A abordagem racista desse filme é lamentável. As fantásticas inovações técnicas estão longe de compensar a mediocridade ideológica que ele se vale ao longo de toda a narrativa.
Os negros são representados como animais selvagens, enquanto os brancos são as vítimas que, através do Ku Kux Klan, tentam salvar a sociedade do caos e da revolta de quem não é digno de ter direitos. É nojento ver como o roteiro se vale disso em vários aspectos, inclusive na tentativa de estupro de uma branca por um apoiador dos movimentos dos negros. Absolutamente abominável.
Vi naquela cena que Eva (Liv Ulmann) tocava o prelúdio de Chopin, aquela mesma imagem evocada nas memórias rancorosas da filha: o olhar inquisitor da mãe sobre uma filha insegura, que tenta agradar a figura imponente da mãe. A expressão de distanciamento, a dualidade entre o falso sorriso e o desagrado - que Ingrid Bergman interpretou tão bem - evocou aquela mesma imagem da mãe individualista dos tempos passados. Essa interpretação também foi feita no quarto de Helena, com uma atuação também excelente de Lena Nyman.
"Para mim, o homem é uma criação incrível, uma ideia inconcebível. No homem existe tudo, do começo ao fim." Essa universalidade que Eva evoca é a mesma que se representa no turbilhão de sentimentos subjetivos das relações familiares e amorosas que são exploradas no filme. Além disso, essa fala de Eva remonta ao criacionismo, o que é interessante quando se pensa no nome da personagem.
"Da mesma forma devem existir inúmeras realidades. Não só essa que percebemos com nossos sentidos embotados, mas um amontoado de realidades se sobrepondo umas às outras. É medo e presunção acreditar em limites. Não existem limites, nem para os pensamentos, nem para os sentimentos. É a ansiedade que impõe limites." Essa ansiedade, eu vejo na mãe que busca a perfeita recepção de seus concertos; o abandono das filhas, a limitação de se voltar ao individualismo excessivo para a satisfação de seus anseios particulares. O texto ainda vai além disso, nos questionamentos metafísicos de realidade, limitação, vida, sentimentos e relações humanas.
Se fosse para explorar todas as peculiaridades desse roteiro fascinante, esse texto se delongaria excessivamente. A forma espetacular, poética e sensível que Bergman expôs na tela os dramas familiares é memorável. Com o amparo de grandes atuações, ainda ouço a sonata desses dilemas universais.
Vi que o filme não foi muito bem recebido por muitas pessoas que comentaram aqui. Bem, eu o considerei muito, muito bom. O roteiro, inicialmente, se apresenta um pouco confuso. Mas a fantástica direção de Bertolucci, seus movimentos com a câmera, a trilha sonora, a fotografia e a própria construção filosófica dos diálogos prendeu a minha atenção até que eu pudesse pensar o que significavam a representação dos vários elementos que o filme apresenta.
O quarto em que Paul e Jeanne viveram as aventuras sexuais era um lugar de distância da realidade que lembra um pouco a casa dos irmãos de “Os Sonhadores”. A desconexão com a vida exterior cria um mundo à parte em que tudo é possível, em que a liberdade pulsa no corpo, no sexo, nas palavras, nos desejos.
Paralelamente a isso, a vida de ambos os personagens seguem rumos diferentes. Paul é um homem de meia idade recém viúvo, reduzido à condição de “um dos” que a esposa tinha. O fato de a esposa ter um amante e ainda ter cometido suicídio sem uma causa aparente coloca o personagem em um conflito: ele odeia a esposa por tudo o que ela fez, ao mesmo tempo que a ama e não entende os motivos de seu suicídio repentino.
Por outro lado, Jeanne é uma jovem moça que procura um apartamento para morar. Um rapaz com uma idade próxima à sua e que quer ser um cineasta a corteja e faz dela a protagonista de um filme enquanto ela está com ele. Vi nisso a representação de um amor “dos pôsters” algo que ela mesma tinha conversado com Paul no apartamento. Ela disse que nesses amores, os sorrisos eram verdadeiros e as pessoas felizes; Paul rebate dizendo que isso não é verdade.
Nos pôsters, as pessoas vivem conforme a sociedade designa, falando de amor, filhos, em uma praça romântica em que há espectadores a observar. Como em um filme de romance, aqueles em que as falas e juras de amor são palavras moldadas, como as que Jeanne falou a Tom quando ele chegou no trem. O ambiente romântico do amor de Jeanne com Tom remonta ao poster, àquilo que Tom filmava e que estava longe daquele ambiente lúgubre, sujo e velho em que as liberdades sexuais pulsavam nos corpos dos amantes desconhecidos.
Entretanto, seja no amor de poster ou naquele que era oculto, Jeanne mantinha a característica da personagem de ser uma idealista. Essas idealizações de formas diversas chegaram à entrega do corpo e da perda das amarras religiosas e familiares, principalmente simbolizada pelas falas dos dois personagens na cena do sexo anal com a manteiga como lubrificante.
Essa idealização, entretanto, foi a mesma que levou à perda da fantasia que ela tinha criado com Paul, quando ele volta pra ela e se revela conforme a sua realidade. Naquele último tango, há um último impulso daquela liberdade irresponsável, daquele mundo isolado que criaram juntos. Entretanto, isso é interrompido pelas pessoas que estavam ali vendo aquilo. Enquanto Tom e Jeanne eram “adultos” que viviam conforme as regras, Paul e Jeanne eram como jovens em delírio. Eles são perfeitamente compatíveis entre 4 paredes, mas a realidade pulsante de uma sociedade cheia de rigores não aceita os impulsos libertários desse amor sem amarras.
Dessa forma, voltam ao canto escuro do bar, em que retorna a perda do idealismo libertário que Jeanne tinha criado. Porém, Paul não era um idealista, apenas queria fugir da vida triste e solitária que se encontrava. Se negou a acreditar e entender a realidade que Jeanne não queria mais, assim como tentou negar a morte da mulher quando conversa com ela no caixão – e a minha impressão foi que a qualquer momento ela o responderia, de tão forte que era a negação de Paul da condição de morte da mulher.
Em resumo, enquanto Jeanne era uma idealista, Paul negava e fugia da realidade de sua vida devastada. As últimas palavras que Paul disse a ela antes de ser baleado foram: “eu quero saber seu nome”. Saber o nome representava a queda da fantasia que foi criada no ambiente deles, o impulso de uma realidade que Jeanne não queria viver, assim como uma nova realidade para a vida de Paul, diferente daquela que ele queria fugir. Depois de baleado, Paul disse que os filhos deles vão se lembrar, mesmo que ele nunca poderia ter tido filhos com ela (ele havia citado o fato de ser infértil). Mas ele negou a realidade e viveu o sonho criado até o último suspiro. No final, Jeanne afirmava pra si mesma que não o conhecia, que ele era um louco que a seguiu. Pensar assim a mantêm na posição de moça apta a continuar os sonhos do idealismo que criou, tendo a sociedade como uma espectadora que aprova o “amor de poster” criado entre ela e Tom.
