Em 1942, um espião canadense e uma integrante da resistência francesa se encontram em uma missão mortal. Quando eles vão para Londres juntos e formam uma família, o relacionamento deles é testado por suspeitas e pressões da Segunda Guerra Mundial. Na primeira meia hora o filme é muito acelerado, tentando mostrar a missão dos dois, seu relacionamento e criar cenário de perigo iminente em plena guerra. Porém ele não consegue fazer nenhuma das coisas de forma satisfatória. Pode ter sido intencional, mas o relacionamento dos dois não convence, o melhor desse início fica por conta das cenas de ação. A história melhora bastante depois, tanto em cenas mais elaboradas de ação quanto na construção da incerteza sobre as intenções de Marianne, graças principalmente à atuação de Marion Cotillard, mas somente nos momentos finais temos o suspense e o drama que o filme deu a impressão de estar recheado. Se considerarmos o filme como um todo ele funciona bem, Brad Pitt entrega grandes cenas de ação e Cottilard uma ótima performance dramática.
Em 1633, os padres missionários Garupe e Rodrigues viajam até o Japão, onde seu mentor, padre Ferreira, desapareceu, eles enfrentam grandes perigos, pois os cristãos são perseguidos e a presença de padres é proibida. Baseado no livro “Silence” de Shusaku Endo, o filme é um retrato histórico da perseguição da fé cristã no Japão no século XVII. Encarado dessa maneira, o filme é perfeito, as atuações de Adam Driver, Andrew Garfield e Issei Ogata são convincentes, as paisagens e a fotografia do mexicano Rodrigo Prieto contribuem para transportar você imediatamente para a época. Ele é longo, tem quase três horas de duração, mas isso não prejudica o filme e sim o ajuda, pois as cenas de tortura não são suavizadas e nenhum recurso é utilizado para desviar sua atenção daquele momento, elas acontecem lentamente, o que as torna ainda mais fortes. O que mais me surpreendeu foi o fato de o filme ser uma divulgação do cristianismo, afinal ele mostra tudo o que há de errado com religiões organizadas. Nós sabemos o real motivo da expansão do catolicismo, a tentativa de expandir o controle europeu sobre territórios estrangeiros. Os padres Rodrigues e Garupe no filme são ferramentas de algo maior, eles chegavam a regiões pobres, convenciam as pessoas de que seus deuses eram maus, introduziam a ideia de paraíso, alguns pobres chegavam a ansiar a morte, pois no paraíso não haveria dor ou pobreza. Eles até podiam acreditar que estavam salvando almas, mas estavam simplesmente tentando expandir a cultura europeia e enfraquecer o controle dos líderes da população local. O filme enaltece ideias perdoáveis para mentes do século XVII, mas indefensáveis no século XXI, em uma entrevista Scorsese diz que as pessoas hoje em dia cultuam a tecnologia, e que ninguém na América morreria pela sua fé, mas romantizar os mártires religiosos em uma época onde existe o Estado Islâmico é fechar os olhos para o mundo atual. Enfim, o filme é perfeito, se encarado como uma demonstração das consequências de interferir na fé pessoal das pessoas, mas se for encarado como propaganda religiosa, transmite uma mensagem bem distorcida.
Ove é um homem idoso e muito mal humorado que vive sozinho e sem amigos, ele exige que as regras do condomínio sejam cumpridas à risca, o que causa inúmeros conflitos. Mas após a chegada de novos vizinhos, tudo muda na vida do velho Ove. Esse filme é uma lição de como uma história deve ser contada, ele nos mostra o pior lado de Ove, mal humorado, raivoso, porém sempre usando de muito bom humor, criando situações engraçadas e pitorescas. Quando sua rigorosa rotina é afetada pelos vizinhos, começamos a ter vislumbres do passado dele, desde a infância até a vida adulta, mostrando como ele se tornou tão ranzinza. E você vai descobrindo tudo detalhe por detalhe, sempre há algo novo a descobrir, isso faz bem ao ritmo do filme, que nunca se torna enfadonho. As cenas mais emocionantes são muito inocentes, mas o clima é sempre quebrado com um choque de realidade, com algum detalhe que remeta à pobreza ou morte e isso deixa a história mais real, e mais cativante. O filme é sobre perda, amor e solidão, e Ove nos mostra que mesmo quando parece que todas as coisas boas se foram, é possível encontrar a felicidade em pequenas coisas do cotidiano.
Após o assassinato de John F. Kennedy, a primeira-dama Jacqueline Kennedy luta para conciliar seu luto, o futuro e de seus filhos e definir o legado de seu marido como presidente dos EUA. O filme é obviamente muito triste, não só porque trata de um dos episódios mais sombrios da história americana, mas também porque aborda de todos os ângulos possíveis o sofrimento de Jackie. Natalie Portman enfrenta aqui um dos maiores desafios de sua carreira, além da dificuldade de interpretar alguém que existiu, assumindo seus gestos e tom de voz singular, ela também tem que interpretar uma esposa, uma mãe tentando consolar seus filhos, e a primeira-dama, observada por todos, sabendo que cada gesto seu será visto e julgado por todo o povo americano, tudo isso ainda com o sangue do marido manchando seu tailleur rosa Chanel, que ironicamente é como todos se lembram dela. E Portman se sai muito bem, dando credibilidade mesmo nas cenas mais dramáticas imagináveis. O filme também aborda o legado de Kennedy, o fim abrupto de seu governo significou tanto para Jackie quanto para grande parte dos americanos o fim da esperança de um futuro promissor, isso é bem mostrado nas tentativas de Jackie de transformar o enterro em algo simbólico. A trilha sonora composta por Mica Levi que já havia feito um ótimo trabalho em “Sob a Pele” (2013) também é memorável e realça a dramaticidade de cada cena.
O filme conta a história real de Florence Foster Jenkins, uma grande herdeira que tinha o sonho de se tornar uma cantora de ópera, mas possuía uma voz terrível. Florence é excêntrica e ama a música acima de tudo, sua voz não é o único obstáculo em sua carreira como cantora, seus dramas são apresentados um após o outro e você começa a enxergar ela com outros olhos, afinal se ela ama tanto a música e é tão importante para ela ser cantora, qual o problema dela cantar mal? Ela não vê a carreira como uma maneira de ganhar dinheiro, muito pelo contrário, pois gasta muito para manter a cena musical da cidade, ela só queria cantar e ser admirada por isso. Meryl Streep domina o filme, podemos dizer, sem dúvida, que ele não funcionaria se não fosse seu trabalho, entregando uma performance cômica e ao mesmo tempo conseguindo transmitir o ar ingênuo e frágil de Florence, e isso cria um interesse pela personagem sem o qual o filme não seria o mesmo. Lendo sobre a verdadeira Florence você percebe que muitas coisas não foram abordadas no filme, e que é incerto se ela não sabia que cantava mal ou se simplesmente não se importava. Porém o filme é bem divertido e emociona na dose certa.
