Épico, monumental, de tirar o fôlego. Uma aula de como se fazer cinema. Beleza e fúria transcendentes em imagem e som.
Por muito tempo, os livros de Duna de Frank Herbert foram considerados infilmáveis, tamanha complexidade. Mas o filme de 2021, no qual defendo muito, conseguiu trazer de forma palpável a atmosfera e densidade necessárias, por mais que seja uma obra incompleta, que serve apenas de introdução e contemplação à este universo. Meu medo era a continuação trazer apenas uma ação genérica e um desfecho apressado. Mas o que Denis Villeneuve faz é dobrar as apostas em tudo.
Efeitos especiais perfeitos, trilha sonora ensurdecedora e ação arrebatadora marcam presença. Mesmo assim, Villeneuve não simplifica nada, e o roteiro, as atuações, a complexidade e a urgência são elevadas ao máximo, em um dos filmes mais impactantes do cinema recente. É uma experiência elaborada para a tela grande e imersiva do cinema. Cada frame é pensado e enquadrado para o cinema! A direção de Villeneuve, a fotografia de Greig Fraser e a trilha sonora de Hans Zimmer trabalham em uníssono. São três deuses, três mestres no seu ápice.
Timothée Chalamet e Zendaya retornam liderando com convicção. Ele passa a insegurança de alguém franzino que teme o poder, mas que precisa tomar decisões difíceis que afetarão a todos. Ela passa a postura de guerreira, mas que duvida da profecia de se crer nesse salvador. A maravilhosa Rebecca Ferguson segue enigmática, roubando a cena com a personagem mais complexa da trama. Austin Butler é uma adição arrebatadora como o grande inimigo do protagonista, um vilão sádico e assustador, quase um "Coringa do espaço". Todo o elenco é estelar, coisa linda ver uma obra que não desperdiça um elenco desses, todos entregando muito.
Política, fanatismo religioso e a crença em um messias acabam sendo o ponto de partida para alegorias interessantes, sobre massas de manobra, genocídio, falsos messias e interpretações proféticas distorcidas, de acordo com a ambição de quem estiver "enxergando" o milagre. Tudo é denso, não existem saídas fáceis e o roteiro não nos poupa nada.
A contemplação, o peso das máquinas e vermes gigantes, o retumbar das explosões e corpos caindo, o som das partículas da areia ao vento, está tudo ali, mas com mais impacto do que nunca. Cinematografia espetacular, montagem frenética e crescente, é cinema bruto e puro exercício da imagética.
Uma ficção científica que marcará a nova geração e converterá muitos jovens em cinéfilos. Um milagre cinematográfico de crítica e público, um exemplo do porque a sétima arte é tão poderosa e sempre irá sobreviver. Oscar 2024 ainda nem aconteceu, e já temos o primeiro grande candidato ao Oscar 2025.
Cinema não fica melhor, não é mais cinema do que isso aqui. Um dos grandes filmes de 2024!
Novo filme do Studio Ghibli e do lendário Hayao Miyazaki, é mais uma obra inventiva narrativamente e linda visualmente, belamente rabiscada e animada.
Ao lidar com temáticas como amadurecimento, luto e perdão na infância, Miyazaki orquestra um anime maduro, mas que mantém o imaginário lúdico.
Existe um humor tragicômico presente em algumas cenas um tanto excêntricas, mas que são balanceadas com passagens emocionantes, conforme o protagonista vai se aprofundando nesse universo fantástico - e se auto descobrindo no caminho.
O roteiro não traz um vilão declarado, mas situações difíceis que precisam ser desenroladas, exigindo decisões e consequências. No mundo de fantasia, paradoxos são criados com o mundo humano real.
O Menino e a Garça será o provável campeão na categoria de Melhor Animação no Oscar 2024. E não é para menos. É mais um lembrete de como o cinema é uma linguagem e expressão artística universal, furando a bolha de Hollywood e dos Estados Unidos. Viva o cinema internacional.
Ou, anatomia de uma relação falida. Ou, anatomia de um relacionamento tóxico. Ainda em tempo, anatomia de como julgamos o outro.
Ele caiu, se jogou ou foi jogado? Pouco importa! O que a potente diretora Justine Triet deseja aqui é dissecar, desmembrar, colocar uma lupa em como nós, expectadores (um júri), julgamos aquilo que só sabemos superficialmente, muitas vezes cegos por ideias pré-concebidas. Desconhecemos no próximo aquilo que ele enfrenta entre quatro paredes.
Espetacular atuação de Sandra Hüller, madura, complexa e que abriga camadas. Camadas estas que vão sendo descascadas conforme o roteiro costura a anatomia da obra. A direção de Justine e a atuação de Sandra são um combo e um grande lembrete da força feminina, diante e atrás das câmeras.
Fotografia belíssima e passagens tocantes contemplam esse thriller dramático, sempre sofisticado e pungente. Uma obra densa, difícil de digerir e que merece a aclamação que vem recebendo desde o último Festival de Cannes.
Obs: melhor atuação canina de 2023, tem uma cena de apertar o coração.
O drama de Jonathan Glazer talvez até careça de um pouco de ritmo na sua metade final, mas talvez este seja um dos mais aterrorizantes longas feitos recentemente.
Acompanhamos uma bela família cuidando da sua vida, das crianças e do jardim. Eles são nazistas, vizinhos de um campo de concentração. Eles ignoram gritos, fumaças e sinais do horror ao seu lado. E apesar de se passar no holocausto, ele é sobre algo mais. Sobre nossa inércia diante toda forma de crueldade.
Ora, se eu tenho que trabalhar, horários à cumprir, sustentar a família, cuidar de um familiar doente; se estou cansado, com contas à pagar, dentre outros compromissos, porque me importar? Se não faço parte de uma minoria, grupo étnico, religião ou núcleo que está sofrendo algum tipo de violência ou perseguição, porque me posicionar?
Mas ao ignorar as trevas ao meu redor, racismos, preconceitos, abismos sociais, não estou sendo negligente, perpetuando a maldade? Ao ignorar a dor alheia, não estou fazendo parte da opressão?
É fácil cuidar da própria vida, enquanto o mau cresce ao nosso redor. Difícil será não ter culpa, não fazer parte das trevas que nos negamos a lutar contra.
Zona de Interesse é sobre a banalidade da decadência humana. E essa banalidade está mais perto do que nunca, disfarçada sob um véu de família, fé, patriotismo, dentre outras coisas.
Em 'Vidas Passadas', surpreendente longa de estreia de Celine Song, somos envolvidos em uma trama sutil e delicada, sobre reencontros, lembranças e questionamentos sobre as probabilidades. E se?
Dois amigos de infância se reencontram anos depois, reacendendo nostalgia, saudades, senso de pertencimento e leveza. Um causa no outro sensações outrora perdidas, ou ignoradas. Mas hoje, cada um tem sua vida e relacionamentos. Tal reencontro é um esbarrão, um nó, uma probabilidade no espaço-tempo no microcosmo de cada uma de suas personas.
Na vida, temos contato com certas almas que não conseguimos ficar juntos, mas elas sempre serão uma parte importante do que moldou nossa jornada. São nós impossíveis de desatar ou ignorar. Mas isso não significa que serão parte do nosso futuro. Reencontros não são necessariamente uma ressignificação do passado.
Um dos filmes mais delicados de 2023, uma história de amor que foge do óbvio e te transporta para uma reflexão introspectiva sobre aqueles que tocaram a sua vida até aqui, nessa parte da sua, e da minha jornada.
Excelentes atuações, cinematografia naturalista e decupagem enxuta contemplam as características técnicas desta pequena gema.
'Pobres Criaturas' é brilhante, ousado, excêntrico, surrealista, sensual, teatral, ácido e ultrajante.
Emma Stone é uma força da natureza, em um tour de force espetacular. O roteiro é muito bem costurado, fazendo críticas ácidas à sociedade de forma pouco convencional, em um humor sem pudor e que flerta com o bizarro.
Fotografia, figurino, direção de arte e toda mise en scène trazem um lúdico e teatral lindo de se ver em cada frame. E a trilha sonora é uma das mais marcantes da temporada.
Sexo e a arte: é impressionante como os filmes estão cada vez mais infantilizados e pasteurizados. E nisso, muito se fala sobre não precisar ter cenas de sexo nas obras. Tolice. A arte (livros, filmes) abordam todos os periféricos da vida, incluindo o sexo. Ele e os corpos nus existem, estão presentes o tempo todo, afinal a humanidade vem à existência através disso. É bizarro como colocam tabu em algo que todos buscam.
É aí que filmes como 'Pobres Criaturas' se tornam importantes, indo na contramão e utilizando a sensualidade como porta de discussão para vários aspectos, como a liberdade sexual feminina, e em como isso está ligado à busca por uma identidade e lugar no mundo.
Uma mulher livre sexualmente e socialmente, com opinião própria e livros (conhecimento) na mão, amedrontam os homens e a sociedade que eles tentam conservar.
'Pobres Criaturas' é genial, um dos melhores filmes de 2023 e um dos mais fortes concorrentes nessa temporada de Oscar.
Aos 76 anos de idade, com mais de 50 de carreira e quase 40 longas como diretor (fora as dezenas como produtor), Steven Spielberg já não deve mais nada ao cinema. De Tubarão a E.T., de Indiana Jones a Jurassic Park, de A Lista de Schindler a O Resgate do Soldado Ryan, para citar apenas alguns, Spielberg é um dos mestres da manipulação de emoções, tensão e pura magia cinematográfica.
Mas com seu novo filme, ele usa a fictícia família Fabelmans para narrar sua própria biografia, sua infância e seu amor pelo cinema. Aqui, ele não revela apenas a si próprio, mas também coloca seus pais diante do reflexo do espelho.
