"Os Encontros de Paris" é a primeira obra do Eric Rohmer e o cineasta já conseguiu me cativar aqui, com um filme leve, mas que em cada episódio consegue nos trazer reflexões interessantes e diálogos primorosos. Particularmente, preferi "Rendezvous at 07:00", com suas casualidades, mas todas as três partes me interessaram ao ponto de querer explorar mais a filmografia do Rohmer.
Assim como Chaplin, Buster Keaton faz um cinema de uma leveza e diversão ímpares, que podem nos soar inocentes hoje em dia, mas que tiram sorrisos sinceros, sem qualquer tipo de apelação. Não à toa "Sherlock Jr." ser considerado um dos melhores filmes do cinema mudo, não apenas pela diversão e pelo personagem adorável do Keaton, mas por toda a parte técnica, que impressiona para a época, principalmente com relação à edição e ao movimento de câmera frenético nas cenas que mesclam a sala de cinema com o que está sendo exibido e nas sequências de perseguição. E alguns anos depois, Woody Allen, fã das obras do Keaton, revisitaria essa trama em seu "A Rosa Purpura do Cairo", que é um de seus melhores filmes.
O bom de assistir a um filme como "Manchester à Beira-Mar" sem ter lido sinopse e sem saber nada sobre a trama é poder se surpreender e se aprofundar na obra sem expectativa alguma. De início, a ótima montagem intercalando de forma repentina passado e futuro na vida de Lee consegue nos deixar instigados em saber o que aconteceu na vida daquele personagem para o mesmo ter tido uma mudança tão abrupta. Conforme os sinais que o filme vai dando, é possível imaginar o que pode ter acontecido, mas não como e o incidente que ocasionou todos os traumas de Lee é angustiante e desesperador.
Assim, "Manchester à Beira-Mar" consegue ser um filme humano e extremamente sensível, com um tom altamente melancólico, mas sem apelar ao melodrama e com atuações ótimas, principalmente a do Casey Affleck, que é o tipo de atuação contida, onde o ator precisa se expressar mais pela postura e pelos olhares do que por diálogos e que, apesar das polêmicas, mereceu a premiação da Academia.
É sempre encantador apreciar um filme novo do Studio Ghibli e não poderia ser diferente com "A Tartaruga Vermelha", apesar de ser uma obra que se destaca dos filmes do estúdio, por ser imensamente contemplativa, sem diálogos e com personagens mais humanos e realistas (no sentido físico mesmo). Pra alguns, a obra pode ser um pouco enfadonha, mas se você se permitir imergir nela, ficará extremamente encantado com os cenários maravilhosos e a história de vida e sobrevivência dos personagens em meio à natureza, com toda a magia e encanto característicos dos filmes do estúdio.
Primeiro filme do Valerio Zurlini que assisto e não é à toa o diretor ser conhecido como "Poeta da Melancolia", com uma obra sensível e existencialista que nos deixa meio anestesiados e não tem pretensão nenhuma de ser feliz. O personagem do Alain Delon é extremamente interessante, com seus diálogos profundos e seu desânimo pela vida. O diálogo mais marcante é o seguinte:
"- Por que a morte é a primeira noite de tranquilidade? - Porque finalmente se dorme sem sonhos."
Devido uma criação com divisões de gênero, "A Bela e a Fera" nunca foi um filme marcante na infância, mas também confesso que as animações e histórias com princesas encontrando o príncipe encantado e vivendo um "happy ending" nunca me chamaram muito a atenção. E por mais soe piegas, a história de superação, melhora como pessoa (do Fera) e saber se encantar pelo que as pessoas realmente são, ao invés da aparência física, ainda são boas lições de moral. O filme em sim reproduz muito bem a animação (tanto que falta um pouco de criatividade) e tecnicamente é bem desenvolvido, principalmente com relação à produção de arte. Apesar de ser uma obra que não tenha me tocado muito, vale bastante como forma de entretenimento e pra ver a maravilhosa da Emma Watson despontando cada vez mais na carreira.
"Elle" é um filme que você precisa de um pouco de tempo para digerir. Assisti tem uns dias e saí da sessão encantado e ao mesmo tempo absorto em tudo o que tinha visto, mas com as impressões ainda um pouco confusas. A obra, de fato, consegue ser polêmica e controversa em suas abordagens, sendo que tudo parece ser minimamente planejado para nos deixar confusos e intrigados.
Pra começar, a Isabelle Huppert está excelente no papel de Michèle, que é uma das personagens mais interessantes que eu já vi no cinema. Mesmo tendo passado por um grande trauma no passado, ela não deixou que isso a destruísse, ao ponto de construir uma carreira sólida (em uma área dominada por homens, diga-se de passagem) e ser uma mulher dominadora. Mas ao mesmo tempo em que ela não se deixou abalar por um grande trauma de infância, parece que o episódio acarretou uma mudança ao ponto de suas repressões, desejos, angústias e a forma dura de encarar a vida tenha origem ali.
O filme em si possui inúmeras abordagens e, como telespectador, até fiquei um pouco perdido em alguns momentos. Claro que o grande ponto de discussão e de estranheza é o episódio do
estupro, de como Michèle reage a ele, não como se estivesse superando um trauma, mas passando por mais um rotineiro desafio na vida, contando aos amigos como se contasse um episódio banal do dia-a-dia e sendo instigada a descobrir o seu autor. E claro, nos causa extrema estranheza a relação dela com o psicótico estuprador, por quem Michèle já nutria um desejo (antes de saber que era ele) e acaba se envolvendo naquele jogo sexual. Então essa relação nos causa uma certa repulsa e o filme deve ser visualizado sem muitas amarras morais. Dessa forma, somos imersos em um caldeirão de reações até culminar em seu final de certa forma trágico e libertador. Também é interessante constatar que o grande mistério da identidade do assassino é revelado um pouco depois da metade da obra e em nenhum momento ele perde seu fôlego. Ao contrário disso, ficamos cada vez mais interessados no desenrolar da trama.
