O Som do Silêncio aposta na sensibilidade, na empatia e na imersão.
A perda da audição de Ruben leva o protagonista até a tortuosa saga do encontro de si: ele se transforma e tal transformação reverbera na vida de baterista que, após uma surdez súbita, deve ser deixada para trás.
Ruben é acolhido em uma comunidade de deficientes auditivos cuja intenção principal não é ajuda-lo a ouvir novamente, mas torna-lo apto a conviver com a surdez. A partir daí, o embate toma forma interessante - ainda que, na minha opinião, a narrativa tenha sido moldada a partir de uma tratativa irreal do paciente com problemas auditivos -.
O filme apresenta o conflito entre a vida passada e a vida futura com clareza e objetividade mas falta, e muito, desenvolvimento nos personagens coadjuvantes. Por vezes, personagens com grande potencial, ao meu ver, eram desperdiçados com cenas rasas ou com pouco aprofundamento.
Riz Ahmed brilha muito, Paul Raci também. Mas com os olhos na acirrada disputa pelo Oscar, não acredito que O Som do Silêncio levará as estatuetas principais.
Minari é um filme leve e natural - como a vida deve ser. A narrativa absoluta apresenta os desafios da vida dos imigrantes, com certa sutileza e com momentos de afago. A dificuldade está concentrada na relação matrimonial conflituosa e nos esforços do pai - é interessante como Steven Yeun constrói um personagem que sempre está carregado de tensão, cuja preocupação se manifesta em pequenos trejeitos, como o modo de segurar o cigarro.
A beleza do filme, no certo, é a mudança de vida a partir do ponto de vista das crianças - com especial menção ao David, lindamente interpretado -, que não entendem bem os porquês das mudanças mas vivem, principalmente com a avó, um relacionamento que foge do comum e, por fugir, se torna real.
Apesar da disputa acirrada ao Oscar deste ano, Minari é uma bela surpresa, como grande parte dos filmes da A24.
Meu Pai, dirigido por Florian Zeller, é uma bela surpresa. Desde Amor (2013, de Michael Haneke) não houve filme que representasse tão bem a senilidade despida de romanticismo ou emoções simplórias. É um filme complexo, do início ao fim.
A obra é uma adaptação da homônima e premiada peça teatral que o diretor assina. Florian Zeller é um dramaturgo conhecido que estreia sua primeira direção de cinema. Apesar da pouca experiência, há no filme uma bela condução dos atores principais e uma montagem que, em muito, busca o recurso teatral para se fazer entendida.
Talvez, o brilhantismo de Meu Pai seja não somente a bela e natural interpretação da velhice, algo comum à grande parte dos humanos – seja o convívio ou a chegada –, mas também a identificação das histórias que, a depender da interpretação, são vistas de modos diferentes.
Os personagens que moldam os arquétipos e que se relacionam levam, ao espectador, uma experiência de assemelhação, ainda que distantes em proporções continentais. Se esquecer também é um modo de lembrar, Meu Pai se consolida na dolorosa delicadeza da memória.
- falo sobre filmes no site Minha Visão do Cinema e no instagram @rezendeiago
O filme é um relato genuíno e cru do cotidiano de uma família com muitas limitações - um histórico violento que humaniza todos os personagens. A história é verídica mas ainda assim, pode encontrar apenas as superficialidades do problema.
É um drama com atuações memoráveis das atrizes - Amy Adams e Glenn Close - e, esta última, faz jus à entrega minuciosa e atenta de uma avó relembrada na memória afetiva do neto. A narrativa de sucesso é um tanto meritocrática e o filme é atraído pelo clichê.
Ao fim, é um filme de atrizes.
O drama dos problemas estruturais foi, ao menos, um lugar que cedeu espaço para a ótima relação de Amy Adams e Glenn Close que sobressai o trabalho.
A saga do indisciplinado menino de madeira esculpido pelo solitário Geppetto chegou aos cinemas do mundo em 1940 pelos estúdios Disney. Desde então, quase não há quem não conheça a fábula italiana.
O filme de Matteo Garrone se distancia de qualquer adaptação dos contos clássicos realizados pela industria cinematográfica contemporânea. Em termos de técnica e de construção narrativa, não é um filme "dos nossos tempos". Tal premissa, no entanto, não é negativa.
Diante da abundância de remakes com roteiro supérfluo, exagero no CGI e efeitos especiais dispensáveis, Pinóquio (2021) toma a contramão. É um filme de escolhas simples, mas bem executadas. O cenário, de modo geral, valoriza a paisagem italiana. As escolhas das cores frias e monótonas para o vilarejo e as cenas de interior contrastam com os personagens, que possuem existência literalmente fabulosa.
