À parte as inovações tecnológicas, se não fosse pelos personagens carismáticos e bem desenvolvidos num roteiro superior à média dos filmes voltados às crianças (embora não apenas a elas), "Toy Story" poderia ser apenas uma mera curiosidade. Porém, acima de tudo isso, é um filme já entranhado na cultura popular, o ponto de partida para uma série de longa-metragens em animação realmente feitos para todas as idades.
A inauguração de uma nova Hollywood. Mesmo hoje, com tanta saturação de violência gráfica e amoralismo no cinema, "Bonnie & Clyde" ainda impressiona. Compreensível o frisson que causou na sua estreia, horrorizando os defensores do carcomido sistema hollywoodiano de então. Afinal, apesar de alguns exemplares mais corajosos, nenhum filme lá produzido conseguiu ser tão cru e direto ao representar a criminalidade. E as atuações seguem o mesmo rumo, sem empolação.
A cena da reunião da família de Bonnie é um achado, tanto pela fotografia quanto pelo aspecto emocional. Apesar da intérprete da mãe de Bonnie ser um bocado inexpressiva, por inexperiente. Embora, por outro lado, isso possa ser visto como uma vantagem.
Adianto que este comentário está sujeito a alterações. Não digo isso porque se trata de um filme de Bergman. Por mais que ele seja imprescindível, tratar todos os seus filmes como obras-primas seria o mesmo que canonizá-lo. E ele próprio, inclusive na vida privada, jamais teve essa pretensão. Eu seria injusto, portanto, se dissesse que "Persona" é um dos meus Bergmans favoritos, que amo cada fotograma seu e que o considero sem precedentes. Para começar, a cena inicial, com imagens desagradáveis entremeadas a um rapazinho acabando de despertar, oferece uma sensação de deslocamento aparentemente gratuita. A proposta de confrontar duas mulheres tão similares na aparência, isoladas do mundo, é fantástica. Contudo, em certos momentos, quase pulei do ônibus da narrativa em movimento.
Retrato insólito de uma família espanhola, cheio de alegorias, sentimentos reprimidos e outros nem tanto, tudo em torno do aniversário da matriarca. Embora não seja realmente espetacular, apresenta bons momentos, graças ao empenhado elenco.
O que muitos chamariam de "filmes adultos", eu digo "filmes didáticos". O termo "adulto" deveria se aplicar, sim, a filmes feito "Lantana". Porque não tratam o espectador com apelações emocionais. O trio de protagonistas está impecável, em especial Barbara Hershey.
A cena em que sua personagem, uma psiquiatra, se perturba com as confissões de um paciente homossexual foi muito bem escrita e interpretada.
Além disso, o mistério sobre o assassinato não segue a mediocridade típica dos "quem matou?" comum em tantos filmes policiais ou de mistério. Com um roteiro sem piruetas gratuitas nem interpretações metidas a intensas, "Lantana" merece um olhar mais apurado e ser valorizado pelo ótimo drama que é.
Aqui, metalinguagem é mato. Não bastasse este filme abordar a criação artística e os limites entre a ficção e os fatos, ele também se refere à própria trajetória do casal de diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris. Sua estreia em longa-metragem carreou grande êxito de público e crítica, prêmios e a inserção indelével de "Pequena Miss Sunshine" no imaginário popular da primeira década deste século. Qualquer filme a seguir poderia significar a confirmação do talento dos realizadores ou a sua incapacidade de convencer em novos truques. Basta lembrar outro diretor queridinho dos independentes, Richard Kelly, que embasbacou muitos cinéfilos com "Donnie Darko" e afundou vergonhosamente em "Southland Tales". Sendo assim, Jonathan e Valerie acertaram em não repetir praticamente nada do seu primeiro filme, uma adorável comédia sobre a união familiar a todo custo. Sintomático notar que o protagonista de "Ruby Sparks" seja solitário e que seus laços familiares se deem mais com o único irmão do que com a própria mãe e o padrasto. Comparando onde se deve, podemos dizer que este filme equivale a um álbum semi-acústico de uma banda de rock produzido após um disco mais barulhento. Ou a um concerto de câmara que se segue ao de uma orquestra sinfônica. Os personagens principais, aqui, resumem-se ao escritor-prodígio, que talvez não passe de um mágico de um truque só, e sua criação convertida numa mulher de verdade. Chega a ser religiosa essa ideia do verbo se fazer carne... E é bastante crível a forma como o surgimento de Ruby é apresentado num contexto realista. Eis um dos vários acertos do roteiro da sua própria intérprete, Zoe Kazan. Não seria possível esse filme se realizar com outra atriz, até mesmo pela sua ligação, nas telas e além, com o ator Paul Dano, em seu padrão habitual de excelência. Os bons e poucos coadjuvantes cumprem suas funções de forma correta, em especial Annette Bening e Antonio Banderas encarnando um casal de hippies tardios. Além disso, em vez de cair na auto-comiseração pelo desventurado escritor, o personagem não é tratado com a condescendência da qual se poderia suspeitar.