Mas além desse ponto, há outras abordagens bastante interessantes, como
a relação dela com seu pai e o crime que este cometeu no passado, que é um pequeno episódio que me deixou muito curioso em saber mais, mas que acaba não sendo tão bem explorado, assim como as reais consequências disso na personalidade de Michèle; eu queria muito ter visto ela conversando com o pai e descarregando todos os seus sentimentos, mas foi uma boa sacada a quebra de nossas expectativas com o seu suicídio. Outro ponto interessante é que além de Michèle ser vítima de várias situações, ela também é vilã em vários outras: a mãe com pouco carinho pelo filho, a amiga que é amante do marido da amiga, a chefe que assedia moralmente os empregados, a vizinha que se insinua pro seu marido, a filha que sente desprezo pelas escolhas da mãe e a ex-mulher que atrapalha as relações do ex-marido.
Por todas essas situações, a personagem é tão rica em nuances e nossa relação de espectador com ela é tão confusa.
Em suma, o filme tecnicamente é ótimo, possui um roteiro coerente e corajoso e intercala bem vários gêneros, como o drama, suspense e até alguns tons de comédia, com seu sarcasmo. É uma obra envolta em tensão do início ao fim e que me deixou ainda mais encantado por Isabelle Huppert e sua atuação visceral, realmente digna de ganhar o Oscar esse ano.
"Depois de Lúcia" é um soco no estômago diante de uma realidade que nos aflige, mas que ao mesmo tempo é bastante corriqueira. O filme não se preocupa em se estabelecer antes do grande evento que foi a morte da Lúcia, apenas enfatizando o que acontece a partir de sua morte (como bem demonstra o nome da obra), mas logo no início podemos ver o quanto o pai e a filha estão abalados psicologicamente e buscam superar a perda da mãe mudando de cidade. Ao longo do filme, eu tive a sensação de ver a Selma de "Dançando no Escuro" na Alejandra, com
uma série de acontecimentos trágicos ocorrendo e minha angústia aumentando, porque as situações passadas pela garota só pioravam.
Ao final do filme, várias reflexões são mostradas e se busca muito mais nos fazer pensar do que dar respostas ou fazer um final "redondo". Talvez o seu grande mote seja a depressão e o quanto a falta de comunicação é prejudicial pra relação em família. Pai e filha parecem ser próximos, são afetuosos, mas ambos escondem um cotidiano caótico, onde ainda não conseguem superar a morte de Lúcia e se veem ainda mais perdidos na nova cidade. Mas as piores situações realmente são com a Alejandra e me deixaram bastante angustiado. A menina parece querer superar a morte da mãe e está aberta a novas amizades na escola, mas encontra uma realidade misógina, machista e de bullying que só fazem com que ela fique mais perdida. Li alguns comentários reclamando sobre o seu silêncio sem refletir e ter muita empatia pela garota, que
tem uma sextape vazada e, diante de uma realidade machista, deve se sentir culpada e, por isso, não conta nada ao pai, também para poupá-lo de mais uma preocupação. Mas a Alejandra é até forte em encarar todos os xingamentos, assédios e agressões que sofre, com muita resiliência (talvez o que mais nos entristece) e até aceitando as tragédias que a vida traz.
O final tem um misto de sentimentos e deixa, propositalmente, muita coisa em aberto:
a melancolia de Alejandra, a tristeza, culpa e vingança do pai (que também nos causa um misto de revolta, repúdio e empatia) e a certeza de que após os créditos finais, não terá "happy ending".
A notícia da produção de "Animais Fantásticos e Onde Habitam" e uma nova incursão nesse mundo fantástico criado pela J. K. Rowling foi uma excelente notícia, já que esse universo é extremamente rico e ainda rende histórias incríveis. Não pude ver no cinema na época da estreia e só assisti recentemente. É nítido que o roteiro não é tão encantador e profundo e que os personagens não são tão carismáticos quanto os de "Harry Potter", mas isso não faz da obra menos interessante, com uma história de certa forma simples, efeitos visuais satisfatórios (mas confesso que em alguns momentos achei o CGI mal desenvolvido) e um tom obscuro promissor, que deve ser melhor desenvolvido em outros filmes. A Escolha do David Yates, que dirigiu os quatro últimos filmes de "Harry Potter" e conhece bem aquele universo é bastante acertada e o elenco de forma geral é bom, apesar de não conseguir visualizar uma total sintonia entre os quatro personagens principais. Enfim, como apreciador de todo o universo criado em "Harry Potter", é muito bom ver esse mundo da magia sendo explorado novamente e aguardo sequências em que os personagens sejam melhor desenvolvidos (acredito que isso ficou reservado pra sequências), assim como a faceta sombria que o personagem Grindlwald traz.
"Kubo e as Cordas Mágicas" nos traz uma animação de qualidade, com um stop motion muito bem executado e personagens adoráveis. Há elementos muito interessantes de fantasia, mas a minha impressão foi de que os 100 minutos de filme não deram conta de explorar um universo tão rico, onde o roteiro poderia ser melhor aproveitado. Mas essa consideração não tira meu encantamento da obra, que é um deleite aos fãs de animações.
"La La Land" é o tipo raro de filme que te faz sair da sessão de cinema encantado com sua ode aos musicais maravilhosos da Era de Ouro de Hollywood e ao Cinema de forma geral e com toda a dedicação a toda a concepção visual da obra e todos os elementos que o tornam um filme grandioso: músicas, números de dança, roteiro (que apesar de simples e não original, é extremamente eficiente) e as inúmeras referências.
Mesmo para quem não é fã de musicais, "La La Land" consegue um desenvolvimento ótimo, já que não inteiramente cantado, mas os números musicais são realmente os pontos fortes, que te transportam para uma realidade de sonhos, como é a Los Angeles da "City os Stars" cantada pelo Sebastian e almejada por ele e pela Mia. Aliás, a sintonia entre os dois protagonistas está incrível e esse é um dos pontos fortes da obra, principalmente pelo carisma, dedicação e talento da Emma Stone, no melhor papel de sua carreira até o momento e que nos encanta do início ao fim do filme.
Exagero de indicações ao Oscar à parte, é inegável que tecnicamente o filme é impecável e houve uma extrema dedicação pra que ele tivesse esse resultado final, com um design de produção maravilhoso, muitas cores e atenção aos detalhes. Eu espero que ele se saia bem na premiação, pois o trabalho da equipe e do Damien Chazelle (esse cara precisa fazer muitos outros filmes!) estão de parabéns.
