Miyazaki constrói novamente uma história no qual entramos com estranhamento e júbilo. Aqui o estranho, a incógnita fala mais alto. É praticamente impossível assistir um dos filme e não sentir que tocamos um pouco do seu ouro — dos seus objetos sensíveis esparramados meticulosamente em toda cena cuja autenticidade é lei... E nesse não é diferente. Seu medo intensifica os nossos, suas obsessões cada vez mais claras. Seja qual for a história, o espírito deixa a passividade para fazer parte do mesmo enlaço dramático e familiar que tantas vezes o diretor nos presenteou em obra de beleza inigualável. Aqui, a mensagem é direta: Olhe para a vida, faça perguntas sérias. Tal filosofia está presente com tanta força nesse filme que em alguns momentos adquire uma secura necessária. Os seus temas enxutos exprimindo o essencial. O observador aberto e atento, sentirá essas nuances [o estranhamento] como um convite alegre, grave e investigativo.
O lugar onde os olhos não capturam a beleza exata, mas sim o espanto dos peixes — o terror debaixo dos pés, a mágoa crescente, provavelmente a coisa mais viva. Ou seria exatamente o oposto? O paradoxo se derrama também naqueles que ainda tem plena consciência. O que ocorre depois de uma escolha cuja vontade de controle resulta no trágico? A tentativa desesperada em fazer a vida ser algo afirmativa, para continuar amando. A culpa, os lapsos de agonia. Esses pequenos dramas injetam um perfume complexo. A primeira aparição no jardim é uma sequência bem bonita. Quase mágica. Todos estão ali naquele cenário fantástico onde os dois mundos estão em pleno choque. Meu primeiro filme do Jacques Tourneur me levou para uma experiência agradável.
Da mulher golpeada pelo desprezo do pai, até a heroína em fúria. Nunca um "É tarde demais" dito da mais maneira mais calma e triste possível deixou cair tantas cortinas. A trajetória emocional da Catherine é realmente digna de aplausos.
Marion é uma mulher que aparentemente tem a vida em ordem. Sua austeridade é acompanhada de uma sofisticação reinante. Possui um aspecto outonal. É a sua necessidade de silêncio que a leva para um apartamento onde a crise, que já então surgia em pequenos vultos, ganha contorno e força quando ela passa a ouvir uma sessão de terapia. A voz que surgi, provoca um choque instantâneo. A voz desencadeia uma série de eventos, memórias presas em outra vida – a vida que ficou pelo caminho... Marion aos poucos vai entrando em uma agonia sorrateira. Sua raiva expressa antigas frustrações, um presente dominado por imagens do passado. A pantera do Rilke morde sua tela protetiva, ela está tão sozinha quanto o marido. Tem consciência do perigo da queda. Sua crise não é apenas existencial, mas também moral. O encontro com a mulher grávida é uma bifurcação. Senti uma intensidade caótica. Ambas flertam com a mesma torção ambígua. Assim também diz o quadro pintado que aparece na loja de antiguidades. Essa mulher cuja cora de flores exala uma alegria, mas ao fundo reside algo sinistro. É um bom fechamento porque essas duas mulheres encontram respostas semelhantes. A esperança não está tão separada da melancolia. Em um lugar possível é a própria fantasia de Marion que opera e a faz retornar para a vida com outra perceptiva. O final soa para mim, como uma porta entreaberta... o malabarismo (o ponto mais artesanal) que fazemos para continuar.
O relógio como a névoa que camufla a verdade, a saudade suspeita, o relógio como objeto que guarda o segredo, o relógio como força real, o inimigo, o amor...
Com toda essa série de detalhes é iniciado um dos filmes mais interessantes já feitos. Como não se apaixonar por Laura? É a sua percepção apurada que nos mostra que a primeira impressão é importante. Um chamado para prestar atenção no que foi dito. É essa agudeza que garante o bordado da história, a cerne banhada em ouro pela atenção rápida da nossa protagonista. A sua persistência inicial diante do Waldo (interpretado maravilhosamente pelo Clifton Webb) aqui esconde algo mais importante. A sua sombra é revelada. O que acontece em seguida é a manipulação do interesse, traços de uma psique insegura. A visão distorcida do então assassino é projetada em pistas falsas que o mesmo vai colocando. Ao dizer que ele segue um padrão, e que não deseja mais vê-lo, ela anula o tempo dele. É uma quebra interessante que ocorre no filme, pois, trata-se da morte de um tempo que era idealizado por ele. O seu controle perde o efeito. É a partir dai que surge a última cena. Momento em que ela, mais uma vez triunfa ao se desviar. Então, entra o detetive, não mais o homem enamorado por uma mulher morta, mas real, em um tempo tão real quanto. Laura é um daqueles filmes que você observa com entusiasmo perigoso.