Embora eu tenha feito uma análise dos elementos do filme que mais me chamaram atenção, há uma gama de outros que não citei, assim como pensamentos que poderiam ser mais bem trabalhados na complexidade dos personagens e do enredo. Minha intenção não foi explicar o filme, mas passar as minhas interpretações. Na minha opinião, a arte não é passível de uma explicação racional, mas de um fluxo mental que evoca uma série de impressões estéticas e filosóficas em um uníssono maravilhoso e subjetivo dentro dos nossos pensamentos. O cinema, em sua multiplicidade de elementos, é parte desse conjunto abstrato de impressões que nos causa o contato artístico. A lógica funciona como parte da compreensão; a outra é a sensitiva. Essa nem eu nem ninguém poderia descrever com os rigores da racionalidade.
Isso se manifesta de várias formas, seja no fato de Frank ignorar o assassinato daquele moço, seja nas relações que são retratadas.
Essa tendência de ausência de sentimento nas relações, não só nas homossexuais, pode ser um reflexo de uma sociedade utilitarista, pautada na praticidade, agilidade, dinamismo, sem a especialidade do toque e do sentimento. Na minha opinião, o filme critica a excessiva ausência de companheirismo entre parceiros sexuais e a forma como isso se reflete na frieza do trato entre pessoas.
Uma obra como a de Buñuel em “El Angel Exterminador” não é solucionável, não se pode explicar enfaticamente toda a riqueza metafórica dos elementos apresentados. Sendo assim, deixo claro que não pretendo explicar o filme e o que ele quer evocar em sua completude, mas passar a minha interpretação dos fatos que me chamaram mais atenção de uma forma inicial. Se fosse para analisar seriamente esse filme, seria necessário muito mais que sentar e escrever sobre ele após assisti-lo, como estou fazendo agora. Faço-o por ter achado fantásticos alguns questionamentos e fatos sociais que o filme apresenta em um primeiro plano.
O extraordinário chama a atenção no início do filme, quando os empregados deixam a casa sem um motivo aparente e algumas ações e falas estranhamente se repetem. Alguns outros acontecimentos absurdos intrigam no decorrer da história, até que ficam presos à sala em que não conseguem sair, sem entenderem o porquê. Esperam que alguém o faça primeiramente, se sentem impedidos e sem conseguirem esforços suficientes para isso. Uma metáfora interessantíssima para o comportamento social de se prender a algo pelo conforto de esperar que alguém o faça primeiro, que alguém o faça até por si mesmo.
A forma que Buñuel conseguiu transpor sua crítica social ao absurdo surrealista dessa obra de arte é maravilhosa. Com vários elementos muito bem combinados, o filme critica a humanidade colocando-a como uma fera civilizada (o urso solto na casa o representaria) que, ao mesmo tempo que se animaliza e perde a compostura burguesa em condições extremas, age como cordeiro ao fazer - ou não fazer - alguma coisa. Tanto ao se prender a uma sala por não conseguir reunir forças suficientes para sair, tanto ao se prender em uma igreja, o homem vive uma série de conflitos que se acumulam pelo conforto ou impossibilidade de solucionar um conflito inicial.
Nos exilamos dentro dos limites que nós mesmos impomos sobre nós, e a igreja representa o conforto de uma metafísica pronta que apresenta as soluções para os questionamentos humanos como vontades de um deus. O que teríamos que fazer é seguir as vontades divinas. Mesmo que o que imaginamos que elas sejam - ou o que nos dizem que são - nos levem à morte, como os cordeiros que iam para a igreja e serviriam de comida aos que estavam lá presos e famintos, reproduzindo o que já antes havia acontecido na casa.
Esse filme é mais que uma crítica à burguesia, mas uma crítica aos moldes sociais em que a classe está inserida. Enquanto cegos pelos confortos que nos são proporcionados, o absurdo maior se encontra nas condições e contradições sociais que vivemos. A sociedade é mais absurda, em sua mania de seguirem uns aos outros, que um filme de Buñuel; e a humanidade tão densa, complicada e vasta como as metáforas do surrealismo. Não se explica, se entende ou se disseca em palavras secas: sentimos como sentimos a arte ou o peso das repressões, das religiões, dos cabrestos que tentam nos impor para seguirmos, como cordeiros, para onde levarem esses nossos passos incertos.
Um dos propósitos claros do filme é, no decorrer do enredo, proporcionar incômodo, aflição, passar ao telespectador o desespero vivenciado pelos personagens. Eles cantam e dançam – com a vida - o réquiem (canção para mortos) para os próprios sonhos. O filme teve muito sucesso em proporcionar essa inquietação ao espectador que se propôs, pelo menos comigo. Eu senti a pulsão do corpo e a aflição do desespero e desolação dos personagens. Eu me mexi, me encolhi, e fiquei tomado pelo horror de presenciar o que os transtornos psicológicos das drogas químicas podem causar à mente humana. Desde aquelas que são distribuídas nos becos às que são receitadas pelos médicos nos consultórios.
A proposta estética do olhar duplo da câmera, mostrando dois pontos de vista ao mesmo tempo, é inovadora. Entretanto, não foi bem articulada no filme, gerando cenas confusas que não pareciam ser, naquele momento, o propósito do diretor (como quando o Harry rouba a televisão da mãe).
Porém, a confusão, em outras partes do filme, tem um propósito mais claro. O controle do corpo se perde, e a mente esvai o significado literal do que os personagens percebem, na negação do vício e na entrega ao desespero. A vida, aos poucos, se dissipa junto à fumaça dos cigarros que fumam após experimentarem os torpores alucinados que a intensidade química consegue atingir. Assim como a sanidade se perde junto aos quilos que se emagrece e à felicidade passageira das pílulas de anfetamina.
As luzes do quarto, do elevador e do hospital piscam agitadas, refletindo o desespero da mente inquieta de quem se sustenta com vícios. Quando a sociedade se envolve em outros que, muitas vezes, não percebemos, como o açúcar e a televisão. O filme parece ter como argumento principal apresentar os vícios humanos e o que eles geram se descontrolados. Porém, não desenvolve bem os outros vícios que não o das drogas, só os apresenta de forma rápida e pouco desenvolvida.
"Requiem for a Dream" nos mostra, dessa maneira, a desolação e o desespero da perda dos sonhos pelo descontrole psicológico dos vícios químicos, assim como a construção utópica de uma felicidade que se desconstrói pela realidade da fragilidade humana sobre o controle do próprio corpo e da própria vida. Os sonhos moldados pelos anúncios de televisão, pelos sorrisos alegres de vidas realizadas e rostos bonitos se contrastam com o horror da dependência, desolação, prostituição forçada, loucura, delírios e crises de abstinência.
As discussões artísticas do enredo, assim como a forma que o filme abordou o relacionamento das duas meninas foram realizadas de uma forma sensível e compatível com a realidade de muitos relacionamentos, sejam eles homossexuais ou heterossexuais - claro, com algumas peculiaridades do tipo de relacionamento em questão.O que me chamou muita atenção nesse filme foi a beleza das cenas, das cores e do jogo de luzes que o diretor proporcionou. A câmera muito próxima dos rostos e com ângulos diversos proporcionou um jogo visual excelente! Uma das cenas que esses fatores mais me chamaram atenção é a que as duas meninas estão sentadas em um jardim.
Além disso, um dos pontos altos de "La Vie d'Adèle" é a forma com que a estética, as discussões artísticas e os detalhes que o roteiro e a fotografia apresentaram se relacionaram de uma forma muito bem harmonizada. Isso fez com que o filme formasse um conjunto muito bem estruturado e condizente com as propostas estéticas e do enredo. Um excelente filme, que faz com que as 3 horas no cinema passem com suavidade, intensidade e encanto, como um amor da juventude.
