Uma atmosfera de horror focada no puro thriller e na dualidade de uma mulher que, pouco a pouco, perde sua sanidade. E o resultado é impressionante. Estou atordoado.
O casal Rosemarey (Mia Farrow) e Guy Woodhouse (John Cassavetes) se mudam para um prédio que os vizinhos são estranhos e coisas estranhas acontecem. Quando grávida, Rosemary começa a ter estranhas alucinações e percebe que há uma conspiração contra ela para seqüestrar seu bebê. Ou essa conspiração seria resultado de sua insanidade?
O roteiro de Roman Polanski não apressa o desenvolvimento da trama. O que pode ser um problema para alguns por deixar o ritmo do filme lento, mas eu considero ideal. Porque a direção ligada ao projeto de produção, cinematografia, trilha sonora e performances, geram uma sensação de perigo constante e crescente. Isso é incrivelmente assustador. Por causa disto, o arco de Rosemary saindo da lucidez e indo para uma provável insanidade é intenso e perturbador. A atriz Mia Farrow expressou inocência e insegurança, mas com absurdo cuidado parental. A transição entre sanidade e loucura é orgânica. O elenco de apoio, especialmente Ruth Gordon (que dá vida à vizinha Minnie Castevet), dá um show real. Minnie com sua personalidade irritante, intrometida e aparentemente cuidadosa, nos deixa sempre questionando sobre o que realmente está acontecendo. E indo em contrapartida a sustos, sangue e exposição de monstros bizarros que vemos na maioria dos filmes de terror, Polanski constrói o horror baseado em detalhes. Cada diálogo, uma pista. Cada plano, uma metáfora visual. Em cada cena, a loucura de Rosemary é maior. E ainda no primeiro terço do filme, quando finalmente mostra algo que não é um detalhe, a nuance entre a realidade e o estado de sonho do protagonista nos deixam confusos. E isso só funciona porque vemos o filme do ponto de vista de Rosemary. Num momento do filme, pensamos: "Isto é definitivamente real." Mas como dizer isso se nós apenas observamos o ponto de vista de Rose? Ela poderia estar perfeitamente alucinando.
Rosemary's Baby é um filme que transcende o gênero, a sutileza e a dualidade empregada aqui por Polanski eleva o filme para um nível artístico raro em filmes de terror. Um filme que deve ser visto por todo cinéfilo.
Algumas pessoas reclamam do filme focar mais na relação entre os protagonistas do que em como Stephen desenvolveu suas brilhantes teorias. Entretanto, tendo em vista que o filme foi baseado na obra Travelling to Infinity: My Life with Stephen, onde Jane descreve seu relacionamento com o Stephen, acredito que ele foca exatamente onde deveria. Já como esse relacionamento é mostrado ao longo do filme é que me desaponta. O filme não deixa de ser um bom romance, mas é genérico. Além de se acovardar em momentos chaves da trama onde poderia se destacar. Como quando entram em cena os personagens Elaine Mason eJonathan Jones, vividos por Maxine Peake e Charlie Cox, respectivamente. Eles representam uma espécie de desejo natural de "traição" nos protagonistas que não são bem desenvolvidos. Fica implícito que pode ter acontecido algo a mais ali mas o filme não quis polemizar. As atuações do Eddie Redmayne e da Felicity Jones merecem todas ovações que tiveram. Eddie simplesmente é o Stephen e a Felicity trouxa uma força à personagem Jane que me cativou ao extremo. Agora eu quero um filme sobre a Jane e seu PhD em poesia Espanhola Medieval! A Teoria de Tudo é um filme que não correu riscos porque escolheu não desenvolver alguns temas que poderiam ser polêmicos e que poderiam desconstruir o gênero, por isso é um romance genérico. Mas ele triunfa nas agrandes interpretações de Eddie Redmayne e Felicity Jones e no difícil relacionamento deles. Nota: 7.4/10
Filme que retrata de forma real a violência e o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, durante as décadas de 1960, 1970 e 1980 e com personagens memoráveis, como: Buscapé, Zé Pequeno, Mané Galinha e Bené. Esse é o Cidade de Deus, de Fernando Meireles e Kátia Lund. Filme que não só considero como um dos mais importantes do século XXI, mas também como o melhor filme brasileiro que já vi.
