As vezes - muitas vezes, eu diria - são os pequenos compromissos diários que nos obrigam a continuar, mesmo contra a nossa vontade. E quando a gente vê, não estamos mais desistindo, não estamos mais sobrevivendo, e sim vivendo de fato.
p.s.: É curioso observar como garotos doces como Ove podem se transformar em pessoas amarguradas após algumas pedras no caminho. O tempo realmente passa para todos.
Cheio de referências aos filmes anteriores, inclusive com a participação de personagens que amamos, mas também apresentando novos protagonistas interessantes. O K-2SO é o dróide mais sarcástico da história do cinema! Quero ele já pra mim!
Agora, considero importante conhecer minimamente o universo de Star Wars para compreendê-lo, ou pelo menos ter visto a trilogia original, pois algumas coisas podem ficar confusas para quem não conhece a história.
- If the Empire has this kind of power, what chance do we have? - What CHANCE do we have? The question is: what CHOICE? Run; hide; plead for mercy; scatter your forces. You give way to an enemy this evil with this much power, and you condemn the galaxy to an eternity of submission. The time to fight is now.
Eu geralmente não gosto de comédias, mas acabei curtindo essa (talvez justamente por não esperar grande coisa).
Quantas pessoas já desejaram poder se multiplicar para dar conta das diversas tarefas cotidianas a tempo? Doug realiza esse sonho, mas sofre com os reveses dessa escolha e precisa aprender a lidar com as muitas versões que criou de si mesmo.
É um bom filme e, mesmo sem adentrar em reflexões profundas sobre a clonagem, nos permite pensar um pouco sobre elas.
Assisti desavisada, não sabia que era um road e agora entendo porque o título não poderia ser mais apropriado (aliás, o cartaz também). Enquanto viaja, Bree tenta educar seu filho transmitindo-lhe conhecimento e valores e, de certa forma, também vai aprendendo com ele. Gostei da forma leve (porém séria) com que o filme aborda as questões que tocam a transexualidade, algo raro no cinema. As questões que ele suscita estão afinadas com o que vem sendo problematizado nos debates sobre gênero: não contar todo nosso histórico biológico é mentir?; não ter uma vagina é suficiente para não ser mulher?; uma cirurgia plástica pode realmente resolver impasses de identidade? Etc.
Que história fascinante, que pessoa difícil de ser representada. A atriz que faz Sybil se sai muito bem. O filme é extremamente simples porque a história, por si só, já é perturbadora demais. Ela te envolve do começo ao fim. Você começa a assistir e não consegue parar até saber o final daquelas mulheres. Taí um filme que merecia ser mais conhecido.
"Um ator triste, egoísta e medíocre, se agarrando aos resquícios da própria carreira". A meu ver, a marca de Birdman é essa luta de Riggan com o próprio ego. Ele tem medo de se tornar irrelevante e se coloca para baixo o tempo inteiro. Muitas vezes foge dessa realidade para reviver momentos de conforto, quando ainda teria prestígio - e pra muita gente, o filme exagerou nessas viagens.
O que acho dos filmes de Iñarritu é que é necessário estar no clima, se dispor a mergulhar mesmo na história. Por exemplo, há quem reclame do uso excessivo de bateria na trilha, mas quem assiste com atenção percebe que ela tem um papel muito importante para a história - as batidas sempre aparecem nos momentos de desespero e tensão do personagem. É como se fosse o áudio interno dele.
Sem falar que no final, o som da bateria remete ao bater de asas de um pássaro. É genial.
Vi várias atuações sendo destacadas e pra mim a mais marcante foi a de Edward Norton, que deu veracidade e paixão a um sujeito sem limites e quase patético. Não é pra qualquer um.
Estupro é a pior coisa que posso ver em um filme. E estava completamente desavisada sobre aquela cena em que a Lisbeth é amarrada. Eu tremi junto com ela, no momento em que ela escuta o áudio dos próprios gritos.
