"A Busca" é um drama que envereda por um "road" movie" de autoconhecimento, crescendo aos poucos e mostrando algumas situações com uma boa carga de sensibilidade. Me impressionou a qualidade da produção, além do desempenho do elenco de forma geral, cumprindo seu papel de entretenimento e nos brindando com mais uma boa obra para o nosso cinema nacional.
Assisti sem saber que se tratava do retrato de uma pessoa que existiu, mas isso não muda muito minhas percepções sobre o filme, que possui uma personalidade bastante interessante para mostrar, mas acaba se perdendo em um roteiro falho e confuso, que tenta dar profundidade à personalidade de Marcelo, mas parece retratar alguém perdido entre ser celebridade e aviador e não assumir sua própria identidade, mas com uma abordagem não muito interessante. Vale mais pelo sempre multifacetado Wagner Moura, que leva o filme nas costas.
É adorável a maneira como o Ang Lee nos apresenta os personagens, a cultura chinesa e as artes marciais. O filme todo possui um grande esmero de produção, conseguindo culminar em uma obra que além de impressionar pela beleza das lutas mostradas, possui bons panos de fundo, como honra, lealdade e amor. Enrolei esses anos todos para assistir e agora tive aquela sensação de que deveria ter visto há muito tempo atrás.
"Linha de Passe" marca a volta de uma boa parceria entre Walter Salles e Daniela Thomas (que dirigiram o ótimo "Terra Estrangeira"), além da volta da parceria entre Salles e Vinícius de Oliveira (o Josué, de "Central do Brasil"). Muito mais que abordar o tema futebol, o filme aborda tem forma precisa a segregação social no Brasil, com aquela família composta por cinco pessoas com seus sonhos e dificuldades, sendo um retrato bem real de nosso país. Achei muito boa a edição dinâmica, intercalando cada um dos protagonistas, que vai ficando mais interessante ao final. Só achei o final brusco demais, não delimitando bem o destino de cada personagem (que provavelmente terminam levando suas vidas ainda com grandes dificuldades), mas isso não compromete de forma alguma o trabalho.
Imensamente gratificante ver algumas das reflexões de Tarkovski, principalmente sobre os ótimos diretores que influenciaram seu trabalho, conselhos aos novos diretores e ele falando sobre o que ainda não tinha conseguido filmar (fiquei triste por não termos a história da mulher mentirosa incendiada), tudo marcado por belas paisagens italianas e que dão o clima de nostalgia da obra que vinha a ser produzida. Tarkovski é genial, sua contribuição ao cinema é inestimável e é uma pena o mestre ter morrido de forma tão prematura.
É desonesto chamar "Império dos Sentidos" de um filme pornográfico, já que os filmes do gênero se preocupam exclusivamente em mostrar cenas de sexo, ficando o roteiro em segundo plano. Aqui, por mais que tenhamos um filme com bastante sexo (com algumas cenas bastante explícitas), a proposta é mostrar uma relação (que realmente parece ter acontecido) obsessiva entre um homem e uma mulher, sexualmente interligados e em um relacionamento doentio, com várias cenas que nos deixam apreensivos. É um erotismo inteligente, extremamente ousado para o Japão da época (até para o atual) e que precisa ser visto despido de qualquer moralismo.
Goro Miyazaki herda um pouco do talento de seu pai (que colabora, aqui, no roteiro do filme) e faz uma obra sensível, com belos traços e com uma trama cativante, mostrando um Japão da década de 60 com várias mudanças culturais e um ambiente colegial interessante. Não tem muito da magia dos filmes do Hayao Miyazaki e do Studio Ghibli, de forma geral, mas é um trabalho que encanta e merece ser apreciado.
"Rua Cloverfield, 10" me chamou logo atenção com o trailer, que não revela muito, mas que nos deixa bastante curiosos para ver o filme. Também fiquei curioso pelos comentários sobre o filme fazer parte do universo do filme "Cloverfield", de 2008, mas acredito que quem não o assistiu, assim como eu, não terá nenhuma dificuldade ou sentirá falta de algum elemento, já que a obra se sustenta sozinha.
De forma geral, adorei o filme, que é um ótimo thriller psicológico, com bons elementos de suspense e que nos deixa apreensivos do início ao fim, duvidando do caráter dos personagens e de toda a história contada pelo Howard. Aliás, os três atores principais são ótimos, principalmente a Mary Elizabeth Winstead, nossa heroína e quem vai desvendando os mistérios da trama, mas o destaque vai para o personagem insano do John Goodman, que está incrível aqui de uma forma em que poucas vezes o vi.
Toda a longa sequência dentro do abrigo subterrâneo é ótima e já daria destaque ao filme. Porém, toda essa construção é de certa forma quebrada abruptamente nos dez minutos finais, quando
a Michelle sai do abrigo e parece que vemos outro filme (parece "Guerra dos Mundos"), quebrando todo aquele suspense e adentrando nos gêneros ação e ficção científica. O resultado é que o grande mistério envolvendo o filme é muito mais interessante do que a sua resolução, que quebra expectativas e parece fazer parte de outro filme. Não chega a ser ruim, mas me decepcionou um pouco, já que estava gostando tanto do que estava sendo feito.
Em resumo, é um filme que merece ser assistido (mesmo com os minutos finais) e que provavelmente é bem mais produtivo no cinema, com a ótima trilha sonora, que ajuda a compôr o clima de tensão e nos dá alguns sustos.
