Um filme agradável e com uma personagem marcante, Ursula. Para mim, ela representa muito bem a ideia de quando estamos apaixonados por um amor impossível, ou aparentemente impossível.
Apesar de se estabelecer entre os dois uma arquitetura de opostos, Ursula e o Violinista possuem uma qualquer lógica espacial que parece harmonizar todo o projeto, fazendo-nos desejar um romance entre eles, ainda que isso nos sugira também uma certa incredulidade, pois o amor exige uma troca mútua de satisfações, e como ela poderia, por exemplo, satisfazer aos desejos sexuais do rapaz?
A cena do sonho de Ursula evidencia isso: ela, inconsciente, sabendo que só poderia conquistá-lo se fosse jovem e bela, vê a si mesma nos braços do Violinista como se ainda tivesse a idade dele; momentos depois, a imagem dela é ocupada pela figura da alemã bonita e nova, por quem o rapaz cultiva afeto. A imagem da alemã surge como um medo da perda do amor (pois, apesar dos dois não terem nada real, o Violinista é o objeto amado de suas fantasias) e surge também como uma consciência de que aquele sonho é absurdo e estúpido, visto ser improvável que o rapaz se apaixone por ela.
Essa cena do sonho de Ursula é muito curta, mas para mim é como um resumo do filme, mostrando como construímos uma sucessão de fantasias agradáveis com a imagem do ser amado, comprometendo o real para fundir-se no imaginário, único lugar onde ele pode habitar. O que é muito triste também, por isso nos sensibilizamos com a dor de Ursula, que não é correspondida senão no sonho. Mas os sonhos não bastam, não tocam. Parece tocar o lábio, parece abraçar o corpo. Mas não se toca ou se abraça nada senão a linguagem. O lábio, o abraço, lentamente levados nessa pronúncia, são apenas uma ilusão de longo efeito e que a tudo se esbate, deixando somente a certeza de que não existe nada, nada, exceto a ideia, o sonho e a palavra.
"Eu não tenho talento algum para certezas" - Miss Fanny.
Por isso eu gosto da Sra. Austen! E quem já leu Emma, Razão e Sensibilidade ou Orgulho e Preconceito sabe o quanto os diálogos são bem construídos e repletos de ironias fascinantes, o quanto as personagens têm vida, personalidades marcantes e distintas!
Quanto ao filme, bem, me aguçou a desejar leituras do livro Mansfield Park. Não creio ser esta adaptação uma grande produção e a história, ao menos para mim, não é a melhor das tramas da Austen. Porém, tenho a intuição de que o livro está recheado de diálogos interessantes.
O filme é muito tocante e faz uma denúncia sensível à condição de miséria pela qual as vítimas de preconceitos sofrem no decorrer de suas vidas. A fotografia, bem como a trilha (vale destaque a excelente escolha de Adagio for Strings, de Samuel Barber, na última cena - irresistível às lágrimas!) dialogaram muito bem com a construção do enredo e a proposta da história, fazendo com que nós queiramos abraçar toda a humanidade de Merrick, ainda que sintamos o peso descomunal de suas dores acumuladas. E isso porque, mesmo distantes do sofrimento do personagem, a imagem da câmera nos faz sentir refletidos na tela, proporcionando momentos de catarse e tornando as próprias imagens do filme (o que dizer da fotografia da mãe aparacendo diversas vezes?) num "memento mori", um objeto de reflexão que, no entanto, não se encerra com o fim da cenas. A estética do filme torna-se para nós um espelho, onde compartilhamos da dor de Merrick.
É esse o questionamento feito pelo personagem de Anthony Hopkins e um dos que mais me marcaram, dentre as tantas reflexões possibilitadas na leitura do filme, na medida em que nos leva a pensar não apenas na motivação de nossas atitudes como também em seus efeitos.