Nostálgico, com aquela magia do mestre, ao mesmo tempo é triste e introspectivo. De sua obsessão quando criança, passando a ser sua paixão quando mais velho, Sam (ou Spielberg) encontra seu refúgio atrás da câmera cada vez que a vida machuca. Seja pela relação conturbada de seus pais, ou por sofrer perseguição na escola por ser judeu, cada vez que ele está quebrado, é no fazer cinema em que ele se reconstrói.
Algumas verdades são ditas àqueles que amam a arte: ela dá frutos, mas também causa solidão. O tio avisa: "família, arte, isso vai dividir você." De certa forma o filme mostra que quem vive pela arte precisa fazer sacrifícios inevitáveis.
Isso é brilhantemente retratado pela figura da mãe, Mitzi, que tem uma fome de arte, de viver, é um estado de espírito que Sam (Spielberg) herdou. A mente criativa de Mitzi, lindamente atuada por Michelle Williams, é tão eufórica quanto desesperada, talvez aguardando uma espécie de milagre, um milagre que somente a arte pode suprir.
Com carga emocional, The Fabelmans é sobre o amor à arte, ao cinema, à família. E é sobre a dor da vida que habita no meio desses amores. Com atuações impecáveis, duas participações especiais de deixar um sorriso no rosto, tecnicamente perfeito em imagem e som, Spielberg faz o seu Cinema Paradiso (que por sinal é meu filme favorito), mas com suas próprias percepções da vida, retratada sob as lentes da câmera.
É difícil não me identificar. Amar a arte não é um hobby, é um estado de espírito: lindo, excitante, solitário e devastador.
Diferentes filmes causam impacto de múltiplas formas, em tempos distintos.
Faz um mês que assisti Aftersun, e ele só cresce e melhora na minha mente. Estou em uma fase da vida em que este tipo de obra íntima e introspectiva fala alto comigo. Aqui, gravações e memórias de uma viagem entre pai e filha se entrelaçam entre o concreto e o abstrato, entre o visível e o não dito, em uma montanha-russa de sentimentos. Nos identificamos com a menina pela sua memória afetiva terna, mas de descobertas, seja pelo despertar do amor, seja por não compreender os problemas do pai, aquilo que atormenta um adulto. Me identifico ainda mais com ele, um jovem adulto que demonstra uma melancólica e silenciosa depressão, frustrado com situações de sua vida. Muito da potente atuação de Paul Mescal está no olhar, no silêncio, na dor guardada.
Aftersun mescla gravações e memórias como se fossem a mesma coisa, flashes da vida, registradas como cinema. Isso é lindo, já que o filme se baseia nas experiências da própria diretora, Charlotte Wells. Vinda de curtas, é impressionante seu trabalho no seu primeiro longa-metragem, ficaremos de olho nela. Ao trazer sua pessoalidade com humanidade e poesia, Wells faz seu cinema como registro da vida.
Poderoso nas sutilezas, é uma das grandes obras de 2022. Começa simplista, e se desenvolve avassalador. A cena da "última dança" ao som de Under Pressure do David Bowie e Queen, e a sequência final, estão entre as mais belas passagens do ano. Aquela balada metafórica de Sophie, onde ela criança e adulta (agora compreendendo) encontram o pai, aquele final devastador dele interrompendo as gravações, podem não dar todas as respostas, mas dizem muito. Machuca, e vocês sabem, eu amo um filme que machuca, porque se torna algo marcante. É a vida.
Memórias são fragmentos, nem sempre 100% compreensíveis. Não se trata de entender, mas de sentir.
Avatar: O Caminho da Água é cinema na forma pura, que transcende a tela (2022, de James Cameron)
Sim, eu sei, o título do texto parece um tanto indulgente. Assim como alguns cineastas, como James Cameron, também parecem ser. Assim como dizer que tal filme “é cinema puro” gera certa discussão sobre o que seria essa pureza cinematográfica. O cinema é a imagem em movimento, sem explicações, sem desculpas, é a imagem por si só sendo apreciada. Esse conceito mais clássico e intelectual, quase abstrato, da imagem por si só, é uma coisa que às vezes quase se perde no decorrer dos anos, quando se possui nos holofotes essas grandes sagas cheias de narrativas e personagens, ideias mirabolantes e filmes vencedores do Oscar cheios de diálogos incríveis. Tudo isso é muito bom, tudo isso é cinema.
Mas um cineasta nunca deve perder de vista um fator inestimável, aquele que fica na nossa memória após assistirmos a um grande filme: a imagética, a imagem por si só, seja em uma história narrada, seja até mesmo na falta de uma história. Falta de uma história? Sim, afinal quantos filmes, do clássico mudo aos experimentais recentes, do documentário à ficção, não trazem narrativas claras, mas impressionam pela captação das imagens na câmera? Isso também é cinema de qualidade. E filmes assim também possuem um bom roteiro. A Chegada do Trem na Estação, de 1895, considerado o primeiro filme da história do cinema, é apenas uma câmera captando o cotidiano da estação, passageiros vem e vão. Assim nasceu o cinema, e mudou o mundo para sempre. Mad Max: Estrada da Fúria é ação pura, uma sequência interminável de perseguições, e seu roteiro é excelente, pois consegue algo raro: desenvolver mundo, personagens e situações na base da adrenalina. Nascia ali o que é considerado o melhor filme de ação de todos os tempos até agora.
Aliás, quanto ao roteiro, muitos o confundem com diálogos, ou originalidade, o que são coisas completamente diferentes. Um bom roteiro pode escolher dizer algo ao público através de um diálogo entre personagens (filmes do Scorsese ou Tarantino), ou apenas através de uma silenciosa cena (Nosferatu, Wall-e). E originalidade é criatividade, seja na escrita do roteiro, seja na forma que a história será narrada visualmente pelo diretor. Dizer que algo é original hoje em dia é complexo, devido à imensa quantidade de histórias que o cinema já nos narrou, praticamente de todos os tipos, mas vez por outra algum filme traz diversos clichês emaranhados de forma criativa (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo), o que dá pra julgar ao seu modo, como algo original. Um bom roteiro engloba tudo em um filme, não precisa ter diálogos complexos ou originalidade de sobra. Um bom roteiro pode sim ser um clássico clichê e se sobressair na forma visual com que um filme é mostrado, afinal, o roteiro é a parte escrita na pré-filmagem, e a mágica de verdade acontece no momento que a câmera roda e externaliza as páginas do roteiro. Um filme lindo esteticamente ainda é fruto de um bom roteiro, cuja proposta foi a experiência visual.
Toda essa minha introdução serve apenas para basear com fatos históricos e cinematográficos aquilo que vou escrever agora. Avatar: O Caminho da Água é uma obra-prima e um tipo de cinema na sua forma pura, a imagética por si só, sem pedidos de desculpas, e é impressionante. É aquela obra que vai além de ser apenas um filme, ela se torna uma experiência visual e sensorial, para ser experimentada, vivida, sentida no cinema. Transcende a tela, não só literalmente pelo 3D, mas de forma quase espiritual, é algo para ser presenciada pessoalmente e é algo para se gabar às futuras gerações. É o tipo de filme que cria uma geração de novos cinéfilos, apaixonados pela sétima arte.
Não foram poucas vezes que James Cameron impressionou o mundo, dominou as bilheterias e virou sensação no Oscar. O Exterminador do Futuro (1984), Aliens, O Resgate (1986), O Segredo do Abismo (1989), O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final (1991), True Lies (1994), Titanic (1997) e Avatar (2009). Ação impressionante, efeitos especiais inovadores desenvolvidos pela sua própria equipe, criação de mundos fantásticos, senso de urgência e catástrofe, raros casos de continuações melhores que o primeiro filme, dentre outras questões. Com Titanic, Cameron ganha seu Oscar de Melhor Diretor, dos onze prêmios conquistados pelo filme. Com Avatar, Cameron revoluciona a imagem do cinema, os mundos de fantasia, a computação gráfica, a captura de movimento dos atores e o uso espetacular do 3D, uma tecnologia já antiga e anteriormente fracassada.
Treze anos depois, desenvolvendo técnicas ainda melhores, Cameron entrega seu aguardado Avatar: O Caminho da Água e impressiona ainda mais, seja pelo 3D, seja pela criação de mundo. Tudo retorna ainda mais palpável, mais completo, mais detalhado. A profundidade e a escala das cenas é inacreditável. Um ultrarrealismo confunde seu cérebro, pois realmente parece que aquela lua, os nativos, a fauna e a flora, que tudo isso é realmente real, parecem de fato seres vivos bem na sua frente, ampliados por um impressionante uso de 48 frames por segundo, ao contrário dos normais 24, deixando tudo ainda mais realista. É quase um teatro, um concerto, um show cinematográfico ao vivo. E tudo isso, a imagem por si só, já bastaria. Mas não para por aqui.
A história, a tal da trama de Avatar que muitos dizem pela internet ser fraca, é ainda melhor, mais forte que a do primeiro, que já era boa. Dentro da proposta de Cameron, existem apenas algumas limitações. E essas limitações se devem ao conceito de franquia. Pois sim, Cameron planeja até o quinto filme, no mínimo. E é justamente pensando no conceito de franquia, que algumas escolhas narrativas e alguns destinos são indecisos e abertos, similar ao que Star Wars, Marvel e DC fazem em suas sagas e poucos criticam. Mas o roteiro dessa segunda aventura ainda é melhor que o do primeiro, trazendo mais detalhes e aprofundamentos no que tange mundo, costumes e crenças. Até o caricato vilão ganha um pouco de dimensão. Ainda há espaço para melhorias, mas é algo que está sendo construído.
O foco nos filhos de Jake e Neytiri é um acerto, especialmente o destemido Lo’ak e a maravilhosa Kiri, que roubam o protagonismo com força. Os jovens são carismáticos e acompanhamos as novidades e mudanças sob suas óticas. Há também Spider, um jovem humano abandonado em Pandora e amigo da família, que trará um dilema ambíguo e de potencial. Aqui, o roteiro se dá ao luxo de brincar um pouco com o conceito de paternidade, criando conflitos interessantes.
