A ideia presente nas histórias em quadrinhos parece simples e ingênua, mas carrega um brilhantismo transformador único. Ali, seres aparentemente comuns possuem dons extraordinários que por vezes preferem omitir, escolhendo uma vida "normal" entre nós, seres pequenos que os chamam de "heróis". Do outro lado, em antítese, surge a figura do "vilão", um ser igualmente único que se coloca em contraponto à ideia de "bem" preconizada pelo nosso salvador de capa. Partindo disso, não é difícil imaginar porque o público dessas revistas parece tão característico: são pessoas que em geral passam por desafetos pessoais e encontram nesses personagens nobres os valores que preferem ver no mundo. Acontece uma projeção, na qual aquele indivíduo (que a Fera de Shyamalan poderia muito bem chamar de "broken" ou "perturbado", como traduzido por aqui no Brasil) se vê, em breves instantes de prazer, como um ser capaz de feitos extraordinários, tal qual aquele ser divino que admira. Submergir nessas histórias se torna, portanto, quase uma experiência apoteótica. E é essa mesma experiência que Glass nos traz de maneira louvável! Seguindo de maneira coerente uma narrativa iniciada há quase 20 anos, Shyamalan não consegue esconder o quanto está empolgado por dar vida ao seu sonho (talvez por isso a palavra "masterpiece" tenha sido tantas vezes usada no filme). De fato, algum público mais atento poderá notar uma diferença significativa no seu ritmo, partindo de um cadenciado que é típico dos seus filmes para um ritmo mais ágil. Nada, entretanto, que comprometa os traços que o tornam único. Desde as paletas de cores até a sua marca registrada de inversão de câmera, tudo trabalha em harmonia para que vejamos uma continuação honesta de Unbreakable e Split. Merece destaque o jogo de cores interessante que acompanhamos indiferentes ao longo do filme e, ao final, assume um significado único
[/spoiler] Mr Glass tem sua predileção pela cor roxa, enquanto Kevin a tem pela amarela e David pela verde. Não é de se admirar que a sala onde a Dra. Ellie Staple tenta desacreditá-los das suas habilidades tenha a cor rosa: tratando-se de uma emissária daquela grande organização que tenta omitir a existência desses seres, essa cor se insere em um extremo oposto/desbotado à cor roxa do Mr Glass, personagem que (fidedignamente) quer mostrar ao mundo essas figuras. [spoiler]
Li por aí muitos comentários criticando negativamente o título do filme ser "Glass" se, aparentemente, esse personagem tem tão pouca importância na história. Como dizer isso se
é justamente o espírito inquieto dessa mente perturbada o responsável por todos os fatos que, como viríamos a saber mais tarde, desencadeiam toda a sequência de eventos que culminaram com a criação de seres fantásticos? "Se uma força poderosa nasce, outra também deve nascer".
resulta no seu ato final, ao revelar para o mundo a existência dessas forças misteriosas. Mr. Glass não nasceu um vilão. Mas escolheu ser um. Deixou para nós a deliciosa sensação de que existem poderes imensuráveis dentro de nós, a despeito do que as pessoas comuns (as pessoas de terno e gravata não foram colocadas naquele restaurante à toa) digam. E no final, ali no aeroporto enquanto a notícia se espalhava, as pessoas que acreditavam nesse novo mundo (cada qual representando a cor do ser extraordinário que viu nascer) contemplavam de mãos dadas o nascer de um tempo diferente. Um tempo de heróis!
O filme peca em alguns detalhes, mas traz um desfecho triunfal para uma trilogia brilhante!