Tenho em minha mente a imagem das 100 pequenas aranhas comendo a mãe ao nascerem. A criação aniquilada pelo criador, presente no filme em mais de um aspecto. Isso já nos acontece; a vida moderna já nos aniquila. Como todo o “desenvolvimento” capitalista, que nos direciona a padronização das ideias, do corpo, das perspectivas, dos sonhos, da vida inteira. Ainda não retrocedemos ao ponto de escravizar alguém novamente, mas nos tornamos escravos da vida vazia que o sistema nos impõe: “ganhe dinheiro e abra a sua felicidade, sem se importar com quem sofre por isso".
Blade Runner ainda apresenta outro aspecto aliado à nossa insignificância como seres perceptivos: até onde as nossas memórias podem dizer sobre nós mesmos? O que somos, senão o que imaginamos ser? O filme brinca com um dos questionamentos mais inquietantes do pensamento humano sobre si mesmo: a ideia de ter uma visão deturpada de si e do mundo. Afinal, qual a garantia que podemos ter que estamos certos sobre algo, quando tudo pode ser, de alguma forma, uma ilusão? A percepção humana afeta todo o vínculo de certeza com uma realidade absoluta: vivemos o que percebemos, imaginamos, sentimos, tocamos.
A maior fraqueza humana pode ser a incerteza. Mas, ao mesmo tempo, pode ser ela o pilar de nossos mais belos ideais. Talvez deixemos, um dia, de ser engrenagens de uma grande máquina que não controlamos. Não temos certeza. Enquanto isso, buscamos a felicidade como nos permitimos: abrindo-a em um refrigerante ou buscando-a nos sonhos que nos permitem ter - ou que não permitem. Já diria Álvaro de Campos em “Tabacaria”: “Eu, que não tenho certeza nenhuma, sou mais certo ou menos certo?”
Blade Runner é um filme admirável, que nos direciona para reflexões complexas com excelentes textos, imagens, luzes e cenas. As divagações podem ser mais ou menos viajadas que as minhas, encontrar ou não com elas nas linhas de pensamento. Mas assistir um filme como esse muito provavelmente vai, de alguma forma, incitar algo a pensar.
"Dançando no Escuro" não deu lugar para que eu chorasse. Os horrores de Selma me deixavam tão tenso ao ponto de a tristeza ficar internalizada, enquanto o mundo de sonhos, ruídos e sapateados de uma mulher sensível quebrava essa tensão de uma maneira tão poética que eu quase pude sorrir, se não fosse pela dor da realidade que a rodeava e que eu me prendia. Eu não pude me entregar ao devaneio como ela, talvez porque eu não esteja em um filme. Talvez porque os sonhadores, na Terra dos ditames do Tio Sam - “tempo é dinheiro, tempo é dinheiro” – não tenham seu lugar. Penso que Selma veio cantar em meu ouvido pra que eu não me entregue tanto ao concreto, que os sonhos têm seu lugar mesmo nos lugares mais devastados.
Eu esperei que tivesse um final feliz. E teve, mas de outra maneira. Ela cantou a penúltima música, e o filme nunca irá acabar. A felicidade estava dentro do que a imaginação consegue alcançar, sem a realidade a colocar a corda e o capuz nas nossas cabeças.
A música estará em algum lugar, nos ouvidos daqueles que podem ouvir. A beleza da voz e da dança sem luz daquela mulher me cativou de uma maneira que o que ouço agora é diferente.
Mas meus passos também ganharam mais peso, ao pensar nos 107 passos, dados por pessoas que não eram Selma, que não estavam em um musical, que não cantaram uma penúltima música e emocionaram espectadores de Lars Von Trier. A vida, para eles, não tinha sonho. Os devaneios se perdem nas esquinas, nas lojas, nos comerciais de televisão, nas escolas, nas universidades, nas empresas, nas cidades, nos países. “Tempo é dinheiro”, deixou de ser tempo. O sonho serve ao capital, e deixamos de verdadeiramente sonhar. E os detentos, após passar a vida daqueles que os conheceram, quando muito, apenas constarão seus nomes nos registros das penitenciárias dos Estados Unidos, essa terra de oportunidades.
Talvez eu esteja estupefato. E a minha noção de tempo e realidade esteja tênue, tanto quanto os sentidos da minha vida. E ela, talvez, se arrasta assim, sem comunicação, esperando o retorno do que foi e não voltará. E a quarta parede se quebra, se destroi, e a degradação do mundo que eu via é, na verdade, um espelho da minha desolação.
Esse é o tipo de pensamento que o filme de Kaufman incita, pelo menos em mim. As referências ao teatro do absurdo são claras: a incomunicabilidade, o non-sense, a carga simbólica das situações aparentemente sem sentido. Há, inclusive, uma referência direta a Beckett em uma fala de Claire, em que ela cita também Artaud e Grotowski.
Esse efeito de confusão, delírio, essa (ir)realidade estranha e nebulosa que o clima do filme cria é parecida com o efeito que nos causa uma peça como Dias Felizes. Nós, nessa busca insaciável pelos motivos de tudo, nos deparamos confusos com as chamas que envolvem a casa de Hazel, assim como a terra que envolve a cabeça de Winnie. Talvez a chama e a terra estejam próximas. E o Fim de Partida seja sair e ver a degradação do corpo e do mundo, reflexos de um interior aniquilado, que só a morte resta como consolo final. Mas pode, também, não ser nada disso.
E seguimos o rumo da sociedade, ouvindo as vozes que nos guiam de acordo com os padrões estipulados. Os mesmo sonhos, as mesmas utopias, apenas deslocadas e encaixadas na diversidade de contextos. Somos peças de um jogo que não conseguimos acompanhar, e que, anuladas, não mais faria diferença. Nos refugiamos nos personagens que criamos pra serem nós mesmos, quando o Caden que há em nós é insuportável, e observá-lo demais pode ser mortal.
Somos a parte de um todo nebuloso e abstrato; a sinédoque confusa da existência. Ou não somos nada além de pretensiosos que tentam explicar o significado dos acontecimentos, das ideias, dos nossos rumos incertos. Efêmeros, insignificantes, que o tempo irá apagar sem que possamos perceber. Nossas ideias se perdem no tempo, nossa vida se esvai a cada minuto. E, talvez, tenhamos vivido sempre errados, errantes, cegos pela realidade ofuscante, enquanto o absurdo de tudo gritava em nossos ouvidos sem que pudéssemos ouvir.
Em Belo Horizonte, esse filme foi exibido na Virada Cultural de 2013. O contexto de assisti-lo no meio da praça mais movimentada da cidade, de madrugada e em um evento que qualquer pessoa poderia chegar e vê-lo deu um tom ainda mais especial a um filme marcante, único, envolvente, delicado, bonito e tantos outros adjetivos que eu poderia caracterizá-lo. O roteiro é muito bem elaborado. Aliado a isso, o contexto dessa época e a trilha sonora envolvente, assim como alguns marcos como
o "amor de cinema" que Totó e Elena têm ao se beijarem na chuva
, dão um tom poético e encantador ao filme.
Porém, o que eu diria que mais me cativou foi a retratação da efemeridade da vida. A passagem do tempo, a reconstrução dos valores são uma realidade que nossos pais viveram, que nós viveremos e que faz parte dessas mudanças tão constantes que nos assolam e, eu diria talvez, nos massacram. Passado, passado... é mais forte o que ficou pra trás, e melhor pensar com saudade ou tentar esquecer da dor que viver o que o presente nos apresenta em sua natureza simplória e cotidiana. E esse presente um dia será um passado bonito ou horrível. A certeza - se é que podemos dizer que existe alguma - é que será intensificado pela nossa interpretação, pelas nossas lembranças. A vida, enquanto existe, é uma eterna reconstrução, pois se reinventa a partir de nossas memórias instáveis.