Missão pessoal da vida de Cameron, a ecologia está ainda mais presente. Seu fascínio pelo mar traz as mais impressionantes cenas aquáticas já apresentadas, é de tirar o fôlego. É como se o público estivesse mergulhando junto. Se no primeiro longa tivemos a flora como ponto de ruptura, aqui temos a fauna aquática. Uma espécie de baleia alienígena se torna o foco ambiental, central e dramático, e é impressionante como apesar de ser uma criatura em CGI, sentimos ela como de verdade. Existe realmente emoção e paixão aqui, e esse é um dos motivos de Avatar não ser “tão original” assim (e nem precisaria ser). Avatar traz na sua simplicidade a identificação com o mundo real, as árvores que queimam de verdade, a baleia que é caçada de verdade. Essa identificação com o meio ambiente humano é a real meta de Cameron, para que ele possa fazer sua defesa, seu alerta sobre o quanto estamos destruindo nosso planeta, e automaticamente, acabando com o nosso próprio futuro. Isso é um fato, e está em curso, e Avatar é uma vitrine cinematográfica de milhões de dólares, onde o cineasta esfrega essa verdade em nossa cara. Esse tal “clichê” que muitos apontam é a nossa realidade, e em tempos de desinformação e falta de interesse, ser direto e simplista nisso faz-se necessário para captar a maioria das pessoas, as massas. Sim, é um apelo emocional que poderia ser brega, mas como um experiente cineasta que trabalha com arcos dramáticos mais clássicos, Cameron, assim como Spielberg, sabe chegar no limite do brega, da chantagem emocional, do clichê, e manipular tudo favoravelmente a ponto de virar a melhor coisa do mundo.
“I see you”, ou “eu vejo você”, a frase tema da franquia, é literalmente um convite a enxergarmos de verdade aquilo que está ao nosso redor, especialmente a natureza e sua beleza. De certa forma, James Cameron clama para que depois do filme, larguemos o óculos 3D e olhemos a beleza natural que nos cerca, e que estamos destruindo. Essa mensagem fica ainda mais evidente nessa segunda aventura.
Como todo bom filme que se preocupa em construir um novo mundo, O Caminho da Água flui de forma suave, contemplativa, deixando-nos degustar das paisagens, das árvores, dos animais, dos nativos e seus costumes. Mas nunca chato, nunca cansativo. Ao contrário, as três horas passam voando, pois sempre há muito o que olhar, o que se encantar, o que absorver, tamanha riqueza da imagética. Apesar da ação eletrizante do terceiro ato, há tempo de respiro, para que emoções sejam sentidas, e isso é ótimo, evitando que seja só mais um filminho de pancadaria. Destaco especialmente o segundo ato da obra, onde somos completamente submersos aos ricos detalhes aquáticos.
E claro, quando Cameron traz a sua famosa ação, ela é igualmente e proporcionalmente impressionante, beleza e destruição possuem o mesmo peso, ambas de cair o queixo. Ninguém filma ação como James Cameron, isso precisa ser dito. A mecânica, as máquinas, as armas, naves, barcos, tudo tem um peso opressor, contrapondo com a leveza da natureza. Você sente o peso das ondas da água batendo, você sente o coice dos tiros, o peso dos gigantes animais, tudo impressiona pelo realismo físico e geográfico da ação, é formidável, e a câmera não nos poupa de enxergar tudo da forma mais linda ou amedrontadora possível. São detalhes únicos, seja no efeito de pós-produção ou na angulação da câmera, que faz com que se identifique o jeito do cineasta filmar. Titânico, magnífico.
A fotografia mais uma vez é brilhante, ainda mais impactante, profunda, iluminada e com cores naturais do que antes. A trilha sonora é assinada por Simon Franglen, que substitui o falecido e maravilhoso James Horner do primeiro filme, mantém o legado de Horner, é emocionante e ajuda a dar o tom à obra. O elenco está ótimo e consegue entregar fortes expressões faciais nos seus “avatares”. Zoe Saldana é a melhor em cena, seja na expressão ou no seu fabuloso trabalho vocal. Sam Worthington, um ator um tanto limitado, apresenta forte amadurecimento. Sigourney Weaver e Stephen Lang retornam de formas inesperadas e engenhosas. Kate Winslet, voltando a trabalhar com o diretor depois de Titanic, entrega um dos momentos mais dramáticos da obra.
Avatar: O Caminho da Água é brilhante tecnicamente, com o visual mais impressionante que o cinema já trouxe até aqui, em um filme com um roteiro ainda melhor, aprofundando ambientalismo, laços familiares e senso de pertencimento. O discurso é deveras simplista, mas efetivo e realista. O óbvio é dito de forma óbvia, mas sempre necessário e visualmente deslumbrante. Obra-prima, que ficará com você após a sessão, deixando expectativas sólidas para as continuações. Merece todo sucesso que inevitavelmente fará.
Cinema, acima de tudo, é imagética. E imagética perfeita também é fruto de um bom roteiro. Quem não compreende isso, não compreende cinema. Obra-prima <3
Casa de Antiguidades é mais um belo filme nacional que visa provocar e alertar sobre aquilo que divide e corroí uma nação. O racismo, o preconceito, o elitismo, a superioridade, o ódio às culturas diferentes daquilo que foi adotado como tradicional. Critica um Sul que se acha melhor, um Sul que quer se separar do restante do país, uma sociedade estruturada em raízes velhas e doentes. Confira o texto completo no site Minha Visão do Cinema (link na minha bio).
Fazia meses que não escrevia, ando com bloqueios criativos. Mas a volta à ativa não poderia ser melhor.
'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo' é o melhor filme dos últimos anos e a melhor utilização de um multiverso já feita. Original, emocionante e existencialista, é uma obra-prima. Vem conferir minha crítica e saiba os motivos deste ser um filme obrigatório:
No site Minha Visão do Cinema (link na minha bio).
Como fã dos monstros clássicos do cinema, sempre gosto da presença deles em produções variadas, assim como que reconheço a qualidade de animação da Sony, portanto sempre simpatizei com essa franquia, especialmente o 2° e 3° filmes. Mas é fato que esse último esgotou as ideias em roteiro, com piadas mais sem graça. Pode acabar por aqui.
Minha crítica completa no site Minha Visão do Cinema (link no perfil)
'007 - Sem Tempo Para Morrer' encerra a jornada de Daniel Craig como o agente secreto e encerra toda uma Era de James Bond. Solene, eletrizante, emocionante e polêmico, o filme vai gerar discussões por um bom tempo, até sabermos quem e como será o próximo filme e protagonista.
Belo, positivo e emocionante, 'Em Um Bairro de Nova York' traz a música, as cores, a sensualidade, a luta e a garra dos imigrantes latinos nos Estados Unidos. Uma carta de amor aos sonhadores e seus sueñitos, são eles que fazem a América funcionar. Com números musicais e rimas de tirar o fôlego, o melhor filme do ano até então. Confira minha crítica completa no site do Minha Visão do Cinema, link na minha bio!
Eis que chega o tão aguardado e polêmico novo filme do Nolan. 'Tenet' é uma superprodução com todos detalhes técnicos classe A e dignos de indicações a prêmios, com um uso elegante de efeitos visuais, trilha sonora, fotografia e direção de arte. A trama é complexa e confusa, mas não apenas no conceito, mas também no roteiro, edição e montagem, que tornam o filme confuso tanto de ser entendido quanto de se acompanhar, com muitos cortes bruscos que na verdade não gostei tanto.
O elenco se sai bem na medida do possível, John David Washington está bem no protagonismo, mas são os coadjuvantes Elizabeth Debicki e Robert Pattinson que possuem os momentos mais interessantes, dramáticos e misteriosos. Infelizmente nem o próprio elenco parece ao certo o que acontece e isso se reflete numa falta de gás na obra num todo. Ótimo conceito, mas tudo é tão complexo e por vezes contido, que parece que falta algo, uma "explosão", ao menos alguma cena de melhor explanação, falta uma liga nessa grande obra.
Nolan dirige bem o filme, embora fique aquém dos seus trabalhos perfeccionistas vistos em 'A Origem', 'Batman - O Cavaleiro das Trevas' e até mesmo o criticado 'Interestelar'. Aliás, pra quem reclama do excesso de explicações e emoções nesse último citado, ao menos 'Interestelar' é mais bem resolvido e tem algumas cenas que marcam, enquanto que 'Tenet', na sua confusão proposital, acaba talvez não tendo alguma cena tão marcante quanto os outros trabalhos do diretor.
Não é ruim, longe disso, em um 2020 com pouquíssimos filmes lançados, deve ser a melhor superprodução do ano, o que não é muito. Pode figurar em algumas listas, mas não será o filme do ano, como poderia ser facilmente. Talvez a obra seja tão "sofisticada e complexa" demais na mente do diretor que ele não conseguiu passar isso na prática. De qualquer forma, vale ainda assistir por ser aquele tipo de obra que transcende o simples fato de ser um filme. É mais do que isso, é uma experiência sensorial que deixa ganchos para discussões, e em um cinema atual tão simplista e repetido, 'Tenet' ao menos vai na contramão.
Regravações, compra da Fox pela Disney, mais regravações, pandemia e quase 3 anos de adiamentos tornam esse o filme mais azarado da história recente. O resultado é similar ao 'Esquadrão Suicida' e o reboot do 'Quarteto Fantástico', uma obra que inicialmente lá no projeto e no papel tem uma boa ideia, mas que ao longo do tempo se perdeu e o resultado é confuso. Não é um desastre completo, não é um 'Cats' da vida, mas decepciona pelo desenrolar genérico e sem inspiração.
O elenco tenta, assim como a emulação de um terror no universo dos 'X-Men', mas o roteiro não ajuda. A melhor coisa do filme é Anya Taylor-Joy, a jovem do momento, que depois de estourar em 'A Bruxa' e outras obras de terror, arrasou na nova minissérie da Netflix, 'O Gambito da Rainha'. 'Os Novos Mutantes' precisava de mais: mais liberdade pro diretor fazer um filme assumidamente de terror, mais ousadia no roteiro e uma censura mais alta (e portanto menos interferência da Disney). Afinal, 'Deadpool' e 'Logan' deram certo por justamente tomarem essas liberdades mais adultas.