O filme termina e nos pegamos cantarolando as musicas, revisitando cenários e pensando em seu final um pouco inesperado e nada clichê. Já é um verdadeiro clássico, que pretendo rever muitas outras vezes.
"Animais Noturnos" é o tipo de filme que te prende completamente e que você precisa rever algumas vezes para prestar atenção em todos os seus simbolismos, que vão desde a utilização das cores, fotografia aos objetos em cena e onde ficção e realidade e passado e presente se entrelaçam. E a sequência do incidente do início do livro com a família do Tony provavelmente é uma das que mais me deixou angustiado assistindo a um filme. E claro, é meio redundante falar que a Amy Adams e o Jake Gylenhaal estão impecáveis, já que os dois geralmente mandam muito bem. Provavelmente irei dormir com o filme ressoando na mente.
"Moonlight" é um dos filmes de destaque do cinema atual, com toda a jornada de autoconhecimento do Chiron e a imensa sensibilidade em retratar o seu distanciamento, solidão, descobertas, incertezas, identidade e todos os conflitos que uma pessoa deslocada na infância e adolescência pode passar, principalmente por ser diferente e não se enquadrar em nenhuma "tribo". É incrível como todos os atores que interpretam o Chiron têm um desempenho muito bom e, apesar de incluir elementos diferentes ao personagem, mantém uma forte coesão, que se dá principalmente no olhar melancólico dele. Fora isso, o elenco de forma geral manda muito bem e, pra mim, o grande destaque vai pra atuação da Naomi Harris, que tá espetacular.
"A Chegada" é um filme impactante desses que você não vê com frequência. Apesar de abordar o tema extraterrestres, que já foi mostrado inúmeras vezes e das mais diversas formas no cinema, a obra consegue se diferenciar muito porquê o foco não é uma invasão alienígena e as consequências dela ao planeta (o que também é abordado), mas o autoconhecimento da personagem da Amy Adams e a importância da linguagem para se estabelecer um diálogo (seja entre países diferentes ou seja entre humanos e alienígenas). Tecnicamente o filme é impecável, com uma fotografia deslumbrante e cenários exuberantes, sem contar a trilha sonora angustiante que nos coloca no clima da obra. O tom de melancolia ronda toda a película e ao final você fica um pouco devastado e reflexivo. Sem dúvidas é um dos melhores filmes de 2016 e a Amy Adams cada vez se firma mais como uma atriz de excelência, mesmo tendo sido esnobada pelo Oscar.
"Eu, Daniel Blake" é impactante e extremamente real, até mesmo para nós brasileiros, que não temos a qualidade de vida de um país europeu. A burocracia faz com que as pessoas criem estratagemas para se manterem e nos deixa apreensivos com tanta dificuldade e falta de humanização, onde é preferível seguir o "sistema" do que ter a sensibilidade de buscar entender os problemas que alguém em uma situação extrema como a de Daniel pode estar. Também é retratada a luta diária por sobrevivência por parte de Katie, que precisa ter a sanidade mental de manter uma casa com duas crianças mesmo sem muita perspectiva de vida e acaba se vendo diante de situações constrangedoras. O final é doído é dá aquela sensação de que mesmo diante da luta, é difícil vencer o sistema burocrático, mas fica a a imagem de luta de Daniel com a pichação, o recurso e suas últimas palavras sobre ter o direito a uma vida digna.
Antes de tudo, "Halloween III: A Noite das Bruxas" deve ser visto como uma história à parte da franquia protagonizada pelo Michael Myers e provavelmente essa seja a maior decepção da obra: ser vendida como fazendo parte daquele universo, nos fazer esperar pelo personagem icônico e isso nunca acontecer. Fora essa questão, o filme é um daqueles grandes trashs da década de 80, com situações surreais que mais tiram risadas de nós do que nos fazem ter medo. Se eu não odiasse tanto ter que abandonar filmes pela metade, esse com certeza seria um que teria feito, já que em nenhum momento e em nenhum aspecto ele me empolgou e é desses pra se ver apenas uma vez na vida e nunca mais.
"Capitão Fantástico" é do tipo de filme que começamos a assistir despretensiosamente e rapidamente somos cativados pela história. Eu me senti dividido em diversos momentos pelo tipo de criação que Ben vem dado aos seus filhos, onde ao mesmo tempo em que os prepara para diversas adversidades da vida, os afasta de um ritmo de vida sedentário e predatório que a maioria de nós levamos e os incentiva a terem todo o tipo de conhecimento possível, também os priva da convivência em sociedade, que uma hora acaba fazendo falta.
Também me senti dividido e com algumas reflexões interessantes sobre o nosso modo de vida consumista alienante e que retarda nossa maturidade, como no jantar em que os pais "normais" evitam falar sobre o motivo da morte da mãe das crianças para "preservá-los", assim como as conversas de Ben sem nenhum tipo de tabu com sua filha pequena sobre sexo, por exemplo.
Mas o ponto em que "Capitão Fantástico" mais me tocou foi essa busca de conexão entre as pessoas, que cada vez mais vai se perdendo quando a gente dá mais atenção ao celular do que às conversas reais e passa pela vida das pessoas sem de fato conhecê-las. É uma boa reflexão sobre nosso estilo de vida alienado e que dá uma vontade imensa de largar um pouco essa vida corrida e ir se embrenhar no mato por uns dias sem conexão com o mundo (o que é sempre uma experiência renovadora).
A estrutura do filme em si é ótima e o recorte da história foi acertado, mas eu fiquei com uma enorme vontade de ver o Ben e sua mulher decidindo se "afastar do mundo" e como vão lidando com a criação dos filhos, além da doença dela que leva ao desenrolar da história. São duas horas que passam rápido e que nos fazem querer "viver" no filme por muito mais tempo e isso é sempre um enorme ponto positivo em uma obra cinematográfica.
Enrolei bastante para assistir "A Onda", mas já imaginava ser um filme grandioso, para se apreciar sem pressa. A obra desenvolve a autocracia e as consequências nefastas que ela pode nos trazer e coloca em xeque uma questão importante: mesmo com todas as nossas experiências de autocracias, ditaduras e fascismos (e a Alemanha é um dos melhores exemplos pra isso), ainda há o temor em se regredir a essas realidades. E claro, essa é uma discussão bastante atual na realidade brasileira de instabilidade política e econômica, onde voltam a ser difundidos pseudo-ideais de que vale tudo por um suposto bem comum. Enfim, "A Onda" nos coloca várias nuances para serem pensadas e o final impactante ressoa em nossas mentes um tempo após o filme acabar.