Um professor é encarregado de cuidar de alguns alunos, que foram de certo modo, deixados para trás. Em meio a esse turbilhão juvenil temos o Angus, e para além dele, a Mary. Todos estão ali com uma bagagem emocional densa. É dentro desse cenário tão escorregadio que vai surgir um brilho muito próprio de cada um quando deparados com a quantidade de desvios que a vida opera... quando ela impõe sua própria ordem, muito diferente daquilo que desejamos. Nenhum deles gostaria de estar ali, isso fica evidenciado. Não gostariam de estar no colégio, e muito menos vivenciando tanto desamparo. Mas, o que fazer diante dessa circunstância? É Através dessas rupturas, [da perda que cada um está enfrentando. Diferentes tipos de luto] que essas pequenas histórias vão se entrelaçar para formar uma maior. Nada mais ilustrativo de que isso ocorra durante uma viagem... Pois, é ela que possibilita esse alargamento... o arejar onde escolhemos esticar a nossa mão para o silêncio do outro e ali olhar para tudo que necessita de paciência e compreensão. É o que faz cada personagem, dentro das suas próprias narrativas. A criação de um encontro genuíno, com doses de humor e drama, às vezes ambos circundando o mesmo diálogo faz esse filme possuir espanto e maravilhamento, com gotas de raridade.
Titulo agridoce, para uma história agridoce. A história de duas pessoas que compartilham do mesmo abandono, esse que chega nas primeiras horas da infância, que se arrasta... Algumas perguntas vão sendo levantadas pelo caminho. A esperança sempre tem um toque da ingenuidade? A primavera sonhada. Algumas vezes, é a coisa mais corajosa que alguém pode fazer diante do mundo tão severo. O simples lampejo sereno de uma vida que é constantemente buscada. Tudo é testemunha desse gesto que resisti, [até mesmo uma torta] de todos os planos carregados de sincera paixão. Do outro lado, algum degrau de verdade. O policial que confessa a sua culpa até o vendedor que diz claramente: Não posso vender esperança quando não há nenhuma.. Tudo isso exposto na mais perfeita ambiguidade. Nicholas Ray sabe como ninguém como puxar os fios e construir um filme que deixa marcas.
Algumas falhas, algo que poderia ser melhor explorado, mas não deixa de ser um filme interessante. O primeiro olhar curioso, banhado em uma espécie de desafio causado por aquilo que é estranho. A natureza sonhadora da jovem Eileen, [uma sobrevivente] que vai se encontrando com essa beleza imperial da Rebecca. A mistura dessas duas naturezas vai criando um misto de sedução e tragédia, embora esse não seja o tema central do filme — tema esse que é pulsante logo nos primeiros minutos. O fantasiar, o desejo, a moral concomitante, tudo aquilo que está pronto para eclodir. O cenário enriquece muito a proposta que o filme levanta junto com a trilha sonora que é sim, envolvente, pois nos coloca no imaginário da Eileen.
Reese Witherspoon está impecável no papel da mulher em fuga, ou melhor dizendo, da mulher que precisa se reencontrar, e para isso faz uma viagem difícil, guiada por alguns poemas, pela voz ainda fresca da mãe. O que faz essa jornada [peregrinação] ser comovente é sua honestidade, seu anseio pela beleza...esse fulgor secreto que faz cada pessoa seguir em frente.
