Esse tema vem muito bem a calhar num momento como o atual em que movimentos como certas vertentes feministas buscam fazer da leviandade jurídica instrumento de luta política. Ótimo roteiro, sóbrio e realista. Mas gostaria de tê-lo visto dirigido por Lars von Trier, que acredito que daria um tratamento mais estimulante a uma trama dessa dimensão trágica.
Tomadas porcamente filmadas e atuações canastronas, à exceção de Darlene Glória que convence com o difícil papel de Geni e as atrizes que interpretam as tias beatas com ótimo timing. Não faz nem de longe jus à brilhante peça de Nelson Rodrigues, que é no roteiro também descaracterizada pela omissão de elementos fundamentais, como a função de Patrício como agente do caos e os diálogos com o padre e o médico, que revelam detalhes essenciais para a compreensão do personagem Serginho. Além da atuação de Darlene Glória, o filme vale a pena só pela escolha acertadíssima do tango para narrar essa grande tragédia latina e pelo final bem conduzido, com elementos originais que enriqueceram bastante a trama original sem descaracterizá-la.
Belas tomadas de perseguição pela costa da Riviera francesa. Presença adorável de Grace Kelly, como sempre. Mas não muito mais que isso. Um dos filmes mais fracos do Hitchcock.
Alguns gênios do cinema atingiram a excelência absoluta da imagem; outros, do texto. Poucos o fizeram com ambos. Nesse seleto grupo, está Wong Kar-Wai, maior diretor da atualidade, e talvez de todos os tempos. Sua capacidade de imprimir sublimidade em cada uma das cenas de seus filmes, até na mais insignificante, e injetar substância filosófica às mais simples tramas, ambientadas em caóticas metrópoles modernas, madrugadas melancólicas dos anos 60 ou nos desertos bárbaros da China medieval (como neste caso), articulando uma enorme quantidade de personagens com maestria, é um dos pontos mais próximos que o cinema já chegou da perfeição. Como sempre, uma metralhadora giratória de poderosas frases de efeito (influência marcante de Godard sobre o diretor), motivos visuais marcantes, ângulos dramáticos, uma paleta de cores meticulosamente desenhada, uma trilha sonora belíssima e a obsessão temática do diretor com o tempo e a memória estão presentes em cada segundo deste filme.
Uma das maiores obras da imaginação humana, Hellraiser caminha com ousadia no limiar do trash mais bagaceira sem jamais se tornar caricato, sempre denso em sua qualidade filosófica e radical em sua experimentação das possibilidades da maquiagem e dos efeitos cinematográficos. Um belo filme que repugna e excita os sentidos.
Uma mistura meio brega de Repulsion (1965) com Thriller (1973). Começou bem, mas se enveredou por um caminho raso, quando poderia ter desenvolvido um denso estudo de personagem. Não deixa de ser um filme divertido, com algumas cenas de violência que ultrapassam o banal e realmente impactam.
A despeito da torta e delinquente ótica da luta de classes para a qual pende o viés da trama, o filme oferece elementos bastantes para instigar a reflexão, e nisso reside seu mérito. Além disso, a doce interpretação de Regina Casé lhe dá um sabor irresistível. O filme propõe um diálogo baseado em um choque de gerações. Para além da dicotomia rasa entre filha "com senso crítico" e mãe "alienada" pretendida pelo roteiro, há outras relações que deixam de ser devidamente exploradas. A relação entre Val e Jéssica é o típico desdobramento econômico de uma geração com pouco estudo mas com uma forte ética do trabalho que possibilita a aquisição de conhecimento da próxima, mas que, sem lhe transmitir os valores básicos que possibilitaram seu desenvolvimento, a torna ingrata, mimada e petulante. As relações profissionais no filme são limitadas a um mero conflito de classes, deixando de explorar as nuances de psicologia individual que caracterizam situações muito mais universais do que supõe o vão maniqueísmo político que teleguia a obra. Com a multiplicidade de elementos da trama, poderia ser um filme muito mais interessante se desse maior lugar à complexidade da vida real, muito mais diversa que o limitado universo dos chavões políticos que dominam o cinema nacional.
Shane Carruth é um grande talento multimidiático: brilhante como diretor, com grande senso visual, ótimo compositor das trilhas de seus filmes, bom ator. Mas a erudição de seus roteiros herméticos tornam assistir a um filme seu tarefa bastante pesada e frustrante. O mistério, de tão insondável para um pobre espectador mediano como eu, deixa de ser instigante em dado ponto e se torna absolutamente desinteressante. Mas não há como deixar de reconhecer seu brilhantismo em criar atmosferas altamente envolventes (e com grande esmero técnico, o que é uma proeza, para alguém com um orçamento ridículo de apenas 7 mil dólares!), com personagens em estado de total desorientação, sentimento que melhor define a experiência de ver um filme seu. Talvez reveja-o em um dia de excepcional paciência e concentração.