A fábula, por conceito, caracteriza o conto no qual os personagens são animais humanizados. Na escrita fabulosa, o objetivo é transmitir uma lição de moral. Garrone nada de braçada no gênero – o diretor também assina O Conto dos Contos (2015), baseado na obra de Pentamerão –.
Na narrativa, Pinóquio (Federico Ielapi) demonstra ingenuidade e bom coração, virtudes ofuscadas pelo seu anseio de conhecer o mundo. É assim que ele deixa Geppetto (Roberto Benigni) e parte para aventuras em um quase road movie. O personagem é ajudado e prejudicado pelos seres que encontra em seu percurso.
Assim como no realismo mágico, a existência dos personagens animalescos nunca é questionada. O espectador deve fazer um pacto de fantasia com o filme. A transformação dos atores nos seres fantásticos é deslumbrante. Em muito, maquiagem e figurino remetem ao teatro de rua tipicamente italiano e também ao cinema antigo.
O filme, que acerta esteticamente, em dado momento se arrasta. A cômica interpretação de Geppetto, vivido pelo vencedor do Oscar Roberto Benigni, é um ponto alto da trama. O ator já interpretou Pinóquio em um filme de 2002 e, aqui, esbanja naturalidade, embora tenha pouco tempo de cena.
Se pela técnica o filme se faz nostálgico, a narrativa é construída de modo mais lento e sombrio: Pinóquio é enforcado, queimado e afogado. A Itália de Garrone também parece sofrer com a pobreza e injustiça.
Em suma, Pinóquio retoma a história atemporal sem necessariamente adaptá-la para o mundo contemporâneo. Certamente, a obra tem seu diferencial e se sobressai no hall das inúmeras releituras dos filmes clássicos.
Escrevo sobre cinema no site @minhavisãodocinema e no instagram @rezendeiago
"The Farewell" é um filme muito honesto com o espectador. Primeiro, há o deleite com a mise en scène muito bem construída. Os objetos, todos, importam. A transição Estados Unidos - China é percebida na mobília e as cores, então, retratam algo tão distante e tão próximo. O kitsch da classe média e a relação conturbada e próxima que existe quando uma família grande se reúne é algo que não é tão diferente na minha casa quanto é na trama.
Vem daí o grande acerto da direção e do roteiro tragicômico de Lulu Wang, que certamente vou passar a seguir: distância e proximidade. A relação entre neta - interpretada de modo brilhante pela Awkwafina - e avó atinge um grau lindo, elas guardam algo especial apresentado no decorrer do filme mas, em especial,
O filme carrega um argumento mediano para abordar um tema com muita responsabilidade e delicadeza. A ausência da referência paterna é algo que, como "Dois Irmãos" mostra, não pode ser resolvida com mágica. É fruto de muito esforço, de memória e de atenção carinhosa ao que resta.
É delicioso o modo como Barley deposita esperança em Ian, ele acredita no irmão e confia no talento e no potencial dele. Pra mim, o caso do Ian é o contrário, ele precisava compreender que o irmão não era um atrapalhado, mas sim toda a sua referência de vida
Jojo Rabbit é a sátira não ao modelo nazista, mas à propaganda.
Os cartazes, as motivações e os rumores crescem na medida exata do filme. É um modo de compreender a imbecilização da causa e que, para que ela atinja mesmo todas as pessoas, é mesmo necessário que ela seja absurda.
Nós vivemos em tempos de caos (não sei se já deixamos de viver), mas o filme alerta também sobre a irreal capacidade de subtração do outro contida no discurso lunático. E o discurso funciona. Por ser irreal. Tem funcionado até hoje.
Taika Waititi ri do protocolo, mas alerta o que há também medo no riso.
The Politician é mais uma série que exibe os atributos de Ryan Murphy: sua função catalisadora e o modo surpreendente com o qual ele consegue reunir um elenco tão diverso e excelente para o pastiche; as ideias absurdas que, em seu universo, são compostas por diálogos longos e pelo carisma de cada personagem. O elenco, de peso, é natural em frente da câmera - com exceção de Ben Platt, veterano dos musicais que, na minha opinião, exagera em gestos -. Mas há pouca solidez na narrativa: ainda que o arco se desenvolva na figura de Taylor (interpretado por Ben Platt), a trama não parece se preocupar com um bom desfecho das histórias paralelas, por vezes mais interessantes que as principais: um ótimo arco foi fechado ainda no primeiro episódio. Outro ponto curioso é a estrutura da série que, em seus oito episódios, deixa o desfecho para o penúltimo para iniciar, de forma simbólica, a segunda temporada no episódio finale.
A questão é: o casting excelente dará conta de sustentar as próximas temporadas?
Não é incomum, no espectador, buscar algo de si no cinema. E menos incomum ainda é o quanto os artistas deixam um tanto de si, justamente para que as pessoas tenham o que buscar.