Os caminhos que a infância percorre explorados de uma maneira colossal. o erro como ponto de fragilidade para uma história maior, bem mais escura, pessoal, toda povoada por aquele anseio tão marcante da infância que é caracterizada por uma história muito delicada e principalmente protegida por esses dois meninos tão absortos no mundo, um mundo em que ambos tentam manter de maneira harmônica, apesar de toda uma série de violência que vai sendo transmitida aos poucos. Um filme que nos mostra que é preciso olhar por dentro, para a complexidade do que está acontecendo, para a dureza do silêncio e a razão dessa escolha. Somente quando isso acontece surge esse final que é realmente de abrir o peito, de fazer levantar e desejar correr junto para esse espaço de imensa claridade.
A obsessão de Fernando nasce quando se depara o desconhecido. Apesar do desconforto gerado, ele vai atrás. No filme, há uma certa rigidez na postura inicial que será mantida até o fim. Uma violência impotente. Seja através do olhar enlutado ou da câmera que enfatiza a tensão que vai sendo moldada a partir dos novos acontecimentos que vão surgindo ao longo do filme. É o olhar de Fernando que controla, que mantém o ritmo do filme [tratando-se de um filme longo e lento] onde as coisas parecem meio enrijecidas. É quando o outro, recusa o martelo, preferindo a arma, é então nesse segundo que acontece a quebra. Ambos estão no mesmo plano, o da perda. Fernando se prepara para ir embora. Sua obsessão sai do lugar fixado. Muitas vezes o que move é exatamente esse não saber das coisas. O lugar onde repousa a agonia, o espanto. O que fazemos quando caímos nesse lugar? Para onde a obsessão nos leva e o quanto saímos dela ou penduramos nossos sentimentos no que cogitamos ser verdade. O filme nos coloca nessa perceptiva de maneira muito competente.
Um diálogo extenso com uma árvore repleta de marmeleiros, a tentativa de captar a luz exata diante da passagem do tempo que pulveriza a ideia inicial e reverte o sentido, mas acima de tudo, o recorte sensível daquilo que é breve.
O que causa o tremor? A mistura do ficcional com uma aparente realidade. A resposta que vagueia entre os acontecimentos de uma história de amor que é impossibilitada pela linguagem que se altera na medida que é dita ou escrita. O pequeno e o grande se misturam, fazem um laço cósmico onde as imagens poéticas estão sempre anunciando algo de incompreensível. Uma corrente elétrica, o voo das aves no azul náutico, tudo isso parece evocar a solidão daqueles personagens. Todos compartilham de uma vacuidade. É sem dúvidas um trabalho de muito zelo com o texto. Luciano por exemplo, exala um fascínio, mesmo triste, o seu espirito se mantém velejante e iluminado. Tudo isso é fruto uma construção profunda entre luz e sombra no qual a diretora soube construir com maestria.
Esse documentário me comoveu profundamente, muito pela sua tentativa de reconstruir/voltar para uma história através de cartas e filmes caseiros. tentar penetrar em lacunas, nas coisas que estão na margem, desvelar alguns sinais.
Um fio que nos liga ao outro, que faz a sua viagem quase invisível, se não fosse pela alma que busca através de uma meditação interior, ampliar o sentido da vida. A dança já não é mais vulto solitário, apertado, mas uma série de sentimentos e emoções expressos através do corpo liberto.
Uma chuva que demora a passar, uma voz que atravessa o escuro e nos leva para dentro de um sonho musical onde a memória é um quadro que nos fita liricamente — rico em paixão, com goles de uma esperança depositada perante a um mundo rígido. Tecidos, janelas; cortes exatos; a vida observada pela janela. Como é imenso o olhar de Bud. Definitivamente um refúgio encontrado por meio da arte, ou como Van Gogh também disse tão honestamente: A arte é consolar aqueles que são quebrados pela vida.
Cuidado com a paixão Hester, ela sempre nos leva a coisas obscuras. - Com o que pode ser substituído? - Com entusiasmo sereno. É mais saudável. - E mais triste.
A história de um homem que deseja voltar para um tempo estelar.
Os rostos são profundos, densos, feridos e iluminados por uma lentidão particular. Cada cena possui uma duração longa, como se o próprio diretor estivesse dizendo: "Fique aqui por mais tempo." A cerne da reflexão é ver demoradamente para que o olhar sensibilizado possa construir a empatia, diante de uma relação que foi desfeita. Aqui, a beleza e o drama consiste exatamente nisso. É tudo real demais, é preciso restabelecer o sentido humano, limpar as insignificâncias.