A cena em que ele encontra sua ex-namorada numa festa apresenta o outro lado que todo retrato dos infelizes no amor deveria apresentar, a fim de que não pensemos que se tratam de meras vítimas do destino.
A única ressalva na construção da trama está no papel um tanto acessório do terapeuta vivido por Elliott Gould. Muito embora a satisfação por ver este ótimo ator em cena compense a superfluidade da presença do seu personagem. Alternando momentos empolgantes com doses de frustração típicas das vidas de todos nós, "Ruby Sparks" supera a concepção de uma mera comédia romântica indie e consegue, por fim, ser verossímil e caloroso.
P.S.: Para quem sabe o significado dos primeiros versos da ária "La Donna è Mobile", que é executada na cena em que o escritor prepara um jantar, certamente considerará esta uma ótima sacada dos diretores nessa parte da história.
Imagino que muitos odiaram este filme sem nem mesmo tê-lo visto. Apesar do competente Curtis Hanson na direção, Eminem tem seus detratores, e não poucos. Ou tinha, quando estava no auge das polêmicas e da fama. Porém, em vez de bancar o cabotino, ele, ao interpretar praticamente a si próprio, convence tanto nos instantes dramáticos quanto no aspecto musical. Não é preciso ser apreciador de rap para reconhecer as qualidades de "8 Mile". Ainda mais quando Eminem é bem coadjuvado por Mekhi Phifer, Kim Basinger e pela finada Brittany Murphy. Até mesmo eu, que estou longe de ser um "mano", não pude deixar de reconhecer que "8 Mile" está bem acima da média dos filmes produzidos como veículo para astros musicais ou de outras áreas além do cinema.
Aparentemente uma comédia nada ambiciosa, dessas típicas de "Sessão da Tarde". Porém, sob o histrionismo e a aparente estupidez de seus protagonistas, consegue ser um tanto melancólico em certos momentos, quando percebemos que não apenas cavalos são azarões. Reparem na ponta do diretor fazendo um homem cego no hipódromo. Provavelmente os garimpadores de VHS já toparam com este filme. Não se deixem levar pela capa equivocada e deem uma chance a mais um filme do subestimado Paul Bartel.
Na época, a mistura de filme de ação com terror e elementos históricos da França antiga, com referências à Revolução de 1789, causou espanto em muita gente. Visto hoje, descontados os exageros de parte da crítica na época, "O Pacto dos Lobos" sobrevive enquanto entretenimento. A criatura assassina causa mais sustos pela sugestão do que pela sua presença em si. Mesmo assim, o elenco à vontade com seus personagens e a presença invulgar de Mark Dacascos fazem valer a pena assistir a este filme.
Infantil no melhor sentido do termo. Ou seja, por conta da inocência e da curiosidade típicas dessa fase da vida, em que tudo parece mais grandioso, ameaçador e, não obstante, pleno de encanto. A fantasia, aqui, aparece de forma tão orgânica que até eu comecei a pensar que cruzamentos de gatos com ônibus existem de verdade. E Totoro, então? Tenho certeza que Mei e Satsuki terão se tornado adultas felizes após os eventos deste filme, só por terem conhecido tão adorável e surpreendente criatura. Miyazaki, muito obrigado!
