conteúdo da conversa entre Einstein e Oppenheimer.
Um documento histórico relevante que passa a limpo a contribuição do homem em um dos momentos mais definitivos da humanidade, sua culpa, sua consciência, as injustiças que sofreu, etc.... Mas como cinema, não entendo o hype, e é uma pena que esteja levando todos os prêmios que, de outra forma, iriam para o filme do Scorsese.