Sophia Loren é uma das últimas grandes lendas e estrelas da Era de Ouro de Hollywood ainda vivas, uma das melhores atrizes de todos os tempos, tendo brilhado entre os anos 50 e 70, recebendo diversos prêmios. Depois disso, embora ainda aparecendo aqui e ali, ela se dedicou à família, tendo praticamente se aposentado nos últimos anos. Eis que é a família agora crescida, que traz a italiana de volta aos holofotes. Seu filho Edoardo Ponti, agora cineasta, dirige sua mãe neste comovente retorno da lenda. Ela interpreta uma sobrevivente do holocausto que decide mesmo receosa, a ajudar uma criança mulçumana que a assalta na rua. Mesmo que inicialmente com certos preconceitos, são nas lembranças da guerra e no observar de como as autoridades tratam imigrantes, que algo toca a personagem, começando assim uma história de amizade com o pequeno Momo.
Sophia Loren entrega uma excelente atuação, provando ser a artista que um dia conquistou o mundo. O jovem Ibrahima Gueye é incrível, sendo uma das melhores atuações mirins do ano. É um filme bem simples, talvez até careça de algo a mais, talvez algum aprofundamento no passado de Rosa, ou algo mais forte. Mas é nas sutilezas que este tipo de obra se apoia e nisso se sai bem. Na trilha sonora, temos até a lenda dançando o samba 'Malandro', na voz de Elza Soares. Em determinada e emocionante cena em um terraço, temos referências à obra 'Duas Mulheres' (1960), também sobre o holocausto e foi o filme que deu o Oscar de Melhor Atriz à Loren. Isso parece ser todo o cuidado e gratidão de seu filho, homenageando a carreira da mãe e a abdicação dela em prol da maternidade. A imagem materna que Momo tem em sua imaginação é uma leoa, e Loren é por sua vez, no desenrolar dos fatos, uma verdadeira leoa. Esse é o cinema italiano puro, simples e poético.
Embora recheado de clichês e algumas atitudes burras de personagens (e esse péssimo título brasileiro), é um filme competente na proposta, com alguns momentos de tensão mais sinceros e realistas, evitando exagerar no CGI e nas impossibilidades, um filme mais pé-no-chão do que '2012' ou 'Geostorm', por exemplo. Atuações ok e alguns pequenos momentos sutis de críticas sociais, como os supremacistas brancos atacando em pleno apocalipse, pessoas histéricas e outras nem aí pros acontecimentos (que nem a situação do Covid rsrs) e a tecnologia coletando dados da nação pra traçar perfis úteis pro governo (como a seleção dos que merecem sobreviver). Aqui e ali um filme minimamente interessante, com uma direção que erra no melodrama mas acerta nas cenas de histeria e caos.
Filmão! Depois de 'Coringa', mais um acerto da DC! 'Aves de Rapina' realmente é bom. Margot Robbie é incrível como Arlequina, ela reina e brilha. Ewan McGregor como Máscara Negra e Mary Elizabeth Winstead como Caçadora estão ótimos. Todo elenco tem timing e surpreende. É uma vibrante explosão de cor, insanidade, ação e muita representação feminista. Com humor incorreto e quebra da quarta parede na pegada de 'Deadpool', as coreografias de ação estilo 'John Wick' são muito bem elaboradas, destaque pras cenas do parque e as de patins. Sem falar nos elementos "tarantinescos".
O fato de ter uma diretora mulher é um diferencial. Não é apenas feminista, é um filme feminino em detalhes. É a ótica de uma mulher, a interação delas durante as lutas reforça isso, e a obra ainda tem cara de filme indie. Não se levando a sério, essa divertida emancipação feminina segue seu próprio caminho, deixando 'Esquadrão Suicida' no chinelo. 2 ou 3 cenas desse filme, sozinhas, já são melhores que aquele outro lá inteiro. Com uma excelente trilha sonora pop e rock e direção de arte chamativa, é mais uma alucinante viagem por Gotham. Fantabuloso!
Hollywood, envia mais 'Aves de Rapina', 'Mulher-Maravilha', 'Capitã Marvel', etc, que tá pouco. Vai ter mais girl power sim!
Confira a crítica do Guilherme Kaizer no site Minha Visão do Cinema.
Filmão! 'Aves de Rapina' realmente é bom. O fato de ter uma diretora mulher é um diferencial. Não é apenas feminista, é um filme feminino em detalhes. É a ótica de uma mulher, a interação delas durante as lutas, e tem cara de filme indie, mais um acerto da DC!
Muito provavelmente, '1917' deve sair como o grande vencedor do Oscar 2020 como Melhor Filme e Melhor Diretor (Sam Mendes). É um filme com técnicas visuais arrebatadoras, uma aula de direção, com tensão e adrenalina enervantes. Além disso, é uma obra de guerra sem patriotismo, medalhas e outras mentiras. Não há honra em sujar as mãos em sangue e pilhas de cadáveres. Não há vencedores, apenas jovens mortos e sonhos destruídos. Em tempos em que há rumores de conflitos, e líderes mundiais e pessoas que os seguem estão esquecendo dessas verdades, obras que retratem do real horror da guerra se fazem necessárias!
Poético, reflexivo e simbólico, a obra de terror psicológico traz as melhores atuações das carreiras de Willem Dafoe e Robert Pattinson. Se em 2016 o filme 'A Bruxa' trouxe simbolismos sobre feminismo, ignorância conservadora e libertação feminina, agora o diretor Robert Eggers traz uma trama sobre reclusão, solidão, comportamento masculino tóxico e complexidade sobre a convivência humana em situações extremas. Dafoe e Patinson são gigantes em tela, com uma bela complexidade artística.
A fotografia em preto e branco e o tamanho de tela mais quadrado e menos widescreen, dão não apenas um ar retrô e de filme clássico, como também ajudam a criar a atmosfera cinzenta, dúbia, gótica e imaginética. Com ritmo lento e uma construção sutil dos simbolismos, 'O Farol te prende aos poucos em um filme permeado pelo surrealismo, um conto de marinheiro lindamente capturado pelas lentes cinematográficas. Merecia mais indicações ao Oscar, pois está concorrendo apenas em Fotografia.
Leia nossa crítica completa no site Minha Visão do Cinema
Melhor "comédia" de 2019 e um dos melhores filmes do ano que se encerrou, 'Jojo Rabbit' traz um roteiro genial em uma trama agridoce e surpreendente. Em plena 2° Guerra Mundial, acompanhamos nosso protagonista, um menino alemão nacionalista, seguidor de nazistas e cujo amigo imaginário é o próprio Hitler, a grande figura da nação. Tudo se complica quando sua resistente mãe (Scarlett Johansson em ótima atuação, cheia de sutilezas) esconde uma menina judia.
O filme é brilhante ao começar de forma bobalhona, cheia de imaginários da criança, e aos poucos vai ficando sério e surpreendente, com diálogos que criticam e ironizam os horrores da guerra, o preconceito, o patriotismo, o fascismo. É interessante como o patriotismo e o ar de soberania são mostrados como algo burro, cruel e contraditório. Inclusive, o Hitler imaginário, muito bem atuado pelo diretor do filme, o querido e hilário Taika Waititi, é retratado como uma criança birrenta, teimosa, mimada e acéfala. É uma forma de dizer que tais ideais são assim, obscuros e impensados, apenas causando dor e divisões. Tem cenas hilárias que debocham o quanto ritos patrióticos são patéticos. Em outras cenas, é sarcástico o fato dos nazistas temerem tanto judeus e outras diversidades que criam lendas sobre eles, ao passo que não percebem que tais pessoas tem os mesmos hábitos humanos que eles, como se alimentarem e dormirem. Eles se esquecem que todo ser humano é igual nas necessidades.
O filme é muito sagaz em explorar isso e adaptar numa linguagem que serve para nossos dias. Infelizmente cada vez mais nossas crianças estão se espelhando em figuras de poder patriotas, mas perversas e irracionais (demoníacas talvez?). Estão se espelhando em "mitos" que fazem sinal da arminha e que se acham superiores aos outros, que utilizam de sua influência para atacar pessoas de pele, sexo, crenças e vida diferentes. Colocam uma falsa soberania, o corruptível dinheiro, a droga de uma bandeira ou o lixo de uma religião acima da vida do próximo. Em tempos em que assassinos e ignorantes são eleitos falando besteiras e destruindo o meio ambiente, 'Jojo Rabbit' é um filme necessário, que deveria ser passado em escolas. De maneira leve, mas emocionante, critica o militarismo e a supremacia de uma nação (seja qual for), mostrando que tais coisas são cruéis quando oprimem e tiram a vida do próximo. Por mais amor. E menos mitos imaginários.
NOTA: 9,5
Amanhã sai uma crítica completa no Minha Visão do Cinema, feita por um dos nossos colaboradores.
Duna: Parte 2
4.4 593Duna - Parte 2
This is cinema! (Martin Scorsese)
Épico, monumental, de tirar o fôlego. Uma aula de como se fazer cinema. Beleza e fúria transcendentes em imagem e som.
Por muito tempo, os livros de Duna de Frank Herbert foram considerados infilmáveis, tamanha complexidade. Mas o filme de 2021, no qual defendo muito, conseguiu trazer de forma palpável a atmosfera e densidade necessárias, por mais que seja uma obra incompleta, que serve apenas de introdução e contemplação à este universo. Meu medo era a continuação trazer apenas uma ação genérica e um desfecho apressado. Mas o que Denis Villeneuve faz é dobrar as apostas em tudo.