E, nesse jogo de dar e de tomar, também se tornam raros os momentos de puro assombro, em que o comportamento humano é desenhado com tanta naturalidade. Assisti Benzinho duvidando do texto decorado. Era tamanha a naturalidade do diálogo e dos reflexos dos atores que, no decorrer da trama, viajava para as minhas próprias referências, da coragem - por vezes, até abrutalhada - da família e de afeto.
Não que Benzinho seja bom "por ser bom". É bom "por ser a gente".
Parece que o elo narrativo que tece Midsommar se concentra na (não unânime) experiência do espectador, que passa a integrar as sensações experimentadas em cena. O filme tem início na escuridão, com um cenário que, há décadas, valoriza o gênero do horror: noite, neve e solidão.
Já com a chegada no campo diurno, Ari Aster desenha o medo nas relações pacíficas. A estética alucinógena é bem trabalhada e dialoga com a beleza conflitante daquele paraíso controverso. Assim, a sensação de inquietude é bem aplicada em todos os recursos: da respiração ofegante muito bem interpretada de Florence Pugh aos movimentos de câmera, que por vezes invertem e nauseiam o olhar.
O diálogo central se baseia nas relações entre o contato entre homem e natureza. De início, se torna prazeroso assimilar a relação de simbiose que, depois incomoda ao notar até a movimentação ininterrupta das flores.
Os jogos morais e éticos dos personagens são desenvolvidos da mesma maneira com a qual a trama se desenvolve com a natureza: a pacificidade se torna o algoz do desfecho. Há, no entanto, um fato curioso na trama:
A obra A Tabacaria, filme mais recente do austríaco Nikolaus Leytner, narra a história de Franz, um jovem de 17 anos, interpretado por Simon Morzé. O ator parece controlar bem o personagem, chegado do interior na capital austríaca para trabalhar em uma tabacaria, a pedido da mãe. Em Viena, Franz passa a conhecer os personagens, incluindo Freud, trabalhados em individualidades específicas que os fazem procurar sabores distintos no estabelecimento de seu patrão, um veterano de guerra desabilitado. Seu bem mais valioso? Um pacote de charutos cubanos, cuidadosamente zelados.
Fiz uma crítica completa no Minha Visão do Cinema. Se interessar, corre lá! :)
Glenn Close constrói uma personagem sólida e sem pontas soltas. A firmeza da relação entre ela e Jonathan Pryce, que também veste o papel com muita sintonia, faz da dedicação e da atenção, apresentadas no início, elementos diminutos do relacionamento abusivo.
O filme inicia com os dois, pulando na cama, onde Joe diz: Eu ganhei o Nobel, em primeira pessoa, e Joan parece ficar um pouco triste. Na cena que rememora o passado, com os dois sobre a cama, também pulando, a mensagem era: nós seremos publicados.
Por detrás de uma dita sintonia, existe esquecimento e negação para que uma das forças prevaleça.
Gosto tanto de filmes musicais que senti um certo pesar em não ter adorado o filme. Acontece que nem um elenco estelar e belas interpretações conseguem mascarar o roteiro precário e o quão rasos foram os personagens. Me emocionei muito mais no vídeo de ensaio, em que Keala interpreta This is Me magnificamente, que no vídeo. A personagem (e todos os outros "freaks") tiveram uma abordagem muito simplória. Não houve como simpatizar com quem mal aparece e quase não tem diálogo. Outro ponto que me incomodou bastante foi que as músicas, todas, são demasiadamente pop. Na apresentação de Jenny Lind, retratada pela Rebecca Ferguson como a mais conhecida e exuberante cantora de ópera na Europa, me espantou, justamente, inserirem uma música com pegada contemporânea, sem oferecer possibilidades de alcances vocais mais altos e nada condizente com a estrutura daquela personagem: de força, nobreza e sutileza (a princesa que uma das filhas de P. T. havia dito que ela se parecia). Mas, ainda assim, torço para que o gênero musical seja cada vez mais abordado nas produções hollywoodianas, a gente merece!
Elenco estelar, baita representatividade, dedicações estéticas e sonoras à cultura africana muito bem apuradas e fotografia bem bonita. O que peca, pra mim, é a montagem acelerada, mas ainda assim é muito superior aos filmes do gênero.
Preferi ver tudo pra poder dar opinião e acho que a série se tratou, na verdade, de um material grandioso mal trabalhado. Dá pra ver que o mote central é o preconceito (que argumento melhor que a questão da mutação? Os quadrinhos inclusive surgiram em alusão às lutas minoritárias). Mas o roteiro não conseguiu dar vazão à essa grandiosidade: todo episódio foi parecido com o outro, seguindo um esquema de debate + solução provável + invade + combate + volta correndo. Por fim, eu me perguntava se a série me reservaria algo diferente. Acabou não reservando. Outros pontos fracos, na minha opinião, aparecem na construção dos personagens. Eles são, em sua maioria, bem rasos, acho que faltaram camadas de personalidade (fiquei a série inteira sem entender qual era a da Sonya e acho que tanta ambiguidade pro Jace Turner o tornou um "vilão" confuso. Gostei das referências ao universo X-Men (o toque no celular do Eclipse com a abertura da série animada <3). E, assim, se eu tivesse detestado, não sairia do primeiro episódio. Mas não terminei com apetite para a segunda temporada.