Mas além de assustador (e repulsivo em alguns momentos), devo dizer que é um filme honesto, sobre uma parceria improvável que acaba dando muito certo. Os dois protagonistas são tão diferentes e ambos tão cativantes – e se tornam ainda mais quando começam a trabalhar juntos. É instigante seguir seus passos e pensar o caso junto com eles. E sem dúvidas o crime investigado envolve uma trama muito bem construída e nada óbvia. O suspense paira durante o filme inteiro (aliás, até depois dele).
Eu já havia tido contato com as experiências da Jane Elliott, mas nunca dessa forma. Mesmo que o racismo à brasileira tenha nuances bem distintas dos EUA, sinto que dez minutos desse filme carregam mais informações do que um livro inteiro, sem sequer precisarmos de elocubrações teóricas.
Mal acabei de assistir e tenho certeza de que ainda o verei muitas vezes. E por mais que cada assistida me proporcione uma leitura diferente, sei que algo permanecerá igual: o embrulho no estômago ao perceber como essa cultura do racismo treina nossos olhares desde o berço, sem oferecer escapatória. É uma tarefa mais do que árdua enfrentar as atitudes racistas que vêm implícitas em atos aparentemente inocentes e banais do cotidiano. Me pergunto como combater um fenômeno que mal conseguimos nomear. A experiência de Jane aponta para um caminho.
Irreversível é um verdadeiro exercício de memória, diferente de tudo o que eu já vi. Quando li a premissa, cheguei a pensar que seria como Memento. Mas Memento parece mais um quebra cabeças, um disco cujas faixas foram embaralhadas e apenas precisam ser encaixadas na sequência correta, enquanto Irreversível é um disco inteiro tocando do avesso. É aquilo que você vê quando aperta o botão de rebobinar.
Confesso que precisei pausa-lo centenas de vezes para não ficar tonta por causa da câmera nervosa à lá Dogma 95. Contudo, com o passar do tempo, ela vai melhorando. É como se conforme a história fosse ficando mais clara, a câmera se ajustasse a isso também. A cena-chave do filme, uma das mais violentas que já vi, é exatamente a primeira a manter a câmera estável. É o tipo de cena com potencial pra destruir seu dia inteiro. Prefiro ver 30 mortes tarantinescas com cabeças jorrando sangue-ketchup do que um estupro tão seco e realista como aquele. Nunca mais quero ver aquilo na minha vida.
Apesar de concordar que não é um filme pra Oscar, me surpreende o tanto de gente que achou a história chata, pois ela é bem atual. As cenas do processo são particularmente tensas. Você fica esperando pra entender qual foi a jogada que desencadeou aquilo tudo. A curiosidade pra saber o que de fato levou Eduardo e Zuckerberg ao rompimento é o motor do filme. Talvez seu único demérito seja justamente dar uma visão excessivamente romanceada das relações que contribuiram pra criação do facebook; não dá pra saber o que é verdade e o que é exagero no roteiro.
Não achei monótono, mas achei um filme despolitizado, bastante gentil com uma mulher detestada por ter sido absolutamente insensível às questões sociais.
É como se o objetivo da diretora não fosse exatamente narrar a vida política da Thatcher, salientando apenas breves trechos da sua biografia. A ênfase de verdade recai sobre a força que precisou ter uma mulher para se afirmar diante de um ambiente machista, ancorada por uma ideologia liberal bastante agressiva.
A maior parte do filme mostra a ex-Primeira Ministra idosa, com Alzheimer, relembrando momentos da sua história. Nunca achei que eu daria mais do que 3 estrelas, mas, no final das contas, eu não preciso gostar da vida pública da Thatcher pra avaliar bem este filme, que fala muito mais sobre envelhecimento do que sobre política.
Gosto da forma como a bagunça do albergue se confunde com a bagunça da vida dos personagens. Só acho uma pena que um filme tão simples e bacana tenha uma continuação tão desnecessária quanto 'Bonecas Russas'. A diferença de qualidade entre os dois é GRITANTE.