Efeitos especiais perfeitos, trilha sonora ensurdecedora e ação arrebatadora marcam presença. Mesmo assim, Villeneuve não simplifica nada, e o roteiro, as atuações, a complexidade e a urgência são elevadas ao máximo, em um dos filmes mais impactantes do cinema recente. É uma experiência elaborada para a tela grande e imersiva do cinema. Cada frame é pensado e enquadrado para o cinema! A direção de Villeneuve, a fotografia de Greig Fraser e a trilha sonora de Hans Zimmer trabalham em uníssono. São três deuses, três mestres no seu ápice.
Timothée Chalamet e Zendaya retornam liderando com convicção. Ele passa a insegurança de alguém franzino que teme o poder, mas que precisa tomar decisões difíceis que afetarão a todos. Ela passa a postura de guerreira, mas que duvida da profecia de se crer nesse salvador. A maravilhosa Rebecca Ferguson segue enigmática, roubando a cena com a personagem mais complexa da trama. Austin Butler é uma adição arrebatadora como o grande inimigo do protagonista, um vilão sádico e assustador, quase um "Coringa do espaço". Todo o elenco é estelar, coisa linda ver uma obra que não desperdiça um elenco desses, todos entregando muito.
Política, fanatismo religioso e a crença em um messias acabam sendo o ponto de partida para alegorias interessantes, sobre massas de manobra, genocídio, falsos messias e interpretações proféticas distorcidas, de acordo com a ambição de quem estiver "enxergando" o milagre. Tudo é denso, não existem saídas fáceis e o roteiro não nos poupa nada.
A contemplação, o peso das máquinas e vermes gigantes, o retumbar das explosões e corpos caindo, o som das partículas da areia ao vento, está tudo ali, mas com mais impacto do que nunca. Cinematografia espetacular, montagem frenética e crescente, é cinema bruto e puro exercício da imagética.
Uma ficção científica que marcará a nova geração e converterá muitos jovens em cinéfilos. Um milagre cinematográfico de crítica e público, um exemplo do porque a sétima arte é tão poderosa e sempre irá sobreviver. Oscar 2024 ainda nem aconteceu, e já temos o primeiro grande candidato ao Oscar 2025.
Cinema não fica melhor, não é mais cinema do que isso aqui. Um dos grandes filmes de 2024!
Nota: 10
O Menino e a Garça
4.0 215Novo filme do Studio Ghibli e do lendário Hayao Miyazaki, é mais uma obra inventiva narrativamente e linda visualmente, belamente rabiscada e animada.
Ao lidar com temáticas como amadurecimento, luto e perdão na infância, Miyazaki orquestra um anime maduro, mas que mantém o imaginário lúdico.
Existe um humor tragicômico presente em algumas cenas um tanto excêntricas, mas que são balanceadas com passagens emocionantes, conforme o protagonista vai se aprofundando nesse universo fantástico - e se auto descobrindo no caminho.
O roteiro não traz um vilão declarado, mas situações difíceis que precisam ser desenroladas, exigindo decisões e consequências. No mundo de fantasia, paradoxos são criados com o mundo humano real.
O Menino e a Garça será o provável campeão na categoria de Melhor Animação no Oscar 2024. E não é para menos. É mais um lembrete de como o cinema é uma linguagem e expressão artística universal, furando a bolha de Hollywood e dos Estados Unidos. Viva o cinema internacional.
Nota: 9
Anatomia de uma Queda
4.0 783 Assista AgoraAnatomia de Uma Queda
Ou, anatomia de uma relação falida. Ou, anatomia de um relacionamento tóxico. Ainda em tempo, anatomia de como julgamos o outro.
Ele caiu, se jogou ou foi jogado? Pouco importa! O que a potente diretora Justine Triet deseja aqui é dissecar, desmembrar, colocar uma lupa em como nós, expectadores (um júri), julgamos aquilo que só sabemos superficialmente, muitas vezes cegos por ideias pré-concebidas. Desconhecemos no próximo aquilo que ele enfrenta entre quatro paredes.
Espetacular atuação de Sandra Hüller, madura, complexa e que abriga camadas.
Camadas estas que vão sendo descascadas conforme o roteiro costura a anatomia da obra. A direção de Justine e a atuação de Sandra são um combo e um grande lembrete da força feminina, diante e atrás das câmeras.
Fotografia belíssima e passagens tocantes contemplam esse thriller dramático, sempre sofisticado e pungente. Uma obra densa, difícil de digerir e que merece a aclamação que vem recebendo desde o último Festival de Cannes.
Obs: melhor atuação canina de 2023, tem uma cena de apertar o coração.
Nota: 9
Zona de Interesse
3.6 578 Assista AgoraIgnore o mau, e torne-se parte dele.
O drama de Jonathan Glazer talvez até careça de um pouco de ritmo na sua metade final, mas talvez este seja um dos mais aterrorizantes longas feitos recentemente.
Acompanhamos uma bela família cuidando da sua vida, das crianças e do jardim. Eles são nazistas, vizinhos de um campo de concentração. Eles ignoram gritos, fumaças e sinais do horror ao seu lado. E apesar de se passar no holocausto, ele é sobre algo mais. Sobre nossa inércia diante toda forma de crueldade.
Ora, se eu tenho que trabalhar, horários à cumprir, sustentar a família, cuidar de um familiar doente; se estou cansado, com contas à pagar, dentre outros compromissos, porque me importar? Se não faço parte de uma minoria, grupo étnico, religião ou núcleo que está sofrendo algum tipo de violência ou perseguição, porque me posicionar?
Mas ao ignorar as trevas ao meu redor, racismos, preconceitos, abismos sociais, não estou sendo negligente, perpetuando a maldade? Ao ignorar a dor alheia, não estou fazendo parte da opressão?
É fácil cuidar da própria vida, enquanto o mau cresce ao nosso redor. Difícil será não ter culpa, não fazer parte das trevas que nos negamos a lutar contra.
Zona de Interesse é sobre a banalidade da decadência humana. E essa banalidade está mais perto do que nunca, disfarçada sob um véu de família, fé, patriotismo, dentre outras coisas.
Ignore o mau, e torne-se parte dele.
Nota: 9
Vidas Passadas
4.2 723 Assista AgoraEm 'Vidas Passadas', surpreendente longa de estreia de Celine Song, somos envolvidos em uma trama sutil e delicada, sobre reencontros, lembranças e questionamentos sobre as probabilidades. E se?
Dois amigos de infância se reencontram anos depois, reacendendo nostalgia, saudades, senso de pertencimento e leveza. Um causa no outro sensações outrora perdidas, ou ignoradas. Mas hoje, cada um tem sua vida e relacionamentos. Tal reencontro é um esbarrão, um nó, uma probabilidade no espaço-tempo no microcosmo de cada uma de suas personas.
Na vida, temos contato com certas almas que não conseguimos ficar juntos, mas elas sempre serão uma parte importante do que moldou nossa jornada. São nós impossíveis de desatar ou ignorar. Mas isso não significa que serão parte do nosso futuro. Reencontros não são necessariamente uma ressignificação do passado.
Um dos filmes mais delicados de 2023, uma história de amor que foge do óbvio e te transporta para uma reflexão introspectiva sobre aqueles que tocaram a sua vida até aqui, nessa parte da sua, e da minha jornada.
Excelentes atuações, cinematografia naturalista e decupagem enxuta contemplam as características técnicas desta pequena gema.
Nota: 9
Pobres Criaturas
4.2 1,1K Assista Agora'Pobres Criaturas' é brilhante, ousado, excêntrico, surrealista, sensual, teatral, ácido e ultrajante.
Emma Stone é uma força da natureza, em um tour de force espetacular. O roteiro é muito bem costurado, fazendo críticas ácidas à sociedade de forma pouco convencional, em um humor sem pudor e que flerta com o bizarro.
Fotografia, figurino, direção de arte e toda mise en scène trazem um lúdico e teatral lindo de se ver em cada frame. E a trilha sonora é uma das mais marcantes da temporada.
Sexo e a arte: é impressionante como os filmes estão cada vez mais infantilizados e pasteurizados. E nisso, muito se fala sobre não precisar ter cenas de sexo nas obras. Tolice. A arte (livros, filmes) abordam todos os periféricos da vida, incluindo o sexo. Ele e os corpos nus existem, estão presentes o tempo todo, afinal a humanidade vem à existência através disso. É bizarro como colocam tabu em algo que todos buscam.
É aí que filmes como 'Pobres Criaturas' se tornam importantes, indo na contramão e utilizando a sensualidade como porta de discussão para vários aspectos, como a liberdade sexual feminina, e em como isso está ligado à busca por uma identidade e lugar no mundo.
Uma mulher livre sexualmente e socialmente, com opinião própria e livros (conhecimento) na mão, amedrontam os homens e a sociedade que eles tentam conservar.
'Pobres Criaturas' é genial, um dos melhores filmes de 2023 e um dos mais fortes concorrentes nessa temporada de Oscar.
Nota: 10
Os Fabelmans
4.0 388The Fabelmans
Aos 76 anos de idade, com mais de 50 de carreira e quase 40 longas como diretor (fora as dezenas como produtor), Steven Spielberg já não deve mais nada ao cinema. De Tubarão a E.T., de Indiana Jones a Jurassic Park, de A Lista de Schindler a O Resgate do Soldado Ryan, para citar apenas alguns, Spielberg é um dos mestres da manipulação de emoções, tensão e pura magia cinematográfica.
Mas com seu novo filme, ele usa a fictícia família Fabelmans para narrar sua própria biografia, sua infância e seu amor pelo cinema. Aqui, ele não revela apenas a si próprio, mas também coloca seus pais diante do reflexo do espelho.
Nostálgico, com aquela magia do mestre, ao mesmo tempo é triste e introspectivo. De sua obsessão quando criança, passando a ser sua paixão quando mais velho, Sam (ou Spielberg) encontra seu refúgio atrás da câmera cada vez que a vida machuca. Seja pela relação conturbada de seus pais, ou por sofrer perseguição na escola por ser judeu, cada vez que ele está quebrado, é no fazer cinema em que ele se reconstrói.