Baseado na história real de Richard e Mildred Loving, um casal inter-racial cujo casamento desafiou a lei antimiscigenação que vigorava no estado americano de Virgínia nos anos 50. Quando li sobre o filme eu esperava que a história se passasse quase toda nos tribunais, devido à repercussão do caso. Porém Loving traz um drama que foca no impacto que essa lei causou na vida do casal. O sentimento que domina o filme todo é o de humilhação, eles são tratados como criminosos simplesmente por terem se casado. Ruth Negga consegue transmitir os sentimentos de humilhação e a saudade que sente de sua família só com o olhar, o que mostra como Mildred sofria em silêncio, sabendo que o preço por confrontar diretamente as autoridades seria grande demais. Joel Edgerton não faz um trabalho tão digno de destaque, principalmente porque Richard parecia ser bem reservado e tímido, mas os dois funcionam bem como casal e a afinidade dos dois é um dos pontos altos. O filme poderia ser mais curto, ou ter mais cenas mostrando detalhes do processo, para tornar a trama mais movimentada e fluida. Mesmo não sendo tão impactante quanto a história merecia, Loving é uma lição de história, e de como a legislação às vezes serve a interesses contrários ao bem estar da população.
O filme conta a história real do soldado do exército americano Desmond T. Doss, que serviu durante a Segunda Guerra Mundial na batalha de Okinawa. Sua fé o levou a recusar a portar armas ou matar pessoas, atuando somente como médico. Foi o primeiro americano a receber a medalha de honra sem disparar nenhuma bala. O filme constrói bem o protagonista, mostrando partes de sua infância, justificando seu posicionamento inabalável quando adulto. Seu romance com Dorothy também contribui para realçar a personalidade inocente e ingênua dele (destaque para a atuação de Andrew Garfield, e sua cara de inofensivo e bobo durante todo o filme). Seu lado religioso é abordado com moderação, algo bom, já que nos lembra que nem todos os religiosos são fanáticos. Todos os recursos usados para aproximar você de Desmond são cruciais, afinal só assim você pode achar uma história boa no meio de uma batalha sangrenta e grotesca que deixou mais de 140.000 civis mortos em Okinawa. Vemos os horrores da guerra com muita violência explícita, algo já esperado da direção de Mel Gibson, mas continuamente sentimos a fórmula "herói americano impecável" já batida de filmes sobre guerras emergindo onde devia haver a mensagem pacifista de Desmond. O filme inova ao abordar a história de um homem que não queria matar, mas sim salvar vidas, porém esquece que nem tudo é preto e branco, evitando pontos controversos da guerra. Relevando esses detalhes, é um drama emocionante e com uma batalha épica, que agradará aos fãs do gênero e retrata bem a coragem de Desmond T. Doss.
Na Polinésia antiga, Moana é uma jovem que sonha em desbravar o mar e descobrir o que há além da ilha em que vive, mas também é filha do chefe da tribo, o que implica em responsabilidades que a impedem de realizar seu sonho. Quando uma maldição desencadeada por acidente pelo semideus Maui começa a afetar a natureza e dificultar a vida na ilha, Moana, escolhida pelo próprio oceano, aceita a missão de encontrar Maui e desfazer a maldição. Moana é uma personagem muito cativante e é muito difícil não se identificar com seu relacionamento com sua avó, que a inspira a seguir seu próprio julgamento sobre qual ação tomar. Usando a mitologia polinésia e recontando a origem do povo Maori, o filme cria uma aventura inspiradora. Ele mostra a importância de preservar a cultura de um povo e a sabedoria e tecnologia que ele possui. Ele dosa bem a comédia, com uma história que instiga sua curiosidade sobre a mitologia mostrada no filme, algo parecido com o que “Hércules”, a animação de 1997 (que inclusive é dos mesmos diretores), fez de maneira bem leve, introduzindo os personagens em um contexto mais amigável para o público em geral e criando um interesse que pode transcender o filme. O filme também tem canções ótimas que complementam a história como “We Know The Way” e “How Far I Go”, que foi indicada ao Oscar de melhor canção.
Uma adaptação da peça “Fences”, vencedora do prêmio Pulitzer e escrita por August Wilson, “Um Limite Entre Nós” conta a história de Troy Maxson, um lixeiro que vive em Pittsburgh com sua esposa Rose e seu filho Cory nos anos 50. O filme se parece muito com uma peça de teatro, a maioria das cenas acontecem na casa do protagonista e todo o passado dos personagens é revelado por meio de diálogos, algo que potencializa a atuação tanto de Denzel Washington quanto da inigualável Viola Davis. Troy Maxson é um personagem complexo, ele nutre rancor por não ter entrado na liga principal de beisebol e ter se tornado um lixeiro, desconta toda sua amargura em sua família e toma atitudes condenáveis. No início do filme ele é engraçado e seu jeito de contar suas histórias chega a ser cativante, principalmente diante das respostas de Rose. No meio, ele demonstra ser teimoso e um tanto ignorante, mas você sente pena dele devido ao seu passado difícil. Porém no final vemos que ele é egocêntrico e hipócrita, sempre fazendo sermões sobre responsabilidade enquanto tenta fugir das suas. Abordando relações familiares e como elas podem ser nocivas quando há conflito de interesses e falta de comunicação, mostrando como perdoar, mesmo quando não há merecimento, é necessário para seguir vivendo em paz, o filme traz uma lição valiosa, não importa quanto tempo você viveu e quantas dificuldades passou, você não deve ditar regras para a vida de ninguém além da sua.
O filme baseia-se na história real de Katherine Goble, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, três cientistas que trabalharam em um time de mulheres afro-americanas que atuavam como “computadores” para a NASA, fazendo cálculos matemáticos, e que tiveram participação crucial no sucesso dos primeiros anos da corrida espacial americana. As protagonistas são cativantes e a história consegue fluir de maneira leve, mesmo trazendo temas pesados como preconceito e todo um lado científico e técnico que é minimizado para não tornar o filme maçante para o espectador leigo. Também é abordada a vida pessoal, principalmente de Katherine, o que deixa a personagem com mais profundidade e carisma. Além de mostrar o trabalho e determinação dessas mulheres, o filme cria um cenário para ilustrar como era a vida dos negros nos anos 60, quando ainda vigoravam leis de segregação racial. Um dos defeitos do filme é criar personagens que não existiram (como o de Jim Parsons, Kirsten Dunst e Kevin Costner) e conflitos que não aconteceram, mas é compreensível e perdoável, afinal o filme mostra como era a realidade não especificamente das cientistas, mas de toda a comunidade negra nos EUA. É importante um filme que aborde grandes conquistas de mulheres negras também aborde o racismo institucionalizado americano, que infelizmente mudou de forma, mas continua existindo e deve ser combatido.