Em "Juventude" já vemos um Bergman bem mais maduro e o filme antecede algumas de suas primeiras obras-primas. Por mais que ainda exista um pouco de melodrama, já vemos algumas das características que marcam sua filmografia de forma mais apurada, como os diálogos existenciais, os debates psicológicos, as tragédias e os embates religiosos. "Juventude" é melancólico e saudosista da mesma forma que é quando rememoramos nosso passado, recapitulando momentos decisivos para o nosso presente.
A realidade mostrada em "Infância Roubada", de uma cidade com extrema desigualdade social, violência urbana e miséria é tão comum a nós brasileiros, que o filme até parece ter sido filmado em uma de nossas favelas. Sim, há alguns problemas de direção e edição que talvez façam o filme não ser merecedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (já o nosso "Cidade de Deus", que aborda temas parecidos e é muito melhor, nem chegou a ser indicado na categoria), mas é uma obra interessante e que merece ser conhecida, sobretudo por nos mostrar um pouco o cinema africano, tão pouco conhecido por nós.
Da época em que os remakes de filmes de terror japoneses eram comuns, "Água Negra" é um filme em que o próprio original é fraco, mas que possui um clima de apreensão interessante e típicos dos filmes do gênero, no Japão. Porém, o remake não possui esse clima, podendo mais ser classificado como um drama do que terror ou suspense, com sua trama enfadonha, que demora a engrenar e com um clímax esquecível. Um desperdício de direção do Walter Salles, que já tinha feito uma boa estréia fora do Brasil com "Diários de Motocicleta".
Confesso que o Superman nunca foi um super-herói que me interessou e o atual "Batman Vs Superman" também não conseguiu me fazer ter interesse. Mas decidi dar uma chance, principalmente pelos filmes clássicos e pelo Christopher Reeve, que parecer ser a personificação do herói. Sim, o filme é levemente datado e pode decepcionar a geração CGI atual, porém fiquei impressionado com o cuidado dispendido nos efeitos visuais, avançados pra época e que foram bem desenvolvidos. A trama é boa, com uma abordagem de início, mostrando um planeta Kripton com um visual bem interessante e o amadurecimento gradual do Clark Kent. o Lex Luthor ainda não é um vilão muito respeitável e a sequência final de ação não me impressionou, mas fiquei interessado por aquele universo e com vontade de assistir aos filmes subsequentes. Há uma certa magia e inocência no personagem que parece ter se perdido com os filmes mais atuais, que tentam desenvolver mais sua complexa personalidade, mas parece não funcionar muito bem.
Não criei expectativas sobre "Batman vs Superman" e nem fui dos que torceu o nariz pela escolha do Ben Affleck como Batman, indo assistir ao filme até de forma descompromissada, sem escutar comentários e ler críticas de quem já assistiu.
E o filme em si possui alguns acertos e falhas. Acerta em transpôr o ambiente sombrio dos quadrinhos, principalmente no arco do Batman, com o Ben Affleck tendo um bom desempenho; visualmente o filme é primoroso, com uma fotografia mais escura que faz lembrar as HQ's. Porém, erra no roteiro, que é inchado demais, um pouco confuso e se perde ao tentar aprofundar a personalidade dos protagonistas, fazer um contexto político, criar intrigas, desenvolver uma batalha e ainda puxar um gancho pra criação da Liga da Justiça (feita de forma meio aleatória e sem muito impacto), além do uso excessivo do CGI em algumas sequências (principalmente ao final) e minimizar o que o filme tanto alardeou, que é a batalha Batman X Superman,
que termina sendo curta, não causando muito impacto e mais passando de um momentâneo desentendimento entre os dois.
Em geral, gosto do Zack Snyder (mesmo tendo dirigido o péssimo "Sucker Punch") e seu trabalho estilizado que acaba agradando os fãs dos HQ's. Porém houve mais uma falha na construção do roteiro, que não compromete o trabalho, mas que merecia ter sido mais podado, fora a edição, que em alguns momentos acerta no ritmo veloz, intercalando vários arcos, mas que às vezes se torna cansativa e poderia ter enxugado mais a obra, que desnecessariamente possui 2h30min de duração.
Em resumo, é um filme entre mediano e bom, que cumpre seu papel de entretenimento, apesar de algumas escorregadas, nos deixando na expectativa por futuros filmes naquele universo da DC. Vamos aguardar.
Tarkóvski estaria completando 84 anos se estivesse vivo (ainda não me conformo dele ter morrido tão jovem) e nada melhor do que assistir a um filme do diretor para comemorar a data e com "O Sacrifício", que é sua última realização. A obra, claro, possui todos os elementos que caracterizam os filmes do diretor, cheios de simbologias, existencialismo, os planos sequências e a fotografia meticulosa (dessa vez, feita por Sven Nykvist, mais conhecido por trabalhar com o Bergman, e que é meu diretor de fotografia preferido).
"O Sacrifício" não é fácil de ser apreendido, possui um ritmo lento e faz parte daquele rol de filmes que quanto mais você assiste, mais consegue captar elementos novos. Entendo o fato de não agradar a muitos, que é completamente compreensível. Os filmes do Tarkóvski requerem uma dedicação e atenção grande e, mais do que isso, comprometimento em imergir naquele universo único. Quando você consegue fazer isso, o filme consegue dialogar com você e cativar de uma forma singular como poucos diretores o fazem. Aliás, nem é necessário procurar entender todas as simbologias propostas pelo diretor (são várias e parecem ser inesgotáveis), bastando tentar se conectar ao caráter sensorial e refletir os diálogos primorosos com que somos contemplados.