Takeshi Kitano, no fundo, é um sujeito sensível. Assim poderíamos anunciar "Dolls", se comparado com outras produções típicas deste realizador. E a primeira das três histórias é a melhor de todas. A visão cruel sobre os limites do amor nessa parte do filme é de cortar o coração. Já a trama do mafioso em busca da mulher a quem abandonou na juventude, embora emocionante, não supera a anterior. E a da cantora pop e um homem por ela obcecado é a menos interessante das histórias. Contudo, "Dolls" não chega a ser um grande filme por faltar um amarramento maior entre essas linhas narrativas. A vontade de ser mais sutil talvez tenha impedido Kitano de realizar uma obra-prima. Mesmo assim, uma experiência válida.
Típico filme para impressionar os jovens e demovê-los da ideia de entrar no mundo das drogas. Fora esse propósito, apenas algumas boas atuações. Di Caprio já não era mais o rapazinho promissor de "Gilbert Grape" e ainda não havia mostrado a maturidade dos seus trabalhos com Martin Scorsese. Mais pelas boas intenções do que pelo resultado.
Este é um filme de ação típico dos anos 80, a começar pela trilha sonora. E, feito tantos exemplares do seu gênero e do seu tempo, possui instantes bem humorados, garantidos pela deficiência visual do protagonista, nesta transposição da história do samurai cego Zaitoichi para a modernidade. Rutger Hauer, este ator tão empenhado em seu ofício, parece ter se divertido ao fazer este filme. Um bom motivo para passar a tarde em casa em frente à televisão.
Comédia ligeira, onde a visão das empregadas domésticas, ora beira os estereótipos, ora se aprofunda nas complexidades típicas dessas profissionais valorosas. Alguns diálogos são impagáveis. Ao fim, resta uma boa impressão deste filme sem grandes pretensões e adequado à sua proposta.
Até compreendo o porquê deste Bergman ser tão subestimado, e até mesmo rejeitado por alguns cinéfilos. A presença de David Carradine, mais reconhecido por certos tipos que encarnou em sua longa carreira do que por ser um grande ator, fez muita gente esnobar este filme. Além disso, não aparenta apresentar as características mais típicas do cinema bergmaniano. Só não compreendo o esnobismo de certos espectadores ao diminuirem os méritos de "O Ovo da Serpente" apenas por se tratar de um filme mais comercial. Por acaso ser produzido por Dino de Laurentis é demérito, por si só? Contar com um grande orçamento e distribuição duma major diminui os méritos de um filme? Um olhar mais apurado detecta facilmente o espanto de Bergman perante a humanidade e seus horrores. Neste caso, encarnados num cenário opressor, na Alemanha dos anos 20, onde um homem submete-se a experiências científicas que antecipam as práticas nazistas, as quais são retratadas de forma a tornar este filme um exemplar do cinema de horror. O expressionismo típico de tantas obras do diretor ganha, aqui, cores incomuns. No mais, um filme a merecer maior justiça.
Da onda de filmes de terror entre os anos 90 e o começo da década passada, este fica acima da média por se levar menos a sério do que coisas feito "Pânico". Pra começar, em vez de usar a estratégia batida de um serial killer dizimando adolescentes a rodo (conforme o roteiro original deste filme, inclusive), a Morte em si é quem encarna a ameaça constante às vidas dos personagens. As formas como eles perecem são criativas. E a presença macabra de Tony Todd, o lendário intérprete do assassino em "Candyman", ajuda a fazer este filme mais do que um mero passatempo.
Considerando as médias das comédias típicas de Adam Sandler, este é um fenômeno. A começar pela presença inacreditável de Jack Nicholson, diabolicamente cômico encarnando um terapeuta um tanto heterodoxo. Adam Sandler, ainda sob as influências do seu trabalho em "Embriagado de Amor", atua de forma mais fluida e menos irritante do que de hábito. E o elenco coadjuvante está afinado, com destaque para Luis Guzmán num papel atípico. Produz risos nos momentos certos. O que é uma obrigação de toda comédia. E considerando que muitas delas falham neste particular, este filme vale a pena.