Algumas verdades são ditas àqueles que amam a arte: ela dá frutos, mas também causa solidão. O tio avisa: "família, arte, isso vai dividir você." De certa forma o filme mostra que quem vive pela arte precisa fazer sacrifícios inevitáveis.
Isso é brilhantemente retratado pela figura da mãe, Mitzi, que tem uma fome de arte, de viver, é um estado de espírito que Sam (Spielberg) herdou. A mente criativa de Mitzi, lindamente atuada por Michelle Williams, é tão eufórica quanto desesperada, talvez aguardando uma espécie de milagre, um milagre que somente a arte pode suprir.
Com carga emocional, The Fabelmans é sobre o amor à arte, ao cinema, à família. E é sobre a dor da vida que habita no meio desses amores. Com atuações impecáveis, duas participações especiais de deixar um sorriso no rosto, tecnicamente perfeito em imagem e som, Spielberg faz o seu Cinema Paradiso (que por sinal é meu filme favorito), mas com suas próprias percepções da vida, retratada sob as lentes da câmera.
É difícil não me identificar. Amar a arte não é um hobby, é um estado de espírito: lindo, excitante, solitário e devastador.
Nota 10
Aftersun
4.1 700Diferentes filmes causam impacto de múltiplas formas, em tempos distintos.
Faz um mês que assisti Aftersun, e ele só cresce e melhora na minha mente. Estou em uma fase da vida em que este tipo de obra íntima e introspectiva fala alto comigo. Aqui, gravações e memórias de uma viagem entre pai e filha se entrelaçam entre o concreto e o abstrato, entre o visível e o não dito, em uma montanha-russa de sentimentos.
Nos identificamos com a menina pela sua memória afetiva terna, mas de descobertas, seja pelo despertar do amor, seja por não compreender os problemas do pai, aquilo que atormenta um adulto. Me identifico ainda mais com ele, um jovem adulto que demonstra uma melancólica e silenciosa depressão, frustrado com situações de sua vida. Muito da potente atuação de Paul Mescal está no olhar, no silêncio, na dor guardada.
Aftersun mescla gravações e memórias como se fossem a mesma coisa, flashes da vida, registradas como cinema. Isso é lindo, já que o filme se baseia nas experiências da própria diretora, Charlotte Wells. Vinda de curtas, é impressionante seu trabalho no seu primeiro longa-metragem, ficaremos de olho nela. Ao trazer sua pessoalidade com humanidade e poesia, Wells faz seu cinema como registro da vida.
Poderoso nas sutilezas, é uma das grandes obras de 2022. Começa simplista, e se desenvolve avassalador. A cena da "última dança" ao som de Under Pressure do David Bowie e Queen, e a sequência final, estão entre as mais belas passagens do ano. Aquela balada metafórica de Sophie, onde ela criança e adulta (agora compreendendo) encontram o pai, aquele final devastador dele interrompendo as gravações, podem não dar todas as respostas, mas dizem muito. Machuca, e vocês sabem, eu amo um filme que machuca, porque se torna algo marcante. É a vida.
Memórias são fragmentos, nem sempre 100% compreensíveis. Não se trata de entender, mas de sentir.
Nota 10
Avatar: O Caminho da Água
3.9 1,3K Assista AgoraAvatar: O Caminho da Água é cinema na forma pura, que transcende a tela (2022, de James Cameron)
Sim, eu sei, o título do texto parece um tanto indulgente. Assim como alguns cineastas, como James Cameron, também parecem ser. Assim como dizer que tal filme “é cinema puro” gera certa discussão sobre o que seria essa pureza cinematográfica. O cinema é a imagem em movimento, sem explicações, sem desculpas, é a imagem por si só sendo apreciada. Esse conceito mais clássico e intelectual, quase abstrato, da imagem por si só, é uma coisa que às vezes quase se perde no decorrer dos anos, quando se possui nos holofotes essas grandes sagas cheias de narrativas e personagens, ideias mirabolantes e filmes vencedores do Oscar cheios de diálogos incríveis. Tudo isso é muito bom, tudo isso é cinema.
Mas um cineasta nunca deve perder de vista um fator inestimável, aquele que fica na nossa memória após assistirmos a um grande filme: a imagética, a imagem por si só, seja em uma história narrada, seja até mesmo na falta de uma história. Falta de uma história? Sim, afinal quantos filmes, do clássico mudo aos experimentais recentes, do documentário à ficção, não trazem narrativas claras, mas impressionam pela captação das imagens na câmera? Isso também é cinema de qualidade. E filmes assim também possuem um bom roteiro. A Chegada do Trem na Estação, de 1895, considerado o primeiro filme da história do cinema, é apenas uma câmera captando o cotidiano da estação, passageiros vem e vão. Assim nasceu o cinema, e mudou o mundo para sempre. Mad Max: Estrada da Fúria é ação pura, uma sequência interminável de perseguições, e seu roteiro é excelente, pois consegue algo raro: desenvolver mundo, personagens e situações na base da adrenalina. Nascia ali o que é considerado o melhor filme de ação de todos os tempos até agora.
Aliás, quanto ao roteiro, muitos o confundem com diálogos, ou originalidade, o que são coisas completamente diferentes. Um bom roteiro pode escolher dizer algo ao público através de um diálogo entre personagens (filmes do Scorsese ou Tarantino), ou apenas através de uma silenciosa cena (Nosferatu, Wall-e). E originalidade é criatividade, seja na escrita do roteiro, seja na forma que a história será narrada visualmente pelo diretor. Dizer que algo é original hoje em dia é complexo, devido à imensa quantidade de histórias que o cinema já nos narrou, praticamente de todos os tipos, mas vez por outra algum filme traz diversos clichês emaranhados de forma criativa (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo), o que dá pra julgar ao seu modo, como algo original. Um bom roteiro engloba tudo em um filme, não precisa ter diálogos complexos ou originalidade de sobra. Um bom roteiro pode sim ser um clássico clichê e se sobressair na forma visual com que um filme é mostrado, afinal, o roteiro é a parte escrita na pré-filmagem, e a mágica de verdade acontece no momento que a câmera roda e externaliza as páginas do roteiro. Um filme lindo esteticamente ainda é fruto de um bom roteiro, cuja proposta foi a experiência visual.
Toda essa minha introdução serve apenas para basear com fatos históricos e cinematográficos aquilo que vou escrever agora. Avatar: O Caminho da Água é uma obra-prima e um tipo de cinema na sua forma pura, a imagética por si só, sem pedidos de desculpas, e é impressionante. É aquela obra que vai além de ser apenas um filme, ela se torna uma experiência visual e sensorial, para ser experimentada, vivida, sentida no cinema. Transcende a tela, não só literalmente pelo 3D, mas de forma quase espiritual, é algo para ser presenciada pessoalmente e é algo para se gabar às futuras gerações. É o tipo de filme que cria uma geração de novos cinéfilos, apaixonados pela sétima arte.
Não foram poucas vezes que James Cameron impressionou o mundo, dominou as bilheterias e virou sensação no Oscar. O Exterminador do Futuro (1984), Aliens, O Resgate (1986), O Segredo do Abismo (1989), O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final (1991), True Lies (1994), Titanic (1997) e Avatar (2009). Ação impressionante, efeitos especiais inovadores desenvolvidos pela sua própria equipe, criação de mundos fantásticos, senso de urgência e catástrofe, raros casos de continuações melhores que o primeiro filme, dentre outras questões. Com Titanic, Cameron ganha seu Oscar de Melhor Diretor, dos onze prêmios conquistados pelo filme. Com Avatar, Cameron revoluciona a imagem do cinema, os mundos de fantasia, a computação gráfica, a captura de movimento dos atores e o uso espetacular do 3D, uma tecnologia já antiga e anteriormente fracassada.
Treze anos depois, desenvolvendo técnicas ainda melhores, Cameron entrega seu aguardado Avatar: O Caminho da Água e impressiona ainda mais, seja pelo 3D, seja pela criação de mundo. Tudo retorna ainda mais palpável, mais completo, mais detalhado. A profundidade e a escala das cenas é inacreditável. Um ultrarrealismo confunde seu cérebro, pois realmente parece que aquela lua, os nativos, a fauna e a flora, que tudo isso é realmente real, parecem de fato seres vivos bem na sua frente, ampliados por um impressionante uso de 48 frames por segundo, ao contrário dos normais 24, deixando tudo ainda mais realista. É quase um teatro, um concerto, um show cinematográfico ao vivo. E tudo isso, a imagem por si só, já bastaria. Mas não para por aqui.
A história, a tal da trama de Avatar que muitos dizem pela internet ser fraca, é ainda melhor, mais forte que a do primeiro, que já era boa. Dentro da proposta de Cameron, existem apenas algumas limitações. E essas limitações se devem ao conceito de franquia. Pois sim, Cameron planeja até o quinto filme, no mínimo. E é justamente pensando no conceito de franquia, que algumas escolhas narrativas e alguns destinos são indecisos e abertos, similar ao que Star Wars, Marvel e DC fazem em suas sagas e poucos criticam. Mas o roteiro dessa segunda aventura ainda é melhor que o do primeiro, trazendo mais detalhes e aprofundamentos no que tange mundo, costumes e crenças. Até o caricato vilão ganha um pouco de dimensão. Ainda há espaço para melhorias, mas é algo que está sendo construído.
O foco nos filhos de Jake e Neytiri é um acerto, especialmente o destemido Lo’ak e a maravilhosa Kiri, que roubam o protagonismo com força. Os jovens são carismáticos e acompanhamos as novidades e mudanças sob suas óticas. Há também Spider, um jovem humano abandonado em Pandora e amigo da família, que trará um dilema ambíguo e de potencial. Aqui, o roteiro se dá ao luxo de brincar um pouco com o conceito de paternidade, criando conflitos interessantes.