Enquanto no primeiro Xavier amadurece e conquista amigos, no segundo ele é um mala preocupado apenas com sua vida amorosa. Arrisco dizer que, se o primeiro filme é uma decolagem, o segundo é uma aterrisagem mal feita.
Eu reconheço que Hugo foi uma das experiências visuais mais deslumbrantes que o cinema me proporcionou e eu acho que todas as estrelas que quiserem atribuir a ele são merecidas.
Mas, pra mim, o brilhantismo do filme acaba aí. A história central, em si, não apresenta nada inovador, nada inesperado, nada chocante. É um filme que aparentemente vai narrar a história de um garoto órfão e que, no final, serve apenas como pano de fundo para que se desenrole o mistério sobre a vida de outro personagem, vida que se entrelaça com a própria história do cinema. É legal, é lúdico, mas ainda assim é uma história toda montada em elementos que já deram certo antes, com uma série de personagens deslocados, repleta de clichês e argumentos de teor moral que me embrulham o estômago (especialmente a metáfora do mundo como uma grande máquina).
Não sei. Por mais que eu ache interessante a comparação do trabalho do cineasta com o trabalho do ilusionista, eu gostaria de encontrar um Scorsese mais ousado da próxima vez.
Eu gosto de filmes que acompanham os personagens através dos anos, mas são poucos os que conseguem fazer isso sem dar saltos brutais na história. Em 'Crazy' isso funciona bem, em grande parte porque não se trata do desenvolvimento de um ou dois personagens, mas é o ciclo de uma família inteira (e seus dois grandes tabus - drogas e sexo) que se desenrola.
Apesar de alguns personagens representarem estereotipos bem definidos, o ponto central da trama - a livre descoberta da sexualidade atalhada pela figura paterna - me pareceu abordado de forma bem natural. Por mais que a temática em si não seja nada inovadora, e o próprio Zac criança seja muito mais carismático que o Zac púbere, o constante resgate desse conflito infantil entre pai/filho impede o filme de se transformar em um clichê adolescente e o transforma em uma história na qual a família é a verdadeira protagonista.
O filme é todo baseado nas tirinhas mais famosas. Organizaram-nas de modo que se obtivesse uma sequência. As mais emblemáticas são usadas na apresentação de cada personagem.
Mesmo já conhecendo a maioria das tiradas, achei uma delícia! Muito legal ouvir a voz de seus personagens preferidos.
Um dos livros mais excitantes que já li na vida e tudo o que eu consigo pensar é na trilha sonora. Se incorporar as referências musicais do Kerouac, não tem como não ser perfeita. On the road é o bebop por escrito!
É um filme com a cara do Jack Lemmon. Um casal viaja para uma cidade estranha e se depara com uma combinação de circunstâncias adversas que só se vê no cinema. Um por um, os planos da dupla vão sendo arruinados por NY, essa cidade com ritmo tão peculiar que parece fugir ao controle dos próprios habitantes.
Achei o começo bom, mas depois de um tempo a série de catástrofes tornou-se muito repetitiva e forçada. Satisfaz como entretenimento e tals, mas nada tão maravilhoso.
Há muito tempo venho tomando coragem para ver esse filme. Odeio romances que são tragédias anunciadas, e um quadro da M. Butterfly me assombra desde criança.
É um daqueles casos assustadores em que a vida imita a arte e a arte se reinventa para criticar a si mesma - e a vida. Eu conhecia a história fictícia original e a história real. Não conhecia essa simbiose entre as duas, que mistura romance com filme de espionagem. E, muito menos, sabia que haveria uma crítica tão contundente ao machismo e ao imperialismo ocidental.
Acabo de descobrir que Cronenberg é sufocante mesmo sem o grotesco. Partiu meu coração em 800 pedaços.
Esperava que fosse um filme arrebatador do Polanski, mas infelizmente é uma obra menor, que ganha importância pela situação complicada do diretor.
A princípio, o filme parece um drama político, mas a partir da metade transforma-se em um suspense e a tensão aumenta consideravelmente. Embora Pierce Brosnam não me convença, os diálogos com a mulher do "Tony Blair" são excelentes!