Assistir a "Animais Noturnos" é uma experiência arrebatadora: trata-se aqui de um thriller instigante, com atuações exemplares de Amy Adams, Jake Gyllenhaal e Michael Shannon e trilha sonora (positivamente) perturbadora. A trama se desenvolve em três narrativas diferentes (presente, passado e ficção) e todas são trabalhadas de maneira excepcional por Tom Ford, pois, afinal, todas têm seu grande propósito quando o espectador
se dá conta da grande metáfora por trás da história do manuscrito feito por Edward. Com esposa e filha assassinadas brutalmente, o passivo Tony (também interpretado por Gyllenhaal) é um alter-ego do seu criador, que contemplou, pasmo e sem reação, o ruir da sua vida ao descobrir o adultério de Susan e o aborto feito por ela. Dessa forma, o lado da Susan por quem se apaixonou (amoroso e sentimental) morre na sua vida. No lugar dela, entra uma Susan que o Edward julga ser "terrível", assassina de sonhos, promessas e da fidelidade que tinha pelo marido. No livro, essa representação é feita por Ray e seu bando, que são agressores, invasivos e se aproveitam da fraqueza dos demais. Eles são os Animais Noturnos que personificam a Susan destruidora de vidas, que não tolera o FRACO (esse, inclusive, é um adjetivo que atormenta os dias de Edward, refletindo também na história do Tony). Motivado por vingança (e isso é bem referenciado pelo diretor ao mostrar ao espectador um quadro grande com a palavra REVENGE-VINGANÇA), Edward escreve seu romance e o envia para a Susan, como uma forma indireta de lhe contar o que sofreu. A dedicatória "For Susan" é na verdade um endereço de que a mensagem da obra se encerrava na sua ex-mulher e nas suas ações. Quando, no desfecho, o Tony mata o Ray, ele está dizendo à Susan que finalmente conseguiu retirá-la da sua vida por completo. A sequência da sua morte pode ser interpretada de duas formas: Edward mostrando à Susan que matou o seu Eu fraco e agora se encontra mais forte ou, ainda, uma deixa real de que se suicidou como consequência do processo de esquecê-la. Nas duas interpretações, o que fica é o olhar triste de Susan no final, percebendo a metáfora do livro que leu e encarando a realidade de que jamais terá outra vez o Edward romântico e sentimental de outrora.
"Animais noturnos" não é um filme fácil. Porém, entender o mecanismo perfeito como suas peças se encaixam e a convergência harmônica das suas subjetividades o torna um filme magnífico. É mais um primor dentre os thrillers atuais.
Impossível assistir a este filme e não se deparar com valores cristãos, tão apregoados nos contornos de Mel Gibson. Porém, o que faz "Hacksaw Ridge" transcender e o torna um caso à parte (num rol infindável de filmes de guerra) é a capacidade única desta obra em exaltar como os princípios individuais podem ser inquebrantáveis, mesmo em territórios onde a paz e a razão já não habitam mais. Andrew Garfield está em um momento brilhante na atuação do soldado Doss: seus trejeitos convencem e o público passa a amar seu personagem, ainda que não perceba. Os litros de sangue que jorram da tela cumprem a difícil função de retratar com fidelidade os horrores da guerra. Talvez mesmo por isso seja tão belo admirar a bravura e o altrúismo do protagonista, salvando vidas sem jamais pegar em armas. É, afinal, uma mensagem de esperança.
Filme brilhante, com trilha sonora excepcional! A despeito do pano de fundo construído em torno da dependência química dos seus personagens, este não é um filme sobre vícios. Trata-se de um retrato inquietante da condição humana, trabalhando as motivações do verbo "viver" de forma cruel, mas realista. O desfecho de uma existência vazia não podia ser diferente: desconfortável, indigesto e excruciante. O que faltava naqueles personagens (caricatos, sempre, mas também palpáveis!) pôde ser bem visto no final quando
o roteiro nos mostra a vontade latente do Tyrion em se apoiar na representação materna inconsciente que possui ou ainda quando, nos devaneios remanescentes que tem, Sara se revela imensamente feliz ao dizer e ser retribuída com um "Eu te amo" firme e sincero do seu filho. Mesmo Marion se perde quando se vê sem o carinho de Harry.
Amor e afeto ainda são a resposta!
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Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista AgoraE o mais legal é que :
O CEO da BASH errou: o personagem do DiCaprio não morreu sozinho.
Filmaço!!!!