Outro ponto a ser destacado é quando Merrick grita às pessoas que o olham como uma "coisa", um objeto a ser admirado com espanto e menosprezo: "I am not an animal! I am a human been. I am a man". Este homem é maltratado e repudiado em várias cenas iniciais sem retaliar uma vez sequer, porém, após conhecer e conviver com pessoas que foram amáveis e gentis, considerando-o não um "freak" mas um indivíduo cheio de possibilidades para o viver, é só a partir daí que Merrick ganha força para auto-afirmasse enquanto indivíduo.
Considero essa e uma das cenas posteriores - na qual Merrick conversa com o médico e diz para ele não se preocupar porque ele é feliz a cada hora do dia, pois sua vida é plena pela certeza de que é amado - as cenas mais bonitas do filme justamente por serem a evidência do poder do Amor como cura da Alma, independente da natureza desse amor.
Ok, e o final do filme foi algo como "Foda-se. Eu sou linda, 'famosa', 'rica' e posso ter o mundo aos meus pés. E daí que eu tenho sérios problemas mentais, e daí que eu fantasiei uma relação com o meu ex e paguei de louca no chá de bebê? E daí que eu transei com um cara que, em 'condições normais', eu nunca transaria e só o fiz porque estava carente?"
Ah, fala sério, esse final foi terrível. Mavis tem sérios problemas e precisava de ajuda profissional e não dos conselhos de uma garota com uma péssima auto-estima por morar em uma cidade onde só existe "gente gorda e burra". Além do que, o filme vomita futilidade. E como outra pessoa aí comentou, só terminei de assistir porque sou teimosa! rs
Miss Austen Regrets
3.9 30Sinceramente, Olivia Williams pra mim representa bem mais minha imagem de Jane Austen do que Anne Hathaway, em Becoming Jane.
Quilombo
3.5 30"A felicidade do negro é uma felicidade guerreira!", grande Gilberto.
O Violinista que Veio do Mar
3.7 126Um filme agradável e com uma personagem marcante, Ursula. Para mim, ela representa muito bem a ideia de quando estamos apaixonados por um amor impossível, ou aparentemente impossível.
Apesar de se estabelecer entre os dois uma arquitetura de opostos, Ursula e o Violinista possuem uma qualquer lógica espacial que parece harmonizar todo o projeto, fazendo-nos desejar um romance entre eles, ainda que isso nos sugira também uma certa incredulidade, pois o amor exige uma troca mútua de satisfações, e como ela poderia, por exemplo, satisfazer aos desejos sexuais do rapaz?
A cena do sonho de Ursula evidencia isso: ela, inconsciente, sabendo que só poderia conquistá-lo se fosse jovem e bela, vê a si mesma nos braços do Violinista como se ainda tivesse a idade dele; momentos depois, a imagem dela é ocupada pela figura da alemã bonita e nova, por quem o rapaz cultiva afeto. A imagem da alemã surge como um medo da perda do amor (pois, apesar dos dois não terem nada real, o Violinista é o objeto amado de suas fantasias) e surge também como uma consciência de que aquele sonho é absurdo e estúpido, visto ser improvável que o rapaz se apaixone por ela.
Essa cena do sonho de Ursula é muito curta, mas para mim é como um resumo do filme, mostrando como construímos uma sucessão de fantasias agradáveis com a imagem do ser amado, comprometendo o real para fundir-se no imaginário, único lugar onde ele pode habitar. O que é muito triste também, por isso nos sensibilizamos com a dor de Ursula, que não é correspondida senão no sonho. Mas os sonhos não bastam, não tocam. Parece tocar o lábio, parece abraçar o corpo. Mas não se toca ou se abraça nada senão a linguagem. O lábio, o abraço, lentamente levados nessa pronúncia, são apenas uma ilusão de longo efeito e que a tudo se esbate, deixando somente a certeza de que não existe nada, nada, exceto a ideia, o sonho e a palavra.
Toda Forma de Amor
4.0 1,0K Assista Agora"you make me laugh but its not funny"
Palácio das Ilusões
3.6 103"Eu não tenho talento algum para certezas" - Miss Fanny.
Por isso eu gosto da Sra. Austen! E quem já leu Emma, Razão e Sensibilidade ou Orgulho e Preconceito sabe o quanto os diálogos são bem construídos e repletos de ironias fascinantes, o quanto as personagens têm vida, personalidades marcantes e distintas!