Existe um essa lugar no qual desejamos voltar em algum momento, no entanto, a vida, impõe sua realidade, sua força — chacoalha nossas ideias. Nesse lugar reside o gosto das coisas que não chegaram a acontecer, protegidas por uma melancolia perene, fiel aos acontecimentos primários. Talvez seja a nossa maneira de compreender um pouco o espaço habitado pelos sonhos, preservado pela nossa imaginação que insiste na pureza dos fatos. Ou, até mesmo um jeito de aumentar a nossa vida, o que implica também em mais doses de adversidade. Mas, uma coisa é exata: é preciso estar aberto para usufruir daquilo que ganhamos quando deixamos uma história para trás. A aceitação de uma escolha vai se criar a partir disso. Foi preciso encarar horas de viagem para saber o que já era quase certo se não fosse essas pausas gigantes onde deu entrada outra maneira de ser e pensar. Tudo isso fluindo no ar da cidade, exibindo uma confiança nostálgica e delicada.
O carrossel, (que aqui é valido relembrar o seu significado: pequenas batalhas) não deixa de ser uma brincadeira em que o riso apresenta sua dualidade repetitiva que nos coloca dentro de um círculo experimental com pequenas luzes douradas e sedutoras. Eu diria que o filme carrega um charme típico..
O Menino e a Garça
4.0 215Miyazaki constrói novamente uma história no qual entramos com estranhamento e júbilo. Aqui o estranho, a incógnita fala mais alto. É praticamente impossível assistir um dos filme e não sentir que tocamos um pouco do seu ouro — dos seus objetos sensíveis esparramados meticulosamente em toda cena cuja autenticidade é lei... E nesse não é diferente. Seu medo intensifica os nossos, suas obsessões cada vez mais claras. Seja qual for a história, o espírito deixa a passividade para fazer parte do mesmo enlaço dramático e familiar que tantas vezes o diretor nos presenteou em obra de beleza inigualável. Aqui, a mensagem é direta: Olhe para a vida, faça perguntas sérias. Tal filosofia está presente com tanta força nesse filme que em alguns momentos adquire uma secura necessária. Os seus temas enxutos exprimindo o essencial. O observador aberto e atento, sentirá essas nuances [o estranhamento] como um convite alegre, grave e investigativo.
A Morta-Viva
3.8 63O lugar onde os olhos não capturam a beleza exata, mas sim o espanto dos peixes — o terror debaixo dos pés, a mágoa crescente, provavelmente a coisa mais viva. Ou seria exatamente o oposto? O paradoxo se derrama também naqueles que ainda tem plena consciência. O que ocorre depois de uma escolha cuja vontade de controle resulta no trágico? A tentativa desesperada em fazer a vida ser algo afirmativa, para continuar amando. A culpa, os lapsos de agonia. Esses pequenos dramas injetam um perfume complexo.
A primeira aparição no jardim é uma sequência bem bonita. Quase mágica. Todos estão ali naquele cenário fantástico onde os dois mundos estão em pleno choque. Meu primeiro filme do Jacques Tourneur me levou para uma experiência agradável.
Tarde Demais
4.2 83 Assista AgoraDa mulher golpeada pelo desprezo do pai, até a heroína em fúria. Nunca um "É tarde demais" dito da mais maneira mais calma e triste possível deixou cair tantas cortinas. A trajetória emocional da Catherine é realmente digna de aplausos.
A Outra
3.8 146Marion é uma mulher que aparentemente tem a vida em ordem. Sua austeridade é acompanhada de uma sofisticação reinante. Possui um aspecto outonal. É a sua necessidade de silêncio que a leva para um apartamento onde a crise, que já então surgia em pequenos vultos, ganha contorno e força quando ela passa a ouvir uma sessão de terapia. A voz que surgi, provoca um choque instantâneo. A voz desencadeia uma série de eventos, memórias presas em outra vida – a vida que ficou pelo caminho... Marion aos poucos vai entrando em uma agonia sorrateira. Sua raiva expressa antigas frustrações, um presente dominado por imagens do passado. A pantera do Rilke morde sua tela protetiva, ela está tão sozinha quanto o marido. Tem consciência do perigo da queda. Sua crise não é apenas existencial, mas também moral. O encontro com a mulher grávida é uma bifurcação. Senti uma intensidade caótica. Ambas flertam com a mesma torção ambígua. Assim também diz o quadro pintado que aparece na loja de antiguidades. Essa mulher cuja cora de flores exala uma alegria, mas ao fundo reside algo sinistro. É um bom fechamento porque essas duas mulheres encontram respostas semelhantes. A esperança não está tão separada da melancolia. Em um lugar possível é a própria fantasia de Marion que opera e a faz retornar para a vida com outra perceptiva. O final soa para mim, como uma porta entreaberta... o malabarismo (o ponto mais artesanal) que fazemos para continuar.
