"Reduzir o espectro político a idealistas e pragmáticos é ignorar a paleta de tons morais apresentada a todo aquele que se inicia no ramo e disposto a pensar fora da caixa. A fuga do panfletarismo, dessa forma, é um dos méritos deste filme, cuja atenção aos vários desvios de rota do protagonista em sua jornada anti-heróica é minuciosa, tangenciando por vezes o exagero."
Trecho da minha crítica ao filme "O Estudante", publicada na revista Janela.
"As fachadas do Banco Mundial e do Lincoln Memorial resguardam o viés político-econômico o suficiente para conceder espaço a elementos fundamentais para o cinema de Abel Ferrara: a sordidez humana pontuada por violência, luxúria, desorientação e culpa pós-católica."
Trecho da minha crítica a este filme publicada na revista Janela.
"Sem abrir mão das discussões conceituais tão preciosas ao seu estilo, Bianchi comete a proeza de fazer de “Jogo das Decapitações”, a um só tempo, um compêndio de urgências e um deleite artístico dos mais elaborados."
Trecho da minha crítica sobre "Jogo das Decapitações", publicada no Cinetoscópio.
"De todo modo, há um saudável incômodo no descompasso entre a caracterização dos personagens, assombrosamente similar aos traços dos personagens criados por E. C. Segar, e um roteiro que nega em vários instantes a possibilidade das aventuras tanto dos quadrinhos quanto do desenho animado."
Leiam a íntegra da minha crítica a "Popeye" no site Cinetoscópio.
"'Tocaia no Asfalto' une o alcance de uma identidade brasileira que muitos cineastas tentam pretensiosamente em vão a uma elaborada apropriação do cinema de gênero."
Trecho da minha crítica do filme ao site Cinetoscópio.
1) Nos créditos finais deste documentário, o próprio Rorion Gracie, um dos criadores do formato do UFC, fala da participação de Milius nesse projeto;
2) Ainda nos créditos finais, faz-se referência a três filmes em que tanto Milius quanto Steven Spielberg e George Lucas possuem participações nos lucros, sendo "Star Wars" um deles.
Talvez o único defeito deste filme seja comprimir para depois do final tantas informações pertinentes.
"Longe do narcisismo de certos colegas atores quando passam à direção (...), [Sean Penn] manifesta apreço por personagens em situações-limite cujo desenvolvimento alia uma sutileza nada gratuita a momentos de grande impacto emocional, causando travos na garganta sem incorrer no apelo banal às lágrimas".
Trecho da minha crítica de "Acerto Final" para o Cinetoscópio:
"Um Cronenberg menor, assim comodamente pensam boa parte dos que não ultrapassam o óbvio ao se depararem com esta realização, às vezes um tanto oculta na prateleira da sua filmografia."
Trecho da crítica de "M. Butterfly" por André LDC para o Cinetoscópio:
"(...) fazer um filme alegre, tão apaixonado por suas personagens femininas quanto pela Nova York que serve literalmente enquanto cenário, seria um ótimo indicador do que este cineasta, de ascensão tão meteórica quanto sua queda, realizaria no futuro. Contudo, embora ele não tenha perdido totalmente suas habilidades em seus trabalhos posteriores, o destino inglório de 'Muito Riso e Muita Alegria' jamais pôde ser relevado."
Trecho da minha crítica a este adorável e subestimado filme, publicada no site Cinetoscópio.
"(...) como pode uma história de amor infanto-juvenil originada naqueles tempos parecer tão adequada ao seu tempo e manter seus méritos acima de quaisquer temporalidades?"
Trecho da minha crítica de "Melody - Quando Brota o Amor", publicada no site Cinetoscópio.
Bem intencionado quanto a nos aproximar da cultura latino-americana, "Só Deus Sabe" ganha pela sensualidade e perde na falta de firmeza em conduzir a trama. Alice Braga e Diego Luna salvam-se, pelo menos.
Se Laura não existisse, muitos escritores se matariam para inventá-la. Os relatos que li sobre ela (pré e pós-filme) antes de assistir a este documentário não foram capazes de reduzir o espanto com alguém tão peculiar. Sua busca incessante pelo glamour dos famosos desde quando garota contrasta com sua vida particular nebulosa, vivendo em condições precárias na Nova York tão fundamental à sua busca pelo brilho e pelo luxo. O diretor, por sua amizade com Laura, poderia trabalhar melhor esse contraste. No entanto, nota-se um excesso de foco nos aspectos mais excêntricos da protagonista em detrimento da sua notável habilidade em se entranhar em ambientes coalhados de astros do cinema e outros notáveis. Embora desconfiar da opinião do objeto de um documentário seja algo salutar, parte das reclamações de Laura quanto ao modo como o diretor a retrata tem sua razão de ser. Portanto, mesmo sendo um bom documentário, a sua força reside bem mais na personalidade intensa de Laura do que nas pretensões do realizador. O que não desmerece de todo o seu trabalho, muito embora fique uma sensação levemente incômoda que permite imaginar como este filme poderia ser ainda melhor.