O filme conta a história de Lee, que retorna à Manchester após a morte de seu irmão e se vê obrigado a cuidar do sobrinho adolescente. Também descobrimos os motivos que levaram Lee a deixar Manchester para se distanciar de seu passado. Dramas envolvendo relacionamentos familiares costumam render ótimas atuações, pois dão um espaço mais amplo para os atores desenvolverem a personalidade e traços dos personagens. Esse é o maior trunfo de Manchester à Beira-mar, com ótimas atuações, principalmente de Casey Affleck e Michelle Williams. O passado do personagem é mostrado em pequenas partes, mostrando como ele chegou ao lastimável ponto onde sua vida se encontra. As cenas do passado são tensas e dramáticas, e ajudam muito para situar o personagem na história. Porém o desenvolvimento da trama não me agradou. É bem óbvio que a intenção do diretor era mostrar que algumas situações são tão difíceis de lidar que é inútil tentar chegar a uma conclusão. Isso acontece com os conflitos e discussões do filme, que simplesmente não são resolvidas. Outro detalhe que não gostei foi a trilha sonora, composta por Lesley Barber, que em alguns momentos parece competir com a cena ao invés de complementá-la, quase arruinando momentos intensos do filme.
Após a chegada de várias naves ao redor do mundo, a doutora em linguística Louise Banks recebe a tarefa de estabelecer contato e descobrir as intenções dos misteriosos visitantes. Dizer que esse filme revitalizou a ficção científica não é exagero algum. O gênero está tão banalizado que raramente algum filme consegue impressionar e quebrar o padrão estabelecido. A Chegada renova o formato, trazendo aeronaves não convencionais, cujos tripulantes são misteriosos e intrigantes. Posicionando uma professora de linguística como protagonista, fazendo um contato indireto com os visitantes e tentando descobrir suas intenções. Esses detalhes tornam o filme infinitamente mais interessante do que produções blockbuster, cheias de efeitos especiais, mas vazias de conteúdo. O filme traz reflexões sobre o comportamento do ser humano enquanto coletividade, analisando suas ações quando enfrenta o desconhecido o que nos diz muito sobre as dificuldades de comunicação que muitas vezes terminam em guerra. Além de tudo temos a atuação digna de Oscar de Amy Adams, que traz profundidade à personagem e também uma abordagem paralela de como a situação afeta o ser humano em um nível pessoal. É difícil falar sobre esse filme sem dar spoilers, pois ele é daqueles que te dá vontade de analisar cada detalhe da história e assisti-lo mais de uma vez. Esse excepcional trabalho do diretor Denis Villeneuve lhe rendeu a direção da sequência de “Blade Runner” (Blade Runner 2049) e do remake do filme “Duna”, baseado em um dos melhores livros de ficção científica do mundo e que tem potencial para tornar-se um épico em suas mãos.
Saroo, um garotinho de cinco anos se perde nas ruas de Calcutá, milhares de quilômetros longe de sua casa. Após enfrentar vários perigos, é adotado por um casal da Austrália. Depois de vinte e cinco anos, ele procura o local onde vivia e tenta descobrir o paradeiro de sua família. Esse filme é extremamente emocionante, a relação de Saroo e seu irmão Guddu é construída muito bem logo no começo do filme, mostrando os esforços de ambos para ajudar a mãe em um ambiente onde a pobreza é regra. A fragilidade das crianças de rua também é mostrada em cenas angustiantes em que ninguém move um dedo para ajudá-los, uma demonstração de como hábitos desumanos tornam-se normais quando a sociedade não faz nada para impedi-los. Apesar de todas as situações dramáticas, o filme nunca se torna piegas, pois o foco central é a busca de Saroo por sua casa, seu sentimento de inadequação perto das pessoas que ama, algo que inclusive afeta seu relacionamento com sua namorada Lucy. Com atuações impressionantes e uma história carregada de questões humanitárias, Lion é um filme imperdível.
Toby Howard, um pai divorciado, e seu irmão Tanner, um ex-presidiário violento e imprevisível, criam um esquema desesperado para salvar o rancho da família no Texas, que está enterrado em dívidas. Nos antigos filmes western tínhamos cidades miseráveis onde a única coisa que crescia nas paisagens eram os cactos, sugando ao máximo tudo o que podiam do solo. Havia também os bandidos, sempre buscando riqueza e vingança, mas também os heróis que só queriam manter a ordem e trazer a justiça para todos. Nesse filme as paisagens continuam miseráveis, nem parecem habitadas, há placas de vende-se e oferecendo empréstimos bancários por toda parte. Os cactos foram substituídos pelos bancos, que ao invés do solo, exploram a escassa riqueza da população. Os bandidos são homens comuns, tentando de modo violento retomar um destino que não lhes pertence. E quanto aos heróis, bem, é difícil ser um herói em um mundo tão distorcido como esse, mas eles continuam agindo segundo a lei e tentando aplicá-la mesmo quando é difícil distinguir quem é vítima e quem é criminoso. Esse é um filme sobre roubos a bancos, um neo-western, mas também é um drama sobre a decadência humana, ela é mostrada em cada personagem, inclusive fisicamente, seja um pai sem esperanças que resolve se tornar criminoso, ou um policial prestes a se aposentar que está tão habituado a profissão que não imagina uma vida além dela. O mais irônico é que os bancos, assim como os cactos, pouco sofrem nessa paisagem, em comparação a todos que nela vivem. Com personagens memoráveis, com certeza esse é um dos melhores filmes do ano!
O filme é uma história dentro de outra história. Susan recebe um manuscrito de um livro chamado “Animais Noturnos”, escrito por seu ex-marido, o qual ela deixou vinte anos antes. O livro conta como as férias de uma família se tornam inesperadamente violentas. O livro é perturbador e leva Susan a reviver momentos de sua relação com o ex-marido e lançar um duro olhar às suas ações no passado. É admirável a habilidade do diretor de retratar duas histórias que aparentemente são distintas, a de Susan e a história do livro, mas cujos significados estão absolutamente entrelaçados. Em nenhum momento o filme se torna chato, o que me lembrou muito o ato de ler um livro, onde cada capítulo é focado em um personagem e você abandona a história de um para ler a história de outro até que as duas se encontrem. A violência psicológica do filme é intensa, o diretor não materializa a violência além do necessário, deixando a cargo do espectador imaginar os piores cenários possíveis, algo que nossa mente, constantemente conectada às mais variadas tragédias em tempo real, fazem automaticamente. O filme é uma fábula sobre vingança não convencional, mas tão devastadora quanto qualquer plano sangrento.
Na cidade de Zootopia, uma policial novata, a coelhinha Judy Hopps se une à raposa golpista Nick Wilde, para desvendar o misterioso desaparecimento de vários predadores pela cidade. O filme cheio de momentos engraçados e com ação do começo ao fim, além de passar uma ótima mensagem de aceitação e superação para crianças, mas também possui várias camadas, o que o torna muito interessante para adultos também, mostrando como as pessoas se deixam manipular pelo medo e pela mídia. Dificuldades no trabalho, corrupção, problemas com a máfia e conspirações? O filme tem tudo isso. Foi-se o tempo em que só as crianças aproveitavam animações.