Alexander é um personagem cético que, ao saber da calamidade que a Guerra Fria pode trazer, se desespera e busca na fé uma saída espiritual para a salvação humana. A partir daí, há cenas que nos deixam apreensivos e sufocados na sua agonia e de sua família, que buscam algum conforto diante da situação de iminente desgraça. Também é um desfecho simbólico na irretocável filmografia do Tarkóvski e também possui algumas das cenas mais belas que o cinema já nos proporcionou, como aquele deslumbrante plano sequência do incêndio, que deve ter sido detalhadamente planejado e culmina em uma sequência maravilhosa.
De uma época em que a Ditadura, mesmo em sua fase menos rígida, ainda oprimia as pessoas de todas as formas possíveis e em que a desigualdade social já era latente, com a exploração dos trabalhadores de forma que só a greve poderia melhorar suas situações. O filme aborda tais assuntos de forma pontual e bem desenvolvida, com ótimos personagens que refletem muito de nossa realidade. Aliás, tirando a Ditadura, a realidade, infelizmente, ainda é a mesma, com a desigualdade ainda mais visível e as pessoas cada vez mais exploradas no trabalho. O elenco como um todo está bem e em sintonia, mas não tem como não destacar Fernanda Montenegro, sempre fantástica, com uma interpretação que vai muito além dos diálogos e nos encanta com gestos e olhares. Enfim, "Eles Não Usam Black-Tie" é uma das grandes obras do cinema nacional e ainda se mantém bastante atual, valendo ser vista e revista.
"Sussurros do Coração" possui toda aquela magia dos filmes do Studio Ghibli, mas talvez em uma medida menor, sem muita fantasia por tratar de filme sobre relacionamento na adolescência, assim como encontrar seu objetivo de vida em uma época cheia de conflitos internos. Também é interessante ver as referências presentes posteriormente em "O Reino dos Gatos" com o Baron Humbert.
"O Filho de Saul" é cinema visceral do início ao fim, onde somos imediatamente imersos naquela realidade caótica de Holocausto e vamos descobrindo aos poucos, pelos passos do próprio Saul, o que está acontecendo. O que o diferencia de tantos outros filmes sobre o tema é a forma com que tudo isso é contado, com a câmera sempre focada no protagonista às vezes até em planos bem fechados de sua nuca ou de seu rosto, com muitas imagens de fundo desfocadas (o horror não precisa ser explícito para deixar de ser horror) e com várias informações sendo passadas de forma subentendida aos poucos, fora a questão da esperança e naquele pouco de humanidade que Saul tem ao
querer enterrar um suposto filho com os rituais dignos de sua religião e quase morrer diversas vezes por isso
Fiquei apreensivo durante todo o filme, principalmente na metade final, e indignado mais uma vez com aqueles atos de barbárie. A cena final é de uma beleza e tristeza incríveis e vai ficar marcada na minha mente por um bom tempo com
o Saul sorrindo para aquela criança, a câmera a acompanhando e o telespectador ouvindo as balas que significam sua morte e de seus companheiros.
Apesar de a Academia ter um fascínio imenso por filmes que tratam do Holocausto e Segunda Guerra Mundial e nem sempre premiarem de forma justa em decorrência disso e apesar de "O Abraço da Serpente" ser tão bom quanto "O Filho de Saul", a premiação de Melhor Filme Estrangeiro desse ano foi bastante justa.
Ainda estou um pouco em dúvida sobre minhas considerações a "Boi Neon", que não possui uma estrutura padrão de roteiro e pode decepcionar alguns ao final. Antes de tudo, há uma grande proposta de Gabriel Mascaro em desconstruir estereótipos do que é tarefa de homem e o que é tarefa de mulher, principalmente no Nordeste, onde esses estereótipos são tão fortes. Então temos a figura forte de uma mãe solteira que além de cuidar daquele espaço de habitação, dirige caminhão e ainda faz seus reparos, o cuidador de bois, que é o Iremar, que tem uma forte sensibilidade, se interessando pela produção de roupas sem por isso deixar de ser heterossexual, assim como o outro cuidador que é extremamente vaidoso com seus cabelos e uma grávida que tem iniciativa sexual. Fora a criança que está alheia a esses papéis pré-estabelecidos e tem algumas das cenas mais interessantes do filme. Os personagens também são bastante verossímeis, com seus desejos, pretensões e personalidades fortes.
Quanto ao filme fugir de uma estrutura padrão de roteiro, não existe um padrão a ser seguido no cinema e cada realizador tem suas peculiaridades. "Boi Neon" não se preocupa em aprofundar os personagens, mostrando como eles foram parar onde estão e nem se preocupa em colocar um ponto final na trama, que realmente termina de forma abrupta. É um filme episódico, que se preocupa em mostrar uma realidade interessante e nas reflexões de estereótipos, sem necessitar
terminar com Iremar realizando o sonho de ser estilista ou a criança encontrar seu pai
. Talvez isso acabe decepcionando alguns, e confesso que me desagradou um pouco, pois esperava um maior desenvolvimento de personagens e alguma espécie de encaminhamento aos mesmos.
No mais, a obra nos abre os olhos mais uma vez para o cinema de Recife, que frequentemente nos brinda com belos filmes, sendo um trabalho acima da média e mostrando mais uma vez o talento do Juliano Cazaré, que eu queria ver se dedicando mais ao cinema e deixando de lado as novelas globais.
