Os meses de verão têm sempre a consistência líquida dos sonhos de última hora, a aparência nebulosa dos sonhos em vigília: difícil saber se pertencem ao mundo real, ou se são invenções sentimentais de um coração capaz de enganar a razão a base de momentos felizes e raios de sol que vazam entre as árvores. Depois de uma brilhante carreira no campo documentário do tipo mais ousado, e de um filme, El cielo, la tierra y la lluvia (2008), que dava início a sua viagem ao mundo da ficção, o jovem cineasta chileno desembarca com uma história que parece ter sido feita para desmontar a narração tradicional. Uma narrativa fragmentada que confirma a suspeita de que, se os impressionistas vivessem hoje em dia, trocariam os pincéis pela câmera: luzes, amores, árvores e um balneário como cenário para as férias do espírito. Um quebra-cabeça sensorial que consegue o milagre de transportar o espectador para este estado de graça que algumas pessoas ainda chamam de verão. (Gonzalo de Pedro Amatria)