Laura
4.1 132 Assista AgoraO relógio como a névoa que camufla a verdade, a saudade suspeita, o relógio como objeto que guarda o segredo, o relógio como força real, o inimigo, o amor...
Com toda essa série de detalhes é iniciado um dos filmes mais interessantes já feitos. Como não se apaixonar por Laura? É a sua percepção apurada que nos mostra que a primeira impressão é importante. Um chamado para prestar atenção no que foi dito. É essa agudeza que garante o bordado da história, a cerne banhada em ouro pela atenção rápida da nossa protagonista. A sua persistência inicial diante do Waldo (interpretado maravilhosamente pelo Clifton Webb) aqui esconde algo mais importante. A sua sombra é revelada. O que acontece em seguida é a manipulação do interesse, traços de uma psique insegura. A visão distorcida do então assassino é projetada em pistas falsas que o mesmo vai colocando. Ao dizer que ele segue um padrão, e que não deseja mais vê-lo, ela anula o tempo dele. É uma quebra interessante que ocorre no filme, pois, trata-se da morte de um tempo que era idealizado por ele. O seu controle perde o efeito. É a partir dai que surge a última cena. Momento em que ela, mais uma vez triunfa ao se desviar. Então, entra o detetive, não mais o homem enamorado por uma mulher morta, mas real, em um tempo tão real quanto. Laura é um daqueles filmes que você observa com entusiasmo perigoso.
Os Rejeitados
4.0 317Um professor é encarregado de cuidar de alguns alunos, que foram de certo modo, deixados para trás. Em meio a esse turbilhão juvenil temos o Angus, e para além dele, a Mary. Todos estão ali com uma bagagem emocional densa. É dentro desse cenário tão escorregadio que vai surgir um brilho muito próprio de cada um quando deparados com a quantidade de desvios que a vida opera... quando ela impõe sua própria ordem, muito diferente daquilo que desejamos. Nenhum deles gostaria de estar ali, isso fica evidenciado. Não gostariam de estar no colégio, e muito menos vivenciando tanto desamparo. Mas, o que fazer diante dessa circunstância? É Através dessas rupturas, [da perda que cada um está enfrentando. Diferentes tipos de luto] que essas pequenas histórias vão se entrelaçar para formar uma maior. Nada mais ilustrativo de que isso ocorra durante uma viagem... Pois, é ela que possibilita esse alargamento... o arejar onde escolhemos esticar a nossa mão para o silêncio do outro e ali olhar para tudo que necessita de paciência e compreensão. É o que faz cada personagem, dentro das suas próprias narrativas. A criação de um encontro genuíno, com doses de humor e drama, às vezes ambos circundando o mesmo diálogo faz esse filme possuir espanto e maravilhamento, com gotas de raridade.
Amarga Esperança
4.1 22Titulo agridoce, para uma história agridoce. A história de duas pessoas que compartilham do mesmo abandono, esse que chega nas primeiras horas da infância, que se arrasta... Algumas perguntas vão sendo levantadas pelo caminho. A esperança sempre tem um toque da ingenuidade? A primavera sonhada. Algumas vezes, é a coisa mais corajosa que alguém pode fazer diante do mundo tão severo. O simples lampejo sereno de uma vida que é constantemente buscada. Tudo é testemunha desse gesto que resisti, [até mesmo uma torta] de todos os planos carregados de sincera paixão. Do outro lado, algum degrau de verdade. O policial que confessa a sua culpa até o vendedor que diz claramente: Não posso vender esperança quando não há nenhuma..