Há duas maneiras de se avaliar este filme. Esteticamente, é um prodígio de animação, levando as qualidades do curta-metragem "Harvie Krumpet", do mesmo diretor, quase à perfeição. Quanto ao conteúdo, cabe dizer que é uma exaltação ao valor da amizade, sem sentimentalismos tolos. Mostra a importância deste sentimento e, ironicamente, é mais realista ao apresentá-lo do que muitos filmes pretensamente adultos. Em certos pontos, chega a ser cruel o modo como retrata os defeitos de nós todos, esses humanos tão dignos de compaixão. E é difícil não chorar em certas passagens. Para muitos, "Mary e Max" servirá de catarse, de revisão da vida, de valorização dos sentimentos, da abnegação dos que nos querem bem e, acima de tudo, é um filme que merece ser visto por quem ainda tiver algo dentro do peito.
Gostaria muito de saber a opinião de um verdadeiro budista sobre este filme. Porque, pode parecer pretensão da minha parte, mas "Samsara" aparenta ser bem superior à visão simplista que o Ocidente costuma apresentar do budismo, como se fosse uma forma de crença para quem não gosta de seguir religiões. Apresentar um monge que decide, após um longo tempo distante das tentações do mundo real, abraçá-las com vigor, é uma verdadeira demonstração de respeito pelos budistas. Afinal, por trás de toda busca por elevação espiritual, é praticado por pessoas demasiado humanas. Certas cenas são belamente filmadas, mas sem parecer agradar aos fanáticos por exotismo. E é tão espiritual quanto erótico, motivo pelo qual muitos se surpreenderão. Recomendo para mentes abertas ou que desejem sê-lo.
Tony Scott, inegável, sabia fazer filmes dos mais frenéticos. E este, unindo uma trama política ao temor pelo fim da privacidade pelo avanço da tecnologia, poderia ser bem mais do que um mero filme de ação. Porém, o descompasso entre um Will Smith ainda começando a se desenvolver enquanto ator e um Gene Hackman já sem dever nada a ninguém é patente. No cinema, "Inimigo do Estado" funciona que é uma beleza. Mas não ficou na minha mente a ponto de considerá-lo grande coisa.
Já foi dito que "Cabaret" é um musical superestimado. Talvez isso proceda em um ou outro aspecto. Ainda há muito a se admirar, tanto pelos desempenhos dos atores (destaque para Joel Grey, sempre!) quanto pelo contexto histórico apresentado na trama com sutileza. Só não é excelente porque, às vezes, o equilíbrio entre os elementos deste filme ameaça ruir próximo ao final. Seja como for, deve ser visto.
Um filme de assalto permeado de homoerotismo na medida certa. Porém, não se prende a nenhuma dessas características. Marcelo Piñeyro sabe manipular bem as imagens com estilo e vigor. Ótimo elenco principal.
Era para ser uma comédia interessante sobre choques culturais. Porém, acaba sendo um tanto xenófoba. E, pior, sem muita graça. Salva-se um pouco pela Piper Perabo, e só.
Toy Story
4.2 1,3K Assista AgoraÀ parte as inovações tecnológicas, se não fosse pelos personagens carismáticos e bem desenvolvidos num roteiro superior à média dos filmes voltados às crianças (embora não apenas a elas), "Toy Story" poderia ser apenas uma mera curiosidade.
Porém, acima de tudo isso, é um filme já entranhado na cultura popular, o ponto de partida para uma série de longa-metragens em animação realmente feitos para todas as idades.
Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas
4.0 399 Assista AgoraA inauguração de uma nova Hollywood.
Mesmo hoje, com tanta saturação de violência gráfica e amoralismo no cinema, "Bonnie & Clyde" ainda impressiona.
Compreensível o frisson que causou na sua estreia, horrorizando os defensores do carcomido sistema hollywoodiano de então.
Afinal, apesar de alguns exemplares mais corajosos, nenhum filme lá produzido conseguiu ser tão cru e direto ao representar a criminalidade.