Graças aos grandes profissionais que conseguiram trabalhar simultaneamente nesta obra, Cidade de Deus é um filme perfeito. Roteiro, cinematografia, som, design de produção, figurino, edição, direção e atuação. Tudo funciona de forma magnífica aqui.
O roteiro de Bráulio Mantovani é audacioso contando várias histórias em diferentes épocas da comunidade que dão o sentido principal ao filme. Ele não alivia na violência e na dura realidade. Como na cena que Zé Pequeno (SPOILER ALERT) manda um "pequeno soldado" de sua gangue, Filé com Fritas, matar a sangue frio outra criança do grupo da Caixa Baixa. Uma das cenas mais violentas da história do cinema. Dirigida com perfeição por Meireles, que nos deixa aflitos, angustiados, incomodados, chocados. Existem alguns decisivos alívios cômicos no filme, com o próprio Zé Pequeno e no os momentos coming-of-age de Buscapé e de Bené, este último considerado o bandido mais gente boa da favela - o que nos faz sentir empatia por ele, mesmo sendo um bandido. Os alívios são pontos inteligentíssimos do roteiro e direção, porque tira um pouco do choque do telespectador e o mantém entretido e sempre com bom conteúdo.
A reflexão e crítica social também é presente na obra: O interesse político na construção da favela, baseada na periferização e desigualdade social; A corrupção policial e o papel da impressa no desenvolvimento e manutenção do tráfico de drogas; Além do estímulo constante que o jovem sofre para entrar no mundo do tráfico em contrapartida com a pobre perspectiva de ascensão com uma vida honesta.
E o que parece trivial, merece ser mencionado: Impressionante como as características técnicas visuais e sonoras são belas e eficientes complementos para tratar todas essas temáticas. Os destaques ficam para cinematografia de César Charlone que foi arquitetada com a dificuldade de trabalhar com atores não-profissionais e diferindo no passar das décadas mostradas no filme, como também na trilha sonora, que conta com grandes nomes artísticos do Brasil: Cartola, Raul Seixas e Tim Maia.
A decisão de trabalhar com atores não profissionais foi para que o espectador se relacionasse diretamente com os personagens, sem filtros estabelecidos devido o ator. Essencial para proporcionar uma experiência extremamente imersiva - a maioria do elenco veio de comunidades carentes do Rio de Janeiro.
Tudo isso dá uma consistência absurda à mise-en-scène, que é o grande trunfo de Cidade de Deus. Não à toa, o filme foi indicado a quatro Oscar e é considerado um dos maiores injustiçados da história do Prêmio da Academia, não sendo nem indicado na categoria melhor filme de língua estrangeira - onde era o principal favorito.
Quando foi lançado, há mais de 10 anos, foi o filme certo no momento certo. Lançado em meio a uma das maiores crises de violência da história do Brasil - como disse o crítico Pablo Villaça. Mais de uma década depois, a situação não evoluiu. A maioria das políticas públicas de "segurança" implantadas no Brasil parece ter o interesse de manutenção política do poder, o que mais nos aproxima do caos do que da equidade social, assim como em Cidade de Deus.
E é poético como um filme que traz "Deus" em seu nome, tornou-se uma visão desesperançosa, funesta e assustadoramente real do atual Brasil
Embora não seja perfeito, o filme tem personagens muito bem construídos, com seus demônios e sonhos internos, que nos fazem refletir sobre a vida, sobre os jovens. Todos buscando viver da arte. O filme acontece no auge da ditadura militar brasileira, o que é, por sinal, a única coisa temporal no filme. No demais, todos nós podemos ter nos identificado, estarmos nos identificando ou vamos nos identificar com alguma situação representada ali.
Absolutamente lindo, poético e poderoso. Esse é o Léo e Bia.
A obra-prima do cineasta Alfonso Cuarón é também a melhor ficção científica do século XXI.
A premissa de Children of Men é simples, porém interessante: O ano é 2027 e a humanidade enfrenta uma infertilidade mundial de causas desconhecidas. O que leva a inquietação social, violência, caos e o colapso da sociedade.