É uma obra que desafia o espectador comum - e me incluo nessa turma - não pelo enredo, mas pela linguagem. Estamos acostumados com filmes verborrágicos, preparados para alçar os atores a um lugar de destaque. Quando nos deparamos com uma produção em que o protagonista é a vida em desenvolvimento, e todos os atores são secundários, ficamos assim, meio tontos.
O filme se sustenta por imagens belíssimas, celebrando a natureza. Por mais perfeito que seja tecnicamente, só me entusiasmou passados os 50 minutos iniciais (que, honestamente, seriam melhor apreciados em uma videoinstalação). A partir daí o filme se aprofunda na relação entre o pai conservador (Brad Pitt, mas também, "Deus") e seus filhos, fazendo com que o clima pesado da história entre em contraste com a paisagem deslumbrante.
O legal de 'Meu querido companheiro' é que os personagens não são estereotipados, mas o roteiro tem algumas fragilidades evidentes. Deixou muito a desejar no que diz respeito ao surgimento e cronologia do HIV. Sequer esclareceram como a Aids parou de ser chamada de 'câncer gay'. E ainda deixaram de problematizar um ponto crucial para a mobilização da saúde pública: o fato de o HIV ter acometido também a classe alta. O filme até ensaia questionar o que seria um comportamento promíscuo, mas não vai muito longe.
Por isso, preferi mil vezes 'E a vida continua', que conta a história do ponto de vista dos pesquisadores e não dos doentes. É bem esclarecedor no que diz respeito à forma como a comunidade científica acolheu os primeiros casos.
Agora, mesmo não tendo curtido muito, eu amei aquele final na praia: "espero estar lá quando encontrarem a cura".
Bem antes de ser um documentário sobre a vivência em um prédio, Edifício Master é um documentário sobre a classe média. A administração do prédio importa pouco à equipe de Coutinho; eles estão mais interessados na forma como cada entrevistado percebe o mundo. Ter o Edifício como cenário é apenas uma forma de suscitar a imaginação do público: os personagens são aqueles; cabe ao telespectador imaginar como eles interagem entre si.
Isso tudo pode ser legal, mas lá pras tantas fiquei com sensação de perda de tempo. Alguns relatos são bem interessantes, como os da Daniela ou da garota de programa. Outros me deram muito, muito nojo, como o da espanhola. A maioria simplesmente parecia superficial demais, moralista demais, vaidosa demais, repetitiva demais. De toda forma, também respeito o Coutinho. Ele deve ter transmitido bastante confiança aos moradores, pra conseguir coletar depoimentos tão entusiasmados.
Tem tudo o que um documentário precisa para ser bom: uma boa história e pessoas (competentes) interessadas em contá-la.
A facilidade com que os entrevistados se expressam me leva a crer que houve bastante cuidado por parte dos realizadores na condução das entrevistas. Todos os participantes estão muito confortáveis e coerentes em suas colocações. E isso é transmitido para o público com bastante sensibilidade e clareza.
Nunca tinha pensado no palhaço como um subversivo, mas eles me convenceram. Um ponto muito positivo é que 'Doutores da Alegria' sai dessa linha de documentários-denúncias, que se aproveitam da miséria alheia sem propor soluções. Este aqui, pelo contrário, exibe um projeto LINDO, fazendo meu coração transbordar. Fico doida pra que ele se estenda para outros lugares, como prometeram.
Um Homem Chamado Ove
4.2 383 Assista AgoraAs vezes - muitas vezes, eu diria - são os pequenos compromissos diários que nos obrigam a continuar, mesmo contra a nossa vontade.
E quando a gente vê, não estamos mais desistindo, não estamos mais sobrevivendo, e sim vivendo de fato.
p.s.: É curioso observar como garotos doces como Ove podem se transformar em pessoas amarguradas após algumas pedras no caminho. O tempo realmente passa para todos.
Rogue One: Uma História Star Wars
4.2 1,7K Assista AgoraMaravilhoso.