"Nerve" possui uma premissa bem legal com a ideia do jogo que pode ficar fora de controle, além da pequena crítica ao nosso vício em tecnologia e o quanto isso pode nos tornar pessoas idiotas. A primeira metade do filme, com a Vee começando a participar do jogo e se autodesafiando é bastante interessante, assim como toda a interação da tecnologia ao filme. Porém, na metade final, a trama vai ficando meio óbvia, com resoluções fáceis (perdendo a oportunidade de nos mostrar reviravoltas criativas) e a obra parece ter receio de arriscar e matar personagens, por exemplo, fora o "happy ending" que faz ele parecer um romance água com açúcar. O saldo, no entanto, continua sendo positivo e o filme merece ser assistido. Todavia, facilmente é daqueles filmes que esquecemos logo após vermos.
Sejamos francos: a ideia dos spin offs de "Star Wars" é puramente comercial, já que o Episódio VII fez um grande sucesso e a franquia ainda tem muito fôlego pra fazer bilheteria e criar histórias incríveis. Fico de certa forma preocupado que a saga fique saturada e estava com o pé atrás de "Rogue One" e por isso fui assistir sem expectativa nenhuma, mas fui surpreendido positivamente.
"Rogue One" se utiliza de todo o universo "Star Wars", com um enorme fan service, contando sobre a busca dos Planos da Estrela da Morte, que sempre quisemos saber como aconteceu, mas possui uma identidade própria. Como é um filme que não vai se desenvolver em outros, não há aqui uma grande preocupação em desenvolver tanto os personagens principais, o que é um ponto fraco, já que não temos tanto carisma por eles e não nos importamos tanto com o que pode acontecer com eles na missão (que desconfiamos como termina). O ponto forte mesmo são as cenas de ação espetaculares do segundo ato, que possuem um ritmo frenético e nos deixam apreensivos achando que uma hora tudo vai acabar dando errado.
O roteiro é feliz em amarrar toda a franquia já estabelecida, se preocupando em não macular nada já consolidado, conseguindo desenvolver um arco grandioso, com personagens até então secundários. E claro,
"Doutor Estranho" é um cinema pipocão, que entretém do início ao fim, tem ótimas cenas de ação, efeito visuais incríveis e um elenco bastante competente, a começar pelo protagonista Benedict Cumberbatch, que dificilmente decepciona. Mas o filme possui suas falhas, com aquela história "de início" que parece que já vimos diversas vezes, humor que muitas vezes passa do ponto, um roteiro que tenta ser pretensioso na questão da espiritualidade, mas que na verdade consegue se sustentar mais nas cenas de ação, com alguns momentos confusos e pouco explicados, além de personagens mal explorados, principalmente o vilão Kaecilius, que poderia render muito mais. Claro que é complicado explorar um universo tão rico dos quadrinhos (que por sinal, eu não conheço), então acabei ficando com a sensação de que todo aquele universo que o Doctor Strange passa a conhecer é tão rico e cheio de nuances que poderiam ser melhor abordadas (mas que talvez ocorra em outras sequências). No mais, adorei toda a psicodelia (que até me deu dor de cabeça com o 3D) e o visual de desconstrução dos prédios nas cidades que lembra muito "Inception" também é bem interessante. Pra se ver sem muitas expectativas.
"O Homem nas Trevas" foi uma grata surpresa, em um universo de terror/suspense sem criatividade e que repete referências de sucesso. O filme é simples, objetivo e eficiente, nos fazendo ficar extremamente apreensivos como os personagens diante daquela situação de claustrofobia, nos dando alguns sustos e literalmente nos fazendo ficar sem respirar de angústia. Além disso, consegue nos prender do início ao fim, possui boas reviravoltas e toda a parte técnica é bem desenvolvida, pra uma obra que provavelmente não teve um orçamento muito grande, mas que isso não foi problema.
"Era Uma Vez na Anatólia" não é um filme fácil justamente por seu ritmo lento e contemplativo, onde a câmera foca em uma natureza deslumbrante e seus pequenos detalhes, como o campo sendo "varrido" pelo vento ou uma maçã rolando uma corredeira e caindo pelo rio. São detalhes que me agradam e que reforçam uma fotografia deslumbrante em cenários abertos e que sabe utilizar as sutilezas da iluminação, principalmente nas cenas de noite, iluminadas basicamente pelos faróis dos automóveis. Algo que me incomoda um pouco, e que provavelmente foi uma escolha consciente da direção, foi
o fato do crime que dá ensejo àquelas buscas não ter sido bem desenvolvido, não mostrando suas motivações, não narrando ou mostrando como aconteceu as consequências aos agressores.
Provavelmente o foco mesmo era naquele grupo de pessoas atrás de um corpo pela noite, com todas as reflexões, desentendimentos e angústias que a situação mostrava. O resultado final é uma obra extremamente bela, que merece ser assistida com a mente aberta e com a consciência de que se vai ver um filme extremamente contemplativo e que não tem pressa em fluir.
Por mais que "A Última Estação" aborde um pouco a vida do ilustre Leon Tolstói, a obra tem uma narrativa um tanto quanto enfadonha e lenta, que acabam deixando o filme desinteressante em alguns momentos e me fez ter a sensação de que em quase duas horas de duração, poderiam ter sido abordados outros fatos interessantes da vida, família e filosofia do escritor. Todavia, a parte técnica eficiente, concepção de época detalhista, cenários deslumbrantes e as ótimas atuações, com destaque para a excepcional Helen Mirren, fazem a obra ter o seu destaque.
Os Encontros de Paris
3.8 6"Os Encontros de Paris" é a primeira obra do Eric Rohmer e o cineasta já conseguiu me cativar aqui, com um filme leve, mas que em cada episódio consegue nos trazer reflexões interessantes e diálogos primorosos. Particularmente, preferi "Rendezvous at 07:00", com suas casualidades, mas todas as três partes me interessaram ao ponto de querer explorar mais a filmografia do Rohmer.