Tudo isso exposto na mais perfeita ambiguidade. Nicholas Ray sabe como ninguém como puxar os fios e construir um filme que deixa marcas.
Meu Nome era Eileen
3.0 56 Assista AgoraAlgumas falhas, algo que poderia ser melhor explorado, mas não deixa de ser um filme interessante. O primeiro olhar curioso, banhado em uma espécie de desafio causado por aquilo que é estranho. A natureza sonhadora da jovem Eileen, [uma sobrevivente] que vai se encontrando com essa beleza imperial da Rebecca. A mistura dessas duas naturezas vai criando um misto de sedução e tragédia, embora esse não seja o tema central do filme — tema esse que é pulsante logo nos primeiros minutos. O fantasiar, o desejo, a moral concomitante, tudo aquilo que está pronto para eclodir. O cenário enriquece muito a proposta que o filme levanta junto com a trilha sonora que é sim, envolvente, pois nos coloca no imaginário da Eileen.
Livre
3.8 1,2K Assista AgoraFilme revisto em 2024.
Reese Witherspoon está impecável no papel da mulher em fuga, ou melhor dizendo, da mulher que precisa se reencontrar, e para isso faz uma viagem difícil, guiada por alguns poemas, pela voz ainda fresca da mãe. O que faz essa jornada [peregrinação] ser comovente é sua honestidade, seu anseio pela beleza...esse fulgor secreto que faz cada pessoa seguir em frente.
Therese e Isabelle
3.8 7When one loves one is always on the platform of a station.
Monstro
4.3 265 Assista AgoraOs caminhos que a infância percorre explorados de uma maneira colossal. o erro como ponto de fragilidade para uma história maior, bem mais escura, pessoal, toda povoada por aquele anseio tão marcante da infância que é caracterizada por uma história muito delicada e principalmente protegida por esses dois meninos tão absortos no mundo, um mundo em que ambos tentam manter de maneira harmônica, apesar de toda uma série de violência que vai sendo transmitida aos poucos. Um filme que nos mostra que é preciso olhar por dentro, para a complexidade do que está acontecendo, para a dureza do silêncio e a razão dessa escolha. Somente quando isso acontece surge esse final que é realmente de abrir o peito, de fazer levantar e desejar correr junto para esse espaço de imensa claridade.
Para Minha Amada Morta
3.5 95 Assista AgoraA obsessão de Fernando nasce quando se depara o desconhecido. Apesar do desconforto gerado, ele vai atrás. No filme, há uma certa rigidez na postura inicial que será mantida até o fim. Uma violência impotente. Seja através do olhar enlutado ou da câmera que enfatiza a tensão que vai sendo moldada a partir dos novos acontecimentos que vão surgindo ao longo do filme. É o olhar de Fernando que controla, que mantém o ritmo do filme [tratando-se de um filme longo e lento] onde as coisas parecem meio enrijecidas. É quando o outro, recusa o martelo, preferindo a arma, é então nesse segundo que acontece a quebra. Ambos estão no mesmo plano, o da perda. Fernando se prepara para ir embora. Sua obsessão sai do lugar fixado. Muitas vezes o que move é exatamente esse não saber das coisas. O lugar onde repousa a agonia, o espanto. O que fazemos quando caímos nesse lugar? Para onde a obsessão nos leva e o quanto saímos dela ou penduramos nossos sentimentos no que cogitamos ser verdade. O filme nos coloca nessa perceptiva de maneira muito competente.
O Sol do Marmelo
3.9 12Um diálogo extenso com uma árvore repleta de marmeleiros, a tentativa de captar a luz exata diante da passagem do tempo que pulveriza a ideia inicial e reverte o sentido, mas acima de tudo, o recorte sensível daquilo que é breve.
As Oito Montanhas
4.0 25Arquitetura da amizade.