A ausência de legendas informando quem é quem no rol de depoimentos é o primeiro sinal de que não estamos diante de um documentário óbvio. A fim de reforçar a ideia de se falar de um cidadão comum cuja vida desviou-se até o triste final, deduzir a ligação entre Rafael Burlan e as pessoas que dele falam ajuda a construir o vínculo emocional com o trajeto artístico e emocional do diretor em busca de maiores esclarecimentos sobre quem foi seu irmão. O contraste entre o retrato in loco da periferia e a explanação de um dos amigos de Rafael à beira-mar - o mais denso dos testemunhos na tela - é outro achado de "Mataram Meu Irmão". As imagens que entremeiam as falas são emblemáticas do dito e do não-dito sobre o vazio deixado pela perda de um ente próximo, suas origens, seus anseios, suas válvulas de escape e o destino resultante de todas essas variáveis.
O único senão encontra-se nas filmagens com a família deixada pelo irmão morto. A intenção de concluir a jornada, fazendo deste trecho o mais aguardado do filme, perde força no momento em que a filha mais velha de Rafael canta e toca violão na sala da casa, ao lado do irmão mais novo, num retrato de casualidade um tanto impositivo.
No final, temos um senhor documentário a merecer ser visto e referenciado.
Documentário inventivo, questionador dos limites com a ficção, capaz de se apropriar de eventos insólitos e talvez constrangedores sem explorar as adoráveis figuras das irmãs cantadoras de forma indevida. Não há, aqui, um certo mau hábito de tomar a vida de pessoas comuns para fins de auto-ajuda que poderia ser adotado por um realizador mais apelativo. Musicalmente bem elaborado, com ou sem a trilha de Hermeto Pascoal, "A Pessoa É Para o Que Nasce" é popular sem ser popularesco, refinado sem ser esnobe e emocionante sem exageros.
Dúvida da semana: irritar-me com os deslumbrados que enxergaram em "Ninfomaníaca" uma obra-prima ou com o próprio Lars Von Trier pelo seu crescente desaprendizado em cinema. Não chego a descartar a primeira parte do seu novo projeto como uma porcaria qualquer, não importando a sua procedência. O que não evitou a minha decepção para quem conseguiu fugir do óbvio em sua filmografia até agora. As escolhas musicais ainda são o seu forte. No entanto, o uso da surrada "Born to Be Wild", do Steppenwolf, seja um misto de falta de imaginação com humor de mau gosto. Há algumas boas composições visuais. Contudo, elas se perdem num emaranhado de platitudes e planos gratuitos - e não me refiro às cenas de sexo. O ponto mais fraco do filme está em boa parte do diálogo entre Joe e Seligman. O didatismo e a arrogância intelectual imperam e desmerecem o uso da narrativa no cinema. Poderia ser compreensível a intenção de dessensualizar o sexo a fim de reforçar a obsessão de Joe. Em vez disso, a brochice dominante mais parece uma inabilidade em representar relações sexuais ou mesmo em retirar delas toda a satisfação voyeurística possível. Até mesmo algo tão promissor quanto a competição entre Joe e sua amiga para ver quem conseguia mais parceiros sexuais em um trem resulta abobalhada. Sem querer medir as atuações pelo grau de exposição corporal de cada intérprete, os únicos nomes do elenco a merecerem louvação nesta primeira parte de "Ninfomaníaca" são Christian Slater, no estratégico papel do pai da protagonista, e Uma Thurman. A sua participação não apenas é uma das melhores de sua carreira, mas também é a mais digna do estilo de Von Trier, num tempo em que ele deixava as provocações para seus movimentos de câmara em vez de factóides e frases infelizes. Admitindo que a segunda parte possa compensar a frustração aqui constatada, torço para que esse notável diretor não atrofie o seu cinema. Por ora, considero este o mais superestimado dos seus filmes.