Bancando o Águia
4.5 135 Assista AgoraAssim como Chaplin, Buster Keaton faz um cinema de uma leveza e diversão ímpares, que podem nos soar inocentes hoje em dia, mas que tiram sorrisos sinceros, sem qualquer tipo de apelação. Não à toa "Sherlock Jr." ser considerado um dos melhores filmes do cinema mudo, não apenas pela diversão e pelo personagem adorável do Keaton, mas por toda a parte técnica, que impressiona para a época, principalmente com relação à edição e ao movimento de câmera frenético nas cenas que mesclam a sala de cinema com o que está sendo exibido e nas sequências de perseguição.
E alguns anos depois, Woody Allen, fã das obras do Keaton, revisitaria essa trama em seu "A Rosa Purpura do Cairo", que é um de seus melhores filmes.
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraO bom de assistir a um filme como "Manchester à Beira-Mar" sem ter lido sinopse e sem saber nada sobre a trama é poder se surpreender e se aprofundar na obra sem expectativa alguma. De início, a ótima montagem intercalando de forma repentina passado e futuro na vida de Lee consegue nos deixar instigados em saber o que aconteceu na vida daquele personagem para o mesmo ter tido uma mudança tão abrupta. Conforme os sinais que o filme vai dando, é possível imaginar o que pode ter acontecido, mas não como e o incidente que ocasionou todos os traumas de Lee é angustiante e desesperador.
Assim, "Manchester à Beira-Mar" consegue ser um filme humano e extremamente sensível, com um tom altamente melancólico, mas sem apelar ao melodrama e com atuações ótimas, principalmente a do Casey Affleck, que é o tipo de atuação contida, onde o ator precisa se expressar mais pela postura e pelos olhares do que por diálogos e que, apesar das polêmicas, mereceu a premiação da Academia.
A Tartaruga Vermelha
4.1 392 Assista AgoraÉ sempre encantador apreciar um filme novo do Studio Ghibli e não poderia ser diferente com "A Tartaruga Vermelha", apesar de ser uma obra que se destaca dos filmes do estúdio, por ser imensamente contemplativa, sem diálogos e com personagens mais humanos e realistas (no sentido físico mesmo). Pra alguns, a obra pode ser um pouco enfadonha, mas se você se permitir imergir nela, ficará extremamente encantado com os cenários maravilhosos e a história de vida e sobrevivência dos personagens em meio à natureza, com toda a magia e encanto característicos dos filmes do estúdio.
A Primeira Noite de Tranquilidade
4.1 54Primeiro filme do Valerio Zurlini que assisto e não é à toa o diretor ser conhecido como "Poeta da Melancolia", com uma obra sensível e existencialista que nos deixa meio anestesiados e não tem pretensão nenhuma de ser feliz. O personagem do Alain Delon é extremamente interessante, com seus diálogos profundos e seu desânimo pela vida. O diálogo mais marcante é o seguinte:
"- Por que a morte é a primeira noite de tranquilidade?
- Porque finalmente se dorme sem sonhos."
A Bela e a Fera
3.9 1,6K Assista AgoraDevido uma criação com divisões de gênero, "A Bela e a Fera" nunca foi um filme marcante na infância, mas também confesso que as animações e histórias com princesas encontrando o príncipe encantado e vivendo um "happy ending" nunca me chamaram muito a atenção. E por mais soe piegas, a história de superação, melhora como pessoa (do Fera) e saber se encantar pelo que as pessoas realmente são, ao invés da aparência física, ainda são boas lições de moral.
O filme em sim reproduz muito bem a animação (tanto que falta um pouco de criatividade) e tecnicamente é bem desenvolvido, principalmente com relação à produção de arte. Apesar de ser uma obra que não tenha me tocado muito, vale bastante como forma de entretenimento e pra ver a maravilhosa da Emma Watson despontando cada vez mais na carreira.
Elle
3.8 886"Elle" é um filme que você precisa de um pouco de tempo para digerir. Assisti tem uns dias e saí da sessão encantado e ao mesmo tempo absorto em tudo o que tinha visto, mas com as impressões ainda um pouco confusas. A obra, de fato, consegue ser polêmica e controversa em suas abordagens, sendo que tudo parece ser minimamente planejado para nos deixar confusos e intrigados.
Pra começar, a Isabelle Huppert está excelente no papel de Michèle, que é uma das personagens mais interessantes que eu já vi no cinema. Mesmo tendo passado por um grande trauma no passado, ela não deixou que isso a destruísse, ao ponto de construir uma carreira sólida (em uma área dominada por homens, diga-se de passagem) e ser uma mulher dominadora. Mas ao mesmo tempo em que ela não se deixou abalar por um grande trauma de infância, parece que o episódio acarretou uma mudança ao ponto de suas repressões, desejos, angústias e a forma dura de encarar a vida tenha origem ali.
O filme em si possui inúmeras abordagens e, como telespectador, até fiquei um pouco perdido em alguns momentos. Claro que o grande ponto de discussão e de estranheza é o episódio do
estupro, de como Michèle reage a ele, não como se estivesse superando um trauma, mas passando por mais um rotineiro desafio na vida, contando aos amigos como se contasse um episódio banal do dia-a-dia e sendo instigada a descobrir o seu autor. E claro, nos causa extrema estranheza a relação dela com o psicótico estuprador, por quem Michèle já nutria um desejo (antes de saber que era ele) e acaba se envolvendo naquele jogo sexual. Então essa relação nos causa uma certa repulsa e o filme deve ser visualizado sem muitas amarras morais. Dessa forma, somos imersos em um caldeirão de reações até culminar em seu final de certa forma trágico e libertador. Também é interessante constatar que o grande mistério da identidade do assassino é revelado um pouco depois da metade da obra e em nenhum momento ele perde seu fôlego. Ao contrário disso, ficamos cada vez mais interessados no desenrolar da trama.
Mas além desse ponto, há outras abordagens bastante interessantes, como
a relação dela com seu pai e o crime que este cometeu no passado, que é um pequeno episódio que me deixou muito curioso em saber mais, mas que acaba não sendo tão bem explorado, assim como as reais consequências disso na personalidade de Michèle; eu queria muito ter visto ela conversando com o pai e descarregando todos os seus sentimentos, mas foi uma boa sacada a quebra de nossas expectativas com o seu suicídio. Outro ponto interessante é que além de Michèle ser vítima de várias situações, ela também é vilã em vários outras: a mãe com pouco carinho pelo filho, a amiga que é amante do marido da amiga, a chefe que assedia moralmente os empregados, a vizinha que se insinua pro seu marido, a filha que sente desprezo pelas escolhas da mãe e a ex-mulher que atrapalha as relações do ex-marido.
