Foi uma novela extremamente brasileira, homenageando as nossas características, as nossas raízes, aquilo de mais precioso que temos para nos orgulhar. Trouxe Gonzaguinha, Bethânia, Gal e encerrou com uma passagem de Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. O que a vida quer da gente é coragem. Num momento tão doloroso da nossa História, uma novela lindamente dolorida, passou esperança e orgulho (de novo) em ser brasileiro em um momento em que ser brasileiro traz tanta tristeza.
Não consigo ser crítico com Amor de Mãe... e vou compartilhar (um pouco do) por quê.
O primeiro é a conexão emocional que tive com a novela. Depois de A Favorita (2008), eu nunca mais acompanhei novela alguma do início ao fim. Mesmo novelas espíritas que eu gosto demais (Além do Tempo e Espelho da Vida), eu pulava cenas, perdi episódios e acompanhava apenas quando podia, com pouco ou nenhum acesso ao Globo Play. Avenida Brasil, outro fenômeno, só conseguia assistir as cenas do núcleo principal, o resto era praticamente intragável pra mim. Com Amor de Mãe, foi diferente. Eu não só assistia aos capítulos inteiros, como também, em outros momentos, os deixava de fundo reprisando, como uma comfort series mesmo. Essa novela marcou um ano que pessoalmente foi muito bom, que foi 2019, e atravessou 2020 comigo também, principalmente com a sua pausa. Retornou cheia de decisões questionáveis, em 2021, demonstrando que assim como para todos nós, as coisas eram melhores antes da pandemia (e aqui faço a referência à citação acertadíssima de Chico Barney a respeito da análise dessa 'segunda temporada' da novela).
O segundo ponto, e esse se deve em boa parte à impecável Lourdes de Regina Cazé, é o elenco. Que delícia estar com eles todos os dias. A união do elenco estelar onde todos pareciam despidos de ego e vaidade, tão perceptível em parte de outros elencos, passava da tela e te abraçava. Me sentia em casa. Cara, em algumas cenas, dado o terceiro ponto que já insiro aqui, que é a trilha sonora, me fazia quase sentir cheiros da infância. A abertura com cenas maternais, absolutamente familiares, arrebatadas pelo imortal Gonzaguinha, emocionavam sempre, especialmente aos finais do capítulo, em homenagem à mãe de alguém dessa obra. Todos pareciam tão à vontade e felizes em cena, que era impossível eu não me sentir exatamente assim assistindo à novela.
A criação do Irandhir Santos do seu Álvaro, em clara referência a certo político, foi certeira. A Lídia de Malu Galli, que era uma versão carioca e melhorada de Renata Klein, de Big Little Lies, maravilhosa e tão relatable, especialmente pelo exagero de bebida alcóolica na pandemia. O querido Sandro de Humberto Carrão, que é um personagem tão raro de se assistir (e torcer para) em uma novela das nove. Mesmo personagens que poderiam ter aparecido ainda mais durante toda a novela, mas que davam um tom ótimo pra narrativa, como Firula, Dayse, Penha e Leila Gratiluz... um texto (especialmente na primeira parte) sutil, mas extremamente cirúrgico.
Por essas e outras, eu não consigo analisar Amor de Mãe de forma fria e tão crítica.... por tudo o que me proporcionou, os leves surtos (como a absurda cena da Vitória abrindo a porta do carro àquele cara e indo com ele pro meio do mato até a Betina entre a vida e a morte numa UTI, mas com as unhas recém-saídas de uma manicure) foram a preços muito baixos que eu tive que pagar. Além disso, é sempre importante frisar que Amor de Mãe é um evento que raramente acontece na faixa nobre da televisão brasileira, já que estamos acostumados a ver vez sim e vez também textos extremamente doídos de incoerentes e mesmo quando o autor tenta inovar, como no caso de Babilônia, o público rechaça de tal maneira que a Globo intervém e traz o texto pro mais do mesmo. Amor de Mãe passou por todos os obstáculos naturalmente inerentes à sua narrativa e também pelos de fortuito externo (pandemia) com a cabeça erguida e uma direção de Zé Villamarim imune à críticas. Passou ilesa? Claro que não. Mas de cabeça erguida, mantendo o seu core intacto e ainda nos fazendo chorar de emoção ao som de Bethânia e Gal Costa.