Cheio de referências aos filmes anteriores, inclusive com a participação de personagens que amamos, mas também apresentando novos protagonistas interessantes. O K-2SO é o dróide mais sarcástico da história do cinema! Quero ele já pra mim!
Agora, considero importante conhecer minimamente o universo de Star Wars para compreendê-lo, ou pelo menos ter visto a trilogia original, pois algumas coisas podem ficar confusas para quem não conhece a história.
- If the Empire has this kind of power, what chance do we have?
- What CHANCE do we have? The question is: what CHOICE? Run; hide; plead for mercy; scatter your forces. You give way to an enemy this evil with this much power, and you condemn the galaxy to an eternity of submission. The time to fight is now.
Capitão: What is it they've sent us?
Leia: Hope.
Mal assisti e já quero ver novamente.
Eu, Minha Mulher e Minhas Cópias
2.8 66 Assista AgoraEu geralmente não gosto de comédias, mas acabei curtindo essa (talvez justamente por não esperar grande coisa).
Quantas pessoas já desejaram poder se multiplicar para dar conta das diversas tarefas cotidianas a tempo? Doug realiza esse sonho, mas sofre com os reveses dessa escolha e precisa aprender a lidar com as muitas versões que criou de si mesmo.
É um bom filme e, mesmo sem adentrar em reflexões profundas sobre a clonagem, nos permite pensar um pouco sobre elas.
Entre Abelhas
3.4 830O desenvolvimento poderia ser melhor, mas ah, Bruno, como eu te entendo!
Transamerica
4.1 746 Assista AgoraAssisti desavisada, não sabia que era um road e agora entendo porque o título não poderia ser mais apropriado (aliás, o cartaz também). Enquanto viaja, Bree tenta educar seu filho transmitindo-lhe conhecimento e valores e, de certa forma, também vai aprendendo com ele. Gostei da forma leve (porém séria) com que o filme aborda as questões que tocam a transexualidade, algo raro no cinema. As questões que ele suscita estão afinadas com o que vem sendo problematizado nos debates sobre gênero: não contar todo nosso histórico biológico é mentir?; não ter uma vagina é suficiente para não ser mulher?; uma cirurgia plástica pode realmente resolver impasses de identidade? Etc.
Ah, a trilha faz jus ao gênero road 💙 Excelente!
Sybil
4.1 70Que história fascinante, que pessoa difícil de ser representada. A atriz que faz Sybil se sai muito bem. O filme é extremamente simples porque a história, por si só, já é perturbadora demais. Ela te envolve do começo ao fim. Você começa a assistir e não consegue parar até saber o final daquelas mulheres. Taí um filme que merecia ser mais conhecido.
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista Agora"Um ator triste, egoísta e medíocre, se agarrando aos resquícios da própria carreira".
A meu ver, a marca de Birdman é essa luta de Riggan com o próprio ego. Ele tem medo de se tornar irrelevante e se coloca para baixo o tempo inteiro. Muitas vezes foge dessa realidade para reviver momentos de conforto, quando ainda teria prestígio - e pra muita gente, o filme exagerou nessas viagens.
O que acho dos filmes de Iñarritu é que é necessário estar no clima, se dispor a mergulhar mesmo na história. Por exemplo, há quem reclame do uso excessivo de bateria na trilha, mas quem assiste com atenção percebe que ela tem um papel muito importante para a história - as batidas sempre aparecem nos momentos de desespero e tensão do personagem. É como se fosse o áudio interno dele.
Sem falar que no final, o som da bateria remete ao bater de asas de um pássaro. É genial.
Os Homens que não Amavam as Mulheres
4.1 1,5KPesado. O tema 'violência sexual' permeia a história inteira. Confesso que precisei pausar certas cenas e respirar fundo para continuar.
Estupro é a pior coisa que posso ver em um filme. E estava completamente desavisada sobre aquela cena em que a Lisbeth é amarrada. Eu tremi junto com ela, no momento em que ela escuta o áudio dos próprios gritos.