É a primeira das comédias clássicas de Jerry Lewis a que assisti na vida. Por lembrar-me dele mais pelos seus papéis sérios ("O Rei da Comédia", "Arizona Dream"), conhecer o seu modo peculiar de fazer comédia causou-me espanto. Para o bem, adianto. Além das gags bem construídas, indo do escracho puro da aula de canto ao sentimentalismo da cena do baile no ginásio, há algo mais do que meramente o fazer rir. O grupo que deseja fazer de Stanley Belt um novo astro da comédia, no começo, prenuncia um retrato agridoce do mundo do espetáculo, onde o gênio criativo é formatado por um comitê de profissionais até se encaixar nas pretensões do show business. Contudo, a irregularidade desse conjunto, onde Ina Balin, Everett Sloane e Phil Harris se sobressaem aos demais, empana o brilho do filme, bem como a sua conclusão. Mesmo assim, "O Otário" é uma comédia digna, tanto por trazer Jerry Lewis em seu auge performático quanto por ser um exemplar da sua autoria em cinema. Algo que poucos dos gigantes da comédia conseguiram alcançar.
Antes fosse o comovente balanço de carreira de "Luzes da Ribalta" ou o crepuscular "Um Rei em Nova York": qualquer destas obras seria um fim mais digno para a carreira de Chaplin do que "A Condessa de Hong Kong". Essa pretensa comédia, vinda justamente de um mestre no assunto, é decepcionante. Fácil creditar o aspecto irregular do filme às rusgas entre Marlon Brando e Sophia Loren, ou mesmo à incompatibilidade entre Brando e Chaplin. Afinal, Brando era uma peste: quando embirrava, suas atuações deixavam isso às claras, seja enquanto qualidade ou defeito. Porém, não é justo culpar apenas a sua insatisfação com o diretor neste caso. Livrar a cara de Chaplin apenas por ele ser um gênio do cinema é inútil. A primeira meia hora do filme é uma tortuosa tentativa de emular o humor físico que ele tanto consagrou, misturado a alguns lampejos do humanismo didático tão caro ao seu cinema. Sophia Loren e Patrick Cargill conseguem superar as insuficiências dos seus papeis, chegando a brilhar em certos momentos. Sydney Chaplin esforça-se admiravelmente para dar conta do seu personagem, mesmo que ele seja um mero pretexto na trama. A participação da magistral Margaret Rutherford, contudo, é mera curiosidade. Essa irregularidade nas atuações (exceto por Tippi Hedren, medíocre feito quase sempre) certamente tem a ver com o fato de Chaplin, em um dos raros momentos em que esteve apenas atrás das câmeras (sua ponta como um camareiro não vale), não estar acostumado a lidar com seus atores a não ser enquanto escadas para si próprio. Na segunda metade, o filme se desenvolve um pouco melhor. Há alguns lampejos de genialidade no uso dos planos no quarto do personagem de Brando e na confusão premeditada entre a trilha sonora incidental e o som diegético. Sem contar o tema musical, cuja fama ultrapassou o filme de longe. "A Condessa de Hong Kong" é mais uma curiosidade completista do que um grande filme, onde há pouco encanto, quase nenhum riso e vários constrangimentos, sendo o maior deles a falta de romantismo entre os personagens de Brando e Loren.
Sinto muito, chaplinianos, mas este filme não é uma chave de ouro.
P.S.: Se querem um filme que homenageia as pantomimas do cinema mudo com muito mais talento, graça e genialidade, vejam "A Última Loucura de Mel Brooks".
"Nada mais frustrante do que o engessamento criativo de um artista. Em cinema, apesar das circunstâncias que tolhem a expressão individual dos realizadores, ainda há espaço para a manutenção de um estilo - para os cineastas que o possuem, por óbvio. A não ser que não queiram fazê-lo. Temo que este seja o caso de Pedro Almodóvar".
Eis um trecho da minha crítica de "Os Amantes Passageiros" para o site Lumi7:
Adianto: não gosto da música "Faroeste Caboclo", da Legião Urbana, ambas excessivamente valorizadas. Logo, a fidedignidade deste filme à canção não me diz praticamente nada, o que me permitiria analisá-lo por seus próprios méritos. Lamentavelmente, há bem poucos a apontar. A ambientação em Brasília, buscando fugir dos pontos de cartão postal da cidade, ou passando por eles de forma enviesada, é o melhor que "Faroeste Caboclo" oferece. De certo modo , ajuda a correlacionar o quanto esse lugar tão arquitetonicamente exótico e a sua formação humana incomum levaram a fenômenos feito o rock brasiliense. Outro ponto a favor encontra-se na reconstituição de época, convincente até onde pude perceber. Contudo, a narrativa pretensamente épica de João do Santo Cristo tenta em vão fugir da auto-indulgência do seu criador, Renato Russo. As referências às trilhas sonoras de western spaghetti chegam a ser ofensivas e até irritantes. O duelo que abre e encerra a projeção é quase tão risível quanto as inúmeras paródias do gênero, até mesmo aquelas gravadas em VHS. Alguns enquadramentos pretendem demonstrar uma originalidade que o diretor, se possui, não demonstra. Inclusive na condução do elenco. Exceto pela intensidade contida de Fabrício Boliveira e pela naturalidade de Isis Valverde, não há grandes destaques. Ao contrário, sobram desempenhos constrangedores, em especial o de Felipe Abib. Eu poderia até relevar tudo o que falei até agora sobre "Faroeste Caboclo" se ao menos valesse enquanto entretenimento, na falta de estofo artístico. No entanto, não consigo ser generoso com filmes que, ao final, me deixam com a sensação de tempo perdido. E não me refiro a outra canção da Legião Urbana, esta bem mais impactante do que "Faroeste Caboclo", a canção. E muito mais do que "Faroeste Caboclo", o filme.