Junto com o filme, pensei em alguns pontos de abordagem e gostaria de compartilha-los. Na possibilidade de um ou outro spoiler, já adianto aqui que eles, talvez, virão.
1 - O elenco funciona, junto, de maneira magistral. A narrativa é conduzida sem te deixar respirar e é do tipo de obra cujas horas passam em minutos. Frances McDormand tem uma vasta filmografia mas o destaque da atriz neste filme é implacável.
2 - É impressionante como a realidade, principalmente a norte americana, é constantemente criticada e satirizada no filme. A polícia racista e incompetente (apesar dos bons exemplos) trabalhando (ou não) na irresolução da maioria dos crimes (isso é real aqui no Brasil e lá também).
3 - Acho que o filme teve dois pontos muito interessantes que guinaram e transformaram completamente os personagens:
Um deles, menos importante, é o diálogo com o padre. Na minha opinião, ficou claro ali que comete o crime não somente quem puxa o gatilho, mas a sociedade conivente também está sempre manchada de sangue. E é isso que, no final, voltou a aparecer. Não encontraram O estuprador, mas encontraram UM estuprador. E agir de acordo com a consciência talvez não resolva o crime, mas declararia uma reação à injustiça. No caso, a falta de informações do delegado e a premissa de que o rapaz estava em um país "com areias" representa talvez a dominação das tropas americanas nos países guerreados e como os soldados deliberadamente cometem esse tipo de crime
a carta de suicídio do policial. Para Jason Dixon (Sam Rockwell consegue, e muito bem, nos fazer sentir imensa raiva dele e isso só acontece quando o ator desenvolve um bom trabalho), ler aquela carta representaria a mudança na construção do seu caráter e delimita muito das possibilidades dos acontecimentos. Ele se torna participante daquele caso, ele escolhe o amor e, inclusive, se preocupa com a ficha do assassinato, tentando salva-la.
a filha queimada viva, os outdoors pegando fogo, a delegacia de polícia, o medo do policial em acender o isqueiro depois de queimado e as marcas em seu rosto
. E fogo, nas tradições costumeiras dos símbolos e signos, representa a raiva e o ódio. E o filme fala, de maneira realista, sobre isso: a consequência do rancor é mais rancor e a revolta é alimento de mais revolta. Escolher caminhos diferentes, às vezes, é muito mais difícil que parece. Mas eles podem mudar o rumo de uma história.
Corra! faz uso de uma fórmula clichê para fazer um filme absolutamente nada clichê. O filme incomoda e suspende o espectador. É importante e até irônico reconhecer os enormes traços de racismo existentes no comportamento alheio. O filme, com suas analogias - muito bem explicadas por aqui, por sinal - introduz uma força grandiosa, com excelentes atuações.
Greta Gerwig vem demonstrando que a simplicidade é, muitas vezes, o maior trunfo de um roteiro bem elaborado. A história de Lady Bird poderia ser de qualquer pessoa. Andar em territórios comuns não é tarefa fácil.
É curioso ver como a Pixar conseguiu retratar tão magnificamente a família latina. No mundo dos mortos (e até o mundo dos vivos), Miguel busca saber quem é e o que o define. As respostas perpassam as duas dimensões!
Raridade no cinema hollywoodiano, A Forma da Água une cinema e poesia da forma mais linda. É magnífico ver a importância da água no decorrer do filme e como a fluidez dos sentimentos de todos os personagens se fazem tão claras. O filme todo é um mergulho: no afeto, na aceitação, na diferença e na igualdade.
O Som do Silêncio
4.1 986 Assista AgoraO Som do Silêncio aposta na sensibilidade, na empatia e na imersão.
A perda da audição de Ruben leva o protagonista até a tortuosa saga do encontro de si: ele se transforma e tal transformação reverbera na vida de baterista que, após uma surdez súbita, deve ser deixada para trás.
Ruben é acolhido em uma comunidade de deficientes auditivos cuja intenção principal não é ajuda-lo a ouvir novamente, mas torna-lo apto a conviver com a surdez. A partir daí, o embate toma forma interessante - ainda que, na minha opinião, a narrativa tenha sido moldada a partir de uma tratativa irreal do paciente com problemas auditivos -.