Cinema Paradiso mostra também essa memória nostálgica, esse apego ao que se passou. O passado com suas nuances imaginárias, sua relatividade embaçada pelo esquecimento e pelas incertezas. E a vida é reconstruída a cada lembrança deturpada, nas múltiplas interpretações dos acontecimentos, nas várias vivências das mesmas situações. Vivemos várias vidas, porque o que lembramos nunca é o que aconteceu. É outra coisa: mais forte, mais fraca ou simplesmente diferente.
Nossos Cinemas Paradisos se queimam e se reconstroem mais belos, com mais risadas, com mais felicidade. E o fogo deles é mais intenso, mais devorador, mais trágico. As marcas são mais profundas, a vida é mais forte do que parece. E na nossa atualidade degradante, de correr para viver, para ser um cidadão de exemplo nessa sociedade de mercadoria, o que temos é que nos prender ao que vemos de bonito nas nossas memórias que vem e vão. E fugir do fogo que consome cada canto das nossas alegrias.
O enquadramento em "Blue Velvet" é um dos fatores que conferem ao filme o tom artístico que nos evoca ao assisti-lo. Mas não digo que esse é o único fator, muito menos o mais importante. Foi só um dos que muito contribuíram para que eu classificasse o filme de forma diferenciada de um filme comum. O suspense, o desequilíbrio de alguns personagens, a música, os diálogos, a direção de arte, as luzes, as atuações, e outros inúmeros elementos também participam na formação dessa harmonia estética, poética e reflexiva de uma obra que eu diria inadequada para classificar em apenas um adjetivo.
Inteligente, instigante, perturbador, misterioso e uma soma de características ligadas ao que faz David Lynch ser tão interessante, "Blue Velvet" não é simplesmente um filme que te prende do início ao fim. É o tipo que deixa no espectador a marca de ter passado por ele, a inquietação do contato com realidades tão delicadas como a loucura, a maldade, o vício, a tortura, a exploração feminina. Retrata a fragilidade da vida, a inadequação humana frente à incerteza de não saber quantas larvas e quantos pintarroxos virão nos próximos dias.
Terry Gilliam já começa por deixar o filme interessante por ser Terry Gilliam. A direção, as cores, a direção de arte, as cenas e os atores conseguiram manter essa atmosfera drogada, vulnerável, à beira de uma overdose; aflitiva. Me senti conversando com Lucy (in the Sky with Diamonds) vivendo a loucura e inconsequência de duas pessoas que, ao que parece, não teriam futuro depois daquilo, como se o que importasse fosse mesmo, e apenas, aqueles momentos alucinantes. A todo momento eu esperava uma espuma branca saindo da boca de alguém, ou algum ataque cardíaco, ou alguma morte. Em alguns momentos fica entediante, já que fica o tempo todo naquelas viagens químicas seguidas umas das outras, mas no todo é divertido e interessante. A atuação do Depp, como é comum de se falar, entra muito no típico dele - aqueles trejeitos com as mãos, as danças corporais, etc - o que gera a dúvida se ele representou mesmo o Hunter S. Thompon ou se ele representou Johnny Depp representando Hunter S. Thompson, mas não deixa de ser "interessante". As aspas são porque o ator é muito estagnado em um modelo muito peculiar em vários de seus filmes, que é divertido e original mas que pouco de diversifica nesses que ele assume essa posição. O mais bizarro de tudo foi quando, depois do filme, eu pesquisei e vi que aquilo tudo realmente aconteceu e que o Hunter realmente existiu e foi pai do jornalismo gonzo, influenciado pelo movimento beat e um pouco ligado ao chamado "new jornalism" ou jornalismo literário. Isso deu um tom interessante à recepção que eu tive do ficcional, já que enquanto assisti ao filme pensei que era irreal demais, como se não pudesse acontecer, e fiquei surpreso quando vi que aconteceu. Faz parte daquela velha resistência à ficção, como se o que não fosse tão ligado a realidade em seu lugar comum não pudesse acontecer, enquanto essa "irrealidade" em relação à minha realidade - que é tão limitada - faz parte da vida de muitas pessoas em seus universos diversificados.
A história, ao meu entender, pode ser pensada em um contexto de crítica política e social muito contundente em vários elementos que ela apresenta: a maquiagem e o figurino exagerados dos habitantes da capital podem ser interpretados como uma forma de mascarar o quão sujos e deformados eles são por dentro ao aceitarem a subjugação horrorosa que eles mesmos praticam nos distritos. O modo de vida exacerbado e o avanço exagerado da tecnologia na capital, em contraste com a luta por alimento e a ausência até das condições básicas de sobrevivência nos distritos remonta aquela velha discussão das relações opressor/oprimido nos moldes capitalistas de sócio-política. O autor do livro, assim como os produtores do filme, fizeram valer o excesso de contradições que podem ser observados na sociedade. E o argumento do filme, em uma base geral, é sobre o quanto a "evolução" da sociedade, da tecnologia e dos fomentos da indústria do entretenimento podem gerar uma alienação tão grave ao ponto de não ser perceptível o absurdo e o horror que praticam nesses jogos.
É um filme delicado, bonito, musicalmente flutuante. Charlie, nas palavras de um adolescente, evoca uma beleza humana, poética, que existe quando paramos pra pensar na complexidade que é existir; nas relações humanas; esse todo que nos compõe e que é tão abstrato.
Eu li o livro e posteriormente assisti ao filme. Penso que retratou muito bem a ideia, apesar de que algumas coisas
não atenderam tão bem assim ao propósito. De qualquer forma, gostei muito do filme e o recomendo a quem gosta de sentir as emoções da adolescência por um ponto reflexivo e bonito.
Eu amo filmes que me fazem pensar, que me fazem reavaliar, como em "Beinh John Malkovitch", o sentido do que é ser alguém, as minhas relações comigo e com o mundo, a humanidade e suas inadequações, (ou os chipanzés e suas inadequações... haha).
Com humor, sagacidade, uma filosofia bonita e uma história fascinante, Kaufman bolou o que veio a ser um dos meus filmes favoritos da história de todos os filmes que assisti até agora.
“Quando Deus te dá um dom, também te dá um chicote. E o chicote é unicamente para autoflagelar-se.” e as tristezas do enredo com a dedicatória "a todas as pessoas que querem ser mães, á minha mãe" é algo como dizer: "se querem ser mães, saibam que não é fácil, que não é simples, que isso pode custar tristezas, decepções, preocupações ou até sua própria morte. À minha mãe por ter tido essa coragem"
Louca Obsessão
4.1 1,3K Assista AgoraSou ~fã número 1~ da Kathy Bates nesse filme, rs
O Nascimento de uma Nação
3.0 231A abordagem racista desse filme é lamentável. As fantásticas inovações técnicas estão longe de compensar a mediocridade ideológica que ele se vale ao longo de toda a narrativa.
Os negros são representados como animais selvagens, enquanto os brancos são as vítimas que, através do Ku Kux Klan, tentam salvar a sociedade do caos e da revolta de quem não é digno de ter direitos. É nojento ver como o roteiro se vale disso em vários aspectos, inclusive na tentativa de estupro de uma branca por um apoiador dos movimentos dos negros. Absolutamente abominável.