Tal qual a beleza fria de Elle Fanning, que, com uma atuação sutil mas muito eficiente na interpretação da passagem da inocência à corrupção, protagoniza este filme, poder-se-ia dizer que falta um pouco de alma a Demônio de Neon. Mas quem se importa? Como um videoclipe esmerado de 2 horas, sua perfeição visual aliada uma trilha sonora oitentista carregada de sintetizadores atmosféricos faz esquecer qualquer falha no desenvolvimento do roteiro. Um belo filme de terror sobre o mundo da moda com um conceito estético muito bem pensado, imbuindo as cenas mais grotescas de puro glamour fashion.
Sobretudo, uma grande atuação de Natalie Portman, que, aliando suas já conhecidas nuances de doçura e agressividade a um minucioso trabalho vocal, captou brilhantemente os trejeitos da ex-primeira-dama. O roteiro muito bem escrito transformou o que poderia facilmente ser um exercício de futilidade em um denso retrato psicológico de uma figura de poder. Belíssima direção, com elegantes tomadas acompanhando o caminhar cadenciado da protagonista pela Casa Branca que nos permitem adentrar com profundidade sua psique. Embalando este excelente trabalho, a trilha sonora muito eficiente e equilibrada reaça, junto ao figurino luxuoso e ensanguentado, o contraste do glamour e da tragédia desta obra.
"Parece que a vida foi construída de uma forma que ninguém pode preenchê-la sozinho. A vida contém sua própria ausência, que só um outro pode preencher."
Belíssimo conceito visual minimalista, e sonoplastia sutil e muito eficaz. Um filme elegante com uma uniformidade estética bastante esmerada. Um pouco arrastado e confuso na segunda metade.
O final é arrastado, com um excesso de explicações verbais que o Hitchcock maduro, mestre da concisão visual, teria poupado. Mas é um bom filme, com a elegância habitual do diretor.
Tem momentos de muita inspiração. Ken Russell produz visões fantásticas e Vanessa Redgrave está incrível como a freira histérica, mas falta foco ao conjunto da obra.
Tomadas muito bem feitas e atuação brilhante do DeNiro. Mas chega um ponto em que a narrativa ganha ares de implausibilidade que achei inadequada a essa trama, que poderia ter sido muito mais bem explorada.
Como habitual em filmes com Bette Davis, o roteiro brinca com a ambiguidade moral da personagem até o último segundo, explorando as nuances dramáticas da grande atriz, capaz de atrair empatia ou repulsa com a intensidade de seu sorriso e seu olhar ou gravidade de sua voz rouca. O desenvolvimento acaba sendo muito original por nos levar a um impasse moral que vai além dos interesses materiais mais óbvios para os quais o espectador atenta desde o início. Bom filme, mas poderia ser mais enxuto. Hitchcock faria mágica com essa trama tão rica.
Apesar da trama bobinha, confusa e perdida com aspirações existencialistas mal executadas, a direção é brilhante, com uma atmosfera densa, fruto de planos de câmera perfeitamente posicionados, fotografia sombria e uma sonoplastia meticulosa, cheia de barulhinhos macabros. Não há jump scares batidos nem fantasmas japoneses cabeludos, mas infunde terror genuíno em diversas cenas de forma muito original. Conferirei outros trabalhos do diretor com certeza.
Trama extraordinária, atuação brilhante de Rosamund Pike. O tratamento da direção e do roteiro resultou num bom filme, equilibrado e direcionado, o que é uma proeza para uma narrativa dessa complexidade e que pede um ritmo muito bem calculado para as revelações sobre os dois personagens. No entanto, questão de gosto meu, preferiria uma direção mais "asiática", nas mãos de Park Chan-wook ou Sion Sono, que teriam pesado bem mais a mão no drama histriônico que essa história possibilita.
A Caça
4.2 2,0K Assista AgoraEsse tema vem muito bem a calhar num momento como o atual em que movimentos como certas vertentes feministas buscam fazer da leviandade jurídica instrumento de luta política. Ótimo roteiro, sóbrio e realista. Mas gostaria de tê-lo visto dirigido por Lars von Trier, que acredito que daria um tratamento mais estimulante a uma trama dessa dimensão trágica.