"Zootopia" (esse subtítulo nacional é risível) não tinha me despertado o menor interesse pelo trailer, mas os comentários positivos sobre a animação me deixaram curioso em assistir. Provavelmente é uma das melhores animações da Disney em tempos e com o conteúdo adulto mais apurado, tratando sobre preconceito, racismo, aceitação de diversidades, emponderamento feminino e visibilidade de minorias de uma maneira lúdica e metafórica, mas que consegue deixar suas reflexões em discursos sérios, além de intercalar doses de humor agradáveis e enveredar por uma boa trama investigativa/policial que consegue nos envolver diante de todo aquele mistério
As pequenas referências, como a "O Poderoso Chefão" e "Breaking Bad" ficaram ótimas, além da química entre os dois personagens principais, cheios de personalidade e a construção de Zootopia é fantástica, nos deixando instigados com todo aquele ambiente, que é tão rico, que o filme até falha um pouco em não explorar tão bem todos os Distritos, em detrimento da investigação. Em resumo, é uma animação acima da média, com grande profundidade, cumprindo sua função de entretenimento e de crítica/construção social, sendo tecnicamente impecável.
Tarkovsky é um diretor complexo e seus filmes são densos e cheios de simbologia, com uma linguagem lírica um tanto quanto confusa e que pode incomodar aos que não são iniciados no cinema que faz. Cheguei até a ler uma afirmação dele de que os filmes não devem ser analisados e sim sentidos e isso é crucial para aproveitar ao máximo suas obras: se você parar para tentar decifrar cada detalhe de cada frase ou cenário, não vai conseguir imergir no filme, que consegue nos conduzir de uma forma única, com aqueles planos sequências singulares, as estonteantes fotografias e os diálogos primorosos. E o próprio Tarkovsky definiu "Nostalgia" como: “O retrato de alguém em profundo estado de alienação em relação a si próprio e ao mundo, incapaz de encontrar um equilíbrio entre a realidade e a harmonia pela qual anseia, num estado de nostalgia provocado não apenas pelo distanciamento em que se encontra de seu país, mas também por uma ânsia geral pela totalidade da existência” .
Entre tantas cenas de uma beleza indescritível, fiquei profundamente tocado pela sequência em que Andrei, buscando cumprir a promessa feita a Domenico, acende uma vela e percorre aquela espécie de piscina natural. Me senti sendo transposto a pele do protagonista, apreensivo com suas tentativas e fascinado ao chegar à borda. Li algo interessante de que aquela cena
seria uma metáfora à trajetória do homem moderno, sendo a chama tremulando representante de seus problemas e obstáculos e, quando Andrei finalmente consegue levar a vela até o final, supera todas as adversidades encontradas, não tendo mais razão para viver.
Realmente uma obra de arte irretocável e merece ser revista de tempos em tempos.
"Parece, às vezes, que há um véu entre você e a morte. Mas esse véu desaparece quando você perde alguém que ama ou alguém próximo e você vê a morte claramente por um segundo. Mas depois o véu reaparece e você continua vivendo. Então as coisas ficarão bem de novo".
Haneke inegavelmente é um dos maiores diretores da atualidade e cada filme que ele faz é uma obra de arte que cativa e nos impõe reflexões. "Código Desconhecido" é extremamente sutil, com a trama se desenvolvimento a partir daquele incidente inicial que nos causa repugnância pela atitude desumana do jovem, assim como pelo racismo por parte das autoridades policiais (que já subentendem que o responsável pela confusão é a pessoa negra) e indignação com a questão da imigração (tema ainda mais atual nos dias de hoje).
A partir desse incidente inicial, vemos melhor a vida de cada uma daquelas pessoas, inclusive a mendiga, que geralmente sofre com a nossa invisibilidade, mas que possui uma vida cheia de sonhos e de gente que depende dela. O filme possui uma grande sensibilidade, com várias sequências silenciosas onde muita coisa fica subentendida e demonstrada a partir de olhares e gestos. Não é um filme convencional, o final não se preocupa em fazer conclusões (a vida das pessoas simplesmente segue em frente, mesmo diante de todas as adversidades possíveis) e os planos sequências maravilhosos me deixaram impressionados, servindo pra melhor fluição das cenas.
Mesmo para seu início de carreira, "Isto Não Aconteceria Aqui" é um dos filmes mais fracos de Bergman (talvez o mais), encomendado com teor anti-comunista e que o próprio diretor renegava, não tendo todo aquele teor complexo de suas obras, como os diálogos reflexivos e existencialistas e a análise da condição humana, que ele fazia tão bem, enveredando pelos gêneros político e policial de uma maneira desinteressante e, em certos momentos, até confusa. Vale mais por curiosidade mesmo.
Acho interessante a renovação que a Disney consegue dar a alguns de seus clássicos e provavelmente "Tangled" é uma das animações mais acertadas do estúdio nesse sentido, unindo a magia da trama original com um humor divertido e algumas alterações interessantes pra tentar fugir daquela padrão ultrapassado de Princesa frágil que é salva pelo Príncipe Encantado. Ao contrário disso, o príncipe na verdade é um bandido tentando se redimir e a Rapunzel tem uma personalidade forte. Está longe de ser uma das melhores animações da Disney, mas cumpre seu papel de entretenimento e renovação de uma história clássica.
A Busca
3.4 714 Assista Agora"A Busca" é um drama que envereda por um "road" movie" de autoconhecimento, crescendo aos poucos e mostrando algumas situações com uma boa carga de sensibilidade. Me impressionou a qualidade da produção, além do desempenho do elenco de forma geral, cumprindo seu papel de entretenimento e nos brindando com mais uma boa obra para o nosso cinema nacional.