Quanto ao filme, bem, me aguçou a desejar leituras do livro Mansfield Park. Não creio ser esta adaptação uma grande produção e a história, ao menos para mim, não é a melhor das tramas da Austen. Porém, tenho a intuição de que o livro está recheado de diálogos interessantes.
O Homem Elefante
4.4 1,0K Assista AgoraO filme é muito tocante e faz uma denúncia sensível à condição de miséria pela qual as vítimas de preconceitos sofrem no decorrer de suas vidas. A fotografia, bem como a trilha (vale destaque a excelente escolha de Adagio for Strings, de Samuel Barber, na última cena - irresistível às lágrimas!) dialogaram muito bem com a construção do enredo e a proposta da história, fazendo com que nós queiramos abraçar toda a humanidade de Merrick, ainda que sintamos o peso descomunal de suas dores acumuladas. E isso porque, mesmo distantes do sofrimento do personagem, a imagem da câmera nos faz sentir refletidos na tela, proporcionando momentos de catarse e tornando as próprias imagens do filme (o que dizer da fotografia da mãe aparacendo diversas vezes?) num "memento mori", um objeto de reflexão que, no entanto, não se encerra com o fim da cenas. A estética do filme torna-se para nós um espelho, onde compartilhamos da dor de Merrick.
"Am I a good man or am I a bad man?"
É esse o questionamento feito pelo personagem de Anthony Hopkins e um dos que mais me marcaram, dentre as tantas reflexões possibilitadas na leitura do filme, na medida em que nos leva a pensar não apenas na motivação de nossas atitudes como também em seus efeitos.
Outro ponto a ser destacado é quando Merrick grita às pessoas que o olham como uma "coisa", um objeto a ser admirado com espanto e menosprezo: "I am not an animal! I am a human been. I am a man". Este homem é maltratado e repudiado em várias cenas iniciais sem retaliar uma vez sequer, porém, após conhecer e conviver com pessoas que foram amáveis e gentis, considerando-o não um "freak" mas um indivíduo cheio de possibilidades para o viver, é só a partir daí que Merrick ganha força para auto-afirmasse enquanto indivíduo.
Considero essa e uma das cenas posteriores - na qual Merrick conversa com o médico e diz para ele não se preocupar porque ele é feliz a cada hora do dia, pois sua vida é plena pela certeza de que é amado - as cenas mais bonitas do filme justamente por serem a evidência do poder do Amor como cura da Alma, independente da natureza desse amor.
Baixio das Bestas
3.5 397"Eita chuva da febre do rato!"
Esse filme é um grito silenciado.
Um Conto Chinês
4.0 852 Assista AgoraFilme leve com um enredo bacana, me rendeu boas risadas!
E o chinês é muito fofo <3
A Cor do Paraíso
4.2 194 Assista AgoraBonito, simples e as paisagens são encantadoras!
Para quem gostou, indico "Vermelho Como o Céu" de Cristiano Bortone.
Jovens Adultos
3.0 874 Assista AgoraOk, e o final do filme foi algo como "Foda-se. Eu sou linda, 'famosa', 'rica' e posso ter o mundo aos meus pés. E daí que eu tenho sérios problemas mentais, e daí que eu fantasiei uma relação com o meu ex e paguei de louca no chá de bebê? E daí que eu transei com um cara que, em 'condições normais', eu nunca transaria e só o fiz porque estava carente?"
Ah, fala sério, esse final foi terrível. Mavis tem sérios problemas e precisava de ajuda profissional e não dos conselhos de uma garota com uma péssima auto-estima por morar em uma cidade onde só existe "gente gorda e burra". Além do que, o filme vomita futilidade. E como outra pessoa aí comentou, só terminei de assistir porque sou teimosa! rs
Terra em Transe
4.1 286 Assista Agora"Um homem não pode se dividir assim. A política e a poesia são demais pra um só homem."
O filme é uma linda poesia.
Mas as palavras, as palavras são inúteis!