Em uma floresta no Noroeste Pacífico, Ben cria seus seis filhos usando uma rigorosa educação, mental e física. Quando é forçado a entrar na vida em sociedade, todos seus ensinamentos se chocam com a vida moderna. Com doses certas de drama e comédia, o filme tem uma história criativa e fascinante. O elenco convence como uma família excêntrica com objetivos de aperfeiçoamento físico e intelectual que fazem a vida automática que temos parecer supérflua. O filme nos leva a pensar no problema que é para a sociedade quando os pais vivem manipulando a realidade para minimizar o impacto na vida de seus filhos, o que os torna apáticos e vazios. Ben não é cruel com seus filhos, ele os ama e trata como iguais, mas é absolutamente sincero, mesmo que isso signifique reconhecer a crueldade do mundo que os cerca. Afinal, quando você para de fingir que não há nada de errado com o mundo, você se torna livre para reconhecer tudo o que ele tem de bom.
O filme acompanha três estágios da vida do afro-americano Chiron, sua infância, adolescência e sua vida como adulto. Ele aborda os efeitos nocivos que o machismo e homofobia tem sobre a vida de quem pertence aos setores mais marginalizados da sociedade, a juventude negra e pobre. Mesmo tratando de temas pesados como dependência química e violência ele mostra tudo com muita sensibilidade, mostrando mais as cicatrizes emocionais que atos de violência e segregação deixam em uma pessoa. Destaque para Mahershala Ali, por sua incrível atuação como Juan, que tem um papel importante na vida de Chiron. Talvez o filme mais socialmente relevante indicado ao Oscar 2017, Moonlight quebra estereótipos e traz um drama comovente, porém realista.
La La Land é um musical que faz homenagem à Holywood e seus musicais antigos. O filme cria uma fantasia romântica que vai fascinar você, pelo menos se você estiver disposto a aceitá-la. A história é bem simples e não leva a grandes reflexões além dos problemas de compatibilidade sofridos pelo casal. O destaque fica para toda a parte técnica (fotografia, coreografia, trilha sonora, etc) e a atuação de Emma Stone, que inclusive tem uma história parecida com a da personagem e convence muito bem no papel.
Jesse é uma jovem aspirante à modelo que se muda para Los Angeles, sua juventude e beleza abrem portas facilmente, mas também atraem inveja, cobiça e violência. Fotografia perfeita, diálogos superficiais, cenário, figurino, maquiagem e iluminação, tudo milimetricamente sob controle, somente a trilha sonora composta por Cliff Martinez (que já trabalhou com o diretor em “Drive” e “Só Deus perdoa”), dá indícios de que algo não está certo. A história passa inúmeras mensagens nas entrelinhas, como os três triângulos invertidos, que no ocultismo representam o sexo feminino, representando Ruby, Gigi e Sarah, que acabam tendo um papel decisivo na vida de Jesse. Ou a alusão à condessa Elizabeth Bathory, que se banhava com o sangue de virgens para prolongar sua beleza. O filme foi muito criticado pela maneira como retrata o mundo da moda, alguns queriam algo mais explícito, enquanto outros acharam o filme vazio de críticas, mas ele parte de uma premissa tão básica que até os gregos já sabiam, ou você come os mais jovens, ou eles tomam o seu lugar. Tudo leva você a refletir se essa premissa vale apenas para o universo da moda ou se nesse ramo isso só acontece mais rápido, e que acontecerá independente da carreira que você escolher
Hank está preso em uma ilha deserta quando encontra um cadáver com habilidades incomuns, e enfrentará uma jornada surreal para chegar em casa. Se existisse um prêmio para filmes mais criativos com certeza esse desbancaria qualquer indicado ao Oscar. No começo ele é tão absurdo que você acha que ele é só uma comédia, mas quando Hank começa a tentar responder ao cadáver o que é a vida e o que significa estar vivo você percebe que o filme guarda muitas surpresas. O filme usa a comédia infame como contraste às indagações existenciais do cadáver, mostrando como somos nada mais do que material a ser decomposto depois de mortos, mais somos infinitas coisas enquanto vivos. A comédia também impede que o filme se torne muito pretensioso. Ver o significado da vida do ponto de vista de um cadáver é algo que somente um filme insano como esse poderia proporcionar.
O jovem Conor vive na Irlanda nos anos 80. Enquanto sua família passa por problemas financeiros e o casamento de seus pais desmorona, ele encontra refúgio na música, quando monta uma banda para impressionar uma misteriosa garota. O filme cria uma atmosfera dos anos 80 usando a música como pano de fundo para uma história sobre a passagem da adolescência. Conor aprende a lidar com os problemas de seus pais, tanto financeiros quanto afetivos, sua nova escola, um terrível colégio católico e a falta de perspectiva para o futuro. Tudo isso além do relacionamento com Raphina, uma garota mais velha com seus próprios problemas e frustrações. O filme recebeu uma indicação ao Globo de Ouro como melhor filme musical ou comédia e tem uma trilha sonora perfeita, desde músicas dos anos 80 (como Inbetween Days do The Cure) até canções compostas para o filme e gravadas pelo elenco. O filme passa uma mensagem muito clara e inspiradora, “a vida não é perfeita, mas só você pode decidir o que fazer com ela”.
O filme conta a história de Michèle, uma bem sucedida mulher de negócios, que se vê envolvida em um jogo de perseguição quando tenta descobrir a identidade do homem que a estuprou. Ela é uma mulher indestrutível, lida com o estupro enquanto segue sua vida normalmente, policiando a vida do ex-marido, ajudando financeiramente seu filho que engravidou uma garota, ou pelo menos é o que ele acredita, julgando sua mãe por seu relacionamento com um homem muito mais jovem, mantendo um caso com o marido de sua melhor amiga e ainda gerenciando uma equipe de design de games. Porém ela está longe de ser perfeita, tem sua própria moral distorcida e toma atitudes questionáveis, mas isso só contribui para tornar a personagem ainda mais real. E o motivo de toda essa aparente invencibilidade e força é revelado ao longo do filme. O filme oscila entre o hilário e o macabro o tempo todo, não é a toa que Isabelle Huppert ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz, afinal é preciso muito talento para representar uma personagem com tantas faces como Michèle.
Aliados
3.5 452 Assista AgoraEm 1942, um espião canadense e uma integrante da resistência francesa se encontram em uma missão mortal. Quando eles vão para Londres juntos e formam uma família, o relacionamento deles é testado por suspeitas e pressões da Segunda Guerra Mundial.
Na primeira meia hora o filme é muito acelerado, tentando mostrar a missão dos dois, seu relacionamento e criar cenário de perigo iminente em plena guerra. Porém ele não consegue fazer nenhuma das coisas de forma satisfatória. Pode ter sido intencional, mas o relacionamento dos dois não convence, o melhor desse início fica por conta das cenas de ação.