Sonata de Outono
4.5 491Vi naquela cena que Eva (Liv Ulmann) tocava o prelúdio de Chopin, aquela mesma imagem evocada nas memórias rancorosas da filha: o olhar inquisitor da mãe sobre uma filha insegura, que tenta agradar a figura imponente da mãe. A expressão de distanciamento, a dualidade entre o falso sorriso e o desagrado - que Ingrid Bergman interpretou tão bem - evocou aquela mesma imagem da mãe individualista dos tempos passados. Essa interpretação também foi feita no quarto de Helena, com uma atuação também excelente de Lena Nyman.
"Para mim, o homem é uma criação incrível, uma ideia inconcebível. No homem existe tudo, do começo ao fim." Essa universalidade que Eva evoca é a mesma que se representa no turbilhão de sentimentos subjetivos das relações familiares e amorosas que são exploradas no filme. Além disso, essa fala de Eva remonta ao criacionismo, o que é interessante quando se pensa no nome da personagem.
"Da mesma forma devem existir inúmeras realidades. Não só essa que percebemos com nossos sentidos embotados, mas um amontoado de realidades se sobrepondo umas às outras. É medo e presunção acreditar em limites. Não existem limites, nem para os pensamentos, nem para os sentimentos. É a ansiedade que impõe limites." Essa ansiedade, eu vejo na mãe que busca a perfeita recepção de seus concertos; o abandono das filhas, a limitação de se voltar ao individualismo excessivo para a satisfação de seus anseios particulares. O texto ainda vai além disso, nos questionamentos metafísicos de realidade, limitação, vida, sentimentos e relações humanas.
Se fosse para explorar todas as peculiaridades desse roteiro fascinante, esse texto se delongaria excessivamente. A forma espetacular, poética e sensível que Bergman expôs na tela os dramas familiares é memorável. Com o amparo de grandes atuações, ainda ouço a sonata desses dilemas universais.
Último Tango em Paris
3.5 569Vi que o filme não foi muito bem recebido por muitas pessoas que comentaram aqui. Bem, eu o considerei muito, muito bom. O roteiro, inicialmente, se apresenta um pouco confuso. Mas a fantástica direção de Bertolucci, seus movimentos com a câmera, a trilha sonora, a fotografia e a própria construção filosófica dos diálogos prendeu a minha atenção até que eu pudesse pensar o que significavam a representação dos vários elementos que o filme apresenta.
O quarto em que Paul e Jeanne viveram as aventuras sexuais era um lugar de distância da realidade que lembra um pouco a casa dos irmãos de “Os Sonhadores”. A desconexão com a vida exterior cria um mundo à parte em que tudo é possível, em que a liberdade pulsa no corpo, no sexo, nas palavras, nos desejos.
Paralelamente a isso, a vida de ambos os personagens seguem rumos diferentes. Paul é um homem de meia idade recém viúvo, reduzido à condição de “um dos” que a esposa tinha. O fato de a esposa ter um amante e ainda ter cometido suicídio sem uma causa aparente coloca o personagem em um conflito: ele odeia a esposa por tudo o que ela fez, ao mesmo tempo que a ama e não entende os motivos de seu suicídio repentino.
Por outro lado, Jeanne é uma jovem moça que procura um apartamento para morar. Um rapaz com uma idade próxima à sua e que quer ser um cineasta a corteja e faz dela a protagonista de um filme enquanto ela está com ele. Vi nisso a representação de um amor “dos pôsters” algo que ela mesma tinha conversado com Paul no apartamento. Ela disse que nesses amores, os sorrisos eram verdadeiros e as pessoas felizes; Paul rebate dizendo que isso não é verdade.
Nos pôsters, as pessoas vivem conforme a sociedade designa, falando de amor, filhos, em uma praça romântica em que há espectadores a observar. Como em um filme de romance, aqueles em que as falas e juras de amor são palavras moldadas, como as que Jeanne falou a Tom quando ele chegou no trem. O ambiente romântico do amor de Jeanne com Tom remonta ao poster, àquilo que Tom filmava e que estava longe daquele ambiente lúgubre, sujo e velho em que as liberdades sexuais pulsavam nos corpos dos amantes desconhecidos.
Entretanto, seja no amor de poster ou naquele que era oculto, Jeanne mantinha a característica da personagem de ser uma idealista. Essas idealizações de formas diversas chegaram à entrega do corpo e da perda das amarras religiosas e familiares, principalmente simbolizada pelas falas dos dois personagens na cena do sexo anal com a manteiga como lubrificante.
Essa idealização, entretanto, foi a mesma que levou à perda da fantasia que ela tinha criado com Paul, quando ele volta pra ela e se revela conforme a sua realidade. Naquele último tango, há um último impulso daquela liberdade irresponsável, daquele mundo isolado que criaram juntos. Entretanto, isso é interrompido pelas pessoas que estavam ali vendo aquilo. Enquanto Tom e Jeanne eram “adultos” que viviam conforme as regras, Paul e Jeanne eram como jovens em delírio. Eles são perfeitamente compatíveis entre 4 paredes, mas a realidade pulsante de uma sociedade cheia de rigores não aceita os impulsos libertários desse amor sem amarras.
Dessa forma, voltam ao canto escuro do bar, em que retorna a perda do idealismo libertário que Jeanne tinha criado. Porém, Paul não era um idealista, apenas queria fugir da vida triste e solitária que se encontrava. Se negou a acreditar e entender a realidade que Jeanne não queria mais, assim como tentou negar a morte da mulher quando conversa com ela no caixão – e a minha impressão foi que a qualquer momento ela o responderia, de tão forte que era a negação de Paul da condição de morte da mulher.
Em resumo, enquanto Jeanne era uma idealista, Paul negava e fugia da realidade de sua vida devastada. As últimas palavras que Paul disse a ela antes de ser baleado foram: “eu quero saber seu nome”. Saber o nome representava a queda da fantasia que foi criada no ambiente deles, o impulso de uma realidade que Jeanne não queria viver, assim como uma nova realidade para a vida de Paul, diferente daquela que ele queria fugir. Depois de baleado, Paul disse que os filhos deles vão se lembrar, mesmo que ele nunca poderia ter tido filhos com ela (ele havia citado o fato de ser infértil). Mas ele negou a realidade e viveu o sonho criado até o último suspiro. No final, Jeanne afirmava pra si mesma que não o conhecia, que ele era um louco que a seguiu. Pensar assim a mantêm na posição de moça apta a continuar os sonhos do idealismo que criou, tendo a sociedade como uma espectadora que aprova o “amor de poster” criado entre ela e Tom.
Embora eu tenha feito uma análise dos elementos do filme que mais me chamaram atenção, há uma gama de outros que não citei, assim como pensamentos que poderiam ser mais bem trabalhados na complexidade dos personagens e do enredo. Minha intenção não foi explicar o filme, mas passar as minhas interpretações. Na minha opinião, a arte não é passível de uma explicação racional, mas de um fluxo mental que evoca uma série de impressões estéticas e filosóficas em um uníssono maravilhoso e subjetivo dentro dos nossos pensamentos. O cinema, em sua multiplicidade de elementos, é parte desse conjunto abstrato de impressões que nos causa o contato artístico. A lógica funciona como parte da compreensão; a outra é a sensitiva. Essa nem eu nem ninguém poderia descrever com os rigores da racionalidade.