É inegável a importância histórica deste documentário, além de representar as flores em vida para uma figura tão emblemática da cultura americana do século XX. Além disso, o extenso e precioso material de arquivo oferece uma ótima perspectiva dos eventos da vida tão intensa de Harry Belafonte. O único porém reside no tom exageradamente elogioso quanto à sua figura na meia-hora final. Não que eu duvide da integridade moral deste grande artista e ativista político. Mesmo porque a presença de uma das suas filhas na produção explica em parte a exaltação à figura de Harry. Apenas penso que faltou algo para que este documentário viesse a constituir um dos melhores exemplares do gênero. Mesmo assim, recomendo-o a todos que ainda não conhecem tão fascinante figura.
A dualidade do título brasileiro deste filme não reflete apenas a crítica social apresentada por Kurosawa, melhor expressa no título em inglês ("High and Low"), mas também uma certa irregularidade na condução da trama. À parte o incrível apuro imagético do mestre japonês, há um sério descompasso entre a primeira parte, quando acontece o sequestro e a subsequente negociação, e a segunda, onde a investigação policial estende-se em demasia. A inspiração nos romances policiais americanos encontra eco na crítica ao abismo social no Japão. Contudo, ao abraçar duas vertentes, Kurosawa nem sempre sabe a hora de se deter numa ou noutra. Em todo caso, mesmo não sendo um clássico deste cineasta, é um filme digno.
"Quando a expressão “amor livre” vem à tona, a imagem mais comum remete a Woodstock e à queda de barreiras na fruição do que vem a ser esse sentimento. Mas estereótipos são apenas cascas. E a história contada em “Ensina-me a Viver” prefere rumar à essência desse conceito libertário, estrategicamente imiscuído com a atração pela morte tão cara à psicanálise, que se apropriou dos respectivos mitos gregos de Eros e Tânatos nesse sentido."
Eis um trecho da minha análise de "Ensina-me a Viver" para o Lumi7.
Até mesmo os paladares cinéfilos mais exigentes podem, às vezes, se render a experiências fílmicas que, embora agradáveis, sejam mais entretenimento que arte. Mesmo quando se trata de uma comédia francesa cujo miolo paga mais tributo à origem teatral do seu roteiro do que a aspectos puramente cinematográficos.
(Trecho da crítica de "Qual o Nome do Bebê?", escrita por mim para o site Lumi7)
O Estudante
3.1 16 Assista Agora"Reduzir o espectro político a idealistas e pragmáticos é ignorar a paleta de tons morais apresentada a todo aquele que se inicia no ramo e disposto a pensar fora da caixa. A fuga do panfletarismo, dessa forma, é um dos méritos deste filme, cuja atenção aos vários desvios de rota do protagonista em sua jornada anti-heróica é minuciosa, tangenciando por vezes o exagero."
Trecho da minha crítica ao filme "O Estudante", publicada na revista Janela.
http://janela.art.br/criticas/o-estudante
Bem-vindo a Nova York
3.3 56 Assista Agora"As fachadas do Banco Mundial e do Lincoln Memorial resguardam o viés político-econômico o suficiente para conceder espaço a elementos fundamentais para o cinema de Abel Ferrara: a sordidez humana pontuada por violência, luxúria, desorientação e culpa pós-católica."
Trecho da minha crítica a este filme publicada na revista Janela.
http://janela.art.br/criticas/bem-vindo-a-nova-york
Jogo das Decapitações
3.6 20"Sem abrir mão das discussões conceituais tão preciosas ao seu estilo, Bianchi comete a proeza de fazer de “Jogo das Decapitações”, a um só tempo, um compêndio de urgências e um deleite artístico dos mais elaborados."