E as atuações seguem o mesmo rumo, sem empolação.
A cena da reunião da família de Bonnie é um achado, tanto pela fotografia quanto pelo aspecto emocional. Apesar da intérprete da mãe de Bonnie ser um bocado inexpressiva, por inexperiente. Embora, por outro lado, isso possa ser visto como uma vantagem.
Eis um filme que mantém-se arejado e atual.
Quando Duas Mulheres Pecam
4.4 1,1K Assista AgoraAdianto que este comentário está sujeito a alterações.
Não digo isso porque se trata de um filme de Bergman. Por mais que ele seja imprescindível, tratar todos os seus filmes como obras-primas seria o mesmo que canonizá-lo. E ele próprio, inclusive na vida privada, jamais teve essa pretensão.
Eu seria injusto, portanto, se dissesse que "Persona" é um dos meus Bergmans favoritos, que amo cada fotograma seu e que o considero sem precedentes.
Para começar, a cena inicial, com imagens desagradáveis entremeadas a um rapazinho acabando de despertar, oferece uma sensação de deslocamento aparentemente gratuita.
A proposta de confrontar duas mulheres tão similares na aparência, isoladas do mundo, é fantástica.
Contudo, em certos momentos, quase pulei do ônibus da narrativa em movimento.
A cena em que a enfermeira abre a carta da atriz a seu esposo é o ponto de virada a partir do qual "Persona" me conquistou de vez.
Mesmo assim, o desgaste permaneceu.
Talvez eu mude de ideia após reassisti-lo. Por ora, avalio "Persona" pelos seus méritos mais óbvios, e só.
Mamãe Faz 100 Anos
3.9 29Retrato insólito de uma família espanhola, cheio de alegorias, sentimentos reprimidos e outros nem tanto, tudo em torno do aniversário da matriarca.
Embora não seja realmente espetacular, apresenta bons momentos, graças ao empenhado elenco.
Lantana
3.4 20O que muitos chamariam de "filmes adultos", eu digo "filmes didáticos".
O termo "adulto" deveria se aplicar, sim, a filmes feito "Lantana".
Porque não tratam o espectador com apelações emocionais.
O trio de protagonistas está impecável, em especial Barbara Hershey.
A cena em que sua personagem, uma psiquiatra, se perturba com as confissões de um paciente homossexual foi muito bem escrita e interpretada.
Além disso, o mistério sobre o assassinato não segue a mediocridade típica dos "quem matou?" comum em tantos filmes policiais ou de mistério.
Com um roteiro sem piruetas gratuitas nem interpretações metidas a intensas, "Lantana" merece um olhar mais apurado e ser valorizado pelo ótimo drama que é.
Ruby Sparks - A Namorada Perfeita
3.8 1,4KAqui, metalinguagem é mato.
Não bastasse este filme abordar a criação artística e os limites entre a ficção e os fatos, ele também se refere à própria trajetória do casal de diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris.
Sua estreia em longa-metragem carreou grande êxito de público e crítica, prêmios e a inserção indelével de "Pequena Miss Sunshine" no imaginário popular da primeira década deste século.
Qualquer filme a seguir poderia significar a confirmação do talento dos realizadores ou a sua incapacidade de convencer em novos truques.
Basta lembrar outro diretor queridinho dos independentes, Richard Kelly, que embasbacou muitos cinéfilos com "Donnie Darko" e afundou vergonhosamente em "Southland Tales".
Sendo assim, Jonathan e Valerie acertaram em não repetir praticamente nada do seu primeiro filme, uma adorável comédia sobre a união familiar a todo custo.
Sintomático notar que o protagonista de "Ruby Sparks" seja solitário e que seus laços familiares se deem mais com o único irmão do que com a própria mãe e o padrasto.
Comparando onde se deve, podemos dizer que este filme equivale a um álbum semi-acústico de uma banda de rock produzido após um disco mais barulhento.
Ou a um concerto de câmara que se segue ao de uma orquestra sinfônica.
Os personagens principais, aqui, resumem-se ao escritor-prodígio, que talvez não passe de um mágico de um truque só, e sua criação convertida numa mulher de verdade.