O trabalho de roteirização, livremente adaptado do romance The Children of Men, da escritora P. D. James, que Alfonso Cuarón et al. desenvolve, é brilhante. O roteiro é preciso no que mostra ao visualizador. Dando importância aos diálogos e relações de personagens e sabendo deixar espaço para as sequências de ação. Pontos como terrorismo, imigração e totalitarismo político são demonstrados e desenvolvidos sem a necessidade de diálogos, graças ao trabalho de direção de arte e figurino, tudo é de suma importância para para a trama. Isso gera uma sensação de equilíbrio, que de forma orgânica e fluida, nos leva a uma constante instiga sobre o filme.
O trabalho de direção de arte do filme é brilhante. O mundo criado para ser um pessimista 2027 passa uma sensação agoniante de verossimilidade. Da pobreza e violência extrema que são perdominantes, aos poucos momentos ostentação e minuciosidades tecnológicas na casa do ministro. A pobreza e violência incomoda muito, muito, muito. A riqueza de detalhes representadas é incrível e crível, e o fato de sabermos que o retrato do filme não é distante da dura realidade atual é de partir o coração. Os “peixes”, imigrantes ilegais que são perseguidos por um sistema político totalitário, mesmo que involuntariamente, lembram a crise da imigração europeia que começou em 2015. - Creio que poucos filmes serão capazes de retratar de forma mais palpável essa condição.
E o que falar sobre a direção de Alfonso Cuarón? Ele é perfeito; Planos sequências absurdamente verossímeis; Tomadas com câmera na mão que dão caráter documental ao filme quando preciso; Trabalho de movimentação de câmera que realça as interações do personagem. Os planos sequências são os pontos altos do filme. Temos a inovadora cena dentro do carro e a cena do resgate do prédio. Ambas memoráveis, brilhantemente executadas e enfatizam o mundo criado para o filme. O fato de não haver sensação de corte faz você imergir na cena, sentir-se parte dela. - Ficar tenso, sofrer e aliviar-se junto com os personagens. E se a direção de arte e direção funcionam tão bem, muito é por causa da sinergia com a fotografia de Emmanuel Lubezki. Além de ser essencial nos planos sequência, ela tem uma beleza abstrata e um realismo poético que impressionam. - É eficiência e lirismo cinematográfico, pura arte.
Quase dez anos após seu lançamento, o mal recebido Children of Men tornou-se uma obra profética e imperdível. É um filme sobre o século XXI; políticas onerosas e egoístas, ultraconservadorismo, extremismo religioso/terrorismo. Sem nunca deixar o lado humano dos personagens que dá sentido a tudo. O tipo de ficção científica que devíamos ter com mais frequência.
É uma obra para ser contemplada; que questiona e intriga. Irretocável do início ao fim.
Mad Max: Estrada da Fúria foi um dos melhores filmes de 2015. E um dos melhores filmes de ação de todos os tempos. Seu roteiro é simples, mas é apresenta uma discussão concisa e completa sobre valores da sociedade contemporânea. A direção do idealizador George Miller, com efeitos especiais analógicos que prioriza uma ópera visual maravilhosa ao invés de diálogo, é magistral. Você compreender e sente a subjetividade do filme pelo que vê, não pelo que escuta. Terminando de assistir Mad Max: Estrada da Fúria você sabe exatamente o que é: um clássico
Mais uma obra-prima do realizador Paul Thomas Anderson.
Foi baseado no livro Petróleo! (1927), do escritor Upton Sinclair, que o próprio Anderson escreveu o roteiro desse longa, que conta a história de Daniel Plainview (Day-Lewis), um garimpeiro que tornou-se rico após encontrar e perfurar poços de petróleo, no início do século XX.
Roteiro esse, por sinal, muito bem escrito e preciso. Mostrando mais de 30 anos da vida de Daniel, como não se pode colocar 30 anos detalhados em um longa de duas horas e meia, Anderson procurou expor momentos chaves da vida do protagonista, e dá certo. Essas sequências chaves que o filme mostra funcionam de maneira brilhante isoladamente, e embora falte um pouco de fluidez em algumas transições, isso não compromete a qualidade final do filme. Ele continua ótimo.