Trecho da minha crítica sobre "Jogo das Decapitações", publicada no Cinetoscópio.
http://cinetoscopio.com.br/2014/07/24/jogo-das-decapitacoes-sergio-bianchi-2013/
Popeye
2.6 150 Assista Agora"De todo modo, há um saudável incômodo no descompasso entre a caracterização dos personagens, assombrosamente similar aos traços dos personagens criados por E. C. Segar, e um roteiro que nega em vários instantes a possibilidade das aventuras tanto dos quadrinhos quanto do desenho animado."
Leiam a íntegra da minha crítica a "Popeye" no site Cinetoscópio.
http://cinetoscopio.com.br/2014/06/23/popeye-robert-altman-1980/
Tocaia no Asfalto
4.0 22"'Tocaia no Asfalto' une o alcance de uma identidade brasileira que muitos cineastas tentam pretensiosamente em vão a uma elaborada apropriação do cinema de gênero."
Trecho da minha crítica do filme ao site Cinetoscópio.
http://cinetoscopio.com.br/2014/06/02/tocaia-no-asfalto-roberto-pires-1962/
Milius
4.0 4Algumas observações:
1) Nos créditos finais deste documentário, o próprio Rorion Gracie, um dos criadores do formato do UFC, fala da participação de Milius nesse projeto;
2) Ainda nos créditos finais, faz-se referência a três filmes em que tanto Milius quanto Steven Spielberg e George Lucas possuem participações nos lucros, sendo "Star Wars" um deles.
Talvez o único defeito deste filme seja comprimir para depois do final tantas informações pertinentes.
A influência de Milius na concepção do personagem de John Goodman em "O Grande Lebowski" merecia maior espaço, por exemplo.
No mais, é um documentário importante para reavaliar a importância de John Milius para o cinema.
Acerto Final
3.1 24 Assista Agora"Longe do narcisismo de certos colegas atores quando passam à direção (...), [Sean Penn] manifesta apreço por personagens em situações-limite cujo desenvolvimento alia uma sutileza nada gratuita a momentos de grande impacto emocional, causando travos na garganta sem incorrer no apelo banal às lágrimas".
Trecho da minha crítica de "Acerto Final" para o Cinetoscópio:
http://cinetoscopio.com.br/2014/05/23/acerto-final-sean-penn-1995/
M. Butterfly
3.8 89"Um Cronenberg menor, assim comodamente pensam boa parte dos que não ultrapassam o óbvio ao se depararem com esta realização, às vezes um tanto oculta na prateleira da sua filmografia."
Trecho da crítica de "M. Butterfly" por André LDC para o Cinetoscópio:
http://cinetoscopio.com.br/2014/04/21/m-butterfly-david-cronenberg-1993/
Muito Riso e Muita Alegria
3.5 16"(...) fazer um filme alegre, tão apaixonado por suas personagens femininas quanto pela Nova York que serve literalmente enquanto cenário, seria um ótimo indicador do que este cineasta, de ascensão tão meteórica quanto sua queda, realizaria no futuro. Contudo, embora ele não tenha perdido totalmente suas habilidades em seus trabalhos posteriores, o destino inglório de 'Muito Riso e Muita Alegria' jamais pôde ser relevado."
Trecho da minha crítica a este adorável e subestimado filme, publicada no site Cinetoscópio.
http://cinetoscopio.com.br/2014/04/08/muito-riso-e-muita-alegria-peter-bogdanovich-1981/
Melody... Quando Brota o Amor
4.0 50"(...) como pode uma história de amor infanto-juvenil originada naqueles tempos parecer tão adequada ao seu tempo e manter seus méritos acima de quaisquer temporalidades?"
Trecho da minha crítica de "Melody - Quando Brota o Amor", publicada no site Cinetoscópio.
http://cinetoscopio.com.br/2014/03/23/melody-quando-brota-o-amor-waris-hussein-1971/
Só Deus Sabe
3.3 27Bem intencionado quanto a nos aproximar da cultura latino-americana, "Só Deus Sabe" ganha pela sensualidade e perde na falta de firmeza em conduzir a trama.
Alice Braga e Diego Luna salvam-se, pelo menos.
Laura
2.9 9 Assista AgoraSe Laura não existisse, muitos escritores se matariam para inventá-la.
Os relatos que li sobre ela (pré e pós-filme) antes de assistir a este documentário não foram capazes de reduzir o espanto com alguém tão peculiar.
Sua busca incessante pelo glamour dos famosos desde quando garota contrasta com sua vida particular nebulosa, vivendo em condições precárias na Nova York tão fundamental à sua busca pelo brilho e pelo luxo.