De Olhos Azuis
4.6 78Eu já havia tido contato com as experiências da Jane Elliott, mas nunca dessa forma. Mesmo que o racismo à brasileira tenha nuances bem distintas dos EUA, sinto que dez minutos desse filme carregam mais informações do que um livro inteiro, sem sequer precisarmos de elocubrações teóricas.
Mal acabei de assistir e tenho certeza de que ainda o verei muitas vezes.
E por mais que cada assistida me proporcione uma leitura diferente, sei que algo permanecerá igual: o embrulho no estômago ao perceber como essa cultura do racismo treina nossos olhares desde o berço, sem oferecer escapatória.
É uma tarefa mais do que árdua enfrentar as atitudes racistas que vêm implícitas em atos aparentemente inocentes e banais do cotidiano. Me pergunto como combater um fenômeno que mal conseguimos nomear. A experiência de Jane aponta para um caminho.
Irreversível
4.0 1,8K Assista AgoraIrreversível é um verdadeiro exercício de memória, diferente de tudo o que eu já vi. Quando li a premissa, cheguei a pensar que seria como Memento. Mas Memento parece mais um quebra cabeças, um disco cujas faixas foram embaralhadas e apenas precisam ser encaixadas na sequência correta, enquanto Irreversível é um disco inteiro tocando do avesso. É aquilo que você vê quando aperta o botão de rebobinar.
Confesso que precisei pausa-lo centenas de vezes para não ficar tonta por causa da câmera nervosa à lá Dogma 95. Contudo, com o passar do tempo, ela vai melhorando. É como se conforme a história fosse ficando mais clara, a câmera se ajustasse a isso também. A cena-chave do filme, uma das mais violentas que já vi, é exatamente a primeira a manter a câmera estável. É o tipo de cena com potencial pra destruir seu dia inteiro. Prefiro ver 30 mortes tarantinescas com cabeças jorrando sangue-ketchup do que um estupro tão seco e realista como aquele. Nunca mais quero ver aquilo na minha vida.
A Rede Social
3.6 3,1K Assista AgoraApesar de concordar que não é um filme pra Oscar, me surpreende o tanto de gente que achou a história chata, pois ela é bem atual.
As cenas do processo são particularmente tensas. Você fica esperando pra entender qual foi a jogada que desencadeou aquilo tudo. A curiosidade pra saber o que de fato levou Eduardo e Zuckerberg ao rompimento é o motor do filme. Talvez seu único demérito seja justamente dar uma visão excessivamente romanceada das relações que contribuiram pra criação do facebook; não dá pra saber o que é verdade e o que é exagero no roteiro.
A Dama de Ferro
3.6 1,7KNão achei monótono, mas achei um filme despolitizado, bastante gentil com uma mulher detestada por ter sido absolutamente insensível às questões sociais.
É como se o objetivo da diretora não fosse exatamente narrar a vida política da Thatcher, salientando apenas breves trechos da sua biografia. A ênfase de verdade recai sobre a força que precisou ter uma mulher para se afirmar diante de um ambiente machista, ancorada por uma ideologia liberal bastante agressiva.
A maior parte do filme mostra a ex-Primeira Ministra idosa, com Alzheimer, relembrando momentos da sua história. Nunca achei que eu daria mais do que 3 estrelas, mas, no final das contas, eu não preciso gostar da vida pública da Thatcher pra avaliar bem este filme, que fala muito mais sobre envelhecimento do que sobre política.
Albergue Espanhol
3.9 313Gosto da forma como a bagunça do albergue se confunde com a bagunça da vida dos personagens.
Só acho uma pena que um filme tão simples e bacana tenha uma continuação tão desnecessária quanto 'Bonecas Russas'. A diferença de qualidade entre os dois é GRITANTE.
Enquanto no primeiro Xavier amadurece e conquista amigos, no segundo ele é um mala preocupado apenas com sua vida amorosa. Arrisco dizer que, se o primeiro filme é uma decolagem, o segundo é uma aterrisagem mal feita.