VIPs
3.3 1,0KAssisti sem saber que se tratava do retrato de uma pessoa que existiu, mas isso não muda muito minhas percepções sobre o filme, que possui uma personalidade bastante interessante para mostrar, mas acaba se perdendo em um roteiro falho e confuso, que tenta dar profundidade à personalidade de Marcelo, mas parece retratar alguém perdido entre ser celebridade e aviador e não assumir sua própria identidade, mas com uma abordagem não muito interessante. Vale mais pelo sempre multifacetado Wagner Moura, que leva o filme nas costas.
O Tigre e o Dragão
3.6 455 Assista AgoraÉ adorável a maneira como o Ang Lee nos apresenta os personagens, a cultura chinesa e as artes marciais. O filme todo possui um grande esmero de produção, conseguindo culminar em uma obra que além de impressionar pela beleza das lutas mostradas, possui bons panos de fundo, como honra, lealdade e amor.
Enrolei esses anos todos para assistir e agora tive aquela sensação de que deveria ter visto há muito tempo atrás.
Linha de Passe
3.7 167 Assista Agora"Linha de Passe" marca a volta de uma boa parceria entre Walter Salles e Daniela Thomas (que dirigiram o ótimo "Terra Estrangeira"), além da volta da parceria entre Salles e Vinícius de Oliveira (o Josué, de "Central do Brasil"). Muito mais que abordar o tema futebol, o filme aborda tem forma precisa a segregação social no Brasil, com aquela família composta por cinco pessoas com seus sonhos e dificuldades, sendo um retrato bem real de nosso país.
Achei muito boa a edição dinâmica, intercalando cada um dos protagonistas, que vai ficando mais interessante ao final. Só achei o final brusco demais, não delimitando bem o destino de cada personagem (que provavelmente terminam levando suas vidas ainda com grandes dificuldades), mas isso não compromete de forma alguma o trabalho.
Tempo de Viagem
4.1 23Imensamente gratificante ver algumas das reflexões de Tarkovski, principalmente sobre os ótimos diretores que influenciaram seu trabalho, conselhos aos novos diretores e ele falando sobre o que ainda não tinha conseguido filmar (fiquei triste por não termos a história da mulher mentirosa incendiada), tudo marcado por belas paisagens italianas e que dão o clima de nostalgia da obra que vinha a ser produzida. Tarkovski é genial, sua contribuição ao cinema é inestimável e é uma pena o mestre ter morrido de forma tão prematura.
O Império dos Sentidos
3.4 307 Assista AgoraÉ desonesto chamar "Império dos Sentidos" de um filme pornográfico, já que os filmes do gênero se preocupam exclusivamente em mostrar cenas de sexo, ficando o roteiro em segundo plano. Aqui, por mais que tenhamos um filme com bastante sexo (com algumas cenas bastante explícitas), a proposta é mostrar uma relação (que realmente parece ter acontecido) obsessiva entre um homem e uma mulher, sexualmente interligados e em um relacionamento doentio, com várias cenas que nos deixam apreensivos. É um erotismo inteligente, extremamente ousado para o Japão da época (até para o atual) e que precisa ser visto despido de qualquer moralismo.
Da Colina Kokuriko
4.0 243 Assista AgoraGoro Miyazaki herda um pouco do talento de seu pai (que colabora, aqui, no roteiro do filme) e faz uma obra sensível, com belos traços e com uma trama cativante, mostrando um Japão da década de 60 com várias mudanças culturais e um ambiente colegial interessante. Não tem muito da magia dos filmes do Hayao Miyazaki e do Studio Ghibli, de forma geral, mas é um trabalho que encanta e merece ser apreciado.
Rua Cloverfield, 10
3.5 1,9K"Rua Cloverfield, 10" me chamou logo atenção com o trailer, que não revela muito, mas que nos deixa bastante curiosos para ver o filme. Também fiquei curioso pelos comentários sobre o filme fazer parte do universo do filme "Cloverfield", de 2008, mas acredito que quem não o assistiu, assim como eu, não terá nenhuma dificuldade ou sentirá falta de algum elemento, já que a obra se sustenta sozinha.
De forma geral, adorei o filme, que é um ótimo thriller psicológico, com bons elementos de suspense e que nos deixa apreensivos do início ao fim, duvidando do caráter dos personagens e de toda a história contada pelo Howard. Aliás, os três atores principais são ótimos, principalmente a Mary Elizabeth Winstead, nossa heroína e quem vai desvendando os mistérios da trama, mas o destaque vai para o personagem insano do John Goodman, que está incrível aqui de uma forma em que poucas vezes o vi.
Toda a longa sequência dentro do abrigo subterrâneo é ótima e já daria destaque ao filme. Porém, toda essa construção é de certa forma quebrada abruptamente nos dez minutos finais, quando
a Michelle sai do abrigo e parece que vemos outro filme (parece "Guerra dos Mundos"), quebrando todo aquele suspense e adentrando nos gêneros ação e ficção científica. O resultado é que o grande mistério envolvendo o filme é muito mais interessante do que a sua resolução, que quebra expectativas e parece fazer parte de outro filme. Não chega a ser ruim, mas me decepcionou um pouco, já que estava gostando tanto do que estava sendo feito.
Em resumo, é um filme que merece ser assistido (mesmo com os minutos finais) e que provavelmente é bem mais produtivo no cinema, com a ótima trilha sonora, que ajuda a compôr o clima de tensão e nos dá alguns sustos.