Um Estranho no Lago
3.3 465 Assista AgoraA aridez do filme remete às relações passageiras, sem amor, carinho, o toque humano do sentir o corpo para além do sexo.
Isso se manifesta de várias formas, seja no fato de Frank ignorar o assassinato daquele moço, seja nas relações que são retratadas.
A morte e as pulsões sexuais aparecem complementares ao que há de perverso e seco nas relações humanas.
O Anjo Exterminador
4.3 376 Assista AgoraUma obra como a de Buñuel em “El Angel Exterminador” não é solucionável, não se pode explicar enfaticamente toda a riqueza metafórica dos elementos apresentados. Sendo assim, deixo claro que não pretendo explicar o filme e o que ele quer evocar em sua completude, mas passar a minha interpretação dos fatos que me chamaram mais atenção de uma forma inicial. Se fosse para analisar seriamente esse filme, seria necessário muito mais que sentar e escrever sobre ele após assisti-lo, como estou fazendo agora. Faço-o por ter achado fantásticos alguns questionamentos e fatos sociais que o filme apresenta em um primeiro plano.
O extraordinário chama a atenção no início do filme, quando os empregados deixam a casa sem um motivo aparente e algumas ações e falas estranhamente se repetem. Alguns outros acontecimentos absurdos intrigam no decorrer da história, até que ficam presos à sala em que não conseguem sair, sem entenderem o porquê. Esperam que alguém o faça primeiramente, se sentem impedidos e sem conseguirem esforços suficientes para isso. Uma metáfora interessantíssima para o comportamento social de se prender a algo pelo conforto de esperar que alguém o faça primeiro, que alguém o faça até por si mesmo.
A forma que Buñuel conseguiu transpor sua crítica social ao absurdo surrealista dessa obra de arte é maravilhosa. Com vários elementos muito bem combinados, o filme critica a humanidade colocando-a como uma fera civilizada (o urso solto na casa o representaria) que, ao mesmo tempo que se animaliza e perde a compostura burguesa em condições extremas, age como cordeiro ao fazer - ou não fazer - alguma coisa. Tanto ao se prender a uma sala por não conseguir reunir forças suficientes para sair, tanto ao se prender em uma igreja, o homem vive uma série de conflitos que se acumulam pelo conforto ou impossibilidade de solucionar um conflito inicial.
Nos exilamos dentro dos limites que nós mesmos impomos sobre nós, e a igreja representa o conforto de uma metafísica pronta que apresenta as soluções para os questionamentos humanos como vontades de um deus. O que teríamos que fazer é seguir as vontades divinas. Mesmo que o que imaginamos que elas sejam - ou o que nos dizem que são - nos levem à morte, como os cordeiros que iam para a igreja e serviriam de comida aos que estavam lá presos e famintos, reproduzindo o que já antes havia acontecido na casa.
Esse filme é mais que uma crítica à burguesia, mas uma crítica aos moldes sociais em que a classe está inserida. Enquanto cegos pelos confortos que nos são proporcionados, o absurdo maior se encontra nas condições e contradições sociais que vivemos. A sociedade é mais absurda, em sua mania de seguirem uns aos outros, que um filme de Buñuel; e a humanidade tão densa, complicada e vasta como as metáforas do surrealismo. Não se explica, se entende ou se disseca em palavras secas: sentimos como sentimos a arte ou o peso das repressões, das religiões, dos cabrestos que tentam nos impor para seguirmos, como cordeiros, para onde levarem esses nossos passos incertos.
Réquiem para um Sonho
4.3 4,4K Assista AgoraUm dos propósitos claros do filme é, no decorrer do enredo, proporcionar incômodo, aflição, passar ao telespectador o desespero vivenciado pelos personagens. Eles cantam e dançam – com a vida - o réquiem (canção para mortos) para os próprios sonhos. O filme teve muito sucesso em proporcionar essa inquietação ao espectador que se propôs, pelo menos comigo. Eu senti a pulsão do corpo e a aflição do desespero e desolação dos personagens. Eu me mexi, me encolhi, e fiquei tomado pelo horror de presenciar o que os transtornos psicológicos das drogas químicas podem causar à mente humana. Desde aquelas que são distribuídas nos becos às que são receitadas pelos médicos nos consultórios.
A proposta estética do olhar duplo da câmera, mostrando dois pontos de vista ao mesmo tempo, é inovadora. Entretanto, não foi bem articulada no filme, gerando cenas confusas que não pareciam ser, naquele momento, o propósito do diretor (como quando o Harry rouba a televisão da mãe).
Porém, a confusão, em outras partes do filme, tem um propósito mais claro. O controle do corpo se perde, e a mente esvai o significado literal do que os personagens percebem, na negação do vício e na entrega ao desespero. A vida, aos poucos, se dissipa junto à fumaça dos cigarros que fumam após experimentarem os torpores alucinados que a intensidade química consegue atingir. Assim como a sanidade se perde junto aos quilos que se emagrece e à felicidade passageira das pílulas de anfetamina.
As luzes do quarto, do elevador e do hospital piscam agitadas, refletindo o desespero da mente inquieta de quem se sustenta com vícios. Quando a sociedade se envolve em outros que, muitas vezes, não percebemos, como o açúcar e a televisão. O filme parece ter como argumento principal apresentar os vícios humanos e o que eles geram se descontrolados. Porém, não desenvolve bem os outros vícios que não o das drogas, só os apresenta de forma rápida e pouco desenvolvida.
"Requiem for a Dream" nos mostra, dessa maneira, a desolação e o desespero da perda dos sonhos pelo descontrole psicológico dos vícios químicos, assim como a construção utópica de uma felicidade que se desconstrói pela realidade da fragilidade humana sobre o controle do próprio corpo e da própria vida. Os sonhos moldados pelos anúncios de televisão, pelos sorrisos alegres de vidas realizadas e rostos bonitos se contrastam com o horror da dependência, desolação, prostituição forçada, loucura, delírios e crises de abstinência.
Azul é a Cor Mais Quente
3.7 4,3K Assista AgoraAs discussões artísticas do enredo, assim como a forma que o filme abordou o relacionamento das duas meninas foram realizadas de uma forma sensível e compatível com a realidade de muitos relacionamentos, sejam eles homossexuais ou heterossexuais - claro, com algumas peculiaridades do tipo de relacionamento em questão.O que me chamou muita atenção nesse filme foi a beleza das cenas, das cores e do jogo de luzes que o diretor proporcionou. A câmera muito próxima dos rostos e com ângulos diversos proporcionou um jogo visual excelente! Uma das cenas que esses fatores mais me chamaram atenção é a que as duas meninas estão sentadas em um jardim.
Além disso, um dos pontos altos de "La Vie d'Adèle" é a forma com que a estética, as discussões artísticas e os detalhes que o roteiro e a fotografia apresentaram se relacionaram de uma forma muito bem harmonizada. Isso fez com que o filme formasse um conjunto muito bem estruturado e condizente com as propostas estéticas e do enredo. Um excelente filme, que faz com que as 3 horas no cinema passem com suavidade, intensidade e encanto, como um amor da juventude.