Daniel Plainview desenvolve relações remetentes às temáticas que Anderson gosta de trabalhar em seus filmes; a família, o acaso, religião, ascendência e decadência pessoal e, nesse filme, destaca-se a cobiça. Como elementos de apresentação e propulsão às temáticas, temos: a vila que transforma-se em um cidade próspera, o seu filho e seu irmão que desenvolvem sentimentos importantes no protagonista. Mas sem dúvida, a mais interessante de todas as relações é com Eli Sunday (Paul Dano), jovem religioso que denomina-se profeta. O conflito de interesses entre os dois personagens é notável e a culminância da relação entre os dois é impagável. Eles trazem as melhores cenas do filme. - Com duas cenas que estão entre as melhores que já vi.
A atuação de Day-Lewis é uma das melhores da história do cinema, e me fez refletir: será ele é o melhor ator de sua geração?
Os aspectos técnicos do longa também impressionam, direção de arte, trilha sonora, edição, o destaque aqui fica para a fotografia. É absolutamente linda, ressalta a beleza que há em uma terra semi-árida, além dos pontos positivos e negativos no processo de extração de petróleo do início do século XX. Todas essas questões técnicas estão bem equilibradas com a história e desenvolvimento do filme, nunca tomando o protagonismo do que é mais importante em um filme: contar uma boa história, de uma boa forma. - Aqui fica uma cutucada no Iñárritu, que não soube deixar seu épico, O Regresso, equilibrado entre os aspectos técnicos e desenvolvimento da trama.
There Will Be Blood é belo, questionador, visceral e definitivamente imperdível. O melhor épico do século, até então.
Steve McQueen realiza um filme poderoso. Você sente o turbilhão de sentimentos que o protagonista Brandon sofre graças aos quadros fechados de Steve McQueen, que chegam a ser claustrofóbicos. E ao talentoso de Michael Fassbender, com uma atuação que beira a perfeição. Essa atuação eleva o nível do filme e torna o ciclo auto-destrutivo inimaginável de Brandon em algo verossímil.
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O Bebê de Rosemary
3.9 1,9K Assista Agora"ELE TEM OS OLHOS DO PAI."
Uma atmosfera de horror focada no puro thriller e na dualidade de uma mulher que, pouco a pouco, perde sua sanidade. E o resultado é impressionante. Estou atordoado.
O casal Rosemarey (Mia Farrow) e Guy Woodhouse (John Cassavetes) se mudam para um prédio que os vizinhos são estranhos e coisas estranhas acontecem. Quando grávida, Rosemary começa a ter estranhas alucinações e percebe que há uma conspiração contra ela para seqüestrar seu bebê. Ou essa conspiração seria resultado de sua insanidade?
O roteiro de Roman Polanski não apressa o desenvolvimento da trama. O que pode ser um problema para alguns por deixar o ritmo do filme lento, mas eu considero ideal. Porque a direção ligada ao projeto de produção, cinematografia, trilha sonora e performances, geram uma sensação de perigo constante e crescente. Isso é incrivelmente assustador.
Por causa disto, o arco de Rosemary saindo da lucidez e indo para uma provável insanidade é intenso e perturbador. A atriz Mia Farrow expressou inocência e insegurança, mas com absurdo cuidado parental. A transição entre sanidade e loucura é orgânica. O elenco de apoio, especialmente Ruth Gordon (que dá vida à vizinha Minnie Castevet), dá um show real. Minnie com sua personalidade irritante, intrometida e aparentemente cuidadosa, nos deixa sempre questionando sobre o que realmente está acontecendo.
E indo em contrapartida a sustos, sangue e exposição de monstros bizarros que vemos na maioria dos filmes de terror, Polanski constrói o horror baseado em detalhes. Cada diálogo, uma pista. Cada plano, uma metáfora visual. Em cada cena, a loucura de Rosemary é maior.
E ainda no primeiro terço do filme, quando finalmente mostra algo que não é um detalhe, a nuance entre a realidade e o estado de sonho do protagonista nos deixam confusos.
E isso só funciona porque vemos o filme do ponto de vista de Rosemary. Num momento do filme, pensamos: "Isto é definitivamente real." Mas como dizer isso se nós apenas observamos o ponto de vista de Rose? Ela poderia estar perfeitamente alucinando.
Rosemary's Baby é um filme que transcende o gênero, a sutileza e a dualidade empregada aqui por Polanski eleva o filme para um nível artístico raro em filmes de terror. Um filme que deve ser visto por todo cinéfilo.