Chega a ser religiosa essa ideia do verbo se fazer carne...
E é bastante crível a forma como o surgimento de Ruby é apresentado num contexto realista. Eis um dos vários acertos do roteiro da sua própria intérprete, Zoe Kazan.
Não seria possível esse filme se realizar com outra atriz, até mesmo pela sua ligação, nas telas e além, com o ator Paul Dano, em seu padrão habitual de excelência.
Os bons e poucos coadjuvantes cumprem suas funções de forma correta, em especial Annette Bening e Antonio Banderas encarnando um casal de hippies tardios.
Além disso, em vez de cair na auto-comiseração pelo desventurado escritor, o personagem não é tratado com a condescendência da qual se poderia suspeitar.
A cena em que ele encontra sua ex-namorada numa festa apresenta o outro lado que todo retrato dos infelizes no amor deveria apresentar, a fim de que não pensemos que se tratam de meras vítimas do destino.
A única ressalva na construção da trama está no papel um tanto acessório do terapeuta vivido por Elliott Gould. Muito embora a satisfação por ver este ótimo ator em cena compense a superfluidade da presença do seu personagem.
Alternando momentos empolgantes com doses de frustração típicas das vidas de todos nós, "Ruby Sparks" supera a concepção de uma mera comédia romântica indie e consegue, por fim, ser verossímil e caloroso.
P.S.: Para quem sabe o significado dos primeiros versos da ária "La Donna è Mobile", que é executada na cena em que o escritor prepara um jantar, certamente considerará esta uma ótima sacada dos diretores nessa parte da história.
8 Mile: Rua das Ilusões
3.5 476 Assista AgoraImagino que muitos odiaram este filme sem nem mesmo tê-lo visto.
Apesar do competente Curtis Hanson na direção, Eminem tem seus detratores, e não poucos.
Ou tinha, quando estava no auge das polêmicas e da fama.
Porém, em vez de bancar o cabotino, ele, ao interpretar praticamente a si próprio, convence tanto nos instantes dramáticos quanto no aspecto musical.
Não é preciso ser apreciador de rap para reconhecer as qualidades de "8 Mile".
Ainda mais quando Eminem é bem coadjuvado por Mekhi Phifer, Kim Basinger e pela finada Brittany Murphy.
Até mesmo eu, que estou longe de ser um "mano", não pude deixar de reconhecer que "8 Mile" está bem acima da média dos filmes produzidos como veículo para astros musicais ou de outras áreas além do cinema.
O Azarão
3.0 1Aparentemente uma comédia nada ambiciosa, dessas típicas de "Sessão da Tarde".
Porém, sob o histrionismo e a aparente estupidez de seus protagonistas, consegue ser um tanto melancólico em certos momentos, quando percebemos que não apenas cavalos são azarões.
Reparem na ponta do diretor fazendo um homem cego no hipódromo.
Provavelmente os garimpadores de VHS já toparam com este filme. Não se deixem levar pela capa equivocada e deem uma chance a mais um filme do subestimado Paul Bartel.
O Pacto dos Lobos
3.4 228Na época, a mistura de filme de ação com terror e elementos históricos da França antiga, com referências à Revolução de 1789, causou espanto em muita gente.
Visto hoje, descontados os exageros de parte da crítica na época, "O Pacto dos Lobos" sobrevive enquanto entretenimento.
A criatura assassina causa mais sustos pela sugestão do que pela sua presença em si.
Mesmo assim, o elenco à vontade com seus personagens e a presença invulgar de Mark Dacascos fazem valer a pena assistir a este filme.
Meu Amigo Totoro
4.3 1,3K Assista AgoraInfantil no melhor sentido do termo.
Ou seja, por conta da inocência e da curiosidade típicas dessa fase da vida, em que tudo parece mais grandioso, ameaçador e, não obstante, pleno de encanto.
A fantasia, aqui, aparece de forma tão orgânica que até eu comecei a pensar que cruzamentos de gatos com ônibus existem de verdade.
E Totoro, então?