Blade Runner: O Caçador de Andróides
4.1 1,6K Assista AgoraTenho em minha mente a imagem das 100 pequenas aranhas comendo a mãe ao nascerem. A criação aniquilada pelo criador, presente no filme em mais de um aspecto. Isso já nos acontece; a vida moderna já nos aniquila. Como todo o “desenvolvimento” capitalista, que nos direciona a padronização das ideias, do corpo, das perspectivas, dos sonhos, da vida inteira. Ainda não retrocedemos ao ponto de escravizar alguém novamente, mas nos tornamos escravos da vida vazia que o sistema nos impõe: “ganhe dinheiro e abra a sua felicidade, sem se importar com quem sofre por isso".
Blade Runner ainda apresenta outro aspecto aliado à nossa insignificância como seres perceptivos: até onde as nossas memórias podem dizer sobre nós mesmos? O que somos, senão o que imaginamos ser? O filme brinca com um dos questionamentos mais inquietantes do pensamento humano sobre si mesmo: a ideia de ter uma visão deturpada de si e do mundo. Afinal, qual a garantia que podemos ter que estamos certos sobre algo, quando tudo pode ser, de alguma forma, uma ilusão? A percepção humana afeta todo o vínculo de certeza com uma realidade absoluta: vivemos o que percebemos, imaginamos, sentimos, tocamos.
A maior fraqueza humana pode ser a incerteza. Mas, ao mesmo tempo, pode ser ela o pilar de nossos mais belos ideais. Talvez deixemos, um dia, de ser engrenagens de uma grande máquina que não controlamos. Não temos certeza. Enquanto isso, buscamos a felicidade como nos permitimos: abrindo-a em um refrigerante ou buscando-a nos sonhos que nos permitem ter - ou que não permitem. Já diria Álvaro de Campos em “Tabacaria”: “Eu, que não tenho certeza nenhuma, sou mais certo ou menos certo?”
Blade Runner é um filme admirável, que nos direciona para reflexões complexas com excelentes textos, imagens, luzes e cenas. As divagações podem ser mais ou menos viajadas que as minhas, encontrar ou não com elas nas linhas de pensamento. Mas assistir um filme como esse muito provavelmente vai, de alguma forma, incitar algo a pensar.
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista Agora"Dançando no Escuro" não deu lugar para que eu chorasse. Os horrores de Selma me deixavam tão tenso ao ponto de a tristeza ficar internalizada, enquanto o mundo de sonhos, ruídos e sapateados de uma mulher sensível quebrava essa tensão de uma maneira tão poética que eu quase pude sorrir, se não fosse pela dor da realidade que a rodeava e que eu me prendia. Eu não pude me entregar ao devaneio como ela, talvez porque eu não esteja em um filme. Talvez porque os sonhadores, na Terra dos ditames do Tio Sam - “tempo é dinheiro, tempo é dinheiro” – não tenham seu lugar. Penso que Selma veio cantar em meu ouvido pra que eu não me entregue tanto ao concreto, que os sonhos têm seu lugar mesmo nos lugares mais devastados.
Eu esperei que tivesse um final feliz. E teve, mas de outra maneira. Ela cantou a penúltima música, e o filme nunca irá acabar. A felicidade estava dentro do que a imaginação consegue alcançar, sem a realidade a colocar a corda e o capuz nas nossas cabeças.
Mas meus passos também ganharam mais peso, ao pensar nos 107 passos, dados por pessoas que não eram Selma, que não estavam em um musical, que não cantaram uma penúltima música e emocionaram espectadores de Lars Von Trier. A vida, para eles, não tinha sonho. Os devaneios se perdem nas esquinas, nas lojas, nos comerciais de televisão, nas escolas, nas universidades, nas empresas, nas cidades, nos países. “Tempo é dinheiro”, deixou de ser tempo. O sonho serve ao capital, e deixamos de verdadeiramente sonhar. E os detentos, após passar a vida daqueles que os conheceram, quando muito, apenas constarão seus nomes nos registros das penitenciárias dos Estados Unidos, essa terra de oportunidades.
Sinédoque, Nova York
4.0 477Talvez eu esteja estupefato. E a minha noção de tempo e realidade esteja tênue, tanto quanto os sentidos da minha vida. E ela, talvez, se arrasta assim, sem comunicação, esperando o retorno do que foi e não voltará. E a quarta parede se quebra, se destroi, e a degradação do mundo que eu via é, na verdade, um espelho da minha desolação.
Esse é o tipo de pensamento que o filme de Kaufman incita, pelo menos em mim. As referências ao teatro do absurdo são claras: a incomunicabilidade, o non-sense, a carga simbólica das situações aparentemente sem sentido. Há, inclusive, uma referência direta a Beckett em uma fala de Claire, em que ela cita também Artaud e Grotowski.
Esse efeito de confusão, delírio, essa (ir)realidade estranha e nebulosa que o clima do filme cria é parecida com o efeito que nos causa uma peça como Dias Felizes. Nós, nessa busca insaciável pelos motivos de tudo, nos deparamos confusos com as chamas que envolvem a casa de Hazel, assim como a terra que envolve a cabeça de Winnie. Talvez a chama e a terra estejam próximas. E o Fim de Partida seja sair e ver a degradação do corpo e do mundo, reflexos de um interior aniquilado, que só a morte resta como consolo final. Mas pode, também, não ser nada disso.
E seguimos o rumo da sociedade, ouvindo as vozes que nos guiam de acordo com os padrões estipulados. Os mesmo sonhos, as mesmas utopias, apenas deslocadas e encaixadas na diversidade de contextos. Somos peças de um jogo que não conseguimos acompanhar, e que, anuladas, não mais faria diferença. Nos refugiamos nos personagens que criamos pra serem nós mesmos, quando o Caden que há em nós é insuportável, e observá-lo demais pode ser mortal.
Somos a parte de um todo nebuloso e abstrato; a sinédoque confusa da existência. Ou não somos nada além de pretensiosos que tentam explicar o significado dos acontecimentos, das ideias, dos nossos rumos incertos. Efêmeros, insignificantes, que o tempo irá apagar sem que possamos perceber. Nossas ideias se perdem no tempo, nossa vida se esvai a cada minuto. E, talvez, tenhamos vivido sempre errados, errantes, cegos pela realidade ofuscante, enquanto o absurdo de tudo gritava em nossos ouvidos sem que pudéssemos ouvir.
Cinema Paradiso
4.5 1,4K Assista AgoraEm Belo Horizonte, esse filme foi exibido na Virada Cultural de 2013. O contexto de assisti-lo no meio da praça mais movimentada da cidade, de madrugada e em um evento que qualquer pessoa poderia chegar e vê-lo deu um tom ainda mais especial a um filme marcante, único, envolvente, delicado, bonito e tantos outros adjetivos que eu poderia caracterizá-lo. O roteiro é muito bem elaborado. Aliado a isso, o contexto dessa época e a trilha sonora envolvente, assim como alguns marcos como
o "amor de cinema" que Totó e Elena têm ao se beijarem na chuva
Porém, o que eu diria que mais me cativou foi a retratação da efemeridade da vida. A passagem do tempo, a reconstrução dos valores são uma realidade que nossos pais viveram, que nós viveremos e que faz parte dessas mudanças tão constantes que nos assolam e, eu diria talvez, nos massacram. Passado, passado... é mais forte o que ficou pra trás, e melhor pensar com saudade ou tentar esquecer da dor que viver o que o presente nos apresenta em sua natureza simplória e cotidiana. E esse presente um dia será um passado bonito ou horrível. A certeza - se é que podemos dizer que existe alguma - é que será intensificado pela nossa interpretação, pelas nossas lembranças. A vida, enquanto existe, é uma eterna reconstrução, pois se reinventa a partir de nossas memórias instáveis.