A história melhora bastante depois, tanto em cenas mais elaboradas de ação quanto na construção da incerteza sobre as intenções de Marianne, graças principalmente à atuação de Marion Cotillard, mas somente nos momentos finais temos o suspense e o drama que o filme deu a impressão de estar recheado.
Se considerarmos o filme como um todo ele funciona bem, Brad Pitt entrega grandes cenas de ação e Cottilard uma ótima performance dramática.
Silêncio
3.8 576Em 1633, os padres missionários Garupe e Rodrigues viajam até o Japão, onde seu mentor, padre Ferreira, desapareceu, eles enfrentam grandes perigos, pois os cristãos são perseguidos e a presença de padres é proibida.
Baseado no livro “Silence” de Shusaku Endo, o filme é um retrato histórico da perseguição da fé cristã no Japão no século XVII. Encarado dessa maneira, o filme é perfeito, as atuações de Adam Driver, Andrew Garfield e Issei Ogata são convincentes, as paisagens e a fotografia do mexicano Rodrigo Prieto contribuem para transportar você imediatamente para a época. Ele é longo, tem quase três horas de duração, mas isso não prejudica o filme e sim o ajuda, pois as cenas de tortura não são suavizadas e nenhum recurso é utilizado para desviar sua atenção daquele momento, elas acontecem lentamente, o que as torna ainda mais fortes.
O que mais me surpreendeu foi o fato de o filme ser uma divulgação do cristianismo, afinal ele mostra tudo o que há de errado com religiões organizadas. Nós sabemos o real motivo da expansão do catolicismo, a tentativa de expandir o controle europeu sobre territórios estrangeiros.
Os padres Rodrigues e Garupe no filme são ferramentas de algo maior, eles chegavam a regiões pobres, convenciam as pessoas de que seus deuses eram maus, introduziam a ideia de paraíso, alguns pobres chegavam a ansiar a morte, pois no paraíso não haveria dor ou pobreza. Eles até podiam acreditar que estavam salvando almas, mas estavam simplesmente tentando expandir a cultura europeia e enfraquecer o controle dos líderes da população local.
O filme enaltece ideias perdoáveis para mentes do século XVII, mas indefensáveis no século XXI, em uma entrevista Scorsese diz que as pessoas hoje em dia cultuam a tecnologia, e que ninguém na América morreria pela sua fé, mas romantizar os mártires religiosos em uma época onde existe o Estado Islâmico é fechar os olhos para o mundo atual.
Enfim, o filme é perfeito, se encarado como uma demonstração das consequências de interferir na fé pessoal das pessoas, mas se for encarado como propaganda religiosa, transmite uma mensagem bem distorcida.
Um Homem Chamado Ove
4.2 383 Assista AgoraOve é um homem idoso e muito mal humorado que vive sozinho e sem amigos, ele exige que as regras do condomínio sejam cumpridas à risca, o que causa inúmeros conflitos. Mas após a chegada de novos vizinhos, tudo muda na vida do velho Ove.
Esse filme é uma lição de como uma história deve ser contada, ele nos mostra o pior lado de Ove, mal humorado, raivoso, porém sempre usando de muito bom humor, criando situações engraçadas e pitorescas. Quando sua rigorosa rotina é afetada pelos vizinhos, começamos a ter vislumbres do passado dele, desde a infância até a vida adulta, mostrando como ele se tornou tão ranzinza. E você vai descobrindo tudo detalhe por detalhe, sempre há algo novo a descobrir, isso faz bem ao ritmo do filme, que nunca se torna enfadonho.
As cenas mais emocionantes são muito inocentes, mas o clima é sempre quebrado com um choque de realidade, com algum detalhe que remeta à pobreza ou morte e isso deixa a história mais real, e mais cativante.
O filme é sobre perda, amor e solidão, e Ove nos mostra que mesmo quando parece que todas as coisas boas se foram, é possível encontrar a felicidade em pequenas coisas do cotidiano.
Jackie
3.4 740 Assista AgoraApós o assassinato de John F. Kennedy, a primeira-dama Jacqueline Kennedy luta para conciliar seu luto, o futuro e de seus filhos e definir o legado de seu marido como presidente dos EUA.
O filme é obviamente muito triste, não só porque trata de um dos episódios mais sombrios da história americana, mas também porque aborda de todos os ângulos possíveis o sofrimento de Jackie.
Natalie Portman enfrenta aqui um dos maiores desafios de sua carreira, além da dificuldade de interpretar alguém que existiu, assumindo seus gestos e tom de voz singular, ela também tem que interpretar uma esposa, uma mãe tentando consolar seus filhos, e a primeira-dama, observada por todos, sabendo que cada gesto seu será visto e julgado por todo o povo americano, tudo isso ainda com o sangue do marido manchando seu tailleur rosa Chanel, que ironicamente é como todos se lembram dela. E Portman se sai muito bem, dando credibilidade mesmo nas cenas mais dramáticas imagináveis.
O filme também aborda o legado de Kennedy, o fim abrupto de seu governo significou tanto para Jackie quanto para grande parte dos americanos o fim da esperança de um futuro promissor, isso é bem mostrado nas tentativas de Jackie de transformar o enterro em algo simbólico.
A trilha sonora composta por Mica Levi que já havia feito um ótimo trabalho em “Sob a Pele” (2013) também é memorável e realça a dramaticidade de cada cena.
Florence: Quem é Essa Mulher?
3.5 351 Assista AgoraO filme conta a história real de Florence Foster Jenkins, uma grande herdeira que tinha o sonho de se tornar uma cantora de ópera, mas possuía uma voz terrível.
Florence é excêntrica e ama a música acima de tudo, sua voz não é o único obstáculo em sua carreira como cantora, seus dramas são apresentados um após o outro e você começa a enxergar ela com outros olhos, afinal se ela ama tanto a música e é tão importante para ela ser cantora, qual o problema dela cantar mal? Ela não vê a carreira como uma maneira de ganhar dinheiro, muito pelo contrário, pois gasta muito para manter a cena musical da cidade, ela só queria cantar e ser admirada por isso.
Meryl Streep domina o filme, podemos dizer, sem dúvida, que ele não funcionaria se não fosse seu trabalho, entregando uma performance cômica e ao mesmo tempo conseguindo transmitir o ar ingênuo e frágil de Florence, e isso cria um interesse pela personagem sem o qual o filme não seria o mesmo.
Lendo sobre a verdadeira Florence você percebe que muitas coisas não foram abordadas no filme, e que é incerto se ela não sabia que cantava mal ou se simplesmente não se importava. Porém o filme é bem divertido e emociona na dose certa.
Loving: Uma História de Amor
3.7 292 Assista AgoraBaseado na história real de Richard e Mildred Loving, um casal inter-racial cujo casamento desafiou a lei antimiscigenação que vigorava no estado americano de Virgínia nos anos 50.