Missão pessoal da vida de Cameron, a ecologia está ainda mais presente. Seu fascínio pelo mar traz as mais impressionantes cenas aquáticas já apresentadas, é de tirar o fôlego. É como se o público estivesse mergulhando junto. Se no primeiro longa tivemos a flora como ponto de ruptura, aqui temos a fauna aquática. Uma espécie de baleia alienígena se torna o foco ambiental, central e dramático, e é impressionante como apesar de ser uma criatura em CGI, sentimos ela como de verdade. Existe realmente emoção e paixão aqui, e esse é um dos motivos de Avatar não ser “tão original” assim (e nem precisaria ser).
Avatar traz na sua simplicidade a identificação com o mundo real, as árvores que queimam de verdade, a baleia que é caçada de verdade. Essa identificação com o meio ambiente humano é a real meta de Cameron, para que ele possa fazer sua defesa, seu alerta sobre o quanto estamos destruindo nosso planeta, e automaticamente, acabando com o nosso próprio futuro. Isso é um fato, e está em curso, e Avatar é uma vitrine cinematográfica de milhões de dólares, onde o cineasta esfrega essa verdade em nossa cara. Esse tal “clichê” que muitos apontam é a nossa realidade, e em tempos de desinformação e falta de interesse, ser direto e simplista nisso faz-se necessário para captar a maioria das pessoas, as massas. Sim, é um apelo emocional que poderia ser brega, mas como um experiente cineasta que trabalha com arcos dramáticos mais clássicos, Cameron, assim como Spielberg, sabe chegar no limite do brega, da chantagem emocional, do clichê, e manipular tudo favoravelmente a ponto de virar a melhor coisa do mundo.
“I see you”, ou “eu vejo você”, a frase tema da franquia, é literalmente um convite a enxergarmos de verdade aquilo que está ao nosso redor, especialmente a natureza e sua beleza. De certa forma, James Cameron clama para que depois do filme, larguemos o óculos 3D e olhemos a beleza natural que nos cerca, e que estamos destruindo. Essa mensagem fica ainda mais evidente nessa segunda aventura.
Como todo bom filme que se preocupa em construir um novo mundo, O Caminho da Água flui de forma suave, contemplativa, deixando-nos degustar das paisagens, das árvores, dos animais, dos nativos e seus costumes. Mas nunca chato, nunca cansativo. Ao contrário, as três horas passam voando, pois sempre há muito o que olhar, o que se encantar, o que absorver, tamanha riqueza da imagética. Apesar da ação eletrizante do terceiro ato, há tempo de respiro, para que emoções sejam sentidas, e isso é ótimo, evitando que seja só mais um filminho de pancadaria. Destaco especialmente o segundo ato da obra, onde somos completamente submersos aos ricos detalhes aquáticos.
E claro, quando Cameron traz a sua famosa ação, ela é igualmente e proporcionalmente impressionante, beleza e destruição possuem o mesmo peso, ambas de cair o queixo. Ninguém filma ação como James Cameron, isso precisa ser dito. A mecânica, as máquinas, as armas, naves, barcos, tudo tem um peso opressor, contrapondo com a leveza da natureza. Você sente o peso das ondas da água batendo, você sente o coice dos tiros, o peso dos gigantes animais, tudo impressiona pelo realismo físico e geográfico da ação, é formidável, e a câmera não nos poupa de enxergar tudo da forma mais linda ou amedrontadora possível. São detalhes únicos, seja no efeito de pós-produção ou na angulação da câmera, que faz com que se identifique o jeito do cineasta filmar. Titânico, magnífico.
A fotografia mais uma vez é brilhante, ainda mais impactante, profunda, iluminada e com cores naturais do que antes. A trilha sonora é assinada por Simon Franglen, que substitui o falecido e maravilhoso James Horner do primeiro filme, mantém o legado de Horner, é emocionante e ajuda a dar o tom à obra. O elenco está ótimo e consegue entregar fortes expressões faciais nos seus “avatares”. Zoe Saldana é a melhor em cena, seja na expressão ou no seu fabuloso trabalho vocal. Sam Worthington, um ator um tanto limitado, apresenta forte amadurecimento. Sigourney Weaver e Stephen Lang retornam de formas inesperadas e engenhosas. Kate Winslet, voltando a trabalhar com o diretor depois de Titanic, entrega um dos momentos mais dramáticos da obra.
Avatar: O Caminho da Água é brilhante tecnicamente, com o visual mais impressionante que o cinema já trouxe até aqui, em um filme com um roteiro ainda melhor, aprofundando ambientalismo, laços familiares e senso de pertencimento. O discurso é deveras simplista, mas efetivo e realista. O óbvio é dito de forma óbvia, mas sempre necessário e visualmente deslumbrante. Obra-prima, que ficará com você após a sessão, deixando expectativas sólidas para as continuações. Merece todo sucesso que inevitavelmente fará.
É a imagem por si só, é o cinema por si só.
Mais críticas no meu site, Minha Visão do Cinema
Avatar: O Caminho da Água
3.9 1,3K Assista AgoraCinema, acima de tudo, é imagética. E imagética perfeita também é fruto de um bom roteiro. Quem não compreende isso, não compreende cinema. Obra-prima <3
Casa de Antiguidades
3.1 29Casa de Antiguidades é mais um belo filme nacional que visa provocar e alertar sobre aquilo que divide e corroí uma nação. O racismo, o preconceito, o elitismo, a superioridade, o ódio às culturas diferentes daquilo que foi adotado como tradicional. Critica um Sul que se acha melhor, um Sul que quer se separar do restante do país, uma sociedade estruturada em raízes velhas e doentes. Confira o texto completo no site Minha Visão do Cinema (link na minha bio).
Tudo em Todo O Lugar ao Mesmo Tempo
4.0 2,1K Assista AgoraFazia meses que não escrevia, ando com bloqueios criativos. Mas a volta à ativa não poderia ser melhor.
'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo' é o melhor filme dos últimos anos e a melhor utilização de um multiverso já feita. Original, emocionante e existencialista, é uma obra-prima. Vem conferir minha crítica e saiba os motivos deste ser um filme obrigatório:
No site Minha Visão do Cinema (link na minha bio).
Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão
3.2 112 Assista AgoraComo fã dos monstros clássicos do cinema, sempre gosto da presença deles em produções variadas, assim como que reconheço a qualidade de animação da Sony, portanto sempre simpatizei com essa franquia, especialmente o 2° e 3° filmes. Mas é fato que esse último esgotou as ideias em roteiro, com piadas mais sem graça. Pode acabar por aqui.
007: Sem Tempo para Morrer
3.6 564 Assista AgoraMinha crítica completa no site Minha Visão do Cinema (link no perfil)
'007 - Sem Tempo Para Morrer' encerra a jornada de Daniel Craig como o agente secreto e encerra toda uma Era de James Bond. Solene, eletrizante, emocionante e polêmico, o filme vai gerar discussões por um bom tempo, até sabermos quem e como será o próximo filme e protagonista.
Em um Bairro de Nova York
3.6 125 Assista AgoraBelo, positivo e emocionante, 'Em Um Bairro de Nova York' traz a música, as cores, a sensualidade, a luta e a garra dos imigrantes latinos nos Estados Unidos. Uma carta de amor aos sonhadores e seus sueñitos, são eles que fazem a América funcionar. Com números musicais e rimas de tirar o fôlego, o melhor filme do ano até então. Confira minha crítica completa no site do Minha Visão do Cinema, link na minha bio!
Tenet
3.4 1,3K Assista AgoraEis que chega o tão aguardado e polêmico novo filme do Nolan. 'Tenet' é uma superprodução com todos detalhes técnicos classe A e dignos de indicações a prêmios, com um uso elegante de efeitos visuais, trilha sonora, fotografia e direção de arte. A trama é complexa e confusa, mas não apenas no conceito, mas também no roteiro, edição e montagem, que tornam o filme confuso tanto de ser entendido quanto de se acompanhar, com muitos cortes bruscos que na verdade não gostei tanto.
O elenco se sai bem na medida do possível, John David Washington está bem no protagonismo, mas são os coadjuvantes Elizabeth Debicki e Robert Pattinson que possuem os momentos mais interessantes, dramáticos e misteriosos. Infelizmente nem o próprio elenco parece ao certo o que acontece e isso se reflete numa falta de gás na obra num todo. Ótimo conceito, mas tudo é tão complexo e por vezes contido, que parece que falta algo, uma "explosão", ao menos alguma cena de melhor explanação, falta uma liga nessa grande obra.
Nolan dirige bem o filme, embora fique aquém dos seus trabalhos perfeccionistas vistos em 'A Origem', 'Batman - O Cavaleiro das Trevas' e até mesmo o criticado 'Interestelar'. Aliás, pra quem reclama do excesso de explicações e emoções nesse último citado, ao menos 'Interestelar' é mais bem resolvido e tem algumas cenas que marcam, enquanto que 'Tenet', na sua confusão proposital, acaba talvez não tendo alguma cena tão marcante quanto os outros trabalhos do diretor.
Não é ruim, longe disso, em um 2020 com pouquíssimos filmes lançados, deve ser a melhor superprodução do ano, o que não é muito. Pode figurar em algumas listas, mas não será o filme do ano, como poderia ser facilmente. Talvez a obra seja tão "sofisticada e complexa" demais na mente do diretor que ele não conseguiu passar isso na prática. De qualquer forma, vale ainda assistir por ser aquele tipo de obra que transcende o simples fato de ser um filme. É mais do que isso, é uma experiência sensorial que deixa ganchos para discussões, e em um cinema atual tão simplista e repetido, 'Tenet' ao menos vai na contramão.
Nota: 8 (mas poderia ser 10)
Os Novos Mutantes
2.6 719 Assista AgoraRegravações, compra da Fox pela Disney, mais regravações, pandemia e quase 3 anos de adiamentos tornam esse o filme mais azarado da história recente. O resultado é similar ao 'Esquadrão Suicida' e o reboot do 'Quarteto Fantástico', uma obra que inicialmente lá no projeto e no papel tem uma boa ideia, mas que ao longo do tempo se perdeu e o resultado é confuso. Não é um desastre completo, não é um 'Cats' da vida, mas decepciona pelo desenrolar genérico e sem inspiração.