Juventude
4.2 82 Assista AgoraEm "Juventude" já vemos um Bergman bem mais maduro e o filme antecede algumas de suas primeiras obras-primas. Por mais que ainda exista um pouco de melodrama, já vemos algumas das características que marcam sua filmografia de forma mais apurada, como os diálogos existenciais, os debates psicológicos, as tragédias e os embates religiosos. "Juventude" é melancólico e saudosista da mesma forma que é quando rememoramos nosso passado, recapitulando momentos decisivos para o nosso presente.
Infância Roubada
3.5 81 Assista AgoraA realidade mostrada em "Infância Roubada", de uma cidade com extrema desigualdade social, violência urbana e miséria é tão comum a nós brasileiros, que o filme até parece ter sido filmado em uma de nossas favelas. Sim, há alguns problemas de direção e edição que talvez façam o filme não ser merecedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (já o nosso "Cidade de Deus", que aborda temas parecidos e é muito melhor, nem chegou a ser indicado na categoria), mas é uma obra interessante e que merece ser conhecida, sobretudo por nos mostrar um pouco o cinema africano, tão pouco conhecido por nós.
Água Negra
2.7 407Da época em que os remakes de filmes de terror japoneses eram comuns, "Água Negra" é um filme em que o próprio original é fraco, mas que possui um clima de apreensão interessante e típicos dos filmes do gênero, no Japão. Porém, o remake não possui esse clima, podendo mais ser classificado como um drama do que terror ou suspense, com sua trama enfadonha, que demora a engrenar e com um clímax esquecível.
Um desperdício de direção do Walter Salles, que já tinha feito uma boa estréia fora do Brasil com "Diários de Motocicleta".
Superman: O Filme
3.7 515 Assista AgoraConfesso que o Superman nunca foi um super-herói que me interessou e o atual "Batman Vs Superman" também não conseguiu me fazer ter interesse. Mas decidi dar uma chance, principalmente pelos filmes clássicos e pelo Christopher Reeve, que parecer ser a personificação do herói.
Sim, o filme é levemente datado e pode decepcionar a geração CGI atual, porém fiquei impressionado com o cuidado dispendido nos efeitos visuais, avançados pra época e que foram bem desenvolvidos. A trama é boa, com uma abordagem de início, mostrando um planeta Kripton com um visual bem interessante e o amadurecimento gradual do Clark Kent. o Lex Luthor ainda não é um vilão muito respeitável e a sequência final de ação não me impressionou, mas fiquei interessado por aquele universo e com vontade de assistir aos filmes subsequentes. Há uma certa magia e inocência no personagem que parece ter se perdido com os filmes mais atuais, que tentam desenvolver mais sua complexa personalidade, mas parece não funcionar muito bem.
Batman vs Superman - A Origem da Justiça
3.4 4,9K Assista AgoraNão criei expectativas sobre "Batman vs Superman" e nem fui dos que torceu o nariz pela escolha do Ben Affleck como Batman, indo assistir ao filme até de forma descompromissada, sem escutar comentários e ler críticas de quem já assistiu.
E o filme em si possui alguns acertos e falhas. Acerta em transpôr o ambiente sombrio dos quadrinhos, principalmente no arco do Batman, com o Ben Affleck tendo um bom desempenho; visualmente o filme é primoroso, com uma fotografia mais escura que faz lembrar as HQ's. Porém, erra no roteiro, que é inchado demais, um pouco confuso e se perde ao tentar aprofundar a personalidade dos protagonistas, fazer um contexto político, criar intrigas, desenvolver uma batalha e ainda puxar um gancho pra criação da Liga da Justiça (feita de forma meio aleatória e sem muito impacto), além do uso excessivo do CGI em algumas sequências (principalmente ao final) e minimizar o que o filme tanto alardeou, que é a batalha Batman X Superman,
que termina sendo curta, não causando muito impacto e mais passando de um momentâneo desentendimento entre os dois.
Em geral, gosto do Zack Snyder (mesmo tendo dirigido o péssimo "Sucker Punch") e seu trabalho estilizado que acaba agradando os fãs dos HQ's. Porém houve mais uma falha na construção do roteiro, que não compromete o trabalho, mas que merecia ter sido mais podado, fora a edição, que em alguns momentos acerta no ritmo veloz, intercalando vários arcos, mas que às vezes se torna cansativa e poderia ter enxugado mais a obra, que desnecessariamente possui 2h30min de duração.
Em resumo, é um filme entre mediano e bom, que cumpre seu papel de entretenimento, apesar de algumas escorregadas, nos deixando na expectativa por futuros filmes naquele universo da DC. Vamos aguardar.
O Sacrifício
4.3 148Tarkóvski estaria completando 84 anos se estivesse vivo (ainda não me conformo dele ter morrido tão jovem) e nada melhor do que assistir a um filme do diretor para comemorar a data e com "O Sacrifício", que é sua última realização. A obra, claro, possui todos os elementos que caracterizam os filmes do diretor, cheios de simbologias, existencialismo, os planos sequências e a fotografia meticulosa (dessa vez, feita por Sven Nykvist, mais conhecido por trabalhar com o Bergman, e que é meu diretor de fotografia preferido).
"O Sacrifício" não é fácil de ser apreendido, possui um ritmo lento e faz parte daquele rol de filmes que quanto mais você assiste, mais consegue captar elementos novos. Entendo o fato de não agradar a muitos, que é completamente compreensível. Os filmes do Tarkóvski requerem uma dedicação e atenção grande e, mais do que isso, comprometimento em imergir naquele universo único. Quando você consegue fazer isso, o filme consegue dialogar com você e cativar de uma forma singular como poucos diretores o fazem. Aliás, nem é necessário procurar entender todas as simbologias propostas pelo diretor (são várias e parecem ser inesgotáveis), bastando tentar se conectar ao caráter sensorial e refletir os diálogos primorosos com que somos contemplados.