A Teoria de Tudo
4.1 3,4K Assista AgoraAlgumas pessoas reclamam do filme focar mais na relação entre os protagonistas do que em como Stephen desenvolveu suas brilhantes teorias. Entretanto, tendo em vista que o filme foi baseado na obra Travelling to Infinity: My Life with Stephen, onde Jane descreve seu relacionamento com o Stephen, acredito que ele foca exatamente onde deveria.
Já como esse relacionamento é mostrado ao longo do filme é que me desaponta. O filme não deixa de ser um bom romance, mas é genérico. Além de se acovardar em momentos chaves da trama onde poderia se destacar. Como quando entram em cena os personagens Elaine Mason eJonathan Jones, vividos por Maxine Peake e Charlie Cox, respectivamente. Eles representam uma espécie de desejo natural de "traição" nos protagonistas que não são bem desenvolvidos. Fica implícito que pode ter acontecido algo a mais ali mas o filme não quis polemizar.
As atuações do Eddie Redmayne e da Felicity Jones merecem todas ovações que tiveram. Eddie simplesmente é o Stephen e a Felicity trouxa uma força à personagem Jane que me cativou ao extremo. Agora eu quero um filme sobre a Jane e seu PhD em poesia Espanhola Medieval!
A Teoria de Tudo é um filme que não correu riscos porque escolheu não desenvolver alguns temas que poderiam ser polêmicos e que poderiam desconstruir o gênero, por isso é um romance genérico. Mas ele triunfa nas agrandes interpretações de Eddie Redmayne e Felicity Jones e no difícil relacionamento deles. Nota: 7.4/10
Cidade de Deus
4.2 1,8K Assista AgoraVIOLENTO. CÔMICO. DRAMÁTICO. POLÍTICO. MAGISTRAL.
100/100
Filme que retrata de forma real a violência e o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, durante as décadas de 1960, 1970 e 1980 e com personagens memoráveis, como: Buscapé, Zé Pequeno, Mané Galinha e Bené. Esse é o Cidade de Deus, de Fernando Meireles e Kátia Lund. Filme que não só considero como um dos mais importantes do século XXI, mas também como o melhor filme brasileiro que já vi.
Graças aos grandes profissionais que conseguiram trabalhar simultaneamente nesta obra, Cidade de Deus é um filme perfeito. Roteiro, cinematografia, som, design de produção, figurino, edição, direção e atuação. Tudo funciona de forma magnífica aqui.
O roteiro de Bráulio Mantovani é audacioso contando várias histórias em diferentes épocas da comunidade que dão o sentido principal ao filme. Ele não alivia na violência e na dura realidade. Como na cena que Zé Pequeno (SPOILER ALERT) manda um "pequeno soldado" de sua gangue, Filé com Fritas, matar a sangue frio outra criança do grupo da Caixa Baixa. Uma das cenas mais violentas da história do cinema. Dirigida com perfeição por Meireles, que nos deixa aflitos, angustiados, incomodados, chocados.
Existem alguns decisivos alívios cômicos no filme, com o próprio Zé Pequeno e no os momentos coming-of-age de Buscapé e de Bené, este último considerado o bandido mais gente boa da favela - o que nos faz sentir empatia por ele, mesmo sendo um bandido. Os alívios são pontos inteligentíssimos do roteiro e direção, porque tira um pouco do choque do telespectador e o mantém entretido e sempre com bom conteúdo.
A reflexão e crítica social também é presente na obra: O interesse político na construção da favela, baseada na periferização e desigualdade social; A corrupção policial e o papel da impressa no desenvolvimento e manutenção do tráfico de drogas; Além do estímulo constante que o jovem sofre para entrar no mundo do tráfico em contrapartida com a pobre perspectiva de ascensão com uma vida honesta.
E o que parece trivial, merece ser mencionado: Impressionante como as características técnicas visuais e sonoras são belas e eficientes complementos para tratar todas essas temáticas. Os destaques ficam para cinematografia de César Charlone que foi arquitetada com a dificuldade de trabalhar com atores não-profissionais e diferindo no passar das décadas mostradas no filme, como também na trilha sonora, que conta com grandes nomes artísticos do Brasil: Cartola, Raul Seixas e Tim Maia.