Quando li sobre o filme eu esperava que a história se passasse quase toda nos tribunais, devido à repercussão do caso. Porém Loving traz um drama que foca no impacto que essa lei causou na vida do casal. O sentimento que domina o filme todo é o de humilhação, eles são tratados como criminosos simplesmente por terem se casado.
Ruth Negga consegue transmitir os sentimentos de humilhação e a saudade que sente de sua família só com o olhar, o que mostra como Mildred sofria em silêncio, sabendo que o preço por confrontar diretamente as autoridades seria grande demais. Joel Edgerton não faz um trabalho tão digno de destaque, principalmente porque Richard parecia ser bem reservado e tímido, mas os dois funcionam bem como casal e a afinidade dos dois é um dos pontos altos.
O filme poderia ser mais curto, ou ter mais cenas mostrando detalhes do processo, para tornar a trama mais movimentada e fluida. Mesmo não sendo tão impactante quanto a história merecia, Loving é uma lição de história, e de como a legislação às vezes serve a interesses contrários ao bem estar da população.
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraO filme conta a história real do soldado do exército americano Desmond T. Doss, que serviu durante a Segunda Guerra Mundial na batalha de Okinawa. Sua fé o levou a recusar a portar armas ou matar pessoas, atuando somente como médico. Foi o primeiro americano a receber a medalha de honra sem disparar nenhuma bala.
O filme constrói bem o protagonista, mostrando partes de sua infância, justificando seu posicionamento inabalável quando adulto. Seu romance com Dorothy também contribui para realçar a personalidade inocente e ingênua dele (destaque para a atuação de Andrew Garfield, e sua cara de inofensivo e bobo durante todo o filme). Seu lado religioso é abordado com moderação, algo bom, já que nos lembra que nem todos os religiosos são fanáticos.
Todos os recursos usados para aproximar você de Desmond são cruciais, afinal só assim você pode achar uma história boa no meio de uma batalha sangrenta e grotesca que deixou mais de 140.000 civis mortos em Okinawa.
Vemos os horrores da guerra com muita violência explícita, algo já esperado da direção de Mel Gibson, mas continuamente sentimos a fórmula "herói americano impecável" já batida de filmes sobre guerras emergindo onde devia haver a mensagem pacifista de Desmond. O filme inova ao abordar a história de um homem que não queria matar, mas sim salvar vidas, porém esquece que nem tudo é preto e branco, evitando pontos controversos da guerra.
Relevando esses detalhes, é um drama emocionante e com uma batalha épica, que agradará aos fãs do gênero e retrata bem a coragem de Desmond T. Doss.
Moana: Um Mar de Aventuras
4.1 1,5KNa Polinésia antiga, Moana é uma jovem que sonha em desbravar o mar e descobrir o que há além da ilha em que vive, mas também é filha do chefe da tribo, o que implica em responsabilidades que a impedem de realizar seu sonho. Quando uma maldição desencadeada por acidente pelo semideus Maui começa a afetar a natureza e dificultar a vida na ilha, Moana, escolhida pelo próprio oceano, aceita a missão de encontrar Maui e desfazer a maldição.
Moana é uma personagem muito cativante e é muito difícil não se identificar com seu relacionamento com sua avó, que a inspira a seguir seu próprio julgamento sobre qual ação tomar.
Usando a mitologia polinésia e recontando a origem do povo Maori, o filme cria uma aventura inspiradora. Ele mostra a importância de preservar a cultura de um povo e a sabedoria e tecnologia que ele possui.
Ele dosa bem a comédia, com uma história que instiga sua curiosidade sobre a mitologia mostrada no filme, algo parecido com o que “Hércules”, a animação de 1997 (que inclusive é dos mesmos diretores), fez de maneira bem leve, introduzindo os personagens em um contexto mais amigável para o público em geral e criando um interesse que pode transcender o filme.
O filme também tem canções ótimas que complementam a história como “We Know The Way” e “How Far I Go”, que foi indicada ao Oscar de melhor canção.
Um Limite Entre Nós
3.8 1,1K Assista AgoraUma adaptação da peça “Fences”, vencedora do prêmio Pulitzer e escrita por August Wilson, “Um Limite Entre Nós” conta a história de Troy Maxson, um lixeiro que vive em Pittsburgh com sua esposa Rose e seu filho Cory nos anos 50.
O filme se parece muito com uma peça de teatro, a maioria das cenas acontecem na casa do protagonista e todo o passado dos personagens é revelado por meio de diálogos, algo que potencializa a atuação tanto de Denzel Washington quanto da inigualável Viola Davis.
Troy Maxson é um personagem complexo, ele nutre rancor por não ter entrado na liga principal de beisebol e ter se tornado um lixeiro, desconta toda sua amargura em sua família e toma atitudes condenáveis. No início do filme ele é engraçado e seu jeito de contar suas histórias chega a ser cativante, principalmente diante das respostas de Rose. No meio, ele demonstra ser teimoso e um tanto ignorante, mas você sente pena dele devido ao seu passado difícil. Porém no final vemos que ele é egocêntrico e hipócrita, sempre fazendo sermões sobre responsabilidade enquanto tenta fugir das suas.
Abordando relações familiares e como elas podem ser nocivas quando há conflito de interesses e falta de comunicação, mostrando como perdoar, mesmo quando não há merecimento, é necessário para seguir vivendo em paz, o filme traz uma lição valiosa, não importa quanto tempo você viveu e quantas dificuldades passou, você não deve ditar regras para a vida de ninguém além da sua.
Estrelas Além do Tempo
4.3 1,5K Assista AgoraO filme baseia-se na história real de Katherine Goble, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, três cientistas que trabalharam em um time de mulheres afro-americanas que atuavam como “computadores” para a NASA, fazendo cálculos matemáticos, e que tiveram participação crucial no sucesso dos primeiros anos da corrida espacial americana.
As protagonistas são cativantes e a história consegue fluir de maneira leve, mesmo trazendo temas pesados como preconceito e todo um lado científico e técnico que é minimizado para não tornar o filme maçante para o espectador leigo. Também é abordada a vida pessoal, principalmente de Katherine, o que deixa a personagem com mais profundidade e carisma.
Além de mostrar o trabalho e determinação dessas mulheres, o filme cria um cenário para ilustrar como era a vida dos negros nos anos 60, quando ainda vigoravam leis de segregação racial. Um dos defeitos do filme é criar personagens que não existiram (como o de Jim Parsons, Kirsten Dunst e Kevin Costner) e conflitos que não aconteceram, mas é compreensível e perdoável, afinal o filme mostra como era a realidade não especificamente das cientistas, mas de toda a comunidade negra nos EUA.
É importante um filme que aborde grandes conquistas de mulheres negras também aborde o racismo institucionalizado americano, que infelizmente mudou de forma, mas continua existindo e deve ser combatido.
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraO filme conta a história de Lee, que retorna à Manchester após a morte de seu irmão e se vê obrigado a cuidar do sobrinho adolescente. Também descobrimos os motivos que levaram Lee a deixar Manchester para se distanciar de seu passado.