O diretor, por sua amizade com Laura, poderia trabalhar melhor esse contraste.
No entanto, nota-se um excesso de foco nos aspectos mais excêntricos da protagonista em detrimento da sua notável habilidade em se entranhar em ambientes coalhados de astros do cinema e outros notáveis.
Embora desconfiar da opinião do objeto de um documentário seja algo salutar, parte das reclamações de Laura quanto ao modo como o diretor a retrata tem sua razão de ser.
Portanto, mesmo sendo um bom documentário, a sua força reside bem mais na personalidade intensa de Laura do que nas pretensões do realizador.
O que não desmerece de todo o seu trabalho, muito embora fique uma sensação levemente incômoda que permite imaginar como este filme poderia ser ainda melhor.
Mataram Meu Irmão
3.6 13A ausência de legendas informando quem é quem no rol de depoimentos é o primeiro sinal de que não estamos diante de um documentário óbvio.
A fim de reforçar a ideia de se falar de um cidadão comum cuja vida desviou-se até o triste final, deduzir a ligação entre Rafael Burlan e as pessoas que dele falam ajuda a construir o vínculo emocional com o trajeto artístico e emocional do diretor em busca de maiores esclarecimentos sobre quem foi seu irmão.
O contraste entre o retrato in loco da periferia e a explanação de um dos amigos de Rafael à beira-mar - o mais denso dos testemunhos na tela - é outro achado de "Mataram Meu Irmão".
As imagens que entremeiam as falas são emblemáticas do dito e do não-dito sobre o vazio deixado pela perda de um ente próximo, suas origens, seus anseios, suas válvulas de escape e o destino resultante de todas essas variáveis.
O único senão encontra-se nas filmagens com a família deixada pelo irmão morto. A intenção de concluir a jornada, fazendo deste trecho o mais aguardado do filme, perde força no momento em que a filha mais velha de Rafael canta e toca violão na sala da casa, ao lado do irmão mais novo, num retrato de casualidade um tanto impositivo.
No final, temos um senhor documentário a merecer ser visto e referenciado.
A Pessoa é para o que Nasce
4.1 64Documentário inventivo, questionador dos limites com a ficção, capaz de se apropriar de eventos insólitos e talvez constrangedores sem explorar as adoráveis figuras das irmãs cantadoras de forma indevida.
Não há, aqui, um certo mau hábito de tomar a vida de pessoas comuns para fins de auto-ajuda que poderia ser adotado por um realizador mais apelativo.
Musicalmente bem elaborado, com ou sem a trilha de Hermeto Pascoal, "A Pessoa É Para o Que Nasce" é popular sem ser popularesco, refinado sem ser esnobe e emocionante sem exageros.
Ninfomaníaca: Volume 1
3.7 2,7K Assista AgoraDúvida da semana: irritar-me com os deslumbrados que enxergaram em "Ninfomaníaca" uma obra-prima ou com o próprio Lars Von Trier pelo seu crescente desaprendizado em cinema.
Não chego a descartar a primeira parte do seu novo projeto como uma porcaria qualquer, não importando a sua procedência. O que não evitou a minha decepção para quem conseguiu fugir do óbvio em sua filmografia até agora.
As escolhas musicais ainda são o seu forte. No entanto, o uso da surrada "Born to Be Wild", do Steppenwolf, seja um misto de falta de imaginação com humor de mau gosto.
Há algumas boas composições visuais. Contudo, elas se perdem num emaranhado de platitudes e planos gratuitos - e não me refiro às cenas de sexo.
O ponto mais fraco do filme está em boa parte do diálogo entre Joe e Seligman. O didatismo e a arrogância intelectual imperam e desmerecem o uso da narrativa no cinema.
Poderia ser compreensível a intenção de dessensualizar o sexo a fim de reforçar a obsessão de Joe. Em vez disso, a brochice dominante mais parece uma inabilidade em representar relações sexuais ou mesmo em retirar delas toda a satisfação voyeurística possível. Até mesmo algo tão promissor quanto a competição entre Joe e sua amiga para ver quem conseguia mais parceiros sexuais em um trem resulta abobalhada.
Sem querer medir as atuações pelo grau de exposição corporal de cada intérprete, os únicos nomes do elenco a merecerem louvação nesta primeira parte de "Ninfomaníaca" são Christian Slater, no estratégico papel do pai da protagonista, e Uma Thurman. A sua participação não apenas é uma das melhores de sua carreira, mas também é a mais digna do estilo de Von Trier, num tempo em que ele deixava as provocações para seus movimentos de câmara em vez de factóides e frases infelizes.