Já citei a trilha sonora?
E ao contrário do que grande parte acha, eu vi comédia na novela, um humor inteligentíssimo, como quando a Estela, com uma arma apontada na sua cara, e disse ao algoz: "Na cara não, Belizário".
Foi uma novela extremamente brasileira, homenageando as nossas características, as nossas raízes, aquilo de mais precioso que temos para nos orgulhar. Trouxe Gonzaguinha, Bethânia, Gal e encerrou com uma passagem de Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. O que a vida quer da gente é coragem. Num momento tão doloroso da nossa História, uma novela lindamente dolorida, passou esperança e orgulho (de novo) em ser brasileiro em um momento em que ser brasileiro traz tanta tristeza.
Enfim, pra mim é 10/10, minha novela favorita. Podia ter mais, podia ser ainda maior, mas foi exatamente o que eu precisava e queria. Vou guardar no coração.
Desde os meus 17 anos, nunca que pensei que seria possível acompanhar uma novela em horário vespertino, muito menos Malhação. E não era como se eu quisesse. Pra mim, a novelinha teen tinha morrido com a saída do Cabeção, e depois só me parecia uma tradição na programação da Globo que não tinha nada melhor pra passar no horário. Sem contar que depois que você assiste a produções internacionais sobre adolescentes (vai de The O.C. a Euphoria), é muito difícil engolir uma novelinha água com açúcar que passa por um ano e pouco no ar, com episódios de 30 minutos focados exclusivamente em triângulos amorosos e uma comédia de tom duvidoso.
Me surpreendi quando parei, um dia, pra ver um capítulo dessa Malhação, especialmente em uma cena da Benedita, interpretada de maneira magistral pela Daphne Bozaski. Desde então, sempre tive curiosidade por essa Malhação, e aumentou ainda mais quando soube que ganhou o Emmy.
Agora, na quarentena, parei pra ver à tarde e, quando me dei conta, estava correndo pra Globo Play pra ver na íntegra, porque não conseguia esperar pelo capítulo seguinte. Passei pelo menos dois finais de semana inteiros maratonando Viva a Diferença. Que experiência! Mesmo com as restrições do horário e do público alvo, essa edição de Malhação desafiou o status quo, o conservadorismo (um monstro com força total em 2018), e trouxe, de forma inovada e corajosa, a realidade de muitos jovens do Brasil. A ousadia me deixou perplexo. Trouxe à mesa discussões importantíssimas, que vão desde a gravidez na adolescência até o ensino público no país, passando por homofobia, racismo, injustiça social e fake news. E principalmente fake news e o ódio que circula nas redes sociais. Alguns capítulos chegavam a ser cinematográficos, dando de 10 a 0 em muita produção enlatada. O roteiro foi realmente ousado, me chocou com a fotografia impecável, a trilha sonora magistral e até mesmo com algumas cenas que eu jamais pensei que veria nesse horário.
Às vezes a gente menospreza um produto nacional só por ser brasileiro... ou por ser da TV aberta... mas bastou UMA chance pra eu me apaixonar por essa história. Sem vergonha alguma, confesso que chorei algumas vezes assistindo. E não foram poucas. Pra mim, as cenas da Bene falando sobre a sua característica ao pai, a Tina discutindo com a mãe e a redenção da Dona Mitsuko, a Helen conseguindo justiça para o pai, a Keyla enfrentando a sua própria realidade e se divindo em mil pra dar conta de tudo e a Lica sendo agredida pelo pai são algumas que encheram os olhos de água. Se tornou um dos meus programas favoritos e certamente vou rever um ou outro episódio de vez em quando. Agora aguardo ansioso pela série, que vai explorar as garotas do vagão na fase adulta, e o trailer já arrepiou.
Incrível demais. Cinco estrelas sem precisar pensar duas vezes.