O filme apresenta o conflito entre a vida passada e a vida futura com clareza e objetividade mas falta, e muito, desenvolvimento nos personagens coadjuvantes. Por vezes, personagens com grande potencial, ao meu ver, eram desperdiçados com cenas rasas ou com pouco aprofundamento.
Riz Ahmed brilha muito, Paul Raci também. Mas com os olhos na acirrada disputa pelo Oscar, não acredito que O Som do Silêncio levará as estatuetas principais.
Minari - Em Busca da Felicidade
3.9 553 Assista AgoraMinari é um filme leve e natural - como a vida deve ser. A narrativa absoluta apresenta os desafios da vida dos imigrantes, com certa sutileza e com momentos de afago. A dificuldade está concentrada na relação matrimonial conflituosa e nos esforços do pai - é interessante como Steven Yeun constrói um personagem que sempre está carregado de tensão, cuja preocupação se manifesta em pequenos trejeitos, como o modo de segurar o cigarro.
A beleza do filme, no certo, é a mudança de vida a partir do ponto de vista das crianças - com especial menção ao David, lindamente interpretado -, que não entendem bem os porquês das mudanças mas vivem, principalmente com a avó, um relacionamento que foge do comum e, por fugir, se torna real.
Apesar da disputa acirrada ao Oscar deste ano, Minari é uma bela surpresa, como grande parte dos filmes da A24.
Meu Pai
4.4 1,2K Assista AgoraMeu Pai, dirigido por Florian Zeller, é uma bela surpresa. Desde Amor (2013, de Michael Haneke) não houve filme que representasse tão bem a senilidade despida de romanticismo ou emoções simplórias. É um filme complexo, do início ao fim.
A obra é uma adaptação da homônima e premiada peça teatral que o diretor assina. Florian Zeller é um dramaturgo conhecido que estreia sua primeira direção de cinema. Apesar da pouca experiência, há no filme uma bela condução dos atores principais e uma montagem que, em muito, busca o recurso teatral para se fazer entendida.
Talvez, o brilhantismo de Meu Pai seja não somente a bela e natural interpretação da velhice, algo comum à grande parte dos humanos – seja o convívio ou a chegada –, mas também a identificação das histórias que, a depender da interpretação, são vistas de modos diferentes.
Os personagens que moldam os arquétipos e que se relacionam levam, ao espectador, uma experiência de assemelhação, ainda que distantes em proporções continentais. Se esquecer também é um modo de lembrar, Meu Pai se consolida na dolorosa delicadeza da memória.
- falo sobre filmes no site Minha Visão do Cinema e no instagram @rezendeiago
Era Uma Vez um Sonho
3.5 448 Assista AgoraO filme é um relato genuíno e cru do cotidiano de uma família com muitas limitações - um histórico violento que humaniza todos os personagens. A história é verídica mas ainda assim, pode encontrar apenas as superficialidades do problema.
É um drama com atuações memoráveis das atrizes - Amy Adams e Glenn Close - e, esta última, faz jus à entrega minuciosa e atenta de uma avó relembrada na memória afetiva do neto. A narrativa de sucesso é um tanto meritocrática e o filme é atraído pelo clichê.
Ao fim, é um filme de atrizes.
O drama dos problemas estruturais foi, ao menos, um lugar que cedeu espaço para a ótima relação de Amy Adams e Glenn Close que sobressai o trabalho.
Pinóquio
3.1 227 Assista AgoraA saga do indisciplinado menino de madeira esculpido pelo solitário Geppetto chegou aos cinemas do mundo em 1940 pelos estúdios Disney. Desde então, quase não há quem não conheça a fábula italiana.
O filme de Matteo Garrone se distancia de qualquer adaptação dos contos clássicos realizados pela industria cinematográfica contemporânea. Em termos de técnica e de construção narrativa, não é um filme "dos nossos tempos". Tal premissa, no entanto, não é negativa.
Diante da abundância de remakes com roteiro supérfluo, exagero no CGI e efeitos especiais dispensáveis, Pinóquio (2021) toma a contramão. É um filme de escolhas simples, mas bem executadas. O cenário, de modo geral, valoriza a paisagem italiana. As escolhas das cores frias e monótonas para o vilarejo e as cenas de interior contrastam com os personagens, que possuem existência literalmente fabulosa.
A fábula, por conceito, caracteriza o conto no qual os personagens são animais humanizados. Na escrita fabulosa, o objetivo é transmitir uma lição de moral. Garrone nada de braçada no gênero – o diretor também assina O Conto dos Contos (2015), baseado na obra de Pentamerão –.
Na narrativa, Pinóquio (Federico Ielapi) demonstra ingenuidade e bom coração, virtudes ofuscadas pelo seu anseio de conhecer o mundo. É assim que ele deixa Geppetto (Roberto Benigni) e parte para aventuras em um quase road movie. O personagem é ajudado e prejudicado pelos seres que encontra em seu percurso.