Em suma, o filme tecnicamente é ótimo, possui um roteiro coerente e corajoso e intercala bem vários gêneros, como o drama, suspense e até alguns tons de comédia, com seu sarcasmo. É uma obra envolta em tensão do início ao fim e que me deixou ainda mais encantado por Isabelle Huppert e sua atuação visceral, realmente digna de ganhar o Oscar esse ano.
Depois de Lúcia
3.8 1,1K"Depois de Lúcia" é um soco no estômago diante de uma realidade que nos aflige, mas que ao mesmo tempo é bastante corriqueira. O filme não se preocupa em se estabelecer antes do grande evento que foi a morte da Lúcia, apenas enfatizando o que acontece a partir de sua morte (como bem demonstra o nome da obra), mas logo no início podemos ver o quanto o pai e a filha estão abalados psicologicamente e buscam superar a perda da mãe mudando de cidade.
Ao longo do filme, eu tive a sensação de ver a Selma de "Dançando no Escuro" na Alejandra, com
uma série de acontecimentos trágicos ocorrendo e minha angústia aumentando, porque as situações passadas pela garota só pioravam.
Ao final do filme, várias reflexões são mostradas e se busca muito mais nos fazer pensar do que dar respostas ou fazer um final "redondo". Talvez o seu grande mote seja a depressão e o quanto a falta de comunicação é prejudicial pra relação em família. Pai e filha parecem ser próximos, são afetuosos, mas ambos escondem um cotidiano caótico, onde ainda não conseguem superar a morte de Lúcia e se veem ainda mais perdidos na nova cidade.
Mas as piores situações realmente são com a Alejandra e me deixaram bastante angustiado. A menina parece querer superar a morte da mãe e está aberta a novas amizades na escola, mas encontra uma realidade misógina, machista e de bullying que só fazem com que ela fique mais perdida. Li alguns comentários reclamando sobre o seu silêncio sem refletir e ter muita empatia pela garota, que
tem uma sextape vazada e, diante de uma realidade machista, deve se sentir culpada e, por isso, não conta nada ao pai, também para poupá-lo de mais uma preocupação. Mas a Alejandra é até forte em encarar todos os xingamentos, assédios e agressões que sofre, com muita resiliência (talvez o que mais nos entristece) e até aceitando as tragédias que a vida traz.
O final tem um misto de sentimentos e deixa, propositalmente, muita coisa em aberto:
a melancolia de Alejandra, a tristeza, culpa e vingança do pai (que também nos causa um misto de revolta, repúdio e empatia) e a certeza de que após os créditos finais, não terá "happy ending".
Animais Fantásticos e Onde Habitam
4.0 2,2K Assista AgoraA notícia da produção de "Animais Fantásticos e Onde Habitam" e uma nova incursão nesse mundo fantástico criado pela J. K. Rowling foi uma excelente notícia, já que esse universo é extremamente rico e ainda rende histórias incríveis. Não pude ver no cinema na época da estreia e só assisti recentemente. É nítido que o roteiro não é tão encantador e profundo e que os personagens não são tão carismáticos quanto os de "Harry Potter", mas isso não faz da obra menos interessante, com uma história de certa forma simples, efeitos visuais satisfatórios (mas confesso que em alguns momentos achei o CGI mal desenvolvido) e um tom obscuro promissor, que deve ser melhor desenvolvido em outros filmes.
A Escolha do David Yates, que dirigiu os quatro últimos filmes de "Harry Potter" e conhece bem aquele universo é bastante acertada e o elenco de forma geral é bom, apesar de não conseguir visualizar uma total sintonia entre os quatro personagens principais.
Enfim, como apreciador de todo o universo criado em "Harry Potter", é muito bom ver esse mundo da magia sendo explorado novamente e aguardo sequências em que os personagens sejam melhor desenvolvidos (acredito que isso ficou reservado pra sequências), assim como a faceta sombria que o personagem Grindlwald traz.
Kubo e as Cordas Mágicas
4.2 635 Assista Agora"Kubo e as Cordas Mágicas" nos traz uma animação de qualidade, com um stop motion muito bem executado e personagens adoráveis. Há elementos muito interessantes de fantasia, mas a minha impressão foi de que os 100 minutos de filme não deram conta de explorar um universo tão rico, onde o roteiro poderia ser melhor aproveitado.
Mas essa consideração não tira meu encantamento da obra, que é um deleite aos fãs de animações.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista Agora"La La Land" é o tipo raro de filme que te faz sair da sessão de cinema encantado com sua ode aos musicais maravilhosos da Era de Ouro de Hollywood e ao Cinema de forma geral e com toda a dedicação a toda a concepção visual da obra e todos os elementos que o tornam um filme grandioso: músicas, números de dança, roteiro (que apesar de simples e não original, é extremamente eficiente) e as inúmeras referências.
Mesmo para quem não é fã de musicais, "La La Land" consegue um desenvolvimento ótimo, já que não inteiramente cantado, mas os números musicais são realmente os pontos fortes, que te transportam para uma realidade de sonhos, como é a Los Angeles da "City os Stars" cantada pelo Sebastian e almejada por ele e pela Mia. Aliás, a sintonia entre os dois protagonistas está incrível e esse é um dos pontos fortes da obra, principalmente pelo carisma, dedicação e talento da Emma Stone, no melhor papel de sua carreira até o momento e que nos encanta do início ao fim do filme.
Exagero de indicações ao Oscar à parte, é inegável que tecnicamente o filme é impecável e houve uma extrema dedicação pra que ele tivesse esse resultado final, com um design de produção maravilhoso, muitas cores e atenção aos detalhes. Eu espero que ele se saia bem na premiação, pois o trabalho da equipe e do Damien Chazelle (esse cara precisa fazer muitos outros filmes!) estão de parabéns.
O filme termina e nos pegamos cantarolando as musicas, revisitando cenários e pensando em seu final um pouco inesperado e nada clichê. Já é um verdadeiro clássico, que pretendo rever muitas outras vezes.