Vidro
3.5 1,3K Assista AgoraA ideia presente nas histórias em quadrinhos parece simples e ingênua, mas carrega um brilhantismo transformador único. Ali, seres aparentemente comuns possuem dons extraordinários que por vezes preferem omitir, escolhendo uma vida "normal" entre nós, seres pequenos que os chamam de "heróis". Do outro lado, em antítese, surge a figura do "vilão", um ser igualmente único que se coloca em contraponto à ideia de "bem" preconizada pelo nosso salvador de capa.
Partindo disso, não é difícil imaginar porque o público dessas revistas parece tão característico: são pessoas que em geral passam por desafetos pessoais e encontram nesses personagens nobres os valores que preferem ver no mundo. Acontece uma projeção, na qual aquele indivíduo (que a Fera de Shyamalan poderia muito bem chamar de "broken" ou "perturbado", como traduzido por aqui no Brasil) se vê, em breves instantes de prazer, como um ser capaz de feitos extraordinários, tal qual aquele ser divino que admira. Submergir nessas histórias se torna, portanto, quase uma experiência apoteótica. E é essa mesma experiência que Glass nos traz de maneira louvável!
Seguindo de maneira coerente uma narrativa iniciada há quase 20 anos, Shyamalan não consegue esconder o quanto está empolgado por dar vida ao seu sonho (talvez por isso a palavra "masterpiece" tenha sido tantas vezes usada no filme). De fato, algum público mais atento poderá notar uma diferença significativa no seu ritmo, partindo de um cadenciado que é típico dos seus filmes para um ritmo mais ágil. Nada, entretanto, que comprometa os traços que o tornam único. Desde as paletas de cores até a sua marca registrada de inversão de câmera, tudo trabalha em harmonia para que vejamos uma continuação honesta de Unbreakable e Split.
Merece destaque o jogo de cores interessante que acompanhamos indiferentes ao longo do filme e, ao final, assume um significado único
[/spoiler]
Mr Glass tem sua predileção pela cor roxa, enquanto Kevin a tem pela amarela e David pela verde. Não é de se admirar que a sala onde a Dra. Ellie Staple tenta desacreditá-los das suas habilidades tenha a cor rosa: tratando-se de uma emissária daquela grande organização que tenta omitir a existência desses seres, essa cor se insere em um extremo oposto/desbotado à cor roxa do Mr Glass, personagem que (fidedignamente) quer mostrar ao mundo essas figuras.
[spoiler]
Li por aí muitos comentários criticando negativamente o título do filme ser "Glass" se, aparentemente, esse personagem tem tão pouca importância na história. Como dizer isso se
é justamente o espírito inquieto dessa mente perturbada o responsável por todos os fatos que, como viríamos a saber mais tarde, desencadeiam toda a sequência de eventos que culminaram com a criação de seres fantásticos? "Se uma força poderosa nasce, outra também deve nascer".
resulta no seu ato final, ao revelar para o mundo a existência dessas forças misteriosas.
Mr. Glass não nasceu um vilão. Mas escolheu ser um. Deixou para nós a deliciosa sensação de que existem poderes imensuráveis dentro de nós, a despeito do que as pessoas comuns (as pessoas de terno e gravata não foram colocadas naquele restaurante à toa) digam. E no final, ali no aeroporto enquanto a notícia se espalhava, as pessoas que acreditavam nesse novo mundo (cada qual representando a cor do ser extraordinário que viu nascer) contemplavam de mãos dadas o nascer de um tempo diferente. Um tempo de heróis!
O filme peca em alguns detalhes, mas traz um desfecho triunfal para uma trilogia brilhante!
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista AgoraAssistir a "Animais Noturnos" é uma experiência arrebatadora: trata-se aqui de um thriller instigante, com atuações exemplares de Amy Adams, Jake Gyllenhaal e Michael Shannon e trilha sonora (positivamente) perturbadora.