Dramas envolvendo relacionamentos familiares costumam render ótimas atuações, pois dão um espaço mais amplo para os atores desenvolverem a personalidade e traços dos personagens. Esse é o maior trunfo de Manchester à Beira-mar, com ótimas atuações, principalmente de Casey Affleck e Michelle Williams.
O passado do personagem é mostrado em pequenas partes, mostrando como ele chegou ao lastimável ponto onde sua vida se encontra. As cenas do passado são tensas e dramáticas, e ajudam muito para situar o personagem na história. Porém o desenvolvimento da trama não me agradou. É bem óbvio que a intenção do diretor era mostrar que algumas situações são tão difíceis de lidar que é inútil tentar chegar a uma conclusão. Isso acontece com os conflitos e discussões do filme, que simplesmente não são resolvidas.
Outro detalhe que não gostei foi a trilha sonora, composta por Lesley Barber, que em alguns momentos parece competir com a cena ao invés de complementá-la, quase arruinando momentos intensos do filme.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraApós a chegada de várias naves ao redor do mundo, a doutora em linguística Louise Banks recebe a tarefa de estabelecer contato e descobrir as intenções dos misteriosos visitantes.
Dizer que esse filme revitalizou a ficção científica não é exagero algum. O gênero está tão banalizado que raramente algum filme consegue impressionar e quebrar o padrão estabelecido. A Chegada renova o formato, trazendo aeronaves não convencionais, cujos tripulantes são misteriosos e intrigantes. Posicionando uma professora de linguística como protagonista, fazendo um contato indireto com os visitantes e tentando descobrir suas intenções. Esses detalhes tornam o filme infinitamente mais interessante do que produções blockbuster, cheias de efeitos especiais, mas vazias de conteúdo.
O filme traz reflexões sobre o comportamento do ser humano enquanto coletividade, analisando suas ações quando enfrenta o desconhecido o que nos diz muito sobre as dificuldades de comunicação que muitas vezes terminam em guerra.
Além de tudo temos a atuação digna de Oscar de Amy Adams, que traz profundidade à personagem e também uma abordagem paralela de como a situação afeta o ser humano em um nível pessoal.
É difícil falar sobre esse filme sem dar spoilers, pois ele é daqueles que te dá vontade de analisar cada detalhe da história e assisti-lo mais de uma vez.
Esse excepcional trabalho do diretor Denis Villeneuve lhe rendeu a direção da sequência de “Blade Runner” (Blade Runner 2049) e do remake do filme “Duna”, baseado em um dos melhores livros de ficção científica do mundo e que tem potencial para tornar-se um épico em suas mãos.
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista AgoraSaroo, um garotinho de cinco anos se perde nas ruas de Calcutá, milhares de quilômetros longe de sua casa. Após enfrentar vários perigos, é adotado por um casal da Austrália. Depois de vinte e cinco anos, ele procura o local onde vivia e tenta descobrir o paradeiro de sua família.
Esse filme é extremamente emocionante, a relação de Saroo e seu irmão Guddu é construída muito bem logo no começo do filme, mostrando os esforços de ambos para ajudar a mãe em um ambiente onde a pobreza é regra. A fragilidade das crianças de rua também é mostrada em cenas angustiantes em que ninguém move um dedo para ajudá-los, uma demonstração de como hábitos desumanos tornam-se normais quando a sociedade não faz nada para impedi-los.
Apesar de todas as situações dramáticas, o filme nunca se torna piegas, pois o foco central é a busca de Saroo por sua casa, seu sentimento de inadequação perto das pessoas que ama, algo que inclusive afeta seu relacionamento com sua namorada Lucy.
Com atuações impressionantes e uma história carregada de questões humanitárias, Lion é um filme imperdível.
A Qualquer Custo
3.8 803 Assista AgoraToby Howard, um pai divorciado, e seu irmão Tanner, um ex-presidiário violento e imprevisível, criam um esquema desesperado para salvar o rancho da família no Texas, que está enterrado em dívidas.
Nos antigos filmes western tínhamos cidades miseráveis onde a única coisa que crescia nas paisagens eram os cactos, sugando ao máximo tudo o que podiam do solo. Havia também os bandidos, sempre buscando riqueza e vingança, mas também os heróis que só queriam manter a ordem e trazer a justiça para todos.
Nesse filme as paisagens continuam miseráveis, nem parecem habitadas, há placas de vende-se e oferecendo empréstimos bancários por toda parte. Os cactos foram substituídos pelos bancos, que ao invés do solo, exploram a escassa riqueza da população. Os bandidos são homens comuns, tentando de modo violento retomar um destino que não lhes pertence. E quanto aos heróis, bem, é difícil ser um herói em um mundo tão distorcido como esse, mas eles continuam agindo segundo a lei e tentando aplicá-la mesmo quando é difícil distinguir quem é vítima e quem é criminoso.
Esse é um filme sobre roubos a bancos, um neo-western, mas também é um drama sobre a decadência humana, ela é mostrada em cada personagem, inclusive fisicamente, seja um pai sem esperanças que resolve se tornar criminoso, ou um policial prestes a se aposentar que está tão habituado a profissão que não imagina uma vida além dela.
O mais irônico é que os bancos, assim como os cactos, pouco sofrem nessa paisagem, em comparação a todos que nela vivem.
Com personagens memoráveis, com certeza esse é um dos melhores filmes do ano!
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista AgoraO filme é uma história dentro de outra história. Susan recebe um manuscrito de um livro chamado “Animais Noturnos”, escrito por seu ex-marido, o qual ela deixou vinte anos antes. O livro conta como as férias de uma família se tornam inesperadamente violentas. O livro é perturbador e leva Susan a reviver momentos de sua relação com o ex-marido e lançar um duro olhar às suas ações no passado.
É admirável a habilidade do diretor de retratar duas histórias que aparentemente são distintas, a de Susan e a história do livro, mas cujos significados estão absolutamente entrelaçados. Em nenhum momento o filme se torna chato, o que me lembrou muito o ato de ler um livro, onde cada capítulo é focado em um personagem e você abandona a história de um para ler a história de outro até que as duas se encontrem.
A violência psicológica do filme é intensa, o diretor não materializa a violência além do necessário, deixando a cargo do espectador imaginar os piores cenários possíveis, algo que nossa mente, constantemente conectada às mais variadas tragédias em tempo real, fazem automaticamente.
O filme é uma fábula sobre vingança não convencional, mas tão devastadora quanto qualquer plano sangrento.
Zootopia: Essa Cidade é o Bicho
4.2 1,5K Assista AgoraNa cidade de Zootopia, uma policial novata, a coelhinha Judy Hopps se une à raposa golpista Nick Wilde, para desvendar o misterioso desaparecimento de vários predadores pela cidade.
O filme cheio de momentos engraçados e com ação do começo ao fim, além de passar uma ótima mensagem de aceitação e superação para crianças, mas também possui várias camadas, o que o torna muito interessante para adultos também, mostrando como as pessoas se deixam manipular pelo medo e pela mídia.