A Invenção de Hugo Cabret
4.0 3,6K Assista AgoraEu reconheço que Hugo foi uma das experiências visuais mais deslumbrantes que o cinema me proporcionou e eu acho que todas as estrelas que quiserem atribuir a ele são merecidas.
Mas, pra mim, o brilhantismo do filme acaba aí. A história central, em si, não apresenta nada inovador, nada inesperado, nada chocante. É um filme que aparentemente vai narrar a história de um garoto órfão e que, no final, serve apenas como pano de fundo para que se desenrole o mistério sobre a vida de outro personagem, vida que se entrelaça com a própria história do cinema.
É legal, é lúdico, mas ainda assim é uma história toda montada em elementos que já deram certo antes, com uma série de personagens deslocados, repleta de clichês e argumentos de teor moral que me embrulham o estômago (especialmente a metáfora do mundo como uma grande máquina).
Não sei. Por mais que eu ache interessante a comparação do trabalho do cineasta com o trabalho do ilusionista, eu gostaria de encontrar um Scorsese mais ousado da próxima vez.
C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor
4.2 712Eu gosto de filmes que acompanham os personagens através dos anos, mas são poucos os que conseguem fazer isso sem dar saltos brutais na história. Em 'Crazy' isso funciona bem, em grande parte porque não se trata do desenvolvimento de um ou dois personagens, mas é o ciclo de uma família inteira (e seus dois grandes tabus - drogas e sexo) que se desenrola.
Apesar de alguns personagens representarem estereotipos bem definidos, o ponto central da trama - a livre descoberta da sexualidade atalhada pela figura paterna - me pareceu abordado de forma bem natural. Por mais que a temática em si não seja nada inovadora, e o próprio Zac criança seja muito mais carismático que o Zac púbere, o constante resgate desse conflito infantil entre pai/filho impede o filme de se transformar em um clichê adolescente e o transforma em uma história na qual a família é a verdadeira protagonista.
Mafalda
4.1 60O filme é todo baseado nas tirinhas mais famosas. Organizaram-nas de modo que se obtivesse uma sequência. As mais emblemáticas são usadas na apresentação de cada personagem.
Mesmo já conhecendo a maioria das tiradas, achei uma delícia! Muito legal ouvir a voz de seus personagens preferidos.
Na Estrada
3.3 1,9KUm dos livros mais excitantes que já li na vida e tudo o que eu consigo pensar é na trilha sonora. Se incorporar as referências musicais do Kerouac, não tem como não ser perfeita. On the road é o bebop por escrito!
Forasteiros em Nova Iorque
3.6 11É um filme com a cara do Jack Lemmon. Um casal viaja para uma cidade estranha e se depara com uma combinação de circunstâncias adversas que só se vê no cinema. Um por um, os planos da dupla vão sendo arruinados por NY, essa cidade com ritmo tão peculiar que parece fugir ao controle dos próprios habitantes.
Achei o começo bom, mas depois de um tempo a série de catástrofes tornou-se muito repetitiva e forçada. Satisfaz como entretenimento e tals, mas nada tão maravilhoso.
M. Butterfly
3.8 89Há muito tempo venho tomando coragem para ver esse filme. Odeio romances que são tragédias anunciadas, e um quadro da M. Butterfly me assombra desde criança.
É um daqueles casos assustadores em que a vida imita a arte e a arte se reinventa para criticar a si mesma - e a vida. Eu conhecia a história fictícia original e a história real. Não conhecia essa simbiose entre as duas, que mistura romance com filme de espionagem. E, muito menos, sabia que haveria uma crítica tão contundente ao machismo e ao imperialismo ocidental.
Acabo de descobrir que Cronenberg é sufocante mesmo sem o grotesco. Partiu meu coração em 800 pedaços.
O Escritor Fantasma
3.6 582 Assista AgoraEsperava que fosse um filme arrebatador do Polanski, mas infelizmente é uma obra menor, que ganha importância pela situação complicada do diretor.