Alexander é um personagem cético que, ao saber da calamidade que a Guerra Fria pode trazer, se desespera e busca na fé uma saída espiritual para a salvação humana. A partir daí, há cenas que nos deixam apreensivos e sufocados na sua agonia e de sua família, que buscam algum conforto diante da situação de iminente desgraça. Também é um desfecho simbólico na irretocável filmografia do Tarkóvski e também possui algumas das cenas mais belas que o cinema já nos proporcionou, como aquele deslumbrante plano sequência do incêndio, que deve ter sido detalhadamente planejado e culmina em uma sequência maravilhosa.
Eles Não Usam Black-Tie
4.3 286De uma época em que a Ditadura, mesmo em sua fase menos rígida, ainda oprimia as pessoas de todas as formas possíveis e em que a desigualdade social já era latente, com a exploração dos trabalhadores de forma que só a greve poderia melhorar suas situações. O filme aborda tais assuntos de forma pontual e bem desenvolvida, com ótimos personagens que refletem muito de nossa realidade. Aliás, tirando a Ditadura, a realidade, infelizmente, ainda é a mesma, com a desigualdade ainda mais visível e as pessoas cada vez mais exploradas no trabalho.
O elenco como um todo está bem e em sintonia, mas não tem como não destacar Fernanda Montenegro, sempre fantástica, com uma interpretação que vai muito além dos diálogos e nos encanta com gestos e olhares.
Enfim, "Eles Não Usam Black-Tie" é uma das grandes obras do cinema nacional e ainda se mantém bastante atual, valendo ser vista e revista.
Sussurros do Coração
4.3 481 Assista Agora"Sussurros do Coração" possui toda aquela magia dos filmes do Studio Ghibli, mas talvez em uma medida menor, sem muita fantasia por tratar de filme sobre relacionamento na adolescência, assim como encontrar seu objetivo de vida em uma época cheia de conflitos internos.
Também é interessante ver as referências presentes posteriormente em "O Reino dos Gatos" com o Baron Humbert.
O Filho de Saul
3.7 254 Assista Agora"O Filho de Saul" é cinema visceral do início ao fim, onde somos imediatamente imersos naquela realidade caótica de Holocausto e vamos descobrindo aos poucos, pelos passos do próprio Saul, o que está acontecendo. O que o diferencia de tantos outros filmes sobre o tema é a forma com que tudo isso é contado, com a câmera sempre focada no protagonista às vezes até em planos bem fechados de sua nuca ou de seu rosto, com muitas imagens de fundo desfocadas (o horror não precisa ser explícito para deixar de ser horror) e com várias informações sendo passadas de forma subentendida aos poucos, fora a questão da esperança e naquele pouco de humanidade que Saul tem ao
querer enterrar um suposto filho com os rituais dignos de sua religião e quase morrer diversas vezes por isso
Fiquei apreensivo durante todo o filme, principalmente na metade final, e indignado mais uma vez com aqueles atos de barbárie. A cena final é de uma beleza e tristeza incríveis e vai ficar marcada na minha mente por um bom tempo com
o Saul sorrindo para aquela criança, a câmera a acompanhando e o telespectador ouvindo as balas que significam sua morte e de seus companheiros.
Apesar de a Academia ter um fascínio imenso por filmes que tratam do Holocausto e Segunda Guerra Mundial e nem sempre premiarem de forma justa em decorrência disso e apesar de "O Abraço da Serpente" ser tão bom quanto "O Filho de Saul", a premiação de Melhor Filme Estrangeiro desse ano foi bastante justa.
Boi Neon
3.6 462Ainda estou um pouco em dúvida sobre minhas considerações a "Boi Neon", que não possui uma estrutura padrão de roteiro e pode decepcionar alguns ao final. Antes de tudo, há uma grande proposta de Gabriel Mascaro em desconstruir estereótipos do que é tarefa de homem e o que é tarefa de mulher, principalmente no Nordeste, onde esses estereótipos são tão fortes. Então temos a figura forte de uma mãe solteira que além de cuidar daquele espaço de habitação, dirige caminhão e ainda faz seus reparos, o cuidador de bois, que é o Iremar, que tem uma forte sensibilidade, se interessando pela produção de roupas sem por isso deixar de ser heterossexual, assim como o outro cuidador que é extremamente vaidoso com seus cabelos e uma grávida que tem iniciativa sexual. Fora a criança que está alheia a esses papéis pré-estabelecidos e tem algumas das cenas mais interessantes do filme. Os personagens também são bastante verossímeis, com seus desejos, pretensões e personalidades fortes.
Quanto ao filme fugir de uma estrutura padrão de roteiro, não existe um padrão a ser seguido no cinema e cada realizador tem suas peculiaridades. "Boi Neon" não se preocupa em aprofundar os personagens, mostrando como eles foram parar onde estão e nem se preocupa em colocar um ponto final na trama, que realmente termina de forma abrupta. É um filme episódico, que se preocupa em mostrar uma realidade interessante e nas reflexões de estereótipos, sem necessitar
terminar com Iremar realizando o sonho de ser estilista ou a criança encontrar seu pai
No mais, a obra nos abre os olhos mais uma vez para o cinema de Recife, que frequentemente nos brinda com belos filmes, sendo um trabalho acima da média e mostrando mais uma vez o talento do Juliano Cazaré, que eu queria ver se dedicando mais ao cinema e deixando de lado as novelas globais.