Cinema Paradiso mostra também essa memória nostálgica, esse apego ao que se passou. O passado com suas nuances imaginárias, sua relatividade embaçada pelo esquecimento e pelas incertezas. E a vida é reconstruída a cada lembrança deturpada, nas múltiplas interpretações dos acontecimentos, nas várias vivências das mesmas situações. Vivemos várias vidas, porque o que lembramos nunca é o que aconteceu. É outra coisa: mais forte, mais fraca ou simplesmente diferente.
Nossos Cinemas Paradisos se queimam e se reconstroem mais belos, com mais risadas, com mais felicidade. E o fogo deles é mais intenso, mais devorador, mais trágico. As marcas são mais profundas, a vida é mais forte do que parece. E na nossa atualidade degradante, de correr para viver, para ser um cidadão de exemplo nessa sociedade de mercadoria, o que temos é que nos prender ao que vemos de bonito nas nossas memórias que vem e vão. E fugir do fogo que consome cada canto das nossas alegrias.
Veludo Azul
3.9 776 Assista AgoraO enquadramento em "Blue Velvet" é um dos fatores que conferem ao filme o tom artístico que nos evoca ao assisti-lo. Mas não digo que esse é o único fator, muito menos o mais importante. Foi só um dos que muito contribuíram para que eu classificasse o filme de forma diferenciada de um filme comum. O suspense, o desequilíbrio de alguns personagens, a música, os diálogos, a direção de arte, as luzes, as atuações, e outros inúmeros elementos também participam na formação dessa harmonia estética, poética e reflexiva de uma obra que eu diria inadequada para classificar em apenas um adjetivo.
Inteligente, instigante, perturbador, misterioso e uma soma de características ligadas ao que faz David Lynch ser tão interessante, "Blue Velvet" não é simplesmente um filme que te prende do início ao fim. É o tipo que deixa no espectador a marca de ter passado por ele, a inquietação do contato com realidades tão delicadas como a loucura, a maldade, o vício, a tortura, a exploração feminina. Retrata a fragilidade da vida, a inadequação humana frente à incerteza de não saber quantas larvas e quantos pintarroxos virão nos próximos dias.
Medo e Delírio
3.7 552 Assista AgoraTerry Gilliam já começa por deixar o filme interessante por ser Terry Gilliam. A direção, as cores, a direção de arte, as cenas e os atores conseguiram manter essa atmosfera drogada, vulnerável, à beira de uma overdose; aflitiva. Me senti conversando com Lucy (in the Sky with Diamonds) vivendo a loucura e inconsequência de duas pessoas que, ao que parece, não teriam futuro depois daquilo, como se o que importasse fosse mesmo, e apenas, aqueles momentos alucinantes. A todo momento eu esperava uma espuma branca saindo da boca de alguém, ou algum ataque cardíaco, ou alguma morte. Em alguns momentos fica entediante, já que fica o tempo todo naquelas viagens químicas seguidas umas das outras, mas no todo é divertido e interessante. A atuação do Depp, como é comum de se falar, entra muito no típico dele - aqueles trejeitos com as mãos, as danças corporais, etc - o que gera a dúvida se ele representou mesmo o Hunter S. Thompon ou se ele representou Johnny Depp representando Hunter S. Thompson, mas não deixa de ser "interessante". As aspas são porque o ator é muito estagnado em um modelo muito peculiar em vários de seus filmes, que é divertido e original mas que pouco de diversifica nesses que ele assume essa posição. O mais bizarro de tudo foi quando, depois do filme, eu pesquisei e vi que aquilo tudo realmente aconteceu e que o Hunter realmente existiu e foi pai do jornalismo gonzo, influenciado pelo movimento beat e um pouco ligado ao chamado "new jornalism" ou jornalismo literário. Isso deu um tom interessante à recepção que eu tive do ficcional, já que enquanto assisti ao filme pensei que era irreal demais, como se não pudesse acontecer, e fiquei surpreso quando vi que aconteceu. Faz parte daquela velha resistência à ficção, como se o que não fosse tão ligado a realidade em seu lugar comum não pudesse acontecer, enquanto essa "irrealidade" em relação à minha realidade - que é tão limitada - faz parte da vida de muitas pessoas em seus universos diversificados.
Jogos Vorazes
3.8 5,0K Assista AgoraA história, ao meu entender, pode ser pensada em um contexto de crítica política e social muito contundente em vários elementos que ela apresenta: a maquiagem e o figurino exagerados dos habitantes da capital podem ser interpretados como uma forma de mascarar o quão sujos e deformados eles são por dentro ao aceitarem a subjugação horrorosa que eles mesmos praticam nos distritos. O modo de vida exacerbado e o avanço exagerado da tecnologia na capital, em contraste com a luta por alimento e a ausência até das condições básicas de sobrevivência nos distritos remonta aquela velha discussão das relações opressor/oprimido nos moldes capitalistas de sócio-política. O autor do livro, assim como os produtores do filme, fizeram valer o excesso de contradições que podem ser observados na sociedade. E o argumento do filme, em uma base geral, é sobre o quanto a "evolução" da sociedade, da tecnologia e dos fomentos da indústria do entretenimento podem gerar uma alienação tão grave ao ponto de não ser perceptível o absurdo e o horror que praticam nesses jogos.
Batman: O Cavaleiro das Trevas
4.5 3,8K Assista Agora"Madness, as you know, is like gravity. All it takes is a little push."
As Vantagens de Ser Invisível
4.2 6,9K Assista AgoraÉ um filme delicado, bonito, musicalmente flutuante. Charlie, nas palavras de um adolescente, evoca uma beleza humana, poética, que existe quando paramos pra pensar na complexidade que é existir; nas relações humanas; esse todo que nos compõe e que é tão abstrato.
Eu li o livro e posteriormente assisti ao filme. Penso que retratou muito bem a ideia, apesar de que algumas coisas
como o excesso de beijos entre Charlie e Sam,
Os Miseráveis
4.1 4,2K Assista AgoraÉ de uma beleza artística, musical e poética que fazem valer cada segundo.
Ensina-me a Viver
4.3 873 Assista AgoraÉ um filme divertido, engraçado, bonito, gostoso e que faz refletirmos sobre a vida e nós mesmos.
Quero Ser John Malkovich
4.0 1,4K Assista AgoraEu amo filmes que me fazem pensar, que me fazem reavaliar, como em "Beinh John Malkovitch", o sentido do que é ser alguém, as minhas relações comigo e com o mundo, a humanidade e suas inadequações, (ou os chipanzés e suas inadequações... haha).
Com humor, sagacidade, uma filosofia bonita e uma história fascinante, Kaufman bolou o que veio a ser um dos meus filmes favoritos da história de todos os filmes que assisti até agora.
Tudo Sobre Minha Mãe
4.2 1,3K Assista AgoraNão sei se é uma viagem minha, mas relacionando a frase do início do filme:
“Quando Deus te dá um dom, também te dá um chicote. E o chicote é unicamente para autoflagelar-se.” e as tristezas do enredo com a dedicatória "a todas as pessoas que querem ser mães, á minha mãe" é algo como dizer: "se querem ser mães, saibam que não é fácil, que não é simples, que isso pode custar tristezas, decepções, preocupações ou até sua própria morte. À minha mãe por ter tido essa coragem"