Dificuldades no trabalho, corrupção, problemas com a máfia e conspirações? O filme tem tudo isso. Foi-se o tempo em que só as crianças aproveitavam animações.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraEm uma floresta no Noroeste Pacífico, Ben cria seus seis filhos usando uma rigorosa educação, mental e física. Quando é forçado a entrar na vida em sociedade, todos seus ensinamentos se chocam com a vida moderna.
Com doses certas de drama e comédia, o filme tem uma história criativa e fascinante. O elenco convence como uma família excêntrica com objetivos de aperfeiçoamento físico e intelectual que fazem a vida automática que temos parecer supérflua.
O filme nos leva a pensar no problema que é para a sociedade quando os pais vivem manipulando a realidade para minimizar o impacto na vida de seus filhos, o que os torna apáticos e vazios.
Ben não é cruel com seus filhos, ele os ama e trata como iguais, mas é absolutamente sincero, mesmo que isso signifique reconhecer a crueldade do mundo que os cerca. Afinal, quando você para de fingir que não há nada de errado com o mundo, você se torna livre para reconhecer tudo o que ele tem de bom.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraO filme acompanha três estágios da vida do afro-americano Chiron, sua infância, adolescência e sua vida como adulto.
Ele aborda os efeitos nocivos que o machismo e homofobia tem sobre a vida de quem pertence aos setores mais marginalizados da sociedade, a juventude negra e pobre.
Mesmo tratando de temas pesados como dependência química e violência ele mostra tudo com muita sensibilidade, mostrando mais as cicatrizes emocionais que atos de violência e segregação deixam em uma pessoa.
Destaque para Mahershala Ali, por sua incrível atuação como Juan, que tem um papel importante na vida de Chiron.
Talvez o filme mais socialmente relevante indicado ao Oscar 2017, Moonlight quebra estereótipos e traz um drama comovente, porém realista.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraLa La Land é um musical que faz homenagem à Holywood e seus musicais antigos. O filme cria uma fantasia romântica que vai fascinar você, pelo menos se você estiver disposto a aceitá-la. A história é bem simples e não leva a grandes reflexões além dos problemas de compatibilidade sofridos pelo casal.
O destaque fica para toda a parte técnica (fotografia, coreografia, trilha sonora, etc) e a atuação de Emma Stone, que inclusive tem uma história parecida com a da personagem e convence muito bem no papel.
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraFiz um vídeo sobre ele pro meu canal no Youtube. Com spoilers!
https://www.youtube.com/watch?v=Xjt1hoL7KvY
Demônio de Neon
3.2 1,2K Assista AgoraJesse é uma jovem aspirante à modelo que se muda para Los Angeles, sua juventude e beleza abrem portas facilmente, mas também atraem inveja, cobiça e violência.
Fotografia perfeita, diálogos superficiais, cenário, figurino, maquiagem e iluminação, tudo milimetricamente sob controle, somente a trilha sonora composta por Cliff Martinez (que já trabalhou com o diretor em “Drive” e “Só Deus perdoa”), dá indícios de que algo não está certo.
A história passa inúmeras mensagens nas entrelinhas, como os três triângulos invertidos, que no ocultismo representam o sexo feminino, representando Ruby, Gigi e Sarah, que acabam tendo um papel decisivo na vida de Jesse. Ou a alusão à condessa Elizabeth Bathory, que se banhava com o sangue de virgens para prolongar sua beleza.
O filme foi muito criticado pela maneira como retrata o mundo da moda, alguns queriam algo mais explícito, enquanto outros acharam o filme vazio de críticas, mas ele parte de uma premissa tão básica que até os gregos já sabiam, ou você come os mais jovens, ou eles tomam o seu lugar.
Tudo leva você a refletir se essa premissa vale apenas para o universo da moda ou se nesse ramo isso só acontece mais rápido, e que acontecerá independente da carreira que você escolher
Um Cadáver para Sobreviver
3.5 936 Assista AgoraHank está preso em uma ilha deserta quando encontra um cadáver com habilidades incomuns, e enfrentará uma jornada surreal para chegar em casa.
Se existisse um prêmio para filmes mais criativos com certeza esse desbancaria qualquer indicado ao Oscar. No começo ele é tão absurdo que você acha que ele é só uma comédia, mas quando Hank começa a tentar responder ao cadáver o que é a vida e o que significa estar vivo você percebe que o filme guarda muitas surpresas.
O filme usa a comédia infame como contraste às indagações existenciais do cadáver, mostrando como somos nada mais do que material a ser decomposto depois de mortos, mais somos infinitas coisas enquanto vivos. A comédia também impede que o filme se torne muito pretensioso.
Ver o significado da vida do ponto de vista de um cadáver é algo que somente um filme insano como esse poderia proporcionar.
Sing Street - Música e Sonho
4.1 713 Assista AgoraO jovem Conor vive na Irlanda nos anos 80. Enquanto sua família passa por problemas financeiros e o casamento de seus pais desmorona, ele encontra refúgio na música, quando monta uma banda para impressionar uma misteriosa garota.
O filme cria uma atmosfera dos anos 80 usando a música como pano de fundo para uma história sobre a passagem da adolescência. Conor aprende a lidar com os problemas de seus pais, tanto financeiros quanto afetivos, sua nova escola, um terrível colégio católico e a falta de perspectiva para o futuro. Tudo isso além do relacionamento com Raphina, uma garota mais velha com seus próprios problemas e frustrações.
O filme recebeu uma indicação ao Globo de Ouro como melhor filme musical ou comédia e tem uma trilha sonora perfeita, desde músicas dos anos 80 (como Inbetween Days do The Cure) até canções compostas para o filme e gravadas pelo elenco.
O filme passa uma mensagem muito clara e inspiradora, “a vida não é perfeita, mas só você pode decidir o que fazer com ela”.
Elle
3.8 886O filme conta a história de Michèle, uma bem sucedida mulher de negócios, que se vê envolvida em um jogo de perseguição quando tenta descobrir a identidade do homem que a estuprou.
Ela é uma mulher indestrutível, lida com o estupro enquanto segue sua vida normalmente, policiando a vida do ex-marido, ajudando financeiramente seu filho que engravidou uma garota, ou pelo menos é o que ele acredita, julgando sua mãe por seu relacionamento com um homem muito mais jovem, mantendo um caso com o marido de sua melhor amiga e ainda gerenciando uma equipe de design de games.
Porém ela está longe de ser perfeita, tem sua própria moral distorcida e toma atitudes questionáveis, mas isso só contribui para tornar a personagem ainda mais real. E o motivo de toda essa aparente invencibilidade e força é revelado ao longo do filme.
O filme oscila entre o hilário e o macabro o tempo todo, não é a toa que Isabelle Huppert ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz, afinal é preciso muito talento para representar uma personagem com tantas faces como Michèle.