O Som da Terra a Tremer
4.2 4O que causa o tremor? A mistura do ficcional com uma aparente realidade. A resposta que vagueia entre os acontecimentos de uma história de amor que é impossibilitada pela linguagem que se altera na medida que é dita ou escrita. O pequeno e o grande se misturam, fazem um laço cósmico onde as imagens poéticas estão sempre anunciando algo de incompreensível. Uma corrente elétrica, o voo das aves no azul náutico, tudo isso parece evocar a solidão daqueles personagens. Todos compartilham de uma vacuidade. É sem dúvidas um trabalho de muito zelo com o texto. Luciano por exemplo, exala um fascínio, mesmo triste, o seu espirito se mantém velejante e iluminado. Tudo isso é fruto uma construção profunda entre luz e sombra no qual a diretora soube construir com maestria.
Interiores
4.0 230Revisto é ainda melhor
Gosto muito da presença do mar no final, como algo que representa o que está além. O lugar em que o sentido está o tempo todo sofrendo modificação.
Por Uma Hora a Mais Com Você
4.5 13Esse documentário me comoveu profundamente, muito pela sua tentativa de reconstruir/voltar para uma história através de cartas e filmes caseiros. tentar penetrar em lacunas, nas coisas que estão na margem, desvelar alguns sinais.
45 Anos
3.7 254 Assista AgoraTudo entra pela fissura.
Hanami: Cerejeiras em Flor
4.4 291Um fio que nos liga ao outro, que faz a sua viagem quase invisível, se não fosse pela alma que busca através de uma meditação interior, ampliar o sentido da vida. A dança já não é mais vulto solitário, apertado, mas uma série de sentimentos e emoções expressos através do corpo liberto.
O Fim de Um Longo Dia
3.6 16Quanta elegância em um filme!
Uma chuva que demora a passar, uma voz que atravessa o escuro e nos leva para dentro de um sonho musical onde a memória é um quadro que nos fita liricamente — rico em paixão, com goles de uma esperança depositada perante a um mundo rígido. Tecidos, janelas; cortes exatos; a vida observada pela janela. Como é imenso o olhar de Bud. Definitivamente um refúgio encontrado por meio da arte, ou como Van Gogh também disse tão honestamente: A arte é consolar aqueles que são quebrados pela vida.
Amor Profundo
3.2 180 Assista AgoraCuidado com a paixão Hester, ela sempre nos leva a coisas obscuras.
- Com o que pode ser substituído?
- Com entusiasmo sereno. É mais saudável.
- E mais triste.
Uma História Real
4.2 298A história de um homem que deseja voltar para um tempo estelar.
Os rostos são profundos, densos, feridos e iluminados por uma lentidão particular. Cada cena possui uma duração longa, como se o próprio diretor estivesse dizendo: "Fique aqui por mais tempo." A cerne da reflexão é ver demoradamente para que o olhar sensibilizado possa construir a empatia, diante de uma relação que foi desfeita. Aqui, a beleza e o drama consiste exatamente nisso. É tudo real demais, é preciso restabelecer o sentido humano, limpar as insignificâncias.
Uma Abelha na Chuva
3.2 2Uma sombra movendo-se de um lado para o outro; esmagada por um temor antigo.
Vidas Passadas
4.2 737 Assista AgoraExiste um essa lugar no qual desejamos voltar em algum momento, no entanto, a vida, impõe sua realidade, sua força — chacoalha nossas ideias. Nesse lugar reside o gosto das coisas que não chegaram a acontecer, protegidas por uma melancolia perene, fiel aos acontecimentos primários. Talvez seja a nossa maneira de compreender um pouco o espaço habitado pelos sonhos, preservado pela nossa imaginação que insiste na pureza dos fatos. Ou, até mesmo um jeito de aumentar a nossa vida, o que implica também em mais doses de adversidade. Mas, uma coisa é exata: é preciso estar aberto para usufruir daquilo que ganhamos quando deixamos uma história para trás. A aceitação de uma escolha vai se criar a partir disso. Foi preciso encarar horas de viagem para saber o que já era quase certo se não fosse essas pausas gigantes onde deu entrada outra maneira de ser e pensar. Tudo isso fluindo no ar da cidade, exibindo uma confiança nostálgica e delicada.
O carrossel, (que aqui é valido relembrar o seu significado: pequenas batalhas) não deixa de ser uma brincadeira em que o riso apresenta sua dualidade repetitiva que nos coloca dentro de um círculo experimental com pequenas luzes douradas e sedutoras. Eu diria que o filme carrega um charme típico..