Amor de Mãe
3.8 52 Assista AgoraFoi uma novela extremamente brasileira, homenageando as nossas características, as nossas raízes, aquilo de mais precioso que temos para nos orgulhar. Trouxe Gonzaguinha, Bethânia, Gal e encerrou com uma passagem de Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. O que a vida quer da gente é coragem. Num momento tão doloroso da nossa História, uma novela lindamente dolorida, passou esperança e orgulho (de novo) em ser brasileiro em um momento em que ser brasileiro traz tanta tristeza.
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Não consigo ser crítico com Amor de Mãe... e vou compartilhar (um pouco do) por quê.
O primeiro é a conexão emocional que tive com a novela. Depois de A Favorita (2008), eu nunca mais acompanhei novela alguma do início ao fim. Mesmo novelas espíritas que eu gosto demais (Além do Tempo e Espelho da Vida), eu pulava cenas, perdi episódios e acompanhava apenas quando podia, com pouco ou nenhum acesso ao Globo Play. Avenida Brasil, outro fenômeno, só conseguia assistir as cenas do núcleo principal, o resto era praticamente intragável pra mim. Com Amor de Mãe, foi diferente. Eu não só assistia aos capítulos inteiros, como também, em outros momentos, os deixava de fundo reprisando, como uma comfort series mesmo. Essa novela marcou um ano que pessoalmente foi muito bom, que foi 2019, e atravessou 2020 comigo também, principalmente com a sua pausa. Retornou cheia de decisões questionáveis, em 2021, demonstrando que assim como para todos nós, as coisas eram melhores antes da pandemia (e aqui faço a referência à citação acertadíssima de Chico Barney a respeito da análise dessa 'segunda temporada' da novela).
O segundo ponto, e esse se deve em boa parte à impecável Lourdes de Regina Cazé, é o elenco. Que delícia estar com eles todos os dias. A união do elenco estelar onde todos pareciam despidos de ego e vaidade, tão perceptível em parte de outros elencos, passava da tela e te abraçava. Me sentia em casa. Cara, em algumas cenas, dado o terceiro ponto que já insiro aqui, que é a trilha sonora, me fazia quase sentir cheiros da infância. A abertura com cenas maternais, absolutamente familiares, arrebatadas pelo imortal Gonzaguinha, emocionavam sempre, especialmente aos finais do capítulo, em homenagem à mãe de alguém dessa obra. Todos pareciam tão à vontade e felizes em cena, que era impossível eu não me sentir exatamente assim assistindo à novela.
A criação do Irandhir Santos do seu Álvaro, em clara referência a certo político, foi certeira. A Lídia de Malu Galli, que era uma versão carioca e melhorada de Renata Klein, de Big Little Lies, maravilhosa e tão relatable, especialmente pelo exagero de bebida alcóolica na pandemia. O querido Sandro de Humberto Carrão, que é um personagem tão raro de se assistir (e torcer para) em uma novela das nove. Mesmo personagens que poderiam ter aparecido ainda mais durante toda a novela, mas que davam um tom ótimo pra narrativa, como Firula, Dayse, Penha e Leila Gratiluz... um texto (especialmente na primeira parte) sutil, mas extremamente cirúrgico.
Por essas e outras, eu não consigo analisar Amor de Mãe de forma fria e tão crítica.... por tudo o que me proporcionou, os leves surtos (como a absurda cena da Vitória abrindo a porta do carro àquele cara e indo com ele pro meio do mato até a Betina entre a vida e a morte numa UTI, mas com as unhas recém-saídas de uma manicure) foram a preços muito baixos que eu tive que pagar. Além disso, é sempre importante frisar que Amor de Mãe é um evento que raramente acontece na faixa nobre da televisão brasileira, já que estamos acostumados a ver vez sim e vez também textos extremamente doídos de incoerentes e mesmo quando o autor tenta inovar, como no caso de Babilônia, o público rechaça de tal maneira que a Globo intervém e traz o texto pro mais do mesmo. Amor de Mãe passou por todos os obstáculos naturalmente inerentes à sua narrativa e também pelos de fortuito externo (pandemia) com a cabeça erguida e uma direção de Zé Villamarim imune à críticas. Passou ilesa? Claro que não. Mas de cabeça erguida, mantendo o seu core intacto e ainda nos fazendo chorar de emoção ao som de Bethânia e Gal Costa.