A decisão de trabalhar com atores não profissionais foi para que o espectador se relacionasse diretamente com os personagens, sem filtros estabelecidos devido o ator. Essencial para proporcionar uma experiência extremamente imersiva - a maioria do elenco veio de comunidades carentes do Rio de Janeiro.
Tudo isso dá uma consistência absurda à mise-en-scène, que é o grande trunfo de Cidade de Deus. Não à toa, o filme foi indicado a quatro Oscar e é considerado um dos maiores injustiçados da história do Prêmio da Academia, não sendo nem indicado na categoria melhor filme de língua estrangeira - onde era o principal favorito.
Quando foi lançado, há mais de 10 anos, foi o filme certo no momento certo. Lançado em meio a uma das maiores crises de violência da história do Brasil - como disse o crítico Pablo Villaça. Mais de uma década depois, a situação não evoluiu. A maioria das políticas públicas de "segurança" implantadas no Brasil parece ter o interesse de manutenção política do poder, o que mais nos aproxima do caos do que da equidade social, assim como em Cidade de Deus.
E é poético como um filme que traz "Deus" em seu nome, tornou-se uma visão desesperançosa, funesta e assustadoramente real do atual Brasil
Léo e Bia
4.2 146Uma peça de teatro com cortes de cinema.
Embora não seja perfeito, o filme tem personagens muito bem construídos, com seus demônios e sonhos internos, que nos fazem refletir sobre a vida, sobre os jovens. Todos buscando viver da arte. O filme acontece no auge da ditadura militar brasileira, o que é, por sinal, a única coisa temporal no filme. No demais, todos nós podemos ter nos identificado, estarmos nos identificando ou vamos nos identificar com alguma situação representada ali.
Absolutamente lindo, poético e poderoso. Esse é o Léo e Bia.
Filhos da Esperança
3.9 940 Assista AgoraA obra-prima do cineasta Alfonso Cuarón é também a melhor ficção científica do século XXI.
A premissa de Children of Men é simples, porém interessante: O ano é 2027 e a humanidade enfrenta uma infertilidade mundial de causas desconhecidas. O que leva a inquietação social, violência, caos e o colapso da sociedade.
O trabalho de roteirização, livremente adaptado do romance The Children of Men, da escritora P. D. James, que Alfonso Cuarón et al. desenvolve, é brilhante. O roteiro é preciso no que mostra ao visualizador. Dando importância aos diálogos e relações de personagens e sabendo deixar espaço para as sequências de ação.
Pontos como terrorismo, imigração e totalitarismo político são demonstrados e desenvolvidos sem a necessidade de diálogos, graças ao trabalho de direção de arte e figurino, tudo é de suma importância para para a trama. Isso gera uma sensação de equilíbrio, que de forma orgânica e fluida, nos leva a uma constante instiga sobre o filme.
O trabalho de direção de arte do filme é brilhante. O mundo criado para ser um pessimista 2027 passa uma sensação agoniante de verossimilidade. Da pobreza e violência extrema que são perdominantes, aos poucos momentos ostentação e minuciosidades tecnológicas na casa do ministro. A pobreza e violência incomoda muito, muito, muito. A riqueza de detalhes representadas é incrível e crível, e o fato de sabermos que o retrato do filme não é distante da dura realidade atual é de partir o coração. Os “peixes”, imigrantes ilegais que são perseguidos por um sistema político totalitário, mesmo que involuntariamente, lembram a crise da imigração europeia que começou em 2015. - Creio que poucos filmes serão capazes de retratar de forma mais palpável essa condição.
E o que falar sobre a direção de Alfonso Cuarón? Ele é perfeito; Planos sequências absurdamente verossímeis; Tomadas com câmera na mão que dão caráter documental ao filme quando preciso; Trabalho de movimentação de câmera que realça as interações do personagem. Os planos sequências são os pontos altos do filme. Temos a inovadora cena dentro do carro e a cena do resgate do prédio. Ambas memoráveis, brilhantemente executadas e enfatizam o mundo criado para o filme. O fato de não haver sensação de corte faz você imergir na cena, sentir-se parte dela. - Ficar tenso, sofrer e aliviar-se junto com os personagens.