Assim como no realismo mágico, a existência dos personagens animalescos nunca é questionada. O espectador deve fazer um pacto de fantasia com o filme. A transformação dos atores nos seres fantásticos é deslumbrante. Em muito, maquiagem e figurino remetem ao teatro de rua tipicamente italiano e também ao cinema antigo.
O filme, que acerta esteticamente, em dado momento se arrasta. A cômica interpretação de Geppetto, vivido pelo vencedor do Oscar Roberto Benigni, é um ponto alto da trama. O ator já interpretou Pinóquio em um filme de 2002 e, aqui, esbanja naturalidade, embora tenha pouco tempo de cena.
Se pela técnica o filme se faz nostálgico, a narrativa é construída de modo mais lento e sombrio: Pinóquio é enforcado, queimado e afogado. A Itália de Garrone também parece sofrer com a pobreza e injustiça.
Em suma, Pinóquio retoma a história atemporal sem necessariamente adaptá-la para o mundo contemporâneo. Certamente, a obra tem seu diferencial e se sobressai no hall das inúmeras releituras dos filmes clássicos.
Escrevo sobre cinema no site @minhavisãodocinema e no instagram @rezendeiago
A Despedida
4.0 298"The Farewell" é um filme muito honesto com o espectador. Primeiro, há o deleite com a mise en scène muito bem construída. Os objetos, todos, importam. A transição Estados Unidos - China é percebida na mobília e as cores, então, retratam algo tão distante e tão próximo. O kitsch da classe média e a relação conturbada e próxima que existe quando uma família grande se reúne é algo que não é tão diferente na minha casa quanto é na trama.
Vem daí o grande acerto da direção e do roteiro tragicômico de Lulu Wang, que certamente vou passar a seguir: distância e proximidade. A relação entre neta - interpretada de modo brilhante pela Awkwafina - e avó atinge um grau lindo, elas guardam algo especial apresentado no decorrer do filme mas, em especial,
uma cena me emocionou muito: quando todos estão diante do túmulo do avô, Billi e Nai Nai se curvam no mesmo compasso, ao passo que os outros não.
Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica
3.9 662 Assista AgoraO filme carrega um argumento mediano para abordar um tema com muita responsabilidade e delicadeza. A ausência da referência paterna é algo que, como "Dois Irmãos" mostra, não pode ser resolvida com mágica. É fruto de muito esforço, de memória e de atenção carinhosa ao que resta.
É delicioso o modo como Barley deposita esperança em Ian, ele acredita no irmão e confia no talento e no potencial dele. Pra mim, o caso do Ian é o contrário, ele precisava compreender que o irmão não era um atrapalhado, mas sim toda a sua referência de vida
Jojo Rabbit
4.2 1,6K Assista AgoraJojo Rabbit é a sátira não ao modelo nazista, mas à propaganda.
Os cartazes, as motivações e os rumores crescem na medida exata do filme. É um modo de compreender a imbecilização da causa e que, para que ela atinja mesmo todas as pessoas, é mesmo necessário que ela seja absurda.
Nós vivemos em tempos de caos (não sei se já deixamos de viver), mas o filme alerta também sobre a irreal capacidade de subtração do outro contida no discurso lunático. E o discurso funciona. Por ser irreal. Tem funcionado até hoje.
Taika Waititi ri do protocolo, mas alerta o que há também medo no riso.
Como Treinar o Seu Dragão 3
4.0 498 Assista AgoraCrescer, de certa forma, é isso: deixar ir.
Que jeito lindo de encerrar um ciclo.
The Politician (1ª Temporada)
3.7 115The Politician é mais uma série que exibe os atributos de Ryan Murphy:
sua função catalisadora e o modo surpreendente com o qual ele consegue reunir um elenco tão diverso e excelente para o pastiche; as ideias absurdas que, em seu universo, são compostas por diálogos longos e pelo carisma de cada personagem.
O elenco, de peso, é natural em frente da câmera - com exceção de Ben Platt, veterano dos musicais que, na minha opinião, exagera em gestos -.
Mas há pouca solidez na narrativa: ainda que o arco se desenvolva na figura de Taylor (interpretado por Ben Platt), a trama não parece se preocupar com um bom desfecho das histórias paralelas, por vezes mais interessantes que as principais: um ótimo arco foi fechado ainda no primeiro episódio.
Outro ponto curioso é a estrutura da série que, em seus oito episódios, deixa o desfecho para o penúltimo para iniciar, de forma simbólica, a segunda temporada no episódio finale.
A questão é: o casting excelente dará conta de sustentar as próximas temporadas?
Benzinho
3.9 348 Assista AgoraNão é incomum, no espectador, buscar algo de si no cinema. E menos incomum ainda é o quanto os artistas deixam um tanto de si, justamente para que as pessoas tenham o que buscar.