Admitindo que a segunda parte possa compensar a frustração aqui constatada, torço para que esse notável diretor não atrofie o seu cinema.
Por ora, considero este o mais superestimado dos seus filmes.
O Otário
3.7 29É a primeira das comédias clássicas de Jerry Lewis a que assisti na vida.
Por lembrar-me dele mais pelos seus papéis sérios ("O Rei da Comédia", "Arizona Dream"), conhecer o seu modo peculiar de fazer comédia causou-me espanto.
Para o bem, adianto.
Além das gags bem construídas, indo do escracho puro da aula de canto ao sentimentalismo da cena do baile no ginásio, há algo mais do que meramente o fazer rir.
O grupo que deseja fazer de Stanley Belt um novo astro da comédia, no começo, prenuncia um retrato agridoce do mundo do espetáculo, onde o gênio criativo é formatado por um comitê de profissionais até se encaixar nas pretensões do show business.
Contudo, a irregularidade desse conjunto, onde Ina Balin, Everett Sloane e Phil Harris se sobressaem aos demais, empana o brilho do filme, bem como a sua conclusão.
Mesmo assim, "O Otário" é uma comédia digna, tanto por trazer Jerry Lewis em seu auge performático quanto por ser um exemplar da sua autoria em cinema. Algo que poucos dos gigantes da comédia conseguiram alcançar.
Uma História Real
4.2 298A todos que amam "The Straight Story": leiam esta análise do filme, que demonstra a sua coerência total com a filmografia lyncheana.
Se alguém se animar a traduzi-lo, avise-me.
http://davidlynch.de/quarterstraight.html
A Condessa de Hong Kong
3.6 47Antes fosse o comovente balanço de carreira de "Luzes da Ribalta" ou o crepuscular "Um Rei em Nova York": qualquer destas obras seria um fim mais digno para a carreira de Chaplin do que "A Condessa de Hong Kong".
Essa pretensa comédia, vinda justamente de um mestre no assunto, é decepcionante.
Fácil creditar o aspecto irregular do filme às rusgas entre Marlon Brando e Sophia Loren, ou mesmo à incompatibilidade entre Brando e Chaplin.
Afinal, Brando era uma peste: quando embirrava, suas atuações deixavam isso às claras, seja enquanto qualidade ou defeito.
Porém, não é justo culpar apenas a sua insatisfação com o diretor neste caso.
Livrar a cara de Chaplin apenas por ele ser um gênio do cinema é inútil.
A primeira meia hora do filme é uma tortuosa tentativa de emular o humor físico que ele tanto consagrou, misturado a alguns lampejos do humanismo didático tão caro ao seu cinema.
Sophia Loren e Patrick Cargill conseguem superar as insuficiências dos seus papeis, chegando a brilhar em certos momentos.
Sydney Chaplin esforça-se admiravelmente para dar conta do seu personagem, mesmo que ele seja um mero pretexto na trama.
A participação da magistral Margaret Rutherford, contudo, é mera curiosidade.
Essa irregularidade nas atuações (exceto por Tippi Hedren, medíocre feito quase sempre) certamente tem a ver com o fato de Chaplin, em um dos raros momentos em que esteve apenas atrás das câmeras (sua ponta como um camareiro não vale), não estar acostumado a lidar com seus atores a não ser enquanto escadas para si próprio.
Na segunda metade, o filme se desenvolve um pouco melhor.
Há alguns lampejos de genialidade no uso dos planos no quarto do personagem de Brando e na confusão premeditada entre a trilha sonora incidental e o som diegético.
Sem contar o tema musical, cuja fama ultrapassou o filme de longe.
"A Condessa de Hong Kong" é mais uma curiosidade completista do que um grande filme, onde há pouco encanto, quase nenhum riso e vários constrangimentos, sendo o maior deles a falta de romantismo entre os personagens de Brando e Loren.
Sinto muito, chaplinianos, mas este filme não é uma chave de ouro.
P.S.: Se querem um filme que homenageia as pantomimas do cinema mudo com muito mais talento, graça e genialidade, vejam "A Última Loucura de Mel Brooks".
Os Amantes Passageiros
3.1 647 Assista Agora"Nada mais frustrante do que o engessamento criativo de um artista. Em cinema, apesar das circunstâncias que tolhem a expressão individual dos realizadores, ainda há espaço para a manutenção de um estilo - para os cineastas que o possuem, por óbvio. A não ser que não queiram fazê-lo. Temo que este seja o caso de Pedro Almodóvar".