Toda Nudez Será Castigada
3.6 117Tomadas porcamente filmadas e atuações canastronas, à exceção de Darlene Glória que convence com o difícil papel de Geni e as atrizes que interpretam as tias beatas com ótimo timing. Não faz nem de longe jus à brilhante peça de Nelson Rodrigues, que é no roteiro também descaracterizada pela omissão de elementos fundamentais, como a função de Patrício como agente do caos e os diálogos com o padre e o médico, que revelam detalhes essenciais para a compreensão do personagem Serginho. Além da atuação de Darlene Glória, o filme vale a pena só pela escolha acertadíssima do tango para narrar essa grande tragédia latina e pelo final bem conduzido, com elementos originais que enriqueceram bastante a trama original sem descaracterizá-la.
Ladrão de Casaca
3.7 260Belas tomadas de perseguição pela costa da Riviera francesa. Presença adorável de Grace Kelly, como sempre. Mas não muito mais que isso. Um dos filmes mais fracos do Hitchcock.
Cinzas do Passado Redux
3.7 52 Assista AgoraAlguns gênios do cinema atingiram a excelência absoluta da imagem; outros, do texto. Poucos o fizeram com ambos. Nesse seleto grupo, está Wong Kar-Wai, maior diretor da atualidade, e talvez de todos os tempos. Sua capacidade de imprimir sublimidade em cada uma das cenas de seus filmes, até na mais insignificante, e injetar substância filosófica às mais simples tramas, ambientadas em caóticas metrópoles modernas, madrugadas melancólicas dos anos 60 ou nos desertos bárbaros da China medieval (como neste caso), articulando uma enorme quantidade de personagens com maestria, é um dos pontos mais próximos que o cinema já chegou da perfeição. Como sempre, uma metralhadora giratória de poderosas frases de efeito (influência marcante de Godard sobre o diretor), motivos visuais marcantes, ângulos dramáticos, uma paleta de cores meticulosamente desenhada, uma trilha sonora belíssima e a obsessão temática do diretor com o tempo e a memória estão presentes em cada segundo deste filme.
Hellraiser II: Renascido das Trevas
3.4 304 Assista AgoraUma das maiores obras da imaginação humana, Hellraiser caminha com ousadia no limiar do trash mais bagaceira sem jamais se tornar caricato, sempre denso em sua qualidade filosófica e radical em sua experimentação das possibilidades da maquiagem e dos efeitos cinematográficos. Um belo filme que repugna e excita os sentidos.
Sedução e Vingança
3.7 151 Assista AgoraUma mistura meio brega de Repulsion (1965) com Thriller (1973). Começou bem, mas se enveredou por um caminho raso, quando poderia ter desenvolvido um denso estudo de personagem. Não deixa de ser um filme divertido, com algumas cenas de violência que ultrapassam o banal e realmente impactam.
Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista AgoraA despeito da torta e delinquente ótica da luta de classes para a qual pende o viés da trama, o filme oferece elementos bastantes para instigar a reflexão, e nisso reside seu mérito. Além disso, a doce interpretação de Regina Casé lhe dá um sabor irresistível.
O filme propõe um diálogo baseado em um choque de gerações. Para além da dicotomia rasa entre filha "com senso crítico" e mãe "alienada" pretendida pelo roteiro, há outras relações que deixam de ser devidamente exploradas. A relação entre Val e Jéssica é o típico desdobramento econômico de uma geração com pouco estudo mas com uma forte ética do trabalho que possibilita a aquisição de conhecimento da próxima, mas que, sem lhe transmitir os valores básicos que possibilitaram seu desenvolvimento, a torna ingrata, mimada e petulante. As relações profissionais no filme são limitadas a um mero conflito de classes, deixando de explorar as nuances de psicologia individual que caracterizam situações muito mais universais do que supõe o vão maniqueísmo político que teleguia a obra.
Com a multiplicidade de elementos da trama, poderia ser um filme muito mais interessante se desse maior lugar à complexidade da vida real, muito mais diversa que o limitado universo dos chavões políticos que dominam o cinema nacional.
Primer
3.5 489 Assista AgoraShane Carruth é um grande talento multimidiático: brilhante como diretor, com grande senso visual, ótimo compositor das trilhas de seus filmes, bom ator. Mas a erudição de seus roteiros herméticos tornam assistir a um filme seu tarefa bastante pesada e frustrante. O mistério, de tão insondável para um pobre espectador mediano como eu, deixa de ser instigante em dado ponto e se torna absolutamente desinteressante. Mas não há como deixar de reconhecer seu brilhantismo em criar atmosferas altamente envolventes (e com grande esmero técnico, o que é uma proeza, para alguém com um orçamento ridículo de apenas 7 mil dólares!), com personagens em estado de total desorientação, sentimento que melhor define a experiência de ver um filme seu. Talvez reveja-o em um dia de excepcional paciência e concentração.