Tenho certeza que Mei e Satsuki terão se tornado adultas felizes após os eventos deste filme, só por terem conhecido tão adorável e surpreendente criatura.
Miyazaki, muito obrigado!
Dolls
4.2 119Takeshi Kitano, no fundo, é um sujeito sensível.
Assim poderíamos anunciar "Dolls", se comparado com outras produções típicas deste realizador.
E a primeira das três histórias é a melhor de todas.
A visão cruel sobre os limites do amor nessa parte do filme é de cortar o coração.
Já a trama do mafioso em busca da mulher a quem abandonou na juventude, embora emocionante, não supera a anterior.
E a da cantora pop e um homem por ela obcecado é a menos interessante das histórias.
Contudo, "Dolls" não chega a ser um grande filme por faltar um amarramento maior entre essas linhas narrativas.
A vontade de ser mais sutil talvez tenha impedido Kitano de realizar uma obra-prima.
Mesmo assim, uma experiência válida.
Diário de um Adolescente
3.8 779 Assista AgoraTípico filme para impressionar os jovens e demovê-los da ideia de entrar no mundo das drogas.
Fora esse propósito, apenas algumas boas atuações. Di Caprio já não era mais o rapazinho promissor de "Gilbert Grape" e ainda não havia mostrado a maturidade dos seus trabalhos com Martin Scorsese.
Mais pelas boas intenções do que pelo resultado.
Fúria Cega
3.3 74 Assista AgoraEste é um filme de ação típico dos anos 80, a começar pela trilha sonora.
E, feito tantos exemplares do seu gênero e do seu tempo, possui instantes bem humorados, garantidos pela deficiência visual do protagonista, nesta transposição da história do samurai cego Zaitoichi para a modernidade.
Rutger Hauer, este ator tão empenhado em seu ofício, parece ter se divertido ao fazer este filme.
Um bom motivo para passar a tarde em casa em frente à televisão.
Domésticas - O Filme
3.7 182Comédia ligeira, onde a visão das empregadas domésticas, ora beira os estereótipos, ora se aprofunda nas complexidades típicas dessas profissionais valorosas.
Alguns diálogos são impagáveis.
Ao fim, resta uma boa impressão deste filme sem grandes pretensões e adequado à sua proposta.
O Ovo da Serpente
4.0 131Até compreendo o porquê deste Bergman ser tão subestimado, e até mesmo rejeitado por alguns cinéfilos.
A presença de David Carradine, mais reconhecido por certos tipos que encarnou em sua longa carreira do que por ser um grande ator, fez muita gente esnobar este filme.
Além disso, não aparenta apresentar as características mais típicas do cinema bergmaniano.
Só não compreendo o esnobismo de certos espectadores ao diminuirem os méritos de "O Ovo da Serpente" apenas por se tratar de um filme mais comercial.
Por acaso ser produzido por Dino de Laurentis é demérito, por si só?
Contar com um grande orçamento e distribuição duma major diminui os méritos de um filme?
Um olhar mais apurado detecta facilmente o espanto de Bergman perante a humanidade e seus horrores.
Neste caso, encarnados num cenário opressor, na Alemanha dos anos 20, onde um homem submete-se a experiências científicas que antecipam as práticas nazistas,
as quais são retratadas de forma a tornar este filme um exemplar do cinema de horror.
O expressionismo típico de tantas obras do diretor ganha, aqui, cores incomuns.
No mais, um filme a merecer maior justiça.
Premonição
3.3 1,2K Assista AgoraDa onda de filmes de terror entre os anos 90 e o começo da década passada, este fica acima da média por se levar menos a sério do que coisas feito "Pânico".
Pra começar, em vez de usar a estratégia batida de um serial killer dizimando adolescentes a rodo (conforme o roteiro original deste filme, inclusive), a Morte em si é quem encarna a ameaça constante às vidas dos personagens.
As formas como eles perecem são criativas.
E a presença macabra de Tony Todd, o lendário intérprete do assassino em "Candyman", ajuda a fazer este filme mais do que um mero passatempo.
Tratamento de Choque
3.3 511Considerando as médias das comédias típicas de Adam Sandler, este é um fenômeno.