E, nesse jogo de dar e de tomar, também se tornam raros os momentos de puro assombro, em que o comportamento humano é desenhado com tanta naturalidade. Assisti Benzinho duvidando do texto decorado. Era tamanha a naturalidade do diálogo e dos reflexos dos atores que, no decorrer da trama, viajava para as minhas próprias referências, da coragem - por vezes, até abrutalhada - da família e de afeto.
Não que Benzinho seja bom "por ser bom". É bom "por ser a gente".
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraParece que o elo narrativo que tece Midsommar se concentra na (não unânime) experiência do espectador, que passa a integrar as sensações experimentadas em cena. O filme tem início na escuridão, com um cenário que, há décadas, valoriza o gênero do horror: noite, neve e solidão.
Já com a chegada no campo diurno, Ari Aster desenha o medo nas relações pacíficas. A estética alucinógena é bem trabalhada e dialoga com a beleza conflitante daquele paraíso controverso. Assim, a sensação de inquietude é bem aplicada em todos os recursos: da respiração ofegante muito bem interpretada de Florence Pugh aos movimentos de câmera, que por vezes invertem e nauseiam o olhar.
O diálogo central se baseia nas relações entre o contato entre homem e natureza. De início, se torna prazeroso assimilar a relação de simbiose que, depois incomoda ao notar até a movimentação ininterrupta das flores.
Os jogos morais e éticos dos personagens são desenvolvidos da mesma maneira com a qual a trama se desenvolve com a natureza: a pacificidade se torna o algoz do desfecho. Há, no entanto, um fato curioso na trama:
não parece haver crueldade.
Mas uma resposta do coletivo que ainda pretende se manter firme.
Years and Years
4.5 270.
Eu ia fazer um poema para você
mas me falaram das crueldades
nas colônias inglesas
e o poema não saiu
ia falar do seu corpo
de suas mãos
amada
quando soube que a polícia espancou um companheiro
e o poema não saiu
ia falar em canções
no belo da natureza
nos jardins
nas flores
quando falaram-me em guerra
e o poema não saiu
perdão amada
por não ter construído o seu poema
amanhã esse poema sairá
esperemos.
Solano Trindade
A Tabacaria
3.4 31A obra A Tabacaria, filme mais recente do austríaco Nikolaus Leytner, narra a história de Franz, um jovem de 17 anos, interpretado por Simon Morzé. O ator parece controlar bem o personagem, chegado do interior na capital austríaca para trabalhar em uma tabacaria, a pedido da mãe. Em Viena, Franz passa a conhecer os personagens, incluindo Freud, trabalhados em individualidades específicas que os fazem procurar sabores distintos no estabelecimento de seu patrão, um veterano de guerra desabilitado. Seu bem mais valioso? Um pacote de charutos cubanos, cuidadosamente zelados.
Fiz uma crítica completa no Minha Visão do Cinema. Se interessar, corre lá! :)
A Esposa
3.8 557 Assista AgoraGlenn Close constrói uma personagem sólida e sem pontas soltas. A firmeza da relação entre ela e Jonathan Pryce, que também veste o papel com muita sintonia, faz da dedicação e da atenção, apresentadas no início, elementos diminutos do relacionamento abusivo.
O filme inicia com os dois, pulando na cama, onde Joe diz: Eu ganhei o Nobel, em primeira pessoa, e Joan parece ficar um pouco triste. Na cena que rememora o passado, com os dois sobre a cama, também pulando, a mensagem era: nós seremos publicados.
Por detrás de uma dita sintonia, existe esquecimento e negação para que uma das forças prevaleça.
O Rei do Show
3.9 897 Assista AgoraGosto tanto de filmes musicais que senti um certo pesar em não ter adorado o filme. Acontece que nem um elenco estelar e belas interpretações conseguem mascarar o roteiro precário e o quão rasos foram os personagens. Me emocionei muito mais no vídeo de ensaio, em que Keala interpreta This is Me magnificamente, que no vídeo. A personagem (e todos os outros "freaks") tiveram uma abordagem muito simplória. Não houve como simpatizar com quem mal aparece e quase não tem diálogo. Outro ponto que me incomodou bastante foi que as músicas, todas, são demasiadamente pop. Na apresentação de Jenny Lind, retratada pela Rebecca Ferguson como a mais conhecida e exuberante cantora de ópera na Europa, me espantou, justamente, inserirem uma música com pegada contemporânea, sem oferecer possibilidades de alcances vocais mais altos e nada condizente com a estrutura daquela personagem: de força, nobreza e sutileza (a princesa que uma das filhas de P. T. havia dito que ela se parecia). Mas, ainda assim, torço para que o gênero musical seja cada vez mais abordado nas produções hollywoodianas, a gente merece!