Eis um trecho da minha crítica de "Os Amantes Passageiros" para o site Lumi7:
http://www.lumi7.com.br/critica-os-amantes-passageiros/
Faroeste Caboclo
3.2 2,4KAdianto: não gosto da música "Faroeste Caboclo", da Legião Urbana, ambas excessivamente valorizadas.
Logo, a fidedignidade deste filme à canção não me diz praticamente nada, o que me permitiria analisá-lo por seus próprios méritos.
Lamentavelmente, há bem poucos a apontar.
A ambientação em Brasília, buscando fugir dos pontos de cartão postal da cidade, ou passando por eles de forma enviesada, é o melhor que "Faroeste Caboclo" oferece.
De certo modo , ajuda a correlacionar o quanto esse lugar tão arquitetonicamente exótico e a sua formação humana incomum levaram a fenômenos feito o rock brasiliense.
Outro ponto a favor encontra-se na reconstituição de época, convincente até onde pude perceber.
Contudo, a narrativa pretensamente épica de João do Santo Cristo tenta em vão fugir da auto-indulgência do seu criador, Renato Russo.
As referências às trilhas sonoras de western spaghetti chegam a ser ofensivas e até irritantes.
O duelo que abre e encerra a projeção é quase tão risível quanto as inúmeras paródias do gênero, até mesmo aquelas gravadas em VHS.
Alguns enquadramentos pretendem demonstrar uma originalidade que o diretor, se possui, não demonstra. Inclusive na condução do elenco. Exceto pela intensidade contida de Fabrício Boliveira e pela naturalidade de Isis Valverde, não há grandes destaques. Ao contrário, sobram desempenhos constrangedores, em especial o de Felipe Abib.
Eu poderia até relevar tudo o que falei até agora sobre "Faroeste Caboclo" se ao menos valesse enquanto entretenimento, na falta de estofo artístico.
No entanto, não consigo ser generoso com filmes que, ao final, me deixam com a sensação de tempo perdido.
E não me refiro a outra canção da Legião Urbana, esta bem mais impactante do que "Faroeste Caboclo", a canção. E muito mais do que "Faroeste Caboclo", o filme.
Sing Your Song
3.7 3É inegável a importância histórica deste documentário, além de representar as flores em vida para uma figura tão emblemática da cultura americana do século XX.
Além disso, o extenso e precioso material de arquivo oferece uma ótima perspectiva dos eventos da vida tão intensa de Harry Belafonte.
O único porém reside no tom exageradamente elogioso quanto à sua figura na meia-hora final.
Não que eu duvide da integridade moral deste grande artista e ativista político. Mesmo porque a presença de uma das suas filhas na produção explica em parte a exaltação à figura de Harry.
Apenas penso que faltou algo para que este documentário viesse a constituir um dos melhores exemplares do gênero.
Mesmo assim, recomendo-o a todos que ainda não conhecem tão fascinante figura.
Céu e Inferno
4.4 60A dualidade do título brasileiro deste filme não reflete apenas a crítica social apresentada por Kurosawa, melhor expressa no título em inglês ("High and Low"), mas também uma certa irregularidade na condução da trama. À parte o incrível apuro imagético do mestre japonês, há um sério descompasso entre a primeira parte, quando acontece o sequestro e a subsequente negociação, e a segunda, onde a investigação policial estende-se em demasia. A inspiração nos romances policiais americanos encontra eco na crítica ao abismo social no Japão. Contudo, ao abraçar duas vertentes, Kurosawa nem sempre sabe a hora de se deter numa ou noutra. Em todo caso, mesmo não sendo um clássico deste cineasta, é um filme digno.
Ensina-me a Viver
4.3 874 Assista Agora"Quando a expressão “amor livre” vem à tona, a imagem mais comum remete a Woodstock e à queda de barreiras na fruição do que vem a ser esse sentimento. Mas estereótipos são apenas cascas. E a história contada em “Ensina-me a Viver” prefere rumar à essência desse conceito libertário, estrategicamente imiscuído com a atração pela morte tão cara à psicanálise, que se apropriou dos respectivos mitos gregos de Eros e Tânatos nesse sentido."
Eis um trecho da minha análise de "Ensina-me a Viver" para o Lumi7.
Qual é o Nome do Bebê?
4.0 159Até mesmo os paladares cinéfilos mais exigentes podem, às vezes, se render a experiências fílmicas que, embora agradáveis, sejam mais entretenimento que arte. Mesmo quando se trata de uma comédia francesa cujo miolo paga mais tributo à origem teatral do seu roteiro do que a aspectos puramente cinematográficos.
(Trecho da crítica de "Qual o Nome do Bebê?", escrita por mim para o site Lumi7)