A começar pela presença inacreditável de Jack Nicholson, diabolicamente cômico encarnando um terapeuta um tanto heterodoxo.
Adam Sandler, ainda sob as influências do seu trabalho em "Embriagado de Amor", atua de forma mais fluida e menos irritante do que de hábito.
E o elenco coadjuvante está afinado, com destaque para Luis Guzmán num papel atípico.
Produz risos nos momentos certos. O que é uma obrigação de toda comédia. E considerando que muitas delas falham neste particular, este filme vale a pena.
Mary e Max: Uma Amizade Diferente
4.5 2,4KHá duas maneiras de se avaliar este filme.
Esteticamente, é um prodígio de animação, levando as qualidades do curta-metragem "Harvie Krumpet", do mesmo diretor, quase à perfeição.
Quanto ao conteúdo, cabe dizer que é uma exaltação ao valor da amizade, sem sentimentalismos tolos.
Mostra a importância deste sentimento e, ironicamente, é mais realista ao apresentá-lo do que muitos filmes pretensamente adultos.
Em certos pontos, chega a ser cruel o modo como retrata os defeitos de nós todos, esses humanos tão dignos de compaixão.
E é difícil não chorar em certas passagens.
Para muitos, "Mary e Max" servirá de catarse, de revisão da vida, de valorização dos sentimentos, da abnegação dos que nos querem bem e, acima de tudo, é um filme que merece ser visto por quem ainda tiver algo dentro do peito.
Edukators: Os Educadores
4.1 663Ótimo argumento, bom para discussões político-filosóficas e bons protagonistas.
Porém, cria a sensação de que poderia ser melhor.
Samsara
4.2 44Gostaria muito de saber a opinião de um verdadeiro budista sobre este filme.
Porque, pode parecer pretensão da minha parte, mas "Samsara" aparenta ser bem superior à visão simplista que o Ocidente costuma apresentar do budismo, como se fosse uma forma de crença para quem não gosta de seguir religiões.
Apresentar um monge que decide, após um longo tempo distante das tentações do mundo real, abraçá-las com vigor, é uma verdadeira demonstração de respeito pelos budistas. Afinal, por trás de toda busca por elevação espiritual, é praticado por pessoas demasiado humanas.
Certas cenas são belamente filmadas, mas sem parecer agradar aos fanáticos por exotismo.
E é tão espiritual quanto erótico, motivo pelo qual muitos se surpreenderão.
Recomendo para mentes abertas ou que desejem sê-lo.
Inimigo do Estado
3.6 274 Assista AgoraTony Scott, inegável, sabia fazer filmes dos mais frenéticos.
E este, unindo uma trama política ao temor pelo fim da privacidade pelo avanço da tecnologia, poderia ser bem mais do que um mero filme de ação.
Porém, o descompasso entre um Will Smith ainda começando a se desenvolver enquanto ator e um Gene Hackman já sem dever nada a ninguém é patente.
No cinema, "Inimigo do Estado" funciona que é uma beleza. Mas não ficou na minha mente a ponto de considerá-lo grande coisa.
Cabaret
4.2 253Já foi dito que "Cabaret" é um musical superestimado.
Talvez isso proceda em um ou outro aspecto.
Ainda há muito a se admirar, tanto pelos desempenhos dos atores (destaque para Joel Grey, sempre!) quanto pelo contexto histórico apresentado na trama com sutileza.
Só não é excelente porque, às vezes, o equilíbrio entre os elementos deste filme ameaça ruir próximo ao final.
Seja como for, deve ser visto.
Plata Quemada
3.9 148Um filme de assalto permeado de homoerotismo na medida certa.
Porém, não se prende a nenhuma dessas características.
Marcelo Piñeyro sabe manipular bem as imagens com estilo e vigor.
Ótimo elenco principal.
Pode Bater que Ela é Francesa
2.8 150Era para ser uma comédia interessante sobre choques culturais.
Porém, acaba sendo um tanto xenófoba. E, pior, sem muita graça.
Salva-se um pouco pela Piper Perabo, e só.