A trama se desenvolve em três narrativas diferentes (presente, passado e ficção) e todas são trabalhadas de maneira excepcional por Tom Ford, pois, afinal, todas têm seu grande propósito quando o espectador
se dá conta da grande metáfora por trás da história do manuscrito feito por Edward.
Com esposa e filha assassinadas brutalmente, o passivo Tony (também interpretado por Gyllenhaal) é um alter-ego do seu criador, que contemplou, pasmo e sem reação, o ruir da sua vida ao descobrir o adultério de Susan e o aborto feito por ela. Dessa forma, o lado da Susan por quem se apaixonou (amoroso e sentimental) morre na sua vida. No lugar dela, entra uma Susan que o Edward julga ser "terrível", assassina de sonhos, promessas e da fidelidade que tinha pelo marido. No livro, essa representação é feita por Ray e seu bando, que são agressores, invasivos e se aproveitam da fraqueza dos demais. Eles são os Animais Noturnos que personificam a Susan destruidora de vidas, que não tolera o FRACO (esse, inclusive, é um adjetivo que atormenta os dias de Edward, refletindo também na história do Tony).
Motivado por vingança (e isso é bem referenciado pelo diretor ao mostrar ao espectador um quadro grande com a palavra REVENGE-VINGANÇA), Edward escreve seu romance e o envia para a Susan, como uma forma indireta de lhe contar o que sofreu. A dedicatória "For Susan" é na verdade um endereço de que a mensagem da obra se encerrava na sua ex-mulher e nas suas ações. Quando, no desfecho, o Tony mata o Ray, ele está dizendo à Susan que finalmente conseguiu retirá-la da sua vida por completo. A sequência da sua morte pode ser interpretada de duas formas: Edward mostrando à Susan que matou o seu Eu fraco e agora se encontra mais forte ou, ainda, uma deixa real de que se suicidou como consequência do processo de esquecê-la. Nas duas interpretações, o que fica é o olhar triste de Susan no final, percebendo a metáfora do livro que leu e encarando a realidade de que jamais terá outra vez o Edward romântico e sentimental de outrora.
"Animais noturnos" não é um filme fácil. Porém, entender o mecanismo perfeito como suas peças se encaixam e a convergência harmônica das suas subjetividades o torna um filme magnífico. É mais um primor dentre os thrillers atuais.
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraImpossível assistir a este filme e não se deparar com valores cristãos, tão apregoados nos contornos de Mel Gibson. Porém, o que faz "Hacksaw Ridge" transcender e o torna um caso à parte (num rol infindável de filmes de guerra) é a capacidade única desta obra em exaltar como os princípios individuais podem ser inquebrantáveis, mesmo em territórios onde a paz e a razão já não habitam mais.
Andrew Garfield está em um momento brilhante na atuação do soldado Doss: seus trejeitos convencem e o público passa a amar seu personagem, ainda que não perceba. Os litros de sangue que jorram da tela cumprem a difícil função de retratar com fidelidade os horrores da guerra. Talvez mesmo por isso seja tão belo admirar a bravura e o altrúismo do protagonista, salvando vidas sem jamais pegar em armas.
É, afinal, uma mensagem de esperança.
Réquiem para um Sonho
4.3 4,4K Assista AgoraFilme brilhante, com trilha sonora excepcional! A despeito do pano de fundo construído em torno da dependência química dos seus personagens, este não é um filme sobre vícios. Trata-se de um retrato inquietante da condição humana, trabalhando as motivações do verbo "viver" de forma cruel, mas realista. O desfecho de uma existência vazia não podia ser diferente: desconfortável, indigesto e excruciante.
O que faltava naqueles personagens (caricatos, sempre, mas também palpáveis!) pôde ser bem visto no final quando
o roteiro nos mostra a vontade latente do Tyrion em se apoiar na representação materna inconsciente que possui ou ainda quando, nos devaneios remanescentes que tem, Sara se revela imensamente feliz ao dizer e ser retribuída com um "Eu te amo" firme e sincero do seu filho. Mesmo Marion se perde quando se vê sem o carinho de Harry.
Amor e afeto ainda são a resposta!