Já citei a trilha sonora?
E ao contrário do que grande parte acha, eu vi comédia na novela, um humor inteligentíssimo, como quando a Estela, com uma arma apontada na sua cara, e disse ao algoz: "Na cara não, Belizário".
Foi uma novela extremamente brasileira, homenageando as nossas características, as nossas raízes, aquilo de mais precioso que temos para nos orgulhar. Trouxe Gonzaguinha, Bethânia, Gal e encerrou com uma passagem de Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. O que a vida quer da gente é coragem. Num momento tão doloroso da nossa História, uma novela lindamente dolorida, passou esperança e orgulho (de novo) em ser brasileiro em um momento em que ser brasileiro traz tanta tristeza.
Enfim, pra mim é 10/10, minha novela favorita. Podia ter mais, podia ser ainda maior, mas foi exatamente o que eu precisava e queria. Vou guardar no coração.
Malhação Viva a Diferença
4.1 26Ah, a quarentena!
Desde os meus 17 anos, nunca que pensei que seria possível acompanhar uma novela em horário vespertino, muito menos Malhação. E não era como se eu quisesse. Pra mim, a novelinha teen tinha morrido com a saída do Cabeção, e depois só me parecia uma tradição na programação da Globo que não tinha nada melhor pra passar no horário. Sem contar que depois que você assiste a produções internacionais sobre adolescentes (vai de The O.C. a Euphoria), é muito difícil engolir uma novelinha água com açúcar que passa por um ano e pouco no ar, com episódios de 30 minutos focados exclusivamente em triângulos amorosos e uma comédia de tom duvidoso.
Me surpreendi quando parei, um dia, pra ver um capítulo dessa Malhação, especialmente em uma cena da Benedita, interpretada de maneira magistral pela Daphne Bozaski. Desde então, sempre tive curiosidade por essa Malhação, e aumentou ainda mais quando soube que ganhou o Emmy.
Agora, na quarentena, parei pra ver à tarde e, quando me dei conta, estava correndo pra Globo Play pra ver na íntegra, porque não conseguia esperar pelo capítulo seguinte. Passei pelo menos dois finais de semana inteiros maratonando Viva a Diferença. Que experiência! Mesmo com as restrições do horário e do público alvo, essa edição de Malhação desafiou o status quo, o conservadorismo (um monstro com força total em 2018), e trouxe, de forma inovada e corajosa, a realidade de muitos jovens do Brasil. A ousadia me deixou perplexo. Trouxe à mesa discussões importantíssimas, que vão desde a gravidez na adolescência até o ensino público no país, passando por homofobia, racismo, injustiça social e fake news. E principalmente fake news e o ódio que circula nas redes sociais. Alguns capítulos chegavam a ser cinematográficos, dando de 10 a 0 em muita produção enlatada. O roteiro foi realmente ousado, me chocou com a fotografia impecável, a trilha sonora magistral e até mesmo com algumas cenas que eu jamais pensei que veria nesse horário.
Às vezes a gente menospreza um produto nacional só por ser brasileiro... ou por ser da TV aberta... mas bastou UMA chance pra eu me apaixonar por essa história. Sem vergonha alguma, confesso que chorei algumas vezes assistindo. E não foram poucas. Pra mim, as cenas da Bene falando sobre a sua característica ao pai, a Tina discutindo com a mãe e a redenção da Dona Mitsuko, a Helen conseguindo justiça para o pai, a Keyla enfrentando a sua própria realidade e se divindo em mil pra dar conta de tudo e a Lica sendo agredida pelo pai são algumas que encheram os olhos de água. Se tornou um dos meus programas favoritos e certamente vou rever um ou outro episódio de vez em quando. Agora aguardo ansioso pela série, que vai explorar as garotas do vagão na fase adulta, e o trailer já arrepiou.
Incrível demais. Cinco estrelas sem precisar pensar duas vezes.
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4.8 37 Assista AgoraJohn Mayer, um mito.