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista Agora"Animais Noturnos" é o tipo de filme que te prende completamente e que você precisa rever algumas vezes para prestar atenção em todos os seus simbolismos, que vão desde a utilização das cores, fotografia aos objetos em cena e onde ficção e realidade e passado e presente se entrelaçam. E a sequência do incidente do início do livro com a família do Tony provavelmente é uma das que mais me deixou angustiado assistindo a um filme.
E claro, é meio redundante falar que a Amy Adams e o Jake Gylenhaal estão impecáveis, já que os dois geralmente mandam muito bem.
Provavelmente irei dormir com o filme ressoando na mente.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista Agora"Moonlight" é um dos filmes de destaque do cinema atual, com toda a jornada de autoconhecimento do Chiron e a imensa sensibilidade em retratar o seu distanciamento, solidão, descobertas, incertezas, identidade e todos os conflitos que uma pessoa deslocada na infância e adolescência pode passar, principalmente por ser diferente e não se enquadrar em nenhuma "tribo".
É incrível como todos os atores que interpretam o Chiron têm um desempenho muito bom e, apesar de incluir elementos diferentes ao personagem, mantém uma forte coesão, que se dá principalmente no olhar melancólico dele. Fora isso, o elenco de forma geral manda muito bem e, pra mim, o grande destaque vai pra atuação da Naomi Harris, que tá espetacular.
A Chegada
4.2 3,4K Assista Agora"A Chegada" é um filme impactante desses que você não vê com frequência. Apesar de abordar o tema extraterrestres, que já foi mostrado inúmeras vezes e das mais diversas formas no cinema, a obra consegue se diferenciar muito porquê o foco não é uma invasão alienígena e as consequências dela ao planeta (o que também é abordado), mas o autoconhecimento da personagem da Amy Adams e a importância da linguagem para se estabelecer um diálogo (seja entre países diferentes ou seja entre humanos e alienígenas).
Tecnicamente o filme é impecável, com uma fotografia deslumbrante e cenários exuberantes, sem contar a trilha sonora angustiante que nos coloca no clima da obra. O tom de melancolia ronda toda a película e ao final você fica um pouco devastado e reflexivo. Sem dúvidas é um dos melhores filmes de 2016 e a Amy Adams cada vez se firma mais como uma atriz de excelência, mesmo tendo sido esnobada pelo Oscar.
Eu, Daniel Blake
4.3 533 Assista Agora"Eu, Daniel Blake" é impactante e extremamente real, até mesmo para nós brasileiros, que não temos a qualidade de vida de um país europeu. A burocracia faz com que as pessoas criem estratagemas para se manterem e nos deixa apreensivos com tanta dificuldade e falta de humanização, onde é preferível seguir o "sistema" do que ter a sensibilidade de buscar entender os problemas que alguém em uma situação extrema como a de Daniel pode estar. Também é retratada a luta diária por sobrevivência por parte de Katie, que precisa ter a sanidade mental de manter uma casa com duas crianças mesmo sem muita perspectiva de vida e acaba se vendo diante de situações constrangedoras.
O final é doído é dá aquela sensação de que mesmo diante da luta, é difícil vencer o sistema burocrático, mas fica a a imagem de luta de Daniel com a pichação, o recurso e suas últimas palavras sobre ter o direito a uma vida digna.
Halloween III: A Noite das Bruxas
2.3 482 Assista AgoraAntes de tudo, "Halloween III: A Noite das Bruxas" deve ser visto como uma história à parte da franquia protagonizada pelo Michael Myers e provavelmente essa seja a maior decepção da obra: ser vendida como fazendo parte daquele universo, nos fazer esperar pelo personagem icônico e isso nunca acontecer.
Fora essa questão, o filme é um daqueles grandes trashs da década de 80, com situações surreais que mais tiram risadas de nós do que nos fazem ter medo. Se eu não odiasse tanto ter que abandonar filmes pela metade, esse com certeza seria um que teria feito, já que em nenhum momento e em nenhum aspecto ele me empolgou e é desses pra se ver apenas uma vez na vida e nunca mais.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista Agora"Capitão Fantástico" é do tipo de filme que começamos a assistir despretensiosamente e rapidamente somos cativados pela história. Eu me senti dividido em diversos momentos pelo tipo de criação que Ben vem dado aos seus filhos, onde ao mesmo tempo em que os prepara para diversas adversidades da vida, os afasta de um ritmo de vida sedentário e predatório que a maioria de nós levamos e os incentiva a terem todo o tipo de conhecimento possível, também os priva da convivência em sociedade, que uma hora acaba fazendo falta.
Também me senti dividido e com algumas reflexões interessantes sobre o nosso modo de vida consumista alienante e que retarda nossa maturidade, como no jantar em que os pais "normais" evitam falar sobre o motivo da morte da mãe das crianças para "preservá-los", assim como as conversas de Ben sem nenhum tipo de tabu com sua filha pequena sobre sexo, por exemplo.
Mas o ponto em que "Capitão Fantástico" mais me tocou foi essa busca de conexão entre as pessoas, que cada vez mais vai se perdendo quando a gente dá mais atenção ao celular do que às conversas reais e passa pela vida das pessoas sem de fato conhecê-las. É uma boa reflexão sobre nosso estilo de vida alienado e que dá uma vontade imensa de largar um pouco essa vida corrida e ir se embrenhar no mato por uns dias sem conexão com o mundo (o que é sempre uma experiência renovadora).
A estrutura do filme em si é ótima e o recorte da história foi acertado, mas eu fiquei com uma enorme vontade de ver o Ben e sua mulher decidindo se "afastar do mundo" e como vão lidando com a criação dos filhos, além da doença dela que leva ao desenrolar da história. São duas horas que passam rápido e que nos fazem querer "viver" no filme por muito mais tempo e isso é sempre um enorme ponto positivo em uma obra cinematográfica.
A Onda
4.2 1,9KEnrolei bastante para assistir "A Onda", mas já imaginava ser um filme grandioso, para se apreciar sem pressa. A obra desenvolve a autocracia e as consequências nefastas que ela pode nos trazer e coloca em xeque uma questão importante: mesmo com todas as nossas experiências de autocracias, ditaduras e fascismos (e a Alemanha é um dos melhores exemplos pra isso), ainda há o temor em se regredir a essas realidades. E claro, essa é uma discussão bastante atual na realidade brasileira de instabilidade política e econômica, onde voltam a ser difundidos pseudo-ideais de que vale tudo por um suposto bem comum.