Zootopia: Essa Cidade é o Bicho
4.2 1,5K Assista Agora"Zootopia" (esse subtítulo nacional é risível) não tinha me despertado o menor interesse pelo trailer, mas os comentários positivos sobre a animação me deixaram curioso em assistir. Provavelmente é uma das melhores animações da Disney em tempos e com o conteúdo adulto mais apurado, tratando sobre preconceito, racismo, aceitação de diversidades, emponderamento feminino e visibilidade de minorias de uma maneira lúdica e metafórica, mas que consegue deixar suas reflexões em discursos sérios, além de intercalar doses de humor agradáveis e enveredar por uma boa trama investigativa/policial que consegue nos envolver diante de todo aquele mistério
As pequenas referências, como a "O Poderoso Chefão" e "Breaking Bad" ficaram ótimas, além da química entre os dois personagens principais, cheios de personalidade e a construção de Zootopia é fantástica, nos deixando instigados com todo aquele ambiente, que é tão rico, que o filme até falha um pouco em não explorar tão bem todos os Distritos, em detrimento da investigação.
Em resumo, é uma animação acima da média, com grande profundidade, cumprindo sua função de entretenimento e de crítica/construção social, sendo tecnicamente impecável.
Nostalgia
4.3 186Tarkovsky é um diretor complexo e seus filmes são densos e cheios de simbologia, com uma linguagem lírica um tanto quanto confusa e que pode incomodar aos que não são iniciados no cinema que faz. Cheguei até a ler uma afirmação dele de que os filmes não devem ser analisados e sim sentidos e isso é crucial para aproveitar ao máximo suas obras: se você parar para tentar decifrar cada detalhe de cada frase ou cenário, não vai conseguir imergir no filme, que consegue nos conduzir de uma forma única, com aqueles planos sequências singulares, as estonteantes fotografias e os diálogos primorosos. E o próprio Tarkovsky definiu "Nostalgia" como: “O retrato de alguém em profundo estado de alienação em relação a si próprio e ao mundo, incapaz de encontrar um equilíbrio entre a realidade e a harmonia pela qual anseia, num estado de nostalgia provocado não apenas pelo distanciamento em que se encontra de seu país, mas também por uma ânsia geral pela totalidade da existência” .
Entre tantas cenas de uma beleza indescritível, fiquei profundamente tocado pela sequência em que Andrei, buscando cumprir a promessa feita a Domenico, acende uma vela e percorre aquela espécie de piscina natural. Me senti sendo transposto a pele do protagonista, apreensivo com suas tentativas e fascinado ao chegar à borda. Li algo interessante de que aquela cena
seria uma metáfora à trajetória do homem moderno, sendo a chama tremulando representante de seus problemas e obstáculos e, quando Andrei finalmente consegue levar a vela até o final, supera todas as adversidades encontradas, não tendo mais razão para viver.
Realmente uma obra de arte irretocável e merece ser revista de tempos em tempos.
Em um Mundo Melhor
3.9 317"Parece, às vezes, que há um véu entre você e a morte. Mas esse véu desaparece quando você perde alguém que ama ou alguém próximo e você vê a morte claramente por um segundo. Mas depois o véu reaparece e você continua vivendo. Então as coisas ficarão bem de novo".
Código Desconhecido
3.7 79 Assista AgoraHaneke inegavelmente é um dos maiores diretores da atualidade e cada filme que ele faz é uma obra de arte que cativa e nos impõe reflexões. "Código Desconhecido" é extremamente sutil, com a trama se desenvolvimento a partir daquele incidente inicial que nos causa repugnância pela atitude desumana do jovem, assim como pelo racismo por parte das autoridades policiais (que já subentendem que o responsável pela confusão é a pessoa negra) e indignação com a questão da imigração (tema ainda mais atual nos dias de hoje).
A partir desse incidente inicial, vemos melhor a vida de cada uma daquelas pessoas, inclusive a mendiga, que geralmente sofre com a nossa invisibilidade, mas que possui uma vida cheia de sonhos e de gente que depende dela. O filme possui uma grande sensibilidade, com várias sequências silenciosas onde muita coisa fica subentendida e demonstrada a partir de olhares e gestos. Não é um filme convencional, o final não se preocupa em fazer conclusões (a vida das pessoas simplesmente segue em frente, mesmo diante de todas as adversidades possíveis) e os planos sequências maravilhosos me deixaram impressionados, servindo pra melhor fluição das cenas.
Isto Não Aconteceria Aqui
2.8 12Mesmo para seu início de carreira, "Isto Não Aconteceria Aqui" é um dos filmes mais fracos de Bergman (talvez o mais), encomendado com teor anti-comunista e que o próprio diretor renegava, não tendo todo aquele teor complexo de suas obras, como os diálogos reflexivos e existencialistas e a análise da condição humana, que ele fazia tão bem, enveredando pelos gêneros político e policial de uma maneira desinteressante e, em certos momentos, até confusa.
Vale mais por curiosidade mesmo.
Enrolados
3.8 2,8K Assista AgoraAcho interessante a renovação que a Disney consegue dar a alguns de seus clássicos e provavelmente "Tangled" é uma das animações mais acertadas do estúdio nesse sentido, unindo a magia da trama original com um humor divertido e algumas alterações interessantes pra tentar fugir daquela padrão ultrapassado de Princesa frágil que é salva pelo Príncipe Encantado. Ao contrário disso, o príncipe na verdade é um bandido tentando se redimir e a Rapunzel tem uma personalidade forte.
Está longe de ser uma das melhores animações da Disney, mas cumpre seu papel de entretenimento e renovação de uma história clássica.