O elenco tenta, assim como a emulação de um terror no universo dos 'X-Men', mas o roteiro não ajuda. A melhor coisa do filme é Anya Taylor-Joy, a jovem do momento, que depois de estourar em 'A Bruxa' e outras obras de terror, arrasou na nova minissérie da Netflix, 'O Gambito da Rainha'. 'Os Novos Mutantes' precisava de mais: mais liberdade pro diretor fazer um filme assumidamente de terror, mais ousadia no roteiro e uma censura mais alta (e portanto menos interferência da Disney). Afinal, 'Deadpool' e 'Logan' deram certo por justamente tomarem essas liberdades mais adultas.
Rosa e Momo
3.7 302 Assista AgoraSophia Loren é uma das últimas grandes lendas e estrelas da Era de Ouro de Hollywood ainda vivas, uma das melhores atrizes de todos os tempos, tendo brilhado entre os anos 50 e 70, recebendo diversos prêmios. Depois disso, embora ainda aparecendo aqui e ali, ela se dedicou à família, tendo praticamente se aposentado nos últimos anos. Eis que é a família agora crescida, que traz a italiana de volta aos holofotes. Seu filho Edoardo Ponti, agora cineasta, dirige sua mãe neste comovente retorno da lenda. Ela interpreta uma sobrevivente do holocausto que decide mesmo receosa, a ajudar uma criança mulçumana que a assalta na rua. Mesmo que inicialmente com certos preconceitos, são nas lembranças da guerra e no observar de como as autoridades tratam imigrantes, que algo toca a personagem, começando assim uma história de amizade com o pequeno Momo.
Sophia Loren entrega uma excelente atuação, provando ser a artista que um dia conquistou o mundo. O jovem Ibrahima Gueye é incrível, sendo uma das melhores atuações mirins do ano. É um filme bem simples, talvez até careça de algo a mais, talvez algum aprofundamento no passado de Rosa, ou algo mais forte. Mas é nas sutilezas que este tipo de obra se apoia e nisso se sai bem. Na trilha sonora, temos até a lenda dançando o samba 'Malandro', na voz de Elza Soares. Em determinada e emocionante cena em um terraço, temos referências à obra 'Duas Mulheres' (1960), também sobre o holocausto e foi o filme que deu o Oscar de Melhor Atriz à Loren. Isso parece ser todo o cuidado e gratidão de seu filho, homenageando a carreira da mãe e a abdicação dela em prol da maternidade. A imagem materna que Momo tem em sua imaginação é uma leoa, e Loren é por sua vez, no desenrolar dos fatos, uma verdadeira leoa. Esse é o cinema italiano puro, simples e poético.
Destruição Final: O Último Refúgio
3.2 583 Assista AgoraEmbora recheado de clichês e algumas atitudes burras de personagens (e esse péssimo título brasileiro), é um filme competente na proposta, com alguns momentos de tensão mais sinceros e realistas, evitando exagerar no CGI e nas impossibilidades, um filme mais pé-no-chão do que '2012' ou 'Geostorm', por exemplo. Atuações ok e alguns pequenos momentos sutis de críticas sociais, como os supremacistas brancos atacando em pleno apocalipse, pessoas histéricas e outras nem aí pros acontecimentos (que nem a situação do Covid rsrs) e a tecnologia coletando dados da nação pra traçar perfis úteis pro governo (como a seleção dos que merecem sobreviver). Aqui e ali um filme minimamente interessante, com uma direção que erra no melodrama mas acerta nas cenas de histeria e caos.
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa
3.4 1,4KFilmão! Depois de 'Coringa', mais um acerto da DC! 'Aves de Rapina' realmente é bom. Margot Robbie é incrível como Arlequina, ela reina e brilha. Ewan McGregor como Máscara Negra e Mary Elizabeth Winstead como Caçadora estão ótimos. Todo elenco tem timing e surpreende. É uma vibrante explosão de cor, insanidade, ação e muita representação feminista. Com humor incorreto e quebra da quarta parede na pegada de 'Deadpool', as coreografias de ação estilo 'John Wick' são muito bem elaboradas, destaque pras cenas do parque e as de patins. Sem falar nos elementos "tarantinescos".
O fato de ter uma diretora mulher é um diferencial. Não é apenas feminista, é um filme feminino em detalhes. É a ótica de uma mulher, a interação delas durante as lutas reforça isso, e a obra ainda tem cara de filme indie. Não se levando a sério, essa divertida emancipação feminina segue seu próprio caminho, deixando 'Esquadrão Suicida' no chinelo. 2 ou 3 cenas desse filme, sozinhas, já são melhores que aquele outro lá inteiro. Com uma excelente trilha sonora pop e rock e direção de arte chamativa, é mais uma alucinante viagem por Gotham. Fantabuloso!
Hollywood, envia mais 'Aves de Rapina', 'Mulher-Maravilha', 'Capitã Marvel', etc, que tá pouco. Vai ter mais girl power sim!
Confira a crítica do Guilherme Kaizer no site Minha Visão do Cinema.
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa
3.4 1,4KFilmão! 'Aves de Rapina' realmente é bom. O fato de ter uma diretora mulher é um diferencial. Não é apenas feminista, é um filme feminino em detalhes.
É a ótica de uma mulher, a interação delas durante as lutas, e tem cara de filme indie, mais um acerto da DC!
1917
4.2 1,8K Assista AgoraMuito provavelmente, '1917' deve sair como o grande vencedor do Oscar 2020 como Melhor Filme e Melhor Diretor (Sam Mendes). É um filme com técnicas visuais arrebatadoras, uma aula de direção, com tensão e adrenalina enervantes. Além disso, é uma obra de guerra sem patriotismo, medalhas e outras mentiras. Não há honra em sujar as mãos em sangue e pilhas de cadáveres. Não há vencedores, apenas jovens mortos e sonhos destruídos. Em tempos em que há rumores de conflitos, e líderes mundiais e pessoas que os seguem estão esquecendo dessas verdades, obras que retratem do real horror da guerra se fazem necessárias!
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraPoético, reflexivo e simbólico, a obra de terror psicológico traz as melhores atuações das carreiras de Willem Dafoe e Robert Pattinson. Se em 2016 o filme 'A Bruxa' trouxe simbolismos sobre feminismo, ignorância conservadora e libertação feminina, agora o diretor Robert Eggers traz uma trama sobre reclusão, solidão, comportamento masculino tóxico e complexidade sobre a convivência humana em situações extremas. Dafoe e Patinson são gigantes em tela, com uma bela complexidade artística.
A fotografia em preto e branco e o tamanho de tela mais quadrado e menos widescreen, dão não apenas um ar retrô e de filme clássico, como também ajudam a criar a atmosfera cinzenta, dúbia, gótica e imaginética. Com ritmo lento e uma construção sutil dos simbolismos, 'O Farol te prende aos poucos em um filme permeado pelo surrealismo, um conto de marinheiro lindamente capturado pelas lentes cinematográficas. Merecia mais indicações ao Oscar, pois está concorrendo apenas em Fotografia.
Leia nossa crítica completa no site Minha Visão do Cinema
Jojo Rabbit
4.2 1,6K Assista AgoraMelhor "comédia" de 2019 e um dos melhores filmes do ano que se encerrou, 'Jojo Rabbit' traz um roteiro genial em uma trama agridoce e surpreendente. Em plena 2° Guerra Mundial, acompanhamos nosso protagonista, um menino alemão nacionalista, seguidor de nazistas e cujo amigo imaginário é o próprio Hitler, a grande figura da nação. Tudo se complica quando sua resistente mãe (Scarlett Johansson em ótima atuação, cheia de sutilezas) esconde uma menina judia.
O filme é brilhante ao começar de forma bobalhona, cheia de imaginários da criança, e aos poucos vai ficando sério e surpreendente, com diálogos que criticam e ironizam os horrores da guerra, o preconceito, o patriotismo, o fascismo. É interessante como o patriotismo e o ar de soberania são mostrados como algo burro, cruel e contraditório. Inclusive, o Hitler imaginário, muito bem atuado pelo diretor do filme, o querido e hilário Taika Waititi, é retratado como uma criança birrenta, teimosa, mimada e acéfala. É uma forma de dizer que tais ideais são assim, obscuros e impensados, apenas causando dor e divisões. Tem cenas hilárias que debocham o quanto ritos patrióticos são patéticos. Em outras cenas, é sarcástico o fato dos nazistas temerem tanto judeus e outras diversidades que criam lendas sobre eles, ao passo que não percebem que tais pessoas tem os mesmos hábitos humanos que eles, como se alimentarem e dormirem. Eles se esquecem que todo ser humano é igual nas necessidades.
O filme é muito sagaz em explorar isso e adaptar numa linguagem que serve para nossos dias. Infelizmente cada vez mais nossas crianças estão se espelhando em figuras de poder patriotas, mas perversas e irracionais (demoníacas talvez?). Estão se espelhando em "mitos" que fazem sinal da arminha e que se acham superiores aos outros, que utilizam de sua influência para atacar pessoas de pele, sexo, crenças e vida diferentes. Colocam uma falsa soberania, o corruptível dinheiro, a droga de uma bandeira ou o lixo de uma religião acima da vida do próximo. Em tempos em que assassinos e ignorantes são eleitos falando besteiras e destruindo o meio ambiente, 'Jojo Rabbit' é um filme necessário, que deveria ser passado em escolas. De maneira leve, mas emocionante, critica o militarismo e a supremacia de uma nação (seja qual for), mostrando que tais coisas são cruéis quando oprimem e tiram a vida do próximo. Por mais amor. E menos mitos imaginários.
NOTA: 9,5
Amanhã sai uma crítica completa no Minha Visão do Cinema, feita por um dos nossos colaboradores.