A princípio, o filme parece um drama político, mas a partir da metade transforma-se em um suspense e a tensão aumenta consideravelmente. Embora Pierce Brosnam não me convença, os diálogos com a mulher do "Tony Blair" são excelentes!
Esse aqui resume o filme:
- Você já quis ser uma política de verdade?
- Claro. E você, já quis ser um escritor de verdade?
A última cena tem algo de lindo e algo de absolutamente broxante.
A Árvore da Vida
3.4 3,1K Assista AgoraÉ uma obra que desafia o espectador comum - e me incluo nessa turma - não pelo enredo, mas pela linguagem. Estamos acostumados com filmes verborrágicos, preparados para alçar os atores a um lugar de destaque. Quando nos deparamos com uma produção em que o protagonista é a vida em desenvolvimento, e todos os atores são secundários, ficamos assim, meio tontos.
O filme se sustenta por imagens belíssimas, celebrando a natureza. Por mais perfeito que seja tecnicamente, só me entusiasmou passados os 50 minutos iniciais (que, honestamente, seriam melhor apreciados em uma videoinstalação). A partir daí o filme se aprofunda na relação entre o pai conservador (Brad Pitt, mas também, "Deus") e seus filhos, fazendo com que o clima pesado da história entre em contraste com a paisagem deslumbrante.
Meu Querido Companheiro
3.6 34O legal de 'Meu querido companheiro' é que os personagens não são estereotipados, mas o roteiro tem algumas fragilidades evidentes. Deixou muito a desejar no que diz respeito ao surgimento e cronologia do HIV. Sequer esclareceram como a Aids parou de ser chamada de 'câncer gay'. E ainda deixaram de problematizar um ponto crucial para a mobilização da saúde pública: o fato de o HIV ter acometido também a classe alta. O filme até ensaia questionar o que seria um comportamento promíscuo, mas não vai muito longe.
Por isso, preferi mil vezes 'E a vida continua', que conta a história do ponto de vista dos pesquisadores e não dos doentes. É bem esclarecedor no que diz respeito à forma como a comunidade científica acolheu os primeiros casos.
Agora, mesmo não tendo curtido muito, eu amei aquele final na praia: "espero estar lá quando encontrarem a cura".
Edifício Master
4.3 372 Assista AgoraBem antes de ser um documentário sobre a vivência em um prédio, Edifício Master é um documentário sobre a classe média. A administração do prédio importa pouco à equipe de Coutinho; eles estão mais interessados na forma como cada entrevistado percebe o mundo. Ter o Edifício como cenário é apenas uma forma de suscitar a imaginação do público: os personagens são aqueles; cabe ao telespectador imaginar como eles interagem entre si.
Isso tudo pode ser legal, mas lá pras tantas fiquei com sensação de perda de tempo. Alguns relatos são bem interessantes, como os da Daniela ou da garota de programa. Outros me deram muito, muito nojo, como o da espanhola. A maioria simplesmente parecia superficial demais, moralista demais, vaidosa demais, repetitiva demais.
De toda forma, também respeito o Coutinho. Ele deve ter transmitido bastante confiança aos moradores, pra conseguir coletar depoimentos tão entusiasmados.
Doutores da Alegria
4.5 48 Assista AgoraTem tudo o que um documentário precisa para ser bom: uma boa história e pessoas (competentes) interessadas em contá-la.
A facilidade com que os entrevistados se expressam me leva a crer que houve bastante cuidado por parte dos realizadores na condução das entrevistas. Todos os participantes estão muito confortáveis e coerentes em suas colocações. E isso é transmitido para o público com bastante sensibilidade e clareza.
Nunca tinha pensado no palhaço como um subversivo, mas eles me convenceram. Um ponto muito positivo é que 'Doutores da Alegria' sai dessa linha de documentários-denúncias, que se aproveitam da miséria alheia sem propor soluções. Este aqui, pelo contrário, exibe um projeto LINDO, fazendo meu coração transbordar.
Fico doida pra que ele se estenda para outros lugares, como prometeram.