E se a direção de arte e direção funcionam tão bem, muito é por causa da sinergia com a fotografia de Emmanuel Lubezki. Além de ser essencial nos planos sequência, ela tem uma beleza abstrata e um realismo poético que impressionam. - É eficiência e lirismo cinematográfico, pura arte.
Quase dez anos após seu lançamento, o mal recebido Children of Men tornou-se uma obra profética e imperdível. É um filme sobre o século XXI; políticas onerosas e egoístas, ultraconservadorismo, extremismo religioso/terrorismo. Sem nunca deixar o lado humano dos personagens que dá sentido a tudo. O tipo de ficção científica que devíamos ter com mais frequência.
É uma obra para ser contemplada; que questiona e intriga. Irretocável do início ao fim.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraMad Max: Estrada da Fúria foi um dos melhores filmes de 2015. E um dos melhores filmes de ação de todos os tempos. Seu roteiro é simples, mas é apresenta uma discussão concisa e completa sobre valores da sociedade contemporânea. A direção do idealizador George Miller, com efeitos especiais analógicos que prioriza uma ópera visual maravilhosa ao invés de diálogo, é magistral. Você compreender e sente a subjetividade do filme pelo que vê, não pelo que escuta. Terminando de assistir Mad Max: Estrada da Fúria você sabe exatamente o que é: um clássico
Sangue Negro
4.3 1,2K Assista AgoraMais uma obra-prima do realizador Paul Thomas Anderson.
Foi baseado no livro Petróleo! (1927), do escritor Upton Sinclair, que o próprio Anderson escreveu o roteiro desse longa, que conta a história de Daniel Plainview (Day-Lewis), um garimpeiro que tornou-se rico após encontrar e perfurar poços de petróleo, no início do século XX.
Roteiro esse, por sinal, muito bem escrito e preciso. Mostrando mais de 30 anos da vida de Daniel, como não se pode colocar 30 anos detalhados em um longa de duas horas e meia, Anderson procurou expor momentos chaves da vida do protagonista, e dá certo. Essas sequências chaves que o filme mostra funcionam de maneira brilhante isoladamente, e embora falte um pouco de fluidez em algumas transições, isso não compromete a qualidade final do filme. Ele continua ótimo.
Daniel Plainview desenvolve relações remetentes às temáticas que Anderson gosta de trabalhar em seus filmes; a família, o acaso, religião, ascendência e decadência pessoal e, nesse filme, destaca-se a cobiça. Como elementos de apresentação e propulsão às temáticas, temos: a vila que transforma-se em um cidade próspera, o seu filho e seu irmão que desenvolvem sentimentos importantes no protagonista. Mas sem dúvida, a mais interessante de todas as relações é com Eli Sunday (Paul Dano), jovem religioso que denomina-se profeta. O conflito de interesses entre os dois personagens é notável e a culminância da relação entre os dois é impagável. Eles trazem as melhores cenas do filme. - Com duas cenas que estão entre as melhores que já vi.
A atuação de Day-Lewis é uma das melhores da história do cinema, e me fez refletir: será ele é o melhor ator de sua geração?
Os aspectos técnicos do longa também impressionam, direção de arte, trilha sonora, edição, o destaque aqui fica para a fotografia. É absolutamente linda, ressalta a beleza que há em uma terra semi-árida, além dos pontos positivos e negativos no processo de extração de petróleo do início do século XX. Todas essas questões técnicas estão bem equilibradas com a história e desenvolvimento do filme, nunca tomando o protagonismo do que é mais importante em um filme: contar uma boa história, de uma boa forma. - Aqui fica uma cutucada no Iñárritu, que não soube deixar seu épico, O Regresso, equilibrado entre os aspectos técnicos e desenvolvimento da trama.
There Will Be Blood é belo, questionador, visceral e definitivamente imperdível. O melhor épico do século, até então.
9.7/10
Shame
3.6 2,0K Assista AgoraSteve McQueen realiza um filme poderoso. Você sente o turbilhão de sentimentos que o protagonista Brandon sofre graças aos quadros fechados de Steve McQueen, que chegam a ser claustrofóbicos. E ao talentoso de Michael Fassbender, com uma atuação que beira a perfeição. Essa atuação eleva o nível do filme e torna o ciclo auto-destrutivo inimaginável de Brandon em algo verossímil.