Tengen Toppa Gurren Lagann
4.2 53Row row fight the powah
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraElenco estelar, baita representatividade, dedicações estéticas e sonoras à cultura africana muito bem apuradas e fotografia bem bonita. O que peca, pra mim, é a montagem acelerada, mas ainda assim é muito superior aos filmes do gênero.
The Gifted: Os Mutantes (1ª Temporada)
3.8 115 Assista AgoraPreferi ver tudo pra poder dar opinião e acho que a série se tratou, na verdade, de um material grandioso mal trabalhado. Dá pra ver que o mote central é o preconceito (que argumento melhor que a questão da mutação? Os quadrinhos inclusive surgiram em alusão às lutas minoritárias). Mas o roteiro não conseguiu dar vazão à essa grandiosidade: todo episódio foi parecido com o outro, seguindo um esquema de debate + solução provável + invade + combate + volta correndo. Por fim, eu me perguntava se a série me reservaria algo diferente. Acabou não reservando. Outros pontos fracos, na minha opinião, aparecem na construção dos personagens. Eles são, em sua maioria, bem rasos, acho que faltaram camadas de personalidade (fiquei a série inteira sem entender qual era a da Sonya e acho que tanta ambiguidade pro Jace Turner o tornou um "vilão" confuso. Gostei das referências ao universo X-Men (o toque no celular do Eclipse com a abertura da série animada <3). E, assim, se eu tivesse detestado, não sairia do primeiro episódio. Mas não terminei com apetite para a segunda temporada.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraJunto com o filme, pensei em alguns pontos de abordagem e gostaria de compartilha-los. Na possibilidade de um ou outro spoiler, já adianto aqui que eles, talvez, virão.
1 - O elenco funciona, junto, de maneira magistral. A narrativa é conduzida sem te deixar respirar e é do tipo de obra cujas horas passam em minutos. Frances McDormand tem uma vasta filmografia mas o destaque da atriz neste filme é implacável.
2 - É impressionante como a realidade, principalmente a norte americana, é constantemente criticada e satirizada no filme. A polícia racista e incompetente (apesar dos bons exemplos) trabalhando (ou não) na irresolução da maioria dos crimes (isso é real aqui no Brasil e lá também).
3 - Acho que o filme teve dois pontos muito interessantes que guinaram e transformaram completamente os personagens:
Um deles, menos importante, é o diálogo com o padre. Na minha opinião, ficou claro ali que comete o crime não somente quem puxa o gatilho, mas a sociedade conivente também está sempre manchada de sangue. E é isso que, no final, voltou a aparecer. Não encontraram O estuprador, mas encontraram UM estuprador. E agir de acordo com a consciência talvez não resolva o crime, mas declararia uma reação à injustiça. No caso, a falta de informações do delegado e a premissa de que o rapaz estava em um país "com areias" representa talvez a dominação das tropas americanas nos países guerreados e como os soldados deliberadamente cometem esse tipo de crime
4 - Outro ponto de guinada:
a carta de suicídio do policial. Para Jason Dixon (Sam Rockwell consegue, e muito bem, nos fazer sentir imensa raiva dele e isso só acontece quando o ator desenvolve um bom trabalho), ler aquela carta representaria a mudança na construção do seu caráter e delimita muito das possibilidades dos acontecimentos. Ele se torna participante daquele caso, ele escolhe o amor e, inclusive, se preocupa com a ficha do assassinato, tentando salva-la.
5 - O filme começa, perdura e termina em fogo:
a filha queimada viva, os outdoors pegando fogo, a delegacia de polícia, o medo do policial em acender o isqueiro depois de queimado e as marcas em seu rosto
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraCorra! faz uso de uma fórmula clichê para fazer um filme absolutamente nada clichê. O filme incomoda e suspende o espectador. É importante e até irônico reconhecer os enormes traços de racismo existentes no comportamento alheio. O filme, com suas analogias - muito bem explicadas por aqui, por sinal - introduz uma força grandiosa, com excelentes atuações.
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraGreta Gerwig vem demonstrando que a simplicidade é, muitas vezes, o maior trunfo de um roteiro bem elaborado. A história de Lady Bird poderia ser de qualquer pessoa. Andar em territórios comuns não é tarefa fácil.
Viva: A Vida é Uma Festa
4.5 2,5K Assista AgoraÉ curioso ver como a Pixar conseguiu retratar tão magnificamente a família latina. No mundo dos mortos (e até o mundo dos vivos), Miguel busca saber quem é e o que o define. As respostas perpassam as duas dimensões!
A Forma da Água
3.9 2,7KRaridade no cinema hollywoodiano, A Forma da Água une cinema e poesia da forma mais linda. É magnífico ver a importância da água no decorrer do filme e como a fluidez dos sentimentos de todos os personagens se fazem tão claras. O filme todo é um mergulho: no afeto, na aceitação, na diferença e na igualdade.