Enfim, "A Onda" nos coloca várias nuances para serem pensadas e o final impactante ressoa em nossas mentes um tempo após o filme acabar.
Nerve: Um Jogo Sem Regras
3.3 1,2K Assista Agora"Nerve" possui uma premissa bem legal com a ideia do jogo que pode ficar fora de controle, além da pequena crítica ao nosso vício em tecnologia e o quanto isso pode nos tornar pessoas idiotas. A primeira metade do filme, com a Vee começando a participar do jogo e se autodesafiando é bastante interessante, assim como toda a interação da tecnologia ao filme. Porém, na metade final, a trama vai ficando meio óbvia, com resoluções fáceis (perdendo a oportunidade de nos mostrar reviravoltas criativas) e a obra parece ter receio de arriscar e matar personagens, por exemplo, fora o "happy ending" que faz ele parecer um romance água com açúcar.
O saldo, no entanto, continua sendo positivo e o filme merece ser assistido. Todavia, facilmente é daqueles filmes que esquecemos logo após vermos.
Rogue One: Uma História Star Wars
4.2 1,7K Assista AgoraSejamos francos: a ideia dos spin offs de "Star Wars" é puramente comercial, já que o Episódio VII fez um grande sucesso e a franquia ainda tem muito fôlego pra fazer bilheteria e criar histórias incríveis. Fico de certa forma preocupado que a saga fique saturada e estava com o pé atrás de "Rogue One" e por isso fui assistir sem expectativa nenhuma, mas fui surpreendido positivamente.
"Rogue One" se utiliza de todo o universo "Star Wars", com um enorme fan service, contando sobre a busca dos Planos da Estrela da Morte, que sempre quisemos saber como aconteceu, mas possui uma identidade própria. Como é um filme que não vai se desenvolver em outros, não há aqui uma grande preocupação em desenvolver tanto os personagens principais, o que é um ponto fraco, já que não temos tanto carisma por eles e não nos importamos tanto com o que pode acontecer com eles na missão (que desconfiamos como termina). O ponto forte mesmo são as cenas de ação espetaculares do segundo ato, que possuem um ritmo frenético e nos deixam apreensivos achando que uma hora tudo vai acabar dando errado.
O roteiro é feliz em amarrar toda a franquia já estabelecida, se preocupando em não macular nada já consolidado, conseguindo desenvolver um arco grandioso, com personagens até então secundários. E claro,
ver o Darth Vader faz qualquer fã da saga se emocionar profundamente, assim como a Princesa Leia ao final, fechando o filme de forma espetacular.
Assim, "Rogue One" cumpre o seu papel de nos deixar menos ansiosos pelo Episódio VIII.
Doutor Estranho
4.0 2,2K Assista Agora"Doutor Estranho" é um cinema pipocão, que entretém do início ao fim, tem ótimas cenas de ação, efeito visuais incríveis e um elenco bastante competente, a começar pelo protagonista Benedict Cumberbatch, que dificilmente decepciona. Mas o filme possui suas falhas, com aquela história "de início" que parece que já vimos diversas vezes, humor que muitas vezes passa do ponto, um roteiro que tenta ser pretensioso na questão da espiritualidade, mas que na verdade consegue se sustentar mais nas cenas de ação, com alguns momentos confusos e pouco explicados, além de personagens mal explorados, principalmente o vilão Kaecilius, que poderia render muito mais.
Claro que é complicado explorar um universo tão rico dos quadrinhos (que por sinal, eu não conheço), então acabei ficando com a sensação de que todo aquele universo que o Doctor Strange passa a conhecer é tão rico e cheio de nuances que poderiam ser melhor abordadas (mas que talvez ocorra em outras sequências).
No mais, adorei toda a psicodelia (que até me deu dor de cabeça com o 3D) e o visual de desconstrução dos prédios nas cidades que lembra muito "Inception" também é bem interessante.
Pra se ver sem muitas expectativas.
O Homem nas Trevas
3.7 1,9K Assista Agora"O Homem nas Trevas" foi uma grata surpresa, em um universo de terror/suspense sem criatividade e que repete referências de sucesso. O filme é simples, objetivo e eficiente, nos fazendo ficar extremamente apreensivos como os personagens diante daquela situação de claustrofobia, nos dando alguns sustos e literalmente nos fazendo ficar sem respirar de angústia. Além disso, consegue nos prender do início ao fim, possui boas reviravoltas e toda a parte técnica é bem desenvolvida, pra uma obra que provavelmente não teve um orçamento muito grande, mas que isso não foi problema.
Era Uma Vez na Anatólia
3.8 60"Era Uma Vez na Anatólia" não é um filme fácil justamente por seu ritmo lento e contemplativo, onde a câmera foca em uma natureza deslumbrante e seus pequenos detalhes, como o campo sendo "varrido" pelo vento ou uma maçã rolando uma corredeira e caindo pelo rio. São detalhes que me agradam e que reforçam uma fotografia deslumbrante em cenários abertos e que sabe utilizar as sutilezas da iluminação, principalmente nas cenas de noite, iluminadas basicamente pelos faróis dos automóveis.
Algo que me incomoda um pouco, e que provavelmente foi uma escolha consciente da direção, foi
o fato do crime que dá ensejo àquelas buscas não ter sido bem desenvolvido, não mostrando suas motivações, não narrando ou mostrando como aconteceu as consequências aos agressores.
O resultado final é uma obra extremamente bela, que merece ser assistida com a mente aberta e com a consciência de que se vai ver um filme extremamente contemplativo e que não tem pressa em fluir.
A Última Estação
3.7 180 Assista AgoraPor mais que "A Última Estação" aborde um pouco a vida do ilustre Leon Tolstói, a obra tem uma narrativa um tanto quanto enfadonha e lenta, que acabam deixando o filme desinteressante em alguns momentos e me fez ter a sensação de que em quase duas horas de duração, poderiam ter sido abordados outros fatos interessantes da vida, família e filosofia do escritor. Todavia, a parte técnica eficiente, concepção de época detalhista, cenários deslumbrantes e as ótimas atuações, com destaque para a excepcional Helen Mirren, fazem a obra ter o seu destaque.