Demônio de Neon
3.2 1,2K Assista AgoraTal qual a beleza fria de Elle Fanning, que, com uma atuação sutil mas muito eficiente na interpretação da passagem da inocência à corrupção, protagoniza este filme, poder-se-ia dizer que falta um pouco de alma a Demônio de Neon. Mas quem se importa? Como um videoclipe esmerado de 2 horas, sua perfeição visual aliada uma trilha sonora oitentista carregada de sintetizadores atmosféricos faz esquecer qualquer falha no desenvolvimento do roteiro. Um belo filme de terror sobre o mundo da moda com um conceito estético muito bem pensado, imbuindo as cenas mais grotescas de puro glamour fashion.
Internet: O Filme
1.5 317Não vi, mas não gostei.
Jackie
3.4 739 Assista AgoraSobretudo, uma grande atuação de Natalie Portman, que, aliando suas já conhecidas nuances de doçura e agressividade a um minucioso trabalho vocal, captou brilhantemente os trejeitos da ex-primeira-dama. O roteiro muito bem escrito transformou o que poderia facilmente ser um exercício de futilidade em um denso retrato psicológico de uma figura de poder. Belíssima direção, com elegantes tomadas acompanhando o caminhar cadenciado da protagonista pela Casa Branca que nos permitem adentrar com profundidade sua psique. Embalando este excelente trabalho, a trilha sonora muito eficiente e equilibrada reaça, junto ao figurino luxuoso e ensanguentado, o contraste do glamour e da tragédia desta obra.
Incêndios
4.5 1,9KPlot twist fodido.
Boneca Inflável
3.9 192"Parece que a vida foi construída de uma forma que ninguém pode preenchê-la sozinho. A vida contém sua própria ausência, que só um outro pode preencher."
Sob a Pele
3.2 1,4K Assista AgoraBelíssimo conceito visual minimalista, e sonoplastia sutil e muito eficaz. Um filme elegante com uma uniformidade estética bastante esmerada. Um pouco arrastado e confuso na segunda metade.
Into A Dream
3.8 3Mesmo com uma estrutura baseada em um recurso narrativo já mais que batido (o sonho), Sion Sono consegue imprimir sua autoralidade intensa.
Rebecca, a Mulher Inesquecível
4.2 359 Assista AgoraO final é arrastado, com um excesso de explicações verbais que o Hitchcock maduro, mestre da concisão visual, teria poupado. Mas é um bom filme, com a elegância habitual do diretor.
Cinderella
3.1 29Boa trama, mas poderia ter tido um tratamento mais denso.
Os Demônios
3.9 153Tem momentos de muita inspiração. Ken Russell produz visões fantásticas e Vanessa Redgrave está incrível como a freira histérica, mas falta foco ao conjunto da obra.
Cabo do Medo
3.8 906 Assista AgoraTomadas muito bem feitas e atuação brilhante do DeNiro. Mas chega um ponto em que a narrativa ganha ares de implausibilidade que achei inadequada a essa trama, que poderia ter sido muito mais bem explorada.
Alguém Morreu em Meu Lugar
4.1 44Como habitual em filmes com Bette Davis, o roteiro brinca com a ambiguidade moral da personagem até o último segundo, explorando as nuances dramáticas da grande atriz, capaz de atrair empatia ou repulsa com a intensidade de seu sorriso e seu olhar ou gravidade de sua voz rouca. O desenvolvimento acaba sendo muito original por nos levar a um impasse moral que vai além dos interesses materiais mais óbvios para os quais o espectador atenta desde o início. Bom filme, mas poderia ser mais enxuto. Hitchcock faria mágica com essa trama tão rica.
Inferno
3.2 832 Assista AgoraSério que o Tom Hanks continua perdendo tempo
com essas adaptações do Dan Brown?
Kairo
3.4 165Apesar da trama bobinha, confusa e perdida com aspirações existencialistas mal executadas, a direção é brilhante, com uma atmosfera densa, fruto de planos de câmera perfeitamente posicionados, fotografia sombria e uma sonoplastia meticulosa, cheia de barulhinhos macabros. Não há jump scares batidos nem fantasmas japoneses cabeludos, mas infunde terror genuíno em diversas cenas de forma muito original.
Conferirei outros trabalhos do diretor com certeza.
A Fita Azul
3.7 186 Assista AgoraFilme adorável, cool, sutil, despretensioso.
Don't leave me hanging on the telephone <3
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraTrama extraordinária, atuação brilhante de Rosamund Pike. O tratamento da direção e do roteiro resultou num bom filme, equilibrado e direcionado, o que é uma proeza para uma narrativa dessa complexidade e que pede um ritmo muito bem calculado para as revelações sobre os dois personagens.
No entanto, questão de gosto meu, preferiria uma direção mais "asiática", nas mãos de Park Chan-wook ou Sion Sono, que teriam pesado bem mais a mão no drama histriônico que essa história possibilita.